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NÚMERO 51 — NOTA DE CONJUNTURA 32 — 2 ° TRIMESTRE DE 2021

MERCADO DE TRABALHO Maria Andréia Parente Lameiras

Desempenho recente do mercado de trabalho Técnica de planejamento e pesquisa na


Diretoria de Estudos e Políticas Macroe-
conômicas (Dimac) do Ipea

Sumário
maria-andreia.lameira@ipea.gov.br

No primeiro trimestre deste ano, apesar da melhora da atividade econômica acima


do esperado e do crescimento da população ocupada (PO), as condições gerais do Carlos Henrique Corseuil
mercado de trabalho brasileiro ainda se encontram significativamente afetadas pela Técnico de planejamento e pesquisa na
pandemia – continuam conjugando aumento do desemprego, da subocupação e Diretoria de Estudos e Políticas Sociais
(Disoc) do Ipea
do desalento. De acordo com as estatísticas extraídas da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), em março, a taxa de desocu- carlos.corseuil@ipea.gov.br
pação ficou em 15,1%, 2,3 pontos percentuais (p.p.) acima da taxa registrada no
mesmo período de 2020. O desemprego vem sendo pressionado pelo retorno à for-
Lauro Ramos
ça de trabalho de uma parcela de indivíduos que haviam ficado inativos por conta
da pandemia. Já a PO que se declarava subocupada chegou a 8,2% do total da ocu- Técnico de planejamento e pesquisa na
Disoc/Ipea
pação, no primeiro trimestre de 2021, avançando 1,0 p.p. em relação ao mesmo
período do ano anterior. Não obstante a alta da desocupação e da subocupação, o
lauro.ramos@ipea.gov.br
crescimento do número de desalentados corrobora essa situação pouco favorável do
mercado de trabalho. Nos últimos doze meses, o contingente de pessoas em idade
Divulgado em 28 de junho de 2021.
de trabalhar que estavam fora da força de trabalho por conta do desalento saltou de
4,8 milhões para quase 6,0 milhões, o que representa uma alta de 25%.

Em contrapartida, os dados do Novo Cadastro Geral de Emprego e Desemprego


(Novo Caged), do Ministério da Economia, continuam a mostrar um cenário bem
mais favorável para o emprego formal que o descrito pela PNAD Contínua. De
acordo com o Caged, a economia brasileira gerou aproximadamente 960 mil novos
postos de trabalho formal nos quatro primeiros meses do ano. Já no acumulado
em doze meses, o saldo de novas vagas com carteira ultrapassa o montante de 1,93
milhão. Após a incorporação desses resultados, o estoque de trabalhadores formais
medido pelo Caged chegou a 40,3 milhões, em abril de 2021, avançando 5,0% na
comparação com o mesmo mês do ano anterior.

A análise dos fluxos de entrada e saída dos trabalhadores entre as diferentes posições
no mercado de trabalho – extraídos dos microdados da PNAD Contínua – revela
que a pandemia gerou mudanças importantes nessas dinâmicas de transição. No
caso da ocupação, observa-se que houve não só um forte aumento no fluxo de saí-
da, mas também uma queda expressiva no fluxo de entrada, de modo que a taxa de
saída da PO que costumava apresentar leves oscilações ao redor de 40% passou a
registrar 45,3% no segundo trimestre de 2020. Ou seja, o número de trabalhadores
que saiu da PO nesse trimestre corresponde a 45,3% do estoque no trimestre ante-
rior. Já a taxa de entrada, que também costumava oscilar em patamares próximos a
40% até o fim de 2019, registrou 27,9% no segundo trimestre de 2020. Nota-se,

1
no entanto, que, já a partir do terceiro trimestre de 2020, o fluxo de entrada de
trabalhadores na PO passa a superar o de saída, porém a taxas ainda modestas, de
modo que essa reversão não foi suficiente para que a PO recuperasse, no primeiro
trimestre de 2021, o patamar registrado no primeiro trimestre de 2020. Deve-se
ressaltar, entretanto, que grande parte dessa mudança nas transições da ocupação
é decorrente do fluxo de trabalhadores que entram na PO no mesmo trimestre em
que passam a integrar a amostra da PNAD Contínua. Ainda de acordo com os mi-
crodados de transição, observa-se que, enquanto os fluxos de entrada no emprego
formal apresentam movimentos similares aos do mercado como um todo, os fluxos
de saída do emprego formal crescem menos que os observados na ocupação total.
Isso significa que o comportamento do emprego formal durante a pandemia foi
mais afetado pela diminuição nas contratações que por um aumento nos desliga-
mentos.

Carta de Conjuntura
Por fim, registra-se que o aumento do desemprego se deve a uma queda mais
abrupta no fluxo de saída do desemprego que no fluxo de entrada, indicando que
os trabalhadores estão passando mais tempo na desocupação. Por certo, 69,8% dos
desempregados deixavam essa condição no primeiro trimestre de 2020, enquanto
apenas 55,2% faziam essa transição no primeiro trimestre de 2021. Nesse mesmo
período, o fluxo de entrada no desemprego passou de 77,5%, no primeiro trimes-
tre de 2020, para 64,1%, neste mesmo trimestre de 2021.

1 Aspectos gerais

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


No primeiro trimestre deste ano, ape- GRÁFICO 1
sar da melhora da atividade econômica PNAD Contínua: taxa de desocupação mensalizada¹ –
original e dessazonalizada
acima do esperado e do crescimento da (Em %)
PO, as condições gerais do mercado de 16
trabalho brasileiro ainda se encontram 14
significativamente afetadas pela pande- 12
mia – continuam conjugando aumento 10
do desemprego, da subocupação e do 8

desalento. De acordo com as estatísticas 6

extraídas da PNAD Contínua, do Insti- 4


mar/13
set/13
mar/14
set/14
mar/15
set/15
mar/16
set/16
mar/17
set/17
mar/18
set/18
mar/19
set/19
mar/20
set/20
mar/21

tuto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), em março, a taxa de desocu- Original Dessazonalizada

pação ficou em 15,1%, 2,3 p.p. acima Fonte: PNAD Contínua/IBGE e Diretoria de Estudos e Políticas Sociais
da taxa registrada no mesmo período de (Disoc) do Ipea.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas
2020 (gráfico 1). Na comparação men- Macroeconômicas (Dimac) do Ipea.
Nota¹: As séries mensalizadas foram obtidas a partir da metodologia
sal, os dados dessazonalizados também desenvolvida por Hecksher (2020).

mostram aumento da desocupação, cuja taxa passou de 14,4% em fevereiro para


14,7% em março.

A desagregação da taxa de desocupação mostra que esse aumento recente da po-


pulação desocupada, que em março atingiu 15,2 milhões de pessoas, vem sendo
pressionado pelo retorno à força de trabalho de uma parcela de indivíduos que

2
haviam saído do mercado de trabalho por conta da pandemia. Por certo, de janeiro
a março de 2021, a força de trabalho brasileira aumentou em 567 mil, enquanto a
expansão do contingente ocupado foi de apenas 17 mil. Nota-se, entretanto, que,
apesar desse aumento, no ano, os dados ainda mostram uma força de trabalho bem
baixo da observada nos períodos pré-pandemia. Segundo a PNAD Contínua, no
trimestre móvel encerrado em março de 2020, a força de trabalho no país era de
105,1 milhões de pessoas, já no mesmo período de 2021 esse grupo era formado
por 100,5 milhões, indicando um recuo de 4,4% (gráfico 2). No mesmo período,
a PO apontou retração de 7,1%, passando de 92,2 milhões para 85,7 milhões.
GRÁFICO 2
PNAD Contínua: Indicadores do mercado de trabalho
(Em %)
4 64
Força de trabalho e População ocupada - Variação internaual

