PROFESSORES FORMADORES DE PROFESSORES DA EAD: um estudo de
caso a partir de narrativa sobre os saberes, as práticas e a competência
informacional
Resumo:
Trata-se de uma pesquisa em desenvolvimento no campo da Educação a distância –
EAD. Essa justifica-se principalmente, porque contempla a formação, profissionalização, saberes e práticas docentes. A questão norteadora dessa pesquisa é: Como os professores formadores de professores da Universidade Aberta do Brasil – UAB/Unimontes concebem, a partir de seus saberes, de suas práticas e de suas narrativas, a formação na modalidade a distância, em uma sociedade da informação? Elencamos outros questionamentos que auxiliarão na construção da resposta ao problema proposto, são eles: Quem são os professores formadores, que atuam em cursos na modalidade EAD na UAB/Unimontes? Como se formaram para atuarem na EAD? Que saberes, que competências e que práticas sustentam o ser professor formador em EAD na sociedade da informação? Como os docentes formadores concebem: a competência informacional, aprendizagem contínua, a flexibilidade, a presencialidade, a distancialidade, a alfabetização e letramento digital como uma possibilidade de construção do conhecimento? O objetivo geral é analisar como os professores formadores de professores da UAB/Unimontes concebem, a partir de seus saberes, suas práticas e suas narrativas, a formação na modalidade a distância, em uma sociedade da informação. Os autores que fundamentarão a pesquisa são Dudziak (2003), Vitorino (2009); Lévy (1998); Machado (2017); Masetto (2003); Nóvoa(1995). O caminho metodológico da investigação privilegia a abordagem quanti-qualitativa, optamos, também, pelo uso de fontes orais, inspirados na vertente da história oral temática. A metodologia combina os seguintes procedimentos de investigação: pesquisa bibliográfica, estudo de caso, questionários, análise de documentos. Resultado esperado que a EAD, nos proporcionará reflexões importantes sobre diversos elementos que incidem sobre o desenvolvimento pessoal e profissional do professor, como os saberes, a profissionalização dos formadores, as representações sobre os saberes e as práticas. Dentro dessa perspectiva, da Formação do Professor para a EAD apresenta-se, como uma possibilidade de resposta aos anseios, questionamentos e inquietudes intelectuais, oriundos da nossa experiência de vida acadêmica e profissional, garantindo uma melhoria da qualidade social da educação e do ensino, e uma atitude pedagógica geradora de compromisso com a vida, em relação a educadores/educandos, afeita às peculiaridades do contexto cultural e social da região onde se insere a pesquisa.
1. INTRODUÇÃO
As tecnologias no mundo contemporâneo constituem campos de aplicação –
portanto, de conhecimento e uso de produtos tecnológicos – ainda pouco explorados pelos planos curriculares e projetos pedagógicos. Constata-se, no início deste século, e no anterior, um desenvolvimento inegável das ciências. Neste contexto, torna-se impossível ver a escola desligada dessa realidade. O fenômeno educativo, hoje, não pode ser concebido como pura transmissão do saber, colocando os sujeitos na condição de mero receptor de informações, incapaz de desenvolver a sua criatividade sobre os conteúdos assimilados e, por isso, alheio à necessidade de transformação da realidade social vigente. Segundo Figueiredo (1995), o desafio já não é o de preparar os professores para usarem as tecnologias nas suas disciplinas, mas o de promover uma reflexão interdisciplinar, e permanentemente renovada, acerca dos modos de como enfrentar as oportunidades e as ameaças de uma sociedade da informação. O ambiente cognitivo proporcionado e/ou exigido pelas novas tecnologias tem sido introduzido nos cursos de formação docente, na maioria das vezes, até o momento, sem a preocupação de um “habitus”1 em relação às ferramentas e aos processos educacionais, realizados em articulação com elas. Com isso, impede-se que as vivências que envolvem as novas tecnologias sejam transformadas em “capital pedagógico”, processo que parece importante para a constituição de um novo paradigma proposto para a escola, intitulado “ecologia cognitiva”². A escolha pela pesquisa no campo da Educação a distância - EAD, justifica- se, principalmente, porque ela contempla a formação, profissionalização, saberes e práticas docentes. Assim, percebemos a possibilidade de uma discussão sobre a formação de professores e as possíveis transformações