Você está na página 1de 10

08/12/2020 Gripe das Aves

() (asae20/contactos.aspx?v=106b183c-3b01-439f-88b9-78781af122a9)

()

Menu

Gripe das Aves  

SUBMENU 

Gripe das Aves


1. Sumário Execu vo.

A Gripe é uma doença causada por vírus da família Orthomyxoviridae e do género Influenza A, que pode
afectar o Homem, e também diferentes animais, como o cavalo, o porco e as aves, causando doença grave
em todas estas espécies, embora cada vírus seja de um modo geral específico da respec va espécie. Esta
especificidade é imposta pela presença nas células de receptores que apenas se ligam a determinadas
estruturas da super cie dos vírus, permi ndo depois a entrada do vírus na célula. Estas estruturas variam de
espécie para espécie. Assim, por regra, vírus que infectam o Homem não infectam outras espécies e vice-
versa, dada a ausência de receptores que o permitam. Excepção a esta regra de especificidade pode
contudo ocorrer no porco, cujas células são suscep veis de infecção quer por vírus humanos quer por vírus
aviários e também noutras espécies através de duas vias possíveis, a mutação e a recombinação gené ca.
Oportunidade para a recombinação gené ca pode ocorrer nas infecções mistas com diferentes es rpes de
Influenzae A, isto é quando dois vírus infectam a mesma célula, os novos vírus que nela se formam podem
herdar conjuntos de segmentos de RNA resultantes da combinação de segmentos idên cos a cada um dos
vírus originais. Assim, o hospedeiro mais provável para que esta recombinação se dê é o porco e só
excep onalmente o Homem, as aves e o cavalo, se por mutação fortuita num vírus este consiga entrar numa

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 1/10
08/12/2020 Gripe das Aves

espécie para a qual não nha originalmente especificidade. Quando este fenómeno biológico acontece, a
ultrapassagem da “barreira de espécie” é normalmente acompanhada de um surto de gripe de virulência
acrescida na nova espécie. Por isso, embora os vírus da gripe humana estejam constantemente presentes na
nossa espécie, afectando com gravidade rela va uma percentagem significa va da população humana todos
os anos, as maiores e mais graves pandemias de gripe descritas na história resultaram da disseminação de
vírus oriundos de outras espécies nomeadamente das aves.

Neste ar go tentaremos abordar as caracterís cas dos vírus Influenza, nomeadamente dos agentes da gripe
das aves e da famosa es rpe H5N1 para tornar compreensível não só as razões pelas quais esta es rpe
pode cons tuir um potencial risco para a espécie humana mas, ainda, para racionalizar as diferentes
medidas de segurança preconizadas quer pela OMS quer pela União Europeia, para que este risco seja
reduzido ao mínimo. Dado que o público em geral é muito suscep vel a situações alarmistas reagindo de
imediato com a suspensão do consumo de um produto, mesmo antes de ter compreendido qual o risco que
dele decorre, este ar go visa ainda esclarecer as pessoas para o facto de o risco de contaminação com um
vírus da gripe aviária através do consumo de produtos avícolas cozinhados ser cien ficamente nulo e
jus ficar porquê.

2. Caracterís cas dos vírus Influenza

Os vírus do género Influenzae pertencem à família Orthomyxoviridae e são agentes patogénicos muito
importantes no Homem e animais. Habitualmente dis nguem-se 3 géneros de Influenzae: A, B e C. Os vírus
do po A são isolados a par r de uma grande variedade de animais, incluindo o homem, suínos, aves
domés cas e selvagens, e mesmo mamíferos marinhos. Os vírus do po B apenas afectam o homem e os C
são pouco patogénicos. No caso das aves, este síndroma gripal é causado por vírus Influenzae do po A.
Embora habitualmente estes agentes não sejam zoonó cos, eles tendem a ultrapassar a barreira de espécie
com alguma facilidade, desenvolvendo es rpes mutantes potencialmente patogénicas para o Homem.

