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Registro de Imóveis

Reurb: o caminho para a


melhoria da qualidade de
vida da população e da saúde
financeira dos Municípios
Lei 143.465, publicada em 2017, simplifica, desburocratiza e agiliza
os processos para a implementação da regularização fundiária
urbana que pode resgatar as finanças das cidades brasileiras

Por Paula Bueno

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Tão importante quanto a liberdade que o ci- lista em Direito Urbanístico e Ambiental pela
dadão tem de ir e vir é ele ter o direito e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Ge-
autonomia para comprar e vender um imóvel, rais (PUC/MG).
conseguir recursos para promover sua melho- São números que retratam a importância e
ria ou usá-lo como garantia para conseguir urgência da regularização fundiária urbana no
crédito para investir em um novo negócio. No País. Aprovada em 2017, a Lei 13.465 se tor-
entanto, essa realidade não faz parte da vida nou um novo marco para a redução dessas ir-
de grande parte da população brasileira. Isso regularidades, pois foi criada para simplificar,
porque, de acordo com dados do Ministério desburocratizar e agilizar ainda mais as ações
do Desenvolvimento Regional, estima-se que o e procedimentos para a realização da Reurb.
País possua, aproximadamente, 50% dos imó- “A nova lei criou normas, ferramentas e
veis com algum tipo de irregularidade – dos instrumentos que permitem aos Municípios a
60 milhões de domicílios urbanos, cerca de regularização jurídica, urbanística e ambiental
30 milhões não possuem escritura. “Em ou- de todos os núcleos urbanos informais exis-
tras palavras: se no Brasil moram, em média, tentes em seu território”, afirma Figueiredo,
2,9 pessoas em cada domicílio, estamos falan- que também foi diretor do Departamento
do que a irregularidade fundiária atinge uma Nacional de Assuntos Fundiários Urbanos, da
população de, aproximadamente, 87 milhões Secretaria Nacional de Desenvolvimento Ur-
de pessoas”, esclarece Silvio Figueiredo, arqui- bano do Ministério das Cidades, entre 2016 e
teto especializado em planejamento urbano e 2018, onde coordenou as ações e programas
ex-secretário da Habitação de Guarulhos (SP). de Regularização Fundiária Urbana no País e o
Em contrapartida, a irregularidade fun- Grupo de Trabalho “Rumos da Política Nacio-
diária causa um grande impacto negativo na nal de Regularização Fundiária”, responsável
economia dos Municípios, principalmente em pela alteração do marco legal instituído pela
uma época de crise financeira, como a que Lei 13.465/17.
o País enfrenta devido à pandemia do novo
coronavírus. Segundo dados da Confederação O PAPEL DOS MUNICÍPIOS NA REURB
Nacional dos Municípios (CNM), durante a cri- Para Rafael Carvalho, diretor de Habitação da
se da Covid-19, a soma dos principais tributos Prefeitura de Camboriú (SC), cabe ao Municí-
de competência municipal — como ISS, ITBI e pio o papel de protagonista da Reurb. Primei-
IPTU —, registrou uma queda de 14,3% entre ro, porque cabe à gestão municipal identificar
os meses de abril e junho de 2020, em compa- dentro do seu território quais seriam os nú-
ração com o mesmo período do ano anterior. cleos urbanos informais consolidados que de-
“Isso significa que as Prefeituras deixaram tém as características previstas na Lei 13.465
de arrecadar R$ 3,76 bilhões. Em quantia to- e que, portanto, podem ser objeto da regulari-
tal, a queda de 10,1% na arrecadação do IPTU zação fundiária. Segundo, porque também fica
equivale, aproximadamente, a R$ 718,4 mi- a cargo do Município acolher ou não os pedi-
lhões. Já o ITBI caiu 22,1% no segundo trimes- dos de instauração de abertura do processo
tre de 2020, em relação ao mesmo período de de regularização fundiária. O terceiro ponto é
2019 — o que representa R$ 609,1 milhões”, que também é de responsabilidade municipal
explica Karla França, analista em Planejamen- a classificação dos núcleos urbanos informais
to Territorial da CNM, doutora em Geografia consolidados em Reurb-S — que é de inte-
pela Universidade de Brasília (UnB) e especia- resse social e aplicada para famílias de baixa

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Outra mudança importante instituída pela Lei


13.465 para a regularização fundiária urba-
na, além das novas regras e procedimentos
inovadores, é a inserção de novos atores que
podem atuar como legitimados e iniciar o pro-
cesso de regularização. Desta forma, o reque-
rimento para a Reurb pode ser iniciado tanto
pelo Poder Público quanto pelo cidadão.

ENTRAVES PARA A
IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 13.465
É importante ressaltar que é fundamental que
o gestor público municipal esteja sempre aten-
to aos marcos urbanísticos de seu território, a
fim de promover um diagnóstico da situação
fundiária e, assim, subsidiar de forma efetiva a
classificação das áreas regularizáveis. A omis-
“A nova lei criou normas, ferramentas e instrumentos que “Efetivar a regularização fundiária urbana é um investi- são em casos passíveis de regularização pode
permitem aos municípios a regularização jurídica, urba- mento e não um gasto público”, diz Ivan Carneiro Cas- trazer implicações legais ao gestor.
nística e ambiental de todos os núcleos urbanos informais tanheiro, promotor de Justiça do Ministério Público de O desembargador aposentado do Tribunal
existentes em seu território”, explica Silvio Figueiredo, ar- São Paulo (MPSP) e vice-diretor da Associação Brasileira
quiteto especializado em planejamento urbano e ex-diretor dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente
de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP),
do Departamento Nacional de Assuntos Fundiários Urbanos (Abrampa) doutor em Direito pela PUC-SP e ex-membro
da Comissão Nacional de Direito Ambiental
do Conselho Federal da OAB, Gilberto Passos
de Freitas, explica que “ao município, cumpre
“Se no Brasil moram, “A Reurb pode, ainda, ajudar estabelecer a política de desenvolvimento
urbano, com o objetivo de ordenar o desen-
em média, 2,9 pessoas a combater as alterações cli- volvimento das funções sociais da cidade, pro-
em cada domicílio, máticas, bem como cumprir mover o adequado uso do solo, para garantir
o bem-estar de seus habitantes (CF/88, art.
estamos falando que os Objetivos do Desenvolvi- 182). A omissão indevida do agente público,
permitindo a formação de assentamentos
a irregularidade fundiária mento Sustentável (ODS) e irregulares e não adotando procedimentos
atinge uma população de, suas metas, constituído no legais, no sentido de regularizar tal situação
que ofende o interesse público, implica na
aproximadamente, âmbito da Assembleia-Geral prática de improbidade administrativa (Lei n.
8.429/92, art. 11, inciso II)”.
87 milhões de pessoas.” das Nações Unidas (ONU)” Entretanto, também é essencial destacar
que muitos Municípios — principalmente os
Silvio Figueiredo, arquiteto especializado em pla- Ivan Carneiro Castanheiro, que são de porte médio e pequeno — acabam
nejamento urbano e ex-diretor do Departamento promotor de Justiça do não promovendo a regularização fundiária ur-
Nacional de Assuntos Fundiários Urbanos Ministério Público de São Paulo (MPSP) bana utilizando os novos institutos da lei por
falta de estrutura. “Chamo atenção para o fato
de que o processo de regularização fundiária
é uma das ações mais complexas no escopo
das atividades urbanísticas locais, visto que
renda — e Reurb-E, de interesse específico, A analista em Planejamento Territorial da 87,7% das municipalidades possuem por-
usada para a regularização de núcleos com CNM ressalta, no entanto, que algumas dessas te populacional até 50 mil habitantes e não
renda maior. “Do mesmo modo, fica a cargo atribuições podem ser compartilhadas com possuem estruturas ou são deficitárias nas
do Município o processamento administrativo outros atores envolvidos na Reurb. É o caso do secretarias de habitação — em geral, a pasta
do requerimento, as notificações, as análises Projeto de Regularização para a Reurb-S, que habitação está alocada na assistência social e/
do processo administrativo, a aprovação do compete ao Município, mas também pode ser ou em obras, e o profissional que está à frente
projeto de regularização, a expedição da Cer- promovido pelos legitimados, tendo às suas apresenta dificuldades para a compreensão
tidão de Regularização Fundiária (CRF)”, com- custas, os projetos e demais documentos téc- das nuances jurídicas e urbanísticas da regu-
plementa Karla França. nicos necessários a regularização do imóvel. larização, revelando a necessidade de progra-

Como chegamos na legislação atual de Regularização Fundiária?


