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Eliseo Jacob 1

Émile Zola, Aluísio Azevedo e literatura naturalista

Esta redação examina as influencias do naturalismo francês na literatura naturalista


brasileira durante o fim do século XIX. Analisarei dois escritores nesta redação que
segundo minha opinião são escritores importantes da literatura naturalista na França (Émile
Zola) e no Brasil (Aluísio Azevedo). Examinarei varias das obras literárias e criticas do
Émile Zola que deixaram um impacto importante nos romances do Aluísio Azevedo e no
naturalismo brasileiro. Zola escreveu dois importantes tratados que definiram a literatura
naturalista: Le Roman Expérimental e Les Romanciers Naturalistes. Ele argumentou que o
romance experimental deve ser uma observação objetiva e cientifica do mundo através da
documentação detalhada de ambientes sociais e comportamento humano. A série literária
Les Rougon-Macquart de Zola, uma coleção de vinte romances e segundo minha opinião
um dos exemplos mais importantes da literatura naturalista capturou a rotina e os
problemas da vida urbana durante o segundo império francês. As obras de Zola
influenciaram profundamente o escritor brasileiro Aluísio Azevedo que tentou de
documentar os normas sociais e o comportamento humano no Brasil durante o século XIX.
Intelectuais europeus durante o século XIX argumentaram que a vida humana era o
resultado de "leis biológicas e naturais" (Marchant 445). Darwinistas sociais como o
Conde de Gobineu, Henry Thomas Buckle e Émile Zola consideravam ambientes sociais e
hereditariedade como influências legitimas e cientificas no entendimento do
comportamento humano. A aplicação da teoria da evolução do Darwin não se limitava às
ciências e a filosofia. Tornou-se uma característica marcante da literatura naturalista.
Émile Zola escreveu várias obras literárias que tentaram de analisar as origens das
características e comportamentos do ser humano. Seu tratado sobre a literatura naturalista,
Le Roman Expérimental (1880), criticava movimentos literários anteriores como o
Romantismo que enfocava mais no idealismo e a fantasia. Para Zola, o romance
experimental e a literatura naturalista deviam enfocar na realidade e usar a literatura como
uma ferramenta cientifica para entender humanidade:
Ora, para retornar ao romance, podemos perceber facilmente que o
romancista é igualmente um observador e um experimentador. O lado observador
providencia fatos como ele os observou, sugere o ponto de partida, exibe a terra
firme na qual seus personagens devem caminhar e o fenômeno que desenvolverá.
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Então o experimentador aparece e introduz um experimento, quer dizer, coloca seus


personagens em uma historia especifica para mostrar que a sucessão dos fatos
refletem os requerimentos do determinismo do fenômeno sendo examinados (Zola
8).

O romance segundo Zola é transformado para ser um laboratório onde o escritor não apenas
observe o ser humano agindo na sociedade, mas constrói ambientes sociais e historias de
famílias que permitem ele entender características particulares do ser humano como o
alcoolismo, a avarice, a pobreza e a criminalidade. Les Rougon-Macquart do Zola
incorpora os atributos científicos da literatura naturalista quando o autor examina o
comportamento humano entre uma família de classe social baixa (Macquart) e uma família
de classe social alta (Rougon) que ocorre durante cinco gerações na França do século XIX.
Os romances dele tem a meta de estudar o "corpo do homem" através da examinação de
"seu fenômeno sensorial e cerebral" igual ao um medico que examina o corpo e seus órgãos
em sua "condição normal e patológica" (Zola 32).
Os escritos do Zola influenciaram diretamente os romances do Aluísio Azevedo
porque este escritor brasileiro desejava entender de uma perspectiva objetiva as mudanças
na sociedade brasileira. O Brasil passou por varias mudanças sociais importantes durante o
fim do século XIX incluindo a abolição da escravatura, o fim da monarquia e um enfoque
na modernização e urbanização da nação. Azevedo como Zola desejava documentar a vida
do proletário. Ele contribuiu varias obras literárias importantes ao naturalismo brasileiro: O
mulato (1881), Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). O mulato, considerado o
primeiro romance naturalista, examinou os preconceitos raciais e a corrupção política no
nordeste brasileiro. A casa de pensão seguiu a vida de um estudante de medicina que
morava no Rio de Janeiro e analisou a degradação moral do ser humano em relação com o
ambiente. O cortiço analisou a vida dentro de um cortiço no Rio de Janeiro, relatando as
rotinas e os comportamentos dos habitantes. Originalmente Azevedo tinha a meta de criar
uma serie literária parecida com Les Rougon-Macquart que iniciava com o romance Casa
de pensão (1884). A historia começaria na época da independência do Brasil e concluiria
no fim dos anos 1880 abrangendo varias gerações (Loos 3). Ele nunca realizou este maior
projeto literário mas as obras que conseguiu escrever oferecem uma compreensão
importante do naturalismo brasileiro. Igual a Zola, Azevedo passou tempo nos lugares que
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ele descreve em seus romances para providenciar o analise mais cientifico e objetivo das
classes sociais sendo examinadas. Os personagens em seus romances representam segundo
a opinião dele, sujeitos humanos que contribuíam à ou eram afetados pela degradação
moral e ambiental encontrada na sociedade brasileira: Raimundo o mulato no romance O
mulato, Conêgo Diogo como o clero ou político corrupto no romance O mulato, João
Romão como o empresário disposto a explorar a classe trabalhadora no romance O cortiço
e Rita Baiana, como a mulata sedutora no romance O cortiço. Azevedo e Zola argumentam
que seus personagens eram representações autênticas da vida humana em áreas urbanas
como o Rio de Janeiro e Paris.
A influência do Zola nas obras do Azevedo torna-se mais evidente através da serie
literária Les Rougon-Macquart. Les Rougon-Macquart é composto de vinte romances, mas
enfocarei em um para este estudo comparado: L'Assommoir (1877). Os paralelos entre
L'Assommoir e O cortiço são óbvios nas descrições de ambientes e praticas sociais.
L'Assommoir descreve a atmosfera das comunidades da classe trabalhadora em Paris,
especificamente lugares como bares e lavanderias. O livro também descreve festividades
como uma cena caótica de um casamento no Louvre e uma festa grande na lavanderia de
um dos personagens principais do romance, Gervaise Macquart. Capítulo dois no romance
O Cortiço descreve o ambiente físico da lavanderia do cortiço usando uma linguagem que
imita o estilo literário de Zola:
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as
suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e
quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das
limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru,
armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa
molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa,


começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma
geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se
como larvas no esterco (12).

Azevedo descreve com muito detalhe o ambiente físico e social do cortiço utilizando uma
terminologia que examina fenômeno biológico. O romance parece a L'Assommoir que
oferece observações da vida urbana em Paris. Ele faz observações igual a um cientista que
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observe o hábitat de um animal ou um bicho. O mulato também oferece trechos detalhados


do ambiente humano através de descrições de festividades e celebrações comuns entre os
habitantes locais. O autor descreve em capítulo sete e oito os rituais e atividades que
ocorrem durante a festa do São João. As observações detalhadas do Azevedo refletem o
comentário do Zola a respeito do papel do escritor naturalista: "Ele deve ser o fotógrafo do
fenômeno, suas observações devem ser uma representação exata da natureza..." (7).
Outras semelhanças existem entre L'Assommoir e O cortiço quando ambos
escritores examinam os efeitos dos ambientes sociais sobre o comportamento humano.
Uma dicotomia entre o rico e o pobre aparece no romance do Azevedo que semelha o
contraste entre os Rougons e os Macquarts. O cortiço, um prédio de apartamentos habitado
por pessoas da classe trabalhadora é vizinho da residência do Miranda, um rico imigrante
português. Azevedo examina as desigualdades sócio-econômicas no Rio de Janeiro como
Zola explora as tensões sociais na sociedade francês através das duas famílias para entender
como o ambiente e a educação afetam a conduta humana. L'Assommoir analisa como o
alcoolismo e a pobreza influenciam o comportamento e a psicologia dos habitantes dos
bairros da classe trabalhadora em Paris. O efeito do ambiente sobre uma pessoa é
enfatizada ainda mais no romance O cortiço através do personagem Jerônimo. Ele é um
imigrante português e a princípio é um trabalhador árduo e é fiel a sua esposa Piedade.
Contudo, a atmosfera do cortiço começa a afetar seu comportamento. Ele torna-se um
alcoólatra, preguiçoso e larga-se de sua mulher por Rita Baiana. Sua esposa Piedade parece
ao personagem Gervaise Macquart do Zola que também perde seu marido para outra
mulher e nunca pode escapar os problemas sociais em Paris. Ambos Zola e Azevedo
considerem o ambiente social, a educação e hereditariedade fatores importantes na
determinação das características da vida humana.
Inicialmente as obras literárias do Zola e do Azevedo parecem fatalistas; porém
Zola argumenta que seus romances são deterministas. Zola explica em Le Roman
Expérimental se o ser humano consegue entender as causas e os efeitos de fenômenos
específicos, então ele como o escritor pode obter a conseqüência desejada por meio de
ações especificas. Determinismo permite o cientista, ou o escritor em referência a Zola e
Azevedo, a controlar o ambiente que estão observando em seus romances (Zola 8-9). Zola
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coloca seus personagens em ambientes particulares como o trabalhador na mina em seu


romance Germinal, ou dá aflições como o alcoolismo que são transmitidas de geração a
geração em L'Assommoir. Ele faz isto segundo seu argumento para que possa entender
"como" o ser humano adquire certos comportamentos, hábitos e características devido a seu
ambiente ou à hereditariedade. Azevedo se engaja também em um experimento similar no
romance O cortiço onde ele explora como o ser humano muda devido a fatores ambientais
e sociais. Ambos escritores tentam de adotar teorias cientificas na literatura para que
possam analisar a condição social do ser humano.
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Bibliografia

Azevedo, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Ática, 1989.


______________. O cortiço. São Paulo: Ática, 1989.
______________. O mulato. Rio de Janeiro: Ediouro, 1990.
Cândido, Antonio. "De cortiço a cortiço." Novos Estudos CEBRAP July 1991: 111-129.
Print.
Loos, Dorothy S. "The Influence of Émile Zola on the Five Major Naturalistic Novelists of
Brazil." The Modern Language Journal January 1955: 3-8. Print.
Marchant, Elizabeth A. "Naturalism, Race, and Nationalism in Aluísio Azevedo's O
mulato." Hispania September 2000: 445-453. Print.
Zola, Émile. The Experimental Novel. New York: The Cassell Publishing Co., 1893.
_________. L’Assommoir. New York: Oxford University Press, 2009.
_________. Les Romanciers Naturalistes. Paris: Bibliotheque-Charpentier, 1893.

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