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Katia Maciel
Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação
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Indice
1 Site-specific e ao vivo 3
2 Dispositivos e ações 16
3 Arquivos e montagens 21
4 Desnarrativas 41
Bibliografia 75
Resultados 80
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Artistas e o cinema na arte contemporânea brasileira
1 Site-specific e ao vivo
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1 Cinema shadows
Laura Lima
O início do cinema nasce como uma experiência ao vivo, uma mistura entre a
instalação e o happening com pessoas reunidas para assistir filmes curtos
projetados pelo cinematógrafo que associava as funções de máquina de filmar,
de revelação de película e de projeção.
Muitas experimentos tem sido concebidos por artistas e seus desejos por
novos cinemas. Cinemas que misturam vida e fabulação de vida, que integram
forma e conteúdo cinematográfico, espaço fílmico e espaço vivido.
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2 Penumbra
Sara Ramo
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d'Angola gigante, uma mulher peituda e teve gente que ficou muito assustada.
Todo mundo lidava com o desconforto que a falta de luz nos causa, e cada um
o fazia a seu modo. O que mais gosto desse trabalho é que ele existe de fato
na projeção dos outros, são eles que constroem a imagem e não eu. Nessa
dimensão cinematográfica ou fotográfica do quarto escuro, a escuridão gera
luz.”
Entre a noite e o dia passa um fio de luz. Quase não vemos o que vemos. Há
uma zona de desconforto e de incerteza em que tudo se mistura às sombras,
em que o que está diante de nós se mistura ao que pensamos estar diante de
nós.
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coreografia do tempo vivido por Eva. Cada objeto é assim potencializado em
sua fantasmática como verdadeira aparição. Sentados ali diante de uma
imagem, rigorosamente composta, e, que se revela em continuidade, no
silêncio da antiga camara, estamos diante de uma imagem opaca como a das
primeiras câmeras obscuras e em fluidas e frágeis projeções.
A instalação perfaz o íntimo estado de vigília vivido pela dona da casa Eva
Klabin quando permanecia acordada a noite e dormia durante o dia. A vida do
quarto era sempre a meia luz na fosforescência dos objetos iluminados.
3 Cinema Lavado
Marcos Chaves
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4 Cinema sem filme: Feliz Ano Novo
Lívia Flores
"Instalar uma gambiarra luminosa com os dizeres FELIZ ANO NOVO para ficar
acesa durante todo o fim-de-semana do evento, de preferência, dia e noite.
FELIZ ANO NOVO surge como instalação festiva, saudação aos moradores (ou
saudação dos moradores à cidade), anúncio de renovação, esperança de
futuro feliz. Ao mesmo tempo, sua aparição extemporânea sugere algum tipo
de desarranjo na ordem do tempo ou do discurso - o tempo fora de ordem, o
senso comum confundindo-se com o nonsense"
Lívia Flores produz uma situação cinema baseada na poesia existente na frase
: Feliz ano novo. A poesia está na frase fora do lugar, fora do tempo costumeiro
do fim do ano a cada ano. Lívia estende a frase no Morro da Conceição e
converte a paisagem em um Drive in. Um verdadeiro happening em que as
fotos que o registram lembram um filme, ou, um cinema, sem filme.
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4 Sistema-cinema
Ricardo Basbaum
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Um único objeto de tiragem ilimitada foi distribuído. A fisicalidade do objeto
fortalece a ambigüidade de um circuito que é imaterial.
Mas esta rede íntima, poética e conceitual exige protocolos. Primeiro, deve
haver a aceitação do convite de participação. O objeto é, então, enviado para o
participador que é cadastrado no site, que existe desde de setembro de 2006,
dentro da terceira fase do projeto – antes disso, houveram duas fases: de 1994
a 2000, o projeto andava a partir da mediação do próprio artista; entre 2000 e
2004, o objeto passou a se deslocar impulsionado por redes já existentes entre
os participantes. Com o site quem recebe o objeto é cadastrado informando ao
sistema a data, a cidade e o nome; ganha uma senha e a partir de então edita
a sua própria documentação sem passar pelo artista. O registro visual e escrito
da experiência torna-se público sem a interferência do artista. O participante
pode ser indivíduo, grupo, coletivo ou instituição. Em Kassel, por exemplo, uma
escola, uma associação comunitária, uma associação que trabalha com
imigrantes e uma associação de portadores de vírus de HIV participam da
experiência. O artista faz o gerenciamento da circulação a partir do site.
