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DPC

NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS

Rio de Janeiro
Elisabeth Lasala Cidral
2020
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Copyright© by Fundação de Estudos do Mar

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Negociações Internacionais. Organizadora Elisabeth Lasala Cidral – Rio de


Janeiro: FEMAR, 2020.
60 p.
ISBN: 978-65-88456-32-3
Compilação de textos selecionados para a Fundação de Estudos do Mar para
servir como material didático do Curso de Negociações Internacionais.

2020

Fundação de Estudos do Mar – FEMAR


Escola Técnica de Estudos do Mar - ETEMAR
Rua Marquês de Olinda, 18 – Botafogo
22251-040 – Rio de Janeiro, RJ
Tel.: (21) 3237-9500
e-mail: biblioteca@fundacaofemar.org.br
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

1 AMBIENTE DE NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL 6

2 MARKETING INTERNACIONAL 8
2.1 FUNÇÃO DO MARKETING INTERNACIONAL 9
2.2 EXEMPLO DE EQUÍVOCOS NO MARKETING INTERNACIONAL 10
2.3 DICAS PARA EVITAR GAFES EM ALGUNS PAÍSES 10
2.4 EXEMPLO DE MARKETING INTERNACIONAL CRIATIVO E EFICAZ 12

3 GLOBALIZAÇÃO 13
3.1 COMÉRCIO INTERNACIONAL NA GLOBALIZAÇÃO 14
3.2 ALGUNS ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO 14

4 INCOTERMS 16
4.1 FUNÇÃO DOS INCOTERMS 17
4.2 INCOTERMS® 2020 17

5 ACORDOS INTERNACIONAIS 22
5.1 ACORDOS DOS QUAIS O BRASIL É PARTE 25
5.2 ACORDOS EM NEGOCIAÇÃO 26

6 ALADI 27
6.1 PROCEDIMENTOS PARA EXPORTAÇÃO AO AMPARO DE ACORDOS
COMERCIAIS 28
6.2 CERTIFICADO DE ORIGEM 28

7 IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 30

8 OMC – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO 33


8.1 HISTÓRIA DA OMC 33
8.2 GATT - ACORDO GERAL DE TARIFAS E COMÉRCIO 34
8.3 ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO 35
8.4 PRINCÍPIOS DA OMC 35

9 BLOCOS ECONÔMICOS 38
9.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS BLOCOS ECONÔMICOS 38
9.2 TIPOS DE BLOCOS ECONÔMICOS 39
9.3 PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS 41

10 CRISES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS 46


10.1 A GRANDE DEPRESSÃO – 1929 47
10.2 A CRISE DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS – 1980 48
10.3 A CRISE MEXICANA – 1994 48
10.4 A CRISE ASIÁTICA – 1997 49
10.5 A CRISE RUSSA – 1998 50
10.6 A CRISE DO SUBPRIME (BOLHA IMOBILIÁRIA) – 2008 50
10.7 A CRISE MUNDIAL DEVIDO A PANDEMIA DO CORONA VÍRUS – 2020 51
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11 RISCO PAÍS 53

12 INTERNACIONALIZAÇÃO 54
12.1 COMO FAZER A INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA? 56

13 BARREIRAS COMERCIAIS 58
13.1 BARREIRAS TARIFÁRIAS 58
13.2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 61
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INTRODUÇÃO
A Negociação Internacional é a etapa inicial para o comércio de bens ou de
serviços. Consiste na tratativa entre diferentes partes com o objetivo de facilitar e
atender as necessidades dos envolvidos. As negociações possibilitam um melhor
entendimento para firmar um acordo ou contrato internacional.
Em um mundo globalizado, com grandes nações, as negociações
internacionais se tornam cada vez mais competitivas. Os atores e agentes
internacionais necessitam entender o comércio internacional e sua política econômica,
e ter habilidades estratégicas de negociação, que integram conhecimento analítico,
interpessoal, organizacional, diplomático entre outros.
O objetivo desta apostila é servir de base para o curso de Negociações
Internacionais com foco no Comércio de Bens e Serviços Internacionais, e ajudar os
participantes a buscar os caminhos no entendimento deste cenário internacional de
negociações.
Em nosso mundo dinâmico, é fundamental que você esteja permanentemente
atualizando seus conhecimentos, quer seja em leituras pela internet ou buscando
novas e mais completas obras sobre o assunto. A lista de indicações de websites e
bibliografia ao final da apostila pode servir de orientação a essa constante e
necessária atualização.
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1. AMBIENTE DE NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL


A negociação internacional não deve ser apenas uma simples tratativa de
compra e venda de mercadorias ou serviços. Além do conhecimento em Comércio
Exterior é necessário usar estratégias e técnicas para o sucesso da negociação.
A seguir alguns pontos importantes que podem contribuir para obter uma boa
negociação:

a) Planejamento e elaboração da negociação internacional


Planejar é importante para uma boa negociação internacional. Quando se
importa ou exporta um produto é importante elaborar estratégias que viabilizem a
lucratividade do negócio, sendo importante considerar:

 Câmbio, variação de taxa;


 Custos diversos com fornecedores, mão de obra etc.;
 Estimativa dos tempos entre negociação e fechamento do negócio;
 Viabilização logística.

b) Diferenças culturais na negociação internacional


A cultura diverge muito de um país para outro, então é importante entender as
crenças e valores do país o qual vai se negociar. Respeitar a cultura, os hábitos e a
religião é de suma importância, pois fatores culturais podem ser uma barreira numa
negociação, e um erro de interpretação pode colocar fim em uma parceria promissora.
Existem inúmeros exemplos e relatos de gafes em uma negociação por conta
da falta de conhecimento sobre as diferenças culturais, hábitos ou costumes.
Não conhecer o idioma também pode ser uma barreira num encontro de
negócios, além disto é necessário ser cauteloso com a entonação da voz, com gestos
exagerados, vestimentas e comportamentos que podem conflitar com a cultura do
país que se quer fazer negócios. Existem empresas especializadas em negociações
internacionais que prestam serviços de assessoria, proporcionando uma negociação
mais assertiva entre as partes nos temas que mais geram problemas:

 Idioma;
 Religião;
 Hábitos, costumes e comportamento.
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c) Conhecer o fornecedor
Prepare-se para uma negociação bem-sucedida, comprar de um fornecedor
idôneo ou não pode definir o sucesso do seu negócio.
Importante analisar alguns itens além da qualidade do produto:

 Consulte o site institucional e outras fontes de divulgação do fornecedor;


 Pesquise se há reclamações deste fornecedor;
 Buscar informações com quem já comprou anteriormente;
 Capacidade de comercialização;
 Cumprimento de prazos.

d) Facilitar a negociação, ser flexível


Prepare-se para uma negociação bem-sucedida, comprar de um fornecedor
idôneo ou não pode definir o sucesso do seu negócio.

e) Legislação aduaneira, tributação


Cada país tem sua característica própria de negociação, o Brasil é conhecido
por tributos e burocracias em excesso, apesar de nos últimos anos muitos órgãos
anuentes terem automatizado e diminuído muitas destas burocracias, ainda há muitos
processos que necessitam ser desburocratizados.
Para uma boa negociação internacional é importante considerar que cada país
tem leis e formas diferentes de tributação. Importante se certificar de dois aspectos:
 Existência de acordos entre os países o qual se quer negociar;
O Brasil possui vários acordos bilaterais ou multilaterais com diversos países,
o que viabiliza a negociação e a escolha de um fornecedor e parceiro comercial.
 Barreiras comerciais ou barreiras técnicas;
Assim como acordos bilaterais ou multilaterais entre nações viabilizam
negociações internacionais, os embargos comerciais podem atrapalhar, sendo
importante a verificação prévia de possíveis barreiras entre o Brasil e o país o
qual se quer negociar, a fim de fechar um negócio ou parceria promissora.

Entrar no mercado internacional representa uma excelente oportunidade de


expansão para uma empresa, onde pode aumentar sua lucratividade e
competitividade, não ficando na dependência exclusiva do mercado interno.
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2. MARKETING INTERNACIONAL1
O marketing internacional é um conjunto de estratégias que consiste em
planejar, promover, divulgar e se adaptar à realidade de consumidores de outro país,
com cultura e comportamento muitas vezes diferente da realidade do mercado
nacional.
É necessário identificar as diferenças, vantagens e desvantagens e definir
quais as metas e objetivos deseja alcançar neste novo mercado. Expandir as
atividades de uma empresa para além das fronteiras de um país requer estudo e uma
série de procedimentos. Para ter sucesso no marketing internacional, é preciso
identificar com precisão a cultura e os padrões de comportamento desse novo público
que se deseja alcançar. Se assim for feito, o seu negócio venderá mais, crescerá e
obterá uma grande projeção no mercado.
Marketing é função gerencial de extrema relevância para as empresas
modernas, não é uma ciência pura como a Matemática, na qual dois mais dois são
quatro em qualquer momento ou lugar do mundo, e suas técnicas devem levar em
conta as peculiaridades do tempo, do espaço e da cultura onde são aplicadas, o
marketing é como um software: seu funcionamento adequado exige compatibilidade
com seu respectivo sistema operacional. Em outras palavras, é necessário considerar
as preferências dos usuários.
São muitos os desafios para conseguir sucesso no mercado internacional, mas
há muitas vantagens na integração com outros países permitindo a globalização da
empresa, além de outros fatores importantes como:
 Troca de experiências, melhoria na expertise do negócio;
 Competitividade;
 Ampliação da cartela de clientes;
 Oportunidades de fidelização dos clientes;
 Possibilidades de aumento de produtividade, capacidade comercial;
 Chances maiores de lucros.
Aplicar o Marketing global na prática é algo que exige muito estudo do mercado
internacional, um bom negócio não depende somente de aspectos econômicos local,

1 Baseado em: https://administradores.com.br/artigos/a-importancia-do-marketing-internacional


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é importante analisar o cenário econômico tanto no Brasil como no país que se quer
negociar.
Cada país tem sua própria tributação, estudar e entender esta legislação
tributária pode viabilizar a implantação de um processo mais lucrativo, baseado nos
estudos de impostos que podem ser menores e mais vantajosos.
Além disto, toda empresa que negocia internacionalmente precisa entender as
tratativas no país que se quer vender ou negociar, sendo necessário considerar
também alguns itens como:
a) Possuir escritório próprio;
b) Ter condições de atendimento pós-venda;
c) Licenciamento da marca;
d) Transferência tecnológica;
e) Centro de distribuição;
f) Lojas próprias;
g) Centro de pesquisa e desenvolvimento;
h) Franquias;
i) Capacidade produtiva.

O marketing internacional ou global, inicia pelo marketing genérico e em


seguida distinguir as particularidades do marketing na sua versão internacional. Pode-
se afirmar que do ponto de vista internacional o marketing se diferencia do marketing
local em relação ao mercado-alvo a ser atendido, que passa a ser em um outro país,
pois a maioria dos demais componentes do marketing é equivalente.
No entanto, existe a necessidade de adaptação, pois as estratégias deverão
ser adequadas às características de cada nação em particular, em seus aspectos
econômicos, socioculturais, políticos/legais, financeiros e tecnológicos.

2.1 FUNÇÃO DO MARKETING INTERNACIONAL


A principal função do marketing internacional é realizar atividades
mercadológicas e gerenciar o fluxo de bens ou de serviços desde uma empresa até
aos seus consumidores ou usuários, em mais de um país, levando-se em conta a
diversidade cultural, racial e social de cada região ou pais. Esta função teve início nos
primórdios da era mercantilista, quando começou a haver movimentos comerciais
entre nações. Claro que, nesta época, não havia uma ciência organizada para orientar
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esta atividade. Como exemplo do início da expansão do mercado além das fronteiras
nacionais, podemos citar a época das grandes navegações, quando os navegadores
marítimos exploravam as rotas para as Índias.