socioculturais e pedagógicas na prática docente. O desejo pela investigação se deu durante a minha atuação, como professora formadora, em cursos presenciais e a distância tanto na UAB quanto Uniasselvi e, nesse contexto, percebemos a possibilidade de mobilização de saberes e experiências, bem como de reais possibilidades de mudança na prática docente, tudo isso associado às pesquisas científicas que desenvolvemos. Após a conclusão da pesquisa do mestrado sobre o PIBID como processo formativo: desafios, perspectivas e possibilidades, percebemos algumas lacunas entre a _______________________ 1 Habitus – termo de Tomás Aquino por Bourdieu (1972, 1980) que generaliza a noção de esquema, “estrutura estruturante” ou “Gramática geradora de prática” (Boudieu, 1972). Esse termo foi utilizado por Perrenoud, (1993) como conjunto dos esquemas de percepção, de avaliação, de pensamento e de ação. 2 Para Lévy, a ecologia cognitiva será uma nova disciplina, que se desenvolverá a partir da informática, estudando esses agenciamentos coletivos e contribuindo para estruturar os espaços cognitivos dos indivíduos e das organizações (Lévy, 1998). formação oferecida pelos cursos de graduação e as exigências do mundo do trabalho, uma delas é o uso das tecnologias como parte do processo formativo, assim sendo, com a conclusão do mestrado e, atualmente, na condição de professora formadora em uma Turma de EAD, tenho observado que não basta discutir a formação e o uso das novas tecnologias, mas que é urgente pesquisar a formação e as competências do professor Corroborando Dudziak (2003) apud Vitorino (2009) que afirma ser necessário estruturar uma educação que privilegie a competência informacional, mesmo tendo a clareza de que essa não é uma questão simples e, não sendo simples, ainda associada à formação na modalidade de EAD, que também é complexa, situamos a questão norteadora dessa pesquisa: Como os professores formadores de professores da Universidade Aberta do Brasil – UAB/Unimontes concebem, a partir de seus saberes, de suas práticas e de suas narrativas, a formação na modalidade a distância, em uma sociedade da informação? Uma vez definida a questão norteadora, elencamos outros questionamentos que auxiliarão na construção da resposta ao problema proposto, são eles: Quem são os professores formadores que atuam em cursos na modalidade EAD na UAB/Unimontes? Como se formaram para atuarem na EAD? Que saberes, que competências e que práticas sustentam o ser professor formador em EAD na sociedade da informação? Como os docentes formadores concebem: a competência informacional, a aprendizagem contínua, a flexibilidade, a presencialidade, a distancialidade, a alfabetização e o letramento digital como uma possibilidade de construção do conhecimento? Como objetivo geral da pesquisa nos propomos analisar como os professores formadores de professores da UAB/Unimontes concebem, a partir de seus saberes, suas práticas e suas narrativas, a formação na modalidade a distância, em uma sociedade da informação. Os objetivos específicos são: mapear o perfil dos professores formadores de professores, que atuam em cursos na modalidade EAD na UAB/Unimontes; investigar como se deu a formação para atuar na modalidade de EAD; refletir sobre os saberes, as competências e as práticas docentes que sustentam o ser professor formador em EAD, em uma sociedade da informação; analisar como os formadores de professores concebem a competência informacional, aprendizagem contínua, a flexibilidade, a presencialidade, a distancialidade, a alfabetização e o letramento digital como uma possibilidade de construção do conhecimento. A seguir apresentamos de forma sucinta o referencial teórico que fundamentará a nossa pesquisa. 2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A Formação do Professor Formador: a formação no contexto da Educação a
Distância
O processo de reconhecimento da importância da formação docente foi
