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São Tomé
2019
COSME DO ESPÍRITO SANTO PIRES NETO
São Tomé
2019
Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe
Curso de Direito
DECLARAÇÃO
Declaro por minha honra que esta monografia que submeto à ULSTP, em cumprimento dos
requisitos para a obtenção do grau de licenciatura em Direito, nunca foi apresentada para a
obtenção de qualquer outro grau académico e constitui o resultado da minha investigação
pessoal, tendo indicado no texto e na bibliografia as fontes que utilizei.
O Candidato,
_______________________________________
(Cosme do Espírito Santo Pires Neto)
Agradecimento
Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo amor e protecção que tem proporcionado desde o
nosso nascimento até a presente data.
À minha família, em especial à minha mãe Maria Simão, a minha esposa Agersilay Garrido,
às minhas duas filhas Cleyde Neto e Ariane Neto.
Ao Alciano Pereira da Graça pelo apoio constante e permanente durante este percurso.
Aos meus dois grandes amigos e colegas da profissão, Edgar e Elísio pela força e conselhos
durante esses anos, que a nossa amizade permanece imutável.
Aos amigos e colegas da universidade lusíada por terem sido a minha família durante os
melhores anos da minha vida, os loucos e emocionantes anos académicos.
Um especial e profundo agradecimento ao Professor Doutor Silvestre Leite pela orientação e
apoio incondicionais que estimularam a minha vontade na escolha e desenvolvimento deste
tema. A sua ajuda foi determinante na elaboração desta Monografia.
Dedicatória
Ao meu querido Pai, pela educação, e incansável acompanhamento até o fim da sua vida, pela
compreensão, pelo respeito, pela confiança, pelo carinho, pelo amor e por tudo o que tem feito
por mim e pela nossa família. Que todos os filhos tenham a sorte de terem um pai assim. “E
que a sua alma descanse em paz”.
Resumo
Falar de direito militar é falar de conjunto regras, normas ou princípios que vêm regular as
forças armadas e as demais forças militares ou militarizadas de um país. Palavra de origem
latina que significa o direito aplicado nos acampamentos do exército Romano, dai ter a sua
origem no direito romano. Este direito é conhecido como direito castrense
Assim sendo, este trabalho pretende abordar sobre os mais diversos temas do direito militar,
abordando sobre a sua regulamentação, do funcionamento dos tribunais, bem como as fases
processuais, sendo esta dividida em fase processual em momento de guerra e fase processual
em momento de paz.
Palavras-chave: Direito militar, Direito penal militar, Militar, paramilitar e tribunal militar
Summary
Speaking about of military’s law is to speak of the set rules, norms or principles that come to
regulate the armed forces and the other forces of a country. Word of Latin origin that means
the law applied in the camps of the Roman army, hence its origin in Roman law, this law is
known as castrense law.
Thus, this paper intends to address the most diverse subjects of military law, addressing its
regulation, the functioning of the courts, as well as the procedural steps, which is divided into
procedural phase at war and procedural phase at peace.