Os vírus Influenzae são pleomórficos (podem apresentar diferentes formas, desde esféricos a filamentosos),
têm 80-120 nm de diâmetro e possuem invólucro. No invólucro existem dois pos de proteínas:
hemaglu nina (H) e neuraminidase (N). Estas, para além de serem os componentes estruturais que se ligam
aos receptores celulares, permi ndo a entrada do vírus nas células suscep veis, são an génios muito
importantes para o estabelecimento da imunidade, cons tuindo a base da classificação dos vírus Influenzae.
Dentro do po A, existem 16 H e 9 N diferentes, podendo surgir em qualquer das combinações possíveis. A
diversidade existente e a potencial emergência de novas variantes, surge em consequência de uma grande
suscep bilidade dos segmentos gené cos que as codificam para a ocorrência de mutações, que se devem
primordialmente a erros ne replicação viral, da responsabilidade de enzimas (RNA polimerases). Até à data
todos os vírus patogénicos mais comuns pertencem aos sub pos H7 ou H5. O genoma destes vírus é
cons tuído por 6-8 segmentos de RNA (-) de cadeia simples, que codificam 10 proteínas e tem 10-13.6 Kb.

Como o RNA viral é segmentado, a recombinação gené ca pode ocorrer nas infecções mistas com
diferentes es rpes de Influenzae A. Isto significa que quando dois vírus infectam a mesma célula, os novos
vírus que nela se formam podem herdar conjuntos de segmentos de RNA resultantes da combinação de
segmentos idên cos a cada um dos vírus originais. Isto implica que possam surgir uma enorme variedade de
combinações, embora apenas algumas sejam biologicamente viáveis.

Os vírus Influenza são rela vamente pouco resistentes no ambiente: são sensíveis ao calor (inac vação
56°C/3 horas; 60°C/30 min), à acidez (pH ácido), aos químicos (solventes lipídicos, agentes oxidantes, ß-
propiolactona) e desinfectantes (formalina e compostos de iodo). Conseguem manter-se viáveis por longos
períodos de tempo em tecidos, fezes e água.

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 2/10
08/12/2020 Gripe das Aves

3. Dados históricos e epidemiológicos

O síndroma gripal originado pelos vírus influenza foi referido pela primeira vez por Hipócrates no ano 412
A.C e a primeira descrição de uma pandemia remonta a 1580. Desde então crê-se que tenham ocorrido
mais de 30 pandemias, três das quais no século XX, todas originadas e transmi das por animais (suínos em
1918 e aves em 1957 e 1968). A mais devastadora doença viral deste século foi a pandemia de “Gripe
Espanhola”, devida ao vírus Influenzae A (H1N1), que provocou a morte de 25-50 milhões de pessoas em
todo o mundo em 1918-1920. As pandemias de 1957 (gripe asiá ca) e de 1968 (gripe de Hong Kong)
mataram mais de 4 milhões de pessoas, sobretudo crianças e idosos; a primeira foi devida ao sub po A
(H2N2) e a segunda ao sub po A (H3N2).

Em Maio de 1997 (Hong-Kong) o vírus Influenzae A (H5N1), uma es rpe aviária, foi isolado pela primeira
vez em humanos, numa criança de 3 anos que faleceu com Síndrome de Reyes (complicação no sistema
nervoso central, reconhecida como sendo consequente a uma gripe). Antes deste caso, só se nha
conhecimento da existência do vírus Influenzae A (H5N1) em diferentes espécies de aves incluindo galinhas,
patos e gansos, sabendo-se ainda que a maior parte das galinhas infectadas morriam num curto espaço de
tempo, e que os patos e os gansos eram os principais reservatórios do vírus.

Após este primeiro caso, deu-se início a uma vigilância intensiva nos hospitais e serviços de consulta
externa, que revelou mais casos em humanos. Principiou-se também a vigilância epidemiológica em suínos e
aves domés cas e a inves gação sobre as caracterís cas do vírus isolado, a forma de transmissão ao
homem e a iden ficação do reservatório natural. O sub po H5N1, isolado pela primeira vez em estorninhos
(África do Sul, 1961) foi detectado num elevado número de galinhas. As autoridades locais conseguiram
controlar o problema procedendo ao abate de 1,6 milhões de aves domés cas (galinhas, patos e gansos) que
cons tuíam o reservatório de vírus .

Este surto afectou 18 pessoas residentes no Território da China, 6 dos quais vieram a morrer (índice de
mortalidade de 33%). Estudos efectuados durante o surto de Hong Kong comprovaram a transmissão
animal-homem, através do contacto directo com aves vivas. Os estudos realizados apontam para a
inexistência de transmissão homem-homem, embora ainda não tenha sido possível excluir-se essa
possibilidade.