corporificando-se através de políticas educacionais e da legislação. Vale lembrar que alguns aspectos oriundos da produção acadêmica e do debate social foram incorporados À Constituição Federal de 1988: o resgate do concurso público, a garantia de padrão de qualidade como princípio da educação e a visão do docente como profissional do ensino. Vários autores abordam, sob diversos enfoques teóricos, questões relativas às profissões. Nesse trabalho, recorremos a Freidson (1998) que tem procurado desenvolver uma teoria sobre o profissionalismo, considerando a profissão um princípio ocupacional de organização do trabalho, enfatizando “o conhecimento e competências especializados necessários para a realização de tarefas diferentes numa divisão do trabalho” (p. 40). A profissionalização é constituída, assim, por um processo de racionalização dos conhecimentos postos em ação e por práticas eficazes em uma determinada situação. O profissional sabe colocar as suas competências em ação em qualquer situação. Contudo, pede-se se: que saiba jogar com as regras e manter uma relação com os conhecimentos teóricos, que não seja reverente e dependente, mas, ao contrário, crítico, pragmático e até mesmo oportunista (Perrenoud, 1993, p. 25); em resumo, que esse profissional seja autônomo e responsável. Ramos (2010) compreende a profissionalidade como compreensão e atitude investigativa, reflexiva e crítica que possibilita o desenvolvimento da capacidade analítica do professor. Contemplando o nosso propósito de compreender quem é o professor formador, de professores, recorremos a Machado (2017) que ousou definir o formador de professores: [...] como aquele que tem como eixo de suas ações os saberes, o aprendizado, a pesquisa, os fazeres e as experiências e que, desse modo, torna-se o elemento imprescindível à transformação do aluno. Por isso, a formação desse professor não pode ser uma lista de aquisições lineares, cuja soma equivale ao todo. É necessário compreender a formação docente como um conjunto de tarefas complexas, que exijam saberes experimentais, que valorizem atitude e forma para a globalidade do ofício de ensinar, significando mais do que a soma de competências múltiplas e essas construídas a partir de uma postura reflexiva (p. 268).
Considerando o exposto por Machado (2017), e respaldado por Masetto
(2003), corroboramos que “o Ensino Superior não pode deixar de rever seus currículos de formação dos profissionais, não pode também querer revê-los apenas com a visão dos especialistas da Instituição (os professores)” (p.15). Para o autor, urge que a universidade saia de si mesma e comece a “arejar-se com o ar da sociedade em mudança e das necessidades da sociedade, e então voltar para discutir com seus especialistas as mudanças curriculares exigidas e compatíveis com seus princípios educacionais” (p.15). Precisa, também, de revisar as carreiras profissionais, com base nas exigências oriundas das mudanças atuais, dentre as quais, destacamos: formação continuada dos profissionais, bem como capacitações, adaptabilidade ao novo, criatividade, autonomia, comunicação, iniciativa, cooperação. Masetto (2003), ao dialogar sobre as competências pedagógicas do professor universitário, sinaliza que necessitamos de profissionais intercambiáveis, que combinem imaginação e ação; com capacidade para buscar novas informações, que saibam trabalhar com elas, intercomunicar-se, nacional e internacionalmente, por meio dos recursos mais modernos da informática; com capacidade para produzir conhecimento e tecnologia próprios que os coloquem, ao mesmo tempo, em alguns setores, numa posição de não-dependência em relação a outros países; preparados para desempenhar suas profissões de forma contextualizada e em equipe com profissionais não só de sua área, mas também de outras. Finalizando a discussão sobre a necessidade e a atualidade do debate sobre competência pedagógica e docência universitária, recorremos à Declaração Mundial sobre Educação Superior para o Século XXI, em 1998, que é mencionada, na missão sobre a Educação Superior, a atualidade do debate sobre a competência pedagógica e a docência universitária. [...] novo paradigma de Educação Superior que tenha seu interesse centrado no estudante [...], o que exigirá a reforma de currículos, utilização de novos e apropriados métodos que permitam ir além do domínio cognitivo das disciplinas; criar novos ambientes de aprendizagem, que vão desde os serviços de educação a distância até as instituições e sistemas de Educação Superior totalmente virtuais. Em síntese: Docentes de Educação Superior atualmente devem estar preocupados, sobretudo em ensinar seus estudantes a aprender e a tomar iniciativas, ao invés de serem unicamente fontes de conhecimento. Devem ser tomadas providências adequadas para pesquisar, atualizar e melhorar as habilidades pedagógicas, por meio de programas aprimorados ao desenvolvimento de pessoal. (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO SUPERIOR PARA O SÉCULO XXI, 1998).
