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SRILA
BHAKTI
PRAMODE
PURI GOSWAMI
MAHARAJ
SRILA BHAKTI PRAMODE
PURI GOSWAMI
MAHARAJ
Fundador Acharya da Sri Gopinath
Gaudiya Math
BIOGRAFIA
SEVA
JULHO 2016
Copyright 2017 by
Produção editorial:
Revisão:
Impressão:
Capa:
Projeto gráfico e
diagramação:
*****DEDICATORIA
autor
yasya prasādād bhagavat-
prasādo yasyāprasādān na gatiḥ
kuto ’pi:
“Pela misericórdia do Mestre Espiritual somos abençoados com a
misericórdia de Krishna. Sem a misericórdia do Mestre Espiritual não
podemos fazer nenhum avanço.”
Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura
PREFACIO
Bhaktivedanta Puri Maharaj, um dos últimos discípulos de Srila Bhakti Pramode
Puri Goswami Maharaj, serve a Krishna há muitos anos no Brasil. Ele, ao escutar
sobre este devoto puro, aventurou-se em uma grande viagem que teve como
destino Jagannath Puri (Orissa-Índia), onde esse grande devoto puro, sua divina
graça Srila Bhakti Pramode Puri Goswami Maharaj, estava celebrando seu último
Vyasapuja (celebração em comemoração ao dia de seu aparecimento) na terra.
Jagannath Puri é o lugar em que vive o Senhor Jagannatha e no qual o Senhor
Caytania passou os últimos anos de sua vida. Srila Bhakti Pramode Puri Goswami
Maharaj havia escolhido esse sagrado lugar para construir o templo de Sri Sri
Madana Mohan, e o fez frente à praia onde o Senhor Caytania exibiu muitos de
seus passatempos, em Cakra Tirtha (lugar sagrado). Srila Bhakti Pramode Puri
Goswami Maharaj inspirava às pessoas de todas as missões a tomar instruções com
ele. Dessa forma, seu último Vyasapuja foi uma reunião muito surpreendente em
que participaram todos seus irmãos espirituais que ainda viviam, tais como Srila
Bhakti Vaibhava Puri Goswami Maharaj, Bhakti Kusum Santa Maharaj,
Nayanananda Das Babaji e muitos outros acaryas. Profundamente tocado por seu
Gurudev, que o aceitou como seu discípulo nesse encontro, Bhaktivedanta Puri
Maharaj voltou ao Brasil e começou sua missão na fazenda de Vrinda Bhumi, na
região de Minas Gerais. Suas praticas profundas atraíram a muitas almas que se
refugiaram em seu asrama (refúgio espiritual) com o propósito de ganhar força e
preparar-se para a grande luta contra Maya (ilusão) como servidoras do Senhor
Supremo. Eu pedi a Bhaktivedanta Puri Maharaj para que, por favor, coletasse toda
a informação importante acessível sobre a vida de seu Gurudev, para que possamos
publicar em português. Esta obra que está agora em suas mãos é o resultado de
muitos caminhos e de muitas lágrimas que a alma espiritual passa até que tenha a
oportunidade de juntar-se com os devotos puros de Krishna, os quais nos guiam no
bhajana, nas praticas de sadhana etc. Os livros de Srila Bhakti Pramode Puri
Goswami Maharaj, como O Coração de Krishna, A Arte do Sadhana e tantos
outros, assim também como inumeráveis artigos que ele mesmo editou, já que era
ele o editor principal da Gaudiya Math, são todos aptos para transformar nosso
coração. Eu felicito a Bhaktivedanta Puri Maharaj por este trabalho em
homenagem ao seu Gurudev Srila Bhakti Pramode Puri Goswami Maharaj, quem
também há sido meu siksa guru (guru instrutor) por muitos anos, e aos leitores, que
através de estas linhas poderão conhecer a um devoto puro do Senhor, que logrou
agradar a seu maestro espiritual, Srila Prabhupada Bhaktisidhanta Sarasvati
Thakur, extraordinariamente, o qual também atuou como presidente da Associação
Mundial Vaisnava (WVA) e iluminou toda sampradaya ao trabalhar unidamente
pela causa com todos os diferentes seguidores dos ideais que o Senhor Caytania
Mahaprabhu propagou.
Um aspirante a servidor, Srila Bhakti Aloka Paramadveiti Swami.
ÍNDICE
Capítulo 1
APARECIMENTO DIVINO
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poderíamos dizer que se encontra sob a jurisdição das leis materiais. Por
isso, dizemos 'aparecimento' e não 'nascimento'. Ele aparece para realizar
os seus passatempos (prakrta lila) ou seja, os passatempos que são
manifestos neste plano material.