2 62,1 62,1 62,1 62,1 62,1 62,1 62,0 61,9 62


61,7 61,7
0

Carta de Conjuntura
61,0
60
-2 59,0

Taxa de participação
-4 58
56,8 56,8 56,8 56,8 56,8
-6 56,0
56,6
56
55,3 55,1
-8 54,7 54,7
54
-10
-12 52
-14 50
mai-jul/19

jul-set/19

set-nov/19

out-dez/19

fev-abr/20
nov-jan/20

mai-jul/20

jul-set/20

set-nov/20

out-dez/20

nov-jan/21
mar-mai/19

jun-ago/19
abr-jun/19

ago-out/19

dez-fev/20

jan-mar/20

mar-mai/20

jun-ago/20
abr-jun/20

ago-out/20

dez-fev/21

jan-mar/21
Força de trabalho População Ocupada Taxa de Participação

Fonte: PNAD Contínua/IBGE e Disoc/Ipea.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

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Para os próximos meses, a expectativa é que esse movimento de recomposição da
força de trabalho se intensifique, tendo em vista que o avanço da vacinação, com-
binado à retomada mais forte da atividade econômica e à adoção de um auxílio
emergencial menos abrangente e de menor valor, contribuirá para o retorno ao
mercado de trabalho de uma parcela da população que havia migrado para a ina-
tividade. Logo, mesmo diante de uma expansão da ocupação, esta não deverá ser
suficientemente forte para reduzir a taxa de desemprego. De fato, partindo-se da
hipótese de que a força de trabalho já tivesse retomado o seu ritmo de crescimento
anual para níveis similares aos registrados nos meses anteriores à pandemia (1,1%),
no último trimestre móvel, encerrado em março, a taxa de desocupação apurada
seria de 19,4%, bem acima da registrada no período (14,7%).

Deve-se ressaltar, ainda, que, além da recomposição da força de trabalho, o nível


elevado de subocupados também pode atuar como um limitador à queda da de-
socupação, tendo em vista que, antes de abrir uma nova vaga, há a possibilidade
de estender a jornada de trabalho de indivíduos já ocupados. Segundo o IBGE, no
primeiro trimestre de 2021, 8,2% da PO se declarava subocupada,1 o que repre-
senta um aumento de 1,0 p.p. em relação ao apontado no mesmo período de 2020
(gráfico 3). A taxa combinada de desocupação e subocupação atingiu 21,7% no
trimestre janeiro-março de 2021, alcançando o maior valor da série, iniciada em
2012, e avançando 3,3 p.p. na comparação interanual (gráfico 4).

1. Por definição, são considerados subocupados os indivíduos que trabalham menos de quarenta horas semanais, mas que teriam disponibili-
dade e gostariam de trabalhar mais horas.

3
GRÁFICO 3 GRÁFICO 4
PNAD Contínua: proporção de subocupados em rela- PNAD Contínua: taxa combinada de desocupação e
ção à PO total subocupação
(Em %) (Em %)

8,5 22,0
8,2 21,5
8,0 7,9
21,0
7,8 7,8
7,8 20,5
7,5 7,5 7,5 7,5 20,0
7,4 7,3 7,4 7,4
19,5
7,1
7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 19,0
6,8
6,7 18,5
6,5 18,0
17,5
6,0 17,0

fev-abr

mai-jul

nov-jan
jul-set

ago-out

out-dez
jan-mar

mar-mai

abr-jun

jun-ago

set-nov

dez-fev
mai-jul/18
jul-set/18
set-nov/18
nov-jan/19

mai-jul/19
jul-set/19
set-nov/19
nov-jan/20

mai-jul/20
jul-set/20
set-nov/20
nov-jan/21
jan-mar/18
mar-mai/18

jan-mar/19
mar-mai/19

jan-mar/20
mar-mai/20

jan-mar/21

2018 2019 2020 2021

Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Carta de Conjuntura
Não obstante a alta da desocupação e da subocupação, o crescimento do número
de desalentados corrobora a constatação de que o mercado de trabalho segue dete-
riorado. Nos últimos doze meses, o contingente de pessoas em idade de trabalhar
que estavam fora da força de trabalho por conta do desalento saltou de 4,8 milhões
para quase 6,0 milhões, o que representa uma alta de 25%. Em relação ao total da
população em idade ativa (PIA), a parcela de desalentados avançou de 2,8%, no
primeiro trimestre de 2020, apara 3,4%, no primeiro trimestre de 2021 (gráfico 5).
GRÁFICO 5 GRÁFICO 6

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


PNAD Contínua: proporção de desalentados em rela- PNAD Contínua: pessoas fora da força de trabalho por
ção à PIA segmentos
(Em %) (Em %)
4,0 47,1 46,4 46,8 46,6 46,2 46,0
45,0 44,9
43,4
3,5 3,37
40,9
38,0
3,0 2,84 34,2 33,8
2,73 33,1 32,7 32,5 32,8 32,5
31,2
2,5 30,5
26,3
2,0 22,6

1,5
13,4
1,0 11,4
12,5
11,0 11,6 12,1 11,5
12,6
11,4
8,8 8,4
7,4 6,9
0,5 6,0 5,5 6,4
5,1 6,1
4,5
6,2
3,3 4,0

0,0
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV
2021.I
out-dez/15
nov-jan/13

mai-jul/16

jul-set/17
fev-abr/18
set-nov/18
jun-ago/13

nov-jan/20
abr-jun/12

jan-mar/14
ago-out/14
mar-mai/15

dez-fev/17

jun-ago/20
abr-jun/19

jan-mar/21

Achou/esperando resposta Desalento Estudo Questões pessoais

Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Nota-se ainda que, dentro do universo de pessoas em idade de trabalho, mas que
estavam fora da força de trabalho, a proporção dos desalentados não só aumen-
tou nos últimos trimestres como também se distanciou dos demais segmentos.
De acordo com o gráfico 6, enquanto, no primeiro trimestre de 2016, 40,9% dos
adultos que estavam da população economicamente ativa (PEA) se diziam desalen-
tados, em 2021, esse percentual saltou para 43,4%. Em contrapartida, a parcela
de pessoas que estavam fora da PEA por questões pessoais ou porque estudavam
recuou de 34,2% e 11,4% para 26,3% e 8,4%, respectivamente, na mesma base
de comparação.

4
Dentro desse contexto, a melhora nas GRÁFICO 7
PNAD Contínua: PO mensalizada – dados dessazona-
condições do mercado de trabalho só lizados
deve ocorrer a partir de uma expansão (Em milhões de pessoas)

da ocupação com maior intensidade, o 100

que, por sua vez, está ligado diretamente 95


à trajetória de crescimento da economia
90
brasileira. Por certo, dado que os fatos 89,6

estilizados mostram que o mercado de 85


86,1

trabalho responde com alguma defasa- 80


gem às mudanças no nível de atividade,
é a continuidade desse processo de re- 75

jul/13
nov/13

jul/14
nov/14

jul/15
nov/15

jul/16
nov/16

jul/17
nov/17

jul/18
nov/18

jul/19
nov/19

jul/20
nov/20
mar/13

mar/14

mar/15

mar/16

mar/17

mar/18

mar/19

mar/20

mar/21
cuperação da atividade econômica que
resultará na melhora do mercado de Fonte: PNAD Contínua/IBGE.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
trabalho. Em março, os dados dessazo-

Carta de Conjuntura
nalizados mostram que, embora tenha
GRÁFICO 8
ocorrido um leve recuo da PO (de 86,3 PNAD Contínua: PO por vínculo empregatício – taxa
milhões em fevereiro deste ano para de variação interanual
(Em %)
86,1 milhões em março), esta vem se
10
mantendo em patamar bem superior ao 5
registrado no ápice da crise, em julho 0
-5
1,4
-1,3

de 2020, quando atingiu 80,3 milhões -10 -10,7


-12,1
-15
(gráfico 7). -20
-25
-30
A desagregação da PO por vínculo reve-

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fev-abr/19

mai-jul/19
jul-set/19
set-nov/19
out-dez/19

fev-abr/20

set-nov/20
out-dez/20
nov-jan/20

mai-jul/20
jul-set/20

nov-jan/21
jan-mar/19
mar-mai/19

jun-ago/19
abr-jun/19

ago-out/19

dez-fev/20
jan-mar/20
mar-mai/20

jun-ago/20
abr-jun/20

ago-out/20

dez-fev/21
jan-mar/21

la que, nos últimos meses, a recuperação


da ocupação vem ocorrendo de forma Privado com carteira Privado sem carteira
mais intensa nos segmentos informais Publico Conta própria

do mercado de trabalho, ou seja, entre Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.