2.2 EXEMPLO DE EQUÍVOCOS NO MARKETING INTERNACIONAL


Após o grande sucesso da “China in Box” no Brasil, esta empresa resolveu
expandir suas operações para a Argentina, realizando as mesmas estratégias de
mercado utilizadas no Brasil. Resultado: obteve um grande prejuízo, pois o
comportamento do consumidor argentino provou-se bastante diferente do brasileiro e
exigia adaptação, o que não foi feito à época desta operação.

2.3 DICAS PARA EVITAR GAFES EM ALGUNS PAÍSES2


→ China
Sair da sala primeiro, após uma reunião com uma comitiva de chineses. Os
membros da comitiva devem ter a prioridade para deixar a sala. No protocolo chinês,
a precedência é sempre da própria comitiva chinesa.
Cumprimentar com abraços e beijos. Preferir sempre o aperto de mão.
Deixar as varetas dentro da vasilha de comida e não deixar um só grão no
prato. É indicado deixar um pouco de comida para não dar a impressão de que ainda
está com fome e as varetas devem ser apoiadas ao lado da vasilha.
→ Reino Unido
Vestir camisas sociais com bolso. Se a camisa tiver bolso, melhor deixá-lo
sempre vazio.
Apostar em contato olho no olho. Olhar as pessoas diretamente nos olhos pode
ser invasivo. A regra é olhar para o conjunto do rosto.
Erguer um brinde sem ser a pessoa mais velha da mesa. Vale lembrar que, no
mundo empresarial, é a pessoa mais importante na hierarquia quem propõe o brinde.
→ Estados Unidos
Dar presentes ou brindes caros a clientes e parceiros de negócios. A norma
adotada pela maioria das empresas é o teto de 100 dólares.

2 Baseado em: https://exame.com/carreira/as-gafes-que-voce-pode-cometer-ao-fazer-negocios-em-9-


paises/ e https://www.uol.com.br/nossa/viagem/noticias/2019/10/17/choque-cultural-no-exterior-saiba-
como-evitar-gafes-na-hora-da-refeicao.htm
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Não querer falar de negócios em refeições. Nos Estados Unidos, reunião de


negócios pode ser feita em qualquer refeição: café- da-manhã, almoço ou jantar.
→ Japão
Falar "tin-tin" na hora de brindar antes ou durante uma refeição. No Brasil, é
comum dizer, mas no Japão, este termo pode deixar as pessoas à sua volta com muita
vergonha, pois no Japão, "tin-tin" é sinônimo de pênis. Na hora do brinde, é comum
usar a palavra "kanpai", algo correspondente ao nosso habitual: "saúde”.
→ Países mulçumanos
Em países de grande população muçulmana, é muito importante tomar cuidado
se for convidado para comer na casa de alguém. Os seguidores do islamismo não
costumam beber álcool: pode ser ofensivo se a visita aparecer na porta do seu
anfitrião trazendo aquela tradicional garrafa de vinho (gesto que, no Brasil, é de bom
tom). É melhor chegar com doces ou alguma outra coisa gostosa para a sobremesa.
→ Garçons mal-humorados na Europa
Não é lenda: na Europa, em países como França, Itália e Áustria, é comum que
garçons tratem de maneira fria (e, às vezes, até rude) os clientes dos seus
restaurantes. Não raro, eles anotam os pedidos e trazem a comida como se
estivessem fazendo um favor ao freguês. Muitos brasileiros, acostumados com o
atendimento mais amigável que ocorre no território verde e amarelo, ficam chocados,
bravos ou constrangidos com isso. Mas o segredo é relevar este tipo de atitude e não
deixar que ela estrague o momento da refeição.
→ Evitar discussões políticas
No Brasil, principalmente nos dias de hoje, é normal que as conversas à mesa
do almoço ou jantar terminem em acaloradas discussões envolvendo política. Mas, ao
viajar para países pouco ou nada democráticos, deve-se evitar falar sobre os líderes
políticos locais se for comer com algum nativo (seja na casa dele ou em um
restaurante). No Egito, por exemplo, as pessoas têm receio de mencionar qualquer
coisa negativa sobre o autoritário presidente do país, Abdel Fattah el-Sisi. Já na
Tailândia, é possível arranjar uma briga se falar mal ou gracejar sobre o falecido rei
da nação asiática, Bhumibol Adulyadej, extremamente respeitado por parte da
população.
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2.4 EXEMPLO DE MARKETING INTERNACIONAL CRIATIVO E EFICAZ3


No mundo corporativo há muitos exemplos positivos de marketing internacional
criativo e eficaz. Um bom exemplo é o Google, empresa extremamente criativa e bem-
posicionada no mercado internacional, dona de um posicionamento invejável no setor
de sites de buscas, capaz de superar com larga vantagem empresas bilionárias como
a Microsoft e Yahoo neste mercado. É um exemplo clássico de uma corporação que
sabe “pensar globalmente e agir regionalmente”. Para quem observa atentamente o
site do Google, pode-se perceber que sua logomarca sofre frequentemente alterações
para se adaptar as particularidades culturais de cada país ou região. Por exemplo,
aqui no Brasil, no dia 7 de setembro, dia da Independência brasileira, o Google
modifica sua logomarca para representar este importante acontecimento nacional. O
mesmo ocorre em outras datas como São João, Dia das Mães e Natal.
Sua estratégia é simples: ela se adapta à cultura do país, não apenas
respeitando cada povo, mas aproveitando para homenageá-lo nas datas
comemorativas. Este sim é um exemplo de uma estratégia criativa e eficaz.

3 Baseado em: https://administradores.com.br/artigos/a-importancia-do-marketing-internacional


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3. GLOBALIZAÇÃO4
Com o fim da guerra fria, ocorreu o início do movimento denominado
Globalização. Este movimento ocorreu a partir da queda do muro de Berlim, em
novembro de 1989, e após a dissolução da ex-URSS, em dezembro de 1991, a
globalização dos mercados teve um grande impulso. Estes acontecimentos históricos
geraram o crescimento do mercado entre nações e consequentemente o
desenvolvimento das atividades de marketing que pudessem atender estes novos
clientes oriundos de outros países, e de culturas e costumes diferentes.
É possível dizer que o mundo só conheceu a globalização de fato depois que
os europeus desbravaram os quatro oceanos e descobriram a América e a Oceania.
Afinal, só então que o globo, raiz da palavra globalização, foi inteiramente explorado.
O termo é usado, porém, para se referir ao aprofundamento do comércio e
operações internacionais, principalmente a partir dos anos 1990, quando a informática
começou a tomar conta das empresas e lares. Hoje, o mundo está mais conectado
que nunca, e as tecnologias ampliam cada vez mais as capacidades de produção e
distribuição.
O que traz a um cenário de domínio dos mercados financeiros em escala global
e redução das funções e papéis dos estados nacionais, é um contexto que redefine
as formas e métodos de competição no mercado mundial. Ou seja, o universo do
comércio e operações internacionais se expandiu e as empresas precisam de
profissionais com bom conhecimento nessa área.
Figura 1 – GLOBALIZAÇÃO

Fonte: Brasil Escola

4 Baseado em: https://fia.com.br/blog/comercio-e-operacoes-internacionais/


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A globalização permite uma conexão maior entre diferentes pontos do planeta,


permitindo o compartilhamento das mesmas ideias e características. Diante disso,
nasce a ideia de Aldeia Global, ou seja, um mundo globalizado onde tudo está
interligado.

3.1 COMÉRCIO INTERNACIONAL NA GLOBALIZAÇÃO5


Qual é a diferença que existe entre o comércio interno e comércio externo?
Os próprios termos são autoexplicativos: é chamado de comércio interno o conjunto
de transações que ocorrem entre empresas e consumidores dentro do mesmo país,
ao passo que comércio externo se refere as operações internacionais entre um ou
mais países. Importante salientar que se engana quem pensa que, para atuar na área
de comércio e operações internacionais, seja qual for a organização, não é preciso
saber nada sobre o mercado interno, pelo contrário, pois cada país tem abundâncias
e carências em determinados tipos de produtos e serviços.
Um empresário pode identificar, por exemplo, que a produção interna em
determinado produto não consegue atender completamente à demanda do público
consumidor e, a partir daí, firmar uma parceria de importação com um fornecedor
externo.
As importações cumprem uma função indispensável, elas permitem ao país
acessar tecnologias e insumos em condições vantajosas. Isso contribui com a
competitividade, bem-estar e a inserção de um país no mundo, quando o país importa,
os maiores beneficiados são os compradores.
O comércio internacional permite que os povos troquem entre si o que podem
oferecer de melhor, gerando riquezas, conhecimento e cooperação, é um acordo em
que todos vencem. A globalização e o comércio são o caminho do crescimento, é por
eles que a contribuição dos povos pode chegar aos lugares e trazer benefícios
mútuos. Com eles, os povos se entendem e se aproximam, levando prosperidade as
nações.

3.2. ALGUNS ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO6


No caso do comércio exterior, uma das consequências foi o estabelecimento

5 Baseado em: https://fia.com.br/blog/comercio-e-operacoes-internacionais/


6 Baseado em: https://administradores.com.br/artigos/a-importancia-do-marketing-internacional
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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

de blocos econômicos, e áreas de livre comercio como a União Europeia, o Nafta, e


Mercosul. Todos estes fatores interferem fortemente no marketing internacional, e
criam algumas nuances nas relações entre nações e empresas que disputam espaço
no mercado internacional.
É preciso fazer um estudo sobre cada país individualmente, sua cultura,
economia, política, leis e normativos, regras de marcas, patentes, licenciamento e
câmbio. Cada variável destas pode facilitar ou dificultar o processo de marketing
internacional. Analisando cada ambiente, para que a cultura de um país possa ser
respeitada pelos profissionais de marketing e para que se possa obter sucesso nos
negócios.
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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

4. INCOTERMS7
Os chamados Incoterms (International Commercial Terms / Termos
Internacionais de Comércio) servem para definir, dentro da estrutura de um contrato
de compra e venda internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e
do importador, estabelecendo um conjunto padronizado de definições e determinando
regras e práticas neutras, como por exemplo: onde o exportador deve entregar a
mercadoria, quem paga o frete, quem é o responsável pela contratação do seguro.
Enfim, os Incoterms têm esse objetivo, uma vez que se trata de regras
internacionais, imparciais, de caráter uniformizador, que constituem toda a base dos
negócios internacionais e objetivam promover sua harmonia.
Na realidade, não impõem e sim propõem o entendimento entre vendedor e
comprador, quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do local
onde é elaborada até o local de destino final (zona de consumo): embalagem,
transportes internos, licenças de exportação e de importação, movimentação em
terminais, transporte e seguro internacionais etc.

Figura 2 - INCOTERMS

Fonte – aprendendoaexportar.gov.br
Os Incoterms surgiram em 1936, quando a Câmara Internacional do Comércio

7 Baseado em: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/index.php/negociando-com-


importador/incoterms
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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

- CCI, com sede em Paris, interpretou e consolidou as diversas formas contratuais que
vinham sendo utilizadas no comércio internacional.
O constante aperfeiçoamento dos processos negocial e logístico, com este
último absorvendo tecnologias mais sofisticadas, fez com que os Incoterms
passassem por diversas modificações ao longo dos anos, culminando com um novo
conjunto de regras.

4.1 FUNÇÃO DOS INCOTERMS8


A função dos Incoterms é definir os direitos e obrigações do exportador e do
importador, estabelecendo a responsabilidade e deveres entre o comprador e
vendedor. Principais funções:
 Local onde o exportador deve entregar a mercadoria;
 Quem deve pagar o frete internacional;
 Quem deve realizar e pagar as formalidades de exportação e importação;
 Quem deve contratar e pagar do seguro da mercadoria;
 Quais são os limites dos riscos de cada um (comprador e vendedor);
 Quem deve contratar despachos de importação e exportação.