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1
O advisory board da documenta 12, que auxiliou na distribuição dos objetos em Kassel, foi coordenado
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desenho NBP se forma no movimento do cursor na página inicial, acentuando a
idéia de que a interação produz a obra.
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a maior possibilidade das novas tecnologias, a maior diferença consiste na
possibilidade de uma presença móvel.
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caixa transparente na qual os circuitos são integrados e disponíveis ao
participador.
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4
“A variedade de formas a que chamamos de Transcinemas produz uma imagem-relação, que, como define Jean Louis
Boissier, é uma imagem que se constitui a partir da relação de um espectador implicado em seu processo de recepção. É a este
espectador tornado participador que cabe a articulação entre os elementos propostos e é nesta relação que se estabelece um
modelo possível de situação a ser vivida, uma relação que é exterior aos seus termos, não é o artista que define o que é a obra,
nem mesmo o sujeito implicado, mas é a relação entre estes termos que institui a forma sensível. É a este cinema relação criado
de situações de luz e movimento em superfícies híbridas que chamamos de Transcinema.” MACIEL, Kátia. “Transcinemas e a
estética da interrupção” in Limiares da imagem, Antonio Fatorelli e Fernanda Bruno (org), Rio de Janeiro: MAUD, 2006.
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2 Dispositivos e ações
Ana Tavares
Instalação Enigmas de uma Noite com Midnight Daydreams (da série Dream
Stations) de 2004
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16mm capturadas há 70 anos pelo capitão Schenk da marinha mercante
alemã, em suas viagens de Hamburgo a Buenos Aires. O material foi trazido da
Alemanha e editado sob a direção da artista.
2 Abajur
Cildo Meireles
E do mar o mundo
é redondo de mar
No horizonte transparente
A caravela no viés da corrente
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3 Cinema Lascado
Gisele Benguelman
As imagens são captadas com uma Flip em situações de trânsito em uma zona
de tensão da cidade (o Minhocão). Alguns frames são selecionados e são
editados num editor de GIF animado. Depois, são distribuídos em páginas
HTML e colocados para rodar no browser Internet Explorer em tela cheia, com
meta refresh. O movimento entre as imagens é dado por esse script. O
resultado, são inúmeros bugs de leitura das animações e uma temporalidade
instável. Na sequencia, as imagens são capturadas com um screen recorder e
se transformam em vídeo outra vez.”
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4 Disque M para matar
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Os artistas tornam o visitante cúmplice da ação que se passa, ao ligar ou
não para o celular anunciado na tela. O suspense é assim colocado para além
do filme, na sala em que o filme é visto. O espectador irá ou não telefonar para
salvar a moça do seu iminente assassinado?
O recurso interativo não é gratuito, mas integra a trama que agora se passa
também fora da tela.
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3 Arquivos e montagens
1 BANG, 2012
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O bandido atira contra a câmera que o captura, e nós, espectadores, desde
1903 com O Grande roubo de trem5, somos alvos do bang bang do cinema. Em
Histoire (s) du cinema de Jean-Luc Godard, o autor repete, na forma de texto
gráfico visual e na voz off, Histoire avec un s, História com s. Vemos, então, as
histórias do cinema nas batalhas e guerras do século XX. O cineasta resume a
história do cinema americano como a girl and a gun. A girl and a gun Godard
repete ao longo do filme. A fórmula de Hollywood decomposta na montagem do
autor que, para frente e para trás, movimenta a moviola e seu ruído.
Montagem, assemblage, colagem, mistura não apenas do cinema e sua
história, mas de seus continentes, europeu e americano em cruzamentos,
disputas, intrigas, a história do cinema como gênero cinematográfico. O
cinema, seus heróis e covardes, suas divas e vítimas, histoire avec un s.