Fonte: PNAD Contínua/IBGE.

os empregados sem carteira e os traba-


lhadores por conta própria. De acordo com o gráfico 8, observa-se que, embora, na
comparação interanual, esses dois grupos ainda apresentem recuo na ocupação, as
quedas vêm perdendo intensidade. Após apontarem retrações de 25,8% e 11,6%
no trimestre móvel encerrado em agosto de 2020, os contingentes de trabalhado-
res sem carteira e por conta própria registraram recuos bem menos expressivos no
primeiro trimestre de 2021, de 12,1% e 1,3%, respectivamente. No caso dos ocu-
pados no setor público, os dados mostram que, embora esse grupo mantenha uma
trajetória de expansão, o ritmo de novas contratações vem se reduzindo. A taxa de
crescimento desse segmento passou de 4,5%, no último trimestre de 2020, para
1,4%, no primeiro trimestre de 2021. Nota-se também que a ocupação do setor
privado com carteira vem mantendo uma trajetória de baixo dinamismo, marcada
por uma estabilidade da PO em patamares bem desfavoráveis.

Em contrapartida, os dados do Caged, do Ministério da Economia, continuam a


mostrar um cenário bem mais favorável para o emprego formal que o descrito pela
PNAD Contínua. De acordo com o Caged, a economia brasileira gerou aproxima-

5
damente 960 mil novos postos de trabalho formal nos quatro primeiros meses do
ano. Já no acumulado em doze meses, o saldo de novas vagas com carteira ultra-
passa o montante de 1,93 milhão. Após a incorporação desses resultados, o estoque
de trabalhadores formais medido pelo Caged chegou a 40,3 milhões, em abril de
2021, avançando 5,0% na comparação com o mesmo mês do ano anterior (gráfico
9).
GRÁFICO 9
Caged – estoque de empregos formais, em valor absoluto e variação interanual
(Valor absoluto, em milhões de pessoas e variação interanual, em %)
40,5 6,0
5,0 5,0
40,0
4,0
39,5 3,0
2,4 2,5
1,9
2,2
2,0
39,0 1,3 1,3 1,3 1,5 1,4 1,4 1,5 1,5 1,6 1,7

0,8 0,7
1,0 1,0
0,3
38,5 0,0

Carta de Conjuntura
-0,5
-0,9 -1,0
38,0 -1,7
-1,3
-2,0
-2,2
-2,0 -2,0
37,5 -3,0
mar/19

jun/19
jul/19
mai/19

ago/19
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nov/19

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nov/20
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ago/20
set/20
abr/20

out/20

dez/20
jan/21
fev/21
mar/21
abr/21
Valor absoluto Variação interanual

Fonte: Caged/Secretaria de Trabalho.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Como consequência desse bom desem- GRÁFICO 10


Estoque de trabalhadores formais – PNAD contínua
penho registrado pelo Caged em 2021, versus Caged
as divergências em relação ao emprego (Em 1 mil pessoas)

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


formal na PNAD Contínua se tornaram 43000
ainda mais intensas no último trimestre 41000
39000
(gráfico 10). A diferença no padrão das 37000
curvas se acentuou não apenas no mo- 35000

mento no qual a pandemia gerou uma 33000


31000
mudança na realização das entrevistas 29000
feitas pelo IBGE – que passaram a ser 27000
jul/13
nov/13
jul/14
nov/14
jul/15
nov/15
jul/16
nov/16
jul/17
nov/17
jul/18
nov/18
jul/19
nov/19
jul/20
nov/20
mar/13

mar/14

mar/15

mar/16

mar/17

mar/18

mar/19

mar/20

mar/21

realizadas por telefone em vez de pre-


sencialmente –, mas também coincidiu Caged Novo Caged PAND contínua

com a implementação da nova metodo- Fonte: PNAD Contínua/IBGE e Caged/Secretaria de Trabalho.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
logia desenvolvida pelo Caged.2

Devido à crise aguda vivida em 2020 e ao consequente fechamento de empresas,


não se descarta a possibilidade de subnotificações de demissões registradas pelo
Caged. É possível que a comunicação desses empregos perdidos tenha ocorrido
apenas no momento da declaração da Relação Anual de Informações Sociais (Rais),
cujos resultados ainda não são conhecidos. Deve-se ressaltar, entretanto, que, a
partir do cruzamento com as estatísticas extraídas da base do seguro-desemprego
(SD), observa-se que, embora recentemente tenha se verificado um descolamento
entre as curvas do Caged e do SD (gráfico 11), esse movimento não é algo inco-

2. A nota 22 da Carta de Conjuntura no 50 discute os possíveis impactos das mudanças amostrais da PNAD Contínua sobre a falta de aderência
em relação aos dados de ocupações formais do Caged no período da pandemia. Disponível em: <https://bit.ly/2QmiLkY>.

6
mum ao longo do tempo, indicando que, mesmo na constatação de que o saldo
de empregos formais gerados nos últimos doze meses seja efetivamente menor que
o apurado pelo Caged, é pouco provável que esse saldo seja negativo ao ponto de
aproximar as pesquisas da Secretaria de Trabalho e do IBGE. Logo, o aumento da
discrepância nos últimos meses poderia refletir efeitos heterogêneos da pandemia
nas diferentes metodologias utilizadas pelas duas fontes, de modo que, à medida
que a economia volte à normalidade, as séries podem vir a convergir para trajetórias
similares.
GRÁFICO 11
Caged – demissões versus SD – quantidade de requerentes
(Em 1 mil pessoas)
2.000.000 900.000
1.800.000 800.000
1.600.000 700.000
1.400.000 600.000

Carta de Conjuntura
1.200.000
500.000
1.000.000
400.000
800.000
600.000 300.000
400.000 200.000
200.000 100.000
0 0
mar/12
jun/12
set/12

set/13

set/14

jun/16
set/16

jun/17
set/17
dez/12
mar/13
jun/13

dez/13
mar/14
jun/14

dez/14
mar/15
jun/15
set/15
dez/15
mar/16

dez/16
mar/17

dez/17
mar/18
jun/18
set/18

jun/20
set/20
dez/18
mar/19
jun/19
set/19
dez/19
mar/20

dez/20
mar/21
Caged (t-1) Novo Caged (t-1) Seguro Desemprego (t)

Fonte: Caged e SD/Secretaria de Trabalho.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

2 Análise dos fluxos de ocupação e desocupação

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


A partir da utilização dos microdados extraídos da PNAD Contínua, que identi-
fica os fluxos de entrada e saída dos trabalhadores entre as diferentes posições no
mercado de trabalho, observa-se que as trajetórias da ocupação e da desocupação
durante a pandemia refletem mudanças importantes nessas dinâmicas de transição.
Os fluxos são computados comparando as posições dos trabalhadores em duas en-
trevistas consecutivas separadas no tempo por um trimestre.