Keyword: Military law, Military criminal law, Military, paramilitary and military court
Lista de Abreviatura e sigas
Siglas Designação
Art.º Artigo
N.º Número
Pág. Página
1. Introdução................................................................................................................ 10
1.1. Questões de estudo .............................................................................................. 11
1.2. Hipótese de investigação ..................................................................................... 11
1.3. Objectivos Gerais do Estudo ............................................................................... 11
1.4. Objectivos Específicos ........................................................................................ 11
1.5. Metodologia do estudo ........................................................................................ 11
CAPITULO I - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ......................................................... 13
2. Definição de direito militar ..................................................................................... 13
3. Direito penal versus direito penal militar ................................................................ 13
3.1. A Tentativa .......................................................................................................... 14
3.2. Atenuantes ........................................................................................................... 15
4. Militar e Paramilitar ................................................................................................ 15
5. Contexto histórico de direito Militar ....................................................................... 16
CAPITULO II - O DIREITO MILITAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO
SANTOMENSE ............................................................................................................ 18
6. A regulação jurídica dos militares Santomenses ..................................................... 18
7. Crimes militar: Tipologias ...................................................................................... 18
8. O processo penal militar Santomense ..................................................................... 20
8.1. Os sujeitos processuais ........................................................................................ 20
8.2. Fases do processo penal militar ........................................................................... 21
9. A existência do tribunal Militar em São Tomé e Príncipe ...................................... 22
9.1 Importância e a utilidade do tribunal militar ............................................................ 22
10. Conclusão ............................................................................................................ 25
Referência bibliográfica ................................................................................................. 27
Anexo ............................................................................................................................. 28
1. Introdução
A presente monografia tem como objectivo a parte de requisitos exigidos pela Universidade
Lusíada de São Tome e Príncipe (U.L.S.T.P.) para conclusão do curso de Licenciatura em
Direito.
Direito Militar é um ramo de direito, ou conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as
forças armadas e as forças paramilitares.
Com esta monografia pretende-se contribuir para o aperfeiçoamento do sistema jurídico-penal
militar, e de certa forma combater as lacunas que afectam a instituição, e de uma forma em
geral trazer uma melhoria no sistema jurídico santomense.
Para chegarmos a um conhecimento mais abrangente sobre este tema, estruturamos o trabalho
da seguinte forma: A Introdução que são apresentados o contexto de estudo, os objectivos
gerais e específicos, a questão de investigação, e as hipóteses levantadas sendo uma positiva e
outra na negativa, e composta ainda por dois capítulos: O primeiro capítulo, que tem como
titulo Noções Introdutórias, onde abordaremos algumas questões tais como: Definição de
direito militar, direito penal versus direito penal militar, militar e paramilitar, contexto
histórico de direito penal militar.
No segundo capítulo, que tem como título O Direito Militar no Ordenamento jurídico
Santomense, falaremos da regulação jurídica dos militares Santomenses, os crimes militares e
a sua Tipologia e o processo penal militar santomense.
10
1.1. Questões de estudo
O problema, ou a questão de investigação deste trabalho é de conferir a Utilidade do Tribunal
Militar em São Tome e Príncipe?
11
fins, e a verificação de diversos diplomas legislativos para um melhor e mais adequado
fundamento das nossas conclusões.
Na elaboração do trabalho consultamos leis referentes ao tema como a lei de justiça militar
dos tribunais e procuradoria, código de justiça militar e regulamento de disciplina militar, e
outras leis atinentes, como a lei dos crimes militares em Angola.
Em termos bibliográficos analisamos diversas obras relacionadas, ao direito militar.
Por outro lado, para darmos uma melhor originalidade ao nosso trabalho, fizemos uma serie
de entrevista, aos titulares do respectivo tribunal e não só, entre eles: Oficial de diligência do
tribunal militar, procurador militar, Juiz militar.
12
PARTE I
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Antes de se proceder à definição de Direito Penal Militar importa, em primeiro lugar, definir
Direito Penal “stricto senso”.
Segundo Figueiredo Dias2 direito penal:
“É o conjunto das normas jurídicas que ligam a certos comportamentos humanos, os crimes,
determinadas consequências jurídicas privativas deste ramo de direito. A mais importante
destas consequências – tanto do ponto de vista jurídico quantitativo, como qualitativo (social) –
é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime que tenha atuado com culpa.”
Olhando agora para o conceito de direito penal militar, segundo Francisco Oliveira (apud
Félix, 2016, pág. 14) “o Direito Penal Militar é “o conjunto normativo especial regulador dos
pressupostos e circunstâncias dos comportamentos puníveis com penas de prisão, aplicadas no
quadro específico da jurisdição militar.”