Situação Recente

Recentemente têm sido no ficados os seguintes casos de infecção em humanos:


- 1999 – isolamento da es rpe H9N2 em duas crianças em Hong Kong. A doença manifestou-se de forma
moderada e ambas as crianças sobreviveram. Não se detectaram outros casos. Outros 6 casos não
correlacionados foram detectados na China. Todas as pessoas recuperaram.
- 2002 – detectaram-se an corpos para o vírus aviário H7N2 numa pessoa após um surto em galinhas (no
estado de Virgínia, EUA);
- 2003 – duas infecções por influenza aviária (H5N1) foram no ficadas em Hong Kong.
- Ainda em 2003 – 347 casos, dos quais 89 confirmados, de infecção em humanos associada a um surto de
influenza aviária H7N7 em frangos, na Holanda. A maioria dos casos ocorreu em trabalhadores da indústria
avícola, mas 3 familiares também adoeceram. Em 78 dos casos confirmados, o único sinal de infecção foi a
conjun vite. O único óbito ocorreu num veterinário que desenvolveu síndroma respiratório agudo e outras
complicações.
- 2003 – confirmação de uma infecção pelo vírus influenza aviário H9N2 numa criança em Hong Kong.
- 2003 – infecção por H7N2 e sintomas respiratórios num paciente em Nova York.
- 2004 – dois casos de conjun vite e sintomas gripais em dois trabalhadores da indústria avícola no Canadá.

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 3/10
08/12/2020 Gripe das Aves

Dez casos suspeitos mas não confirmados. Infecções associadas a um surto em aves de influenza H7N3.
- 2004 e 2005 – casos de doença e morte (76/37 no Vietname, 17/12 na Tailândia, 4/4 no Camboja). Casos
associados a surtos disseminados de influenza aviária H5N1 em aves domés cas.

A epidemia que ainda hoje (2005) está em curso na Ásia começou em meados de Dezembro de 2003 a
par r da República da Coreia. Os países até agora afectados foram a República da Coreia, o Japão, a
Tailândia, o Vietname, o Taipé (China), o Camboja, Hong Kong (região especial chinesa), Laos, Indonésia e
Malásia. O mais recente surto eclodiu em Dezembro de 2004, no Vietname, e desde então já morreram ou
foram aba das mais de um milhão de aves no país. A gripe das aves matou até agora perto de 60 pessoas e
foi responsável pelo abate de cem milhões de aves em vários países asiá cos.

Não se espera que a curto prazo estes surtos epizoo cos que tem ocorrido na Ásia diminuam. É provável
que naquela região a infecção por H5N1 se tenha tornado endémica nas aves e que a doença con nue a
ocorrer em humanos. Até ao momento não se verificou transmissão de homem para homem, nem existem
evidências de que possa ter exis do recombinação gené ca entre genes de vírus influenza humanos e
aviários. A população humana não tem imunidade natural contra o vírus H5N1, pelo que, caso este adquira
a capacidade de transmissão eficiente entre humanos, é provável que ocorra uma pandemia com
consequências graves para a humanidade.

4. Sintomatologia, diagnós co e iden ficação do agente

Nas aves

A doença pode ter apresentações clínicas muito variáveis (desde assintomá ca a mortal). O período de
incubação também é muito variável (3 a 7 dias). As es rpes altamente virulentas causam morte súbita (a
mortalidade pode chegar aos 100%) sem sintomatologia pica. Quando as aves sobrevivem existe
depressão severa, anorexia, diminuição drás ca da produção de ovos, insuficiência respiratória, sinusite,
diarreia verde a esbranquiçada, edema da cabeça, face e pescoço, cianose da crista e barbela. Os sinais
clínicos podem ser exacerbados quando existem infecção intercorrentes.