2.1 Os fluxos determinantes para a evolução da ocupação

O gráfico 12 mostra a evolução dos flu- GRÁFICO 12


Fluxos de saída e de entrada para ocupação após um
xos de entrada e saída da ocupação en- trimestre
tre dois trimestres consecutivos: entre o (Em%)

primeiro trimestre de 2015 e o primeiro 50,0


47,5
trimestre de 2021. Podemos notar que o 45,0
42,5
Transição t-1 a t (%)

menor patamar da ocupação no primei- 40,0


37,5
ro trimestre de 2021 em relação ao pri- 35,0
32,5
meiro trimestre de 2020 se deve a uma 30,0
drástica deterioração de ambos os fluxos 27,5
25,0
no segundo trimestre de 2020, quando,
2020.III
2020.IV
2021.I
2015.I
2015.II
2015.III
2015.IV
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II

por um lado, a taxa de saída registra um Trimestre (t)

forte crescimento e, por outro, a taxa de Entrada ocupação Saída ocupação

Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


entrada na ocupação registra uma forte Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

7
queda. A taxa de saída da PO que costumava apresentar leves oscilações ao redor de
40% passou a registrar 45,3% no segundo trimestre de 2020. Ou seja, o número de
trabalhadores que saíram da PO nesse trimestre corresponde a 45,3% do estoque
no trimestre anterior. Já a taxa de entrada, que também costumava oscilar em pa-
tamares próximos a 40% até o fim de 2019, registrou 27,9% no segundo trimestre
de 2020. Como consequência, no segundo trimestre de 2020, a taxa de saída da
ocupação supera a taxa de entrada em mais de 15 p.p., justificando a significativa
queda da PO nesse ponto do tempo.

Já a partir do terceiro trimestre de 2020, o fluxo de entrada de trabalhadores na


PO passa a superar o de saída, e se mantém superior até o primeiro trimestre de
2021. Porém, a taxa de entrada supera a de saída em menos de 5 p.p. nesses úl-
timos trimestres, e consequentemente essa reversão não foi suficiente para que a
PO recuperasse no primeiro trimestre de 2021 o patamar registrado no primeiro

Carta de Conjuntura
trimestre de 2020.

Por fim, cabe observar que a taxa de saída da PO volta a oscilar levemente nos
últimos trimestres em patamares próximos aos registrados até 2019, fechando o
primeiro trimestre de 2021 em 40%. Já a taxa de entrada passa a oscilar em torno
de 43% nos últimos trimestres e, portanto, em patamares superiores àqueles apre-
sentados antes da pandemia. Esse fato motiva uma investigação mais detalhada dos
fluxos de entrada na PO.

O gráfico 13 mostra as evoluções nas taxas de entrada na PO desagregadas pela po-

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


sição do trabalhador no trimestre anterior. As posições que consideramos para essa
análise desagregada foram: desempregado, inativo e fora da amostra (quem não ha-
via sido entrevistado no trimestre anterior). O gráfico deixa bem nítido que o fluxo
de trabalhadores que entram na PO no mesmo trimestre em que passam a integrar
a amostra da PNAD Contínua é o grande responsável por essa dinâmica nos fluxos
de ocupação, ou seja, tanto pela grande queda desse fluxo no segundo trimestre de
2020 quanto pela intensa recuperação já a partir do terceiro trimestre, de forma
a registrar, nos últimos trimestres, patamares superiores aos registrados até 2019.

GRÁFICO 13
Transição para dentro da ocupação após um trimestre
(Em%)

20 38,59 38,69 40
18 38
16 36
14 34
12 32
10 30
8 28
6 25,09
26
4 2,52 24
1,66
2 22
1,15 1,59
0 20
2015.I

2015.II

2015.III

2015.IV

2016.I

2016.II

2016.III

2016.IV

2017.I

2017.II

2017.III

2017.IV

2018.I

2018.II

2018.III

2018.IV

2019.I

2019.II

2019.III

2019.IV

2020.I

2020.II

2020.III

2020.IV

2021.I

Desemprego---->Ocupado (esq.) Inativo---->Ocupado (esq.) Fora da amostra*---->Ocupado (dir.)

Fonte: PNAD Contínua/IBGE


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Nota¹: Inclui observações na primeira entrevista ou que não foram encontradas no trimestre anterior.

8
Os fluxos de entrada na PO de trabalhadores provenientes do desemprego e da
inatividade até contribuem para reforçar a queda no segundo trimestre de 2020,
porém registram uma recuperação mais tímida no trimestre seguinte, de forma que
alcançam, no primeiro trimestre de 2021, patamares ainda inferiores ao registrado
no primeiro trimestre de 2020.

De forma análoga, o gráfico 14 mostra os fluxos de saída da PO desagregados pelo


destino do trabalhador com as mesmas categorias utilizadas no gráfico 13. O fluxo
de trabalhadores que sai da PO por não ser mais entrevistado também é preponde-
rante para explicar o aumento do fluxo agregado de saída da PO. Porém, no gráfico
12, vimos que o fluxo de saída agregado retorna, já no terceiro trimestre de 2020,
a patamares semelhantes ao registrado antes da pandemia. Nesse caso, os fluxos de
saída para o desemprego e para a inatividade cumprem um papel importante ao
registrar quedas mais intensas, haja vista que o fluxo de saída para fora da amostra

Carta de Conjuntura
cai com menos intensidade, de modo a permanecer em patamares ainda superiores
ao que foi registrado antes da pandemia.

GRÁFICO 14
Transição para fora da ocupação após um trimestre
(Em%)
20 40
18 37,16 38
16 35,13 36
14 34
12 32,98 32
10 30

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


8 28
5,79
6 26
4 2,32
3,01 24
2 22
1,82
0 20
2015.I

2015.II

2015.III

2015.IV

2016.I

2016.II

2016.III

2016.IV

2017.I

2017.II

2017.III

2017.IV

2018.I

2018.II

2018.III

2018.IV

2019.I

2019.II

2019.III

2019.IV

2020.I

2020.II

2020.III

2020.IV

2021.I

Ocupado-->Desemprego (esq.) Ocupado-->Inativo (esq.) Ocupado---->Fora da amostra* (dir.)

Fonte: PNAD Contínua/IBGE


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Nota¹: Inclui observações na primeira entrevista ou que não foram encontradas no trimestre anterior.

2.1.1 Os fluxos determinantes para a evolução do emprego formal

O gráfico 15 mostra a evolução dos flu- GRÁFICO 15


Fluxos de entrada e de saída da formalidade1
xos de entrada e saída da ocupação for- (Em%)
mal entre dois trimestres consecutivos 50,0
computados a partir da PNAD Contí- 47,5
45,0
nua para o período entre o primeiro tri- 42,5
Transição t-1 a t (%)

40,0
mestre de 2015 e o primeiro trimestre 37,5
35,0
de 2021. Podemos notar que, embora 32,5
30,0
a evolução recente de ambos os fluxos 27,5
guarde muita semelhança com o padrão 25,0
2015.I
2015.II
2015.III
2015.IV
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV
2021.I

que foi reportado no gráfico 12, dois fa-


tos merecem destaque. Primeiro, obser-
Trimestre (t)
Entrada formal Saída formal

va-se que, na comparação com a ocupa- Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
ção total, no emprego formal, enquanto Nota¹: “Formal”: empregados com carteira, militares e estatutários.

9
os fluxos de entrada apresentam movimentos similares, os fluxos de saída crescem
menos que os observados na ocupação total.

Em segundo lugar, verifica-se que, apesar de ambos os fluxos revertem essa movi-
mentação atípica já no terceiro trimestre de 2020, ou seja, o fluxo de entrada passa
a registrar patamares superiores ao de saída, a magnitude dessa diferença favorável
ao fluxo de entrada nos últimos trimestres não é suficiente para compensar a mas-
siva perda no emprego formal registrada no segundo trimestre de 2020. Assim,
constata-se que o comportamento do emprego formal durante a pandemia foi mais
afetado pela diminuição nas contratações que por um aumento nos desligamentos.