“O drama real, a guerra real, não temos nem mais o gusto, nem a
necessidade. O que precisamos é o sabor afrodisíaco da multiplicação do falso,
da halucinação da violência, o que temos de todo prazer halucinógeno, que é
também o prazer, como na droga, da nossa indiferença e da
nossairresponsabilidade, portanto da nossa verdadeira liberdade” Para concluir
“É a forma suprema da democracia”6
Este texto poderia ser uma critica aos filmes de Quentin Tarantino. Edição de
imagens de naturezas distintas: fotografias, séries televisivas e animações em
filmes que ultrapassam os acontecimentos em seus aspectos históricos, morais
e éticos. O que fazer quando tudo já aconteceu? Refazer tudo em um
movimento contemporâneo de eterno retorno. No caso do cinema americano,
Tarantino gera um pastiche de violências do western ao filme noir, do burlesco
a guerra mais visceral, onde os heróis afundam sem o alento da vitória. Uma
outra nouvelle vague e neo-realismo, na total desrealização do jogo americano
do culto ao herói. Não existem heróis, só bandidos, não existe a paz, só a
guerra, a pior de todas, aquela de todos os dias, aquela que nos torna
indiferentes ao sangue, ao suor e as lágrimas.
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5
The Great train robbery, filme dirigido por Edwin S. Porter, produzido pela Edson filmes.
6
« Le drame réel, la guerre réelle, nous n’en avons plus ni le goût ni le besoin. Ce qu’il nous faut,
c’est la saveur aphrodisiaque de la multiplication du faux, de l’hallucination de la violence, c’est que nous
ayons de toute chose la jouissance hallucinogène, qui est aussi la jouissance, comme dans la drogue, de
notre indifférence et de notre irresponsabilité, donc de notre véritable liberté. » Et de conclure : « C’est la
forme suprême de la démocratie. » Jean Baudrillard
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Na exposição Bang de Ana Vitória Mussi, três paredes abrigam quatro
projeções, que se tocam e funcionam para dentro e para fora, no deslizar do
movimento parado, no entrecruzar das formas e ritmos que combinam as
imagens que passam como em um filme. Um filme contrastado pelas
fotografias que fixam o que mostra a televisão da artista, para ela, uma janela
para os acontecimentos em versões que se materializam e desmaterializam no
tempo do click da câmera que opera.
A instalação Bang de Ana Vitória Mussi nos acorda com a delicadeza das
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7
Bergson, 1858-1941 in A ilha deserta, Gilles Deleuze, Ed Iluminuras, São Paulo, 2006.
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imagens que flutuam no presente de um passado que não passa nunca,
porque as imagens são mais que arquivos, são percepções incrustadas em
2 A outra fala
A instalação cinema de Luciano Figueiredo
Orson Welles8
Orson Welles, na sua paixão pelo texto e pelo teatro, potencializa o uso dos diálogos
na construção de roteiros que mudaram a história do cinema.
“ Você deve levar em conta que a plateia que assiste a um filme não é uma plateia
que está acordada. É uma plateia que está sonhando.“
Gertrude Stein10
O escuro. Sempre o escuro. O cinema sonha que nós sonhamos com ele. Esta é a
condição de sua existência, a origem do dispositivo narrado por Jean-Louis Baudry11 como
um aparelho de simular, que transforma a percepção quase em alucinação, dado o efeito
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8
Depoimento de Orson Welles. Hollywood Voices. Andrew Sarris - Cinema Two, London 1971, pag.156.
Entrevista a Juan Carlos Miguel Rubio, José Antonio Pruveda em Cahiers du Cinéma, N.165 Abril 1965
9
Michel Chion, L'audio-vision. Paris, Nathan, 1990, pag 75.
10
Gertrude Stein “ Lights, Câmera, Poetry!” edited by Jason Shinder. A harvest Original Harcourt Brace &
Company . San Diego New York London.
11
Jean-Louis Baudry. Le dispositif. In: Communications, 23, 1975. pp. 56-72.
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de realidade. Para o autor francês, o dispositivo cinematográfico reproduz nosso aparelho
psíquico durante o sono, no sentido do corte com o mundo exterior e na potência das
imagens sensoriais do sonho.
- Está se divertindo?
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12
Bioy Casares. A invenção de Morel, São Paulo: Cosac Naify, 2006.
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- Meus sonhos. São pesadelos!
- Às vezes eu também os tenho. Tome, beba um pouco, vai ajudar a se livrar deles.
- Não se vá!
- Eu nem me mexi!
Luciano conta14 que Cine-romance era o nome da forma quadrinizada dos filmes em
publicações da década de 1950. Os filmes eram fotografados quadro a quadro,
publicados e colecionados pelos fãs. Muitas vezes os cinerromances eram o modo de
assistir aos filmes, que nem sempre chegavam a todas as telas. Esta forma
aglutinava então o romance, na sua narrativa sequenciada, às imagens que
retratavam o que era lido. Ao enquadrar e suspender textos e diálogos
cinematográficos em uma sala de exposição, Luciano Figueiredo reinventa a lógica
dos diálogos porque ali no escuro, com o foco da luz nas palavras, o cinema fala de
outro modo. Este modo é amoroso. O romance não está na troca das palavras dos
personagens memoráveis, o romance está na nossa relação com o cinema.