1850 1888 1950 1979
Lei de Terras Abolição da Industrialização Lei do
Lei no 601 Escravatura Parcelamento
Lei no 3.353 do Solo Urbano
Lei no 6.766
Meio Rural
A busca pela regularização fundiária brasileira vem desde
a Lei de Terras de 1850. Instituição da Reurb é um marco
para municípios avançarem na questão

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O caminho da Regularização:
Fluxograma Padrão de Processos
ETAPAS PROCESSOS PRODUTOS
PRELIMINARES
Processo de
regularização fundiária
de interesse social
conforme Lei Federal
no 13.465/2017 (REURN-S)

Encaminhamentos Requerimento dos Registro do


preliminares legitimados projeto e da CRF
“O Poder Público local e os registradores devem ser
parceiros em atos de regularização, para estruturar flu-
xos e documentos, a fim de minimizar a necessidade de
retificação de procedimentos”, diz Karla França, analista
Instauração e classificação em Planejamento Territorial da Confederação Nacional
da Reurb de Municípios (CNM)

Delimitação de ZEIS “Na esfera do Poder


(opcional)
Levantamento local, além de ampliar seu
topográfico e parque imobiliário com a
atualização da Notificação dos
base cartográfica interessados formalização de imóveis,
gera possibilidades de
Procedimento
regulamentar impostos
Contagem dos
domicílios e
demarcação
urbanística
ou administrativo como IPTU, instrumentos
do art. 31
cadastramento urbanísticos e taxas em atos
de venda ou reforma. Em
Projeto de
Regularização Fundiária
linhas gerais, oportuniza
Levantamento
de dados uma atualização do
Titulação dos cadastro imobiliário, que
Licenciamento do projeto beneficiários
permite uma ampliação da
Diagnósticos arrecadação municipal a
Aprovação do projeto médio prazo.”
Karla França,
Expedição da CRF analista em Planejamento Territorial
da Confederação Nacional de Municípios (CNM)

A Reurb passo a passo: gestores podem ser responsabilizados por não efetivar a regularização de seus municípios

1988 2001 2009 2017


Constituição Estatuto da Regularização Regularização
Artigo 182 e 183 Cidade Fundiária Fundiária
Função Social da Lei no 10.257 Lei no 11.977 Lei no 13.465
Propriedade Pós 1950: o processo de industrialização se acentua, estimula o êxodo rural e intensifica o surgimento de
loteamentos não regularizados e assentamentos informais.
Lei Federal 11.977/2009, no seu capítulo III, foi a primeira lei nacional de regularização fundiária. Em
2017, esse capítulo III foi revogado e substituído pela Lei Federal 13.465.

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Programa Casa
Verde e Amarela
e a Reurb

“Pode haver uma resistência da comunidade em um pri- “Por sua importância, cumpre destacar a atuação do
meiro contato, por receio de tentativas de remoção, por registrador de imóveis, que tem o dever jurídico de
já terem passado por inúmeras tentativas mal sucedidas verificar o cumprimento dos requisitos estabelecidos
de regularização ou porque terão de pagar pelos servi- na Lei de Regularização Fundiária”, diz Gilberto Passos
ços de Reurb”, diz Sophia Rachid, arquiteta, advogada de Freitas, desembargador aposentado do Tribunal de
especializada em Direito Ambiental e responsável pelo Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) e ex-membro da
departamento de projetos, aprovação e licenciamento de Comissão Nacional do Direito Ambiental, do Conselho
empreendimentos da URBALEGIS Federal da OAB

mas de apoio técnico e administrativo para as de se aplicar a Reurb em determinado núcleo


municipalidades, afim de aprimorar as estru- e para que o processo possa ir sendo desenvol-
turas locais e seus conhecimentos acerca dos vido, instrumentalizado e conduzido em conso-
institutos fundiários”, esclarece Karla França. nância com a visão de todos esses cinco atores,
Criado para substituir o Programa Minha Casa que tem uma participação bastante ativa nos
Minha Vida, o Programa Casa Verde e Amarela UMA AÇÃO MULTIDISCIPLINAR procedimentos de regularização fundiária”, co-
é uma iniciativa do Governo Federal que visa Apesar de o Município ser o responsável por menta o diretor de Habitação da Prefeitura de
a resolução dos problemas habitacionais dos grande parte das responsabilidades para a Camboriú (SC), Rafael Carvalho.
Municípios e da população. “Entre suas várias realização da Reurb, é essencial entender que Para Karla França, é fundamental que a Pre-
diretivas, incluindo a produção de novas mora- a ação é complexa, multidisciplinar e seu su- feitura dialogue com o Cartório de Registro
dias, o programa contempla a Reurb associada a cesso está vinculado à cooperação e interação de Imóveis, uma vez que existem benefícios
melhorias habitacionais de até 20% dos imóveis. entre as partes envolvidas. Existem cinco ato- diretos e indiretos para ambos, em diversos
Sua instrução normativa estabelece condições res que exercem papel fundamental na regu- aspectos. “O Poder Público local e os registra-
para adesão dos Municípios e também priori- larização fundiária urbana: a assistência social dores devem ser parceiros em atos de regula-
dades no atendimento”, explica Sophia Rachid,
municipal, o corpo jurídico e membros do Po- rização, para estruturar fluxos e documentos,
arquiteta, advogada especializada em Direito
der Executivo do Município, os membros do a fim de minimizar a necessidade de retifica-
Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP)
Ministério Público e o registrador de imóveis. ção de procedimentos. Também destaca-se a
e responsável pelo departamento de projetos,
aprovação e licenciamento de empreendimentos A assistência social é quem auxilia na identifi- importância dos Cartórios no que se refere ao
da URBALEGIS. cação dos núcleos informais e o cadastramento Art. 31 da Lei 13.465, que determina a neces-
A regularização fundiária de imóveis e a me- das famílias que podem vir a ser beneficiadas sidade de buscas para a titularidade do domí-
lhoria de residências é o principal foco do Casa pela Reurb. Já os membros do Poder Executi- nio dos imóveis objetos da regularização, para
Verde e Amarela. A meta do Governo Federal é vo e o corpo jurídico Municipal ficam com a disciplinar o fluxo para as tipologias de insti-
regularizar 2 milhões de moradias e promover incumbência de receber a solicitação de imple- tutos a serem utilizados pela municipalidade e
melhorias habitacionais em 400 mil imóveis até mentação desse processo de regularização fun- a necessidade de organizar os procedimentos
2024 — prioritariamente às famílias com renda diária, cuidar do seu deferimento, instrução e para a isenção de emolumentos referentes à
mensal de até R$ 5 mil, que vivem em núcleos montagem, para então encaminhar o processo Reurb-S. Além disso, é relevante que os pro-
urbanos informais. para o Cartório de Registro de Imóveis. cessos de regularização fundiária possam ser
Filomeno Abreu, advogado na área de Direito O registrador de imóveis, por sua vez, tem promovidos por meio de mecanismos digitais
Urbanístico, de Fortaleza (CE), esclarece que a atribuição de promover a qualificação jurí- integrados à Prefeitura”.
recentemente, a Lei 14.118/2021 — que criou dica do processo e emitir as matrículas dos Já o desembargador aposentado Gilberto
o programa — fez uma alteração na Lei 13.465,
imóveis. O Ministério Público funciona como Passos de Freitas salienta que, como destina-
deixando mais clara a possibilidade de os bene-
um agente fiscalizador, já que detém a compe- tário final da regularização fundiária, o Cartó-
ficiários da Reurb-S arcarem com os custos da
tência constitucional para averiguar a boa tra- rio de Registro de Imóveis desempenha papel
regularização fundiária. “Apesar de a regula-
rização ainda ser obrigação do poder público, tativa dos temas que são de interesse de toda relevante, uma vez que o registro garante o
o beneficiário poderá arcar com os custos do a comunidade e, dentro dessa perspectiva, direito à propriedade, a segurança jurídica e
processo de regularização. Esta alteração se deu também consegue promover uma averigua- se concretiza como instrumento econômico
porque o programa é um financiamento tomado ção para checar se o instituto está sendo bem e de desenvolvimento humano. “O imóvel é
pelo próprio beneficiário”. utilizado e se não está havendo uma distorção, transformado em ativo financeiro. Assim, a
para evitar que a Lei 13.465 seja, eventual- propriedade se transforma em garantia real
mente, mal aplicada. no mercado imobiliário, o que contribui para a
“Em razão de termos uma ação multidiscipli- geração de crédito. Outrossim, por sua impor-
Consultoria:
Cartilha: Habitação e Planejamento Territorial nar, seria interessante que esses cinco atores tância, cumpre destacar a atuação do Regis-
A importância da atualização das legislações urbanas estivessem aliados desde o início do processo, trador de Imóveis, que tem o dever jurídico de
para o desenvolvimento local, da Confederação Nacional em constante contato, com reuniões periódicas verificar o cumprimento dos requisitos esta-
de Municípios e prévias, para averiguação das perspectivas belecidos na Lei de Regularização Fundiária”.

