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A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA:

ESBOÇO DE INTERPRETAÇÃO 1

L’ÉDUCATION CONTEMPORAINE: CROQUIS D’INTERPRÉTATION


José Misael Ferreira do Vale2

RESUMO: O artigo é estudo preliminar sobre questões da educação contemporânea sob o ponto de vista filosófico,
histórico e social. Evidencia que a História da Educação além de ter como objeto de estudo a análise da prática
pedagógica das escolas e professores deverá elaborar, também, sínteses compreensivas provisórias que, por meio da
reflexão, pensem o futuro da educação.

Palavras-chave: Filosofia e História da Educação; Formação do ser humano; Educação multilateral; Processo de
conscientização; Emancipação humana.

RÉSUMÉ: L’article est étude préliminaire sur sujets de l’éducation contemporaine sous le point de vue philosophique,
historique et social. Il évidences que l’Histoire de l’Éducation plutôt avoir comme étude l’analyse de la pratique
pédagogique d’écoles et professeurs devra, aussi, élaborer des synthèses compréhensives temporaires qui, par la
réflexion, pensez l’Éducation du futur.

Mots-clef: Philosophie et histoire de l’éducation; La formation de l’être humain; Éducation multilatérale; Processus
compréhensif; Émancipation humaine.

“A destruição do passado _ ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das
gerações passadas _ é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX.” (Hobsbawm,
Eric J., Era dos Extremos, 1995: 13).

O conceituado historiador Eric J. Hobsbawm, no início de a Era dos Extremos, lamenta o fato de os jovens
de hoje, em sua grande maioria, crescerem “numa espécie de presente contínuo sem qualquer relação orgânica com
o passado público da época em que vivem”. Daí, Hobsbawm afirmar a importância de o historiador ser alguém
encarregado de “lembrar o que os outros esquecem”. O historiador seria o intelectual da memória, encarregado de
registrar e resgatar os fatos importantes ocorridos em determinado espaço sócio-temporal e, assim, possibilitar a leitura
criteriosa dos acontecimentos e eventos livre de anacronismos e mistificações.
O historiador inglês evidencia, por exemplo, como no “breve século XX”, demarcado entre 1914 e 1991, isto é,
entre a eclosão da 1.ª Guerra Mundial e o fim da União Soviética, “apesar das megamortes” ocorridas nas duas grandes
guerras, que, na década de 1990, “a maioria das pessoas era mais alta e pesada que seus pais, mais bem alimentada e
muito mais longeva, embora, talvez, as catástrofes das décadas de 1980 e 1990 na África, na América Latina e na ex-
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tornem difícil acreditar nisso”. Não fora assim, argumenta Hobsbawm,
não se teria conseguido alimentar uma população global muitas vezes maior que a existente no início do século
XX. Chegou-se a pensar, durante algumas décadas, nos meados do século XX, que aconteceria a distribuição mais
justa da riqueza produzida pelos trabalhadores nos países de capitalismo desenvolvido (como os Estados Unidos da

1 Este artigo publicado primeiramente no livro História da Educação, São Paulo: Avercamp, 2006, foi alterado para publicação em Ciência Geográfica,
Bauru (SP): AGB, Seção Bauru, em 2012.

2 Professor Assistente Doutor aposentado do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências (FC) da UNESP, Câmpus de Bauru (SP). Ex-Di-
retor da FC/Bauru no período de 1997 a 2001 e Docente de seu Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e do Curso de Pedagogia.
Docente aposentado da FFC do Câmpus de Marília (UNESP). Membro da Diretoria Executiva da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Bauru.
E-mail: jmisael.vale@terra.com.br.

Artigo recebido em janeiro de 2012 e aceito para publicação em março de 2012.

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América do Norte, Inglaterra, Japão, países escandinavos


e Europa Central) embora a desigualdade voltasse a se “No fim deste século, pela primeira vez, tornou-se
manifestar nos ex-países socialistas e periféricos. Mas, possível ver como pode ser um mundo em que o
uma coisa seria possível afirmar, segundo Hobsbawm, passado, inclusive o passado no presente, perdeu
“a humanidade era mais culta que em 1914”. Eis o ponto seu papel, em que os velhos mapas e cartas que
que pretendo desenvolver. Tenho por pressuposto guiavam os seres humanos pela via individual e
teórico-prático que a Educação, como prática social, coletiva não mais representavam a paisagem na
não será suficientemente compreendida sem que se qual nos movemos, o mar em que navegamos.”
considere a sua articulação com a prática política, a (1995:25)
prática econômica e a prática cultural de um país,
nação, continente ou da totalidade mundo. O historiador inglês acredita, entretanto, que um
Comecemos, pois, com a transcrição importante mundo melhor deveria surgir “dos escombros do período
dos estudos de Hobsbawm sobre o “breve século XX”: que acaba de chegar ao fim”. Tem consciência, porém,
que o “velho século não acabou bem” (1995:25-6). Não
“Na verdade, talvez pela primeira vez na história, acabou bem porque o final do século, após a “era de
a maioria dos seres humanos podia ser descrita ouro” (1947-1973) o mundo aumentou a população
como alfabetizada, pelo menos nas estatísticas em vários bilhões de seres humanos orientados pela
oficiais, embora o significado dessa conquista “busca de desejo individual, incluindo desejos até então
estivesse muito menos claro no final do século do proibidos ou malvistos, mas agora permitidos __ não
que estaria em 1914, em vista do fosso enorme __ porque se houvessem tornado moralmente aceitáveis,
talvez crescente __ entre o mínimo de competência mas porque tantos egos os tinham “como forma de
oficialmente aceito como alfabetização, muitas desafio às normas e aos princípios de uma sociedade
vezes descrito como “analfabetismo funcional” e o tida como conservadora em contraste ao desejo sempre
domínio da leitura e da escrita ainda esperado nas crescente de liberdade a qualquer preço”. A desmedida
camadas de elite.” (1995:21-2). passou a ser a marca registrada da desobediência contra
os valores tradicionais. Hobsbawm declara que a partir
Hobsbawm entende que no final do “breve século de 1990 desenvolveu-se, em todo mundo, o mercado
XX” o mundo poderia ser descrito como qualitativamente para a cocaína e pela primeira vez na história o crime,
diferente do início do século XX. Deixara, por exemplo, de ser “o ilícito penal”, transformou-se em grande negócio
“eurocêntrico” com a ascensão dos Estados Unidos da América chegando a desafiar o estado tradicional em todo o
do Norte como potência mundial hegemônica. A “economia mundo (1995:327). Diríamos que assim como o “capital
nacional”, tomada isoladamente, perde terreno para as não possui pátria” também o narcotráfico atual age para
atividades transnacionais com o aumento de tensão entre o além das fronteiras nacionais não encontrando barreiras
processo de globalização à toque de caixa e a resistência das à sua expansão.
instituições públicas e das pessoas a se adaptarem à nova No plano cultural o fim do século XX caracterizou-se
situação. Pela primeira vez o Estado Nacional é, em alguns como o triunfo do individual sobre o social, a supremacia
casos, suplantado pelas Organizações Transnacionais com do “eu” em relação ao “nós”. Os fios que ligavam o
sede em países desenvolvidos do norte industrializado. O sujeito às texturas sociais romperam-se permitindo a
desenvolvimento industrial seguido da revolução tecnológica emergência de um clima de anomia, de desordem moral
digital permitiu a comunicação instantânea reduzindo a e social, com a perda dos referenciais orientadores da
dimensão espaço-tempo tradicional. Por fim, “o breve conduta. Paralelamente o Estado entendido como “a
século XX” foi abalado por uma nova visão de mundo, uma nação politicamente organizada” perde o caráter de
nova “cosmovisão” ou “mundividência” centrada em um síntese de sociedade política e sociedade civil. Age,
“individualismo associal absoluto” articulado visceralmente ao agora, como Estado da classe empresarial empenhado
“capitalismo sem fronteiras” do empresariado transnacional em fortalecer o privado a qualquer custo com base nos
que “seleciona aspectos do passado para uso próprio”. Mas valores de eficiência e eficácia, competição, competência,
é bom ressaltar que a nova visão de mundo voltada para a racionalidade instrumental, produtividade, custo-
internacionalização da economia nunca deixou de lado certas benefício, empréstimo seletivo, desregulamentação fiscal,
orientações valorativas de fundo, próprias da ética protestante, exportação gerando superávit na balança comercial,
ligadas ao caráter disciplinador do “trabalho árduo”, o “tempo prioridade ao “setor produtivo”, favorecimento “às
visto como dinheiro”, “a riqueza como dádiva”, “a recusa da classes produtoras”, redução da previdência social,
satisfação imediata”, “a luta contra o desperdício”, a “educação revisão dos direitos trabalhistas, etc. As relações pessoais
como dever e responsabilidade da família”, “o respeito à já não são previstas em termos de padrões esperados. As
autoridade constituída”, tudo isso em contraposição a qualquer relações entre o capital e trabalho se alteram e os valores
orientação que levasse os indivíduos a contestarem a ordem econômicos da livre empresa reforçam o individualismo
social e as forças dominantes da economia e da política. no plano cultural. O “choque de gerações” torna-se
Hobsbawm constata: inevitável porque os jovens vivendo numa sociedade

