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Excelentíssima Senhora Juíza de Direito da 1º Vara Cível da Comarca de

Ouro Preto-MG.

Processo: 500148235.2020.8.13.0461
Recorrido: Agostinho de Lourdes Coimbra de Oliveira.

Agostinho de Lourdes Coimbra de Oliveira, já qualificado nos autos do


processo em epigrafe, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, através de seu advogado ao final assinado, oferecer
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO, com fulcro no artigo 1.010, §1º,
decorrente do recurso de apelação interposto pelo Banco do Brasil S/A, em
face da sentença que julgou procedente os pedidos da exordial, razão pela
apresenta suas razões.

Termos em que pede e espera deferimento.

Ouro Preto, 01 de julho de 2021.

José das Mercês de Araújo - OAB/MG-80.648

Giselle Maria Ferreira da Cruz - OAB/MG- 136.083


CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

Autos do processo: 5001482.35.2020.8.13.0461


Apelante: Banco do Brasil
Apelado: Agostinho de Lourdes Coimbra de oliveira.

Egrégio Tribunal
Colenda Câmara

DA TEMPESTIVIDADE:

A intimação para apresentar contrarrazões de apelação foi publicada


em 22/06/2021, excluindo-se o dia a quo a contagem do prazo se iniciou
em 23/06/2021, deste modo o prazo de 15 dias, termina em 13 de julho de
2021, portanto tempestivo o recurso.

DOS FATOS E FUNDAMENTOS:

Foi interposta ação de inexistência de débito cumulado com danos


morais e materiais em face do Banco do Brasil S/A, devido a contrato de
consórcio de veículo celebrado sem anuência válida do Apelado, contrato
feito com má fé/dolo em desrespeito a lei e ao direito. Os pedidos da
exordial foram julgados procedentes, sendo o contrato declarado nulo e o
Recorrente condenado a restituir o Recorrido todas às parcelas que foram
descontadas de sua aposentadoria e indenizar pelos danos morais causados
e ao pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência.
Inconformado o Recorrente interpôs recurso de Apelação.
Insurgem-se o Apelante pela reforma da sentença da Meritíssima
Juíza a quo, sob a alegação de não foi causado qualquer dano ao Recorrido,
pois não se comprovou a ilegalidade do contrato, no entanto o Recorrente
não apresentou nenhum argumento que justifique a reforma da sentença, as
razões recursais se tratam somente de repetição dos argumentos feitos ao
longo da instrução processual, sem qualquer comprovação.
Já em preliminar, da mesma forma que alegou em contestação insiste
que a petição inicial não consta os requisitos da ação previstos no artigo
320 do CPC, argumento sem fundamento, porque a inicial tem a perfeita
descrição da celebração do contrato através de vicio de consentimento,
sendo utilizada a má fé/ dolo, por ter conhecimento o funcionário da
agência bancária da fragilidade de seu cliente Agostinho, devido à idade
avançada e os problemas de saúde que possui que o tornaram
extremamente vulnerável, fato amplamente percebido e comprovado em
audiência de instrução e julgamento.
A fraude está comprovada através do contrato de consórcio anexado
na inicial (ID 123979749; 123981096; 123979762; 12397976656;
123979769; 12397991; 123979775; 123979778), e pelos descontos em sua
aposentadoria (ID 123979749), e até mesmo o cancelamento dos descontos
pelo Recorrente faz prova favorável ao Apelado, deste modo cumprido à
exigência do artigo 320 do CPC.
Declara o Recorrente que não agiu de qualquer forma que causasse
prejuízo e não existe qualquer irregularidade que justifique a anulação do
contrato e indenização por danos morais e materiais, porque cabe a quem
alega comprovar e isto não aconteceu porque não há nos autos nenhum
indicio de fraude, ou ato ilícito.
Ora, a ilegalidade do contrato foi mais que comprovada em inicial,
tanto é assim que o Apelante não trouxe aos autos qualquer argumento,
documento, ou testemunha que indique que houve manifestação válida do
Apelante em contratar e nem mesmo o contrato original do consórcio foi
anexado aos autos.
No inicio das razões recursais é citado que se comprovará que não
houve fraude pela planilha que está em anexo, onde consta a solicitação do
contrato pelo Sr. Agostinho, mas está planilha não está na defesa, o que nos
faz concluir a inexistência desta, deste modo obvio que não houve qualquer
solicitação feita pelo Recorrido sendo o contrato originado da vontade
unilateral do Recorrente.
Ressalto mais uma vez que NUNCA HOUVE ANUÊNCIA, OU O
APELADO MANIFESTOU INTERESSE EM REALIZAR O
CONTRATO DE CONSÓRCIO, TANTO É ASSIM QUE NEM MESMO
TINHA CONHECIMENTO DESTE ATÉ SUA IRMÃ PERCEBER OS
DESCONTOS BANCÁRIOS EM SUA APOSENTADORIA E SUA
SOBRINHA MARIA REGINA PASSAR A GERENCIAR SUA CONTA
BANCÁRIA E SOLICITAR O CONTRATO AO BANCO, O QUE É
INACEITAVEL CELEBRAR CONTRATO ATRAVÉS DE FRAUDE.
QUANDO DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO O RECORRIDO JÁ
ESTAVA COM 99 ANOS E JÁ NÃO POSSUI QUALQUER
FACILDIADE DE MOBILIDADE, OU POSSIBILIDADE DE DIRIGIR
QUALQUER VEICULA, NEM MESMO SABE QUAL O MODELO DE
VEÍCULO QUE ADQUIRIU, NÃO POSSUI FILHOS, ENTÃO POR
QUAL RAZÃO ADQUIRIRIA TAL CONSÓRCIO. AGOSTINHO
POSSUI CONDIÇÕES FINANCEIRAS SUFICIENTES PARA
COMPRAR UM VEICULO A VISTA, DESTE MODO É EVIDENTE
QUE O CONTRATO POSSUI VICIO DE CONSENTIMENTO, JÁ QUE
O RECORRIDO NUNCA TEVE INTENÇÃO DE COMPRAR
QUALQUER OBJETO NO BANCO DO BRASIL.
Não foi respeitado nenhum requisito exigido pela lei, porque
contrario ao que se alega o idoso capaz é igual a qualquer pessoa e pode
celebrar qualquer tipo de contrato, mas desde que seja feito de forma clara,
transparente estando o idoso ciente do que esta adquirindo, porém a lei
veda que o idoso acima de 80 anos celebre contrato e neste caso não houve
transparência porque foi entregue um contrato pronto apenas para o
Recorrido assinar, porque apesar da idade o Sr. Agostinho está lucido e
possui boa memoria se lhe fosse informado sobre o contrato com certeza
este se lembraria.
Em audiência de instrução julgamento foi confirmada a fragilidade
do Apelado que possui dificuldade de audição, locomoção, sendo que este
quando se celebrou o contrato já estava com 99 anos de idade, não estando
em melhor condição de saúde. Há anos, o Senhor Agostinho não sai
sozinho de sua residência, não dirige veículo, então porque faria um
contrato de consórcio de veículo? O próprio Agostinho diz que há anos não
vai à agência bancária e não tinha conhecimento deste contrato e mal sabia
informar por qual razão estava participando de uma audiência.
A informante sua irmã Iris, que também possui idade avançada, mas
era quem cuidava dos irmãos, informou que Agostinho não ia ao banco,
a funcionária do banco levava até ele documentos para assinar e ele
como confiava assinava.
Este depoimento é a prova necessária da conduta dolosa do
Recorrente, utilizou de fraude/ má fé para coagir o Sr. Agostinho a
assinar este contrato, por isto mais que justo ser declarada a
inexistência do contrato e restituição dos valores descontados de sua
aposentadoria, porque este contrato jamais deveria ter existido e sendo
eivado de ilegalidade, não havendo anuência válida o contrato é
inexistente e jamais poderia ter causado efeitos.
O nexo causal entre a conduta ilícita do banco e o prejuízo causado
ao Apelado está mais que demonstrado, porque os descontos das parcelas
de R$ 948, 44 (novecentos e quarenta e oito reais e quarenta e quatro
centavos), de sua aposentadoria, já se iniciaram em 31/08/2018, mesma
data em que foi assinado o contrato, tendo descontado 27 parcelas e se não
fosse percebido por terceiros estes descontos permaneceriam até o fim do
contrato, ou enquanto o Recorrido estivesse vivo, pagamento por um
serviço que além de não ter solicitado, jamais seria concretizado, porque
será mesmo que o Apelado utilizaria em algum momento este veiculo?
Não cabe somente alegar que o contrato é legal porque o serviço foi
prestado, tem que comprovar que a compra foi solicitada pelo cliente e que
o contrato foi feito em consonância com todas as normas do direito e neste
caso o que se vê é o contrario, pois o banco que deveria proteger e agir em
conformidade com as normas do direito ao consumidor causou dano ao
cliente.
De acordo com o código do consumidor, artigo 14, a
responsabilidade do fornecedor é objetiva, sendo independente da
existência de dolo, ou culpa o banco está obrigado a indenizar o Recorrido,
destarte não há motivo para reformar a sentença.
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de
seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época
em que foi fornecido.”
Conforme informado em exordial outro dispositivo do CDC, que não foi respeitado é
artigo 46, que estabelece que o consumidor deve ter conhecimento prévio do que esta
contratando.

“...os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,


se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, de seu
sentido e alcance”.