Por sua vez Robson Coimbra Cícero afirma que:
“O direito penal militar consiste no conjunto de normas jurídicas que têm por objectos a
determinação de infracções penais, com suas consequentes medidas coercitivas em face da
1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_militar (consultado em 17 de Outubro de 2019)
2
DIAS, Jorge de Figueiredo – Questões Fundamentais a Doutrina Geral do Crime. Tomo I., 2 ed., ver.,
actualizada. Coimbra: Coimbra Editora, 2007, pág. 3
13
violação, e ainda, pela garantia dos bens juridicamente tutelados, mormente a regularidade de
acção das forças militares, proteger a ordem jurídica militar, fomentando o salutar desenvolver
das missões precípuas atribuídas às Forças Armadas e às Forças Auxiliares”.
Assim sendo, direito penal militar, consiste sempre em infracções puníveis que são aplicadas
aos quadros dos serviços militares. É o ramo especializado do Direito Penal que estabelece as
regras jurídicas vinculadas à protecção das instituições militares e ao cumprimento de sua
destinação constitucional. E como não se poderia deixar de falar, caso algum quadro militar
cometa uma dessas infracções ele estará alvo de um processo, tendo que ser julgado tendo em
atenção a legislação própria. Dai falarmos do direito processual penal militar.
Neste âmbito importa demostrar dois aspectos concretos em que o direito penal militar
divergem do direito penal comum:
3.1. A Tentativa
Relativamente à tentativa é possível observar uma diferença significativa entre o Direito Penal
Militar e o Direito Penal comum, desde logo, pela leitura do que está previsto nos respectivos
códigos.
O Código de Justiça Militar quanto a definição de tentativa refere, no seu artigo 7º, que “A
tentativa de crimes essencialmente militares é punível qualquer que seja a pena aplicável ao
crime consumado.”
No Direito Penal Militar, os crimes estritamente militares são puníveis por tentativa
independentemente da pena aplicável ao crime consumado. Contrariamente, no Direito Penal
comum a tentativa apenas é punível, em regra, se ao crime consumado respectivo corresponder
pena superior a três anos de prisão, como exemplo art.º 23.º, n.º 1 C.P.
Existe no âmbito do Direito Penal Militar uma defesa igualitária dos bens jurídicos contidos nas
normas. Todos eles se situam no mesmo nível de dignidade punitiva pois, independentemente da
pena aplicada ao crime consumado, seja esta mais ou menos gravosa, se o facto for praticado sob
a forma de tentativa, a mesma será punível.
O contrário sucede no Direito Penal comum em que “Largo consenso legislativo e doutrinal existe
sobre que nem todo o ilícito da tentativa, (…), revela suficientemente dignidade punitiva.”
(Dias,2007pág. 711). Verifica-se uma delimitação do âmbito da tentativa punível em função da
pena aplicável ao respectivo delito consumado.
14
“Torna-se claro ter sido intenção político-criminal do legislador restringir a punição da
tentativa, por via de princípio, aos casos criminologicamente chamados da grande e da média
criminalidade”, isto relativamente ao Direito Penal geral. (Dias F., Direito Penal, Parte Geral,
Tomo I, 2007, p. 712)
3.2. Atenuantes
Nos termos do artigo 20.º do C.J.M, os crimes essencialmente militares só são atenuados em
alguns aspectos, nomeadamente:
A prestação de serviços relevantes a sociedade;
O bom comportamento militar;
A maioridade de 70 anos;
A provação, quando consista em ofensa corporal ou em ofensa grave á honra do
agente do crime, cônjuge, ascendentes, descendentes, irmãos ou afins nos mesmos
graus, tendo sido praticado o crime em acto seguido a mesma provocação;
A espontânea confissão do crime;
A espontânea reparação do crime;
O cumprimento da ordem do superior hierárquico do agente, quando não basta para
justificação do facto;
A apresentação voluntaria às autoridades
4. Militar e Paramilitar
Uma vez que a hierarquia militar é uma característica fundamental da Força Armada e as
Forças Paramilitares, neste prisma vamos fazer uma abordagem sobre este aspecto. Em são
Tomé e Príncipe a força militar e paramilitar está hierarquizada da seguinte forma:
Militar - Classes dos oficiais; Classes dos sargentos; e Classes das praças;
Paramilitar - Classes dos oficiais; Classes dos subchefes; e Classes dos agentes.