A partir das premissas da UNESCO, dirigidas aos docentes, concordamos
com a necessidade e a atualidade do debate sobre a competência pedagógica e a docência universitária. Assim, entendemos que no ensino universitário as competências abrangem os saberes plurais trazidos pelo planejamento, pela organização, pela preparação cognitiva da aula e pela experiência prática advinda das interações em sala e/ou em ambientes virtuais. Tardif (1998 p.89) analisa a questão dos saberes profissionais e a sua relação na problemática da profissionalização do ensino e da formação de professores. Ele considera que a diferença entre as profissões está na natureza do conhecimento profissional que, por sua vez, apresenta as seguintes características: a) é especializado e formalizado; b) é adquirido, na maioria das vezes, na universidade, que prevê um título; c) é pragmático, voltado para a solução de problemas; d) é destinado a um grupo que de forma competente poderá fazer uso deles; e) é avaliado e autogerido pelo grupo de pares; f) requer improvisação e adaptação a situações novas num processo de reflexão; g) exige uma formação contínua para acompanhar sua evolução; h) sua utilização é de responsabilidade do próprio profissional. A implantação e o desenvolvimento destas características no ensino e na formação de professores têm sido um dos objetivos do movimento da profissionalização docente que, nos últimos anos, tem buscado construir um repertório de conhecimentos e definir competências para a formação e a prática do magistério. Com referência aos saberes que são construídos pelos professores em seu processo de formação, inicial e continuada, Saviani (1996, p. 147) afirma que, sendo o processo educativo um fenômeno complexo, os saberes nele envolvidos também o são. Por conseguinte, o autor identifica cinco categorias de “saberes”: o atitudinal, o crítico- contextual, os específicos, o pedagógico e o didático-curricular, entendendo que são esses os saberes que todo educador deve dominar e que, portanto, devem integrar o seu processo de formação. A afirmação de Saviani (1996) contribui para a premissa de que o professor/educador possui uma visão de mundo, uma concepção de educação, de ensino, e que essas concepções determinam os tipos de saberes que deverão ser mobilizados numa determinada situação em sala de aula e fora dela. Diante disso, a formação dos professores se torna um alvo crítico das nossas preocupações; quanto mais plural precisa ser, maior se torna a responsabilidade da sua formação. Como diz Nóvoa (1995) “Os professores vivem tempos difíceis e paradoxais. Apesar das críticas e das desconfianças em relação às suas competências profissionais exigem-se-lhes quase tudo. Temos que ser capazes de pensar a nossa profissão” (p.12). Frente ao exposto sobre a formação e os saberes e focados em nosso objeto de pesquisa, o professor formador de professor, recorremos à Valente e Almeida (2007, p. 117) quando eles afirmam que: O grande diferenciador em Educação a Distância (EaD) é a presença do formador, é ele que motiva a argumentação, que problematiza de forma a fomentar a qualidade das interações, que não deixa o outro sentir-se solitário. É preciso que ele tenha muito claro qual a sua função e que apresente ou desenvolva características pessoais para garantir a todos e entre todos o „estar juntos virtual‟. Nesse contexto, há a figura do professor formador de professores [...].