Essa mesma conclusão encontra supor- GRÁFICO 16


Movimentação de vínculos, Novo Caged
te nos dados do Novo Caged, conforme (Em milhões de vínculos)
atestado pelo gráfico 16. Vale ressaltar 2

Carta de Conjuntura
que, conforme já mencionado, o pa- 2
1,62
1,38

drão reportado para desligamentos no 1 1,26


Milhões de vínculos

Caged difere do padrão para saídas do 1 0,66


0,12
0
emprego formal sinalizado pela PNAD -1
Contínua. Enquanto, no Caged, os des- -1 -0,96

ligamentos diminuem no segundo tri- -2


2020:10
2020:11
2020:12
2020:1
2020:2
2020:3
2020:4
2020:5
2020:6
2020:7
2020:8
2020:9

2021:1
2021:2
2021:3
2021:4
mestre de 2020 e passam a apresentar
uma tendência de aumento a partir do Saldo Admitidos Desligados

terceiro trimestre de 2020, os dados da Fonte: Novo Caged/Secretaria de Trabalho.


PNAD Contínua indicam que as saídas Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


aumentam no segundo trimestre desse ano, recuam no terceiro trimestre e passam
a oscilar suavemente nos dois últimos trimestres analisados.

Para ajudar na compreensão dessa margem de ajuste do emprego formal, apresen-


tamos a evolução das taxas de saída do emprego formal desagregadas pelo destino
do trabalhador a partir dos dados da PNAD Contínua.

GRÁFICO 17
Transições trimestrais para fora da formalidade1
(Em %)
10 40
9 38
8 35,43 36
7 34
6 32
5 30
4 28
3 26
2 1,46 24
1 1,14
0,70 22
0 0,50
20
2015.I

2015.II

2015.III

2015.IV

2016.I

2016.II

2016.III

2016.IV

2017.I

2017.II

2017.III

2017.IV

2018.I

2018.II

2018.III

2018.IV

2019.I

2019.II

2019.III

2019.IV

2020.I

2020.II

2020.III

2020.IV

2021.I

Formal-->Informal (esq.) Formal-->Conta Própria e empregador (esq.)


Formal-->Desemprego (esq.) Formal-->Inativo (esq.)
Formal-->Fora da amostra* (dir.)

Fonte: PNAD Contínua/IBGE


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Notas:
¹ Empregados com carteira, estatutários e militares.
² Inclui observações na entrevista final ou que não foram encontradas no trimestre seguinte.

10
O gráfico 17 atesta que, de modo similar ao registrado na ocupação total, o fluxo
de trabalhadores que saem da amostra é o maior responsável pelo aumento do
fluxo de saída do emprego formal no segundo trimestre de 2020 e, portanto, pela
diferença registrada nesse ponto do tempo e nessa margem de ajuste entre os dados
da PNAD Contínua e do Caged.

2.2 Os fluxos determinantes para a evolução do desemprego

O aumento quase contínuo do desem- GRÁFICO 18


Fluxos de entrada e saída do desemprego
prego entre os primeiros trimestres de (Em %)
2020 e 2021 se deve a uma queda mais 100
abrupta no fluxo de saída do desempre- 95
90
go que no fluxo de entrada na primeira 85
Transição t-1 a t (%)

80
metade de 2020. O gráfico 18 mostra 75

Carta de Conjuntura
70
que 69,8% dos desempregados deixa- 65
vam essa condição no primeiro trimes- 60
55
tre de 2020, enquanto apenas 55,2% 50
2015.I
2015.II
2015.III
2015.IV
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV
2021.I
faziam essa transição no primeiro tri-
mestre de 2021. Nesse mesmo período, Trimestre (t)
Entrada desemprego Saída desemprego
o fluxo de entrada no desemprego pas- Fonte: PNAD Contínua/IBGE
sou de 77,5%, no primeiro trimestre de Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

2020, para 64,1%, no primeiro trimes-


GRÁFICO 19
tre de 2021. Transições trimestrais para fora da desocupação

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


(Em %)
O gráfico 19 nos ajuda a entender os de- 40
38,23
terminantes da queda do fluxo de saída 35 39,57
35,84
30
do desemprego ao desagregar os dados 25
de acordo com o destino do trabalhador. 20 15
16,82

É possível notar que a queda no fluxo 10 10,28

5 7,13 6,73
de saída do desemprego, no segundo tri- 0
mestre de 2020, está concentrada apenas
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV
2021.I
2015.I
2015.II
2015.III
2015.IV
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II

numa queda na chance de o trabalhador Desocupação-->Ocupado

transitar entre o desemprego e a ocupa- Desocupação-->Inativo


Desocupação---->Fora da amostra*

ção. Mas esse fluxo passa a aumentar já Fonte: PNAD Contínua/IBGE


no terceiro trimestre de 2020, quando Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Nota¹: Inclui observações na entrevista final ou que não foram encontradas
no trimestre seguinte.
o fluxo total de saída do desemprego só
não aumentou devido a uma drástica redução no fluxo daqueles que transitam
entre o desemprego e a inatividade. Por fim, vale registrar que a transição para fora
da amostra da PNAD Contínua não interfere tanto na evolução do fluxo de saída
do desemprego como influenciou o fluxo de saída da PO.

3 Análise desagregada da desocupação

A análise desagregada dos dados extraídos da PNAD Contínua trimestral revela


que, no primeiro trimestre de 2021, todos os segmentos pesquisados mostraram
aumentos das taxas de desemprego quando comparadas às registradas no mesmo
período do ano anterior (tabela 1).

11
TABELA 1
Taxa de desemprego
(Em %)
2018 2019 2020 2021
1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º
Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim. Trim.
Brasil 13,1 12,4 11,9 11,6 12,7 12,0 11,8 11,0 12,2 13,3 14,6 13,9 14,7

Centro Oeste 10,5 9,5 8,9 8,5 10,8 10,3 10,2 9,3 10,6 12,5 12,7 11,8 12,5
Nordeste 15,9 14,8 14,4 14,4 15,3 14,6 14,4 13,6 15,6 16,1 17,9 17,2 18,6
Norte 12,7 12,1 11,5 11,7 13,1 11,8 11,7 10,6 11,9 11,8 13,1 12,4 14,8
Sudeste 13,8 13,2 12,5 12,1 13,2 12,4 11,9 11,4 12,4 13,9 15,4 14,8 15,2
Sul 8,4 8,2 7,9 7,3 8,1 8,0 8,1 6,8 7,5 8,9 9,4 8,2 8,5

Masculino 11,6 11,0 10,5 10,1 10,9 10,3 10,0 9,2 10,4 12,0 12,8 11,9 12,2
Feminino 15,0 14,2 13,6 13,5 14,9 14,1 13,9 13,1 14,5 14,9 16,8 16,4 17,9

18 a 24 anos 28,1 26,6 25,8 25,2 27,3 25,8 25,7 23,8 27,1 29,7 31,4 29,8 31,0
25 a 39 anos 11,9 11,5 11,0 10,7 11,9 11,1 10,8 10,3 11,2 12,9 14,2 13,9 14,7
40 a 59 anos 7,8 7,5 6,9 6,9 7,5 7,2 7,1 6,6 7,5 8,7 9,9 9,0 9,7
Mais de 60 anos 4,6 4,4 4,5 4,0 4,5 4,8 4,6 4,2 4,4 4,8 5,1 5,0 5,7

Carta de Conjuntura
Não de Chefe Família 17,2 16,3 15,6 15,3 16,6 15,5 15,1 14,0 15,4 16,5 18,0 17,4 18,5
Chefe de Família 8,1 7,8 7,3 7,1 7,9 7,7 7,6 7,2 8,2 9,4 10,3 9,5 10,1