As lesões post-mortem podem estar ausentes nos casos de morte súbita. Caso contrário, podem exis r:
congestão severa dos músculos; sinais de desidratação; edema subcutâneo da cabeça e pescoço, congestão
severa da conjun va; presença de exsudado no lume da traqueia e/ou traqueíte hemorrágica severa;
petéquias na super cie interna do esterno, nas serosas e na gordura abdominal; congestão severa dos rins
(por vezes com depósitos de uratos); hemorragia e degeneração do ovário; hemorragias na mucosa do
proventrículo; hemorragias e erosões na moela; focos hemorrágicos nos tecidos linfoídes da mucosa
intes nal.

No Homem

No Homem as infecções por vírus influenza podem ser desde assimptomá cas a mortais e tem um período
de incubação curto (1-4 dias). Embora a maioria dos casos seja de infecções agudas e autolimitadas (febre,
tosse, anorexia, garganta inflamada, corrimentos ou congestão nasais, dores de cabeça, dores musculares e
fadiga extrema), podem ocorrer complicações severas, tais como pneumonia e agravamento de doenças
crónicas preexistentes. As crianças e grávidas são frequentemente hospitalizadas e consequências mais
sérias surgem nos mais idosos. Quando ocorre uma pandemia, a taxa de morbilidade é elevada e resulta em
aumento do número de hospitalizações, e por vezes, de mortalidade. De uma forma geral estes grupos de
risco são os mais afectados, mas no caso da infecção com a es rpe H5N1, outros grupos etários têm sido
também afectados.

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 4/10
08/12/2020 Gripe das Aves

No Homem, a infecção pela gripe das aves manifesta-se habitualmente por conjun vite ou outros sintomas
gripais, mas pode também causar situações mais complicadas: pneumonia viral, síndroma de insuficiência
respiratória aguda, pneumonia broncointers cial severa, disfunção de múl plos órgãos, diarreia, vómitos,
encefalites, hemorragias nazais, etc.

Diagnós co

Para além de recorrer à observação da sintomatologia, as infecções por influenza podem ser diagnos cadas
por diversas técnicas.

1) Isolamento e iden ficação do agente


- Inoculação de ovos de galinha embrionados com 9-11 dias, seguida de demonstração de hemaglu nação;
- Imunodifusão para confirmar a presença de vírus influenza A;
- Determinação do sub po com an soro monoespecífico;
- Avaliação da virulência da es rpe: índice de patogenicidade (IVPI) em galinha de 4-8 semanas;
- Amostra: zaragatoas fecais (cloaca) ou traqueais a par r de aves vivas, órgãos ou macerados de órgãos
(traqueia, pulmões, intes no, baço, rim, coração), fezes de animais mortos.
2) Serologia
- Hemaglu nação e inibição de hemaglu nação
- Imunodifusão em gel
- ELISA
- Amostra: sangue coagulado ou soro
3) Outros: Imunofluorescência Indirecta, RT-PCR, ELISA

5. Vias e formas de transmissão, potencial contaminação entre espécies e ao Homem.

Hospedeiros

As es rpes de vírus Influenza A que causam surtos epidémicos a nível mundial, são o exemplo clássico de
vírus emergentes man dos num hospedeiro reservatório (aves aquá cas) antes de ocorrer a transmissão ao
Homem. As aves aquá cas migratórias podem transportar o vírus entre con nentes e desse modo
representar um papel importante no processo de evolução con nua do vírus. Existem transferências
periódicas entre estes reservatórios e outras espécies de animais (aves domés cas, suínos, cavalos, homem,
etc). Os vírus de influenza aviária também têm sido isolados em aves exó cas, e ques ona-se o papel que
estas terão na epidemiologia da doença.

- Transmissão

Pode ocorrer por contacto directo com as secreções de aves infectadas, especialmente com fezes que
podem contaminar alimentos, águas, equipamento, vestuário dos trabalhadores das explorações, etc. Aves
não domés cas aparentemente saudáveis (portadores sãos) podem introduzir o vírus nos efec vos de
produção através da co-habitação que pode ocorrer em explorações ao ar livre ou com construção
deficiente dos pavilhões que permita a entrada destas aves.