Corroborando o posicionamento de Valente e Almeida (2007) Kenski
(1995) apresenta quatro situações de ensino que poderão ser desenvolvidas pelos professores através das novas tecnologias, a saber: a) a substituição do professor, mero contador de história, por um recurso tecnológico; b) o professor passará a exercer um papel de negociador, valendo-se de discussões e da tecnologia como local de pesquisa; c) o professor deverá fazer a conclusão do processo ensino-aprendizagem, e ao aluno caberá a tarefa de pesquisar os recursos multimeios didáticos; d) e, por fim, o professor e os alunos interagindo-se criarão novos espaços de ensino com o uso conjunto dos recursos disponíveis, promovendo o que Lévy (1998) denominou de “inteligência colaborativa”. Evidenciamos que o professor, ao trabalhar com as novas tecnologias, deverá possuir uma formação, conciliada aos propósitos pessoais, que será capaz de aceitá-las, rejeitá-las ou produzir seus próprios programas, adaptando-os à realidade da sua sala de aula. Segundo Kenski (1995), a formação docente para atuar na modalidade a distância deve estar atenta para partilhar experiências e assumir a fragmentação das informações, como um momento didático significativo para a recriação e emancipação dos saberes. Entendemos que a educação a distância ajudará os docentes a serem mais íntimos desses materiais e equipamentos tecnológicos produzidos pela ciência, e disponibilizados para os homens, para a busca de nossa autonomia, no ato de buscar a construção de uma sociedade mais humana, sem perder de vista que a Educação a Distância não é de forma alguma um vislumbre para ficarmos trancados em quatro paredes “ligados” vinte e quatro horas em um computador, ou em frente à televisão. Pereira e Moraes (s/d) afirmam que: Em vista disso, impõe-se a (re)organização do trabalho docente e dos processos educativos realizados no âmbito do ensino superior, com ênfase nas universidades públicas, mediante a implementação de uma política voltada para a oferta regular de cursos a distância, como propõe a Universidade Aberta do Brasil, UAB, ao lado da oferta de modelos pedagógicos híbridos, envolvendo espaços curriculares mediados pelas tecnologias de informação e comunicação, que assegurem a democratização e a qualidade dessa formação. (PEREIRA E MORAES, S/D). Para as autoras, a educação a distância rompe com a relação espaço/tempo, que caracteriza a escola convencional, e se concretiza por intermédio da comunicação mediada, por meio da mídia. Diferente de uma situação de aprendizagem presencial, em que a mediação pedagógica é realizada pelo professor em contato direto com os alunos, na modalidade a distância, a mídia torna-se uma necessidade absoluta para que se efetive a comunicação educacional. Becker (2002) evidencia que não podemos confundir formação com acesso ou troca de informações. Precisamos e devemos pensar a educação a distância, tal como a presencial, considerando as questões epistemológicas que fundamentam o trabalho pedagógico. Ou seja, o ensino dar-se-á nos limites da compreensão de como se constrói o conhecimento. Entendemos que não se pode concordar com uma formação docente que concebe um aluno passivo, que apenas incorpora informações que lhe chegam de fora. O processo educativo a distância é valioso para formação de professores quando se adota uma postura sobre a aquisição de conhecimentos, tratada e concebida como busca permanente, como reflexão vinculada às práticas sociais e pedagógicas, constituindo-se pela atividade das pessoas em seus contextos. Esta postura propicia uma articulação mais adequada das diferentes áreas de conhecimento num processo de interdisciplinaridade e de redes disciplinares (GATTI, 2002). Auxiliados pelos autores, compreendemos que ser formador no contexto da EAD é estabelecer uma conversa permanente consigo mesmo sobre a formação, e uma forma de ser, é ser o “mestre-de-obras” do projeto proposto. Para isso, torna-se necessário que a ação docente seja reconhecida como ato ético e político, apresentando- se como a oportunidade, daquele que está sendo formado e que produz e é produzido pela cultura, de maneira que seja capaz de educar para um mundo globalizado, considerando o local e o global em uma sociedade da informação. (VALENTE e ALMEIDA, 2007). 2.2 EAD: alguns conceitos necessários
Para conceituar a Educação Aberta e a Distância, recorremos à Vieira