Ao entrarmos na sala esquadrinhada pelo artista, vemos telas suspensas, por vezes,
com pequenas sobreposições, iluminadas pelas letras que parecem flutuar no escuro.
O que as letras nos dizem ao nos aproximarmos acorda nossa memória e seu
repertório de dispositivos afetivos.
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13
Filme: JOHNNY GUITAR (Johnny Guitar) 1953 de Nicholas Ray.Baseado no livro de Roy Chanslor.
Roteiro: Ben Maddow, Philip Yordan.
14
Entrevista de Luciano Figueiredo com Katia Maciel, 25 de março, 2014.
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- Você veio aqui para me salvar?
O corte seco. O frio. A traição. A melhor versão do escuro. Luciano age como um
montador atento ao movimento da costura da moviola. O corte seco. A sensação no
estômago da traição. “eu vim aqui para trair você”. O cinema sensorial, sem projetor,
sem película, no fio da palavra escrita que grita no escuro.
O tema da traição é frequente nos diálogos colecionados pelo artista. O marido trai. A
mulher trai. O amigo trai. O policial trai. Os personagens do cinema noir insistem em
trair uns aos outros na penumbra dos escritórios cobertos por velhas persianas.
De outro modo, a traição habita o cinema godardiano: a palavra dita não é ouvida, a
conversa é desvio.
“Às vezes, com o passar do tempo, certas pinturas antigas tornam-se transparentes.
Quando isto acontece, é possível ver as linhas dos desenhos originais: por trás de
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15
Filme: SANSÃO E DALILA (Samson and Delilah) 1954. De Cecil B. De Mille. Roteiro: Jesse
L. Lasky Jr, Frederic M. Frank, Harold Lamas.
16
Filme: VIVER A VIDA ( Vivre Sa Vie) 1962, de Jean-Luc Godard. Roteiro: Jean-Luc Godard, Marcel
Sacotte.
17
IDEM.
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uma árvore, vê-se um vestido de mulher, uma criança dá lugar a um cachorro, um
barco já não se encontra em mar aberto. Isto se chama pentimento. Porque o pintor
repintou o quadro... mudou de ideia.”18
Luciano Figueiredo foi convidado pelo amigo e curador Alberto Saraiva a criar uma
exposição que ocupasse um espaço do Oi Futuro Ipanema dedicado à poesia visual,
talvez o único no mundo exclusivamente dedicado a poemas que são imagens e vice-
versa. O artista que coleciona diálogos, especialmente do cinema clássico, pode
transformar seu acervo em uma exposição transcinema por misturar poesia, cinema e
pintura não só no mesmo espaço, mas nas mesmas obras. Cada tela é poema, filme
e pintura, e isto não pela técnica utilizada, mas pelo composto de sensações que o
artista tão bem soube evocar nas palavras que falam no escuro.
- “Era uma tarde quente e ainda me lembro do cheiro de jasmim na rua toda.
Como iria saber que o crime às vezes tem cheiro de jasmim? Talvez você soubesse,
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18
Filme: JULIA, de Fred Zinemann (1977), baseado no livro Pentimento, de Lillian Hellmann. Roteiro:
Alvin Sargent.
19
Filme: O DESPREZO (Le Mépris) 1963. Baseado no livro de Alberto Moravia. De Jean-Luc Godard.
Roteiro: Jean-Luc Godard.
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Keys, pelo modo como lida com seguros de acidentes, mas eu não, sentia-me como
um rei...
Matei-o por dinheiro e por uma mulher. Não fiquei com o dinheiro nem com a mulher.
20
É preciso lembrar que Luciano Figueiredo, antes da ida a Londres, havia assistido
aos filmes com legendas no Brasil e que esta forma já evidencia a escrita. Para a
exposição, o artista se apropria da ideia da legenda como parte da estrutura do filme.
Os componentes do filme - diálogo e legenda - são vetores para se chegar ao que lhe
é anterior: o roteiro, que é o início da exposição.