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O Município
ganha com a
Reurb porque...
Estimula a economia local
Com a regularização
há um incremento na
dinâmica imobiliária da
cidade, inclusive com os
beneficiários promovendo
mais obras de melhoria em
seus imóveis.
“Em razão de termos uma ação multidisciplinar, seria “Apesar de a regularização ainda ser obrigação do Poder
Incrementa a arrecadação
interessante que esses cinco atores estivessem aliados Público, o beneficiário poderá arcar com os custos do
A regularização promove
desde o início do processo, em constante contato, com processo de regularização. Esta alteração se deu porque
reuniões periódicas e prévias, para que o processo possa o programa é um financiamento tomado pelo próprio uma atualização dos
ir sendo desenvolvido, instrumentalizado e conduzido beneficiário”, diz Filomeno Abreu, advogado na área de cadastros da Prefeitura,
em consonância com a visão de todos esses cinco atores, direito Urbanístico tendo impacto direto
que tem uma participação bastante ativa nos procedi- na arrecadação do IPTU
mentos de regularização fundiária”, diz Rafael Carvalho, e do ITBI e indireto na
diretor de Habitação da Prefeitura de Camboriú (SC) linhas gerais, oportuniza uma atualização do arrecadação do ISS.
cadastro imobiliário, que permite uma amplia-
ção da arrecadação Municipal a médio prazo”, Promove melhoria
GANHOS PARA O MUNICÍPIO, explica Karla França. da gestão urbana
GANHOS PARA O CIDADÃO De acordo com um estudo promovido pelo A regularização importa
em um cadastro
Apesar de ser extremamente benéfica para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
georreferenciado da área,
cidadão, a regularização fundiária urbana de (Ipea), entre os anos de 2008 e 2014, a renda
melhorando a base de
núcleos consolidados pode, por vezes, gerar per capita de moradores de áreas que foram informações da Prefeitura
certa desconfiança na comunidade. Para So- objeto de regularização fundiária social na ci- e permitindo uma melhor
phia Rachid, arquiteta, advogada especializa- dade do Rio de Janeiro, teve uma elevação bas- gestão de seu território.
da em Direito Ambiental pela Universidade de tante significativa — entre 20% a 30% — após
São Paulo (USP) e responsável pelo departa- seis anos do processo de regularização. “Isso
mento de projetos, aprovação e licenciamento porque, em virtude da melhora do ambiente
de empreendimentos da URBALEGIS, o motivo de empreendedorismo, que trouxe o acesso ao

O cidadão
é que “pode haver uma resistência da comu- mercado de crédito, houve a melhora de vida
nidade em um primeiro contato, por receio de e de renda dessas famílias”, comenta Karla.

ganha com a
tentativas de remoção, por já terem passado Já em relação à questão financeira dos
por inúmeras tentativas mal sucedidas de re- Municípios, Karla explica que o País não tem

Reurb porque...
gularização ou porque terão de pagar pelos um censo fundiário, o que permitiria ter uma
serviços de Reurb”. compreensão mais estruturada do impac-
Para Silvio Figueiredo, a Reurb é uma polí- to da informalidade nos cofres públicos. No
tica pública importante, necessária e de baixo entanto, esse impacto não deve ser visto ape-
custo, que visa diminuir o déficit habitacional, nas pelo prisma dos impostos que deixam de Conquista a segurança
mantendo as famílias em seu local de convívio ser arrecadados. “O impacto econômico da jurídica na posse do
imóvel
e trabalho — situação que se mostra benéfica irregularidade fundiária impõe, a médio pra-
A regularização fundiária
na maior parte dos núcleos consolidados. Já a zo, custos de provisão de infraestrutura e de
confere um direito real
representante da CNM, Karla França, salienta demanda pela oferta de serviços como água, no nome da família,
que a regularização deve ser entendida de for- esgoto, coleta de resíduos, creche, escola, saú- permitindo maior
ma ampla. “Além da segurança jurídica, abre de, transporte para bairros ou áreas que não segurança jurídica para o
oportunidades para as famílias acessarem o foram previstas em seu planejamento, além beneficiário.
mercado de crédito, desde financiamento e de medidas para assegurar o acesso a direitos
melhorias habitacionais, até a segurança na básicos”, esclarece Karla França. Consegue acesso ao
compra e venda do imóvel. Também viabiliza Desta forma, reforçar as medidas de pre- crédito
a formalização dos negócios, seja para estru- venção à informalidade e promover a regula- Com a regularização se
turar ou ampliar atividades comerciais”. rização de áreas consolidadas permite não só confere um patrimônio ao
Desta forma, a regularização de um núcleo assegurar uma melhoria na qualidade de vida morador, que permite um
informal dá às famílias a oportunidade para da comunidade, como é fundamental para a maior acesso ao crédito
empreender, já que nesses locais são muito co- saúde financeira do Município. “Um imóvel junto às instituições
muns a existência de pequenos negócios, que regularizado pode afetar positivamente a ar- financeiras.
também podem ser objeto da regularização, recadação municipal de diversas formas, seja
Aumenta o seu
sendo que essa formalização pode criar novas na emissão de um alvará e geração de ISS; em
patrimônio
oportunidades de emprego naquela localida- uma transferência de moradia, com o paga-
A regularização valoriza o
de, além de gerar impostos para o Município. mento do ITBI; no desenvolvimento econômi- imóvel, o que aumenta o
“Na esfera do Poder local, além de ampliar co, com formalização de atividades comerciais, patrimônio do cidadão.
seu parque imobiliário com a formalização de além de ampliar a capacidade do município de
imóveis, gera possibilidades de regulamentar gerenciar de forma mais efetiva o seu parque
impostos como IPTU, instrumentos urbanísti- imobiliário e novas parcerias com o setor pri- Fonte: Filomeno Abreu, advogado na área de Direito
cos e taxas em atos de venda ou reforma. Em vado”, finaliza a analista da CNM. Urbanístico, de Fortaleza (CE)

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Registro de Imóveis

Fases da Requerimento Processamento Elaboração

Reurb 1 dos
legitimados 2 administrativo
do requerimento 3 do projeto de
regularização
fundiária (PRF)
É a solicitação feita, por qualquer São as ações administrativas
um dos legitimados, à Prefeitura executadas pelo órgão municipal Execução de levantamentos
De forma geral, o processo para abertura de procedimento responsável pela Reurb, visando topográficos, estudos, projetos,
para regularização de um administrativo para realização todos os procedimentos definidos memoriais e demais documentos
núcleo informal consolidado da Reurb. De acordo com a Lei na legislação vigente para sua técnicos que compõe o projeto de
passa por sete etapas até 13.465/17, os legitimados podem realização, tais como: classificar o regularização fundiária, definidos
ser a União, os Estados, o Distrito núcleo em Reurb-S ou Reurb-E; no Art. 35 da Lei 13.465/17, como
que o cidadão obtenha a Federal, os Municípios, os cidadãos cadastrar os beneficiários; realizar a planta do perímetro; estudo
escritura do imóvel residentes no núcleo informal con- as buscas imobiliárias (matrícula de desconformidade jurídica,
solidado — por meio de cooperati- da área a ser regularizada e urbanística e ambiental; projeto
vas habitacionais, associações de dos confrontantes); notificar os urbanístico (art. 36); memoriais
moradores, fundações, organizações titulares de direitos reais da área descritivos georreferenciados;
sociais e organizações da sociedade regularizada e os confrontantes; estudos técnicos para áreas
civil de interesse público ou que te- notificar o Estado e da União de risco e ambientalmente
nham por finalidade atividades nas caso a área a ser regularizada protegidas, bem como suas
áreas de desenvolvimento urbano ou o confrontante for posse; respectivas soluções; cronograma
ou regularização fundiária urbana realização de Edital; e arbitragem da implantação da infraestrutura,
—, os proprietários de imóveis ou de ou instauração de Câmaras de das compensações urbanísticas
terrenos, loteadores, incorporado- Resolução de Conflitos. e ambientais; e termo de
res, a Defensoria Pública em nome compromisso.
dos beneficiários hipossuficientes e
o Ministério Público.

