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UNIVERSIDAD NACIONAL JOSÉ FAUSTINO SÁNCHEZ

CARRIÓN
ESCUELA DE POSGRADO

AULA : Português
PROFESSORA : Dra. Gladys Amelia Navarro Vera
LEITURA N° 1 : O poder transformador da Ética

O que é ética?
Betinho. Ética é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as
relações humanas. Esses principios devem ter características universais,
precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre. Acho que essa é a
definição mais simples: um conjunto de valores, de principios universais, que
regem as relações das pessoas.
Existem sociedades que mantêm atitudes antiéticas?
Betinho. Isso pode acontecer durante determinados períodos, mas tenho a
impressão que, historicamente, logo essas sociedades entram em crises
profundas e se desestruturam. A ética é uma especie de cimento na construção
da sociedade: se existe um sentimento ético profundo, a sociedade se mantém
bem estruturada, organizada; e quando esse sentimento ético se rompe, ela
começa a entrar numa crise auto-destrutiva.
A crise na ética é causada pela sede de poder?
Betinho. O maior teste para a ética é a relação de poder. A ética deve ser mais
forte que o poder, os princípios éticos precisam estar acima das manifestações
de poder. A sociedade ideal sempre se guia pelos valores da ética. A felicidade
humana se produz pela ética, e não pela política. A ética é o reino do Bem.
Como é a situação de dominação no Brasil?
Betinho. A história da política no Brasil é a história da dominação de alguns
grupos sobre a grande maioria. A construção dessa dominação faz com que,
hoje, 10 a 20% da população tenha praticamente tudo, contra 80% que não
têm nada. Essa situação leva à exclusão: quem manda subordina e exclui os
outros.
E que consequências essa dominação trouxe para o Brasil?
Betinho. Acredito que há tanta miséria e pobreza no Brasil porque a imensa
maioria da população não tem consciência dessa dominação ou não exerce
essa consciência. Aqui, não se exige ser tratado como igual, e não como
dominado. E isso resulta da nossa história, uma história marcada pela casa-
grande e pela senzala, pelo senhor e pelo escravo. O senhor virou empresário,
dono do poder, e o escravo virou trabalhador, campesino, negro, mulher.

O Brasil é um país de muitas diferenças. Afinal somos todos iguais?


Betinho. Quero começar fazendo uma distinção entre diferença e
desigualdade. Desigualdade deriva de um tipo de privação social, por exemplo,
quando um é rico e o outro é pobre. Isso não significa que os dois sejam
diferentes, mas que, diante da riqueza, um tem e o outro não tem. Um está
incluído naquele benefício e o outro está excluído. A igualdade e a
desigualdade são princípios éticos. A diferença não se relaciona
necessariamente com a ética. Uma pessoa pode ser diferente da outra, e não
ser desigual.
O Brasil é um país de muitas desigualdades, por exemplo, a que existe
entre brancos e negros.
Betinho. A nossa história escravocrata não fez do negro um diferente, mas um
desigual, dominado pelo branco e excluido da sociedade por ser negro. Nós
chamamos essa desigualdade de “racismo”. No Brasil, a cultura dominante
tenta ignorar, tenta negar essa desigualdade. Por isso, sempre se diz que aquí
não há racismo, que aquí existe democracia racial, tolerância. Mas é o negro
quem tem menos escolaridade, recebe salário menor, encontra menos
oportunidades de emprego e não consegue ocupar espaços nas estruturas da
sociedade, no Exército, na universidade, na Igreja, na política. O Brasil tem um
apartheid social claro. Mas não é um apartheid assumido. O Brasil tem medo
de ser racista. Mas é.
E que consequências essa negação traz?
Betinho. A sociedade brasileira se comporta como um menino pego em
flagrante. A grande astúcia do racismo está exatamente na negação de sua
própria existência.
Se o Brasil encarasse a questão do racismo, todos nós seríamos obrigados a
nos ver no espelho. E a mudar as relações que nós estabelecemos.

FONTE: Herbert de Souza e Carla Rodrigues. ÉTICA E CIDADANIA. São Paulo: Moderna.

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