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As Quatro Funções da Mente

Por Enki
10 de dezembro de 2005

Aquilo que chamamos de mente, em yoga é dividido em 4 partes, cada uma com
sua função específica.
O maior problema do praticante espiritual e a não coordenação dessas funções.
As quatro funções da mente são: Manas, Ahamkara, Buddhi e Chitta.
Para um maior entendimento, descreveremos brevemente os funcionamentos
dessas quatro “partes” de nossa mente.

Manas

Manas é a mente inferior. É ela que interage com o mundo exterior, captando
impressões sensoriais e informações. Por natureza, manas questiona e duvida,
podendo causar-nos problemas se essa tendência for excessiva.
Manas executa com perfeição o papel de levar direcionamentos, mas não é quem
toma as decisões chaves, que está a cargo de Buddhi.
Se as funções de Buddhi estiverem eclipsadas, Manas vai ficar pedindo por um
direcionamento e por um bom direcionamento.

De maneira geral, Manas tende a seguir as “vozes” presentes no banco de memória


das impressões, Chitta.
Uma boa maneira de coordenar o funcionamento de Manas é vigiar os pensamentos
e sentimentos, sem auto-culpa ou auto-corrupção.
Manas não é o chefe, mas o supervisor que dá as ordens diretas aos sentidos
cognitivos e ativos.

Chitta

Chitta é o banco de memórias, onde as impressões captadas pelos sentidos são


armazenadas.
Se as funções de chitta não estiverem coordenadas, as incontáveis impressões
armazenadas e que estão de forma latente tendem a se manifestar de maneira
intensa, levando a nossa mente a agir em coisas não tão úteis.
Como a relação de Manas e Buddhi não estão coordenadas, as impressões latentes
presentes em Chitta competem entre si na busca pela atenção de Manas, e na
maioria das vezes conseguem com que Manas direcione suas informações, em vez
das informações provenientes de Buddhi.

Digamos que a mente é como um lago. Chitta seria o depósito de poeira que entra
em contato com a superfície do lago e decanta até se acomodar no leito do lago.
Quando a água do lago se agita (quando manas pede uma instrução) os detritos se
levantam do leito turvando a água (ações executadas por Manas tendo por base as
impressões dos sentidos e referenciais armazenados em Chitta).

Uma boa maneira de testemunhar o funcionamento de Chitta é ficar atento a


pensamentos que surgem como uma onda sem causa aparente, por exemplo: uma
música que surge “do nada” em sua cabeça, a lembrança de algo sem conexão
aparente com a “realidade” ao seu redor.
Percebendo essas emanações fica mais fácil o controle e coordenação de Chitta com
as outras funções da mente.

Ahamkara – o Ego
Ahamkara é o senso de individualidade, do Eu. É a entidade que se sente como
separada.
Ahamkara nos identifica com nossas funcionalidades, mas no entanto também nos
trás a sensação de separação, de sofrimento e alienação.
Ahamkara é a entidade que se apodera das experiências vividas. Ele é como uma
onda de extrema força que declara “Eu Sou” (Swami Rama)

Uma boa maneira de perceber o funcionamento do Ego é estar ciente de que cada
pensamento está acompanhado do sentimento de gosto ou desgosto. Uns
produzem aversão maior e outros, menor aversão.
Perceber essa relação de gosto/desgosto é muito importante.

Comece a praticar o controle do Ego pelos sentimentos que tem uma força de
menor intensidade.
Ao contrário do que costumam dizer os espiritualistas de maneira geral, o Ego não
deve ser aniquilado ou destruído. Ele deve ser conquistado. E através do amor, e
não da força.

O Ego da filosofia yogue é, por exemplo, o manequim e não as roupas colocadas


nele. Já para o ocidental o ego são as roupas.
Sendo assim, podemos perceber que o Ego tratado na filosofia do yoga é algo
muito importante, pois ele é uma espécie de interface entre a consciência e a
mente. Sem ele a nossa consciência não conseguiria atuar nesse plano de
existência.
O Ego é importantíssimo. O egoísmo (isso é meu) e o egotismo (eu sou o melhor)
não.

Buddhi

Buddhi é a mente superior, o aspecto mais elevado da mente.


Buddhi tem a capacidade de decidir, julgar e de fazer discriminações cognitivas e
diferenciações. É através de Buddhi que podemos escolher o melhor caminho entre
dois cursos de ação e se Buddhi estiver funcionando de maneira clara, Manas irá
aceitar o direcionamento.

É Buddhi quem tem que ser o “tomador de decisões”. Temos que cultivar Buddhi,
caso contrário, Manas irá seguir os direcionamentos de nossos desejos e
impressões armazenadas em Chitta.
A função de discriminar de buddhi é extremamente importante, pois se bem
utilizada poderá nos mostrar os opostos com clareza. Ai, com o uso do
discernimento, fundamentamos a percepção (por que isso é x? por causa “disso,
disso e disso”), aumentando a probabilidade de nossa escolha ser a mais sábia.

No entanto, a mesma capacidade de discriminar acentua até certo ponto a nossa


sensação de separatividade, vendo dualidade onde há unidade.
Uma das maneiras de perceber a ação de buddhi é a identificação do que
chamamos “intuição”. Geralmente essa intuição é um direcionamento enviado por
Buddhi à Manas, mas como não estamos acostumados a ter certeza de nada (pois a
natureza de manas é a dúvida), rechaçamos essa intuição na maioria das vezes.

Finalizando

A melhor maneira de coordenar as funções da mente é a constante observação dos


pensamentos e sentimentos, atrelados a uma busca constante de associação da
mente com a virtude e da meditação.
Não há formula mágica. Viver da melhor maneira possível, sem mascaras, ainda é o
melhor remédio.

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