O que mudou com a Lei 13.465


A Lei 13.465/17 Conceitos - Instrumentos LEI 11.977/09 Lei 13.465/17
veio para Gratuidade do Registro 4 Social 4 Social
simplificar — por Ato Único de Registro 8 Não existente 4 Introduzido pela Lei
meio de normas, Legitimação Fundiária 8 Não existente 4 Aquisição originária
ferramentas e Legitimação de Posse 4 Decorrente de ADU* 4 Procedimento simplificado
instrumentos Direito Real de Laje 8 Não abordado 4 Alteração Código Civil
—, a ação dos Condomínio de Lotes 8 Não criado 4 Introduzido pela Lei
Municípios para Condomínio Urbano Simples 8 Não abordado 4 Introduzido pela Lei
a regularização Loteamentos /Acesso Controlado 8 Não abordado 4 Garantido pela Lei
jurídica, Arrecadação de Imóveis 8 Não abordado 4 Procedimento revisto
urbanística
e ambiental *ADU – Auto de demarcação urbanística
de todos os

1 2 3 4
núcleos urbanos Gratuidade Ato Único Legitimação Legitimação
informais do Registro de Registro Fundiária de Posse
existentes em
seu território.
O comparativo
abaixo, feito
por Sophia
Rachid, traça
as principais
diferenças entre
A classificação do interesse Proporciona mais eficiência Instrumento criado pela Permitiu o reconhecimento
a nova lei e a Lei da Reurb visa exclusiva- e economia no ato de Lei 13.465 que, a critério administrativo da usucapião
11.977/09. mente a identificação dos registro, pois dispensa do ente público, possibi- e simplificou o procedimento
responsáveis pela implanta- a necessidade de título lita a aquisição de direito existente, retirando a obrigação
ção ou adequação das obras individual para cada de propriedade, àquele prévia da demarcação urbanísti-
de infraestrutura essencial, beneficiário da Reurb. que detiver área pública ca. As alterações no instrumento
compensações urbanísticas Assim, é feito um registro ou possuir área privada, já existente ampliam as possibili-
e reconhecimento do direito único da CRF com o projeto integrante de núcleo urbano dades de conversão de proprie-
à gratuidade das custas e de regularização fundiária informal, existentes até 22 dade para além dos limites
emolumentos notariais e e da constituição do direito de dezembro de 2016. Por trazidos pela usucapião urbana
registrais. Assim, são isentos real aos beneficiários. ser ato único de registro (250m² e 05 anos de posse para
os atos registrais relaciona- e aquisição originária, a imóvel residencial). No entanto,
dos à Reurb-S. unidade imobiliária fica livre imóveis — residenciais ou não —
de quaisquer ônus, direitos com áreas superiores à 250m²,
reais, gravames, não incidin- deverão seguir os requisitos das
do tributos de transferência demais modalidades da usuca-
como o ITBI e ITCMD. pião, não estando mais excluídos
da legitimação de posse.

94
Saneamento Decisão da Expedição
4 do processo
administrativo 5 autoridade
competente 6 da Certidão de
Regularização 7 Registro

Fundiária (CRF)
É nesta etapa que o Município faz Após o saneamento de todos É a fase que encerra o processo
a análise e eventuais correções os elementos que compõe o É o documento de aprovação da da Reurb. São os atos praticados
de todos os estudos, projetos procedimento administrativo de regularização, que é acompanhado pelo Cartório de Registro de
e documentos técnicos que regularização, é o ato de aprovação do projeto aprovado, cronograma Imóveis para o registro do núcleo
compõe o projeto de regularização do projeto de regularização, de implantação da infraestrutura regularizado, com abertura de
fundiária. São analisados itens emitido pelo gestor municipal essencial, Termo de Compromisso matrículas individualizadas para
como ausência de notificação, responsável pela regularização e listagem de beneficiários da cada uma das unidades imobiliárias
notificação defeituosa ou ausência do núcleo. Nesta fase é feita a Reurb para titulação das unidades resultantes da regularização.
de edital; ausência de averbação identificação e declaração dos imobiliárias.
do ADU; ausência de classificação ocupantes de cada unidade, bem
da modalidade da Reurb; ausência como os respectivos direitos reais.
de PRF ou projeto defeituoso ou
em desconformidade com normas
fixadas na decisão instauradora ou
em leis municipais; e determinação
do desmembramento do
procedimento da Reurb em caso
de ser identificada área de risco ou
ambientalmente protegida (essas
áreas exigem estudos técnicos
específicos).

Fontes: Silvio Figueiredo, arquiteto especializado em planejamento urbano, ex-secretário da Habitação de Guarulhos (SP), ex-diretor do Departamento Nacional de Assuntos Fundiários Urbanos, da Secreta-
ria Nacional de Desenvolvimento Urbano, do Ministério das Cidades, entre 2016 e 2018;
Colégio Registral Imobiliário de Minas Gerais (CORI-MG);
e Cartilha Regularização Fundiária Urbana – Aspectos Práticos da Lei 13.465/2017, Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis da Comarca de Boa Esperança (ES)

5 6 7 8 9
Direito Real Condomínio Condomínio Loteamentos Arrecadação
de Laje de Lotes Urbano de Acesso de Imóveis
Simples Controlado

Permite a titulação de Alterou a Lei Quando um mesmo imóvel Acrescenta o parágrafo Regulamenta o artigo 1.276
duas famílias residentes nº 10.406/2002 do Código contiver construções 8º ao Art. 2º da Lei do Código Civil, que trata do
em unidades habitacionais Civil: Art. 1.358-A – Pode de casas, poderá ser 6.766/79: constitui abandono de imóvel urbano.
sobrepostas, no mesmo haver, em terrenos, partes instituído o Condomínio Loteamento de Acesso Assim, o Município poderá
lote, de forma que cada uma designadas de lotes, que Urbano Simples, Controlado a modalidade arrecadar e transferir para
tenha sua matrícula. Desta são propriedade exclusiva, e respeitados os parâmetros de loteamento, definida seu patrimônio os imóveis
forma, os moradores destas partes que são propriedade urbanísticos locais, e nos termos do § 1º deste urbanos privados abandona-
unidades unifamiliares comum dos condôminos. serão discriminadas, na artigo, cujo controle de dos quando o proprietário,
passam a ter o direito de Também acrescentou matrícula, a parte do acesso será regulamentado cessados os atos de posse
alienar autonomamente Parágrafo 7º ao Art. 2º da terreno ocupada pelas por ato do Poder Público sobre o imóvel, não adimplir
seus imóveis, além de criar Lei 6.766/79: o lote poderá edificações, as de utilização Municipal, sendo vedado o os ônus fiscais, por cinco
uma nova mercadoria, ser constituído sob a forma exclusiva e as áreas que impedimento de acesso a anos. O instrumento permite
no mercado imobiliário, de imóvel autônomo ou constituem passagem para pedestres ou a condutores que o Município dê uma
que é “a laje”, passível de de unidade imobiliária as vias públicas ou para as de veículos, não residentes, destinação para aqueles pré-
alienação. integrante de condomínio unidades entre si. devidamente identificados dios abandonados e terrenos
de lotes. ou cadastrados. baldios que, muitas vezes,
causam problemas de saúde
e segurança pública.

Cartórios com Você 95


Registro de Imóveis

Passo a passo do processo de Regularização Fundiária da Reurb


PARTICIPAÇÃO SOCIAL: Equipe técnica²;
a participação da sociedade, especialmente dos moradores da área objeto de regularização, deverá Prefeitura Municipal;
ocorrer em todas as etapas do trabalho, por meio de: População envolvida.
ENCAMINHAMENTOS PRELIMINARES

• audiências públicas;
• eventos públicos informativos;
• atendimentos domiciliares (contagem de domicílios, cadastramento, vistorias);
• plantões de atendimento;
• grupo de referência¹.

MOBILIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO SOCIAL: Equipe técnica;


tem o objetivo de prestar informações à população envolvida e também de mobilizar, incentivar e orga- Prefeitura Municipal;
nizar a sua participação no processo de regularização fundiária. População envolvida.

ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL: Equipe técnica; Prefeitura e


tem o objetivo de informar aos principais agentes, entidades e órgãos envolvidos, públicos e privados, Câmara Municipal; Cartório
sobre o processo de regularização fundiária que será realizado, buscando alinhar o entendimento e de Registro de Imóveis;
estabelecer parcerias para o bom andamento do processo. Ministério Público; outros.

LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO E ATUALIZAÇÃO DA BASE CARTOGRÁFICA: Equipe técnica;


BASE CARTOGRÁFICA
ATUALIZAÇÃO DA

levantamento planialtimétrico cadastral georreferenciado da área objeto de regularização fundiária,


LEVANTAMENTO
TOPOGRÁFICO E

com indicação especialmente de lotes, projeção das edificações, quadras, sistema viário, equipamentos
públicos e comunitários, elementos de infraestrutura e elementos naturais relevantes, dentre outros.

CONTAGEM DE DOMICÍLIOS/UNIDADES DE POSSE: Equipe técnica;


envolve o trabalho de contagem de domicílios e cadastramento das unidades imobiliárias localizadas na População envolvida.
área objeto de regularização.

CADASTRAMENTO DOS BENEFICIÁRIOS E COLETA DE DOCUMENTOS: Equipe técnica;


cadastramento dos moradores e potenciais beneficiários do processo de regularização fundiária, com População envolvida.
coleta de documentos e declarações relativas aos beneficiários e aos imóveis, de acordo com as exigên-
cias legais relativas ao procedimento e aos instrumentos jurídicos aplicáveis, envolvendo:
• formação de dossiês individuais com cadastros e documentos de cada beneficiário/imóvel;
• formação de banco de dados dos cadastros;
• georreferenciamento dos dados cadastrais.

LEVANTAMENTO DE DADOS E ESTUDOS DO ASSENTAMENTO: Equipe técnica; Prefeitura


LEVANTAMENTO DE DADOS E DIAGNÓSTICOS

tem o objetivo de reunir e analisar informações, dados, características, histórico, situação, plantas, Municipal; Cartório de
projetos, obras, registros imobiliários, legislação, condicionantes e impedimentos relacionados ao Registro de Imóveis;
assentamento, considerando os aspectos socioeconômico-organizativo, físico-urbanístico-ambiental e Concessionárias de serviços
jurídico-legal. públicos; População
envolvida; Outros.

