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Resumo
O estudo sobre o Programa de Reabilitação Económica demonstra que este programa ou ainda
estratégia foi implementada para fazer face aos problemas que atingiram de forma negativa o
percurso do Plano Prospectivo Indicativo, no contexto de erguer uma economia com vista ao
desenvolvimento, mas baseada nas potencialidades nacionais. A sua implementação foi
precedida pela necessidade de mudança de ideologia política socialista, caracterizada pela
centralização, para a ideologia capitalista, caracterizada pela descentralização e pelo domínio
do livre mercado. Entretanto, o PRE teve resultados importantes na sociedade moçambicana,
pelo que inverteu a tendência do declínio económico e aumentou o fluxo de ajuda alimentar e
cooperação internacional. Contudo, no meio desses resultados positivos, foram também
notáveis em grande escala resultados negativos. Assim, propõe-se a este estudo, compreender
o PRE e o seu impacto na sociedade moçambicana, em perspectiva abrangente. Para a
prossecução e materialização aplicou-se, quanto aos procedimentos, a pesquisa bibliográfica,
que consiste no levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios
escritos e electrónicos.
Palavras-chave: reabilitação económica, ajustamento estrutural, impacto social, problemas.
Introdução
A opção de Moçambique por uma economia de mercado e liberal não pode se ver em uma
perspectiva isolada dos acontecimentos de ordem nacional e internacional decorridos ao longo
do século XX. Ora, para a compreender a entrada de Moçambique para a economia liberal,
torna-se necessário analisar em primeiro lugar os acontecimento posteriores ao alcance da
independência. No dia 7 de Setembro de 1974 assinaram-se os Acordos de Lusaka que,
transferiam de forma oficial os Poderes do Sistema Colonial para a FRELIMO. É nessa
perspectiva que, a FRELIMO toma a responsabilidade de dirigir os interesses do novo Estado
Moçambicano. Deste modo, vão-se desenhar novas estratégias no sentido de dar a luz
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Tema apresentado na cadeira de História de Moçambique, leccionada no terceiro nível do curso de Licenciatura
em Ensino de História pela Universidade Save – Extensão da Massinga, 2019.
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Estudante do (Terceiro nível, 2019) do curso de Licenciatura em Ensino de História na Universidade Save –
Extensão da Massinga.
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necessária as sociedades moçambicanas, daí que decide-se seguir uma nova orientação
ideológica que adaptasse-se as experiências do povo Moçambicano.
Este artigo versa sobre “A Gestão Económica e Política de Reajustamento Estrutural: o PRE e
o seu impacto na sociedade Moçambicana”. Desta forma, far-se-á uma breve abordagem da
situação socioeconómica e política de Moçambique anterior a implementação do PRE, na
perspectiva de compreender as reais razões que determinaram que Moçambique abandonasse
a economia centralmente planificada e adoptasse uma economia descentralizada, isto é,
introduzisse a nova Política de Reajustamento Estrutural em 1987, a qual culminou com a
transição da orientação do modelo Socialista para o modelo Capitalista. Assim, constituem
objectivos deste estudo Descrever as razões da implementação do PRE em 1987; Explicar o
PRE e o seu Impacto Social; Identificar os problemas do PRE. Neste estudo recorreu-se a
leituras necessárias de obras e possíveis artigos existentes e, que debruçam-se sobre a matéria
deste estudo. Assim, aplicou-se, quanto aos procedimentos, a pesquisa bibliográfica –
levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e
electrónicos (livros, artigos científicos, páginas de websites).
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O PPI foi elaborado após o Terceiro Congresso da FRELIMO (realizado em 1977), em 1978,
porém a sua aprovação ocorreria em Agosto do ano seguinte, em uma sessão do Conselho de
Ministros. O objectivo primordial do PPI era o de acabar com o subdesenvolvimento no país
em dez (10) anos (NEGRÃO, 2003: 5). Para responder ao objectivo deste plano, Maloa (2016:
107) refere que definiram-se as seguintes principais acções:
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Esta opção liga-se também a situação que, então dominava o mundo (a Guerra Fria), pelo que o Mundo
encontrava-se sob domínio das ideologias Capitalista e Socialista. Portanto, uma negação ao Capitalismo poderia
resultar na opção pelo Socialismo e, vice-versa.