Fundamental Incompleto 12,0 11,4 11,0 11,0 11,3 10,9 11,1 10,4 11,1 12,9 14,0 13,0 13,4
Fundamental Completo 14,8 13,8 13,5 13,5 13,9 13,9 13,8 12,3 13,8 15,8 16,9 16,0 15,4
Médio Incompleto 22,0 21,1 20,9 19,7 22,1 20,5 20,6 18,5 20,4 22,4 24,3 23,7 24,4
Médio Completo 14,9 14,0 13,2 12,8 14,6 13,6 12,9 12,2 14,1 15,3 17,0 16,1 17,2
Superior 8,7 8,4 7,8 7,5 8,6 8,1 7,7 7,3 8,2 8,6 9,3 9,2 10,4

Região Metropolitana 14,7 14,4 13,8 13,3 14,3 13,8 13,4 12,5 13,8 15,7 17,4 16,8 17,0
Não Região Metropolitana 11,9 10,9 10,4 10,3 11,5 10,6 10,5 9,7 11,0 11,5 12,4 11,7 13,0

Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


Entre as regiões do país, observa-se que a alta do desemprego se deu de forma
generalizada, tendo em vista que, à exceção de Roraima e Amapá, todas as de-
mais Unidades da Federação registraram aumento da desocupação em 2021. Em
termos absolutos, as maiores taxas de desocupação foram verificadas em Pernam-
buco (21,3%), Bahia (21,3%), Sergipe (20,9%), Alagoas (20%) e Rio de Janeiro
(19,4%). Em relação às regiões metropolitanas e não metropolitanas, a pesquisa
mostra que houve alta do desemprego em ambos os segmentos, cujas taxas de de-
socupação passaram de 13,8% e 11,0% em 2020 para 17,0% e 13,0% em 2021.

A desagregação por gênero indica que o desemprego continua crescendo mais en-
tre as mulheres (3,4 p.p.) comparativamente aos homens (1,8 p.p.). No primeiro
trimestre de 2021, a taxa de desocupação feminina ficou em 17,9%, mantendo-se
bem acima da masculina (12,2%). Já o critério de posição familiar revela que a
taxa de desemprego entre os não chefes de família (18,5%) mantém-se bem acima
da registrada entre os chefes de família (10,1%).

No primeiro trimestre de 2021, a abertura por faixa etária mostra que a taxa de
desocupação segue bem mais elevada entre os mais jovens (31,0%), embora, na
comparação interanual, os maiores avanços no desemprego tenham ocorrido no
conjunto de trabalhadores com idade entre 25 e 39 anos (11,2% ante 14,7%). Na
outra ponta, o desemprego dos mais idosos continua sendo o menor (5,7%). En-
tre os determinantes do comportamento da desocupação, observa-se que, de uma
maneira geral, o aumento do desemprego em todas as faixas etárias se deu mais por

12
uma pressão vinda da força de trabalho do que pelo recuo da ocupação. Após regis-
trar sucessivas quedas ao longo de 2020, no primeiro trimestre deste ano, a força
de trabalho das faixas etárias mais altas já apresentam leve expansão (gráfico 20).
Em contrapartida, embora a ocupação venha reagindo em todos os segmentos, esta
ainda segue apresentando taxas de variação negativas (gráfico 21).

GRÁFICO 20 GRÁFICO 21
População Ocupada - por faixa etária População Economicamente Ativa - por faixa etária
(Variação interanual, em %) (Variação interanual, em %)

10 15

5 10

0 5

-5 0

-10 -5

-15 -10
-15

Carta de Conjuntura
-20
-25 -20
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I

2020.IV
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2020.I
2020.II
2020.III
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV

18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos

Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

De modo análogo, o recorte por grau de escolaridade também sinaliza um aumen-


to da desocupação em todos os níveis educacionais. O destaque negativo continua
sendo os segmentos dos trabalhadores com ensino médio incompleto e completo,
com taxas de desocupação avançando de 20,4% e 14,1% para 24,4% e 17,2%,

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


entre 2020 e 2021, respectivamente. No caso dos trabalhadores com ensino supe-
rior, ressalta-se que, apesar de apresentarem, em termos absolutos, o menor nível
de desemprego (10,4%), a alta de 2,2 p.p. na comparação interanual, gerou um
incremento de 26% da taxa de desocupação, fazendo com que este grupo registras-
se o maior aumento relativo entre todas as faixas pesquisadas de escolaridade. De
acordo com os gráficos 22 e 23, esta alta do desemprego entre os mais escolarizados
veio de uma expansão da força de trabalho (4,9%) em ritmo maior que o apontado
pela ocupação (2,3%). Nota-se, no entanto, que mesmo diante de uma desacele-
ração no ritmo de crescimento, a PO com ensino superior continua sendo o único
segmento a apontar taxas de variação positivas.

GRÁFICO 22 GRÁFICO 23
População Ocupada - por grau de instrução População Economicamente Ativa - por grau de instrução
(Variação interanual, em %) (Variação interanual, em %)

10 10
5 5
0 0
-5 -5
-10 -10
-15 -15
-20 -20
-25 -25
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV
2016.I
2016.II
2016.III
2016.IV
2017.I
2017.II
2017.III
2017.IV
2018.I
2018.II
2018.III
2018.IV
2019.I
2019.II
2019.III
2019.IV
2020.I
2020.II
2020.III
2020.IV

Fundamental Incompleto Fundamental Completo Fundamental Incompleto Fundamental Completo


Médio Superior Médio Superior

Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

13
4 Emprego setorial

A tabela 2 traz uma análise da variação interanual nos primeiros trimestres de 2019
a 2021 da PO por setor de atividade, por meio da PNAD Contínua, de forma a
auxiliar na compreensão do agregado desse indicador. Chama a atenção o fato de
que todos apresentaram taxas de variação interanuais negativas para o primeiro
trimestre de 2021. A exceção fica por conta das categorias agricultura e saúde e
educação, com expansão de 4,0% e 0,7%, que têm em comum ainda uma trajetó-
ria de crescimento mais marcante nos últimos dois trimestres.
TABELA 2
PO por setores – variação interanual (1º trim./2019-1º trim./2021)
(Em %)
2019.I 2019.II 2019.III 2019.IV 2020.I 2020.II 2020.III 2020.IV 2021.I
Agricultura 0,1 2,8 -2,0 -0,7 -1,9 -7,9 -2,7 2,7 4,0

Carta de Conjuntura
Indústria Transformação 0,9 0,8 1,3 3,0 1,1 -11,1 -11,9 -8,8 -6,6
Indústria Extrativa 4,6 2,2 -0,3 9,3 9,3 7,7 -6,9 -11,9 -12,7
SIUP -2,8 3,1 9,8 4,5 3,4 -12,1 -18,8 -27,1 -18,4
Construção Civil -0,3 1,0 1,3 0,2 -2,1 -19,4 -16,6 -11,8 -5,7
Comércio 0,7 1,1 0,9 1,5 -0,9 -13,0 -13,5 -10,9 -9,4
Informática, Financeira, Serviços a empresas 4,1 6,2 3,9 2,2 1,5 -4,2 -6,5 -1,2 -0,5
Transporte 4,4 4,8 6,1 3,1 1,7 -10,7 -15,5 -12,8 -11,1
Serviços Pessoais 3,9 5,7 1,8 4,5 2,1 -17,5 -20,8 -18,4 -18,5
Administração Pública 0,8 -0,3 -1,3 0,4 0,5 4,2 2,2 3,1 -2,8
Saúde e Educação 4,4 3,6 2,6 1,7 4,7 1,1 -3,7 -0,4 0,7
Alojamento e Alimentação 3,1 4,4 2,2 5,2 -1,3 -26,1 -29,9 -27,7 -26,1
Serviços Domésticos -1,3 1,3 1,4 2,1 -2,2 -24,7 -26,5 -22,3 -17,3

Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


Seguindo a tendência delineada ao longo do período de pandemia (Azevedo et al.,
2020),3 a queda foi mais intensa nos segmentos de serviços, particularmente nas
categorias alojamento e alimentação (26,1%), serviços pessoais (18,5%) e serviços
domésticos (17,3%), plausivelmente como reflexo das medidas de distanciamento
social e da adoção de trabalho remoto, bem como da queda da renda familiar ve-
rificada nesse ínterim. Outro destaque negativo a ser incluído nesta lista é o setor
de Serviços Industriais de Utilidade pública (SIUP), que registrou uma queda de
18,4% do contingente de ocupados no primeiro trimestre de 2021, quando com-
parado ao mesmo trimestre do ano anterior.