DIAGNÓSTICOS SETORIAIS: Equipe técnica.


tem o objetivo de analisar os dados levantados na fase anterior, especialmente para identificar os
fatores que podem facilitar, dificultar ou impedir a regularização do assentamento ou de parte deste.
Normalmente, abordam três aspectos:
• Jurídico-legal: inclui análises sobre legislação, registros imobiliários, situação dominial e possessó-
ria, processos judiciais e administrativos, dívidas e execuções fiscais, condicionantes e impedimen-
tos legais, alternativas de regularização etc;
• Físico-urbanístico-ambiental: inclui análises sobre projeto parcelamento, plantas particulares,
padrão de parcelamento, ocupação e uso do solo, infraestrutura básica, equipamentos urbanos,
serviços essenciais, projetos e obras previstos, declividade, áreas de risco, condicionantes e impe-
dimentos ambientais e urbanísticos etc;
• Socioeconômico-organizativo: inclui análises sobre a população da área referente a renda, ocupa-
ção, composição familiar, perfil socioeconômico, organização e mobilização, demandas, vulnerabi-
lidades etc.

DIAGNÓSTICO INTEGRADO: Equipe técnica.


apresenta a consolidação geral dos diagnósticos setoriais para se concluir sobre a viabilidade ou não da
regularização da área e definir no assentamento as partes que serão:
• Regularizáveis de imediato;
• Regularizáveis mediante condições, intervenções ou obras;
• Não regularizáveis.

96
PROCESSO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE
SOCIAL CONFORME LEI FEDERAL Nº 13.465/2017 (REURB-S)

LEGITIMADOS PARA REQUERER A REURB (ART. 14): Equipe técnica;


• União, Estados, DF, Municípios e entidades da Administração Indireta; Prefeitura Municipal;
• Beneficiários, individual ou coletivamente, inclusive por meio de associações civis ou outras Legitimados envolvidos
LEGITIMADOS PARA A
REQUERIMENTO DOS

entidades; no processo.
REGULARIZAÇÃO

• Proprietários, loteadores ou incorporadores;


• Defensoria Pública, em nome dos beneficiários hipossuficientes;
• Ministério Público.
Observação: os legitimados para requerer a REURB podem realizar todos os atos necessários
para a realização da regularização fundiária, inclusive requerer os atos de registro junto ao
Cartório de Registro de Imóveis (art. 14, §1º).
Observação: o requerimento de instauração da REURB por qualquer dos legitimados
garante a permanência dos ocupantes do núcleo urbano informal situado em área pública e
a preservação da situação de fato já existente, pelo menos até o arquivamento definitivo do
procedimento (art. 31, §8º).

INSTAURAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO Prefeitura Municipal


DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA (ARTS. 30 E 32):
ocorre mediante ato formal do Município com decisão sobre o requerimento apresentado pelos
legitimados para requerer a REURB, podendo implicar em:
INSTAURAÇÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DE REURB

• deferimento do requerimento e abertura do processo administrativo de regularização


fundiária do núcleo urbano indicado;
• indeferimento do requerimento, por ato fundamentado, com indicação das medidas a serem
adotadas para a sua reformulação e reavaliação, quando for o caso (art. 32, parágrafo único).
Observação: caso a REURB seja instaurada por iniciativa do próprio Município, será
dispensável o requerimento do legitimado para a regularização, uma vez que a Prefeitura
Municipal seria responsável, ao mesmo tempo, por apresentar e decidir sobre o requerimento.
Nesse caso, a Prefeitura pode emitir apenas o ato formal de instauração da REURB, com as
devidas justificativas e fundamentações legais, por Decreto ou outro ato administrativo formal.

CLASSIFICAÇÃO DA MODALIDADE DE REURB (ART. 30): Equipe técnica.


via de regra, cabe ao Município classificar e fixar a modalidade de REURB aplicável a cada caso
como interesse social (REURB-S) ou como interesse específico (REURB-E).

DELIMITAÇÃO DA ÁREA COMO ZEIS: Equipe técnica;


COMO ZEIS (OPCIONAL)
DELIMITAÇÃO DA ÁREA

delimitação e classificação da área objeto de regularização como Zona Especial de Interesse Social Prefeitura Municipal.
(ZEIS), ou outro zoneamento de interesse social, por meio de lei ou decreto municipal, conforme
previsão da legislação do Município.
Essa classificação pode possibilitar, dentre outras, as seguintes vantagens, conforme a legislação
específica do Município:
• aplicação de normas especiais de parcelamento, ocupação e uso do solo;
• procedimentos de licenciamento e aprovação mais simplificados no Município;
• manutenção da área para habitação de interesse social após a regularização.
Observação: a classificação da área como ZEIS não é obrigatória para realização do
procedimento da REURB (art. 18, §2º).

INSTAURADO O PROCESSO ADMINISTRATIVO, DEVERÃO SER NOTIFICADOS OS


CONCORDÂNCIA COM A REURB

INTERESSADOS PARA CONCORDÂNCIA COM A REURB, INCLUINDO, CONFORME O CASO:


• proprietários formais dos imóveis envolvidos na regularização (conforme registro imobiliário);
INTERESSADOS PARA

• detentores de direitos reais sobre os imóveis envolvidos na regularização (conforme registro


NOTIFICAÇÃO DOS

imobiliário);
• responsáveis pela implantação do núcleo urbano informal (se for o caso);
• confrontantes da área objeto de regularização;
• terceiros interessados.
O notificado terá o prazo de 30 (trinta) dias para se manifestar sobre a REURB, sendo que a
ausência de manifestação será considerada como concordância (art. 20, §3º, e art. 31, §6º).
A Lei nº 13.465/2017 apresenta dois procedimentos alternativos para realização das notificações e
obtenção da concordância com a REURB:
• Demarcação urbanística; ou
• Procedimento administrativo do art. 31.

Cartórios com Você 97


Registro de Imóveis

Passo a passo do processo de Regularização Fundiária da Reurb


DEMARCAÇÃO URBANÍSTICA (ARTS. 19 A 22): Equipe técnica;
procedimento de notificação dos interessados e obtenção da concordância com a REURB, que Prefeitura Municipal;
termina com a averbação no registro imobiliário, observando as seguintes etapas: Cartório de
• Elaboração do auto de demarcação urbanística, conforme requisitos do art. 19 da Lei nº Registro de Imóveis.
13.465/2017;
NOTIFICAÇÃO DOS INTERESSADOS PARA CONCORDÂNCIA COM A REURB

• Notificação dos interessados, públicos ou privados, pessoalmente ou por via postal, com aviso
de recebimento (art. 20, caput);
• Notificação por edital dos interessados não localizados e dos terceiros interessados (art. 20, §1º
e §2º);
• Procedimento administrativo de solução, mediação e composição de conflitos, em caso de
impugnação (art. 21 e art. 34);
• Averbação da demarcação urbanística junto ao registro imobiliário, decorrido o prazo sem
impugnação ou superada a impugnação apresentada (art. 22).
Observação: a realização da demarcação urbanística confere maior publicidade e segurança
jurídica ao processo, em razão da sua averbação junto ao registro imobiliário, que tem presunção
de veracidade e conhecimento público. Porém, essa necessidade de averbação junto ao registro
imobiliário torna o procedimento mais burocrático e demorado, em comparação com aquele
previsto no art. 31 da Lei nº 13.465/2017.
Observação: a aplicação da demarcação urbanística é opcional no procedimento da REURB (art. 19, §3º).

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DO ART. 31: Equipe técnica;


procedimento de notificação dos interessados e obtenção da concordância com a REURB, que Prefeitura Municipal.
termina com a sua formalização no processo administrativo, observando as seguintes etapas:
• Pesquisas de campo e pesquisas cartorárias para identificação da situação de posse e
propriedade da área objeto de regularização (art. 31, caput);
• Notificação dos interessados, públicos ou privados, por via postal, com aviso de recebimento
(art. 31, §1º, §2º e §4º);
• Notificação por edital dos interessados não localizados e dos terceiros interessados (art. 31,
§5º);
• Procedimento administrativo de solução, mediação e composição de conflitos, em caso de
impugnação (art. 31, §3º, e art. 34);
• Conclusão do procedimento para concordância com a REURB, decorrido o prazo sem
impugnação ou superada a impugnação apresentada, com formalização no processo
administrativo.
Observação: caso seja realizada a demarcação urbanística, fica dispensada a realização do
procedimento do art. 31 da Lei nº 13.465/2017 (art. 31, §9º).

ELABORAÇÃO DO PROJETO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA, CONTENDO (ART. 35): Equipe técnica.