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O PPI revelava a partir das acções interventivas que, para o alcance do objectivo traçado
como primordial, seria necessário realizar investimentos de elevada importância. Contudo,
algumas das fraquezas desse programa consistiram da falta de recursos financeiros internos
para a realização desses investimentos, sendo demasiado dependente de recursos externos,
com uma orientação comercial e económica centralizada no mercado interno, uma gestão
macroeconómica desequilibrada e excessivamente centralizada com uma articulação não
efectiva com o sector agrário (MEQUE, 2013: 35).
a) Contexto Nacional
Guerra Civil – a sua generalização por quase todo país, alcançou zonas de grande
importância económica a Sul do Save (o Vale do Limpopo e as vias de acesso a
Maputo começaram a ser persistentemente atacadas) e a Norte do Save, ocupou-se
com tamanha facilidade o Vale do Zambeze (MALOA, 2016: 131);
Catástrofes naturais – as cheias e a seca atingiram o auge nos princípios da década de
1980, tendo influenciado para a generalização da fome e da desagregação da economia
rural (NEWITT, 1997: 484).
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b) Contexto Regional
Política de desestabilização de África do Sul – que, tendo adoptado a estratégia da
CONSAS, contra a SADCC, onde a primeira pretendia perpetuar a dependência
regional em relação a África do Sul. Assim, no âmbito mais abrangente da estratégia
da CONSAS, o sistema ferro-portuário moçambicano que, representava-se como
instrumento estratégico da SADCC, tornou-se alvo de dois processos Sul-Africanos (a
desestabilização militar e a desestabilização económica) (LUCAS, s/d.: 6).
c) Conjuntura Mundial
Guerra Fria – assolou de forma negativa a proficiência do PPI. Este fenómeno deveu-
se ao excesso de confiança dos apoios dos países socialistas e nórdicos a Moçambique.
Ora, essa confiança traduziu-se na dependência directa de concessão de apoios
financeiros e de mão-de-obra especializada estrangeira, sobretudo oriundos de países
socialistas (MALOA, 2016: 133);
Crise Mundial da década de 1970 – fez-se sentir em Moçambique através dos níveis
de inflação registados a nível mundial (GENTIL, 1998: 366).
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Bretton Woods foi o nome dado ao acordo de 1944 que juntara 45 nações, com o objectivo de definir medidas
que regessem a economia mundial após Segunda Guerra Mundial, a despeito da crise eclodida em 1929.
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A campanha de produção foi lançada em 1983, a qual obrigava milhares de pessoas a deixar suas famílias e ir
para Niassa. Essas pessoas eram levadas dos grandes fluxos urbanos, devido ao disparo do desemprego e
fragilidade de serviços de educação e saúde e, que diminuía a capacidade d produção nas zona rurais (SOUSA,
2013).
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1986 cinco missões do FMI na perspectiva de verificação da aplicação dessas medidas. Essas
missões, Meque menciona-as sequencialmente:
Tendo em conta que o PRE tinha em vista o reparo aos erros do PPI e recuperar os índices de
produção e de exportação registados em 1981, este programa destacava como haverem sido
principais erros da estratégia do PPI a má gestão macroeconómica, a distorção da estrutura
dos preços relativos em desfavor da agricultura e das exportações, e o desincentivo à operação
do sector privado nacional e estrangeiro. Deste modo, o argumento que apresentava-se era que
a má gestão macroeconómica do período do PPI, havia conduzido a economia nacional à um
estado de grave desequilíbrio financeiro e estrutural, assim sendo, somente um forte
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Entretanto, para que se conseguisse alcançar êxitos nos objectivos impostos pelo PRE, havia a
necessidade de encontrar medidas através das quais o programa pudesse processar-se.