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anômica não sentiram o peso dos valores tradicionais a priorização de valores como mercado e lucro, a
vividos pelas pessoas de idade. O clima de “pós- emergência da economia de escala, altamente competitiva
modernidade” coloca por terra todas as “verdades” e tecnológica, centrada na lógica de circulação da
e todos “os valores arcaicos”. O passado perde o seu mercadoria, baseada na quantidade e qualidade da
espaço no presente. O presente basta-se a si mesmo. A produção, encorajou o individualismo econômico
insegurança permeia a trama de relações sociais e, mais despreocupado com as conseqüências sociais de sua
do que nunca, o “ser humano passa a desconfiar do ação racional, direcionada para fins estritamente de
ser humano”. Não há regras confiáveis. Nada é sólido, domínio econômico e político. Compreende-se porque
“tudo se desmancha no ar”. A burguesia age, agora, no a primeira ministra britânica Margareth Thatcher dizia
plano global e o capital se move em função de interesses alto e bom som: “Não há sociedade, só indivíduos”. E,
internacionais. A privatização torna-se a palavra de ordem ao indivíduo ou agente econômico, toda a liberdade
no processo de desmonte do Estado liberal tradicional. de ação. A liberdade dos agentes econômicos passa a
A par do processo de tornar o Estado liberal, um Estado ser “a medida de todas as coisas”. A iniciativa privada
mínimo, sem ligações diretas com iniciativas econômicas, é a única via para o desenvolvimento contínuo da
a iniciativa privada, após a queda do muro de Berlim, sociedade. Todos os valores se reduzem, pois, a um
acentuou o processo de adequação organizacional da único denominador comum, “a liberdade” dos agentes
empresa capitalista, ao mesmo tempo que aproveitava a econômicos individuais que não devem e não podem ser
ocasião, para dispensar grande número de trabalhadores, coagidos por regulamentações, normas e determinações
tornando frágeis as respectivas entidades representativas. de um Estado burocrático, coercitivo, considerado
A vitória política da chamada “direita”, com a derrocada perdulário, inchado e corrupto e que, mesmo assim,
interna da União Soviética, deu ao mundo ocidental mantém o poder político burguês, embora não favoreça,
capitalista a oportunidade de reforçar, ainda mais, a como deveria, a acumulação do capital. A reforma do
sua hegemonia e confirmar a sua supremacia. O Estado Estado é, portanto, crucial para os interesses do capital
neoliberal, militar, aliado ao capitalismo financeiro e ao internacional preocupado em derrubar as barreiras
grande empresariado industrial, será intervencionista, alfandegárias (dos Estados dependentes), esmaecer os
corporativista, “privatista”, reformista e cosmopolita. O limites territoriais (dos Estados subordinados), destruir
imperialismo econômico, financeiro e político divide o as regulamentações de proteção à produção nacional
mundo entre o norte rico e industrializado e o sul pobre (dos Estados em desenvolvimento), questionar, enfim,
e dependente, como alertara, em artigo esclarecedor, o toda e qualquer barreira à economia de mercado. Esta
pedagogo Mário A. Manacorda. política de liberação dos espaços sociais ao capital
Como sempre, os pobres serão as vítimas de um internacional acentua a desigualdade econômica, social
mundo que solapa constantemente as relações sociais e política porque no ponto de partida não há igualdade
estáveis e fundamentais. Contando apenas como a sua força de oportunidades em decorrência de níveis diferentes de
de trabalho e com reduzida capacidade de se aprimorar desenvolvimento econômico entre regiões e nações.
educacional e culturalmente num mundo altamente Analisar a Educação Contemporânea Ocidental
competitivo, as camadas populares se transformam em equivale a evidenciar a evolução da prática social no
presa fácil do capital agora aliado à inovação tecnológica interior de “uma civilização capitalista em termos de
geradora de “mais valia relativa”. Em tal circunstância economia; liberal na estrutura legal e constitucional;
fica fácil transformar a vítima em réu. O trabalhador se burguesa na imagem de sua classe hegemônica
torna responsável pelo seu desemprego. O não educado, característica; exultante com o avanço da ciência, do
não treinado, não “reciclado”, não instruído fica, agora, conhecimento e da educação e, também, com o progresso
a mercê do mundo industrializado especializado que o material...” (1995:16).
descarta como incapaz. A educação agora será acionada O “longo século XIX”, de 1789 a 1914, segundo o
como diferencial num mundo regido por leis econômicas historiador Hobsbawm, construira a hegemonia burguesa
impostas por uma classe dominante sem pruridos morais. com o advento da Revolução Francesa, amortecida,
O trabalhador será uma peça descartável no interior da historicamente, pela Revolução Industrial inglesa de
prática econômica capitalista. A insegurança se instala no caráter, também liberal, nitidamente imperial colonialista.
coração do trabalhador. Nesse período dilatado, a burguesia revolucionária em
Os laços familiares embora tensos durante todo sua origem, dominou econômica e politicamente o
o século XX serviam, pelo menos até a década de 1960, cenário mundial conquistando o poder, “o coração e as
para congregar os esforços da constelação familiar mentes” da Europa e do mundo até então conhecido,
para a sobrevivência econômica, uma vez que a rede ao expandir a ideologia liberal-burguesa. Na ilha
de parentesco, os laços comunitários, as relações de (Grã-Bretanha) o capitalismo industrial, contraponto
vizinhança se constituíam em oportunidade de apoio econômico da revolução política do continente, inaugura
material e espiritual diante de um mundo em constante a “era do capital” (1848-1875) criando as bases materiais
mudança, mas sem a velocidade própria dos tempos e militares para a expansão colonial inglesa, tão vasta
neoliberais atuais. A expansão do neoliberalismo, com que nela “o sol nunca se escondia” em decorrência de

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sua extensão, ao abarcar, sob tutela do Reino Unido, o e aço do que a Inglaterra e a França juntas” (1971: 832). A
ocidente e o oriente. constatação “era de que os produtos alemães desalojavam
Com a Primeira Grande Guerra, em 1914, o mapa os congêneres ingleses de quase todos os mercados da
geopolítico do mundo começa a alterar. As pessoas do Europa continental bem como do Extremo Oriente e
século XIX que adentraram ao século XX sentiram forte da própria Inglaterra”. Talheres de origem alemã eram
impacto quando os valores e as instituições criadas pelo vendidos até em Sheffield, “o maior centro de cutelaria
liberalismo tradicional, tanto inglês como francês, foram inglesa, e lápis fabricados na Baviera eram encontrados
questionados e postos ao chão. Os valores longamente nas mesas da Câmara dos Comuns”, escreve Burns. E o
elaborados, como respeito a uma constituição, a pior, o império dos kaisers tinha começado a desafiar
desconfiança em relação aos governos ditatoriais ou a supremacia naval britânica com reflexos diretos no
absolutos, o domínio da lei, a observância dos direitos domínio estratégico dos mares.
individuais, a liberdade de expressão, publicação e A competição econômica com a França não era
associação, a prevalência da razão no debate político, menor. Os franceses estavam alarmados com a expansão
a educação pública, gratuita, laica e democrática, a industrial alemã. Em 1870, por ocasião da Guerra
organização e aplicação da justiça, a necessidade da franco-prussiana, a França perdera para a Alemanha as
saúde pública, etc. foram, de repente, contestados e províncias da Alsácia e da Lorena, ricas em depósitos
postos abaixo pela intransigência e incompreensão de de ferro e carvão. A derrota militar e a anexação das
Estados movidos por interesses políticos e econômicos províncias francesas contribuíram para o crescimento
nem sempre explícitos. A Primeira Grande Guerra pôs industrial da Alemanha fomentando, entre os franceses, o
fim à “gloriosa era da ciência, democracia e reforma nacionalismo e o movimento de revanche. O nacionalismo
social” afirma o historiador Edward McNall Burns, em a francês tomou um rumo perigoso após a derrota sofrida
História da Civilização Ocidental (1971:831). O período em 1870. Havia na França o desejo de vingar a derrota
compreendido entre 1830 e 1914, segundo Burns, ao sofrida na guerra franco-prussiana. Na imprensa e nos
mesmo tempo que significou progresso político, social bancos escolares era servida uma iguaria explosiva,
e intelectual foi, também, a época do imperialismo. Em a necessidade de revanche, idéia combatida pelos
outras palavras, a contradição estava presente na então socialistas e muitos líderes liberais, embora Raymond
prática social. Leiamos o texto abaixo. Poincaré, conhecido político da época, dissesse “não ver
razão para que a sua geração continuasse a viver, a não
“A despeito dos notáveis avanços no campo ser a de reaver as províncias perdidas da Alsácia e da
da ciência e da educação, superstições cruéis e Lorena” (1971:837).
insensatas continuaram a medrar onde menos seria O nacionalismo foi fruto da Revolução Francesa
de se esperar. O nacionalismo agressivo e belicoso que atingiu força no final do século XIX e começo
alastrou-se como uma peste. Líderes intelectuais do século XX. O nacionalismo, no decorrer de sua
da França, inclusive o romancista Zola, instigaram história, passou a assumir formas perigosas. Na França,
um ódio apaixonado contra a Alemanha. Do outro o nacionalismo adquiriu “a cara da desforra” através
lado do Reno, poetas e professores divinizavam do “movimento de revanche”. Na Alemanha cresceu
o espírito alemão e cultivavam um arrogante o movimento “pangermânico”. O plano da Grande
desprezo pelos eslavos. Ensinava-se aos ingleses Sérvia se articulou como o movimento “pan-eslavo” na
que eles eram o povo mais civilizado da terra e Rússia. O assassinato do herdeiro do trono austríaco,
que o seu direito de estabelecer “o domínio sobre Arquiduque Francisco Fernando, em 28 de junho de
palmeiras e pinheiros” provinha de uma autoridade 1914, na cidade de Saravejo, foi apenas o estopim de
nada menos que divina. Diante disso, não parecerá interesses conflitantes. A guerra, então iniciada, tomou
talvez estranho que os Jovens Turcos, educados proporções gigantescas quando uma contenda local
nas universidades da Europa Ocidental, tivessem, entre a Áustria e a Sérvia adquiriu dimensões globais
de volta à sua pátria, massacrado o “gado cristão” por meio do sistema de alianças. A Rússia interveio a
do sultão na Macedônia.”(Burns, 1971,831) favor da Sérvia. Imediatamente a Alemanha se sentiu no
dever de ajudar a Áustria. Em seguida a França entra
A Primeira Guerra Mundial evidenciou como os no conflito contando com o apoio da Inglaterra contra
conflitos radicais entre as nações resultaram de causas a Alemanha. Rapidamente o conflito toma dimensão
econômicas, sociais, políticas e culturais (dentre as mundial. Com o desfecho da Primeira Guerra Mundial a
quais cumpre ressaltar o papel da educação). Assim, por Alemanha entrega a Alsácia-Lorena à França. O Tratado
volta de 1870, a rivalidade industrial e comercial entre de Versalhes penalizará fortemente a Alemanha e seus
a Alemanha e a Inglaterra era enorme, particularmente aliados, a Áustria, a Hungria, a Bulgária e a Turquia. No
após a fundação do império alemão em 1871, quando futuro a Alemanha tentará, a partir de 1937, a revanche
os alemães produziram um desenvolvimento econômico sob a égide do nacional-socialismo o qual, de certa
“pouco menos que milagroso”. Burns afirma, inclusive, forma, recuperará os alvos da Liga Pangermânica fundada
que em 1914 a Alemanha estava produzindo “mais ferro por volta de 1895 com a proposta de expansão alemã e