Transmissão entre espécies

A probabilidade de ocorrer transferência entre espécies pode ser aumentada quer pelo maior contacto entre
o homem e o animal hospedeiro, quer pela capacidade de recombinação ou rearranjo gené co do vírus.
Como o vírus influenza possui um genoma com 8 segmentos, a sua liberdade para efectuar estes rearranjos
é grande. Assim, a emergência de variantes pode ocorrer por “gene c dri ”, isto é mutações pontuais

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 5/10
08/12/2020 Gripe das Aves

(subs tuição, inserção, delecção de nucleó dos) ou “gene c shi ”, rearranjo de segmentos de genoma. Esta
capacidade de transformação permite a evasão ao sistema imunitário do hospedeiro e acarreta a ocorrência
de epidemias anuais devidas a mutações pontuais (nas proteínas H - hemaglu nina e N - neuraminidase). As
novas es rpes originadas a par r de rearranjos no gene que codifica a hemaglu nina, surgem
periodicamente, a intervalos irregulares, e causam pandemias mundiais, afectando um grande número de
pessoas num curto espaço de tempo.

Provavelmente, futuras pandemias serão causadas por vírus aviários que possuam an génios para as quais o
Homem não tenha desenvolvido imunidade. Desconhece-se se estes vírus serão introduzidos na população
humana directa ou indirectamente, mas pelo menos um das situações parece plausível. Pensa-se que os
locais onde aves, suínos e humanos, vivem em contacto estreito, terão um papel relevante na criação de
condições favoráveis à ocorrência de mutantes que resultam de alterações gené cas.

Rearranjo gené co e o papel dos Suínos

Se a es rpe que causar a próxima pandemia for resultado de um rearranjo como aconteceu em 1957 e1968,
um único animal terá de ser infectado por dois vírus diferentes, um aviário e um humano. Pensa-se que o
principal candidato ao papel de hospedeiro intermediário seja o porco, visto que esta espécie é suscep vel
à infecção, quer por es rpes aviárias, quer por es rpes humanas por possuir receptores de super cie para
ambos os vírus.

Existem evidências de que a especificidade do receptor de uma es rpe aviária pode alterar-se durante a sua
replicação em suínos, ficando apto a reconhecer receptores humanos. Outra prova de que estes animais
podem ser importantes na incorporação das es rpes é a presença de, aviário e humano, nas células da
traqueia. Pode também ocorrer uma alteração da especificidade do receptor durante a replicação do vírus
aviário em suínos de forma que não seja necessário o rearranjo com um vírus humano (B).

Transmissão directa

A possibilidade de transmissão directa ao Homem, confirmou-se quando a es rpe aviária patogénica (H5N1)
causou infecções graves, embora em número limitado, na população de Hong Kong. Outros exemplos são o
isolamento de uma es rpe aviária (H7N7) num adulto em Inglaterra e os casos recentes de doença causada
pela es rpe (H9N2) (Hong Kong, 1999) . À transmissão directa pode seguir-se o rearranjo (C ) ou adaptação
(D) no homem. Outra teoria para a emergência de es rpes pandémicas é a de que o vírus possa reemergir
de hospedeiros desconhecidos.

6. Vigilância e controle da Gripe

A OMS é responsável pela Rede Internacional de Vigilância da Gripe desde 1948. Esta rede é formada por 4
Centros Colaboradores de Referência e Inves gação da Gripe (Austrália, Japão, Reino Unido e E.U.A ), e 110
Centros Nacionais da Gripe sediados em 83 países. Esta rede permite a monitorização de ac vidade do vírus
influenza em todas as regiões do mundo e garante que os vírus isolados e a informação seja rapidamente
enviada aos Centros Colaboradores. Estes têm a responsabilidade de fazer a imediata iden ficação e
caracterização gené ca das es rpes.

A vigilância durante e entre os períodos de epidemia é realizada pelos 110 centros nacionais. Em Portugal o
Centro Nacional da Gripe, está sediado no Ins tuto Nacional de Saúde. Estes Centros isolam o vírus de
humanos e animais, por forma a que es rpes emergentes sejam rapidamente iden ficadas. Os resultados da
rede de vigilância são revistos em Fevereiro e Setembro por forma a recomendar qual a composição

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 6/10
08/12/2020 Gripe das Aves

an génica da vacina a fabricar no ano seguinte. Actualmente as vacinas são produzidas fundamentalmente
em ovos de galinha embrionados inoculados com a es rpe que apresenta a cons tuição an génica desejada
(HN).