• levantamento planialtimétrico e cadastral georreferenciado do núcleo urbano informal;
• planta do núcleo urbano informal com indicação do perímetro e das matrículas imobiliárias
atingidas, quando possível;
• estudo das desconformidades e da situação jurídica, urbanística e ambiental, com proposta
de solução para as questões identificadas (podem ser aproveitados os diagnósticos setoriais e
integrado já realizados na Etapa anterior);
• pareceres, notas técnicas e estudos técnicos específicos (ambiental, risco ou outros), se for o
PROJETO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

caso;
• indicação de parâmetros urbanísticos e ambientais específicos, se for o caso (art. 35);
• indicação de obras, intervenções e cronograma propostos, se for o caso;
• propostas de reassentamento, se for o caso;
• termo de compromisso assinado pelos responsáveis, públicos ou privados, pela realização das
obras, intervenções e cronograma propostos.
Observação: a Reurb pode ser implementada por etapas, abrangendo o núcleo urbano informal
de forma total ou parcial (art. 36, §2º).
Observação: é responsabilidade do poder público a implantação e manutenção da infraestrutura
essencial e dos equipamentos comunitários na Reurb-S (art. 37).
Observação: as obras de implantação de infraestrutura essencial, equipamentos públicos e
melhorias habitacionais podem ser realizadas antes, durante ou após a conclusão da Reurb (art.
36, §3º).

ELABORAÇÃO DO PROJETO URBANÍSTICO (ART. 36), INCLUINDO O PROJETO


DE PARCELAMENTO DA ÁREA OBJETO DE REGULARIZAÇÃO, CONTENDO:
• Projeto de parcelamento do solo (loteamento ou desmembramento), com indicação das
quadras, lotes, unidades imobiliárias, sistema viário, espaços livres, equipamentos urbanos e
comunitários e demais elementos pertinentes, conforme o caso;
• Memoriais descritivos referentes aos elementos do projeto de parcelamento;
• Indicação de eventuais áreas dentro do núcleo urbano informal que já foram objeto de
usucapião.

98
SANEAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO (ART. 28, IV), Prefeitura Municipal.
ADMINISTRATIVO
DO PROCESSO
SANEAMENTO

mediante decisão formal da autoridade competente do Município, com análise do cumprimento das etapas
e requisitos previstos no procedimento administrativo da REURB, podendo resultar em duas situações:
• Indicação de providências ou complementações necessárias relativas a etapas anteriores do
processo; ou
• Declaração do atendimento das etapas e requisitos do processo de regularização, com encami-
nhamento do processo para licenciamento e aprovação.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL E URBANÍSTICO (ART. 12): Prefeitura Municipal;


o projeto de regularização fundiária e o respectivo projeto urbanístico, incluindo o projeto de par- Órgão estadual de
REGULARIZAÇÃO
LICENCIAMENTO
DO PROJETO DE

celamento, devem passar pelo processo de licenciamento ambiental e urbanístico junto aos órgãos licenciamento ambiental
FUNDIÁRIA

competentes, havendo duas possibilidades: (se for o caso);


• Licenciamento ambiental e urbanístico pelo próprio Município, caso tenha órgão ambiental Órgão estadual ou
capacitado (art. 12, caput e §1º); ou metropolitano responsável
• Licenciamento urbanístico pelo Município e licenciamento ambiental pelo órgão estadual, caso por emitir anuência prévia
o Município não tenha órgão ambiental capacitado (art. 12, §4º). no parcelamento
Observação: a aprovação do projeto de parcelamento depende de anuência prévia do órgão esta- (se for o caso).
dual ou metropolitano competente, nos casos previstos no art. 13 da Lei Federal nº 6.766/1979.

APROVAÇÃO DO PROJETO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA (ART. 40): Prefeitura Municipal.


REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA (CRF)

depois de concluído o licenciamento ambiental e urbanístico, o Poder Público Municipal deverá apro-
APROVAÇÃO DO PROJETO DE
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
E EMISSÃO DA CERTIDÃO DE

var o projeto de regularização fundiária, incluindo o projeto de parcelamento, mediante ato formal,
normalmente por meio de decreto.

CERTIDÃO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA – CRF (ART. 11, V, E ART. 41):


após a aprovação do projeto de regularização fundiária, o Município poderá emitir a CRF, incluindo:
• projeto de regularização fundiária aprovado;
• termo de compromisso assinado pelos responsáveis pelas obras, cronograma, compensações,
contrapartidas e outras obrigações;
• titulação dos beneficiários em lista, se for o caso.
A CRF deverá reunir todas as informações e documentos a serem encaminhados ao Cartório de Re-
gistro de Imóveis para registro do projeto de regularização fundiária, incluindo o projeto de parcela-
mento, e para titulação dos beneficiários, além das informações previstas no art. 41 da Lei.

TITULAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS: População envolvida;


TITULAÇÃO DOS
BENEFICIÁRIOS

consiste na emissão e assinatura dos títulos que conferem direitos reais aos beneficiários da regulariza- Prefeitura Municipal;
ção fundiária e que serão registrados no Cartório de Registro de Imóveis, havendo duas possibilidades: Proprietário formal da área
• Titulação em lista anexa à CRF (art. 41, VI, e art. 44, §1º, III); objeto de regularização,
• Titulação individual para cada beneficiário. público ou privado
Observação: no caso de titulação em lista, existe a possibilidade de emissão de lista complementar, (se for o caso).
caso não seja possível incluir todos os beneficiários na primeira listagem junto com a CRF (art. 23, §6º).

REGISTRO DA CRF E DO PROJETO DE REGULARIZAÇÃO Prefeitura Municipal;


NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS (ARTS. 42 A 54): Cartório de Registro de
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
REGISTRO DA CERTIDÃO DE

concluído o processo de regularização, o Poder Público Municipal deverá encaminhar ao Cartório de Imóveis.
(CRF) E DO PROJETO DE

Registro de Imóveis a CRF, juntamente com o projeto de regularização aprovado e os títulos emitidos
aos beneficiários. O cartório então deverá realizar:
• arquivamento do projeto de regularização fundiária;
• abertura de matrícula para a área objeto de regularização (se for o caso);
• registro do parcelamento aprovado;
• abertura de matrículas de áreas públicas (se for o caso);
• abertura das matrículas individuais dos imóveis regularizados;
• registro dos direitos reais conferidos aos beneficiários; e
• emissão das certidões de registro atualizadas dos imóveis regularizados em nome dos beneficiários.
Observação: os atos de registro relacionados à REURB-S são isentos de custas e emolumentos
junto aos Cartórios, conforme art. 13, §1º, da Lei nº 13.465/2017.

Após o registro do projeto de regularização fundiária e dos direitos reais conferidos aos beneficiários, População envolvida;
DOS TÍTULOS

deverá ser organizada a entrega dos títulos. Prefeitura Municipal;


ENTREGA

Observação: recomenda-se que o registro dos títulos junto ao Cartório de Registro de Imóveis Proprietário formal da área
seja providenciado pelo Poder Público Municipal ou pelo legitimado para a REURB, para garantir objeto de regularização,
que todos os títulos emitidos sejam efetivamente registrados. Nesse caso, a entrega dos títulos público ou privado
poderá consistir na entrega da certidão de matrícula do imóvel atualizada e já registrada em (se for o caso).
nome do beneficiário.

Fonte: Conselho de Arquitetura de Minas Gerais

Cartórios com Você 99


Registro de Imóveis

“Efetivar a Regularização Fundiária Urbana


é um investimento e não um gasto público"
Promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo e vice-diretor da Associação Brasileira dos
Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), Ivan Carneiro Castanheiro fala sobre o
papel dos registradores imobiliários na importante missão da regularização fundiária urbana no País

O promotor de Justiça do Ministério Público


de São Paulo, vice-diretor da Associação Bra-
sileira dos Membros do Ministério Público
de Meio Ambiente (Abrampa), integrante do
Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio-
-Ambiente (GAEMA PCJ-Piracicaba), membro
de Grupos de Trabalho sobre Reurb (MPSP
e Abrampa) e autor de livros e artigos jurídi-
cos nas áreas de Habitação e Urbanismo e de
Meio Ambiente, Ivan Carneiro Castanheiro,
falou à Revista Cartórios com Você sobre a
importância da Reurb e as principais dificul-
dades que os Municípios encontram para im-
plementar a Lei nº 13.465/2017.