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incorporação de todos os povos teutônicos da Europa expandiu por outros países da Europa. Contribuiu para
Central. Os limites do império alemão “seriam estendidos por fim à Renascença. Foi resultado do individualismo
até abranger a Dinamarca, a Holanda, o Luxemburgo, a religioso, do nacionalismo, da tecnologia (tipográfica), do
Suíça, a Áustria e a Polônia, até Varsóvia” (1971: 837). mercantilismo e da revolução comercial que subverteram
Embora a Liga Pangermânica fizesse muito ruído na a economia estática das corporações medievais gerando
época, dificilmente poderia alimentar a pretensão de um regime dinâmico de operações mercadológicas
representar a nação alemã. Segundo Burns, em 1912, dirigidas para fins lucrativos. Nesse período de
a Liga não contava com mais de 17.000 membros. A capitalismo incipiente surgiram governos absolutos e
radicalidade da Liga não era bem recebida. Contudo, estados nacionais em substituição ao regime feudal
o seu programa de ação refletia uma cultura latente no descentralizado da Idade Média. No âmbito estritamente
povo alemão expressa, por exemplo, na filosofia, sobre religioso, a Revolução Protestante ao privilegiar o “livre
a superioridade espiritual e cultural do povo alemão. Os exame” das escrituras sagradas, portanto, a leitura livre
conceitos de arianismo e supremacia do povo nórdico dos textos bíblicos, valorizou o ensino da leitura e da
marcaram a idéia de predestinação do povo alemão que, escrita pondo em marcha uma “cultura grafocêntrica”
na década de 1930, exigiria, através de líder carismático, centrada no domínio de um código lingüístico e da
“um lugar ao sol” para a nação alemã. Filósofos como mensagem. Não é sem razão que Lutero providenciou
Heinrich von Treitschke criaram uma cultura que a tradução da Bíblia para a língua alemã e a partir de
divinizava o Estado como expressão do poder necessário então surgiria a preocupação pedagógica com o processo
para fazer valer a política nacional-socialista dura, essencialmente escolar, sistemático de aprendizagem da
centrada na crença no direito de a Alemanha exercer o leitura e da escrita. A alfabetização, doravante, passa a
domínio de boa parte da Europa. O futuro viria mostrar fazer parte das preocupações dos educadores modernos
que o crescimento do estado alemão nacional-socialista, e contemporâneos interessados em identificar o melhor
após 1933, seria inseparável de uma visão autoritária de método para dotar o aluno dessa mediação simbólica
educação, política, economia e cultura. importante que permite às novas gerações entrarem
Verifica-se que a Europa é, no início do “breve em contato com a cultura erudita, chamada letrada,
século XX”, o coração do mundo, centro da cultura, produzida pelo ser humano ao longo de sua trajetória
da ciência, da educação, da economia, da arte, mas histórica e cujo exemplo mais notório seria a Bíblia. A
é, ao mesmo tempo, o espaço da guerra, o local das apropriação desse instrumento social, a leitura e a escrita,
“megamortes”, como dizia Hobsbawm, com mais de vem desde então sendo objeto de estudos e pesquisas a
20 milhões de vítimas na Primeira Guerra e mais de 50 começar pelas preocupações de Comenius voltadas para
milhões na Segunda (1939-1945). “ensinar tudo a todos”, através de uma Didática Magna.
Com o fim da Primeira Grande Guerra alterações Burns diz,
políticas, sociais, econômicas e culturais importantes
mudaram o panorama do mundo. Novas realidades “A Renascença, com seu interesse absorvente
tornam corpo e novos problemas se apresentam à pelos clássicos, tivera o infeliz resultado de
humanidade. Um novo mundo, mais complexo, exigirá perturbar o currículo das escolas, dando exagerada
a formação de um ser humano mais preparado, mais importância ao grego e ao latim e restringindo a
culto, mais crítico, mais sintonizado com os problemas educação à aristocracia. Os luteranos, os calvinistas
sociais, políticos, culturais e ambientais. A Educação será e os jesuítas mudaram tudo isso. Desejosos de
acionada como prática social capaz de criar as condições propagar as suas respectivas doutrinas, fundaram
materiais e espirituais necessárias para enfrentar o desafio escolas para as massas, nas quais até o filho do
contemporâneo de atender, com qualidade, enormes sapateiro ou do camponês podia aprender a ler a
contingentes das camadas populares em ambientes Bíblia e os opúsculos teológicos. Estudos práticos
escolares preocupados com o conhecimento humano em foram muitas vezes introduzidos em lugar do
suas diferentes manifestações. grego e do latim, e é significativo que algumas
dessas escolas tenham por fim aberto suas portas
A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E SUAS RAÍZES à nova ciência.” (1971: 482)
HISTÓRICO-SOCIAIS
Vale lembrar, também, que a Companhia de Jesus
Para entender a educação contemporânea é foi, sem comparação, a mais batalhadora das ordens
preciso compreender o papel central da revolução religiosas católicas inspiradas pelo zelo espiritual do
política ocorrida na França no período de 1789 a 1799 e, século XVI que, dialeticamente, se opôs à Revolução
antes da Revolução Francesa, o impacto da Revolução Protestante.
Protestante e da Contra-Reforma no panorama cultural
e educacional da humanidade. “Não era uma simples sociedade monástica,
A Revolução Protestante, que muitos a chamam mas um regimento de soldados que havia jurado
de a Reforma, iniciou-se na Alemanha, em 1517, e se defender a fé. Como armas, não tinham balas nem

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A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

lanças, mas a eloqüência, a persuasão, a instrução Social de Rousseau e da onda revolucionária que invadia
nas verdadeiras doutrinas e, se necessário, a a sociedade civil francesa no sentido de operar uma
espionagem e a intriga. (...) Outra atividade “completa regeneração” do tecido social. Com o Termidor,
importante dos soldados de Loyola foi a educação. em 1794, o ímpeto revolucionário decai e começa uma
Fundaram, aos milhares, colégios e seminários na série de intervenções que brecam as mudanças radicais,
Europa e na América e insinuaram-se também em mas permanece a preocupação com a elaboração
instituições mais antigas. Durante séculos tiveram de programas de reforma escolar e de intervenções
o monopólio da educação na Espanha e quase legislativas acompanhadas da preocupação de por em
monopólio na França. O fato de haver a igreja ação um “trabalho educativo que devia desenvolver nos
católica recuperado muito de sua força a despeito indivíduos a consciência de pertencer a um Estado, de
da secessão protestante deveu-se, em grande parte, sentir-se cidadão de uma nação, ativamente partícipes dos
às atividades múltiplas e dinâmicas dos jesuítas.” seu ritos coletivos”. Surgiram os “Catecismos laicos” com
(Burns,1971: 480-1). o objetivo de difundir uma visão não-religiosa de mundo,
uma ética civil baseada nos princípios de tolerância e
A Revolução Francesa, revolução eminentemente compromisso social, em oposição aos catecismos católicos.
política, foi capaz de promover uma “viragem” histórica A Revolução “presa da tradição racionalista à maneira de
no campo da Educação contrapondo-se, com base Descartes e iluminista à maneira de Bayle, procurou criar
nos ideais da Ilustração, à Educação de base religiosa, uma“religiosidade civil” capaz de descristianizar o povo e
quer católica, quer protestante. Coube à Revolução alterar o seu imaginário” (Cambi,1999:367). Com Napoleão
Francesa a proposta revolucionária de uma educação Bonaparte os princípios da instrução pública, obrigatória
laica. Com a Revolução Francesa, a Educação Pública, e gratuita foram difundidos em toda a Europa. A escola
sistemática, obrigatória, não-discriminatória, comum pública mantida pelo Estado torna-se realidade social. E o
aos sexos, separada da religião, toma corpo como Brasil, com a República, não escapará ao ideário que via
dever do Estado e direito do cidadão. A burguesia na escola pública estatal uma maneira de vencer o atraso
revolucionária se contrapõe à religião, à visão católica, escolar legado da Colônia e do Império (Mariotto Haidar,
escolástica, tradicional de educação. O espírito laico da 1972). Basta dizer que por volta de 1889 a nação brasileira
educação francesa permanecerá como marca indelével contava com cerca de 13-14 milhões de habitantes dos quais
da Revolução até nossos dias. Recentemente o governo 80-85% eram analfabetos, gente escrava ou desvalidos de
Chirac contrapôs-se, como representante maior do toda ordem sem qualquer possibilidade educacional num
Estado francês, às alunas mulçumanas que insistiam em país comandado pela aristocracia rural conservadora.
freqüentar a aulas com o tradicional lenço cobrindo a A educação estatal financiada com recursos
cabeça, marca de sua opção religiosa no interior de um públicos será a bandeira dos republicanos autênticos
estado leigo. A “direita” francesa deu, nesse episódio, preocupados em manter a instrução pública para
exemplo de coerência ideológica com o ideário de 1789, todos, sem distinção de nascimento, raça e sexo. A
reafirmando o caráter laico da educação pública francesa. burguesia revolucionária francesa de 1789 quer ser
A Revolução Francesa, inspirada nos ideais do a classe social intérprete e representante do gênero
Iluminismo, define-se como materialista e laica e, como humano ao articular ideologia (princípios político-
tal, propõe a criação de Estados Nacionais que formem filosóficos) à ação prática (organização das instituições
o cidadão instruído capaz de senso crítico e agente do sociais). Sua prática social aspira à universalidade como
progresso mediante a aplicação da razão e da ciência toda classe hegemônica no poder. O sistema escolar
na solução dos problemas sociais. Os jacobinos serão os orgânico e uniforme, caracterizado pelos princípios de
grandes defensores da educação pública popular mantida laicidade e de engajamento civil, será difundido como
pelo Estado. Le Peletier (1760-1793), um representante a marca registrada de um novo mundo a criar um novo
jacobino, apresenta à Assembléia revolucionária um ser humano. A visão burguesa faz-se hegemônica e
projeto que “teoriza uma educação masculina (dos cinco através de “intelectuais orgânicos” dissemina os ideais
aos doze anos) e a feminina (dos cinco aos onze anos) da nova ordem sócio-econômica e sócio-política. Muitas
em colégios de Estado (“casas nacionais”), separando serão as conquistas teóricas e práticas da burguesia
as crianças das famílias e pondo-as numa comunidade revolucionária no campo da instrução: universalidade,
que deveria formá-las segundo modelos de virtude civil laicidade, estabilidade, renovação cultural, valorização
e de nítida oposição à “sociedade corrupta” da época. “ do trabalho, da literatura e dos aspectos considerados
(Cambi, 1999:366). Não há como não sentir na proposta fundamentais à boa educação, __ formação intelectual,
ecos da República de Platão no sentido de um projeto científica, física, moral e cívica A Educação é vista, agora,
político-social direcionado para a ação educativa coletiva. como prática social que poderá resgatar a humanidade
O projeto foi duramente criticado por ser “artificial através de uma nova consciência civil baseada nos
e complicado”, violar “as leis naturais e os “mais sagrados direitos do homem e do cidadão e numa concepção
direitos da família”, mas exprimia o radicalismo da científica do mundo. O novo homem educado será
pedagogia jacobina, herdeira da Luzes, do Contrato livre, crítico, fraterno e igualitário.