3
CARDOSO, Mariela Ribeiro Nunes – Noções de Direito Militar. Pág. 6
15
respeito á hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento á sequência de
autoridade.”
16
a existência de crimes ou penas militares, mas demostrou a diferença entre homens militares
ou homens comuns, o que nos indica a necessidade de um tratamento diferenciado entre eles.
A partir disso, os exércitos surgidos, para manter a sua estrutura hierárquica e disciplinar,
socorrer-se ao direito penal romano, encontrado no Digesto, tipificações especificas para
crimes militares como cumplicidade com o inimigo, deserção, Auto lesão e cumplicidade na
Auto lesão para evitar o serviço militar, abandono do posto, traição, covardia, insubordinação,
motim ou revolta deveres militares do superior hierárquico, nesta logica, concluirmos que o
direito penal militar tem a sua cerne no direito romano, dado a influência que este exerceu
naquele.
17
PARTEII
O DIREITO MILITAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO
SANTOMENSE
18
De acordo com a doutrina clássica, os crimes propriamente militares são aqueles que somente
podem ser praticados por militares, enquanto os impropriamente militares podem ser
praticados também por civis.
Há ainda muita discussão a respeito do crime de insubmissão, que é cometido por aquele que
se ausenta no momento de sua incorporação nas forças armadas. Boa parte da Doutrina
entende que este é um crime propriamente militar, pois é totalmente relacionado com vida
militar. Por outro lado, ele só pode ser praticado por um civil, pois trata- se justamente do
momento anterior ao incorporado, nos termos do art.º 384.º C.P. Por essa razão, há outra
doutrina, capitaneada por Jorge Alberto Romeiro, que defende como crime propriamente
militar aquele em que a Acão penal somente pode ser proposta contra militar. O insubmisso
apenas respondera a Acão penal depois que se apresentar ou for capturado, e for incorporado
as forças armadas4.
Ainda dentro de crimes propiamente militares podemos afirmar que existem três correntes de
opiniões: A primeira corrente, diz que crime militar é aquele que somente o militar poderia
cometer; uma segunda corrente doutrinária, entende que além da condição de militar do
agente, seria necessário que o crime praticado atentasse, directamente, contra as Instituições
Militares, a Hierarquia e a Disciplina Militares. Por último temos a terceira corrente que
entende que crime propriamente militar é aquele cuja acção penal somente pode ser praticada
contra o militar. Nestes termos, e importante afirmar que, o direito penal militar Santomense,
adoptou a segunda corrente de opiniões, nos termos art.º 1.º, n.º 1 e 2 C.J.M.
Como exemplos de crimes essencialmente militares temos o crime de traição em tempo de
guerra se o militar combater contra pátria poderá ser condenado na pena de prisão de 24 a 28
anos segundo os termos do artigo 56.º da C.J.M e também o crime de insubordinação que se
encontra previsto nos termos do artigo 72.º do C.J.M, na qual o militar que, sem motivo
algum, recusar ou deixar de cumprir qualquer ordem que, no uso de atribuições lhe for
mandada por um superior será punido por penas previstas em diversos momentos elencados
no presente artigo.
4
GUIMARÃES, Paulo – direito penal militar, pág. 7
19
8. O processo penal militar Santomense
Direito processual penal militar é um ramo especializado do direito que tem por objectivo
permitir a aplicação da legislação penal militar por via de regras processuais que de forma
semelhante cuidam do processo penal. O processo penal militar tem regras específicas que
diferencia em face do processo penal comum.