A OMS incen va a pesquisa de métodos alterna vos de fabricar a vacina para diminuir a dependência da
u lização de ovos embrionados e consequentemente acelerar e aumentar a sua produção em situações de
urgência. A produção, testagem e distribuição de uma nova vacina pode demorar seis meses, o que é
demasiado tempo, caso surja uma situação de pandemia e seja necessário actuar mis rapidamente.

Em 1996 a OMS criou a “Task Force of Experts on Influenza” que inclui os directores dos Centros
Colaboradores e representantes dos Centros Nacionais. Este conjunto de peritos elaborou um plano de
Gestão e Controlo Global de Gripe Pandémica. Os princípios deste plano são: uma maior vigilância e
iden ficação de vírus com potencial pandémico, a disseminação de informação, a logís ca de suporte às
autoridades nacionais de saúde, a promoção do fabrico de stocks de vacinas e sua distribuição, e ainda a
elaboração de um plano nacional de emergência para resposta à pandemia.

Para aperfeiçoar a vigilância e padronizar a declaração, a OMS, em conjunto com o Ins tuto Nacional de
Saúde e Inves gação Médica de Paris, criou uma ferramenta electrónica, acessível através da Internet, para
fazer a ligação entre a rede mundial de centros – FluNet (htpp:/oms.b3e.jussie.fr/flunet). Cada centro
autorizado introduz semanalmente dados e tem acesso em tempo real a informações epidemiológicas e
virológicas. A base de dados foi criada em 1997 e inclui informação de países de todos os con nentes.
Adicionalmente, toda a informação introduzida é analisada e publicada pela OMS num Relatório
Epidemiológico Semanal.

Vigilância Internacional

É uma doença de declaração obrigatória e implica restrições ao movimento de aves ou produtos derivados.
Pertence à lista A do Código Internacional de Saúde Animal da O.I.E. A sua e ologia, epidemiologia,
diagnós co, prevenção e controlo, bem como a listagem dos laboratórios de referência e outras informações
importantes estão disponíveis no portal da OIE.

Vigilância Nacional

Muitos países tem normas que previnem a introdução e disseminação do vírus e u lizam polí cas de
embargo a aves ou produtos de países que não estejam livres de doença. Na maioria dos países europeus o
vírus é considerado um agente exó co: uma vez diagnos cado, implementam-se programas de eliminação e
quarentena. Para evitar a disseminação aplicam-se medidas de limpeza e desinfecção, vazio sanitário, e
movimento controlado de pessoas e animais. Em Portugal existe um Plano de Vigilância para a Influenza
Aviária e Doença de Newcas le, aprovado pela Comissão Europeia e que explica as metodologias a seguir
para defesa do efec vo animal nacional da introdução destes vírus e em caso de detecção de algum surto
de gripe aviária no território nacional. Este plano inclui medidas de vigilância ac va e passiva e planos de
con ngência, que passa pela colheita e análise sistemá ca de amostras biológicas provenientes de aves
domés cas e silvestres para detecção do vírus, pelo estabelecimento de medidas estritas de higiene para
todos os manipuladores de aves (vivas ou mortas). O plano de con ngência prevê que, em caso de detecção
de um foco numa exploração, se desencadeie de imediato a eliminação de todos os animais da exploração e
a ac vação de cordões sanitários em torno do mesmo, definindo “Zonas de Protecção” (raio de 3Km) e
“Zonas de Vigilância” (raio de 10 Km) em que se implementarão regras estritas de procedimento
completamente bem definidas por comissões inyternacionais e nacionais de peritos.

7. Considerações finais.

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 7/10
08/12/2020 Gripe das Aves

