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consiliente: eis a
humano e a possibilidade da ciência fornecê-
los; segundo, assumindo o ceticismo saudável
das propostas de Gould, apresentamos o termo
questão consonância, trabalhado por programas de
pesquisa que esse autor ignora, como histórica
e filosoficamente mais apropriado do que
consiliência, para a abordagem das relações
Introdução
7
Curioso é que o Em termos históricos, estaríamos chegando a um depois das religiões
teilhardianismo parece ocidentais institucionalizadas, quando o homem pode ser Deus, o
estar ganhando nova
respeitabilidade nesta corpo e a mente humana sagrados, em conjunto com o cosmos (Este
virada de milênio, e não mundo é sagrado, diz Dennett, 1998, p. 546). Precisamos de uma
só entre autores
franceses. Ver, por história para contar, nos diz Wilson, não arbitrariamente, mas uma
exemplo, o ambicioso história de salvação. Durante muitos séculos, a expressão a mais bela
Wright, 2001.
história trazia-nos imediatamente à mente a imagem da Bíblia (ver,
8
por exemplo, Monge et al., 1972). Mas se esta última já não tinha muito
Ver postura ascética
diante dessas apelo no mundo moderno, mesmo em sua versão teilhardiana (como
extrapolações, pode ser vista, por exemplo, em Steiger, 1998),7 sua nova concorrente
representada
ironicamente por uma
provoca emoções e interesse: o novo épico evolucionário (e a expressão
filósofa e um cientista não é minha), assumido sem escrúpulos por muitos dos mais eminentes
assumidamente cientistas.8 De fato, A mais bela história do mundo é agora o título de
religiosos: Midgley, 1992,
e Ellis, 1998. uma obra que contém o que a ciência nos conta a respeito da evolução
do cosmos, da Terra, da biosfera e do homem (Reeves et alii, 1998; ver
9
É curioso que a edição também Kayzer, 1998; Gleiser, 1998; Raymo, 1998; Smuts, 1999 e Benz
portuguesa deste livro 2000).9
apresenta na capa outra
versão bem conhecida Em suma, ser consiliente tornou-se comum entre cientistas e
da linha evolutiva: a da popularizadores de ponta, o que é reforçado por desenvolvimentos
espiral, que nos leva do
Big-Bang ao Homo
recentes na área de seqüenciamento genético e na das explicações
sapiens. darwinianas do conhecimento e da cultura. Mas há um preço a ser
10
Esta conclusão não é Conclusão
uma conseqüência
natural do argumento Nestas duas últimas décadas, muitos outros pesquisadores têm
que a precede, ainda
que os dados para tanto procurado, com maior ou menor sucesso, dar forma e conteúdo a essa
estejam subjacentes a consonância. Um bom e recente exemplo destes programas de pesquisa
ele. Baseamo-nos em
nossa obra anterior, já pode ser encontrado em Russell et alii, 1998. Quaisquer que sejam os
citada, e em estudos próximos encaminhamentos desses programas, permanece a
historiográficos recentes.
Entre eles, cabe
possibilidade de que, combinando-se a preocupação de Gould em
mencionar Brooke, 1991; manter a autonomia e a dignidade tanto da ciência e da religião e a de
Brooke et al., 1998; Wilson e outros em prover nossos contemporâneos com uma grande
Grant, 1996; Lindberg et
al., 1986; Miller, 1998; narrativa que dê sustentação aos desejos e angústias da humanidade,
Ruse 2001. se pode realizar um objetivo crucial, comum à ciência e à religião: o de
resguardar-nos de superstições, ilusões que nos alienam e escravizam
Agradeço aos professores (ver Cruz, 1995).10
doutores Vera L. C. Vidal Enfim, a questão não é tanto obter ou não consiliência entre o
e Ricardo Waizbort, pelas
críticas e sugestões paradigma darwiniano e outras formas de abordar o real, mas procurar
apresentadas na ocasião pontos de contato e tratar eventuais dissonâncias cognitivas com a
e pelo estímulo à
elaboração do presente
mesma humildade e sede de consenso que tanto enobrecem a ciência
artigo. moderna.
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