“ - Essa é minha vida. Sempre será. Nada mais importa. Só nós e as câmeras... e as
maravilhosas pessoas lá, no escuro.” 21
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20
Filme: PACTO DE SANGUE (Double Indemnity) 1944 de Billy Wilder. Roteiro: Raymond Chandler.
21
Filme: CREPÚSCULO DOS DEUSES, (Sunset Boulevard) 1950, de Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder,
Charles Brackett, D. M. Marshman Jr.
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Os diálogos suspensos fazem conviver a pintura, o cinema e a poesia
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Filme: NA LINHA DE FOGO (In the Line of Fire) 1993 de Wolfgang Peterson. Roteiro: Jeff Maguire
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3 Circuladô
Andre Parente
TURNAROUND
George Harrison
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Giro 1 Revolução
Corisco
Ainda que esse parágrafo de Hannah Arendt tenha sido escrito para pensar as
revoluções modernas (a americana e a francesa), podemos estender suas
implicações ao contexto político brasileiro da década de 60, em que a ideia da
revolução como promessa de liberdade surgia como oposição ao estado de
arbítrio e violência instaurado pelo governo militar após o golpe de 1964.
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ARENDT, Hannah. Sobre a revolução pag 17
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Giro 2 Acaso e destino
Édipo (1967)
A cada encruzilhada Édipo esconde os olhos com as mãos e gira para escolher
ao acaso seu destino afim de evitar aquele anunciado pelo oráculo. Como
sabemos, quanto mais o personagem tenta evitá-lo, mais o aproxima. Na
versão do cineasta Pier Paolo Pasolini, da tragédia grega de Sófocles, Édipo
Rei, a cegueira é traduzida como um gesto, o de vedar o que se vê, vedar o
crime a ser cometido, vedar ao filho o pai e o pai ao filho.
" Afirmo-te, pois: o homem que procura há tanto tempo, por meio de
ameaçadoras proclamações, sobre a morte de Laio, está aqui! Passa
por estrangeiro domiciliado, mas logo se verá que é tebano de
nascimento, e ele não se alegrará com tal descoberta. Ele vê, mas
torna-se-á cego, é rico, e acabará mendigando; seus passos o levarão à
terra do exílio, onde tateará o solo com seu bordão. Ver-se-á, também,
que e é ao mesmo tempo, irmão e pai de seus filhos, e filho e esposo da
mulher que lhe deu a vida; e que profanou o leito de seu pai, a quem
matara.
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André insiste no mito, e, na montagem do loop, suspende o destino.
Giro 3 Improvisação
Monk
Mais uma vez André acentua o giro ao ampliar no loop o movimento imprevisto
do artista na ginga do jazz.
Giro 4 Conservação
SUFI
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De olhos abertos, com os braços até a altura dos ombros, a palma da mão
direita para cima e a palma da mão esquerda para baixo girando sobre o
próprio eixo, o giro sufi busca o êxtase do estar no mundo e fora dele. A
etimologia da palavra sufi tem sua origem no Egito Antigo e designa pureza. O
Giro Derviche liga o céu e a terra, matéria e espírito e aumenta a consciência
do corpo na sua relação com o divino. O giro possui uma dimensão de união
com o cosmos, o giro gira com o mundo e o faz girar, cada átomo e partícula
na preservação das energias.
Giro 5 Felicidade
Santo
No quinto giro o loop é o da reza, do santo, em uma prece que nos faz girar na
alegria franciscana.
O loop e o círculo
Os loops criados por André Parente não são meros efeitos, são os elementos
que pontuam e constituem o círculo. É preciso reconhecer a montagem do
conjunto para observar que o giro de cada personagem ao se combinar com o
outro não constitui repetição, mas diferença, como em uma dança em que
todos dançam, mas cada qual no seu ritmo, em uma só roda.
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São muitos os giros de Circuladô. Na exposição Situação Cinema, no Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 2007, quatro pequenas telas
mostravam, lado a lado, os loops dos quarto personagens. Ao espectador cabia
percorrer lentamente cada giro e relacioná-los. Em 2011, no Museu da Imagem
e do Som de São Paulo, uma montagem em escala surpreendente conferiu a
instalação um aspecto de cinema imersivo. Ao mesmo tempo, pré e pós
cinema, um transcinema na forma de um dispositivo interativo disponível ao
movimento, mais ou menos intenso, das mãos que giram o disco diante das
grandes imagens. Nesta versão nós habitamos o centro de um gigante
zootrope e giramos o que nos gira.