Em contrapartida, apesar de ainda apresentarem retração da PO, os setores de in-


dústria de transformação, construção, comércio, transporte, bem como dos servi-
ços de informação, comunicação e atividades financeiras e imobiliárias vêm redu-
zindo suas taxas de retração da ocupação.

Vale ainda salientar o comportamento do setor de administração pública, que após


apresentar taxas de variação interanuais positivas no emprego para todo o ano de
2020, inclusive, e até de modo mais intenso, durante a pandemia, registrou uma
queda de 2,8% no 1º trimestre de 2021.

A tabela 3 mostra a variação interanual da PO de cada setor no primeiro trimestre


de 2021 por tipo de vínculo, assim como essa mesma taxa usando os saldos acumu-

3. Disponível em <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/201208_cc_49_nota_27_evolucao_do_emprego.pdf>.

14
lados do Novo Caged no período.4 Observa-se que o emprego informal foi o mais
afetado no período, com todos os setores apresentando taxas de variação interanu-
ais negativas para os vínculos sem carteira – especialmente no âmbito dos segmen-
tos de alojamento e alimentação (-21,2%), serviços pessoais (-20,9%), transporte
(-21,3%) e saúde e educação (-19,7%).

TABELA 3
PO por setores e posição na ocupação: variação interanual (1º trim./2021)
(Em %)
Caged Com Carteira Sem Carteira Conta-Própria

TOTAL 1,9 -7,3 -12,2 -1,3

Agricultura 7,5 -9,9 -3,1 15,8


Indústria Transformação 3,6 -7,8 -8,9 0,6
Indústria Extrativa 2,2 -12,2 -13,8 -39,0
SIUP 0,6 -18,7 -2,8 -26,5

Carta de Conjuntura
Construção Civil 12,5 -7,3 -5,7 -4,3
Comércio 2,7 -11,7 -8,5 -6,0
Informática, Financeira, Serviços a empresas 5,2 -4,1 -3,6 12,5
Transporte -1,7 -12,4 -21,3 -7,5
Serviços Pessoais -4,6 -25,6 -20,9 -13,8
Adm. Pública -0,2 0,5 -15,2 -
Saúde e Educação 0,6 3,0 -19,7 26,9
Alojamento e Alimentação -12,5 -33,3 -21,2 -19,0
Serviços Domésticos 0,0 -18,0 -17,1 -
Fonte: PNAD Contínua/IBGE; Novo Caged/Ministério da Economia.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Notas:
¹ A variação percentual foi obtida utilizando a população de empregados com carteira, militares e estatutários estimada pela PNAD Contínua para normalização.
² Empregados com carteira, militares e estatutários.

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


³ Empregados sem carteira e trabalhador auxiliar familiar sem remuneração.

Cumpre destacar que, nos dois primeiros recortes supracitados, além de a retração
ter sido constatada para todas as formas de inserção no mercado, ela ocorreu de
forma mais expressiva para os trabalhadores com carteira: -33,3% em alojamento
e alimentação e -25,6% para serviços pessoais. O mesmo comportamento, em me-
nor escala, é observado para serviços domésticos, com queda de 20,9% nos víncu-
los formais e 18,0% no assalariamento sem carteira. Para além dessas categorias, os
segmentos de SIUP (-18,7%), transporte (-12,4%), indústria extrativa (-12,2%)
e comércio (-11,7%) também registraram quedas expressivas para o vínculo com
carteira.

Já no vínculo dos trabalhadores por conta própria, as variações mais expressivas


ocorrem em setores com poucos trabalhadores com esse tipo de vínculo (indústria
extrativa e SIUP), devendo, portanto, ser relativizadas. Enquanto isso, agricultura e
saúde e educação apresentaram crescimento expressivo de 15% e 26%, respectiva-
mente, representando aproximadamente 500 mil novos ocupados para o primeiro
e 210 mil para o segundo no período.

Outro ponto que chama a atenção na tabela 3 é o panorama bem mais favorável
para o emprego formal retratado pelo Novo Caged do que pela PNAD Contínua.
Segundo aqueles registros administrativos, a maioria dos setores apresentou expan-

4. Para possibilitar uma comparação entre os valores da PNAD Contínua e do Novo Caged, os saldos deste último foram, como de costume,
normalizados pela população estimada de trabalhadores com carteira de trabalho do primeiro trimestre de 2020.

15
são no período. Apenas transporte, serviços pessoais e alojamento e alimentação
sofreram quedas e ainda assim em níveis menores que o estimado pela pesquisa
domiciliar. Essas diferenças são contrastantes para o caso da construção civil, que
tem uma expansão para os vínculos com carteira de 12,5% no Novo Caged e uma
contração de 7,3% conforma a PNAD Contínua. Esse desempenho mais favorável
do emprego formal no Novo Caged foi estudado com mais detalhes em Corseuil e
Russo,5 que o atribuem em boa medida à mudança nas entrevistas da PNAD, que
por força da pandemia passaram a ser feitas por telefone e não mais por visitas aos
domicílios.

O gráfico 24 mostra a taxa de variação interanual da PO estimada pela PNAD


Contínua desagregada segundo a classificação de dois dígitos da Classificação Na-
cional de Atividades Econômicas (CNAE). Cada coluna representa uma das 87
atividades da CNAE, e as suas cores indicam a qual dos grandes setores da econo-

Carta de Conjuntura
mia elas pertencem.

GRÁFICO 24
PNAD Contínua: taxa de crescimento da ocupação por setores e atividades desses setores (1º trim./2021-1º trim./2020)
(Em %)

1,00
0,75
0,50
0,25
0,00
-0,25

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


-0,50
-0,75
-1,00

Agricultura/Pecuária/Pesca Indústria (Extrativa e Transformação) Construção Comércio Serviços

Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Nota¹: Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo com a CNAE).

Desse total de atividades, apenas 25 ti- GRÁFICO 25


PNAC Contínua: taxas de crescimento da ocupação nas
veram variação positiva no ano. Entre atividades do setor de serviços
elas destacam-se aquelas do setor de ser- 0,6
viços e, em menor escala, da indústria.
0,4
No outro extremo, atividades relaciona-
das a serviços predominam entre as que 0,2

experimentaram maior retração da PO. 0,0


Em função disso são destacadas as seguir
-0,2
as taxas de variação dos ramos de ativi-
dade deste setor. -0,4

-0,6
O gráfico 25 informa que a incidência
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
de quedas na ocupação prevalece sobre Nota¹: Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo
com a CNAE).
os crescimentos ao logo dos segmentos
de atividade econômica dentro do setor de serviços. Examinando os grupos que
apresentaram as variações mais extremadas do emprego, na tabela 4, constata-se:

5. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/210318_cc_50_nota_22_amostra_da_pnad_continua.


pdf>.

16
i) a presença de uma gama de atividades beneficiadas pelo distanciamento social e
trabalho remoto – como serviços de entrega, financeiros e de tecnologia da infor-
mação – entre aqueles que mais cresceram; e ii) de forma não tão clara, o apareci-
mento de alguns ramos afetados negativamente pela pandemia, como atividades
artísticas e transporte aquaviário, entre os que experimentaram maiores contrações.