20
8.2. Fases do processo penal militar
Segundo a lei, o processo penal militar se subdivide em: o processo penal militar em tempo de
paz nos termos do art.º 322.º do C.J.M; e o processo penal militar em tempo de guerra, nos
termos do art.º 473.º do C.J.M.
Em tempo de paz o processo começa com a investigação onde se procura fazer descoberta de
indícios informatórios e a recolha de elementos que facilita a determinação de forro
competente para o conhecimento da infracção nos termos do art.º 332.º al. a) e b) C.J.M.
Portanto a investigação será confiada normalmente a uma equipa de serviço da polícia
judiciária. Em seguida temos a fase de instrução, depois do despacho exarado que proceda a
instrução, todos elementos disponíveis serão imediatamente presentes ao juiz de instrução
competente, nos termos do art.º 342.º código da justiça militar. Por conseguinte temos a fase
de detenção e prisão preventiva, em que estas são reguladas pelo código de processo penal
nos termos do art.º 149.º e seguintes do C.P.P, com as excepções previstas na lei militar. Por
outro lado, no caso de detenção e prisão ilegal se recorrerão Supremo Tribunal Militar para
diligenciar a providência do habeas corpus (art.º 372.º código justiça militar). Também, temos
a fase de acusação e defesa no que se refere ao crime essencialmente militar, em que só se
admite a acusação pública nos termos do art.º 376.º C.J.M.
Por outro lado, temos a fase do julgamento que se subdivide em duas partes a saber:
Discussão da causa em audiência - em regras será pública salvo algumas excepções,
nos termos art.º 387.º C.J.M, assim, se audiência for secreta, só pode nela participar os
intervenientes no processo, mas importa dizer que a leitura da decisão deve ser feita
publicamente.
Conferência do tribunal e julgamento da causa - esta conferência inicia -se com um
relatório verbal, conciso, mas claro e completo, nos termos do art.º 414.º C.J.M.
Como a garantia da parte que se achar insatisfeita com a decisão tomada, temos a fase da
Interposição dos Recursos, que será interposta no Supremo Tribunal Militar de todas as
decisões proferidas pelos juízes de instrução, auditores, e presidentes, bem como os acórdãos
dos tribunais de instância nos termos do art.º 425.º C.J.M. Por fim, temos a fase da Execução
das decisões, essas decisões serão executadas logo que passem em julgado e por sua vez em
harmonia com a lei art.º 468.º C.J.M.
21
Como vimos, o processo penal militar em tempo de guerra segui as mesmas tramitações em
tempo de paz, com algumas ressalvas5.
5
No caso de ordem para acusação em tempo de guerra será dada pelo comandante da força operacional
competente, e no que se refere o crime essencialmente militar, que é cometido na área de operações, poderá o
comando militar competente, determinar que o arguido seja preso e julgado sumariamente pelo Tribunal de
guerra, no sentido de garantir a segurança e disciplina da força armada, sem dependência do processo
preparatório, previsto no respectivo código art.º 473.º C.J.M.
6
Segundo os termos do artigo 1º L.J.M. e D.T.M. “São criadas o tribunal militar como o órgão de Administração
da justiça militar, os quais se regem pela presente lei”.
22
Os militares têm deveres especiais, que devem ser cumpridos de uma forma rigorosa. Estes
deveres têm a natureza pessoal, uma vez que são dirigidos aos militares e paramilitares e só a
estes, pela simples condição de serem militares ou paramilitares.