(2003), estudiosa da temática, que defende a EAD como um processo pelo qual professores e estudantes buscam a informação, visando à construção do conhecimento, a partir das experiências e dos interesses de ambos, em espaços e tempos síncronos e assíncronos, através de um sistema de aprendizagem mediado por diferentes meios e formas de comunicação. Assim, na EAD, a interatividade entre os atores envolvidos é indireta e mediatizada por uma combinação de meios tecnológicos e linguagens de comunicação. (p. 21). Dias (2004, p. 28), por sua vez, afirma que a “Educação Aberta e a Distância apresenta-se como forma de educação, que possibilita a democratização do conhecimento independente do tempo e do espaço. Sendo assim, a Educação Aberta e a Distância torna-se flexível, adaptando-se ao perfil do estudante, considerando as perspectivas e exigências”. Retomando Vieira (2003), corroboramos que a Educação Aberta e a Distância possibilitou a flexibilidade de tempo e lugar, e também um trabalho através das redes colaborativas de aprendizagem. Essas redes de aprendizagem são sistemas abertos dinâmicos, flexíveis, no qual os integrantes do grupo podem se interagirem para atingir um objetivo comum, a construção do conhecimento. Entre os objetivos específico, em um deles propusemos analisar como os formadores de professores concebem a competência informacional, aprendizagem contínua, a flexibilidade, a presencialidade, a distancialidade, a alfabetização e o letramento digital como uma possibilidade de construção do conhecimento. Assim sendo, julgamos ser necessário fazer um ensaio de conceituação de cada um dos elementos que compõem a competência informacional. A competência informacional, segundo Vitorino (2009), vai além do simples ato de poder ler. Ela demanda a capacidade de ler com significado, compreendendo, pois essa compreensão é o ato fundamental da cognição. Assim sendo, a competência informacional deve englobar “a construção do conhecimento”, a partilha, ou seja, o compartilhamento de informações, integração de ferramentas técnicas, bem como habilidades de comunicação, capacidades inerentes a EAD (p. 39). A autora evidencia ainda que a educação informacional está baseada em aprendizado dialógico, com flexibilização curricular e na valorização da pesquisa, dentre outros. Ao propor analisar como os formadores de professores concebem a competência informacional, tendo em vista que são formadores em curso oferecido na modalidade de educação à distância, precisamos considerar categorias como evidencia Vitorino (2009, p. 40). Para a autora existem dois níveis de categorias, as primárias que são representadas por alunos, professores, conteúdo e equipe de suporte; e as secundárias que também evidenciam competências que devem ser representadas e desenvolvidas na EAD. A seguir, de forma sucinta, vamos elencar essas competências: a) aprendizagem contínua (lifelong learning) - estimula a autoaprendizagem, permitindo um desenvolvimento pessoal contínuo dos indivíduos, conferindo-lhes maior autonomia (premissa que define uma prática educativa voltada à educação continuada no ensino superior); b) presencialidade – professores e alunos estarão face a face em alguns momentos da disciplina, pois é imprescindível a garantia de momentos presenciais ricos em conhecimento, integração e colaboração; c) flexibilidade - permite maior disponibilidade e ritmos de estudo diferenciados e minimiza as barreiras de espaço e tempo; d) distancialidade – dá origem a métodos e formatos de trabalho mais abertos, que envolvem a partilha de experiências; e) alfabetização digital (digital literacy) – exige formação mínima quanto aos procedimentos iniciais para o bom aproveitamento dos recursos tecnológicos e promove a experimentação e a familiarização com a tecnologia e com novos serviços telemáticos; f) interação – proporciona (nos momentos presenciais e nos momentos a distância) uma relação humana alunos/professor que se assemelha a uma sala de aula. (VITORINO, 2009, p. 40) Dudziak (2003) e Campello (2003) assumem em suas produções as terminologias competência em informação, competência informacional e letramento informacional. Dudziak (2003) traduziu um relatório da American Library Association (ALA) sobre information literacy da seguinte maneira: “Para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e usar efetivamente a informação; em suma, as pessoas competentes em informação são aquelas que aprenderam