TABELA 4
PNAD Contínua: maiores variações do emprego formal nas atividades do setor de serviços

Maiores crescimentos taxa Menores crescimentos taxa

Aluguéis não imobiliários e gestão de ativos


Correio e outras atividades de entrega 39,3% -37,3%
intangíveis não financeiros
Atividades auxiliares dos serviços financeiros, seguros,
33,5% Transporte aquaviário -49,7%
previdência complementar e planos de saúde
Organismos internacionais e outras instituições
Atividades dos serviços de tecnologia da informação 25,8% -51,7%
extraterritoriais
Atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental 23,9% Atividades artísticas, criativas e de espetáculos -56,9%

Carta de Conjuntura
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

GRÁFICO 26
PNAD Contínua: taxa de crescimento do emprego formal1 por setores e atividades desses setores (1º trim./2021-1º
trim./2020)
(Em %)
1,00
0,75
0,50
0,25
0,00

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


-0,25
-0,50
-0,75
-1,00

Agricultura/Pecuária/Pesca Indústria Construção Comércio Serviços

Fonte: PNAD Contínua/IBGE.


Elaboração: Ipea.
Notas:
¹ Empregados do setor privado e público. Inclui empregados domésticos e estatutários.
² Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo com a CNAE).

O gráfico 26 enfoca a variação no em- GRÁFICO 27


PNAD Contínua: crescimento do emprego formal nas
prego com carteira segundo a PNAD atividades do setor de serviços
Contínua, que também capta uma que-
1,0
da na maioria dos grupos de atividade 0,8
econômica. Uma vez mais, a incidência 0,6

de quedas é bem superior aos casos de 0,4


0,2
expansão da ocupação, e os setores de
0,0
serviços e indústria parecem ser os do- -0,2
minantes nos dois extremos, não obs- -0,4

tante a maior presença do comércio en- -0,6


-0,8
tre os casos de retração.
-1,0

No setor de serviços, as categorias ati- Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.


Nota¹: Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo
vidades esportivas e lazer; atividades ar- com a CNAE).

17
tísticas; e agências de viagem apresentaram quedas superiores a 40% no nível do
emprego com carteira, reflexo direto das medidas de enfrentamento da pandemia.
Entre as que mais cresceram, a exemplo do ocorrido para o total do emprego, en-
contram-se atividades estimuladas por essas medidas, como aquelas ligadas aos ser-
viços de tecnologia da informação e serviços financeiros. As diferenças em relação
ao verificado para o emprego ficam por conta da ausência de serviços de entrega
entre os segmentos com maior taxa de crescimento, o que reforça a percepção da
precariedade dos postos de trabalho aí gerados, e a associação mais clara entre as
restrições impostas pela pandemia e os segmentos mais negativamente afetados.

TABELA 5
PNAC Contínua: maiores variações do emprego formal nas atividades do setor de serviços

Maiores crescimentos taxa Menores crescimentos taxa

Atividades de serviços de tecnologia da informação 36,3% Atividades artísticas, criativas e de espetáculos -41,6%

Carta de Conjuntura
Atividades auxiliares dos serviços financeiros, seguros, Agências de viagens, operadores
35,4% -41,6%
previdência complementar e planos de saúde turísticos e serviços de reserva
Outras atividades profissionais, científicas e técnicas 20,5% Atividades esportivas e de recreação e lazer -44,7%
Serviços de assistência social sem alojamento 15,5% Transporte aquaviário -45,5%

Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

O gráfico 28 mostra a variação interanual do emprego para o primeiro trimestre


de 2021 usando os saldos do Novo Caged, normalizados pelo respectivo total de
empregados com carteira da PNAD Contínua. O comportamento do mercado de
trabalho formal é consideravelmente diferente do estimado pela PNAD Contínua,
com a maioria dos grupos de atividade econômica (54 de 86) registrando cresci-

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


mento. Vale destacar que no caso do setor de comércio chegou até a haver reversão
no resultado, com a indicação de um saldo de mais de 214 mil novos vínculos,
equivalente a um crescimento de 3%, no Novo Caged, comparado a uma queda de
810 mil postos de trabalho na PNAD Contínua. Uma vez mais, o setor de serviços
está super-representado nos extremos da distribuição das variações do emprego
com carteira e será examinado mais de perto em seguida.

GRÁFICO 28
Taxa de crescimento dos vínculos formais por setores e atividade desses setores: saldo do Novo Caged e população
empregada estimada da PNAD Contínua (1º trim./2021-1º trim./2020)
(Em %)
0,6

0,4

0,2

0,0

-0,2

-0,4

-0,6

Agricultura/Pecuária/Pesca Indústria Construção Comércio Serviços

Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.


Nota¹: Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo com a CNAE).

18
O gráfico 29 mostra um comportamento GRÁFICO 29
Novo Caged: crescimento do emprego nas atividades do
do crescimento do emprego segundo os setor de serviços
grupos de atividade no setor de serviços 0,6
bastante distinto daquele retratado pela
0,4
PNAD Contínua, no sentido em que
se observa praticamente uma igualdade 0,2

entre os segmentos que experimentaram 0,0


crescimento e aqueles que apresentaram
quedas no nível do emprego formal. -0,2
Todavia, a composição dos grupos que -0,4
sofreram maiores/menores crescimentos -0,6
mostrada na tabela é bastante similar e Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
corrobora as impressões inferidas a par- Nota¹: Cada barra do gráfico refere-se a uma atividade econômica (de acordo
tir da PNAD Contínua. Isto pode ser como um indicador de que as diferenças

Carta de Conjuntura
quantitativas entre as duas bases não se traduzem em disparidades na captação de
mudanças na estrutura do emprego no setor.

TABELA 6
Novo Caged: maiores variações do emprego nas atividades do setor de serviços
Maiores crescimentos taxa Menores crescimentos taxa

Atividades de prestação de serviços de informação 19,5% Transporte aéreo -16,8%


Serviços de escritório, de apoio administrativo e outros Atividades cinematográficas, produção de vídeos e de
18,8% -18,0%
serviços prestados a empresas programas de televisão; gravação de som e de música
Agências de viagens, operadores turísticos
Seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra 15,4% -22,8%
e serviços de reservas

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


Atividades de consultoria em gestão empresarial 13,2% Serviços de assistência social sem alojamento -40,0%
Atividades auxiliares dos serviços financeiros, seguros, Organismos internacionais e outras instituições
12,6% -43,8%
previdência complementar e planos de saúde extraterritoriais

Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

19
Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac):

José Ronaldo de Castro Souza Júnior (Diretor)


Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti (Diretor Adjunto)

Corpo Editorial da Carta de Conjuntura:

José Ronaldo de Castro Souza Júnior (Editor)


Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti (Editor)
Estêvão Kopschitz Xavier Bastos
Fábio Servo
Francisco Eduardo de Luna e Almeida Santos
Leonardo Mello de Carvalho
Maria Andréia Parente Lameiras
Mônica Mora Y Araujo de Couto e Silva Pessoa
Paulo Mansur Levy
Sandro Sacchet de Carvalho

Carta de Conjuntura
Pesquisadores Visitantes:

Ana Cecília Kreter


Andreza Aparecida Palma
Cristiano da Costa Silva
Sidney Martins Caetano
Tarciso Gouveia da Silva

Equipe de Assistentes:

| 51 | Nota 32 | 2˚ trimestre de 2021


Caio Rodrigues Gomes Leite
Carolina Ripoli
Felipe dos Santos Martins
Felipe Moraes Cornelio
Felipe Simplicio Ferreira
Marcelo Lima de Moraes
Pedro Mendes Garcia
Rafael Pastre
Tarsylla da Silva de Godoy Oliveira

Design/Diagramação:

Augusto Lopes dos Santos Borges


Leonardo Simão Lago Alvite

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exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou
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