O público em geral é muito suscep vel a situações alarmistas que na sociedade global, altamente
influenciada pelos media, surgem cada vez com maior fequência. A tendência de resposta em situações
deste po é a imediata suspensão do que parece ser um risco mo vada pelo pânico e pela falta de
esclarecimento que resulta numa enorme insegurança. Assim a reacção mais previsível logo que surge uma
no cia rela va à gripe das aves é a imediata suspensão do consumo da carne de frango. Esta a tude
compreensível mas irracional do público tem efeitos imediatos de enorme gravidade a nível dos mercados
levando a roturas nas cadeias de produção com consequências brutais, tanto económicas como sociais, e até
mesmo de ordem é ca. O número de animais que por deixarem de ser comercializados têm que ser
destruídos sem qualquer proveito, é enorme. E de facto parece nunca ser demais informar por todos os
meios ao nosso alcance de que, dadas as caracterís cas do vírus, atrás referidas, nomeadamente a sua
grande sensibilidade à temperatura (não resiste a 60ºC durante 30 minutos) o consumo de carne de frango
ou perú ou de ovos, desde que estes alimentos sejam cozinhados (temperaturas sempre acima dos 70º) não
cons tui qualquer risco de contaminação. Aliás a infecção por vírus Influenza ocorre por via respiratória e
não por via diges va. Pelas caracterís cas dos nossos sistemas produ vos, bem diversos dos sistemas
asiá cos, os riscos de transmissão Ave-Homem na Europa e, par cularmente, em Portugal, são muito
menores do que aqueles que existem nos países asiá cos. Assim parece-nos fundamental realçar que os
consumidores de carne de ave não incorrem em qualquer risco de contaminação por este vírus mesmo em
situação de surto de gripe aviária.

Por outro lado, numa situação de surto de gripe aviária, que felizmente não existe para já entre nós, é o
contacto e a manipulação de aves vivas, cadáveres ou excreções de aves que cons tui o risco e que deverá,
portanto, ser objecto de medidas eficazes de prevenção. Estas deverão centrar-se na lavagem e desinfecção
sistemá ca das mãos e na u lização de protecção com máscara e luvas sempre que se manipular qualquer
ave suspeita ou, sistema camente, para os trabalhadores da indústria avícola, nomeadamente funcionários
envolvidos no abate, depena e evisceração de aves. Na população em geral risco acrescido ocorre na
população de caçadores, guardas florestais e vigilantes da natureza sobretudo se se depararem com aves
mortas. Neste caso deverão sempre reves r-se dos cuidados atrás indicados.

Por úl mo temos que referir que os nossos serviços oficiais, nomeadamente a Direcção Geral de Veterinária,
o Laboratório Nacional de Inves gação Veterinária e a Direcção Geral de Saúde e diferentes serviços de
saúde, estão constantemente alerta, completamente informados do ponto de vista cien fico e técnico e
deverão por isso cons tuir para a população em geral um mo vo de acrescida confiança e segurança.

Uma pandemia humana resultante da emergência de novo de uma es rpe de vírus originária de um surto de
gripe aviária poderá eventualmente ocorrer, tal com aconteceu já historicamente nas datas que atrás referi,
mas a sociedade actual tem hoje mui ssimos mais meios para a prevenir, evitar ou combater, minimizando
os potenciais riscos e as consequências para a saúde póblica do que nha outrora. Não deverá portanto a
população em geral deixar-se tomar por receios infundados ou envolver excessivamente por uma constante
informação que os media provavelmente irão manter nos tempos mais próximos, mas sim manter-se
tranquilamente alerta.

Luis Tavares e Claúdia Almendra

Sector de Microbiologia e Imunologia


Departamento de Sanidade Animal

 Par lhar (//www.addthis.com/bookmark.php?v=300&pubid=ra-4f0330172df450c4)

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 8/10
08/12/2020 Gripe das Aves

Voltar

(covid-19-asae.aspx)

(denuncias-covid-19-.aspx)

(queixas-e-denuncias.aspx)

(reclamacoes-e-denuncias/livro-de-reclamacoes.aspx)

(regulamento-ce-n-7652008/reg-765-2008.aspx)

(asae-topics-other-languages.aspx)

(nao-paramos-estamos-on.aspx)

(inspecao-fiscalizacao/branqueamento-capitais-financiamento-

terrorismo.aspx)

(cooperacao/internacional/mul lateral1/efsa.aspx)
() Acessibilidade (acessibilidade.aspx)

POLÍTICA DE PRIVACIDADE (POLITICA-DE-PRIVACIDADE.ASPX)


(simplex-1.aspx)
TERMOS E CONDIÇÕES (TERMOS-E-CONDICOES.ASPX)

MAPA DO SITE (PAGINA.ASPX?F=4&)

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 9/10
08/12/2020 Gripe das Aves

CONTACTOS (ASAE20/CONTACTOS.ASPX)

https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/saude-e-bem-estar-animal-/gripe-das-aves.aspx 10/10

Você também pode gostar