4.2 INCOTERMS® 20209


O constante aperfeiçoamento dos processos negocial e logístico, com este
último absorvendo tecnologias mais sofisticadas, fez com que os Incoterms
passassem por diversas modificações ao longo dos anos, culminando com um novo
conjunto de regras.
Termos Internacionais de Comércio (Incoterms) discriminados
pela International Chamber of Commerce (ICC) em sua Publicação nº 723-E, de 2020:

8 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/incoterms/


9 Baseado em: https://portogente.com.br/portopedia/73222-origem-dos-incoterms
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CÓDIGO DESCRIÇÃO10

FCA FREE CARRIER (named place of delivery)

LIVRE NO TRANSPORTADOR (local de entrega nomeado)

O vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando


entrega a mercadoria, desembaraçada para a exportação, ao transportador ou a
outra pessoa indicada pelo comprador, no local nomeado do país de origem.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

Comprador e vendedor poderão utilizar transporte próprio em trechos do


deslocamento.

FAZ FREE ALONGSIDE SHIP (named port of shipment)

LIVRE AO LADO DO NAVIO (porto de embarque nomeado)

O vendedor encerra suas obrigações quando a mercadoria é colocada,


desembaraçada para exportação, ao longo do costado do navio transportador
indicado pelo comprador, no cais ou em embarcações utilizadas para carregamento
da mercadoria, no porto de embarque nomeado pelo comprador.

Utilizável exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior).

FOB FREE ON BOARD (named port of shipment)

LIVRE A BORDO (porto de embarque nomeado)

O vendedor encerra suas obrigações e responsabilidades quando a mercadoria,


desembaraçada para a exportação, é entregue, arrumada, a bordo do navio no porto
de embarque, ambos indicados pelo comprador, na data ou dentro do período
acordado.

Utilizável exclusivamente no transporte aquaviário

(marítimo ou hidroviário interior).

10 Baseado em: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/index.php/62-negociando-com-o-


importador/593-incoterms-2010-caracteristicas-resumidas#
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CFR COST AND FREIGHT (named port of destination)

CUSTO E FRETE (porto de destino nomeado)

Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FOB, o vendedor
contrata e paga frete e custos necessários para levar a mercadoria até o porto de
destino combinado.

Utilizável exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior).

CIF COST, INSURANCE AND FREIGHT (named port of destination)

CUSTO, SEGURO E FRETE (porto de destino nomeado)

Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FOB, o vendedor
contrata e paga frete, custos e seguro relativos ao transporte da mercadoria até o
porto de destino combinado.

Utilizável exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior).

CPT CARRIAGE PAID TO (named place of destination)

TRANSPORTE PAGO ATÉ (local de destino nomeado)

Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FCA, o vendedor
contrata e paga frete e custos necessários para levar a mercadoria até o local de
destino combinado.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

CIP CARRIAGE AND INSURANCE PAID TO (named place of destination)

TRANSPORTE E SEGURO PAGOS ATÉ (local de destino nomeado)

Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FCA, o vendedor
contrata e paga frete, custos e seguro relativos ao transporte da mercadoria até o
local de destino combinado.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

DAP DELIVERED AT PLACE (named place of destination)

ENTREGUE NO LOCAL (local de destino nomeado)


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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

O vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando


coloca a mercadoria à disposição do comprador, na data ou dentro do período
acordado, num local indicado no país de destino, pronta para ser descarregada do
veículo transportador e não desembaraçada para importação.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

Comprador e vendedor poderão utilizar transporte próprio em trechos do


deslocamento.

DPU DELIVERED AT PLACE UNLOADED (named place of destination)

ENTREGUE NO LOCAL DESCARREGADO (local de destino)

O vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando a


mercadoria é colocada à disposição do comprador, na data ou dentro do período
acordado, em local determinado no país de destino, descarregada do veículo
transportador, mas não desembaraçada para importação.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

Comprador e vendedor poderão utilizar transporte próprio em trechos do


deslocamento.

Termo definido em substituição ao DAT, com a diferença que o DAT determinava a


"entrega" exclusivamente em terminais de carga, podendo o DPU ser utilizado em
terminais ou qualquer outro local determinado (por exemplo o armazém do
comprador).

DDP DELIVERED DUTY PAID (named place of destination)

ENTREGUE COM DIREITOS PAGOS (local de destino nomeado)

O vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando a


mercadoria é colocada à disposição do comprador, na data ou dentro do período
acordado, no local de destino designado no país importador, não descarregada do
meio de transporte. O vendedor, além do desembaraço, assume todos os riscos e
custos, inclusive impostos, taxas e outros encargos incidentes na importação.

Utilizável em qualquer modalidade de transporte.


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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Comprador e vendedor poderão utilizar transporte próprio em trechos do


deslocamento.

Nota: em razão de o vendedor estrangeiro não dispor de condições legais para


providenciar o desembaraço para entrada de bens do País, este termo não pode ser
utilizado na importação brasileira, devendo ser escolhido o DPU ou DAP no caso de
preferência por condição disciplinada pela ICC.

Figura 3 – Tabela Incoterms

Fonte – Konfere
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FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

5. ACORDOS INTERNACIONAIS11
As relações comerciais entre os países ocorrem há centenas de anos, pois
nenhuma nação é autossuficiente em todos os setores que possam suprir as
necessidades da população e proporcionar desenvolvimento econômico. Sendo
assim, é comum e necessária a comercialização internacional de recursos naturais,
alimentos, fontes energéticas, tecnologia etc.
Para facilitar essas relações, sobretudo numa economia globalizada, que exige
uma dinamização nas relações comerciais e sociais, intensificando o fluxo de
mercadorias e serviços, foram criados vários acordos internacionais, com destaque
para os blocos econômicos. Esses grupos discutem medidas para reduzir e/ou
eliminar as tarifas alfandegárias, promovendo a ampliação das relações comerciais
entre os países-membros.
Em resumo, acordo internacional é um documento pelo qual um Estado ou uma
organização internacional assume obrigações e adquire direitos perante outros no
âmbito do direito internacional.

a) Acordos internacionais servem para estabelecer regras concretas para a


parceria em áreas específicas. Podem, por exemplo, estabelecer critérios pelos
quais turistas de um país ficam isentos de visto para viajar a outro país. Ou
podem estabelecer a entrada de produtos de um país em outro livre de
impostos. Esses acordos – comumente denominados “tratados”, “convenções”
ou, mesmo, “acordos” – criam compromisso jurídico.

Acordos internacionais podem servir também para apontar possíveis formas de


cooperação futura. Podem, por exemplo, criar comitês de reunião periódica
para aprofundar o diálogo e o conhecimento mútuo entre países, inclusive para
propor ações concretas ou projetos de novos acordos. Esses acordos –
comumente denominados “memorandos de entendimento” – criam
compromisso político.

b) É possível encontrar cópia dos acordos internacionais assinados pelo Brasil na


plataforma Concórdia – https://concordia.itamaraty.gov.br –, ferramenta

11 Baseado em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/acordos-internacionais.htm


23
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

desenvolvida pela Divisão de Atos Internacionais e pela Divisão de Informática


do Ministério das Relações Exteriores para consulta pelos cidadãos dos atos
internacionais, sendo possível realizar pesquisas com rapidez sobre cada um
dos atos internacionais dos quais o Brasil é parte, bem como verificar seus
textos, em todos os idiomas em que foram originalmente assinados.

c) Acordos internacionais podem ser estabelecidos entre dois ou mais Estados ou


entre um ou mais Estados e uma organização internacional.

No Brasil, estão autorizados a assinar acordos internacionais apenas o


Presidente da República, o Ministro das Relações Exteriores e os
Embaixadores chefes de missões diplomáticas do Brasil no exterior. Além
disso, outras autoridades podem assinar tratados, desde que tenham uma
Carta de Plenos Poderes, assinada pelo Presidente da República e
referendada pelo Ministro das Relações Exteriores.

d) Caso um país descumpra um acordo internacional, seu parceiro iniciará


consultas para conhecer, em detalhe, os motivos do descumprimento.

Caso esse país esteja enfrentando dificuldades, mas deseje cumprir o acordo,
ambos podem negociar estratégia que permita seu cumprimento, o que pode
incluir tanto estender prazos e modificar o acordo original quanto celebrar um
novo acordo.

Caso esse país deseje não mais fazer parte do acordo, notificará, então, seu
parceiro dessa decisão, e o acordo será cancelado (denunciado).

Alguns acordos contêm regras mais elaboradas para resolver


descumprimentos. Esse é o caso dos acordos entre membros da Organização
Mundial do Comércio (OMC): se um país entender que foi prejudicado por
outro, pode solicitar que a OMC julgue o caso.

e) A Organização das Nações Unidas (ONU) proíbe acordos secretos. Dessa


forma, todos os países membros da ONU são obrigados a tornar públicos seus
acordos internacionais, conforme determina o Artigo 102 da Carta da ONU.
24
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

f) Alguns acordos, por tratar de assuntos mais simples e por não criar custos
financeiros aos seus signatários, entram em vigor na data de assinatura, sem
necessidade de confirmação posterior pelos países que os assinarem.

Outros acordos, por tratarem de assuntos mais complexos ou por criarem


custos financeiros aos seus signatários, só entram em vigor depois de esses
signatários confirmarem seu compromisso em cumpri-los (ratificação).

No caso do Brasil, a ratificação só é feita, na grande maioria dos casos, se o


acordo for aprovado pelo Congresso Nacional. Exceções incluem, por exemplo,
contratos de empréstimo, que só precisam de aprovação pelo Senado Federal.

g) Acordos internacionais que criarem encargos ou compromissos gravosos ao


patrimônio nacional têm de ser aprovados pelo Congresso antes de entrarem
em vigor, conforme determina o Artigo 49.I da Constituição Federal.

h) Depois que o Congresso aprova um acordo internacional, ainda são


necessárias algumas etapas para que o acordo entre em vigor no Brasil:

1. o país informa seu(s) parceiro(s) de que a aprovação ocorreu e, assim,


confirma seu compromisso em cumprir o acordo (ratificação);
2. seu(s) parceiro(s) também confirma(m) esse compromisso, caso ainda não
tenha(m) feito isso;
3. o presidente da República assina Decreto que determina o cumprimento
pelo Brasil do acordo (promulgação).

i) Acordos internacionais aprovados pelo Congresso podem nunca entrar em


vigor se a(s) outra(s) parte(s) nunca confirmar(em) o compromisso de cumprir
o acordo. Outra possibilidade é o Presidente decidir não confirmar o Brasil
como parte do acordo, em razão de mudanças nos interesses do país e na
conjuntura internacional.

j) É possível pesquisar se um acordo internacional do Brasil está em vigor na


página da Divisão de Atos Internacionais do Itamaraty.
25
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

5.1 ACORDOS DOS QUAIS O BRASIL É PARTE

Preferência Tarifária Regional entre países da ALADI (PTR-04)


Acordo de Sementes entre países da ALADI (AG-02)
Acordo de Bens Culturais entre países da ALADI (AR-07)
Brasil - Uruguai (ACE-02)
Brasil - Argentina (ACE-14)
Mercosul (ACE-18)
Mercosul - Chile (ACE-35)
Mercosul - Bolívia (ACE-36)
Brasil - México (ACE-53)
Mercosul - México (ACE-54)
Automotivo Mercosul - México (ACE-55)
Mercosul - Peru (ACE-58)
Mercosul - Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59)
Brasil/Guiana/São Cristóvão e Névis (AAP.A25TM 38)
Brasil - Suriname (ACE-41)
Brasil - Venezuela (ACE-69)
Mercosul - Colômbia (ACE-72)
Mercosul - Cuba (ACE-62)
Mercosul/ Índia
Mercosul/ Israel
Mercosul/ SACU
Mercosul/Egito
Mercosul/Palestina - AINDA SEM VIGÊNCIA
Acordo de Ampliação Econômico-Comercial Brasil – Peru (AINDA SEM VIGÊNCIA)
Brasil - Paraguai (ACE-74)