Contudo, no contexto do PRE que estava assente nos Programas de Ajustamento Estrutural
baseados nas instituições internacionais (BM e FMI), devia seguir estritamente6 as medidas
que essas instituições impunham, as quais Gobe (1994: 6) aponta:
O PRE passou mais tarde ao PRES (1990), devido a necessidade de focalizar mais a dimensão
humana, uma vez que com tal política o fosso entre ricos e pobres aumentava
progressivamente, trazendo impactos significativos nas estruturas da sociedade. A inflação
atingiu, em 1989, níveis insustentáveis para o poder de compra do cidadão comum, o PRE,
contrariamente ao que motivou a sua adopção criou um impacto social negativo (NYAKADA,
2008: 83). É nessa linha que Cabaço (1995: 122) refere que, a situação social estava, todavia,
agravando-se por efeitos da política de reajustamento estrutural que o Governo aplica com
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Diz-se estritamente, pelo facto de o reajustamento da economia nacional ter de obedecer impreterivelmente as
medidas dos credores, pois a não obediência destas, o país não teria a sua dívida reescalonada e nem acesso a
novos créditos e ajuda (CASTEL-BRANCO, 1995: 601).
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rigor. A riqueza concentra-se nas mãos de uma minoria, nacional e estrangeira, a custa da
degradação galopante das condições de vida de uma maioria sempre mais numerosa.
Entretanto, o lado negativo parece ter sido maior do que o positivo pelo que refere-se que,
com a implementação do PRE em 1987, verificou-se que o poder de compra e de consumo
diminuíram por causa do agravamento dos termos de trocas e da diminuição de oportunidades
de emprego. O aumento das quantidades registado durante os primeiros anos do PRE (1987-
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O corte drástico das verbas destinadas a saúde e educação exigidas pelos programas do FMI
levou ao rebaixamento dos empregos para trabalhadores com baixo nível de alfabetização.
Assim, as famílias cujos chefes haviam perdido emprego ficaram incapacitadas de arcar com
as despesas de tratamentos hospitalares (ABRAHAMSSON, 2001: 220).
É, em meio disso que chega-se a referir que no período anterior a implementação do PRE, a
situação do país era relativamente melhor, tomando em consideração que o governo
assegurava os preços da alimentação básica e outros bens e serviços vitais aos mais carentes.
Porém, com as políticas neoliberais adoptadas, assistiu-se a eliminação de subsídios, tendo
acarretado a subida de preços dos alimentos e dos bens de base, o que causou de forma directa
problemas como a desnutrição e doenças infecciosas como a malária e a cólera. Assistiu-se
também, após a implementação do PRE, a redução das taxas de inscrições para o ensino
primário (entre 1989-94, o número de matriculados nas escolas primarias decresceu de 86%
para 60% da população estudantil), pelo que os pais preferiam tirar os filhos da escola (por
falta de dinheiro para pagar as matriculas e os livros escolares), aumentando-se assim a
quantidade de mendigos. Por conta dessa realidade, assume-se que o PRE atingiu as
populações mais pobres com tamanha dureza (MATSINHE, 2011: 47).
Com a questão de privatização das empresas estatais, viu-se a necessidade de criação de uma
classe empresarial nacional. Esta classe formou-se de forma selvagem, através da exploração
do povo. Isto é, as elites locais, os bancos internacionais e o capital estrangeiro, em conluio
com a burocracia local, construíram relações de apoio recíproco baseadas no enriquecimento
sem causa das elites locais que ia produzindo dívidas públicas que teriam de ser pagas pelos
cidadãos comuns. Para além deste facto, as privatizações aumentaram a corrupção e não
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Os poucos que permaneciam nas instituições estatais são os que estavam mergulhados na corrupção, aceitavam
subornos em troca de prestação de serviços, verificava-se mais os desvios de fundos para o benefício pessoal em
detrimento do Estado. Portanto, essa situação pode ter contribuído de forma significativa para os níveis actuais
da corrupção em Moçambique (HANLON & SMART, 2008: 40).
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Por outro lado, a ajuda alimentar teve efeitos muito negativos em Moçambique, porque não
estimulou a produção local, na medida em que os próprios doadores vinculavam as
necessidades de ajuda aos interesses das suas políticas agrárias. Os produtos agrícolas que
chegavam a Moçambique eram adquiridos a preços do mercado internacional subvencionado,
o que fez com que a ajuda alimentar à Moçambique se tornasse em um obstáculo ao
desenvolvimento da produção interna de produtos alimentares (MATSINHE, 2011: 41).
