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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
CURSO: COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
DISCIPLINA: METODOLOGIA DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO
PROF. TIAGO QUIROGA

FICHAMENTO DO ENSAIO ‘SOBRE O QUE PODEMOS NÃO FAZER’

1. Referência bibliográfica

Agamben, Giorgio. Nudez, Sobre o que podemos não fazer, págs 69-73. Belo
Horizonte-MG: Autêntica Editora, 2014, 134 páginas.

2. Credenciais do autor

Giorgio Agamben nasceu em 1942, em Roma. O filósofo italiano vem ao longo de


sua obra tecer reflexões sobre o Homem Contemporâneo e o Estado de Exceção,
integrando diversos campos de conhecimento como a arte, a poesia, a filosofia e
política.

3. Conteúdo da obra

O texto critica o afastamento da sociedade da sua impotência, mais


precisamente, do poder não fazer. A impotência do ser humano seria na verdade a
possibilidade de não fazer, o que de acordo com Agamben, permite que consigamos
dominar nossas capacidades, transformando-as em faculdades.

E é sobre a impotência que hoje agem as forças controladoras, separando o


homem de sua impotência, tornando-o em tese capaz de tudo. Em tese porque para
o autor o afastamento do ser humano da impotência seja o motivo de uma “definitiva
confusão, no nosso tempo, das profissões e das vocações, das identidades
profissionais e dos papéis sociais”, e que tal flexibilidade “é hoje a primeira qualidade
que o mercado exige de cada um”1.E o afastamento da impotência para Agamben
torna-nos pobres e sem liberdade.

4. Apreciação e levantamento de questionamentos.

Esse texto me remete à positividade de Byung Chul-Han, outro autor


dedicado a compreender a contemporaneidade. O excesso de positividade, a
incapacidade de poder não fazer, está levando a sociedade ao limite de suas
capacidades físicas e mentais. E ao se pensar que tudo se pode, quem não
consegue realizar o planejado sente-se impotente, deprimido. E aquele que é
realmente capaz, quem se dedicou por anos a fio no desenvolvimento de suas
capacidades, não tem o devido reconhecimento.

Nas periferias, muitas pessoas acreditam na meritocracia, e por isso


acreditam ser capazes de ascender profissional e socialmente. Um trágico engano
pessoal e engodo do capital. Talvez seja o motivo da direita estar em uma
assustadora ascendente no Brasil, onde oferecer ajuda a quem necessita é
considerado uma afronta àqueles que se esforçam arduamente. Ambos vítimas do
sistema.

O afastamento da impotência tem gerado também uma falsa percepção de


que todos são capazes de opinar sobre qualquer assunto com autoridade. Isso eu já
percebia desde a época do curso de Educação Física, quando blogueiras fitness
prescreviam dietas e exercícios sem nenhum critério científico, mas que por terem
corpos esteticamente atraentes, levavam suas seguidoras - e praticantes da
academia em que eu trabalhava - a confrontarem os métodos científicos que eu
utilizava para prescrever os seus treinos. Outro exemplo é que minha namorada
nunca acredita em mim quando debatemos qualquer assunto, a não ser que tenha
visto alguém no facebook ter dito a mesma coisa. Percebo também que hoje os
alunos universitários não dão o devido respeito aos seus professores.

Tudo isso me preocupa, pois parece que estamos regredindo alguns passos
que estavam sendo superados lentamente com o avanço da sociedade e da

1
Agamben, Giorgio. Nudez, Sobre o que podemos não fazer, págs 69-73. Belo Horizonte-MG: Autêntica
Editora, 2014, 134 páginas.
tecnologia. A ciência sofre ataques, e alguns “especialistas” nem mesmo estudaram.
Talvez seja pela facilidade e velocidade que a internet proporciona conteúdo, e hoje
já não consigamos utilizar métodos diferentes de aprendizado.Minha infância foi
abençoada com livros ilustrados, gibis, romances, enciclopédias e vários tutores por
quem tenho respeito e admiração. Meu filho é incapaz de ouvir uma história que eu
estou contando, ou ler um livro comigo, por que logo quer fazer outra coisa.
Precisamos novamente aprender que somos humanos, que somos incapazes de
sermos capazes de tudo, para assim sermos capazes de alguma coisa.

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