Os acordos internacionais no qual o Brasil faz parte, encontram-se


constantemente atualizados no portal http://www.mdic.gov.br/comercio-
exterior/negociacoes-internacionais/796-negociacoes-internacionais-2
26
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

5.2 ACORDOS EM NEGOCIAÇÃO

Mercosul / União Europeia


Mercosul / Associação Europeia de Livre Comércio - (EFTA - European Free Trade
Association)
Mercosul / Canadá
Mercosul / Singapura
Mercosul / Líbano
Mercosul / Tunísia
Ampliação do ACP Mercosul / Índia
Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos
Aprofundamento do ACE 53 (Brasil/México)

Os acordos no qual o Brasil está em negociação, encontram-se


constantemente atualizados no portal http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-
exterior/negociacoes-internacionais/797-acordos-em-negociacao
27
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

6. ALADI12
A Associação Latino-Americana de Integração – ALADI foi instituída
pelo Tratado de Montevidéu, em 12/08/80, incorporado ao ordenamento jurídico
nacional pelo Decreto-Legislativo nº 66, de 16/11/1981, para dar continuidade ao
processo de integração econômica iniciado em 1960 pela Associação Latino-
Americana de Livre Comércio – ALALC. Este processo visa à implantação, de forma
gradual e progressiva, de um mercado comum latino-americano, caracterizado
principalmente pela adoção de preferências tarifárias e pela eliminação de restrições
não-tarifárias.

Figura 4 – ALADI

Fonte – twitter.com

A ALADI reúne treze países classificados em três categorias, de acordo com


as características econômico-estruturais:

Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo - PMDER


Bolívia

12 Baseado em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br


28
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Equador
Paraguai
Países de Desenvolvimento Intermediário - PDI
Chile
Colômbia
Peru
Uruguai
Venezuela
Cuba
Panamá

Demais países:
Argentina
Brasil
México

6.1 PROCEDIMENTOS PARA EXPORTAÇÃO AO AMPARO DE ACORDOS


COMERCIAIS13
Para exportar para algum país da ALADI, o exportador deve seguir os seguintes
passos:
 primeiramente, verificar se o produto em questão é objeto de preferência
em algum tipo de Acordo no qual o Brasil é signatário. Esse dado pode ser
obtido no seguinte endereço: www.aladi.org
 verificar a sua correspondente classificação em NALADI/SH (classificação
tarifária da ALADI). Essa correlação encontra-se no SISCOMEX;
 providenciar a emissão do Certificado de Origem junto a uma das entidades
credenciadas e enviá-lo ao importador. Em caso de dúvida quanto à
classificação, contatar a Secretaria da Receita Federal de sua região.

6.2 CERTIFICADO DE ORIGEM


O Certificado de Origem é o documento necessário para que as mercadorias
se beneficiem do tratamento tarifário preferencial. Para tanto, deve ser emitido em
conformidade com as regras prescritas por cada Acordo.

13 Baseado em: http://siscomex.gov.br/acordos-comerciais/aladi-2/


29
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

14As regras de origem são critérios de transformação substancial eleitos por


países ou blocos para caracterizar a origem das mercadorias e podem ser
classificadas em duas categorias:

a) Normas de origem preferenciais - regulamentos que são negociados


entre as partes signatárias de acordos preferenciais de comércio;
Os elementos principais das regras de origem são: critérios de origem,
condições de expedição e de transporte e provas documentais. Se as
exportações forem realizadas para países com os quais o Brasil tem
acordo de preferências tarifárias, é importante consultá-lo previamente.

b) Normas de origem não preferenciais - conjunto de leis, regulamentos


e determinações administrativas de aplicação geral, utilizados pelos
países para a determinação do país de origem das mercadorias.
Esta categoria abrange todas as regras de origem utilizadas em
instrumentos não-preferenciais de política comercial, como na aplicação
de: tratamento de nação mais favorecida, direitos antidumping e direitos
compensatórios, salvaguardas, exigências de marcação de origem,
restrições quantitativas discriminatórias ou quotas tarifárias, estatísticas
e compras do setor público, entre outros.

Cartilha sobre o ABC das regras de origem:


http://www.mdic.gov.br/images/REPOSITORIO/secex/deint/coreo/regras_de_ori
gem/ABCdasRO_versofinal-12.07.17.pdf

14 Baseado em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-


exterior/regimes-de-origem/certificado-de-origem
30
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

7. IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL


Uma empresa que comercializa produtos ou serviços com outro país precisa
de gestores com bom conhecimento na área, isso porque comércio e operações
internacionais são assuntos complexos, cuja gestão demanda diversos tipos de
cuidados, conforme já citados anteriormente.
Uma operação errada e malsucedida pode destruir a imagem de uma empresa
a nível global, sendo muito difícil e demorado reverter a situação.
É muito comum ver no mercado gestores que tem bom conhecimento do seu
produto, mas não tem traquejo ou conhecimento para uma negociação internacional.
É necessário que o gestor possua capacidade técnica e habilidade de negociação
para que as operações tenham o resultado positivo esperado.
Uma operação internacional bem-sucedida é uma vitrine para a formalização
de novos negócios e expansão internacional. Quando uma empresa tem mais
assertividade e atende os anseios do cliente estrangeiro, tem mais chances de fazer
novas parcerias e atender a novos públicos e países.
Os países têm necessidades diferentes uns dos outros, muitos têm riquezas
em determinado segmento, enquanto outros são deficitários. Algumas regiões do
mundo também têm melhores condições de clima ou abundância em recursos
naturais, enquanto outras não.
Em resumo, nenhum país do mundo consegue sozinho ser autossuficiente em
tudo. Mesmo que este país exporte é necessário importar serviços, insumos ou
produtos que não existam produção ou não possui em quantidade suficiente dentro
do seu país.
Países como o Brasil, que estão em desenvolvimento, ou países
subdesenvolvidos geralmente exportam muitos produtos com pouco valor agregado,
que são chamados de comodities, basta lembrar dos principais produtos exportados
desde o descobrimento do Brasil que era o pau-brasil, a cana-de-açúcar e o café,
sendo que até hoje as comodities são as campeãs nas exportações brasileiras, como
exemplo: soja, minério de ferro e petróleo bruto.
Já os países desenvolvidos como o Japão, Estados Unidos e Alemanha,
costumam exportar produtos com alto valor agregado, qualidade e muita tecnologia.
Mas o saldo da balança comercial brasileira nos últimos anos mostra um superávit, o
31
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

que aponta que o Brasil possui capacidade e potencial para investir mais em
tecnologia e inteligência, gerando mais riquezas, principalmente na industrialização,
agregando valor ao produto.
Para as empresas, fazer negócios no comércio internacional é importante não
apenas para ampliar seu mercado e, consequentemente, seu faturamento, mas
também para estimular um aumento na eficiência dos processos, podendo ser uma
excelente estratégia não somente para superar crises, mas também para alavancar
seus resultados de forma inovadora e sustentável.
Internacionalizar uma empresa e preparar-se para vender para outros países
significa:
 ampliar a carteira de clientes;
 fortalecer a marca;
 escapar da sazonalidade;
 diversificar mercados;
 melhorar a qualidade de seus produtos;
 usufruir de benefícios fiscais que isentam os exportadores de impostos;
 na importação, o empresário pode buscar por produtos de tecnologias ainda
não praticadas e/ou disponíveis em nosso país ou por produtos similares
com custos mais baratos, aumentando assim sua competitividade frente
aos concorrentes e oferecendo uma gama maior de produtos e a um custo
mais acessível para seus clientes e assim a economia local também é
beneficiada.

Geralmente, as indústrias que fabricam seus produtos no Brasil também


importam insumos para a produção ou compram de empresas que importam e fazem
a distribuição no Brasil. Além de poder suprir uma necessidade interna, as empresas
brasileiras que exportam, podem se beneficiar de alguns benefícios fiscais como o
regime aduaneiro especial Drawback, que permite a importação de insumos sem o
recolhimento do imposto de importação, desde que sejam usados no beneficiamento
ou industrialização de produtos a serem exportados, o que pode ser um excelente
negócio e economia na aquisição de matéria prima e de insumos, possibilitando
menor custo de produção, mais competitividade e maior margem de lucros.
De modo geral, atuar no mercado internacional é desafiador, é necessário ficar
atento a todos os fatores que interferem diretamente no resultado de uma boa
32
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

negociação como custos com logística, questões cambiais, moeda etc.


Quando a empresa consegue entender e vencer estes desafios, se torna apta
para atender o mercado internacional, o que traz muitos benefícios conforme já
citados anteriormente.
Se as exportações superam as importações, o resultado é de superávit, se
acontece o contrário, o resultado é de déficit.
33
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

8. OMC – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO15


A OMC - Organização Mundial de Comércio, tem como característica ser uma
referência de relação entre países, no qual eles podem ter oportunidades de discutir
sobre as estruturas comerciais do mundo, criando regras e acordos sobre o comércio
internacional. Em outras palavras, pode-se dizer que é um órgão que regula as
relações comerciais entre os países.
A OMC também é a base onde países participantes da organização se reúnem
para formalização de acordos entre si e processos para resolução de conflitos, sendo
assim, um ambiente de negociações comerciais. Atualmente, a OMC conta com 164
membros e o Brasil é um dos membros fundadores do órgão.
A sede está sediada em Genebra, na Suíça, e durante as rodadas de
negociação que acontecem, três línguas são denominadas oficiais:
 Inglês
 Francês; e
 Espanhol.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciou suas atividades em 1º de
janeiro de 1995 e desde então tem atuado como a principal instância para administrar
o sistema multilateral de comércio internacional.
A organização tem por objetivo estabelecer um marco institucional comum para
regular as relações comerciais entre os diversos Membros que a compõem e
estabelecer um mecanismo de solução pacífica das controvérsias comerciais, tendo
como base os acordos comerciais atualmente em vigor, e criar um ambiente que
permita a negociação de novos acordos comerciais entre os Membros.

8.1 HISTÓRIA DA OMC16


A organização foi criada em 1995, substituindo o antigo Acordo Geral de
Tarifas e Comércio – GATT, que por sua vez foi criado em 1947 e desde então era a
base para as negociações comerciais e discussões sobre o mercado.

15 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/descubra-o-que-e-a-omc/


16 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/descubra-o-que-e-a-omc/
34
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Após sua substituição para a OMC, a organização se tornou a administradora


das regras para o livre comércio mundial, sendo fundamental na gestão dos debates
entre os países participantes.
As origens da OMC remontam à assinatura do Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT), em 1947, mecanismo que foi responsável, entre os anos de 1948
a 1994, pela criação e gerenciamento das regras do sistema multilateral de comércio.
No âmbito do GATT, foram realizadas oito rodadas de negociações comerciais, que
tiveram por objetivo promover a progressiva redução de tarifas e outras barreiras ao
comércio. A oitava rodada, conhecida como Rodada Uruguai, culminou com a criação
da OMC e de um novo conjunto de acordos multilaterais que formaram o corpo
normativo da nova Organização.