“A legalização dos
loteamentos irregulares ou
clandestino dos condomínios
aprovados irregularmente,
bem como as ocupações de
uma maneira geral, reverter-
se-á em arrecadação de
Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU) para o
Município/Distrito Federal.
Também propiciará cobrança
de tarifas de água e esgoto,
além de retorno de parte
do ICMS arrecadado com
o fim ou redução dos
denominados “gatos” em
Para Castanheiro é importante a conscientização “dos benefícios sociais, ambientais e econômicos, com o ingresso de
ligações de energia.” núcleos habitacionais na formalidade”

100
CcV – Qual a maior dificuldade que os muni-
cípios enfrentam para aplicar a Lei 13.465?
“Tais gestores tem papel fundamental, pois materializa juri-
dicamente a vinda do núcleo habitacional para
Ivan Carneiro Castanheiro – A maior dificul- públicos poderão ser a formalidade, gerando sensação de pertenci-
dade é a falta de recursos financeiros, bem mento e segurança jurídica aos moradores
como de projetos adequados para obtenção de responsabilizados beneficiários. O registro do imóvel também
financiamento junto aos organismos públicos.
Também entendo importante que prefeitos,
administrativamente possibilita aos beneficiários ofertarem seus
imóveis em garantia, para financiar obras civis
secretários Municipais e Distritais de Habita- pela omissão, assim de melhoria em suas habitações — reforma ou
ção, de Planejamento e/ou de Meio Ambiente, ampliações —, além de outros benefícios, pois
assim como as respectivas equipes técnicas, como ser civilmente possibilita comprovar a propriedade junto às
sejam mais bem capacitados para promove-
rem a Reurb, além de serem conscientizados
responsabilizados pelos instituições financeiras. Pelo prisma público,
a abertura de matrícula individual para cada
dos benefícios sociais, ambientais e econômi- prejuízos causados e, lote ou moradia gera melhores informações e
cos, com o ingresso de núcleos habitacionais oportunidades de planejamento e efetivação
na formalidade. principalmente, por de políticas públicas. Além disso, os oficiais de
improbidade administrativa registro de imóveis possuem qualificação téc-
CcV – Quais as implicações legais para o nico-jurídica para exigir as providências ade-
gestor público municipal que não promover decorrente da omissão” quadas destinadas ao correto registro desses
a regularização de núcleos informais? núcleos, propiciando a segurança jurídica que
Ivan Carneiro Castanheiro – Tais gestores se almeja com a Reurb.
públicos poderão ser responsabilizados admi-
nistrativamente pela omissão, assim como ser destinamente ligadas nos núcleos urbanos CcV – Qual o legado que a implementação
civilmente responsabilizados pelos prejuízos irregulares ou clandestinos), além de retorno da regularização fundiária urbana pode
causados e, principalmente, por improbidade de parte do ICMS arrecadado com o fim ou deixar para o futuro?
administrativa decorrente da omissão (art. 11, redução dos denominados “gatos” em ligações Ivan Carneiro Castanheiro – A Reurb, se rea-
inciso II, da Lei 8.429/92). de energia elétrica (fraudes nas ligações de lizada com base nos objetivos do art. 10 da
energia facilitadas pela clandestinidade ge- Lei 13.465/17, dentre eles a de melhorar as
CcV – Quais os principais impactos positi- ral do núcleo, com grande grau de ausência condições urbanísticas e ambientais; ampliar
vos que a regularização fundiária urbana do poder público e órgãos fiscalizadores). A o acesso à terra urbanizada pela população
proporciona, tanto para o Município quan- formalização do núcleo também termina por de baixa renda; estimular a resolução extra-
to para o cidadão? trazer um incremento do comércio na região e judicial de conflito; propiciar moradia digna e
Ivan Carneiro Castanheiro – Certamente a melhoria nas questões de saneamento básico condições de vida adequada; efetivar a função
legalização dos loteamentos irregulares (pro- — hoje incentivadas pelo Novo Marco Legal social da propriedade e, em especial, a criação
jeto aprovado pelo poder público municipal do Saneamento (Lei 14.026/20), resultando de mecanismos visando à prevenção e deses-
ou distrital, mas executado irregularmente) em menores gastos com saúde pública. tímulo à formação de novos núcleos urbanos
ou clandestino (efetivado sem conhecimento informais, constituir-se-á em excelente instru-
e/ou consentimento do poder público), dos CcV – Qual a importância da Reurb para mento de melhorias socioambientais, além de
condomínios aprovados irregularmente, bem manter o compromisso com a Agenda 2030 ter reflexos positivos no desenvolvimento eco-
como as ocupações de uma maneira geral, re- da ONU? nômico, nas funções sociais das cidades e da
verter-se-á em arrecadação de Imposto Predial Ivan Carneiro Castanheiro – Indubitavel- propriedade urbana, bem como na redução de
e Territorial Urbano (IPTU) para o Município/ mente, a Reurb contribui para a redução da gastos sociais, em especial com a saúde públi-
Distrito Federal. Também propiciará cobrança pobreza, promoção da prosperidade e bem-es- ca. Efetivar a Regularização Fundiária Urbana
de tarifas de água e esgoto (muitas vezes clan- tar das pessoas — especialmente àquelas de é um investimento e não um gasto público.
baixa renda — além de ser importante para a
proteção do ambiente natural (água, ar, solo
e flora). Também contribui para a redução da
influência deletéria da falta de infraestrutura
essencial, como sistema de abastecimento de
“O Cartório de Registro água potável, sistema de coleta e tratamento “Os oficiais de registro
do esgotamento sanitário, rede de energia
de Imóveis, no contexto elétrica domiciliar e soluções de drenagem, de imóveis possuem
da Reurb, tem papel quando necessário, e outros itens eventuais
a serem estabelecidos pelos Municípios. A
qualificação técnico-
fundamental, pois Reurb pode, ainda, ajudar a combater as alte- jurídica para exigir as
rações climáticas, bem como cumprir os Obje-
materializa juridicamente a tivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e providências adequadas
vinda do núcleo habitacional suas metas, constituído no âmbito da Assem-
bleia-Geral das Nações Unidas (ONU).
destinadas ao correto
para a formalidade, gerando registro desses núcleos,
CcV – Qual a importância do Cartório de
sensação de pertencimento Registro de Imóveis na regularização fun- propiciando a segurança
e segurança jurídica aos diária do País?
Ivan Carneiro Castanheiro – O Cartório de
jurídica que se almeja com
moradores beneficiários” Registro de Imóveis, no contexto da Reurb, a Reurb”

Cartórios com Você 101


Registro de Imóveis

102
Regularização fundiária*
Um instrumento de arrecadação para os municípios no pós-pandemia

Por Ana Cristina Maia

Os impactos econômicos causados pela pan-


demia do coronavírus começam a emergir. E
“A importância da blemas. Como a regularização é iniciativa de
competência do poder municipal, ao qual cabe
são as cidades, que já vinham sofrendo com regularização é ainda maior fazer a gestão do território urbano, o agente
a crise econômica nacional, que contabilizam público que se mantiver inerte em relação à
os danos. Segundo a Confederação Nacional para cidades menores. Cerca irregularidade fundiária de uma região pode
dos Municípios (CNM), a soma dos principais
tributos de competência municipal – ISS, ITBI
de 80% dos municípios vir a responder judicialmente por improbida-
de administrativa, uma vez que se trata de re-
e IPTU – entre os meses de abril e junho de do País têm menos de 20 núncia de receita.
2020 registrou uma queda de 14,3% em com- Além disso, a regularização fundiária tem-
paração com o mesmo período do ano passa- mil habitantes, mas são -se mostrado uma escolha econômica mais
do – R$ 3,76 bilhões que deixaram de entrar
nos cofres das prefeituras. A falta de formali-
responsáveis por 18% de inteligente para as cidades. A título de exem-
plo, uma unidade habitacional do Minha Casa,
zação cria um gargalo econômico com sérias todo o potencial financeiro Minha Vida, por exemplo, tem custo estimado
consequências para moradores e pequenas ci- de R$ 130 mil. Já a regularização de um imó-
dades. Só em “capital morto”, a irregularidade do IPTU. Isto é, mais de 80% vel instalado num núcleo urbano informal tem
representa R$ 2,5 trilhões – crédito que não do imposto deixou de ser custo médio de R$ 1,5 mil, com a vantagem de
pode ser aproveitado pelas famílias por não fixar o morador numa área já consolidada ur-
terem o bem registrado. cobrado adequadamente.” banisticamente e pela qual já existe um senti-
Mais que responsabilidade na gestão pú- mento de pertencimento cultural e geográfico.
blica, os prefeitos que assumiram agora seus A ONU estima que a população urbana em
mandatos precisarão contar com a criativida- quisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2008 2050 seja de aproximadamente 9,7 bilhões de
de e com instrumentos efetivos de arrecada- e 2014 mostrou que a renda per capita de la- pessoas, com 40% delas vivendo em assenta-
ção para produzir receita em curto e médio res cariocas que passaram pelo processo de mentos e/ou favelas. As serventias extrajudi-
prazos. Precisarão ainda pensar e desenvolver regularização obteve considerável alta (20% ciais de todo o País, por meio do Registro de
políticas públicas de recuperação de renda e a 30%) após seis anos da formalização. Tudo Imóveis do Brasil, estão alinhadas com os ob-
mecanismos de desenvolvimento econômico graças à inserção dos seus imóveis no sistema jetivos da agenda 2030 da Organização, que
que permitam a ascensão social das famílias formal de propriedade, provando que a Reurb estabelece acesso a habitação segura, adequa-
mais vulneráveis, as mais atingidas pelos efei- é importante ferramenta para o desenvolvi- da e acessível para a população. A regulari-
tos da pandemia. mento econômico e pessoal dos indivíduos. zação traz consigo um processo contínuo e
A Regularização Fundiária Urbana (Reurb) A importância da regularização é ainda consistente de prosperidade e transformação
é de competência das prefeituras, nos termos maior para cidades menores. Cerca de 80% social para famílias que viviam no anonimato
da Lei 13.465, de 11 de julho de 2017, que dos municípios do País têm menos de 20 mil e passam a contar com serviços públicos de
deu protagonismo e independência aos gesto- habitantes, mas são responsáveis por 18% de qualidade. É preciso que os gestores públicos
res públicos na elaboração de políticas habita- todo o potencial financeiro do IPTU. Isto é, se capacitem e se inteirem das regras de regu-
cionais para ajudarem a população a ter aces- mais de 80% do imposto deixou de ser cobra- larização, pois se trata de uma oportunidade
so à documentação formal do imóvel. A casa é do adequadamente. Isso mostra um dos pri- única de rápidos ganhos sociais, ambientais e
um dos ativos mais importantes das pessoas. meiros reflexos da falta de regularização dos econômicos.
A regularização fundiária precisa ser vista imóveis urbanos.
como obrigação social dos gestores públicos, Do ponto de vista macroeconômico, os pro-
para os cidadãos terem mais autonomia e, blemas da irregularidade fundiária vão além
consequentemente, produzirem crescimento da falta de arrecadação do IPTU, que tem va-
econômico e social. lores mais baixos em áreas menos valorizadas.
Um estudo realizado pelo Instituto de Pes- Quando um bairro é inserido no sistema de re-
gistro da propriedade, ele passa a fazer parte
formalmente da economia local. Um comércio
com alvará regular gera ISS, emprego e renda
para a população, sem mencionar a arrecada-
“Mais que responsabilidade ção do ITBI.
na gestão pública, os prefeitos Há ainda problemas do lado da oferta dos
serviços públicos, pois os moradores de re-
que assumiram agora seus giões irregulares são privados de acesso a
direitos e serviços básicos, como educação
mandatos precisarão contar – escolas e creches –, saneamento, acesso a
com a criatividade e com água tratada, pavimentação de ruas e segu-
rança. Ora, se determinado bairro não existe
instrumentos efetivos de formalmente, o poder público não consegue
implementar as políticas de forma adequada *Ana Cristina Maia é diretora de Reurb do Registro de
arrecadação para produzir e não tem dados assertivos sobre o perfil po- Imóveis do Brasil