a aprender.” (American Library Association – Presidential Committee on information literacy, 1998, p.13) (DUDZIAK, 2003). Trazer a temática da competência para a educação é atividade fundamental se almejamos uma sociedade com maior capacidade de transformar informação em conhecimento e, em consequência disso, atuar de forma mais cidadã. O professor formador de professores precisa entender que ele é um dos pilares para a consolidação desse movimento e, portanto, devem ser capacitados para tornarem-se sujeitos competentes também na questão informacional. Compreendemos que essa competência diz respeito à capacidade de mobilizar atitudes e conhecimentos para a ação, ou seja, está relacionada à aplicação prática de conhecimentos adquiridos, fundamental para todos os indivíduos e profissionais, especialmente para professores e bibliotecários. 3. METODOLOGIA Por ser uma pesquisa na área educacional, optamos por adotar uma perspectiva quanti-qualitativa, entendendo, como afirmam Laville e Dione (1999), que as “perspectivas quantitativas e qualitativas não se opõem e podem até parecer complementares, cada uma ajudando à sua maneira o pesquisador a cumprir sua tarefa, que é a de extrair as significações essenciais da mensagem”. (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 225). Laville e Dione (1999) consideram que a disputa entre os partidários da abordagem quantitativa e da abordagem qualitativa é, no mais das vezes, inútil e até falsa. Inútil, porque os pesquisadores aprenderam, há um certo tempo, a combinar suas abordagens conforme as suas necessidades (p. 43). Ao definirmos o caminho metodológico da investigação que privilegia a abordagem quanti-qualitativa, optamos, também, pelo uso de fontes orais, inspirados na vertente da história oral temática. Assim, a metodologia combina os seguintes procedimentos de investigação: pesquisa bibliográfica, estudo de caso por meio de questionários aplicados aos sujeitos, que servirão de base para a construção dos dados, de documentos escritos e visuais e de entrevistas orais temáticas, transcritas e textualizadas. Ao investigar os professores formadores de professores dos cursos de Licenciatura em Pedagogia da UAB/Unimontes, levaremos em conta os propósitos de um estudo de caso, pois o investigador pode dedicar-se tanto ao estudo de situações típicas (similares a outras) quanto não usuais (casos excepcionais). Considerando o contexto de vida e a diversidade do curso pesquisado no interior da instituição, entendemos que a presente pesquisa constituiu-se em um estudo de caso (LÜDKE e ANDRÉ, 1986; LAVILLE e DIONNE, 1999), configurando-se como um estudo que focaliza indivíduos ou organizações educacionais, utilizando, como um estudo de caso que focaliza indivíduos ou organizações educacionais, utilizando, preferencialmente, técnicas e métodos característicos da abordagem qualitativa e que considera um grande número de dimensões e variáveis a serem observadas e inter-relacionadas para a descrição de uma realidade ampla. Em relação às fontes orais, tendo como referencial a metodologia da História Oral, Bom Meihy (2002, p. 146) atesta que, quase sempre, equivale-se ao uso das fontes escritas, valendo-se do produto da entrevista como outro documento compatível com a necessidade de busca de esclarecimento. O grau de atuação do entrevistador, como condutor dos trabalhos de pesquisa, fica explícito. Dado seu caráter específico, Bom Meihy (2002, p. 146) alerta que a “história oral temática tem características bem diferentes da história oral de vida, pois detalhes da história pessoal do narrador apenas interessam à medida que revelam aspectos úteis à informação temática central”. É preciso levar em conta que a história oral se preocupa com o que é relevante e significativo, para compreender a dinâmica social, e não, com a acumulação anárquica de supostas peças de evidência que não acrescentam nada aos dados já existentes. Para Alberti (1989, p. 1-2), a história oral é um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica, etc.) que “privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo”. Para a autora, as entrevistas gravadas e transcritas constituem-se em um documento de uma versão do passado, mas “[...] não mais o passado tal como, efetivamente, ocorreu e, sim, a versão do entrevistado”. (1989, p. 2). Com a abordagem quanti-qualitativa, tornou possível entrecruzar os caminhos da pesquisa