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As IBW persistiam dando créditos porque, o roubo dos mesmos fundos doados não prejudica os países
doadores. Os recursos desviados em esquemas corruptos nos países receptores, voltam para os países de origem
depositados em contas bancarias em paraísos fiscais, de onde voltam de novo para os mesmos países pobres em
forma de crédito, agravando a divida externa e criando um ciclo vicioso de dívida (MATSINHE, 2011: 53).
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a) Atacou mais os efeitos das crises e não as causas, as quais propunham-se a enfrentar.
Ora, concentrou-se na estabilização económica, sem tomar em conta as causas do
atraso económico e da instabilidade económica e os constrangimentos impostos por
esse estado de economia (CASTEL-BRANCO, 1995: 602).
b) Adoptaram-se opções que requeriam mudanças mais bruscas e rápidas, visto que a
realidade institucional e socioeconómica do país e as capacidades materiais da
economia não se tomaram em conta, e o ritmo da mudança foi imposto pelos modelos
adoptados e pela pressão dos doadores (Ibid., p. 602).
c) Ausência de uma visão de transição e do desenvolvimento como um processo de
transformação, que passa pela selecção de objectivos, prioridades, tecnologias,
métodos e formas sociais que a organização da produção deve assumir, sistemas de
incentivo e a organização institucional necessária e, falta de consideração aos passos
necessários para a construção das condições tecnológicas, institucionais e sociais para
a implementação dos modelos propostos (Ibid., p. 603).
d) A incapacidade de seleccionar prioridades com flexibilidade e coerência e de conceber
transformações estruturais necessárias na economia nacional, bem como a adopção de
modelos acabados de mudanças bruscas, levou a reprodução e ao agravamento do
isolamento inter e intra-sectorial. Os diferentes sectores da economia operam muito
mais em ligação com o exterior do que em ligação uns com os outros, reforçando-se
assim, a dependência económica e minimizando o aproveitamento do potencial
económico nacional (Ibid., p. 604).
e) Fortemente dependente da ajuda externa desde a conceptualização, implementação até
a dotação de recursos. Nesse sentido, deixaram-se de fora factores como: a ajuda
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Conclusão
À luz dos assuntos tratados pôde-se entender que o contexto do surgimento do Programa de
reabilitação Económica enquadra-se em um conjunto de factores de diversas ordens (nacional,
regional e mundial), estes que, por sua vez, determinaram para o insucesso do Plano
Prospectivo Indicativo, elaborado três anos após o alcance da independência na perspectiva de
responder aos diferentes desafios no âmbito do desenvolvimento nacional em todos níveis
(social, económico, político e cultural). Assim, foi o insucesso do PPI que propôs ao governo
moçambicano uma nova estratégia de intervenção em resposta ao processo do
desenvolvimento nacional e, por conseguinte, a aplicação da nova estratégia (a PRE), resultou
também na mudança da ideologia de que o Estado Moçambicano propusera-se a seguir após o
alcance da independência, isto é, do Socialismo mudou-se para o Capitalismo.
Entretanto, é verdade que o PRE trouxe impactos positivos, mas estes não soaram mais do
que os negativos, pois as diferentes medidas que as instituições internacionais aplicaram,
reduziram consideravelmente a capacidade social de produção. Este facto assistiu-se, por
exemplo no sector alimentar, a ajuda que os doadores concediam à Moçambique, reduzia
drasticamente a capacidade de produção que seria possível se os mesmos doadores optassem
em ajudar em políticas produtivas e ainda em equipamentos suficientemente necessários para
o efeito, e não como o faziam. Outro fenómeno verificado e que foi muito influenciado pelo
PRE é a corrupção, pois esta ocorre e de certo modo beneficia, directamente as instituições
mães concessoras dos empréstimos.
Por outro lado, são também visíveis os diferentes problemas que assolaram o PRE. Ora,
adoptaram-se políticas rigidamente gerais das IBW sem sequer fazer uma leitura necessária
no sentido de que as políticas a aplicarem-se, adequassem-se às reais condições
socioeconómicas do país. Por outro lado, viu-se também a questão da forte dependência
externa em diferentes aspectos. Ora, a proficiência do PRE, provavelmente seria consequente
do alavancar da economia e sociedade moçambicana, face às condições (de alargada pobreza)
que caracterizavam o país. Mas, deve-se entender que esses problemas são visíveis até nos
dias actuais, facto que influencia de forma directa o atraso da economia nacional.
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