8.2 GATT - ACORDO GERAL DE TARIFAS E COMÉRCIO17

Muito além de apenas um acordo, o GATT representa uma forma de chegar a


um objetivo maior do país; ou seja, através dele é possível o crescimento econômico
dos países pertencentes ao Acordo, sobretudo daqueles considerados menos
desenvolvidos, subdesenvolvidos e/ou em vias de desenvolvimento.
A criação do GATT, que hoje é regido pelo OMC, veio para facilitar que
negociações entre um país e outro aconteçam.
Estima-se que os custos aduaneiros aplicados sob produtos industriais tenham
caído de 40% para 5% e isso em 1993, então, podemos compreender os benefícios
desse acordo é amplo e impactam as negociações realizadas.
Sendo assim, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio é responsável por
promover a cooperação entre os países na área comercial, levando a um maior
desenvolvimento econômico para todas as partes.
Sua importância também está atrelada ao fato de que é nos encontros da OMC
que são debatidos assuntos importantes para o mundo, como a situação dos produtos
agrícolas e serviços em geral incluídos nos debates.

17 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/o-que-e-o-gatt/


35
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

8.3 ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO18

A estrutura da OMC tem na sua ponta a conferência ministerial que se reúne


a cada dois anos. O órgão máximo que decide todas as negociações é o conselho
geral, que ocasionalmente se reúne com os países como o Órgão de soluções de
controvérsias e como Órgão de Revisão de Políticas Comerciais. Abaixo dessas
estruturas há muitos comitês, subcomitês e grupos que coordenam acordos menores.
A organização mantém a característica que já vinha do GATT, onde em cada
reunião feita as propostas decididas sejam de consenso. O acordo ainda dá a
possibilidade de decisões por votação, mas somente nos casos de aceitação por 2/3
dos votos gerais dos países.

8.4 PRINCÍPIOS DA OMC19

Para manter um mercado internacional transparente e livre, foram criados


ainda pelo GATT princípios básicos, no qual são usadas até hoje pela organização,
que delimita as políticas do Comércio Exterior dos países, conheça elas:

Princípio 1 – Não discriminação:


Princípio básico da OMC. A nação mais favorecida é obrigada a estender
um acordo a todos os países participantes, sem se restringir a determinadas
nações e qualquer tratamento diferenciado.

Princípio 2 – Previsibilidade:
Os executores do Comércio Exterior precisam de previsibilidade de regras
do mercado comercial, tanto de importação como em exportação, para
conseguirem desenvolver as suas atividades. Para garantir isso, é
necessário a manutenção dos acordos, principalmente tarifários.

Princípio 3 – Concorrência leal


A OMC tenta coibir práticas desleais e manter um mercado aberto e seguro.
Para isso foram criados acordos que impedissem subsídios e práticas de

18 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/descubra-o-que-e-a-omc/


19 Baseado em: https://www.fazcomex.com.br/blog/descubra-o-que-e-a-omc/
36
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

dumping que é a prática comercial que consiste em um país vender seus


produtos, mercadorias ou serviços por preços extraordinariamente abaixo
de seu valor justo para outro país.
Para tal foram feitos acordos de subsídios e antidumpings, definindo
medidas cabíveis para a utilização dessas práticas.
Princípio 4 – Proibição de restrições quantitativas
Como o nome diz, proíbe restrições quantitativas como meio de proteção
aos países, exceto tarifas, por ser uma prática transparente.

Princípio 5 – Tratamento especial para países em desenvolvimento


Os países desenvolvidos renunciam à igualdade nas negociações tarifárias
com países em desenvolvimento. Além disso, os acordos listam uma série
de favorecimento para países que se encontram numa crescente
econômica.

Princípio 5 – Rodadas de negócios


Desde 1947, na antiga GATT, acontecem as rodadas de negociação, e seu
modelo ainda não mudou. Sendo as últimas rodadas como mais
importantes para os negócios, principalmente a rodada Uruguai, onde
ocorreu a criação da OMC e o debate para as principais mudanças no modo
de negócios comerciais, fabricando seus respectivos acordos.
Atualmente o debate ocorre a cada 2 anos e está na chamada rodada de
Doha desde 2001.

Figura 5 – OMC – World Trade Organization

Fonte: Itamaraty.gov
37
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

A OMC é composta por diversos órgãos, sendo os principais:


 Conferência Ministerial, instância máxima da organização composta
pelos ministros das Relações Exteriores ou de Comércio Exterior dos
membros;
 Conselho Geral, órgão composto pelos representantes permanentes
dos membros em Genebra, que ora se reúne como Órgão de Solução de
Controvérsias (OSC) e ora como Órgão de Revisão de Política Comercial;
 Conselho para o Comércio de Bens;
 Conselho para o Comércio de Serviços;
 Conselho para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
relacionados ao Comércio;
 Diversos Comitês, entre eles os Comitês de Acesso a Mercados,
Agrícola e de Subsídios, entre outros; e
 Secretariado, que tem por função apoiar as atividades da organização
e é composto por cerca de 700 funcionários, chefiados pelo Diretor-Geral
da OMC, cargo ocupado atualmente pelo embaixador Roberto Azevedo.

A Conferência Ministerial pode tomar decisões sobre todos as questões


relativas a quaisquer dos acordos comerciais multilaterais. Até o presente momento,
já foram realizadas onze Conferências Ministeriais da OMC, sendo elas: Singapura
(1996); Genebra (1998); Seattle (1999); Doha (2001); Cancun (2003); Hong Kong
(2005); Genebra (2009 e 2011); Bali (2013), Nairóbi (2015) e Buenos Aires (2017).
Especialmente relevante, entre estas, foi a Conferência Ministerial de Doha,
que estabeleceu o mandato para o lançamento da Rodada de Doha, primeira rodada
negociadora realizada no âmbito da OMC, cujas negociações seguem em curso.
A 12ª Conferência Ministerial da OMC estava prevista para ocorrer de 8 a 11
de junho de 2020, em Nursultan/Cazaquistão, mas foi adiada devido à pandemia da
COVID-19 (obs.: no momento está em análise em Genebra a oferta do Cazaquistão
de realizar o evento em julho de 2021). Para o Brasil, apesar da pandemia, as
prioridades para a próxima Conferência Ministerial mantêm-se inalteradas.
38
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

9. BLOCOS ECONÔMICOS
Os blocos econômicos são formados por países próximos, que buscam
aumentar a integração econômica entre suas economias. O princípio básico da
formação dos blocos é reforçar os fluxos comerciais internos, favorecendo, assim, o
desenvolvimento econômico e social da região.
A formação dos blocos econômicos, ou das zonas de livre comércio, tem,
originalmente, a preocupação de reduzir as restrições ao comércio entre os países
integrantes, seja por meio da redução ou eliminação das barreiras tarifárias, seja pela
homogeneização das normas para a produção e circulação de mercadorias no interior
do bloco.
Outro objetivo das economias, ao formar blocos econômicos, é a ampliação de
mercado para as empresas do bloco, de modo que essas empresas aumentem suas
escalas de produção e reforcem a competitividade fora do bloco, seja para conquistar
novos mercados, seja para se defender da entrada de concorrentes externos.
Assim, surgem as concorrências entre blocos econômicos. As condições de
competição que uma empresa encontra no interior do bloco definem as condições de
concorrer com empresas de outros blocos.

9.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS BLOCOS ECONÔMICOS20

Os blocos são vantajosos para a maioria dos países envolvidos, pois a troca
econômica é bem ampla, o que contribui para que empresas de um país instalem-se
em outro, para a circulação de bens, serviços e capital, além da circulação de pessoas,
como o caso da União Europeia e do Mercosul.
Entretanto, as economias mais frágeis do bloco ficam prejudicadas em alguns
quesitos, como é o caso do México no NAFTA. Indústrias estadunidenses instalam-se
no país latino, usam mão de obra mais barata para produzir suas mercadorias e
vendem, com um preço elevado, para mexicanos e estadunidenses, além dos
canadenses. O poder de compra dos Estados Unidos é maior que o dos mexicanos,
ou seja, a aquisição de um bem não depende, nesse caso, da origem do produto, mas
sim do preço que lhe é colocado.

20 Baseado em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/blocos-economicos.htm


39
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Outra desvantagem, em tempos de globalização, é o protecionismo econômico


que há em alguns blocos em relação a produtos que vêm de outros países não
pertencentes ao bloco.
Há, também, situações em que a xenofobia está presente, como na União
Europeia. Em muitos países, como na França, a Frente Nacional, partido de extrema-
direita, defende a França para os franceses, slogan utilizado em algumas eleições e
que se posiciona contra a integração dos países. Para esse partido e seus apoiadores,
a livre entrada de pessoas deve ser revista, com restrições a determinadas
nacionalidades.
Em linhas gerais, nos blocos econômicos, as grandes economias só têm a
ganhar, pois com a ampliação das relações econômicas, a tendência é que os grandes
continuem grandes e até maiores. Já para os países com economias mais frágeis, há
uma dependência em relação aos países mais fortes, como é o caso do México e do
Canadá no Nafta, que dependem do mercado consumidor estadunidense para que
suas economias continuem pujantes.

9.2 TIPOS DE BLOCOS ECONÔMICOS21


Para compreendermos como funcionam os blocos econômicos, é necessário
compreender como eles são criados. Existem vários blocos econômicos pelo mundo,
mas cada um possui um nível de integração diferente dos demais. O que caracteriza
essa integração é o desejo dos países-membros de intensificar mais ou menos as
relações econômicas entre as nações.
Podemos organizar os blocos econômicos em diferentes tipos (características):

 Zona de livre comércio: os países unem-se para a liberação gradual de


mercadorias e capitais dentro dos limites territoriais do bloco. É uma
integração tímida, visando apenas aos produtos e aos lucros obtidos nessa
produção. Como exemplo, podemos citar o Acordo Norte-Americano de
Livre Comércio (Nafta), que envolve os três países da América do Norte:
Canadá, Estados Unidos e México.

21 Baseado em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/blocos-economicos.htm


40
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

 União aduaneira: trata-se de uma evolução da zona livre de comércio.


Além da liberação das mercadorias e produtos, é estabelecida uma Tarifa
Externa Comum (TEC) aos países de fora do bloco. Isso significa que,
quando um país do bloco negociar com outro país que não pertença ao
bloco, haverá uma taxa de importação padronizada, igual para todos os que
participam da integração econômica. O Mercado Comum do Sul (Mercosul)
é um exemplo de bloco que possui a TEC.

 Mercado comum: possui a integração mais evoluída. Há as duas


características anteriores, como a zona de livre comércio e o
estabelecimento da TEC, e outras para promover uma ampliação das
relações entre os envolvidos. Essa ampliação busca padronizar leis
trabalhistas, legislações econômicas, além da livre circulação de pessoas.
Além disso, empresas nacionais podem expandir seus negócios,
instalando-se em qualquer um dos países do bloco que está nesse nível de
integração.

 União econômica e monetária: Conforme as relações se intensificam


e avançam, o bloco econômico pode chegar ao seu estágio máximo e
completo: a adoção de uma moeda única e criação de um banco central do
bloco. É o caso da União Europeia, que adotou o euro como moeda oficial
em 2002. Porém, essa moeda não é adotada em todos os países que fazem
parte desse bloco.
41
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

9.3 PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS

Figura 5 – Sede da União Europeia, na cidade de Bruxelas, Bélgica.