educacional e da história oral temática numa visão multi e interdisciplinar. Como já afirmamos, serão utilizadas diversas fontes de pesquisa: questionários, documentos históricos institucionais e oficiais; dados, imagens, fotos e bibliografias. O campo da investigação será o curso de Pedagogia da UAB/Unimontes. A escolha por este se deu pela nossa formação em Pedagogia e por esse ser o curso em que atuamos nas modalidades presencial e a distância. Os sujeitos investigados serão os professores formadores atuantes no curso de Pedagogia da UAB/Unimontes, considerando todos os polos de oferta. Antes de realizar as entrevistas, enviaremos via google um questionário com questões que nos possibilitarão conhecer: o perfil socioeconômico e cultural, a formação acadêmica, as experiências profissionais, os saberes da docência, aspirações profissionais e os saberes das tecnologias de comunicação e informática dos docentes do curso. Após a leitura e análise dos dados dos questionários, serão agendadas as entrevistas orais que faremos com um percentual de professores que responderão ao questionário. Esse percentual será decidido em comum acordo com o orientador. As entrevistas serão gravadas e previamente agendadas. No início de cada gravação, indagaremos se poderemos utilizar o nome do professor ou se preferem que seja usado um codinome, bem como apresentaremos o termo de consentimento livre e esclarecido para ser assinado por cada sujeito colaborador. A base epistemológica para a análise dos dados será o conceito de formação discursiva, proposto, inicialmente, por Foucault (1987) e modificada por Pêcheux (1990) no âmbito da análise do discurso. No contexto brasileiro, recorremos a Orlandi (1992) para compreendermos melhor os caminhos da análise do discurso e a formação discursiva. Para Orlandi (1992), o sujeito se expressa na ilusão de controlar a origem de seu discurso, sem se dar conta de que o determinante dos sentidos desse discurso é a história, que se manifesta por meio das diferentes formações discursivas, nas quais se inscreve e das quais não se pode desfazer. O sujeito, os sentidos de seus discursos, o dizível e o não dizível são determinados pelas formações discursivas, que operam mediante memórias discursivas próprias às diversas posições desse sujeito e mostram as relações de poder que se estabelecem para a determinação da verdade. A formação discursiva é, enfim, o lugar da constituição do sentido e da identificação do sujeito. É nela que todo sujeito se reconhece (em sua relação consigo mesmo e com os outros sujeitos) e aí está a condição do consenso intersubjetivo (a evidência de que eu e tu somos sujeitos) em que, ao se identificar, o sujeito adquire identidade. É nela também que o sentido adquire sua unidade. É nessa perspectiva que pretendemos associar a análise discursiva com a construção da história oral temática do ser professor formador de professores na UAB/Unimontes no curso de Pedagogia. Como o sujeito não é origem de si, não tem o domínio de como os sentidos se formam nele, de como ele experimenta os sentidos, é, pois, necessário, para os que praticam a análise de discurso, aceitem a condição de não colocar nele o ponto final. (ORLANDI, 2006, p. 7).
4. RESULTADOS ESPERADOS
Acreditamos que investigar a formação de professores que formam outros
professores, a partir da EAD, nos proporcionará reflexões importantes sobre diversos elementos que incidem sobre o desenvolvimento pessoal e profissional do professor, como os saberes, a profissionalização dos formadores, as representações sobre os saberes e as práticas. Dentro dessa perspectiva, da Formação do Professor para a Educação a Distância apresenta-se como uma possibilidade de resposta aos anseios, questionamentos e inquietudes intelectuais, oriundos da nossa experiência de vida acadêmica e profissional. É visto também como uma forma de dar continuidade ao processo, garantindo uma melhoria da qualidade social da educação e do ensino, e uma atitude pedagógica geradora de compromisso com a vida, em relação a educadores/educandos, ante as peculiaridades do contexto cultural e social da região onde se insere a pesquisa. Esperamos também, com os resultados da investigação, colaborar com a produção de conhecimento para as áreas em que se aplica, através da participação em eventos e da produção científica em diversos meios.
5. REFERÊNCIAS
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