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 81


José Misael Ferreira do Vale

A História demonstraria que os ideais citar apenas um exemplo), veículos de propaganda das
revolucionários de 1789-1795 foram, até 1914, início classes trabalhadoras.
da Primeira Grande Guerra, o espaço do nacionalismo O movimento libertário (anarco-sindicalista) no
militante, do individualismo econômico, do aparecimento Brasil se enfraquece após a década de 20 quando as suas
das massas questionadoras, da democracia política e da lideranças serão literalmente cassadas pela igreja, pela
gradativa ascensão da classe média. Cumpre observar, polícia, pela política “café-com-leite” e pelos partidos
entretanto, que, no período de 1789-1914, a humanidade políticos que assomavam à vida social brasileira. Em
foi, por outro lado, radicalmente condicionada pela Educação os anarco-sindicalistas, centrados na radical
Revolução Industrial (iniciada por volta de 1760 idéia de liberdade, que recusava toda e qualquer forma de
na Inglaterra) a qual se prolonga até nossos dias com autoridade instituída (papal, eclesiástica, governamental,
resultados importantes para a vida moderna como: a) estatal, partidária, professoral, etc) propunham uma
urbanização da vida social, b) a emergência de novas educação mantida pelo próprio movimento, com
classes sociais, c) aparecimento de novas filosofias e professores próprios formados nos ideais anarquistas,
políticas sociais, d) o renascimento do imperialismo, e) educação de caráter comunitário, centrada na formação
melhoria geral dos padrões de vida e f) maior produção científica e moral que reforçaria os laços de fraternidade
cultural, científica e tecnológica. no interior das colônias, pensadas como células de
É inequívoco que a Revolução Industrial, produção comum.
suporte do capitalismo industrial, permitiu que os Flávio Luizetto demonstra, por exemplo, como era
países sustentassem uma população cada vez maior vivo o interesse do movimento anarquista em relação à
em decorrência do desenvolvimento da agricultura, do educação. Para o movimento libertário,
conhecimento agronômico, capaz de gerar alimentos
para o maior número de pessoas. Basta dizer que os “a educação não seria o único nem o principal
historiadores estimam que a população européia, em agente responsável pelo desencadeamento
1914, ultrapassava, em dobro, a de 1789. No futuro a da revolução; mas era evidente para eles que
produção de alimentos seria ampliada com o advento do sem, a ocorrência de mudanças profundas na
trator e da mecanização geral do trabalho rural, pondo mentalidade das pessoas, mudanças provocadas
por terra a teoria malthusiana. em grande parte por intermédio da educação, a
A Revolução Industrial, ao mesmo tempo que revolução poderia não alcançar o êxito desejado.
cria novo cenário político-social, amortece, na Grã- Tal posicionamento dos anarquistas em face da
Bretanha, os efeitos da Revolução Francesa; mas, cria, educação deriva de um princípio doutrinário
contraditoriamente, as bases do movimento operário básico, o princípio da liberdade tão evocado por
urbano que, aos poucos, organiza-se e passa a exigir seus adeptos.” (1987:45)
direitos sociais inalienáveis, como a sindicalização e a
educação que terão peso social real. O aparecimento do Bakunin é, sem dúvida, o grande crítico da
tear mecânico fez da indústria têxtil a ponta de lança do educação burguesa, educação dual, que sacramenta
capitalismo industrial e o espaço onde a exploração do dois tipos de educação, uma dedicada aos burgueses e
trabalho se manifestou de modo duro com mulheres e outra apoucada, aligeirada, destinada aos trabalhadores.
crianças em jornada de dez ou mais horas de trabalho Essa duplicidade jogava, segundo Bakunin, contra a
diário. O desenvolvimento social gerado pelo capitalismo emancipação das camadas populares porque estabelecia
industrial foi contemporâneo da exploração dos diferenças e sacramentava privilégios tornando as massas
operários, tensão entre contraditórios até hoje ainda não operárias menos preparadas e sem a retaguarda de uma
superada de todo. educação completa. Bakunin percebe claramente que a
No Brasil, por exemplo, no final do século posse do conhecimento é um fato político importante,
XIX e no início do XX, com a vinda dos imigrantes pois “a pessoa que sabe mais dominará naturalmente
europeus, principalmente italianos e espanhóis, mão- aquele que sabe menos”. Daí, a sua defesa intransigente
de-obra para as fazendas de café, criou-se, com o da educação integral (física, intelectual e moral)
abandono da zona rural pelos imigrantes insatisfeitos, proposta, inicialmente, por Paul Robin e ampliada por
uma camada urbana popular constituída de operários e Francisco Ferrer (republicano espanhol) que defendia
trabalhadores de pequenos ofícios e artífices (tipógrafos, a adoção da educação racionalista fundamentada na
alfaiates, sapateiros, tintureiros, jornaleiros, comerciários, razão e em conformidade com a ciência, mista, centrada
balconistas, maquinistas, ferreiros, etc) que, aos poucos, na co-educação sexual numa comunhão constante ,
foi sendo politizada pelo movimento anarco-sindicalista fraternal entre meninos e meninas (articulada à co-
responsável pelas primeiras reuniões gerais de educação social) e essencialmente libertária dirigida
trabalhadores (com a criação da Confederação Operária à formação de pessoas livres que respeitem e amem a
Brasileira-COB), as primeiras greves de trabalhadores liberdade alheia.” (1987:49).
urbanos em terras brasílicas (de 1903 a 1917) e a Proudhon falece em 1865 e Bakunin em 1876. O
publicação de inúmeros jornais operários (A Plebe para movimento continuará com Elisée Reclus, Kropotkin e

82 Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI - (1): Janeiro/Dezembro - 2012


A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

Malatesta ao longo das duas décadas iniciais do século favorece o “espírito do capitalismo”.
XX, no caso brasileiro. As “Escolas Modernas”, “Livres” Weber escreverá:
ou “Racionalistas” se desenvolveram em vários países da
Europa e na América Latina, inclusive no Brasil. Em suma, “Trabalhe com vigor em tua vocação” era a
o movimento anarquista procurou, segundo Malatesta, receita contra as dúvidas religiosas e o sentido
realizar a síntese de três forças: a educação, a propaganda de indignidade moral.”(...) “Mas a coisa mais
e a rebelião. Marca um dos momentos de contestação da importante era que, acima de tudo, o trabalho veio
educação burguesa e da educação religiosa dominantes a ser considerado em si, a própria finalidade da vida.
no século XIX e início do XX. As palavras do apóstolo Paulo, “quem não trabalha
não deve comer” valem incondicionalmente para
AS ORIENTAÇÕES POLÍTICO-FILOSÓFICAS E SOCIAIS todos. A falta de vontade de trabalhar é sintoma da
DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: UMA TENTATIVA falta de graça.” (2003:119)
DE CATEGORIZAÇÃO
Mas Weber vai além em sua análise e diz que neste
Tratar da Educação Contemporânea sob o ponto ponto o pensamento calvinista difere do ponto de vista
de vista histórico-crítico significa perceber que até a medieval e luterano. Embora Tomás de Aquino tenha dado
Revolução Francesa, a educação dominante, hegemônica, a mesma interpretação às palavras de Paulo, o trabalho
é a Educação Tradicional que se materializa sob a para ele (Tomás) era necessário só naturali ratione para
forma de: a manutenção do indivíduo e da comunidade. “Quando
a) a vertente religiosa (Educação Jesuítica gerada tal finalidade fosse atingida, o preceito deixaria de ter
pela Contra-Reforma e a Educação Protestante calvinista qualquer significado” (2003:120). Ao contrário de Lutero,
ou luterana que sobrepõe ao Renascimento, ambas para Calvino “a vocação que a Providência divina reservou
interessadas, por motivos religiosos, na educação escolar para cada um não é um destino ao qual se deva submeter
do povo) e e sair-se o melhor possível, mas um mandamento de Deus
b) a vertente aristocrática de cunho privado ao indivíduo para que trabalhe para a glória divina”. O
(Educação tutorial ou do preceptor contratado como que Deus requer não é o trabalho em si, mas um trabalho
pedagogo para atender individualmente os filhos da elite racional na vocação. Weber afirmará:
dominante).
“No conceito puritano de vocação, a ênfase recai
Com a Revolução Francesa a instrução pública sempre nesse caráter metódico do ascetismo
adquire fundamental importância e as preocupações laico, e não, como em Lutero, na aceitação do
com a educação popular tomam impulso com destino designado irremediavelmente por Deus.”
a formação dos Estados Nacionais. A Educação (2003:121-2).
Tradicional, na vertente jesuítica, sobrevive à tempestade
revolucionária, criando, gradativamente, sua própria O puritanismo, em suma, inaugura uma nova ética.
rede de escolas confessionais. Outras ordens religiosas
(maristas, salesianos, franciscanos, dominicanos, etc.) “A riqueza seria eticamente má apenas à medida
desenvolverão seus projetos pedagógicos ao lado da que viesse a ser uma tentação para um gozo da
frente jesuítica. Com o decorrer dos anos a Educação vida no ócio e no pecado, e sua aquisição seria
Tradicional de vertente religiosa, no Brasil, especializou- ruim só quando obtida com o propósito posterior
se no ensino médio formando quadros para a classe de uma vida folgada e despreocupada. Mas como
média alta dirigente. Muitos políticos que atuarão, por desempenho do próprio dever na vocação, não
exemplo, no período ditatorial brasileiro (tanto em 1937, só é permissível como realmente recomendada.”
quanto em 1964) tiveram formação média em colégios (2003: 122)
religiosos católicos.
A Educação Tradicional, na vertente protestante O protestantismo, na sua vertente puritana,
puritana, com seu individualismo religioso e valorização calvinista, viria, como percebera Gramsci, a exercer
da riqueza não terá dificuldade em se articular ao o papel ideológico de amortecimento do ímpeto
individualismo econômico e à liberdade de iniciativa renascentista, constituindo-se na força transformadora
do sujeito econômico, próprios do “espírito capitalista”. do século XVI.
O calvinismo, no plano religioso, como percebera Max A Educação Tradicional, em sua vertente protestante,
Weber (2003), terá profunda vinculação ideológica nos séculos seguintes, conviverá, cada vez mais, com a
ao capitalismo. A doutrina da predestinação e o estrutura política da nova formação sócio-econômica que
consequente sucesso do êxito material como garantia se estrutura na Europa mercantilista. Prática econômica
da graça divina, fez do protestantismo a linha avançada e prática religiosa se reforçam mutuamente, tanto na
do capitalismo. Como dirá Max Weber, há algo no estilo Europa quanto nos Estados Unidos da América do Norte,
de vida daqueles que professam o protestantismo que formando um “bloco histórico” (estrutura econômica

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 83


José Misael Ferreira do Vale

articulada à supraestrutura ideológica) que cimentará, DUAS REVOLUÇÕES BURGUESAS E A EDUCAÇÃO


