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A GRANDE CRISE DO SÉCULO XIV – texto adaptado.

1 Transição do Feudalismo para o Capitalismo

A transição do feudalismo para o capitalismo foi um fenômeno que começou no século


XIV e se estende até o século XVII, e já foi objeto de discussão entre vários
historiadores. Essa transição começou no período da Baixa Idade Média,
especificamente a partir do século XIV. Entretanto, a expressão “transição” supõe um
processo de continuidade progressiva, ocorrendo nesse período, processos complexos
de avanços e retrocessos econômicos, tanto no campo quanto nas cidades medievais.

1.1 Baixa Idade Média - Transformações


A partir do século XI a Europa passou por uma série de transformações que acabaram
por levar à crise do sistema feudal:
– Novas técnicas agrícolas aumentaram a produtividade das terras Exemplos: o uso do
cavalo como animal de tração, a produção e o consumo de leguminosas (que melhorou
a qualidade de vida), a rotação trienal do plantio, nova tecnologia para drenagem de
pântanos e lagos, e outros;
– Crescimento demográfico e produção de um excedente agrícola que poderia ser
comercializado;
– Desenvolvimento de um pequeno comércio entre os feudos, o que fez com que se
sentisse a necessidade do uso de moedas e da padronização de pesos e medidas;
– Aumento das disputas por terras entre os nobres, motivados tanto pelo crescimento
demográfico, quanto pelas novas possibilidades agrícolas.
Não se pode dizer, portanto, que as forças do capitalismo estavam em latência apenas
nos comerciantes das cidades. Estavam também no campo, nos feudos, haja vista que
o desenvolvimento comercial acabou favorecendo, em alguns casos, os senhores
feudais. Não há uma causalidade direta que implique a passagem do Feudalismo para
o Capitalismo centrada apenas no renascimento comercial e urbano.
O declínio do feudalismo e a origem do capitalismo foram, em grande parte, compõem
dois fenômenos históricos independentes, porém relacionados, apesar de se
desenrolarem simultaneamente. Foi do campo que nasceram as bases materiais para
a indústria, sobretudo no caso inglês, e, ao mesmo tempo, a experiência do comércio
nas cidades criou a sofisticada relação de troca monetária, que foi a base do crédito e
do sistema financeiro que se desenvolveu a posteriori.
A Revolução Inglesa do século XVII foi decisiva para o fomento das condições de
aparecimento da industrialização. Com a indústria, o sistema capitalista passou a ser
imperativo e complexo, gerando a divisão acentuada do trabalho nas cidades e o
aumento do grande fluxo da massa de operários.

Portos, navios e aviões cargueiros, todo esse imenso sistema de transportes de produtos nasceu para comportar a complexidade
do sistema capitalista

Toda a complexa rede industrial e comercial, a nível mundial, que vemos hoje, atrelada
ao também complexo sistema financeiro – bancos, bolsas de valores etc. – é fruto
desse processo de ascensão do sistema capitalista, que começou no século XIV.
2 A grande crise do século XIV
A grande crise do século XIV constitui uma série de eventos ocorridos ao longo dos
séculos XIV e XV que deterioraram o progresso alcançado pela Europa desde o início
da Baixa Idade Média. Essa crise provocou alterações profundas nas sociedades
europeias e resultou na decadência de escolas e universidades, prejudicando
imensamente o progresso científico.
No século XIV, o feudalismo entrou em sua fase de agonia. Durante a Baixa Idade
Média, o rápido crescimento populacional acabou sendo lentamente absorvido pelo
comércio, pela melhoria das técnicas de cultivo, pela ampliação das áreas agrícolas,
permitindo ao feudalismo uma sobrevida de três séculos. A partir do século XIV, porém,
a lenta contaminação da estrutura feudal pelas transformações anteriores, já havia
comprometido a base do sistema, fadando-o à queda.
Fatores externos ao feudalismo foram responsáveis pela aceleração de seu declínio,
com destaque para a acentuada queda da população verificada no início do século XIV.
O declínio demográfico decorreu sobretudo da onda de fome que assolou a Europa,
devido às más colheitas e aos surtos epidêmicos, sobretudo a Peste Negra, que
dizimaram a população europeia no final da Idade Média.
O decréscimo populacional determinou o aumento da exploração dos servos no campo,
levando à eclosão de rebeliões e revoltas camponesas conhecidas como jacqueries.
Ao mesmo tempo, restringiu o comércio, graças ao declínio do mercado consumidor.
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi um elemento agravante nesse quadro de
crise. Trata-se do conflito que envolveu França e Inglaterra e que teve como causas
imediatas:
• A disputa pela posse de Flandres (noroeste da Europa, englobando as atuais
França, Bélgica e Holanda), região possuidora da mais numerosa indústria de
tecidos da Europa. Consumia a lã inglesa, enriquecendo os nobres daquele país.
Todavia, os franceses desejavam substituir a Inglaterra nesse lucrativo comércio
e tentavam invadir a região;
• Presença de feudos do rei da Inglaterra em território francês que os reis da
França, em pleno processo de fortalecimento de sua autoridade, almejavam
anexar a seu reino.
A guerra desenrolou-se de forma equilibrada e devastadora por mais de um século,
gerando insegurança e aprofundando os sintomas de crise vividos pela economia
europeia.
Pode-se, então, concluir que, a crise do século XIV, significou a incompatibilidade entre
o dinamismo econômico manifestado a partir do século XI e a estrutura estática do
feudalismo; este sistema, por suas próprias características, foi incapaz de conviver com
um acelerado ritmo de crescimento econômico e, por isso, mesmo, desintegrou-se. A
resposta à crise do século XIV foi a expansão marítima europeia que buscava mercados
e metais que mantivessem em ritmo acelerado o crescimento econômico europeu.
Nascia assim o capitalismo comercial.

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