receita em curto e médio pulacional.


Sob a perspectiva jurídica, por sua vez, o Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de
prazos” gestor municipal pode vir a enfrentar pro- São Paulo

Cartórios com Você 103


Registro de Imóveis

Reurb na Prática: concretização de


sonhos e direito de propriedade reconhecido
Os moradores do núcleo Jardim Paraíso, em Camboriú (SC), foram os primeiros
cidadãos do município a serem beneficiados pelo projeto de regularização fundiária

Fotos da cerimônia de entrega de títulos do primeiro projeto de regularização fundiária em Camboriú (SC)

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Com uma população de mais de 80 mil ha-
bitantes, sendo uma das maiores cidades de
É muito comum que o processo de regulari-
zação fundiária seja recebido pelos moradores
“Foi uma conquista e uma
Santa Catarina, o município de Camboriú do núcleo com desconfiança. No Jardim Pa- alegria imensa! Temos que
concretizou, em 22 de dezembro de 2020, o raíso não foi diferente. “Vou ser bem franca,
seu primeiro projeto de regularização fundiá- no início não acreditamos que realmente iria agradecer a toda a equipe
ria. Os moradores do núcleo Jardim Paraíso
— composto por 12 lotes — foram os con-
acontecer, porque já haviam acontecido outras
coisas que levavam a gente a não acreditar
envolvida, que esteve
templados com a entrega dos títulos de pro- que a regularização dos nossos lotes era pos- presente o tempo todo, nos
priedade. De acordo com, Márcia Machado, sível. E, quando aconteceu, foi uma conquista
uma das moradoras beneficiadas pela Reurb, e uma alegria imensa! Temos que agradecer a apoiando e esclarecendo
o núcleo se formou após várias famílias de
um bairro próximo perderem as suas casas
toda a equipe envolvida, que esteve presente o
tempo todo, nos apoiando e esclarecendo to-
todas as nossas dúvidas”
em decorrência de uma enchente. “Foi feito das as nossas dúvidas”, esclarece Márcia. Márcia Machado, moradora beneficiada pela
um cadastro pela Defesa Civil com o SESC. Segundo André Oliveira, advogado espe- Reurb em Camboriú (SC)
A gente se cadastrou e fomos beneficiados cializado em regularização fundiária e que
com essa moradia do SESC. Dia 28 de julho participou do processo de Reurb do núcleo
deste ano completará 11 anos que moramos Jardim Paraíso, a apresentação do projeto
aqui”, explica. para a comunidade foi recheada de descon-

Cartórios com Você 105


Registro de Imóveis

fiança. “Os moradores tiveram muita resis-


tência no começo, principalmente porque
que o CORI-MG tem capitaneado no Brasil,
com o trabalho da dra. Ana Cirstina e a dra.
“Faço votos aos outros
bairros vizinhos já tinham recebido a visita Michely, que trouxe clareza na Reurb, com municípios para que
de outras empresas em anos anteriores, que novos entendimentos que facilitaram, tam-
prometeram a regularização e não realiza- bém, o nosso processo aqui”, avalia. também comecem a
ram. Essa foi a principal dificuldade e, na
verdade, só conseguimos vencer essa des-
Para Rafael Carvalho, diretor de Habitação
da Prefeitura de Camboriú (SC) é importante
implantar a Reurb, porque
confiança no dia em que fizemos a entrega que outras cidades de Santa Catarina se cons- o projeto vai muito além
da matricula”, conta. cientizem da importância da regularização
O protocolo do pedido de regularização fundiária urbana e comecem a regularizar os da matrícula. Ele traz
do núcleo foi feito em 2019 e, de acordo
com Oliveira, muita coisa mudou até a data
seus núcleos consolidados. “Faço votos aos ou-
tros municípios para que também comecem a
resultados econômicos para
de titulação das unidades. “Mudou o enten- implantar a Reurb, porque o projeto vai muito o município e segurança
dimento da Reurb como um todo, tanto no além da matrícula. Ele traz resultados econômi-
estado de Santa Catarina, quanto em todo o cos para o município e segurança jurídica para jurídica para as famílias”
território brasileiro. Principalmente após a as famílias. Esses imóveis são regularizados
publicação dos enunciados do CORI-SC, ou- passam a integrar a base de tributação muni- Rafael Carvalho, diretor de Habitação da
tros enunciados publicados pelo Ministério cipal, podem passar a pagar IPTU e é possível Prefeitura de Camboriú (SC)
Público de Santa Catarina, além do trabalho recolher o ITBI em caso de venda”, pontua.

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Já Maria Goretti S. Alcântara, registradora
de Imóveis de Camboriú (SC), esclarece que a
do para implementar a Reurb desde 2017,
quando começou a capacitar tecnicamente
“Esta gestão, que teve
lei da regularização fundiária veio justamente alguns servidores para essa finalidade e a início neste ano, terá como
para que o Cartório, recebendo a certidão de credenciar empresas aptas a realizar os pro-
regularização fundiária, conseguisse, através jetos. “Essas empresas foram de fundamental foco a Reurb, beneficiando
da qualificação de todos os procedimentos
previstos na Lei Federal e nas normas de San-
importância para mostrar para a população
que existiria o dia da entrega da matrícula
ao menos mil famílias nos
ta Catarina, conseguisse adequar a situação de e que para isso, precisariam acontecer pas- próximos quatro anos”
fato dos moradores à situação de direito. “Após sos dentro da legalidade. E agora vimos os
o processo, eles receberam, através das matrí- pioneiros, as primeiras famílias que rece- Élcio Rogério Kuhnen, prefeito de Camboriú (SC)
culas, o direito de propriedade. E quando olhei beram as matrículas. Foi muito emocionan-
para aquelas pessoas que receberam os títulos, te e agradável participar desse momento e
fiquei muito feliz, porque é uma situação onde tenho muita gratidão ao Cartório da cidade
realmente vemos que o cumprimento do direi- de Camboriú que participou desse processo,
to vai se aproximando da Justiça”, afirma. ao nosso diretor de Habitação e às empresas
O prefeito de Camboriú, Élcio Rogério Kuh- que fizeram esse trabalho. E esta gestão, que
nen — que iniciou o seu segundo mandato teve início neste ano, terá como foco a Reurb,
à frente do município em janeiro deste ano beneficiando ao menos mil famílias nos pró-
—, conta que a cidade estava se preparan- ximos quatro anos”, finaliza.

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