gradativamente, a dominação econômico-social e político-
cultural da burguesia. Em suma, com o puritanismo as Como se disse anteriormente, a emergência
bênçãos de Deus recaem sobre os seus, nesta vida, sob a da Revolução Francesa, coloca em destaque o
forma de sucesso material. pensamento pedagógico de Rousseau e põe em marcha,
No Brasil, nação de formação ibérica, o domínio da no continente europeu, a Visão Liberal de Educação,
igreja católica, amorteceu, ao contrário, o surgimento do orientação que engloba:
“espírito capitalista” moderno, ao reforçar uma estrutura
econômica rural centrada na dominação patriarcal, a) a vertente religiosa proveniente da Pedagogia
conservadora. Por outro lado, a dominação patriarcal da Reforma (com Lutero, Calvino, Zwinglio, Melanchton,
favoreceu diretamente a emergência de uma educação Comenius etc) e
aristocrática articulada à exploração da escravatura como b) a vertente laica “escolanovista”e seus
meio de produção e riqueza para poucos. No ambiente desdobramentos a partir dos meados do século XIX, em
desigual da Colônia, o iletrado, como o escravo, tratado contraposição à Pedagogia Tradicional.
c) a vertente positiva de orientação materialista
como coisa, não tinha condições de aspirar ao domínio
que, indiretamente, tratou da Educação, como no caso de
da cultura e do conhecimento. Os filhos dos senhores de
Comte e outros.
engenho na Colônia e posteriormente os dos comerciantes
d) a vertente empirista de orientação inglesa
bem sucedidos e da aristocracia rural cafeeira eram
cuja origem remota está em Bacon e Locke e que, no
educados no exterior principalmente na Universidade de início do século XX, chega pelo pragmatismo de Dewey,
Coimbra, em Portugal. Nosso atraso, em grande parte, aos educadores brasileiros como Anísio S. Teixeira e
ocorreu em decorrência da pouca ressonância, no Brasil, Darcy Ribeiro.
dos ideais da Revolução Francesa.
A vinda da Família Real portuguesa, em 1808, A Pedagogia Tradicional, de longo passado
transferindo a administração real lusitana para a Colônia, histórico, envolve:
reforçou o modelo centralizador português que
privilegiou, por razões pragmáticas, a Educação Superior a) a vertente religiosa, identificada com a
em terras brasileiras, formadora futura de recursos Pedagogia Católica, compreenderá a tradição escolástica
humanos para coroa portuguesa. Com bem viu Caio de orientação tomista, a educação jesuítica originária
Prado Júnior (1957), D. João VI dotou o novel Reino da Contra-Reforma e as demais iniciativas da igreja no
Unido a Portugal e Algarves de uma supraestrutura âmbito da educação. Educação centrada em conteúdos,
jurídica, educacional e cultural importante em paralelo às ensino com forte apelo disciplinar, rigor intelectual e
medidas de ordem econômica, infra-estruturais, como a submissão às verdades eternas de caráter religioso.
abertura dos portos às nações amigas, a criação do Banco b) a vertente laica voltada para a formação
do Brasil, liberação de importações (principalmente de militar, médica, agronômica, etc em academias ou
produtos ingleses), criação da Casa da Moeda etc. Como instituições escolares específicas, de caráter superior
se pode depreender dos fatos conhecidos, a invasão profissionalizante que lhe confere positividade e relativa
de Portugal pelas tropas de Junot, general de Napoleão independência em relação aos valores religiosos e
Bonaparte, trouxe, indiretamente para o Brasil, benefícios c) a vertente tecnicista, mais recente, influenciada
institucionais e culturais sem, contudo, como era de pelas idéias de programação da área administrativa
e, no ensino, por meio da “instrução programada” de
esperar, propagar os ideais da Revolução contra os quais
origem skinneriana. Ampliou seu raio de ação no campo
se opunha a real coroa portuguesa, aliada da Inglaterra,
educativo com o desenvolvimento espetacular dos
contra o expansionismo do Imperador francês. Muito
multimeios (a partir do rádio e do cinema) para chegar,
tardiamente os ideais da Revolução Francesa chegaram
atualmente, nas multimídias eletrônicas com formas,
a ter ressonância no império brasileiro centralizador e cada vez mais amplas, de comunicação a distância,
conservador. A Instrução Pública Primária, reconhecida com o uso de videoconferências, teleconferências e
como necessária, tomou alento após a Independência educação a distância.
mediante a Lei de 15 de outubro de 1827. Contudo, com
a aprovação do Ato Adicional à Constituição de 1824, em Tanto a Pedagogia Liberal como a Tradicional são
1834, a descentralização proposta pela Corte redundou pedagogias conservadoras na medida que não concebem
em verdadeiro “presente de grego” para as Províncias a Educação como prática social com poder transformador
que, sem recursos para implementar a instrução primária, das estruturas sociais geradoras das diferenças sociais,
receberam a delegação de poder, como castigo. Não como a exclusão, a miséria, a injustiça social e a
seria surpresa, portanto, que o Império tivesse legado à sonegação de direitos sociais. Ambas têm uma visão
República, uma nação de iletrados. funcionalista dos problemas sociais os quais poderão ser
resolvidos pela ação de programas e reformas pontuais

84 Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI - (1): Janeiro/Dezembro - 2012


A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

desencadeados por especialistas sociais. mediador da Educação na formação do cidadão necessário


para a nova ordem político-social. A ideologia se torna
A Educação Contemporânea nascerá da conjunção inseparável do projeto pedagógico da nova sociedade.
dessas duas orientações conservadoras acontecidas A Educação é vista como salvadora ou redentora da
no continente europeu, articuladas com os reflexos da humanidade para o espírito republicano que se constituía
educação insular ocorrida na Inglaterra sob a influência como força hegemônica. A Europa, tanto continental
de Bacon, Locke e da Revolução Industrial. como insular, domina política e culturalmente o mundo
disseminando a sua versão política, burocrática de Estado
O SENTIDO SÓCIO-POLÍTICO, SÓCIO-ECONÔMICO E (napoleônico) e a versão manufatureira, liberal, industrial
SÓCIO-EDUCACIONAL DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL e econômica do empreendimento industrial privado de
orientação inglesa capitalista.
A Revolução Industrial, acontecida na ilha (isto A dominação política se articula à dominação
é, na Grã-Bretanha) tem a lhe anteceder no terreno da econômica tendo a Educação como mediação para a
Educação o pensamento de Locke, o seu expoente maior, a formação do cidadão consciente dos direitos e deveres
impulsionar uma Visão Empirista de Educação, também e ente livre e empreendedor capaz de gerar riquezas ao
de cunho liberal, mas inseparável, segundo Deleuze invadir o mundo para colonizá-lo. Não é de espantar que,
(1967), de uma visão de ensino e aprendizagem centrada no século XIX a Inglaterra e alguns Estados europeus
no conceito de experiência que privilegia a dimensão tomassem territórios alheios, na África e Ásia, movidos
subjetiva, psicológica na ação pedagógica. A orientação por “nobres intuitos civilizadores”, com a criação de
empirista será absorvida, posteriormente, pelo Utilitarismo impérios ultramarinos só desfeitos, em sua maioria, após
e pela Escola Nova na sua orientação pragmática norte- a Grande Guerra de 1939-45 ao cederem espaço ao
americana, principalmente com Dewey. expansionismo imperialista norte-americano.
. Mas, como se sabe, a dominação político-
A Revolução Industrial gerou, no seu interior, a econômica é sempre acompanhada da dominação ou
contradição, a classe operária, que, aos poucos, ganhou invasão cultural, de caráter ideológico, que reflete,
força política passando a exigir direitos, consubstanciados como diria Durkheim, “modos de pensar, agir e sentir”.
em bens sociais como a educação primária pública, Assim, o avanço das forças produtivas significará, no
caixas previdenciárias, redução de horas de serviço para limite, o desenvolvimento da força de trabalho mediante
homens, mulheres e crianças e outros benefícios. Assim, a formação “intelectual e moral” de um novo ser social,
a educação primária popular adquire a dimensão de o cidadão, síntese dinâmica de ser produtivo e ser
direito e bem social. instruído, livre para vender a sua força de trabalho, um
Locke é o teórico do liberalismo clássico, o ser cívico, capaz de construir e defender a nação.
defensor da propriedade privada, legitimada pelo A Revolução Francesa e a Revolução Industrial
trabalho, guardião dos direitos individuais e da liberdade criam “um novo ser social”, resultado de novas
de iniciativa dos agentes sociais. Rousseau é o teórico relações sociais, que nega os valores da aristocracia e
da liberdade, do naturalismo pedagógico, da educação reafirma novos valores para um novo tempo. Taylor quer
negativa e do contrato social como instrumento de trabalhadores capazes de execução rigorosa do trabalho
regulação da vida social. Ambos entendem que ao planejado pela direção do empreendimento industrial.
Estado cabe a responsabilidade de tarefas inalienáveis Taylor quer obediência e eficiência. Fayol quer uma
que a sociedade civil, através da iniciativa particular não administração racional que leve o empreendimento a
poderá exercê-las substantivamente porque universais, atingir os objetivos estabelecidos previamente. Henry
isto é, para todos. Ambos percebem que a vida coletiva Ford quer um trabalhador casado, com vida regrada,
pressupõe o domínio de uma cultura básica comum sem problemas existenciais profundos, sem problemas
indispensável para o progresso social. A Educação será, de moradia, que receba salário adequado para que a
sem dúvida, a prática social acionada para a construção produção não sofra descontinuidade. Gramsci percebeu,
da sociedade burguesa centrada no individualismo, na muito bem, que o “fordismo” criara um novo modo de
liberdade, na igualdade de oportunidades, na família, na vida dentro da sociedade norte-americana.
propriedade privada, no contrato social e no trabalho, Todos se alinham à premissa de Taylor: “a
considerado este a fonte de todo valor, ideia esta administração científica” deverá dar ao empresário o
geradora da teoria do valor elaborada, posteriormente, que ele mais quer, o lucro, e ao trabalhador o que ele
por Ricardo, economista inglês prestigiado por Marx. mais deseja, altos salários. Fica descartada, portanto, a
Pode-se dizer que a revolução política (francesa) e a necessidade de mudar as estruturas sociais. O importante
revolução industrial (inglesa) se articulam em função será evitar o desperdício e investir no treinamento
do projeto burguês de sociedade que nasce em meados dos trabalhadores a fim de que eles sejam capazes de
do século XIX. execução rigorosa das tarefas previamente determinadas
Rousseau e Locke são construtores da ordem pelos superiores. A educação será instrumental, meio de
liberal burguesa ao perceberem, claramente, o caráter preparar o operário para a vida produtiva, sem questionar