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4 Aleph
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4 Desnarrativas
Kika Nicolela
! 41
em que o objetivo é escolher um ator para atuar um determinado papel em uma
filmagem posterior do roteiro, o próprio teste de elenco é a base da obra. O
intento não é escolher um ator para um papel, mas usar todos os atores que
foram gravados, todas as versões de um mesmo personagem. O produto final
é uma instalação multi-canal apresentada em looping em um museu ou galeria.
2 Assíntotas
Eu sei que vou te amar do cineasa Arnaldo Jabor, A invenção de morel de Bioy
Casares, O copo de cólera de Raduam Nassar, Fragmentos do Discurso
Amoroso de Roland Barthes, filmes e escritos são referências da escrita de
Ana na intensidade com que mistura o pensamento amoroso a uma forma de
cinema expandido, um transcinema que conjuga a lógica do teatro, a
arquitetura da instalação e o texto como discurso poético que insiste no escuro
do quarto, do filme e da sala de exibição.
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! 43
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3 Mínimas: O cinema-desenho de João Modé
Atempo
solidão
desenho
micro cinema
cinema de observação
no acontecimento mínimo
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24
Aula de João Modé no curso “Artistas de Cinema” de Katia Maciel, 05 de junho de 2013.
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Quase sempre com a câmera fixa e sem muita edição, João registra, ali no
instante, o que de alguma forma o olho desenha na minuciosa observação da
Suite Belle Île.
! 46
coisas, tipo essas coisas. Mas eu continuei desenhando e fiz algumas
caixas depois, alguns estojos, com esses desenhos.
Suite Belle-Île
! 47
2 Anse du Vazen
caminho no areal da maré baixa
sigo as pegadas
cachorros, gaivotas e bengalas
mar estendido
! 48
3 Le Grand Phare
farol à noite
e suas distorções
faixas de luz no escuro
cada farol tem sua assinatura
intensidade em movimento
código da luz do escuro
! 49
4 Last day of magic [alone]
restos de construções militares
longe
zoom
perto
! 50
5 Canto
som
passarinho canta no telhado
passa o carro 1
passa o carro 2
pássaro voa
! 51
6 Nuca
pedra no mar
ondas batemna pedra
pedra é volume
espuma
no escorrer da água
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7 Música
som
de cima vemos
ondas e suas direções
água bate e volta
rebate
revolta
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8 Arquitetura em suspensão
Passarinho voa parado
Mergulha
Surge a Arquitetura
Suspensa
! 54
9 Molusque et mouches
molusco morrendo
movendo as moscas
resto
universo
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10 Paraneto
encontrei uma coisa
não sei o que é
teia forra o espinho
pólen preso na rede
para Ernesto Neto
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11 Atempo
praia de micro pedras
maré baixa
pegadas se acomodam no micro universo
movimento no tempo
! 57
Pranayama
dois dias
mar do tempo
um lugar
desenho de pedras
marés
desenho
respira
! 58
4 Atmosfera
Vicente de Mello
Quando Vicente de Mello me disse pela primeira vez que tinha uma série de
trípticos intitulada Cinema Atmosférico me lembrei de uma exposição que
havia visitado em 2004 no Musée d’Orsay intitulada Mouvements de l'air
Etienne-Jules Marey (1830-1904) photographe des fluides que reunia as
fotografias dos três últimos anos do médico, fisiologista e inventor da
cronofotografia (1899 à 1901) em que se dedicou a registrar o movimento do
ar. Ou seja, ao ouvir Vicente pensei em um cinema feito de ar, literalmente.
Mas o que o artista dizia estava invertido, o cinema que propunha era o ar feito
de cinema como veremos a seguir.
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5 Suspense.
Katia Maciel
Sinopse
Mulher perdida no paraíso envia fotografias como pistas para a sua impossível
localização.
SUSPENSE é um projeto que se modifica a cada exposição por incorporar, a cada vez,
novos trabalhos. Como na origem do romance quando a cada dia uma parte da
narrativa era revelada pelo autor, realizo um cinema em capítulos. A combinação entre
as imagens implica no reconhecimento da máquina cinema, do fotograma à imagem
em movimento, dos dispositivos do início do cinema às formas interativas
contemporâneas. O espaço instalativo experimentado pelo espectador em seu
percurso o conduz por momentos diferenciados da história do cinema com suas
diferentes estratégias de visualização. O olhar que encontra a palavra luz em
movimento na caixa, não se confunde com o olhar especular da instalação Verso ou
com aquele que assiste ao movimento pendular no vídeo Vulto. São situações que
implicam o espectador de maneiras distintas nas imagens espacializadas. Há uma
condição de suspensão, não apenas no corpo que vemos, mas também no corpo que
participa.
