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O Tao Da Física
O Tao Da Física
Em um verão de 1969, Capra estava sentado em frente ao mar, numa praia da Califórnia,
observando as ondas e refletindo sobre os vários movimentos rítmicos da natureza: as
ondas, as batidas do coração e o rítmo da respiração associando-os ao que ele sabia,
intelectualmente, sobre a "estrutura" física da matéria, que é composta de moléculas e
átomos em constante vibração... Bom, a união disso tudo, somado aos seus estudos e
vivências de tantos anos em Física, juntamente com a visão paradisíaca da praia em que
estava, acabou por estimular em Capra, subtamente, aquilo que os piscólogos
transpessoais, especialmente Abraham Maslow, chamam de "peak experiences", ou
experiências culminantes, que são "estalos" intuitivos, ou, como falam os americanos,
"insights" de súbita compreensão intuitiva sobre algo que se percebe e que está,
frequentemente, além do nível convencional de racionalização linear... Segundo as
palavras do próprio Capra:
"Eu passara por um longo treinamento em Física teórica e pesquisara durante vários anos.
Ao mesmo tempo, tornara-me interessado no misticismo oriental e começara a ver
paralelos entre este e a Física moderna. Sentia-me particularmente atraído pelos
desconcertantes aspectos do Zen que me lembravam os enigmas da Física Quântica (...)
Hoje em dia, 30 anos depois desta experiência, os paralelos entre ciência moderna - a
grande semelhança na forma de ver e entender o mundo que advém da exploração da
física subatômica, em especial a Mecânica Quântica, e da Teoria da Relatividade de
Einstein - e as várias tradições místicas, quer do oriente, quer do ocidente, já é questão
muito debatida e quase lugar comum e é reconhecida por inúmeras pessoas,
especialmente em cientistas e escritores como Mário Schenberg, David Bohm, B. D.
Josephson, Pierre Weil, Stanislav Grof e muitos outros. O próprio Carl Sagan, geralmente
tão cético e explicitamente arredio a estes assuntos, em sua obra prima, Cosmos, se
detém, em um de seus capítulos, entre estes paralelos. Mas, antes de Capra, poucas
pessoas haviam percebido estes paralelos, ainda que entre os poucos se encontrassem
nomes de peso como Niles Bohr e Werner Heisenberg. Capra sabia disso, e, por causa
desta experiência por que passara em 69, ele se decidiu - na verdade, se arriscou - a
escrever um livro que demonstrasse esses extraordinários paralelos. Foi daí que nasceu,
em 1975, seu best seller O Tao da Física que mostrou a milhões de pessoas a realidade
destes paralelos e deixou claro que, por mais sofisticados que sejam nossas descrições e
modelos sobre a realidade, estes serão apenas construtos e mapas de nossa compreensão
mental sobre o mundo.
Convém, no entanto, desde já, expor aqui algo que, numa avaliação superfial de muitos -
às vezes, com uma adicional dose de polêmica e má fé-, é freqüetemente imputado à
Capra:
A Ciência ocidental moderna não é inferior e nem está, grosso modo, simplesmente
redescobrindo ou endossando a sabedoria antiga. Ela simplesmente está, por seu próprio
método racional e analítico, chegando a um ponto em que suas teorias passarm a refletir
uma realidade física que tem muito em comum com a forma de como o místico (o
autêntico místico dedicado ao seu desenvolvimento espiritual e do próximo, sem querer
impor sua forma de vida e nem comercializá-la como muitos pseudo-místicos de nossos
dias) descreve o mundo quando experiencia seus estados alterados de consciência. Por
isso não faz sentido se abraçar, como alguns dizem, por conta dos extraordinário
paralelos existentes sobre a percepção de mundo do físico e do místico, o método do
místico para enriquecer a ciência ocidental ou para proporcionar uma síntese entre ambas
as abordagens. A mistura dessas duas abordagens seria um erro tremendo, pois teriamos
uma massa informe, e não aspectos complementares de se entender a realidade. Capra
nunca falou isso, muito pelo contrário. Eis o que ele escreve em O Tao da Física:
Convém dizer que esta mesma idéia é tanto adotada por cientistas, como Grof (1988),
LeShan (1993), Goswami (1998) quanto por teólogos, como Leonardo Boff (1994) e Frei
Betto (Boff & Betto, 1995) e místicos (Satya Sai Baba), por exemplo. Aliás, já Einstein
dizia que "Ciência sem religião é cega; religião sem ciência é paralítica"... Por isso, é
bom ter cuidado com as exaltações ou radicalismos de ambos os lados, tanto da ciência
extremamente mecanicista, quanto a de pseudo-místicos que pipocam à torto e a direito
por todas as partes... O que se pretende é se erigir pontes para a troca interdisciplinar de
conhecimentos e se chegar a um entendimento o mais abrangente e unitivo possível de
nossa realidade, não uma mistura inconsequente de disciplinas.
O grande sucesso, porém, alcançado por O Tao da Física e o contato com várias pessoas
em palestras e aulas, levaram Capra a perceber uma sutil realidade: não era a relação
descritiva dos avanços da ciência, em si, e nem a descrição dos insights dos místicos que
mais tocavam as pessoas ao lerem O Tao da Física, era um algo mais : "o reconhecimento
das semelhanças entre a física moderna e o misticismo oriental faz parte de um
movimento muito maior, de uma mudança fundamental de visões de mundo, ou
paradigmas, na ciência e na sociedade, que agora estão se manifestando por toda a
Europa e América, e que implica uma profunda transformação cultural. Esta
transformação, esta profunda mudança de consciência, é o que as pessoas sentiram
intuitivamente nas últimas duas ou três décadas, e é por isso que O Tao da Física tangeu
uma corda tão sensível" (Capra, 1995, p. 241).