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 85


José Misael Ferreira do Vale

a ordem social vigente. elevaria a classe operária acima das classes superiores
A Educação é, nesta perspectiva, fator de e médias. Assumindo a realidade irreversível da
produção. É preciso contar, para serviços industriais industrialização, o marxismo admitirá a incorporação de
mais especializados, com trabalhadores que tenham crianças e adolescentes de ambos os sexos na força de
um mínimo de escolaridade em termos de cultura geral produção, desde que isso acontecesse de modo adequado
(matemática, língua materna, língua estrangeira em países às forças infantis. Marx admitirá que a criança, a partir dos
dependentes, ciências e tecnologia, etc) que permita nove anos, deverá participar do trabalho produtivo como
“treinamento em serviço” para atender a especificidade maneira de articular efetivamente o trabalho cerebral ao
da indústria empregadora. trabalho manual. Citando Robert Owen, Marx dirá, em
Nos países socialistas, após a Revolução de O Capital, que do sistema da fábrica nascerá o germe da
Outubro de 1917, surge aquilo que se poderia chamar instrução do futuro,
de a Pedagogia Social do Trabalho. Lênin tem plena
consciência de que o novo Estado Socialista necessita “que unirá para todas as crianças além de uma
de profissionais qualificados que só a Educação pode certa idade o trabalho produtivo com a instrução
formar. Uma sociedade socialista não poderá prescindir e a ginástica, não somente como método para
de engenheiros, médicos, cientistas, professores, aumentar a produção social, mas também como
tecnólogos além de trabalhadores em todos os setores único método para formar homens plenamente
da vida social. Ele conhece a importância da formação desenvolvidos.” (O Capital, I, XIII, 451)
superior profissionalizante ocidental, que deverá ser
orientada, porém, em função de nova axiologia. A Desenvolver o intelecto e as mãos, a união da
racionalidade “taylorista” não será descartada, mas posta instrução intelectual com o trabalho industrial, com o
em função de um projeto político, com sinal trocado, objetivo de formar o homem omnilateral ou multilateral,
para criar uma base industrial que permita tirar a Rússia coloca Marx em oposição a Rousseau, porque o mundo
e seus aliados do atraso secular e socializar os benefícios moderno exige uma pedagogia severa oposta a “toda
advindos da produção coletiva. Os meios devem estar reminiscência romântica anti-industrial” e a recusa
subordinados ao fim maior, a criação de uma sociedade determinada de toda Didática baseada no jogo e em
igualitária que jamais poderia dispensar a indústria, a atividades centradas exclusivamente no interesse da
ciência e a tecnologia, o conhecimento, os profissionais criança. Assim, a Pedagogia Social do Trabalho, em
qualificados e a escola, todos direcionados no sentido oposição à Educação negativa de Rousseau, exigirá,
da construção de uma sociedade voltada para a justiça desde cedo uma educação austera como forma de
social e o trabalho não-alienado. Infelizmente para enfrentar as graves tarefas que esperam os homens na
muitos e felizmente para outros, a morte prematura de luta solidária para o domínio comum da natureza. Como
Lênin abortou a oportunidade de se levar a cabo uma se vê a Educação socialista estará calcada no esforço,
experiência social inovadora dentro de uma perspectiva no empenho e no rigor da ação. Rejeitará, neste ponto,
verdadeiramente socialista. os métodos pedagógicos fundamentados na Psicologia
No terreno da Educação a construção de uma Infantil propostos pela Escola Nova que reforçam a visão
sociedade socialista exigia uma Pedagogia Socialista individual do processo de aprendizagem. Daí, a orientação
diretiva, centrada no saber científico e tecnológico e posterior da Educação soviética em evidenciar que
no trabalho como princípio educativo. Krupskaya, toda aprendizagem é antes de tudo uma aprendizagem
Makarenko, Pistrak, dentre outros, eram pedagogos social mediada pela linguagem, resultado, portanto, de
interessados na organização de um sistema escolar que “relações sociais” que não poderão ser esquecidas ou
deveria ter como objetivo a formação integral de relegadas a plano subordinado. Leontiev, Luria e Vigotski
jovens, centrada: serão psicólogos que darão fundamento psicossocial à
ação pedagógica evidenciando o caráter social de todo e
a) no trabalho, considerado a realidade ontológica do qualquer saber humano.
ser social e
A Escola Nova que surgiria, na Europa, em
b) na instrução científica, instrumento para a criação meados do século XIX, como reação ao pensamento
de uma nova sociedade. e prática da Escola Tradicional, centrou atenção no
processo de aprendizagem e na pesquisa de métodos
É interessante observar que os novos pedagogos ativos que enfatizavam a construção do conhecimento
do leste europeu não desprezaram, de início, a tradição pelo sujeito. Centrada numa visão “pedocêntrica”, isto
pedagógica ocidental, “escolanovista”, tanto européia é, num entendimento que a verdadeira Educação deve
como norte-americana, no plano dos métodos escolares. colocar a criança no centro da ação pedagógica, elegeu a
Não abandonaram, entretanto, a orientação básica de Marx Psicologia como base da prática educativa, como ciência
de “união entre trabalho produtivo remunerado, instrução que permitiria conhecer a criança na sua especificidade
intelectual, exercício físico e treinamento politécnico” que e no seu desenvolvimento. A Escola Nova é, como já

86 Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI - (1): Janeiro/Dezembro - 2012


A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

se disse, caudatária da idéias de Rousseau em relação à necessários à formação contemporânea. Com isso, corre-
importância que confere à infância. É preciso conhecer se o risco de se “fazer uma escola pobre para o pobre”,
e compreender a criança na sua especificidade natural enquanto a elite investe numa educação voltada para
para melhor educá-la em oposição consciente à teoria do o conteúdo, sistematizada, avançada, centrada na idéia
homúnculo. Kant, leitor de Rousseau, dirá que o filósofo de apropriação particular dos diferentes instrumentos
genebrino realizara a “revolução copernicana”, passando simbólicos criados pela inteligência humana.
a criança, doravante, a ser o alvo da boa Educação. A Pedagogia Social do Trabalho irá, em
Com a Escola Nova, a Pedagogia perde, em grande contraposição à Escola Nova, valorizar o conteúdo
parte a sua qualidade de ciência social com especificidade como elemento de luta, mas jamais cairá na perspectiva
própria. A Didática passa a ter uma fundamentação da Escola Tradicional de tomar “o conhecimento pelo
psicológica empirista e naturalista. Claparède e Piaget conhecimento”, “o conteúdo pelo conteúdo”, separado
tornam-se referências e outros profissionais não ligados do contexto, um saber separado da teleologia, isto é, da
diretamente à Educação, como Montessori e Decroly, finalidade (social) dos conteúdos.
propõem métodos pedagógicos baseados numa visão A Educação soviética, no seu início, não desprezou
psicológica do aluno como se a aprendizagem não fosse a pedagogia burguesa. Decroly e Dewey foram estudados
um dado ontológico ao ser social humano, fruto de e aplicados, assim como Taylor foi utilizado, de início, no
“relações sociais”, fato este que os psicólogos soviéticos processo de industrialização soviético. Mas uns e outros
jamais deixaram de considerar no plano da relação não foram analisados e implementados numa perspectiva
ensino e aprendizagem. Vale observar, entretanto, que do individualismo burguês. Serviram com ponto de
grandes educadores, precursores da Escola Nova, embora partida para a elaboração posterior de uma pedagogia
colocassem a Psicologia no centro do processo educativo, que foi tomando forma com o estudo dos textos de Marx
como é o caso de Pestalozzi, que elege a intuição como e Engels sobre Educação. Aos estudos voltados para o
método de aprendizagem, têm o cuidado de considerar trabalho didático em sala de aula, a Pedagogia Social
a Educação como prática social, isto é, como formação do Trabalho iniciou, também, uma reflexão crítica sobre
do cidadão, como estratégia social para reabilitar os os condicionamentos da Educação. Neste sentido os
deserdados ou acolher os pobres expropriados dos estudos, por exemplo, de Snyders diferem dos estudos de
direitos e dos bens sociais. A Educação tem um fim Manacorda. Snyders (1989) procura refletir criticamente
eminentemente social e as aprendizagens de conteúdos sobre uma possível pedagogia progressista que tenha
são meios para integrar as pessoas a uma cultura mínima como pressuposto a importância política dos conteúdos
que lhes permita compreender a vida em sociedade. historicamente elaborados e dê guarida a uma pedagogia
Com Decroly começa, no interior da Escola Nova, centrada no conhecimento científico-tecnológico. Ao
a secundarização do conteúdo em relação à forma analisar a educação como prática social Snyders utiliza-
(método). A técnica do “centro de interesse” marca o se de categorias como quantidade e qualidade,
viés psicológico que rompe com o currículo tradicional continuidade e ruptura, conteúdo e forma para
linear por disciplinas autônomas. Não interessa a evidenciar a importância de se pensar por contradição e
profundidade do conhecimento, mas o relacionamento não apenas a contradição. Por outro lado, Snyders mostra
de múltiplos saberes, numa perspectiva globalizadora. como o domínio do conhecimento, do saber acumulado,
Perde-se, portanto, a idéia de conhecimento sistemático, é importante para entender a relação dominador-
estruturado, organizado e logicamente articulado. Paulo dominado. O saber dominado pelo dominador precisa
Freire e Freinet, o primeiro com adultos analfabetos e ser apropriado pelo dominado para que subalternos
o segundo com crianças pobres, proporão, no caso do entendam a cultura do dominador e a revolucionem.
primeiro, uma Pedagogia Libertadora e uma Didática Desta forma, o conteúdo adquire dimensão política além
Dialógica que permita ao adulto a “aprender e apreender de seu valor gnosiológico e pedagógico.
o conhecimento” e, o segundo, a fazer da “tentativa Manacorda analisa a prática pedagógica numa
experimental” a base do método natural que permitiria perspectiva interna ao processo de escolarização que
a criança, com o mestre orientador, escolher livremente acontece num determinado espaço específico, o ambiente
os conteúdos que deveria aprender. Nos dois casos, a escolar. Evidencia como as práticas pedagógicas se
idéia de currículo previamente estabelecido em função alteraram em função do desenvolvimento histórico do
de conteúdos essenciais, perde sentido. Ambos propõem trabalho humano tomado como princípio educativo.
uma Pedagogia Transformadora, mas não defendem a São abordagens diferentes que abordam o fenômeno
necessidade de sistematização do conhecimento relevante educativo: a) numa perspectiva dialética da realidade
e apropriação da “cultura historicamente acumulada” interna à prática educativa (é o caso de Manacorda) e
como elementos essenciais à libertação política. Ambos, b) numa perspectiva dialética que privilegia a reflexão
ancorados no princípio de liberdade e autonomia do pedagógica numa dimensão externa, política, do
sujeito que aprende, fazem, como diz Saviani (1992) fenômeno educativo ao comparar a orientação diretiva de
uma “escola nova popular” sujeita, na prática, à não- educação (de cunho socialista) à orientação não-diretiva
sistematização dos conteúdos científicos, estes tão de educação, de cunho liberal, “escolanovista”(é o caso

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 87


José Misael Ferreira do Vale

de Snyders). Em suma, temos análises diferentes políticos comandarão o comportamento da juventude e a