A vida profissional dos militares e paramilitares têm regras diferentes dos demais serviços,
pois, pela sua própria formação, suas actividades revestem-se de peculiaridades especiais, não
contempladas em outras categorias profissionais. Ao militar é proibido sindicalizar-se. Não
pode fazer greve. Não tem fundo de garantia. Trabalha nos finais de semana, feriados,
carnaval, natal e ano novo, sem receber horas extras. Pode ser transferido para localidades
inóspitas e distantes, desde que o interesse do serviço se faça presente. Qualquer do povo, em
todas as classes, pode deixar o emprego quando lhe aprouver, consideradas apenas a sua
vontade e conveniência. Ao militar, pela simples ausência injustificada ao local de trabalho
por tempo superior a oito dias, sobrevém processo por crime de deserção, com pena prevista
de até dois anos de detenção, podendo ser submetido a Processo Administrativo Disciplinar,
que pode expulsá-lo das fileiras da corporação. No âmbito da segurança pública, quem
garante o direito de ir vir e ficar do cidadão comum diante de greves, rebeliões em presídios,
grupos armados e outras situações graves de quebra da ordem pública? É a Polícia Militar.
Portanto, neste âmbito, tem que existir leis específicas para controlar e organizar essas forcas,
quando se insubordinam ou desvirtuam o seu foco de protecção, transformando-se em
ameaça.
Os militares e paramilitares são formados e preparados para a difícil missão de socorrer e
proteger a vida e o património das pessoas com efectividade. Precisam ter um ordenamento
jurídico específico e ágil, para dar o respaldo de suas acções legítimas em defesa da
sociedade. O arcabouço jurídico que regulamenta e normaliza a actividade profissional dos
militares e paramilitares envolve, notadamente, o Código da Justiça Militar - Regulamento Da
Disciplina Militar e a Lei de Justiça Militar dos tribunais e Procuradoria 7 e subsidiariamente o
código penal e o código processo penal.
A lei penal militar aplica-se somente nos casos em que há violação das normas, quando no
exercício da actividade profissional.
A finalidade das Justiças Militares é garantir, no âmbito de sua competência especializada, a
efectiva prestação jurisdicional, protegendo os bens jurídicos tutelados pela lei penal militar,
7
SILVA, António Luiz da - A Importância Da Justiça Militar. pág. 1e 2.
23
controlando as acções e actos disciplinares, visando à manutenção da ordem, da disciplina e
da hierarquia das instituições militares.
Segundo o procurador militar: Sardinha. F. 8:
“Existe uma grande necessidade de ter o tribunal militar em S.T.P., na medida em que, os
intervenientes são militares e paramilitares, portanto, tem que ter alguém que seja especialista
na área, de forma lidar melhor com o caso. Assim teria uma justiça mais justa, por causa da
especialidade, uma vez que a justiça é feita por base de bom senso e temos que está dentro da
matéria para termos bom senso. Por outro lado, em termos patrimoniais não haverá gastos,
único gasto que poderá ter é com o edifício, porque podia fazer a requisição das pessoas dentro
das respectivas forças que pertencem e essas pessoas vão ter mesmo salário mesmo se não
fosse o juiz ou procurador milita”.
Por sua vez, o juiz Militar: Garrido. S.9“Refere que tem que existir o tribunal militar, porque
existem crimes essencialmente militar que tem que ser julgado pelo Tribunal Militar”.
8
SARDINHA,FABIO – Entrevista feita no dia20 de agosto de 2019, São Tomé.
9
GARRIDO, Sérgio - entrevista deita no dia 12 de Setembro de 2019,São Tomé.
24
10. Conclusão
Em suma, o direito militar é um ramo de direito autónomo, e enquadrasse no ramo do direito
público. Porém é um direito penal especial e os bens jurídicos que se pretende proteger são
dos interesses militares e paramilitares da defesa e segurança nacional.
Tanto o direito penal militar como o direito penal comum estão ligados aos mesmos
princípios constitucionais. No direito penal militar, os crimes estreitamente militar, são
puníveis por tentativa independentemente da pena aplicável ao crime consumado, a passo que,
no direito penal geral, só é punível a tentativa, em regra, na condição, se o crime consumado
corresponder a pena superior a 3 anos de prisão. No que se refere atenuação da pena, os
crimes essencialmente militar só são atenuados em alguns casos concretos elencados no art.º
20 C.J.M.
De facto, justifica se a existência do tribunal militar, face ao Tribunal Comum em São Tomé e
Príncipe devido a especialidade da instituições militar e paramilitar, as suas características e
por ter uma natureza pessoal.
