Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Perspectivas de Diálogo Entre o Fundamentalismo Religioso Neopentecostal e A Pedagogia Da Autonomia
Perspectivas de Diálogo Entre o Fundamentalismo Religioso Neopentecostal e A Pedagogia Da Autonomia
Jóvirson J. Milagres
UFJF. jovirson@gmail.com.
religiosos fundamentalistas que eclodem no ambiente escolar e que busque a mediação desses
conflitos através do diálogo, da valorização da liberdade de pensamento e de um
posicionamento humanista, laico e includente.
Introdução
O presente trabalho se propõe a refletir sobre como alguns temas relacionados à
religião se fazem presentes no cotidiano de escolas públicas brasileiras e quais as implicações
desse fenômeno para o entendimento das relações contemporâneas entre religião e sociedade
em uma perspectiva mais ampliada. A pergunta apresentada no começo do título, feita por um
aluno ao professor de capoeira em uma escola pública de tempo integral, sintetiza uma
situação cada vez mais recorrente em que profissionais da educação têm que se posicionar
frente à suposição de que haveria um componente religioso subjacente a um determinado
tema ou conteúdo curricular.
Entretanto, é cada vez mais comum nos depararmos com um aluno, ou com algum dos
seus familiares, julgando uma determinada representação alegórica presente na escola como
“imprópria” ou “feia” - seja um presépio natalino, uma música de quadrilha que homenageia
os santos juninos, ou uma imagem do saci Pererê. Esses julgamentos se pautam por valores
éticos e estéticos definidos por critérios estritamente religiosos e que deveriam, em princípio,
não extrapolar os limites do grupo de devoção que os compartilha. A partir do momento em
que esses critérios são tomados como referência para se reivindicar abstenção de uma
atividade escolar por parte de alguns alunos, surgem então oportunidades que possibilitam o
desencadeamento do diálogo, visando uma melhor compreensão do fenômeno religioso e a
necessidade de um caminho de respeito pela crença “do outro”.
Privar qualquer aluno do direito a ter acesso aos conteúdos definidos pelo Projeto
Político Pedagógico da escola por motivações religiosas é um contrassenso, pois ao serem
pensados, tais conteúdos são entendidos como relevantes para todos os alunos,
indiscriminadamente. Esses conteúdos visam, acima de tudo, uma educação plural e um
reconhecimento amplo do contexto cultural ao qual a comunidade escolar está vinculada.
Conclusão
Refletir sobre como esse panorama sócio-político repercute no ambiente escolar, tendo
como referência uma práxis pedagógica orientada a partir dos caminhos traçados por Paulo
Freire, contribui para a conscientização da comunidade escolar sobre o tema, de uma forma
dialógica e interativa. Entretanto, o fundamentalismo religioso é um componente discursivo
que restringe a aplicação de uma pedagogia nesses moldes por ser, em princípio, refratário à
possibilidade de desenvolvimento de uma consciência crítica construída através do diálogo e
da capacidade das pessoas em interpretar o mundo de forma reflexiva e autônoma.
A partir do reconhecimento dessa condição sui generis conferida à religião por uma
parcela significativa do público nessas instituições de ensino, é preciso que a escola se
posicione como um espaço de discussão o mais isento possível, exercendo o pressuposto da
laicidade em seu sentido mais estrito. Esse posicionamento deve considerar, inclusive, a
abertura para uma apreensão mais compreensiva do fenômeno religioso, que venha a superar
uma concepção crítico marxista de que a religião seria alienante, ou então um fenômeno
menor, visto por uma perspectiva científico-positivista. Talvez, na busca de uma prática
dialógica, a “forma” de abordar determinados conteúdos possa ser repensada levando em
consideração as restrições e interdições religiosas da população atendida pelas escolas
públicas, não suprimindo conteúdos, mas abordando-os com sensibilidade e se atentando para
as animosidades que certos temas possam suscitar.
Referências
CAMURÇA, Marcelo Ayres. “Entre Sincretismo e Guerras Santas”: dinâmicas e linhas de
força do campo religioso Brasileiro. Revista USP, São Paulo, n.81, p. 173-185, março/maio
2009.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
SANCHIS, Pierre. A Religião dos Brasileiros. HORIZONTE. Belo Horizonte. v. 1, n.2. p. 28-
43, 1997.