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Aula 10
A arena de disputas na garantia dos direitos sociais: entre a
proteção social e sua judicialização
Objetivos Específicos
• Analisar o cenário atual de interferência e demandas do Poder Judiciário no
sistema de proteção social brasileiro, em nome dos direitos da população.
Temas
Introdução
1 Proteção social e judicialização
2 As respostas do Judiciário às demandas
Considerações finais
Referencias bibliográficas
Professora
Regina Celia de Souza Beretta
Estado Social e Políticas Públicas
Introdução
O presente texto, em sua primeira seção, discutirá o importante papel do Judiciário na
proteção e defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos pós-constituinte.
O texto nos convida para repensar nossa atuação e os desafios diante da nova realidade
social, nas palavras de Yazbek (2010), pela via da mediação e de mecanismos de resistência,
para não perder e garantir os direitos sociais tão duramente conquistados.
Em relação aos conflitos, Esteves (2006) argumenta que o Judiciário pode responder às
demandas por razões de eficácia das decisões, eficiência e acessibilidade e pode também
impedir uma discussão, um confronto. Tate e Vallinder (1995) apontam que atualmente a
decisão do Poder Judiciário sobre conflitos de ordem política vão muito além do social. O
Poder Judiciário vem assumindo um papel único na defesa dos direitos sociais, a despeito
das críticas de sua formalidade e engessamento, especialmente aos relacionados à proteção
social, tais como a saúde, a educação e a assistência social.
Viana (1973, p. 146) afirma ainda que o sistema de justiça não apoiou “[...] os cidadãos
sem fortuna, as classes inferiores, as camadas proletárias contra a violência, o arbítrio e a
ilegalidade”. Sua intervenção reforçou a ideia que os pobres eram “perigosos e vagabundos”,
reafirmando uma relação de estigma e repressão da sociedade da época.
Segundo Vianna, Burgos e Salles (2007, p. 41), o juiz tem se tornado protagonista direto
da questão social, em um processo claro de substituição do Estado e dos recursos.
Nos dias atuais de crise do capital e de perda de direitos, o Judiciário tomou proporções
tão relevantes que tem adentrado muitas vezes nos demais poderes constituídos, tornando-
se responsável, muitas vezes, até pela interferência no planejamento estatal.
É muito comum o Ministério Público ser provocado pelas demandas sociais dos cidadãos,
em casos de violação de direitos ou de não acesso aos direitos fundamentais. Nesses casos,
o Ministério Público pode notificar os estados e municípios para sua observância, por meio
de ação civil pública, termos de ajuste de condutas (TACs) ou ainda acordos judiciais. Esses
instrumentos são utilizados em diversas situações para o funcionamento adequado de
serviços públicos, para obtenção de remédios de alto custo, concessão de órteses e próteses,
para a concessão de benefícios negados, como o Benefícios de Prestação Continuada (BPC) e
outros previstos pela Seguridade Social, respeito às cotas da educação, deterioração do meio
ambiente, entre outros.
Podemos considerar que essas garantias legais de proteção dos direitos dos cidadãos
representam um grande avanço democrático. Em contrapartida, muitas vezes a visão do
Judiciário ainda trata a questão social na ótica individual, não adentrando na compreensão
da “questão social”. Focam suas decisões a partir da concepção de que os problemas sociais
são problemas individuais, não atuando no entendimento das suas reais causas.
Considerações finais
Nesta aula pudemos perceber o importante papel do Judiciário na conquista dos direitos
sociais e na defesa e proteção social destes, para o alcance da cidadania.
A judicialização política, entretanto, faz que com a questão social seja tratada no âmbito
pessoal e individual, culpabilizando indivíduos e famílias pela exclusão social.
Nesse sentido, Yazbek (2010, p. 154) nos fala da “[...] construção de resistências,
enfrentando as sombras que mergulham a imensa parcela de humanidade explorada,
enganada, iludida, massacrada, gente que fica à espera em longas filas para receber os
benefícios”.
Referências
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VIANNA, Luiz Werneck; BURGOS, Marcelo Baumann; SALLES, Paula Martins. Dezessete anos de
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YAZBEK, Maria Carmelita. Serviço social e pobreza. Rev. Katál, Florianópolis, v. 13, n. 2, p. 153-
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