que se completam formando um todo, uma síntese lealdade ao condutor (ou ao líder) será valor determinante
compreensiva de considerações que explicam a dentro da nova ordem. A Educação totalitária será
riqueza da relação teoria-prática no âmbito da rigorosa em termos morais. Theodor Adorno, em famoso
Educação Escolar. artigo, permite-nos deduzir de seu escrito o fato de que
Da tradição marxista, permanece, até nossos dias, quem é duro para consigo mesmo será duro para com
a proposta de um novo princípio educativo, que articula os outros. O condutor tem o projeto na cabeça e não
a atividade intelectual à atividade manual através do arredará pé em termos de sua realização. Todos deverão
trabalho. A “escola única”, obrigatória para todos até compartilhar do grande projeto de nação. A educação
aos 14 anos, fugiria do “espontaneísmo pedagógico” como prática social fundamental será o braço direito do
e do puramente lúdico para caminhar no sentido do estado nacional-socialista. A educação baseada no rigor
“empenho” e do “esforço” do estudante. O estudo não excessivo gera o risco da desumanização. E a Segunda
se reduz a uma brincadeira. Exige dedicação. Em suma, Grande Guerra foi o máximo de desumanização possível.
a educação, nessa perspectiva, deveria fazer de cada A partir dela não se fará mais a distinção entre o militar
indivíduo um “intelectual orgânico” de modo que cada e o civil. Bombardeiam-se as cidades para aniquilá-las
pessoa cidadã pudesse ter uma formação crítica que o por inteiro. A Ética, pós 1945, será a ética da retaliação,
habilitasse ser, ao mesmo tempo, um “governante” e um tão antiga, e que perdura até nossos dias. Mas tudo o
“governado” conforme a circunstância, capaz de exercer que ultrapassa o limite do bom senso se transforma em
a cidadania plena. negação do que se pretende afirmar. A autoridade sem
limite se transforma em autoritarismo, a democracia em
Bem diferente da educação socialista, a proposta democratismo, a moral em moralismo, a liberdade em
de educação nazi-fascista, marcou um momento do libertinagem e assim por diante.
século XX. Com o nazismo e o fascismo a educação O filósofo adverte que o esforço educativo do
atingiu, certamente, a sua força máxima em termos de Ocidente, após a Segunda Grande Guerra, deveria caminhar
formação política e ação social. Os filmes recuperados no sentido de se evitar um novo Auschwitz, lembrança do
sobre a Segunda Grande Guerra demonstram de modo extermínio de 6 milhões de judeus e do sacrifício do povo
alarmante como a educação da juventude foi acionada, russo, calculado grosso modo, em mais de 20 milhões de
a par da propaganda do partido para dar corpo ao mortes em decorrência da invasão alemã ao território russo.
projeto, tanto nazista como fascista. Ao Estado caberia O fundamental para Adorno será pensar a educação como
ditar os rumos da educação segundo o lema “Nada fora processo de emancipação do ser humano, ser consciente,
do Estado, tudo dentro do Estado, tudo pelo Estado”. O livre da opressão e da alienação e voltado essencialmente
indivíduo nada seria, sem o Estado. Antes do indivíduo, para a paz. Tarefa enorme para uma sociedade que, nos
o Estado. É o Estado que determina a importância do nossos dias, perdeu a noção dos valores fundamentais e
indivíduo e não o contrário. Nesse sentido, o Estado se sente desorientada diante do processo de fragmentação
“todo-poderoso” passa a ser um “organismo” compacto, e exagerada especialização do conhecimento, incapaz de
ideologicamente orientado, rigidamente estruturado, forjar uma narrativa global para o ser humano, uma narrativa
policialesco, militarizado e refratário à democracia que articule o conhecimento e a justiça social num espaço
representativa, liberal, nos moldes da tradição ocidental. solidário. Nesse sentido, como bem lembra Hobsbawn,
A Educação não se organiza apenas na escola, mas em os socialistas estão presentes em toda parte para lembrar
associações infantis e juvenis com sistema rígido de ao mundo que em primeiro lugar vêm as pessoas e não a
disciplina tendo por objetivo exaltar a nação e o partido produção. É sempre bom lembrar que a humanidade não
colocando-os acima de qualquer realidade. Os discursos poderá ser sacrificada em nome da mercadoria.
políticos são sempre discursos à nação ou ao povo e não
aos indivíduos isolados. O coletivo como realidade maior Por último, na América do Norte, o pragmatismo
reduz o individual à quantidade. A Educação popular aparece como força filosófica e pedagógica importante
será a educação de massa, voltada para a criação de um no século XX. Dewey é, certamente, o grande nome
povo forte e sadio, consciente de sua missão no mundo. do pensamento norte-americano que articula a reflexão
Na forma mais radical, a educação nazista seguirá o lema filosófica à prática pedagógica. O naturalismo
“solo e sangue”, com trágicas consequências históricas, a experimental de Dewey valoriza a experiência. Dentro
começar pela conhecida invasão “relâmpago” de países de sua metafísica empírica o filósofo norte-americano
como a Polônia. A noção de “espaço vital” justificou irá conceber a experiência indicativa como valiosa para
a invasão militar de enormes áreas sob o pretexto de a filosofia porque evidencia que, em última análise,
apropriação de matéria prima para o estado alemão. dependemos do método da indicação ou assinalação.
O exercício físico terá papel relevante nos regimes Em suma, há em Dewey uma teoria da realidade que não
fortes voltados para a politização da educação. A raça depende de preferências pessoais, nem temperamentais
dominante será a raça forte. A ideologia do mais forte do pensador ou da sociedade. A realidade é aquilo
será caminho para a eugenia. Os princípios morais e que se apresenta denotativamente, matéria, movimento

88 Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI - (1): Janeiro/Dezembro - 2012


A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

e “aspectos de nossa experiência como a devoção, e ao capital internacional. O espírito republicano é


a piedade, o amor, a beleza e o mistério”. Essas negado justamente por aqueles que deveriam zelar pela
experiências humanas, uma vez experimentadas, sua observância. Basta entrar numa repartição pública
devem ser consideradas tão precisas e reais como e deparar com símbolos religiosos no alto da parede a
qualquer experiência relativa às coisas materiais. nos lembrar que o estado laico não se realiza,de fato, em
No plano da educação, Dewey argumenta que a terras brasileiras. Pior, ainda, quando a própria justiça
experiência educativa é uma experiência inteligente que brasileira não cumpre a Constituição e permite no seu
envolve o pensamento e permite que o sujeito cognoscente interior a manifestação simbólica de uma religião em
perceba relações e continuidades antes não percebidas. detrimento de outras, ao arrepio do princípio da laicidade
Educar-se, na perspectiva de Dewey, significa crescer, do estado brasileiro.
não no sentido fisiológico, mas em sentido espiritual
de enriquecimento constante da experiência. Daí O QUE PERMANECE EM ABERTO
ser possível definir, com Dewey, a Educação como “o
processo de reconstrução e reorganização da experiência” Bogdan Suchodolski (1978) em A Pedagogia e as
que possibilitará, num processo contínuo, progressivo, Grandes Correntes Filosóficas mostra que a Educação
comandar o curso das experiências futuras. Em oposição Contemporânea vive uma aporia: há tendências da
à Pedagogia centrada unicamente no esforço, Dewey, educação que colocam como objetivo a satisfação
como adepto da Escola Nova, mostrará a importância das necessidades do indivíduo, indo no sentido do
do interesse na educação do aluno e a possibilidade naturalismo pedagógico característico das Pedagogias
de integração do interesse e esforço em função de uma da Existência como no caso da Escola Nova. Outras
atividade unificada vital. Educação para Dewey não é tendências estabelecem valores universais e permanentes
preparação para a vida, nem conformidade com a vida. como fim de sua ação pedagógica, indo no sentido do
Educação é vida, e viver é desenvolver-se, é crescer. Vida idealismo pedagógico característico das Pedagogias da
e crescimento não estão subordinados a nenhuma outra Essência, como no caso da Escola Tradicional de base
finalidade, salvo mais vida e mais crescimento. Assim, o religiosa. Num caso, como no outro, estabelece-se uma
processo educativo não tendo nenhum fim além de si contradição entre duas posições, pois não há possibilidade
mesmo, passa a ser o processo contínuo de organização, de passagem da pedagogia da existência para o “mundo
reconstrução e transformação da experiência vital. ideal” dos valores, da mesma forma que não há caminho
No Brasil, o pensamento de Dewey foi difundido aberto que permita o trânsito da pedagogia da essência,
pelo seu discípulo Anísio Spinola Teixeira, um”clássico ligada a valores eternos e imutáveis, à vida individual.
da educação brasileira” e difusor da Escola Nova. Como diz Suchodolski:
A Escola Nova, através da vertente laica, a
partir do “Manifesto dos Pioneiros” se opôs política e “A crítica existencialista às duas visões de educação
ideologicamente à vertente religiosa na sua expressão é justa: nenhuma delas concebe o homem concreto
católica. Liberais e Católicos dominaram todo o panorama e vivo, um homem “em carne e osso”, pertencendo
educacional do Brasil republicano chegando essa disputa a um lugar definido e a uma época determinada
até nossos dias. Mas numa análise objetiva não se poderia da história. Uma reduz o homem às proporções de
deixar de registrar que, em termos de Brasil ___ como receptáculo e veículo de valores culturais, a outra
afirma Jayme Abreu __ a História da Educação pátria concebe-o como uma experiência contemplativa
demonstra que, desde a Colônia, a ou uma emoção mística. Em ambos os casos, a
educação incidia num domínio limitado da vida
“nossa educação é, quase totalmente, uma história humana e não tinha qualquer relação nem com
da educação confessional católica e não conseguiu atividade real, social e profissional do homem, nem
ganhar maior consolidação, no tempo, o ímpeto mesmo com a totalidade da sua vida individual.
republicano, essencialista secular em educação como Esta pedagogia preocupava-se unicamente com o
corpo de doutrina, mesmo da escola pública, o qual que constitui uma espécie de “luxo” intelectual ou
vem sendo gradativamente anulado” (1968: 40). espiritual. Unir educação e vida de modo que não
seja necessário um ideal__ ou definir um ideal tal
Seria interessante observar, entretanto, que o que a vida real não seja necessária ___, eis os dois
desenvolvimento e organização da escola pública no extremos do pensamento pedagógico da nossa
Brasil é obra da República com bem escreve Vanilda época .”(1978: 113)
Paiva (1989). Contudo, é bom dizer, também, que o
projeto laico republicano vem sendo gradativamente Na época contemporânea houve esforços para
solapado pela infiltração das confissões religiosas e dos vencer a contradição entre a visão individualista
organismos financeiros internacionais no sistema escolar da Pedagogia da Existência (Pedagogia Liberal
e, mais diretamente, nas escolas públicas do país. Em “escolanovista”) e a visão universalista da Pedagogia da
ambos os casos, a nação brasileira se rende à religião Essência (Pedagogia Tradicional religiosa). Foi o caso__

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 89


José Misael Ferreira do Vale

diz Suchodolski__ humano como dizem os filósofos da práxis. É preciso


entender, com Suchodolski, que
“de correntes nacionalistas de diversos países
e mais tarde com o fascismo e o nazismo. “a realidade presente não é a única realidade e
Conquistaram adeptos mais pela sua crítica às que, por conseguinte, não é o único critério de
concepções individualistas e universalistas do que educação. O verdadeiro critério é a realidade
devido a proposições positivas. Muitos pedagogos futura. A necessidade histórica e a realização de
recusaram-se a aceitar o programa educativo nosso ideal coincidem na determinação desta
fascista e hitleriano; todavia a crítica ao naturalismo realidade futura. (...) O fetichismo do presente,
pedagógico e à pedagogia universalista pareceu que não tolera a crítica da realidade existente e
convincente a vastas camadas de educadores. que, por esse motivo, reduz a atividade pedagógica
Era precisamente este fato que dava uma força ao conformismo, é destruído pela educação
perigosa a estas tendências que pretendiam direcionada para o futuro.” (1978:118-9)
unir a pedagogia da existência à pedagogia da
essência. Beneficiaram da insatisfação provocada Uma Pedagogia voltada para o futuro comportará,
pela ausência de qualquer direção na pedagogia certamente, um olhar prospectivo a partir da realidade
da existência, devido às suas tendências presente, um programa-de-ação no presente, marcado
superficiais e naturalistas, e tiravam proveito do pela transformação da realidade social de acordo com as
descontentamento suscitado pela pedagogia exigências humanas. O programa-de- ação, na medida
da essência, devido ao seu caráter abstrato e que se apresenta como possibilidade ainda não realizada,
metafísico, separado das realidades.” (1978: 114-5) permitirá a crítica do presente e balizará a caminhada no
sentido de tornar o ideal em realidade existencial efetiva.
O pensador polonês entendia que, nas condições Se quisermos educar a juventude como artífices de um
burguesas, postas pelo capitalismo, seria impossível mundo humano será necessário mostrar que um mundo
conseguir uma síntese das Pedagogias da Existência e da melhor somente tomará forma se os jovens quiserem que
Essência. Quando se tenta tal projeto o aspecto interessante o mundo se transforme num mundo melhor. O futuro
da Pedagogia da Existência (como o desenvolvimento melhor será, portanto, resultado do trabalho presente
livre do indivíduo criador) se anula diante das condições pensado em função da totalidade do ser humano no
sociais adversas geradas pela sociedade capitalista. De futuro. A radicalidade está em pensar um mundo futuro
igual modo, o aspecto interessante da Pedagogia da que assegure para todos a qualidade de vida social,
Essência (como a realização de uma educação baseada natural e material compatível com a dignidade do ser
em valores universais e permanentes) será negado humano. Para tanto, será preciso cuidar da formação
pela prática social burguesa que privilegia o particular, da juventude como prioridade. Mas o cerne da questão
o terreno, mediante a desvalorização dos aspectos se resume na questão da travessia. Como superar o
universais da realidade humana. momento histórico atual, essencialmente desigual,
A Pedagogia, na perspectiva de Suchodolski fragmentado, excludente, centrado no mercado e na
deveria ser simultaneamente pedagogia da existência mercadoria, voltado para o lucro, preocupado com a
e da essência, mas esta síntese exige certas condições eficiência e a competência, neoliberal na sua essência,
que a sociedade burguesa não preenche no momento seletivo, quando multidões jazem à margem da história?
histórico. Para que a síntese se realize, como concreto, Não há como tirar da cartola, num passe de mágica,
será necessário que se elevassem, para todos, as a solução para tão complexo problema. É possível sim
condições da vida quotidiana além do nível atual. Seria indicar algumas medidas para a longa travessia (a exigir
preciso, também, ficar atento para que o ideal não superação da injustiça social) de um sistema hegemônico
sancione conservadoramente a vida atual, nem os valores que parece impenetrável à mudança. Eis algumas
postos como essenciais sejam estranhos à vida humana sugestões para um programa-de-ação voltado para a
individual e coletiva. tentativa de transformação inicial da “realidade rebelde”
Na trilha proposta pelo pedagogo polonês que nos desafia incessantemente:
entendemos que a Educação Contemporânea terá que
caminhar no sentido de pensar uma Pedagogia que 1) valorização material e espiritual da escola pública
procure criar para o ser humano as condições encarregada da formação intelectual e moral da juventude.
matérias e espirituais de uma existência rica e É preciso ter em mente que a escola pública estatal é,
plena, omnilateral, que torne fonte e matéria-prima atualmente, o único espaço possível de cultura inicial
de sua essência. Nesta perspectiva não há como aceitar para milhões de filhos das camadas populares. Evitar por
as desigualdades sociais que jogam contra a plena todos os meios de se fazer uma escola pobre para o pobre.
realização do ser humano na história. Daí , também, Aceitá-la significa aumentar as distâncias sociais Não basta
a necessidade de o Educador partir da prática social atender a quantidade (as camadas populares). É preciso
presente e propor um projeto futuro à medida do ser atendê-las com qualidade e qualidade de tal modo que