Fonte: mundoeducacao.uol

 União Europeia, Criada em 1992, com a assinatura do Tratado de


Maastricht, a União Europeia (UE) é sucessora da Comunidade Econômica
Europeia (CEE), instituída em 1957 pelo Tratado de Roma. Maastricht
concretiza a criação de um bloco com circulação livre de pessoas,
mercadorias, capitais e serviços, além da integração a partir da adoção da
moeda única (EURO) por parte dos países membros: Alemanha, Áustria,
Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia,
Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria,
Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal,
Reino Unido (em 2017 iniciou seu processo turbulento de saída,
conhecido como Brexit), República Tcheca, Romênia e Suécia.
A União europeia é o bloco econômico que representa a maior integração
de nações, pois possui todas as características para tal ação, e apesar de
adotar uma moeda única no bloco, nem todos os países-membros utilizam
o EURO (Dinamarca e Reino Unido não aderiram). São 27 países
participantes desse bloco, os quais, juntos, possuem um PIB maior do que
a China (segunda maior potência econômica do mundo).
Em 31 de janeiro de 2020, ocorreu a saída formal do Reino Unido da União
Europeia. Com esta saída, que se deu após mais de três anos e meio de
negociações, iniciou-se um período de transição em que ambas as partes
estão a negociar como será a sua relação quando este período acabar, em
31 de dezembro de 2020.
42
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

 22 Nafta: Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North


American Free Trade Agreement – em inglês) é um acordo econômico e
comercial também chamado bloco econômico, formado por Estados
Unidos, Canadá e México. Criado efetivamente em 1° de janeiro de 1994,
tem como objetivo o fortalecimento das relações comerciais entre esses
países. A estratégia estadunidense de criação do bloco visa enfrentar a
concorrência dos mercados europeu e especialmente o asiático, que tem
tido vigorosa evolução nos últimos anos. Além dos países da América do
Norte, o Chile participa do acordo como membro associado.
Este status garante ao país sul-americano vantagens como a redução de
impostos para a comercialização de mercadorias com os demais membros
do Nafta.
Ao contrário da União Europeia o Nafta não possui uma instituição ou
governo para a administração do bloco. Também não tem leis
supranacionais, ou seja, normas que sejam superiores às existentes em
cada país membro. O acordo não prevê a livre circulação de pessoas pelos
países integrantes do bloco. A imigração de mexicanos para os Estados
Unidos continua controlada e com restrições semelhantes à existentes
antes da criação da parceria econômica.
O NAFTA possui caráter essencialmente econômico – este fator explica o
restrito nível de integração. O bloco pode ser caracterizado como uma Zona
de Livre Comércio – não alcançando nem o status de União Aduaneira.

22 Baseado em: https://www.infoescola.com/geografia/nafta/


43
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 Apec: Acordo de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec),


surge em 1989, com a proposta de criar até 2020 uma Zona de Livre-
Comércio entre os 20 países membros e Hong Kong. Os membros são:
Austrália, Brunei, Canadá, Chile, China, Cingapura, Coreia do Sul,
Estados Unidos, Rússia, Filipinas, Indonésia, Japão, Malásia, México,
Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Peru, Tailândia, Taiwan e Vietnã.
É um fórum de 21 países-membros localizado no Círculo do Pacífico, que
visa promover o livre comércio e a cooperação econômica em toda a região
da Ásia-Pacífico e tem como objetivo estabelecer novos mercados para os
produtos agrícolas e matérias-primas para além da Europa (onde a
demanda diminuiu).

 Pacto Andino: A Comunidade Andina de Nações é formada pelos


países sul-americanos situados na região Noroeste do Continente. Foi
criado em 1969 pelo Acordo de Cartagena, com o nome de Pacto Andino
pela Bolívia, Peru, Colômbia e Equador.
O foco do Pacto Andino é a integração comercial e a circulação de pessoas
sem a necessidade de uso de passaportes ou concessão de vistos. Basta
apresentar a Carteira de Identidade.
A sede do Pacto Andino fica na cidade de Lima, capital do Peru. Além dos
países-membros há também uma condição chamada de países
associados, que são o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
Na documentação de origem do Pacto Andino constam ainda a busca da
Integração Cultural entre os países-membros, e de representá-los em
acordos com outros Blocos Econômicos e Organizações Internacionais.
44
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 23Asean: A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) é uma


organização intergovernamental regional que compreende dez países do
sudeste asiático, que promove a cooperação intergovernamental e facilita a
integração econômica, política, de segurança, militar, educacional e
sociocultural entre seus membros e outros países da Ásia.
A ASEAN também envolve regularmente outros países da região Ásia-
Pacífico e além. Principal parceira da Organização de Cooperação de
Xangai, a ASEAN mantém uma rede global de alianças e parceiros de
diálogo e é considerada por muitos como uma potência global, a união
central para cooperação na Ásia-Pacífico e uma organização importante e
influente. Ela está envolvida em vários assuntos internacionais e hospeda
missões diplomáticas em todo o mundo. O Secretariado da ASEAN está
localizado em Jacarta, na Indonésia.

 Mercosul: O Mercosul, Mercado Comum do Sul, atualmente (2020) é


um bloco econômico composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai,
visto que a Venezuela está suspensa do Mercosul por tempo
indeterminado, desde dezembro de 2016.
O Mercosul prevê as integrações comercial, financeira e de fatores de
produção entre os países integrantes do bloco. No início de sua criação o
objetivo principal do Mercosul, era estabelecer uma zona de livre comércio
entre os países envolvidos. Essa zona garantiria a circulação comercial de
produtos sem precisar dos trâmites burocráticos em relação a uma
exportação.

23 Baseado em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_de_Na%C3%A7%C3%B5es_do_Sudeste_As
i%C3%A1tico
45
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

24Esse objetivo foi alcançado em 1994. A partir daí outro objetivo foi idealizado:
a criação de uma Tarifa Externa Comum (TEC), em 1995. Essa tarifa é utilizada para
produtos importados que entram nos países envolvidos. Todos os quatro (Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai) devem cobrar um imposto comum e único para esses
produtos que vêm de fora (importados), evitando, assim, que um dos países dê
preferência a um tipo de produto e que esse país seja porta de entrada de algumas
mercadorias. De acordo com o Tratado de Assunção, o Mercosul foi criado para ser
uma área de livre circulação de bens, de serviços e de fatores produtivos, a ser
alcançada por meio da eliminação das barreiras alfandegárias e restrições não-
tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito
equivalente. Assim, o Mercosul prevê o estabelecimento de uma tarifa externa e uma
política comercial, comum entre os países membros. Desse modo, promove o
agrupamento de organizações e uma coordenação comum, para definir posições
econômico-comerciais, regionais e internacionais, bem como a coordenação de
políticas macroeconômicas e setoriais entre os países. Isso ocorre com a finalidade
de garantir condições de concorrência adequadas, as quais promovam o
fortalecimento do processo de integração e o desenvolvimento dos países integrantes.

Figura 6 – Mercosul

Fonte: Google Sites

24 Baseado em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/mercosul.htm


46
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10. CRISES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS


Um processo de crise financeira acontece quando o lado real não acompanha
o lado monetário da economia. Em outras palavras, quando há excedentes de ativos
financeiros contabilizados nas economias que são realizados, ocorrerão choques
entre renda e moeda nocivos à economia. É a situação que os Estados Unidos da
América viveram, em 2008, quando eclodiu a crise imobiliária, e o que aconteceu em
2013, na Europa, especificamente com países que não conseguem sustentar os
gastos e têm a possibilidade de não honrar com os compromissos financeiros
(pagamentos das dívidas).
Qualquer crise financeira provoca um risco sistêmico que, muitas vezes, coloca
em risco economias não envolvidas diretamente. A incerteza instaura-se, e as
relações econômicas são realizadas de forma precária e sem dinamicidade.
Atualmente, essas crises afetam o mundo globalizado, em virtude da grande
interdependência das relações econômicas, que torna intrínseca uma crise global. Por
exemplo, em 2008, a economia americana, responsável por quase 30% da produção
mundial, entrou em uma profunda crise, cujo impacto negativo refletiu no fechamento
de bancos relevantes no sistema financeiro internacional. O receio de que a crise se
alastrasse obrigou muitos países a adotarem políticas conservadoras e de proteção à
economia interna.
Em 2013, o mesmo receio existiu com a possibilidade de outra crise financeira,
na Europa. Essa crise se originaria em Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha
(conjunto de países que formam o acrônimo PIIGS), devido à insolvência dessas
economias e à possibilidade de calote (default) perante o pagamento de suas dívidas.
Crises econômicas são cíclicas e as duas mencionadas acima não foram as
únicas que os governos mundiais já tiveram de enfrentar no último século.
1929 – A Grande Depressão;
1980 – A crise dos países latino americanos;
1994 – A crise mexicana;
1997 – A crise asiática;
1998 – A crise russa;
2008 – A crise do subprime (Bolha imobiliária);
2020 – A crise do coronavírus.
47
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10.1 A GRANDE DEPRESSÃO – 192925


Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Europa encontrava-se completamente
destruída pelo conflito. Isso abriu espaço para que os Estados Unidos ocupassem
uma posição chave de ajuda econômica aos países europeus, que fizeram a potência
norte-americana entrar em uma grande prosperidade econômica, em um momento
em que as exportações se multiplicavam para o velho continente.
A partir de 1925, no entanto, a Europa passou a se recuperar economicamente,
recuperando seu mercado consumidor e passando a demandar menos dos bens
norte-americanos. A partir daí o país que que continuava em um ritmo frenético de
produção, começou a sofrer os impactos de uma menor demanda por seus produtos
que levaram a alta dos estoques e o preço de seus bens em queda.
Com isso, não é difícil imaginar o que se seguiu. Múltiplas empresas foram à
falência, o desemprego reinou sob 25% da população norte-americana, e em 29 de
outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York despencou, com mais de 16
milhões de ações sendo vendidas, e o que se seguiu nos três anos seguintes foi uma
queda abrupta do PIB mundial em 15%, e a produção norte-americana reduzida em
quase 50%.
A recuperação da economia norte-americana foi gradual, mas deu início a partir
de 1933, quando a partir do que ficou conhecido como New Deal, o país adotou
medidas como a intervenção do Estado na economia, o controle das produções
agrícolas e industriais, além da criação do seguro desemprego e de obras públicas
para oferecimento de trabalho a desempregados.

Figura 7 – A Grande Depressão - 1929

Fonte: somospi.com.br/as-maiores-crises-economica

25 Baseado em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/os-eua-na-primeira-guerra-mundial.htm


48
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10.2 A CRISE DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS – 198026


No início dos anos 70, boa parte dos países latino-americanos passaram a se
endividar rapidamente quando começaram a utilizar crédito barato em quantidade
excessiva para projetos de infraestrutura. A abundância de crédito levou essas nações
a alcançarem altas taxas de crescimento, por exemplo no Brasil que na época passou
pelo chamado “Milagre Econômico” no qual, entre 67 e 74, praticamente dobrou seu
tamanho economicamente.
Os problemas vieram, quando, também na década de 70, o mundo enfrentou
os chamados “choques do petróleo”, que ocorrem em 73 e 79, quando houve uma
explosão dos preços do petróleo que alavancaram um aumento da inflação nos
Estados Unidos. Essa situação levou o país norte-americano a elevar seus juros para
o controle da inflação, o que fez pesar o valor da dívida que os países latinos possuíam
para com a potência, que possuíam dívidas pós fixadas, ou seja, que seriam pagas
com base nos juros definidos no momento do pagamento.
Nesse cenário, a década de 1980, que também ficou conhecida como a
“Década Perdida” para muitos países latino-americanos, foi um momento de
crescimento limitado e com severos problemas de inflação. Nesse período, o Brasil
passou por uma hiperinflação, onde durante os anos de 80 a 89 o país possuía uma
inflação em média de 233,5% ao ano.
Em resposta à crise, boa parte dos países foi forçada a deixar de lado modelos
econômicos para adotarem estratégias de crescimento promovidas pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI).

