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Da História da População e de Naufrágios...

Antonio Otaviano Vieira Junior*


Daniel Barroso**

Em 1754, o navio São Francisco de Paula naufraga na costa do Grão-


Pará, sobrevivendo apenas 36 pessoas. A embarcação vinha dos Açores
trazendo famílias para fundarem vilas as margens dos rios Guamá e
Caeté. O episódio trágico é mais um evento associado à dinâmica da
população que marca a História da Amazônia. Os deslocamentos e
extermínios de povos indígenas, a chegada de escravos africanos, o
movimento de tropas portuguesas, a migração de italianos, espanhóis,
marroquinos, cearenses e gaúchos, deixam marcas profundas no
cotidiano amazônico. Gente que não significava apenas números, mas
que traziam diversificadas experiências e formas de pensar o mundo.
Migrantes que, muitas vezes, aportaram com o incentivo de diferentes
governos e de diferentes períodos. Desde a política do Marquês de
Pombal que apostava em açorianos para ocuparem regiões especificas do
Estado do Grão-Pará e Maranhão até os governos militares do século
XX, com a política do Programa de Integração Nacional; que insistia no
lema “terra sem gente para gente sem terra”.
A Revista Estudos Amazônicos inicia uma nova fase, agora com
dossiês temáticos. E o primeiro dossiê tem como foco a História da
População. A relevância historiográfica do tema vem sendo alvo de uma
política orquestrada pelo Programa de Pós-Graduação em História Social
da Amazônia, que compreende: organização de eventos acadêmicos
nacionais e internacionais acerca da História da População, formação de
Grupos de Pesquisa na área, intercâmbio com professores de outras
instituições, fomento de monografias, dissertações e teses, bolsas de
iniciação científica, levantamento e sistematização de acervos

Revista Estudos Amazônicos • vol. IX, nº 1 (2013), pp. i-ii


documentais e produção bibliográfica – que agora também inclui a
revista.
Os artigos que compõem o dossiê se completam e são inspiradores.
Temos artigos que versam acerca da metodologia de pesquisa em
História da População criada pelo Grupo de Cambridge (Ana Scott), da
trajetória da Demografia Histórica no Brasil (Iraci Costa), e do uso de
fontes de pesquisa: especificamente as Listas Nominativas (Carlos
Barcellar) e as Habilitações do Santo Ofício (Marília Santos). Entre os
autores temos pesquisadores experientes, que figuram entre expoentes da
produção nacional da História da População e uma jovem pesquisadora
do Programa de Pós-Graduação em de História Social da Amazônia. A
inspiração dos artigos é para se pensar nas múltiplas possibilidades do
tema em questão.
O dossiê se esforça para não nos deixar náufragos da memória,
apresentando mais um “buraco de fechadura” de onde podemos espiar o
passado. Um esforço que nos convida a não deixar em vão o sofrimento
e as experiências de tantas pessoas que pisaram em solo amazônico – ou
morreram tentando. Assim, a História da Amazônia pode ter mais uma
faceta revelada.

* Professor da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará.


** Mestre em História Social pela Universidade Federal do Pará (2012).

ii • Revista Estudos Amazônicos

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