! 65
O corpo que vemos é feminino, mas anônimo, nunca vemos o rosto da personagem
que acompanhamos no conjunto de trabalhos da exposição.
Cartazes
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! 67
Os cartazes são divulgados progressivamente na internet e em revistas com o
objetivo de gerar um estado de suspense em torno da exposição que investiga
a questão do gênero cinematográfico como conceito deflagrador das obras em
exposição. O processo de divulgação no circuito de arte integra e revela a
estratégia da exposição.
! 68
2
Vulto (videoinstalação)
! 69
paradoxo contido neste trabalho é o do tempo. Em Timeless mostro uma
ampulheta que verte a areia nas duas direções em um tempo que não passa
com o movimento. Variação e não variação na duração e na repetição. Como
duração a imagem se estende como um instante que permanece porque não
passa nunca, insiste. O registro de uma ação em loop implica em ligar as
bordas do tempo criando um infinito presente. Mas a imagem não é puro efeito,
ela é o registro do que nela se pensa e o que se pensa é o que há na variação
que não varia, ou o que varia na não variação, no paradoxo da ação e do
sentido...
! 70
4
! 71
5
Caixas de ver
Caixa de ar
! 72
Caixa de luz
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6
SUSPENSE
AOS POUCOS,
E DE CIMA,
ENXERGUEI UM CAMINHO.
AS FOLHAS TREMIAM
NO MOVIMENTO PENDULAR
PERCO O ESPAÇO.
ME ENCOLHO NA TERRA
O SOL ARREPIA
E SIGO
LONGA E ARREDIA
! 74
Bibliografia
ASCOTT, Roy. Mantenha distância, nós não a queremos. In: MACIEL, K. Mantenha
distância. Catálogo da exposição. São Paulo: Paço das Artes, 2005.
BEAU, F.; DUBOIS, P.; LEBLANC, G. Cinéma et dernières technologies. Paris: Ina,
1998.
BELLOUR, R. (Org.). Passages de l' image. Paris: Centre Georges Pompidou, 1990.
! 75
______; CAROLL; NOEL (Ed.). Post-theory: reconstructing film studies. Madison:
University of Wisconsin Press, 1996.
______. Devant la recrudescence des vols de sacs à main. Lyon: Aléas Editeur,
1991.
! 76
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Pompidou, 2006.
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VIOLA, B. Reasons for Knocking at an Empty House. Italy: Thames and Hudson,
2005.
! 79
Resultados
Publicações 2013/2104
- Livros
José Oiticica Filho: As borboletas voam no escuro. Rio de Janeiro: Editora
+2, 2014.
Instruções para filmes (ebook org com Lívia Flores). Rio de Janeiro: Editora
+2 e Circuito, 2013.
- Artigos
Poema-vídeo in Poesia Visual, Alberto Saraiva (org.), Rio de Janeiro: Fase 10,
2013.
Instruções para filmes (com Livia Flores) in Instruções para filmes, Katia
Maciel e Livia Flores (org), Rio de Janeiro: +2 Editora, 2013.
BANG de Ana Vitória Mussi in Instruções para filmes, Katia Maciel e Livia
Flores (org.), Rio de Janeiro: +2 Editora, 2013.
! 80
Palestra Suspense, Pós-cinema, Pós-fotografia: O devir das imagens
contemporâneas em arte, Universidade Federal do Ceará, 15-17 abril 2014.
Organização
Casa Daros
2014
Exposições 2013/2014
- Individuais
2014
Répétiton(s)
Paris
2013
SUSPENSE
! 81
Galeria Zipper
- Coletivas
2014
Em torno de
Mostra Carioca
2014
Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013
Itaúcultural
São Paulo - Sp
Instalação: Arvorar
2014
Edital Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio 2013
Paço Imperial
Rio de Janeiro
Instalação: Mar adentro
2014
Museu Dragão do Mar
Vídeo: Delta
2013
! 82
MAC MOSTRA VIDEOARTES
Vídeo: Delta
Video: Colar
Prêmio
! 83