90 Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI - (1): Janeiro/Dezembro - 2012


A Educação Contemporânea: esboço de interpretação

qualquer pessoa da sociedade possa freqüentá-la. Mas da desigualdade social. Uma educação científica e
atender a toda sociedade, inclusive as camadas populares, tecnológica ( que não exclui, jamais, a subjetividade
com qualidade, diz respeito, diretamente, à qualidade de humana) será importante para levar o esclarecimento, a
formação do professor. Sem formação inicial de qualidade racionalidade e a objetividade indispensáveis à resolução
para o professor não acontecerá a educação popular de dos problemas humanos;
qualidade no âmbito da escola pública estatal. Investir na
qualidade da formação do professor significa, no limite, 4) valorização do meio ambiente, em termos
investir na formação intelectual e moral dos alunos. Em planetários, a começar pela educação ambiental e pelo
relação aos pontos acima indicados não poderá haver envolvimento das universidades, institutos de pesquisa e
complacência ou acomodação. A radicalidade na a sociedade na questão da sustentabilidade em relação
exigência de qualidade na formação docente significará à natureza que se degrada com a ação impensada do ser
tornar possível uma Educação voltada para o futuro que humano, afoito para produzir, a qualquer preço, segundo
resgate a possibilidade de criar um coletivo instruído e a lógica capitalista de desenvolvimento. Será preciso
educado capaz de dar um salto qualitativo na História; educar as novas gerações na direção de estabelecer
relações adequadas com a natureza com a preocupação
2) valorização do processo de leitura e escrita ética de deixar um mundo tão bom ou melhor do que
como ponto inicial indispensável, numa sociedade aquele que encontramos ao nascer. É preciso ter em
“grafocêntrica”, para a apropriação da cultura mente que não se trata de transformar a natureza em
historicamente elaborada pela humanidade ao longo da santuário, uma vez que a existência humana é inseparável
temporalidade. Não será possível mudar um mundo com da relação dialética com a natureza. Não há como o ser
um povo analfabeto e inculto. No processo de formação humano sobreviver sem recorrer à natureza para gerar
humana é necessário que todos tomem conhecimento da meios de subsistência para si e para os outros. A questão
experiência humana acumulada em livros, documentos é identificar as formas de relação entre o ser humano e a
e registros que resistiram ao tempo e que constituem natureza que privatizam os recursos e os bens naturais e
avanços culturais notáveis. A juventude não precisará contabilizam os danos e perdas ambientais para a maioria
refazer o caminho trilhado pela humanidade na construção desprotegida;
dos saberes, mas a escola poderá dotar os alunos de
ferramentas simbólicas importantes que permitam o 5) valorização do comportamento ético necessário
desenvolvimento intelectual, moral, social e humano das a uma vida quotidiana coletiva que conduza à
pessoas, elevando-as a patamares cada vez mais altos solidariedade. A educação moral, tão combatida pelos
de desenvolvimento, entendimento e compreensão da crápulas, se revela importante porque diz respeito à
sociedade e do mundo. Sem o domínio e apropriação vida coletiva concreta. A educação moral é uma prática
dos instrumentos simbólicos a humanidade não atingirá social ligada diretamente ao ser humano que pensa e
a maioridade cultural necessária ao salto qualitativo na sente, que vive e avalia responsavelmente a conduta
História; própria e do semelhante. Sem um mínimo de moralidade
não será possível organizar a ação coletiva e fazer opções
3) valorização da instrução politécnica, difíceis diante de situações e circunstâncias inéditas da
essencialmente científica e tecnológica, que faz do vida social. A educação voltada para o futuro terá que
conhecimento e seu ensino e da pesquisa básica e aplicada realizar algo no sentido de desenvolver na juventude a
a maneira contemporânea de decifrar racionalmente a capacidade de julgar a conduta moral numa perspectiva
realidade natural, social e humana. A instrução politécnica social com base na razão e no sentimento. A educação
não se reduz à profissionalização embora possa pressupô- moral, que desde tenra idade precisa ser exercitada,
la. A instrução politécnica visa a formar um ser humano terá que evidenciar a indignidade de muitas condutas
com visão ampla, global, das possibilidades da ciência e que têm curso no meio social. Positivamente, muitos
da tecnologia na solução dos problemas humanos. Nesse comportamentos sociais que a permissiva sociedade
sentido, a instrução politécnica deverá ser inseparável de burguesa admite por interesse, complacência ou mesmo
uma formação social e política que dê ao conhecimento covardia, são profundamente deseducativos porque não
científico e tecnológico um endereço social e uma levam em conta os danos sociais e pessoais de atitudes
finalidade especificamente humana. A socialização do que acirram ainda mais a contradição entre a existência
conhecimento e sua democratização, conhecimento hoje social do ser humano com a sua essência voltada para
na mão de cientistas e do empreendimento privado, serão a produção e reprodução da própria existência através
o grande desafio futuro no sentido da plena realização do trabalho e da procriação. Não há cultura que se
humana. Sem o domínio da ciência e da tecnologia pelo sustente sem um mínimo de consciência moral coletiva
todo da sociedade não haverá possibilidade de solucionar e individual;
muitos dos problemas que afetam a humanidade
porque o conhecimento e a ciência na mão de grupos 6) valorização da luta política no sentido de a
restritos gera poder particular, interessado na mantença construção de uma sociedade justa e humana. Luta

Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (1): Janeiro/Dezembro - 2012 91


José Misael Ferreira do Vale

que pressupõe suplantar as condições de miserabilidade – católicos e liberais. São Paulo: Cortez:Morais, 1978.
do povo, melhoria de seu poder aquisitivo mediante DELEUZE, Gilles. Empirisme et subjectivité. Paris:
inserção das camadas populares excluídas na produção PUF, 1953.
social material e não-material da nação e acesso à cultura DEWEY, John. Vida e Educação. São Paulo:
através da escolarização plena em patamares cada vez Melhoramentos, 1978.
mais altos de todos os brasileiros. Sem as condições EBY, Frederick. História da educação moderna. Porto
infraestruturais mencionadas será difícil, impossível Alegre: Globo, 1962.
mesmo, realizar a travessia que supere a indigência HAIDAR, Maria de Lourdes Mariotto. O ensino
material e espiritual das populações historicamente primário na colônia. In: BREJON, Moisés, Estrutura e
relegadas à inferioridade. funcionamento do ensino de 1.º e 2.º graus. São
Paulo: Pioneira, 1972.
Muito mais se poderia dizer sobre a Educação HERBART, J.F. Pedagogia general derivada del fin de
Contemporânea. Muitos aspectos relevantes não foram la educación. Madrid: Ediciones de La Lectura, s/d.
sequer mencionados. Exemplos ficaram de fora em GRAMSCI, Antonio. Americanismo e fordismo. In:
decorrência da necessidade de ser breve. Não se fez a Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de
análise imanente das diferentes vertentes pedagógicas Janeiro: Civilização Brasileira, 1976
mencionadas O texto permite inúmeros desdobramentos GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história.
teórico-praticos além dos realizados com a intenção Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978..
de caracterizar o espírito educacional do tempo GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da
histórico que vivemos. Não nos foi possível pensar a cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
Educação neoliberal e suas conseqüências em tempos HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século
de globalização. Cabe apenas, para finalizar, pedir, ao XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
possível leitor deste texto, a tarefa de retificar e ampliar, KLEIN, Fernando. Atualidade da pedagogia jesuítica.
por conta própria, a lista de sugestões práticas voltadas São Paulo: Loyola, 1997.
para a educação direcionada para o futuro. Fica, LASKI, Harold J. El liberalismo europeo. México:
entretanto, uma observação importante: _ os estudos de Fondo de Cultura Econômica, 1961.
Filosofia e História da Educação serão importantes na LUIZETTO, Flávio. O tema da Educação na história do
formação dos professores quando articularem, num todo pensamento e do movimento anarquista. In: Educação
orgânico, a prática escolar aos estudos que evidenciem e Realidade. Porto Alegre, 12 (1): 45-52, jan./jun.,1978.
uma possível visão futura de mundo. Ação sem MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação:
narrativa torna a educação uma prática inconsequente, da antiguidade aos nossos dias São Paulo: Cortez: Autores
sem finalidade social. Teoria e prática formam um par Associados, 1989.
dialético fundamental para a análise e compreensão das MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia
práticas sociais. moderna. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.
Por último, vai um lembrete: a Educação é um MANACORDA, Mario Alighiero. Depoimento. In Revista
concreto, isto é, “síntese de múltiplas determinações”. Ela da Associação Nacional de Educação (ANDE), Ano 5,
é, como prática social, ao mesmo tempo, formação da N.º 10, 1986.
pessoa humana, fonte para aquisição de conhecimento e MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo:
saber, espaço para a conscientização dos problemas que Hucitec, 1999.
afligem o mundo e meio para a emancipação da pessoa. MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
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