Os crimes militares podem ser de duas ordens como constatamos, nomeadamente crimes
essencialmente militar e impropriamente militar. Mas o nossa lei militar só se aplica ao crime
essencialmente militar segundo os termos art.º 1.º C.J.M.
O processo penal militar esta dividido em dois importantes períodos, que são período paz art.º
322º C.J.M. e o período de guerra art.º 473º C.J.M., onde verificamos que nem sempre esses
períodos seguem as mesmas tramitações. Por outro lado, vimos também os sujeitos
processuais do processo militar, que são todas as pessoas chamadas a intervir no processo.
Por sua vez o direito penal militar Santomense tem a sua origem no direito penal militar
português, fruto da herança das legislações Portuguesa.
Portanto, existe de facto o Tribunal Militar em S.T.P. luz da lei 01/84-publicado no D.Rn2, de
28 de Fevereiro de 1984 que e a lei da justiça militar.
Assim, verificamos que o Tribunal Militar não funciona na sua plenitude, uma vez que não
tem uma instituição própria para seu funcionamento, onde deveria funcionar ao seu lado o
ministério público militar, outra questão prende – se com a questão de nomeação de juízes
permanentes que são de quatro em quatro anos, e a nomeação de juízes eventuais que são de
25
dois em dois anos nos termos do art.º 13.º n.º 1 C.J.M., mas o que não acontece em S.T.P.,
situação esta que deixo em apreço para futuros trabalhos.
26
Referência bibliográfica
1. CARDOSO Mariela Ribeiro Nunes - Noções De Direito Militar. Brasil: Editora Nova;
2. DIAS, Jorge de Figueiredo – Questões Fundamentais a Doutrina Geral do Crime.
Tomo I., 2 ed., ver., actualizada. Coimbra: Coimbra Editora, 2007;
3. GUIMARÃES, Paulo – direito penal militar;
4. NEVES, Cícero Robson Coimbra, STREIFINGER, Marcello – Manual de Direito
Penal Militar. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012;
5. PORTO, Mário – Apostila CBEPJUR Direito Penal Militar;
6. SILVA, António Luiz da - A Importância Da Justiça Militar;
7. SARDINHA, FABIO – Entrevista feita no dia 20 de agosto de 2019, São Tomé;
8. GARRIDO, Sérgio - entrevista deita no dia 12 de Setembro de 2019, São Tomé;
9. https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_militar (consultado em 17 de Outubro de 201)
10. Código da Justiça Militar - Regulamento Da Disciplina Militar;
11. Código de Processo Penal - Lei 19/2009 de 17 de Dezembro;
12. Código Penal - Lei n.º 6/2012;
13. Lei de Justiça Militar dos tribunais e Procuradoria.
27
Anexo
Anexo 1
2 Pergunta: Achas necessário formar mais elementos na área jurídica a fim de dar uma
melhor cobertura a esta instituição?
Resposta: Dentro das forcas militares e paramilitares já tem vários elementos formado na área
jurídica e não só, portanto pode se aproveitar esses mesmos elementos para fortalecer o
recurso humano desta instituição, única coisa que se pode fazer é especializar esses mesmos
elementos.
28
Anexo 2
1 Pergunta: Nos últimos seis meses foi julgado algum crime militar no País?
Resposta: Nos últimos seis meses, não tem tido julgado, nenhum caso no Tribunal Militar.
2 Pergunta: Que leis são utilizadas para resolver o processo penal militar em S.T.P.?
Resposta: Para efeito são utilizadas as seguintes leis: código de a justiça militar, lei de justiça
militar dos tribunais e procuradoria, e subsidariamente código penal e o código processo
penal.
29
Anexo 3
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