10.3 A CRISE MEXICANA – 199427


Uma série de crises econômicas atingiu o mundo na década de 90. A primeira
ocorreu no México, que vinha recebendo um aumento da confiança dos investidores,
quando aderiu ao Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). O PIB do
país crescia e ele apostava em uma política fiscal monetária expansiva, com emissão
de títulos mexicanos que garantiam seu pagamento em dólar.
Os problemas começaram em 1994, época pré-eleitoral, onde crescia a

26 Baseado em: https://febraec.org.br/pt-br/detalhe/artigos/as-cinco-principais-causas--das-crises.htm#


27 Baseado em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/5-grandes-crises-economicas-que-
abalaram-o-mundo-atheycnpmtjjl1dfe9srhaapl/ e https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nafta2.htm
49
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

instabilidade política, déficits na balança comercial e uma sobrevalorização do peso


(moeda mexicana). O dinheiro estrangeiro passou a ser retirado rapidamente e em
95, o PIB mexicano encolhia 6,3%.
Com a saída de capital, os créditos acabaram, a produção industrial caiu
drasticamente e o desemprego no país chegou a 60%. Boa parte da América Latina
sofreu o impacto. E as consequências sob os países do continente ficou lembrada
como “Efeito Tequila”.

10.4 A CRISE ASIÁTICA – 199728


A crise asiática veio após um período de fortes taxas de crescimento,
superiores a 6% ao ano, que já atingiam os tigres asiáticos desde 1987. A crise que
teve seu ápice em 97, começou já em 95 quando um acordo internacional agravou a
desvalorização da moeda japonesa e chinesa (Iene e Renmimbi, respectivamente)
frente ao dólar norte-americano. A valorização do dólar aumentou o endividamento
externo, tornou as exportações dos países asiáticos menos competitivas e diminui o
preço mundial de alguns dos principais produtos de exportação do continente.
Nesse cenário, uma série de ataques especulativos passou a alcançar as
moedas da região. Em maio de 97, o primeiro país a ser atingido foi a Tailândia, que
inicialmente tentou resistir a desvalorização da sua moeda, mas sucumbiu diante do
fim de suas reservas. Três meses depois, os impactos já eram sentidos na Bolsa de
Valores de Hong Kong. Países como Taiwan, Indonésia e Coreia do Sul recorriam ao
FMI para obterem empréstimos na tentativa de minimizar os danos econômicos.
A crise também refletiu nas potências econômicas. Diversas ações
internacionais sofreram quedas em 60% e a economia mundial ficou contida nos anos
de 98 e 99. Por fim, os impactos também foram sentidos no Brasil, que logo após a
queda de mais de 10% na bolsa de Hong Kong, também viu seus papéis
desvalorizarem em cerca de 8% no mesmo dia.

28 Baseado em:
http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=774:catid=28&a
mp;Itemid=23
50
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

10.5 A CRISE RUSSA – 199829


Em grande parte, a crise russa se deu por uma transição malsucedida e
acelerada da economia planificada comunista da antiga URSS para a economia de
mercado capitalista.
Essa crise começou a demonstrar seus sinais já desde o colapso político da
URSS e a desintegração territorial, que se sucedeu em 1991. A partir daí a Rússia
falhou em implementar políticas econômicas e não conseguiu reestruturar ou
implementar setores produtivos em sua indústria. Com a falta de reestruturação
necessária, as empresas começaram a falir e o país entrou em uma grave crise
econômica, com taxas negativas em seu PIB, altas taxas de inflação e desemprego
elevado que atingiu 15% da população e fez 35% dos russos viverem abaixo da linha
da pobreza.
Em 97, com a crise asiática, a situação da Rússia se torna ainda mais
deteriorada, com a redução de crédito internacional e a queda dos preços das
commodities exportadas. Com a escassez do crédito, a crise estoura em 98 quando o
país decretou moratória de sua dívida externa e ao mesmo tempo também
desvalorizou sua moeda.

10.6 A CRISE DO SUBPRIME (BOLHA IMOBILIÁRIA) – 200830


Essa crise financeira foi considerada por muitos como a pior das crises
econômicas desde a crise de 29. Ela ocorreu em linhas gerais devido a uma bolha
imobiliária nos Estados Unidos, que derivou do aumento dos valores de imóveis e não
foi acompanhado por um aumento na renda da população.
Essa bolha foi basicamente o oferecimento de maior crédito por parte dos
bancos, já desde os anos 90, que expandiu o crédito imobiliário e começou a atrair
mais consumidores. A alta demanda, causou uma valorização dos imóveis, mas foi
seguida com uma taxa de juros maior e derrubou o preço dos imóveis novamente.
Quando a taxa de juros subiu, muita gente não teve como pagar as hipotecas e
diversos bancos passaram a ficar descapitalizados.
Ou seja, a consequência pela alta oferta inicial e posteriormente um aumento
dos juros, causou a bolha imobiliária, já que as pessoas não conseguiam pagar mais

29 Baseado em: https://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/urss_crise_russa.aspx


30 Baseado em: https://www.politize.com.br/crise-financeira-de-2008
51
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

juros sobre o valor emprestado, o que fez os bancos não terem dinheiro para realizar
suas operações, o que deu início a crise, e em 15 de setembro de 2008, um dos
maiores bancos americanos, o Lehman Brothers, declarou falência, o que
consequentemente seguiu de uma gigantesca queda das principais bolsas mundiais
e marcou o início de uma da maiores e mais graves crises econômicas que o mundo
vivenciou.
Após uma recusa inicial do governo norte-americano, de aplicar dinheiro
público no setor privado, para tentar salvar algumas instituições financeiras, as bolsas
ao redor do mundo começaram a colapsar, pois os investidores, temendo a recessão
que isso causaria, passaram a resgatar suas aplicações, o que diminui a liquidez do
mercado. Nos dias seguintes a falência do Lehman, as bolsas mundiais já registravam
quedas na casa dos 30%.
A renda coletiva de muitas famílias norte-americanas registrou queda de mais
de 25%. entre os anos de 2007 e 2008. O índice S&P 500, o maior da bolsa americana,
caía cerca de 45%, enquanto o desemprego chegava a seu maior percentual desde
1983. Em dois anos, apesar dos esforços dos bancos centrais para injetar milhões de
dólares na economia mundial, a crise se espalhou e alcançou a zona do euro e atingiu
principalmente Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda e a Itália.
No Brasil, e em geral nos mercados emergentes, a crise foi sentida com menor
intensidade. Na época, o presidente Lula se referiu a crise como sendo apenas uma
“marolinha”, que significava na sua crença de que ela não seria muito sentida no país.
Mesmo assim, o índice BOVESPA ainda viu suas ações caírem e o preço do
dólar aumentar. Isso porque em momentos de crise, os investidores retiram seu capital
de mercados mais arriscados e o realocam para pontos mais seguros. Com isso,
houve uma expectativa de crescimento econômico reduzida e uma redução da
previsão do PIB para o país. Muitos economistas também defendem que o Brasil
passou a sentir os efeitos da crise nos anos de 2014 e 2015, onde o passou por sua
pior recessão desde a redemocratização.

10.7 A CRISE MUNDIAL DEVIDO A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS – 202031


A epidemia do Covid-19, que teve início em dezembro de 2019 na China, e se

31 Baseado em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51742904


52
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

espalhou por todos os continentes nos meses seguintes, tem causado o


questionamento de qual a gravidade econômica que ela trará para o mundo em
comparação com as outras crises já vivenciadas.
O fato é que ela já é diferente das demais, uma vez que foi causada por um
vírus, e não por situações econômicas monetárias de qualquer país. Vemos que,
comumente, as outras crises possuem características similares: decorreram de
problemas no setor financeiro de algum país (ou grupo) específico.
Já essa crise possui características próprias, pois decorre de causas naturais,
assim como outras epidemias que o mundo já havia presenciado (como a gripe
espanhola, de 1918 a 1920). Ela abalou tanto a demanda quanto a oferta dos países,
que se viram obrigados a utilizarem do isolamento social como forma de evitar uma
maior disseminação da doença.
As bolsas mundiais reagiram em pouco tempo. Em março, quando o vírus já
havia se alastrado o Ibovespa registrou quedas na casa dos 30%, o que demonstrava
o pavor dos investidores em relação a uma possível recessão global.
No entanto, não há um episódio histórico, de crise econômica mundial derivada
de um vírus natural, que possa fornecer insights ou previsões sobre quais serão as
consequências econômicas futuras para esse momento.
O FMI defende que a crise do Coronavírus irá causar o pior desempenho da
economia global desde a Grande Depressão, de 1929, e realizou estudos que
preveem uma diminuição do PIB brasileiro em 5,3%, o pior resultado desde 1901.
Um consenso entre muitos economistas é de que a crise deve ser mais severa
nos países desenvolvidos, que já vinham alcançando altas taxas de crescimento nos
últimos anos. As projeções do órgão são de que os países mais ricos devem retrair
suas atividades em 6,1%, enquanto os países emergentes, como o Brasil, devem
recuar suas atividades em torno de 1%. O fato é de que as crises anteriores deixaram
lições que podem ser utilizadas pelos governos para mitigar o dano econômico.
Medidas de estímulo fiscal e monetário e a emissão de moeda estão entre algumas
das ações, que segundo economistas, o governo poderá utilizar.
O momento é único na história e isso é um fato. Enquanto se enfrenta a crise,
não há previsões precisas sobre o impacto final que esta crise trará. A extensão do
isolamento social irá ditar quais serão as consequências. E no fim, quando a economia
voltar a girar normalmente, serão realizadas análises mais precisas do impacto que a
crise trouxe a nível mundial.
53
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

11. RISCO PAÍS


Risco-país é um indicador utilizado para orientar os investidores estrangeiros a
respeito da situação financeira de um mercado emergente. Precisamente, o risco-país
é denominado EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus), sendo calculado por
bancos de investimento e agências de classificação de risco. Tal termo foi criado pelo
banco J.P.Morgan, em 1992, para poder orientar seus clientes sobre o direcionamento
de seus investimentos, evitando aqueles países em que o risco de ocorrer uma crise
financeira é maior.
Para calcular o índice, os bancos levam em conta vários fatores, como o nível
do déficit fiscal, o crescimento da economia, a relação entre arrecadação e a dívida
de um país, as turbulências políticas etc. Em outras palavras, o risco-país mostra a
sobretaxa que um investidor está correndo o risco de pagar em relação ao rendimento
dos papéis da economia americana, uma vez que esta é considerada a mais solvente
do mundo.
Ter um EMBI+ com altos pontos pode significar a repulsão de investimentos
estrangeiros em um país, provocando grandes prejuízos na economia, uma vez que
estes investimentos são essenciais para o desenvolvimento dos mercados
emergentes. O Risco-País é um conceito econômico que expressa a probabilidade de
insolvência de um país frente aos investidores estrangeiros. Quanto maior o risco,
menor a capacidade de atrair capital estrangeiro e maior deve se a taxa de juros com
que ele remunera seus investidores.
Ou seja, quando estrangeiros pensam em investir no Brasil, por exemplo,
considera-se o Risco-País um dos termômetros mais fiéis para saber a capacidade de
uma nação honrar seus compromissos financeiros e dívidas, sobretudo em momentos
de alta incerteza, como no momento vivido em 2020 com a pandemia mundial do
Coronavírus.
Dentro desse conceito, fatores externos à economia, como a condução da
política nacional ou qualquer agente que cause instabilidade no mundo, são
preponderantes para o nível do Risco-País. Quem faz negócios no mercado
internacional também deve estar atento as questões de risco do país ao qual se está
negociando.
54
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

12. INTERNACIONALIZAÇÃO
A internacionalização de empresas é um conceito que se refere a diversas
etapas no processo de atuação de uma empresa em regiões geográficas exteriores
ao seu país. Esse processo pode incluir diversas formas de contato entre a empresa
e o mercado exterior, passando pela simples exportação de produtos até a produção
em escala no mercado internacional.
De forma geral, a internacionalização é o processo de integração de uma
empresa com territórios de outra nação. Tudo se inicia com a decisão da empresa de
começar as suas atividades empresariais em outro país, podendo passar por diversas
fases de comprometimento.
Existe uma série de vantagens e benefícios para empresas que iniciam
atividades em outros países. Todo o processo precisa ser muito bem ponderado e
contar com parâmetros que norteiem a execução do projeto, mas, de forma geral, as
oportunidades de negócio podem garantir grande vantagem em um mercado cada vez
mais competitivo.
Algumas das principais vantagens da internacionalização de empresas são:
 Ganho de novos mercados;
 Diminuição de custos;
 Acúmulo de experiências de mercado;
 Criação de uma marca global;
 Diluição de riscos;
Ganho de novos mercados
Um dos incentivos para o início da exploração de outras regiões geográficas é
a oportunidade de adquirir mercados consumidores ainda não explorados. Essa ação
pode incluir adquirir consumidores do mesmo perfil daqueles do seu país original ou
mesmo a exploração de verticais ainda não testadas.
Outro fator-chave relacionado com o ganho de novos mercados é a
possibilidade de ajustar zonas de sazonalidade entre os mercados em que a empresa
atua. Por exemplo, um período de vendas baixas em um país pode ser suprido por
um alto volume de vendas em outro.
55
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Dessa forma, empresas que sofrem com vendas sazonais (por estações do
ano, por exemplo) podem diminuir essa dependência, focando na produção em outros
países.

