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Universidade Federal de Alfenas

Programa de Pós-Graduação em Economia


Disciplina: Economia Política
Atividade avaliativa. Valor 2 pontos
Data de entrega: 05/08/2021

ALUNO: José Maria dos Santos Junior

Com base em “Princípios de Economia Política e Tributação”, principal obra de David


Ricardo, disserte sobre os seguintes temas:

David Ricardo é o sucessor de Adam Smith nos debates iniciais para explicar a
economia moderna, em especial sobre a questão do valor, distribuição e do comércio
internacional. Em seu livro “Princípios de Economia Política e Tributação” (1823)
apresenta a análise sobre a teoria do valor.
Como em Smith, Ricardo extrapola a utilidade da mercadoria e aplica a regra
geral do valor voltado para o trabalho incorporado. Porém, o autor apresentar que
certas mercadorias são particulares que são vinculados a própria escassez. Desta
forma, o trabalho incorporado não reflete necessariamente o valor do bem:

Algumas mercadorias têm seu valor determinado somente


pela escassez. Nenhum trabalho pode aumentar a quantidade
de tais bens, e, portanto, seu valor não pode ser reduzido pelo
aumento da oferta. Algumas estátuas e quadros famosos,
livros e moedas raras, vinhos de qualidade peculiar, que só
podem ser feitos com uvas cultivadas em terras especiais das
quais existe uma quantidade muito limitada, são todos desta
espécie. Seu valor é totalmente independente da quantidade
de trabalho originalmente necessária para produzi-los, e
oscila com a modificação da riqueza e das preferências
daqueles que desejam possuí-los. (RICARDO, 1982, p.24)
Dessa forma, abre-se a ideia de origem da própria demanda que possa vir a ser
posta dentro da teoria do valor. Em adição à ideia da escassez, tem-se a necessidade
do trabalho empregado para obtê-las. Essa é a ideia central do trabalho incorporado.
Assim, o bem vale o quanto de trabalho é despedido para sua aquisição/produção.
Assim, esse trabalho incorporado impacta na flutuação dos preços ao longo do tempo.
Assim, a forma do trabalho impacta no valor e não necessariamente o tempo de
produção uma vez que existem várias metodologias de trabalho. A mesma mercadoria
pode ter preços diferentes uma vez que o trabalho incorporado pode ser diferente,
além das ferramentas de produção também afetarem o valor. É nesse raciocínio que
defende que o ferramental impacta na quantidade de trabalho incorporado, e por isso,
no valor final da mercadoria. Se existe uma ferramenta que aumenta a produção da
mercadoria impactará na questão da escassez, ficando o preço da mercadoria mais
barato devido ao aumento da oferta.
Ricardo também apresenta a questão de distribuição do capital em fixo e
circulante que afetam a forma de produção e a durabilidade do capital. Assim, tem-se
a questão de salários, investimento e depreciação que podem vir a afetar o preço
relativo ao longo do tempo. Assim, a durabilidade do capital fixo afeta a forma de
produção, que por fim, afeta a quantidade de trabalho incorporado, que vem afetar o
preço relativo ao longo do tempo:

Se o capital fixo não for de natureza durável, será necessária


maior quantidade anual de trabalho para mantê-lo em seu
estado original de eficiência, mas o trabalho assim
despendido deve ser considerado como realmente gasto na
mercadoria fabricada, a qual deve conter um valor
proporcional a esse trabalho. (RICARDO, 1982, p.41)

Nessa mesma linha, a durabilidade do capital fixo vem a impactar no salário.


Assim, quanto mais durável for a ferramenta de produção, menor será o preço devido
à curva menos acentuada dos salários ao longo do tempo. Ricardo trabalha com a
hipótese de que os salários aumentam em proporções diferentes da durabilidade do
capital fixo. Assim, esse ajuste entre essas duas curvas afetaria a quantidade de
trabalho necessário para a produção, e por fim, o valor do bem:

Nem as máquinas nem as mercadorias por elas fabricadas


aumentam em valor real, mas todas as mercadorias
produzidas por máquinas diminuem na proporção em que
estas sejam duráveis. (RICARDO, 1982, p.43)

Destarte, quando se tem uma alteração de preços propõe-se a se ter uma


medida invariável de valor. Como dito, o valor das mercadorias, segundo David
Ricardo, é dado pela regra geral do trabalho incorporado. Esta medida de valor sofre
variações, sendo assim a procura incansável de medida invariável do valor, ou seja,
aquela mercadoria que não sofresse impacto das variáveis acima elencadas. Assim,
poderia encontrar uma forma de evitar a perda de valor.