O Autor não teve conhecimento do contrato e oportunidade de


analisar seu conteúdo, considerando não saber nem mesmo como foi
realizado este contrato, tendo sido realizado o contrato realizado com
fraude, abuso de confiança e de forma ilícita, posto ter sido o Requerente
enganado por terceiro para dar consentimento a celebração do contrato.
Ressalto ainda o que o abuso de confiança ocorreu devido ao fato de ser o
bando onde o Recorrido possui conta e sempre recebeu sua aposentadoria,
logo se o funcionário que levou o contrato até ele mencionasse que se
tratava de documento de prova de vida, ou qualquer outro motivo
conseguiria a assinatura do Agostinho.
Aqui se aplica também a inversão do ônus da prova em favor do
Recorrido, conforme previsão do art. 6º, VIII, do CDC, por ser a parte
hipossuficiente, ainda mais sendo o Apelante idoso, vulnerável. Não é
possível nem mesmo entender o que o Recorrente quer dizer quando
menciona que não se aplica a inversão do ônus da prova porque a
consumidora contratou a operação financeira para financiar sua construção.
Como assim???? Se o objeto de ação é a anulação de um contrato de
consórcio de veiculo, argumento que nem carece de credibilidade.
A conduta do Recorrente é reprovável em todos os sentidos já que
não houve qualquer precaução do Banco do Brasil ao efetuar o contrato,
não existem testemunhas conforme se verifica no contrato, negligenciou a
idade do Recorrido, ou seja, 99 anos, deste modo agiu de forma negligente,
senão imprudente e trouxe grande prejuízo para o autor, devendo ser
condenado a responder objetivamente por eles.
A conduta negligente do Recorrente em relação ao Senhor Agostinho
aconteceu até mesmo em razões recursais, já que em alguns trechos é
citado que o Banco do Brasil não faz construções, e que o prejuízo do
Recorrido foi causado por terceiros. Ora, isto nem é objeto da ação.
O dano moral está configurado porque o ato ilícito causou grande
constrangimento e sofrimento ao autor, que apesar de sua dificuldade de
compreensão do que lhe é perguntado e também em expressar sentimento,
quando soube do contrato de consórcio se sentiu angustiado, triste, incapaz
de resolver seus problemas e constrangido porque devido ao conhecimento
de suas fragilidades causadas pela idade foi vítima de um golpe que nem
mesmo foi capaz de perceber sozinho. Agostinho foi obrigado a participar
de 02 (duas) audiências, o que o deixou aflito, triste, pois aos seus 101 anos
nunca teve que solucionar qualquer conflito perante a Justiça, compareceu
a audiência sem nem mesmo saber por qual razão precisava estar ali. Há
ofensa ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, assim nenhum valor
de condenação a ressarcimento pelos danos morais sofridos é capaz de
fazer cessar o dano causado. Sendo o contrato de origem fraudulenta deve
ser mantida a indenização no valor da condenação.
Ainda passou pelo constrangimento dos defensores do Recorrente
que tentavam fazer a Meritíssima Juíza acreditar que o contrato foi
solicitado pelo Recorrido que depois se arrependeu e agindo de má fé
ajuizou a presente demanda.
Tenta ainda argumentar que não causou prejuízo material ao
Recorrido, quando já descontou da aposentadoria do Apelado 24 parcelas
de R$ 948,44 (novecentos e quarenta e oito reais e quarenta e quatro
centavos), totalizando 22.948.44 (vinte e dois mil e novecentos e quarenta e
oito reais e quarenta e quatro centavos), que nunca deveriam ter acontecido
e causou diminuição do patrimônio do Apelado, obvio que houve dano
material.

Por fim sobre a condenação em honorários de sucumbência não há o


que questionar, pois foi analisado o zelo profissional, a natureza da ação, a
complexidade da causae o tempo despendido para ajuizamento e instrução
da ação.

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do


vencedor. § 1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento
de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente. § 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez
e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa,
atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a
natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado...”
Assim, se for para modificar a decisão que seja para aumentar a
condenação em honorários de sucumbência para 20%, patamar mais
adequado ao caso.
Por fim cabe mencionar que inexiste justificativa para reformar a
decisão que condenou o Banco do Brasil, declarando inexistente o contrato,
obrigando a restituir o valor descontado e indenizar pelo dano moral
causado, porque ao longo da instrução processual ressaltou aos olhos a
conduta ilícita do banco que causou grande prejuízo e constrangimento
para o Recorrido, que tendo conta bancária na agência do Recorrente
deveria proteger o consumidor que neste caso é idoso, vulnerável, mas ao
contrario sua conduta foi eivada de negligência, em dissonância com a lei,
o código civil, código do consumidor, desta forma se for para reformar a
sentença que seja para obrigar a restituir dos valores descontados em dobro
e majorar o valor estabelecido pelos danos morais causados e ainda elevar
para 20% os honorários de sucumbência, porque até na defesa houve
desrespeito ao consumidor, pois constam argumentos que nem são objetos
desta ação.
DO PEDIDO:
Diante do exposto, requer aos nobres julgadores, que sejam recebidas
e analisadas as CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO, para confirmar a
decisão prolatada pela Meritíssima Juíza a quo.

Termos em que pede e espera deferimento.

Ouro Preto, 02 de julho de 2021.

José das Mercês de Araújo


OAB/MG-80.648

Giselle Maria Ferreira da Cruz


OAB/MG-136.083

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