Diminuição de custos
Uma grande vantagem para quem exporta é a redução da carga tributária
oferecida por muitos dos países de destino da exportação. Na maioria das vezes, e
dependendo do segmento da empresa, o próprio governo brasileiro facilita a
exportação com a diminuição ou mesmo exclusão de alguns tributos sobre a produção
e comercialização. Tributos como ICMS e COFINS, podem não sofrer cobranças de
acordo com o regime de enquadramento da empresa e segmento de atuação.

Acúmulo de experiências de mercado


Atuar em novos mercados de outros países nem sempre é uma tarefa fácil.
Afinal, é bem provável que ao longo dessa caminhada a empresa consiga concentrar
uma bagagem de experiência que poderá fazer toda a diferença em termos
estratégicos para a organização.

Criação de uma marca global


Para competir em mercados internacionais, há uma série de exigências
impostas tanto por instituições dos países de origem e destino como pelos próprios
clientes do novo mercado. Ao internacionalizar uma empresa, é inerente que seja
também melhorado o nível de qualidade do valor agregado aos seus clientes.
Em razão disso, a empresa tem a oportunidade de criar uma marca referência
global, com a qualidade de “empresa exportadora”. Isso garante muito mais segurança
de compra e consequentemente vantagem sobre os principais competidores do
mercado.

Diluição de riscos
Ao iniciar uma operação em outros países, os riscos serão diluídos em
comparação ao risco de operar somente em uma nação. Os riscos relacionados ao
ambiente local de cada país afetam a operação local e estourando corretamente uma
operação global a empresa estará com riscos reduzidos em relação aos impactos na
demando por seus produtos.
56
FUNDAÇÃO DE ESTUDOS DO MAR

Obviamente, a diluição de riscos é um ganho que tem o custo da complexidade


de operação porque a empresa precisará destruir a operação, bem como
compreender como operar em cada país em termos culturais, regulatórios e
econômicos.

12.1 COMO FAZER A INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA?

Compreenda o mercado de atuação


O passo inicial para planejar a internacionalização é estudar e garantir que o
novo mercado de atuação tenha espaço para o seu produto ou serviço oferecido. Isso
inclui pesquisas, prova de mercado, validação de protótipos (em caso de lançamento
de produtos) e avaliação de aceitação. Esse passo inicial pode ajudar a empresa a
economizar energia e investimento em caso de mercados improdutivos.

Entenda a demanda e capacidade de produção


Começar a atuar em um novo mercado é sinônimo de ganho de clientes e
volume de vendas. É essencial, portanto, que se entenda qual é a capacidade real de
produção ou prestação de serviços da empresa, e qual é a demanda esperada para
iniciar as vendas e garantir a confiabilidade da marca no novo mercado, já que
nenhuma empresa pretende ser conhecida como aquela que “vende, mas não
entrega”.

Enquadre a empresa nos requisitos técnicos e legislação


Além de atuar com eficácia no novo mercado, é essencial que se garanta o
cumprimento de todas as exigências e requisitos. Isso inclui, por exemplo, estar de
acordo com a legislação de exportação do país de origem para o seu segmento e a
de importação do mercado de destino. Alguns países têm requisitos técnicos para
permitir a entrada de mercadorias, como os países da comunidade europeia. Portanto,
é essencial que a empresa conheça todos eles para começar a internacionalização.
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Trace estratégias de comercialização


Quando a operação da internacionalização começar, é essencial que a
empresa tenha todos os planos de ação já traçados para a comercialização com o
objetivo de não prejudicar sua rentabilidade no mercado. É importante que o plano de
internacionalização cumpra com um planejamento detalhado das estratégias que
serão utilizadas no novo mercado de atuação.
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13. BARREIRAS COMERCIAIS32


Numa negociação internacional é importante estar atento nas barreiras
comerciais ou barreiras alfandegárias que podem ser definidas como, qualquer
medida, lei, regulamento, política ou prática governamental que imponha restrições
ao comércio exterior. São barreiras tarifárias ou não tarifárias.
O objetivo dessas barreiras é a proteção da economia do país, resguardando a
indústria nacional e o emprego. No entanto nos tempos atuais, alguns países têm cada
vez mais utilizado das barreiras comerciais para fins protecionistas, prática proibida
pela OMC.

13.1 BARREIRAS TARIFÁRIAS


As barreiras comerciais tarifárias são o tipo mais comum, e são todas aquelas
que envolvem o pagamento de algum imposto, taxa ou tarifa. Todo país aplica algum
tipo de tarifa alfandegária, em exemplo, no Brasil, produtos importados devem pagar
o Imposto de Importação (II), Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante
(AFRMM), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre outros.
Esse tipo de barreira tem o objetivo de proteger os produtos ou bens produzidos
nacionalmente, frente aos importados, tornando o preço dos bens estrangeiros menos
competitivos. Outro ponto também é seu caráter fiscal, o Governo consegue através
desse arrecadar receita.
O cálculo do valor a ser pago dependerá da valoração aduaneira, ou seja,
dependerá de fatores como quantidade do produto, valor do frete pago, taxa cambial,
taxas administrativas etc.
Na hora de planejar a exportação ou importação, é essencial que o profissional
saiba as barreiras comerciais do produto de acordo com a legislação de cada país.

13.2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS


As barreiras comerciais não tarifarias são todos os mecanismo e instrumentos
de política econômica externa que influenciam no comercio exterior, e que não são

32 Baseado em: https://portogente.com.br/portopedia/112174-barreiras-comerciais-5-coisas-que-


voce-precisa-saber
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tributos (Abimaq,2020). Essas barreiras acarretam restrições quantitativas,


necessidade de licenciamento de importação, procedimentos alfandegários,
valoração aduaneira arbitrária ou com valores fictícios, Medidas Antidumping,
Medidas Compensatórias, subsídios, Medidas de Salvaguarda e medidas sanitárias e
fitossanitárias.
A sua classificação técnica para os tipos de barreiras não é:
Regras Quantitativas: aquela que impõem quantidade limite de importação de
alguns bens;
Regulamentos técnicos: de acordo com definição do INMETRO, principal
órgão regulamentador deste tipo de barreira, são barreiras comerciais as “derivadas
da utilização de normas ou regulamentos técnicos não-transparentes ou não-
embasados em normas internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes da adoção
de procedimentos de avaliação da conformidade não-transparentes e/ou
demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções excessivamente rigorosas.”;
Regulamento sanitário e fitossanitário: essas barreiras possuem o objetivo
de proteger a vida, a saúde humana, animal e a sanidade vegetal do país, através da
aplicação de normas, procedimentos e controles aplicáveis ao comércio internacional
de produtos agrícolas;
Padrões privados / Normas Voluntárias: essa forma de barreira se
caracteriza pelas exigências estabelecidas por entidades privadas, referentes à
segurança, qualidade ou sustentabilidade de produtos e seu processo de produção;
Serviços: elas podem ocorrer de duas formas: (1) com as limitações ou
proibições de que algum serviço estrangeiro seja prestado no país e (2) aplicação de
tratamento discriminatório ao prestador de serviço de origem estrangeira;
Subsídios: ocorrem quando o governo oferta algum tipo de contribuição
financeira (que podem ser efetivadas de diversas maneiras) a certos setores
específicos da economia, ou a empresas de determinada região, para impulsionar a
competividade dos beneficiários, em detrimento de seus concorrentes estrangeiros;
Propriedade intelectual: as leis de proteção à propriedade intelectual, como
as patentes, marcas, direitos autorais, entre outros, são importantes para que diversos
produtos possam competir em mercados estrangeiros. Previnem contra práticas de
concorrência desleal;
Compras governamentais: os produtos de origem estrangeira enfrentam
algumas barreiras frente aos nacionais quando o comprador for o governo. Os entes
60
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governamentais devem dar preferência aos produtos nacionais;


Regras de origem: são as regras de origem os critérios utilizados para
determinar a origem de um produto. Para que um produto seja considerado originário
de um país, ele deve ter passado por transformação industrial relevante, ou agregação
de valor, naquele país;
Acordo Sobre Barreiras Técnicas (TBT)
Na vigência do GATT, foi assinado o Standards Code, que determinava regras
de preparação, adoção e aplicação de normas e regulamentos técnicos e de
procedimentos de avaliação da conformidade, todos padronizados para os países
signatários. Com a criação da OMC, os países negociaram novo acordo sobre
barreiras técnicas, o Acordo sobre Barreiras Técnicas, TBT Agreement.
Esse acordo fortaleceu o Standards Code, aprofundando os princípios já
existentes. Enquanto no GATT os países signatários poderiam, ou não, assinar o
Standards Code, com o TBT Agreement a sua aderência é compulsória, ou seja,
países que compõem a OMC são obrigados a aceitá-lo, no momento de sua adesão.
Dispões que os Governos não devem produzir exigências técnicas, como normas,
regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade, que criem
obstáculos ou barreiras técnicas ao comércio internacional.
O Objetivo do Acordo sobre Barreiras Técnicas possui o objetivo de harmonizar
as normas técnicas dos membros da OMC. Para tanto, a elaboração de normas
técnicas exige a participação de entidades internacionais. Para assegurar a
transparência dos regulamentos técnicos e quais são os procedimentos de avaliação
das conformidades, os países membros devem fornecer total transparência através
da publicidade das regras, permitindo o fácil acesso a quem interessar. A OMC possui
um Comitê voltado só para o Acordo TBTE.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Carlos Frederico. Marketing: O que é? Quem faz? Quais as tendências?


2ª edição revisada. Editora: IBPEX, 2010.
ANNONI, Danielle. Introdução ao Direito contratual internacional. 1ª edição. Editora:
INTERSABERES, 2012.
BORGES, Joni Tadeu. Financiamento ao Comércio Exterior, 1ª edição. Editora:
INTERSABERES, 2012.
TEBCHIRANI, Fábio Ribas. Princípios de economia micro e macro. 1ª edição. Editora:
INTERSABERES, 2012.
COSTA, Armando João Dalla. Economia internacional teoria e prática, 1ª edição.
Editora: IBPEX, 2010.
Edições Aduaneiras. Sistemática de Comércio Exterior – Importação. 1ª edição.
Editora: LEX Editora S.A, 2005.
KEEDI, Samir. Transportes, Unitização e Seguros Internacionais. 8ª edição. Editora:
ADUANEIRAS, 2020.
MACHADO, José Luiz. Blocos Econômicos no panorama mundial, análise geográfica
e econômica. 1ª edição. Editora: INTERSABERES, 2012.
PIGOZZO, Ana Flávia. Marketing internacional (Série Marketing Ponto a Ponto). 1ª
edição. Editora: INTERSABERES, 2013.

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