É impossível obter tal medida, pois não há mercadoria que


não seja suscetível às mesmas variações como aquelas cujo
valor deve ser verificado. (RICARDO, 1982)

O uso de uma medida invariável de valor seria a forma de descobrir a origem


das variações relativas e seria o ferramental para medir a riqueza real das mercadorias.
Ricardo chega a refletir sobre o ouro como medida invariável de valor, porém, ele
sofre por todas as formas acima descritas de preço, além da distribuição. A forma
como se faz a distribuição afetam as trocas, deixando assim de ser invariável esta
proposta de medida de valor. Assim, gera-se a inquietação de que a medida de valor
proposta não é invariável de forma absoluta. Ricardo assume que não há uma medida
invariável de valor que não esteja hábil a ser impactada por nenhuma das afetações de
valor descritas.
Ricardo também apresenta a ideia do valor do dinheiro que vem impactar o
preço do bem e a distribuição dentro das classes sociais. O valor do dinheiro é
variável, como por exemplo na questão cambial que vem a ser elucidada. O valor do
dinheiro afeta toda a economia, em especial aos salários pelo aumento do preço que
pode vir a ter, Porém, Ricardo alega que não afeta o lucro uma vez que houve um
aumento de preços. Porém, um aumento dos salários não leva necessariamente à um
aumento de preços. Ricardo apresenta a questão da eficiência produtiva a partir do uso
de maquinários. Se o salário aumenta, os produtores investirão em maquinários que
usam menos trabalho incorporado em substituição aos trabalhadores antigos.
Em suma, a teoria do valor de Ricardo vem a ajudar a explicar a determinação
dos preços, sobretudo na questão de noção de trabalho incorporado. Assim, aquilo que
impacta no trabalho incorporado afeta o valor da mercadoria, e por fim, afetam a taxa
dos salários e dos lucros. As afetações são especialmente sobre as diferentes formas
de combinação do capital, a durabilidade do capital fixo e o prazo de recuperação do
capital investido. Como consequência, as mercadorias que tem maior uso de trabalho
incorporado irão sofrer maiores impactos de acordo com as oscilações salários. Os
itens intensivos em capital serão mais impactados por alterações da taxa de lucro.
Quando se pensa na distribuição de renda, Ricardo apresenta a teoria da
distribuição entre as clases sociais do produto social agregado. As parcelas do produto
divididas entre as classes sociais, em especial pelo tipo de renda erguida sob a base do
trabalho incorporado, seja assim o lucro ou salário. A renda nacional vem do chamado
valor adicionado agregado gerado a partir dos salários dos trabalhadores, da renda da
terra e do lucro do capital. A distribuição de renda não é neutra dentro da
determinação dos preços, uma vez que quanto maior a taxa de lucro, maior será o peso
do trabalho passado ante ao trabalho futuro.

A divisão do produto total da terra e trabalho do país, entre


as três classes de senhores de terras capitalistas e
trabalhadores... Não é pela quantidade absoluta de produto
obtida por cada classe que podemos corretamente avaliar a
taxa de lucro, renda e salários, mas pela quantidade de
trabalho requerida para obter aquele produto. (RICARDO,
1982, p.64).

Porém, Ricardo deixa claro a necessidade de se ter uma distribuição da renda


para os trabalhadores como forma de circular o capital, numa precursão da matriz
insumo-produto. É necessário que o lucro não seja exaltante a ponto de exaurir a
sustentação dos trabalhadores. Ricardo discorre da inevitável consequência de uma
distribuição desigual da renda entre os trabalhadores e os capitalistas (terra ou capital),
que vem a ser um problema trabalhado por Marx quando se pensa na exploração dos
trabalhadores.
Por fim, tem-se a questão das trocas comerciais entre as nações. Ricardo
apresenta o princípio das vantagens comparativas. Trata-se de uma linha analítica que
explica o comércio como uma função de diferenças na eficiência relativa de cada país
para a produção dos bens. Essa produção diferente a partir do uso de diferenças em
força de trabalho, qualificações, capital físico, recursos naturais e tecnologia
tecnologias geram economias de escalas e geram vantagens produtivas diferentes para
cada nação.
As trocas comerciais serão proporcionais ao tamanho do mercado e as
distâncias que envolvem os diversos tipos de bens. Cabe assim a nação diagnosticar
em qual setor tem maior vantagem produtiva e qual tem menor. Naquela que tem
menor, deve-se priorizar o comércio (importação), enquanto na produção com maior
vantagem produtiva deve-se se focar na produção (exportação). Destarte, gera-se o
princípio da vantagem comparativa: a especialização. Com a especialização do país no
que tem maior eficiência produtiva, tem-se assim uma geração de maior bem-estar a
todos. O comércio entre as nações proporciona um modelo indireto de produção e um
aumento do consumo a partir da maximização de produção e utilidade a partir novos
bens que chegarão com a exportação.
Tem-se assim o conceito de custo de oportunidade apresentado por Ricardo em
que será maior quando se tem uma vantagem comparativa menor. Caso o comércio se
dê desta forma, o preço será maior do bem devido ao custo de oportunidade de
produção maior. Segundo Ricardo, se o país tem uma capacidade maior de produzir
vinhos, deve especializar a produção neste setor. Em troca, deve-se o país com maior
parque fabril e ovelhas, a produção de tecidos. Assim, como a cesta de bens é dada
como homogênea para os dois países, haverá uma troca eficiente entre vinhos e
tecidos a partir das vantagens relativas (e não absolutas) de produtividade do trabalho.
A previsão básica do modelo ricardiano que os países tendem a exportar bens
em que têm uma produtividade relativamente alta foi comprovada ao longo do tempo,
por mais discrepâncias sociais que foram consequentemente geradas.

REFERÊNCIAS:
RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. [1817]. São Paulo:
Abril Cultural, 1982.

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