Sua divina graça nitya-lila-pravista om visnupada paramahamsa
Srila Bhakti Promode Puri Goswami Maharaj apareceu exatamente em
uma quarta-feira, dia 18 de Outubro de 1898, no horário supremamente
auspicioso conhecido como Brahma muhurta (antes do nascer do sol).
No Caitanya Bhagavata, um livro escrito por Srila Vrindavana das
Thakur, encontramos um verso que expressa de forma muita clara a
importância do aparecimento do Acarya: “Assim como o dia de
aparecimento do Senhor é considerado santo, é sagrado também o dia em
que um Vaisnava aparece nesse mundo.” Em certo sentido, poderíamos
afirmar que para a vida do discípulo, o dia do aparecimento do Guru é
mais significativo que o próprio dia de aparecimento do Senhor Supremo.
O discípulo se beneficia muito mais servindo ao guru do que a
Krishna mesmo, o guru é a manifestação direta de Deus ( prakāśa
vigraha) e é com ele que devemos buscar estabelecer nossa conexão, é
através dele que poderemos ter um contato com a Divindade. Sri Caitanya
Mahaprabhu citou um verso do Adi Purana:
ye me bhakta-janāḥ pārtha
na me bhaktāś ca te janāḥ
mad-bhaktānāṁ ca ye
bhaktās te me bhakta-tamā
matāḥ
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Maharaj adorou a Deidade até os noventa e seis anos de idade, mostrando
a determinação de seguir esse processo tão poderoso.
Somente a fé pode nos levar a uma constância em nossas práticas,
ela é como o combustível que faz mover o carro da devoção. Podemos ter
um carro que seja muito potente, que esteja em excelente condição de uso,
o último modelo no mercado, entretanto, se ele não tiver gasolina, não vai
funcionar. Da mesma maneira, temos o corpo humano, que é muito valioso
para as práticas espirituais, temos o Guru que nos deu a iniciação espiritual
através do Harinama (nome, mantra) e de diksa (iniciação no mantra),
possuímos a oportunidade de adorar a Deidade. Mas se não tivermos fé,
seremos com um bom carro, que apesar de estar em ótimas condições de
uso, não se move porque falta combustível.
Srila Krishnadasa Kaviraja Gosvami tem definido a fé (sraddha)
da seguinte maneira no Caytania-caritamrta (2.22.62):
'śraddhā'-śabde—viśvāsa kahe sudṛḍha niścaya kṛṣṇe
bhakti kaile sarva-karma kṛta haya
Capítulo 3
HARI-KATHA
“Sendo assim, Ó Rei , onde quer que alguém se encontre, sempre deve
se falar do Senhor Supremo Hari, glorificá-lo e recordá-lo com toda
concentração.” (Srimad Bhagavatam 2.2.36)
tasmād bhārata sarvātmā
bhagavān īśvaro hariḥ
śrotavyaḥ kīrtitavyaś ca
smartavyaś
cecchatābhayam
Capítulo 4
UMA CERTA PROPOSTA
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Capítulo 5
A INICIAÇÃO
“Não invejo ninguém, tampouco sou parcial com alguém. Sou igual
para com todos. Porém, todo aquele que Me presta serviço com
devoção é um amigo, e está em Mim, e eu também sou seu amigo.”
Então poderíamos pensar que Krishna recompensa a todos de
forma equânime, mas isso nem sempre é assim, às vezes um devoto puro
agrada Krishna de maneira tão especial que dificilmente o próprio Krishna
não pode recompensá-lo ou em alguns casos Krishna pode mostrar
misericórdia para os mais desqualificados. Se diz que Krishna, em Seu
aspecto Paramatma (dentro do coração da entidade viva) é imparcial com
todos, e que em Seu aspecto pessoal, como Bhagavan, se torna parcial.
Como Paramatma, Ele somente observa a jiva (entidade viva) em todas as
suas ações, atuando somente como uma testemunha, enquanto que o
aspecto Bhagavan mostra sua parcialidade com seus devotos imaculados,
devido ao relacionamento amoroso que o devoto estabelece com Ele. Na
realidade, Krishna é completamente independente e por isso pode fazer o
que Ele quiser. Entretanto, Krishna diz no Bhagavad-gita (4.11)
ye yathā māṁ prapadyante
tāṁs tathaiva bhajāmy
aham mama
vartmānuvartante
manuṣyāḥ pārtha sarvaśaḥ
“De acordo com seu karma, todas as entidades vivas vagueiam pelo
universo inteiro. Algumas delas elevam-se aos sistemas planetários
superiores, e outras mergulham em direção aos sistemas planetários
inferiores. Entre milhões e milhões de entidades vivas errantes, aquela
que é afortunada recebe a oportunidade de, pela graça de Krishna,
associar-se com um mestre espiritual fidedigno, tal pessoa consegue a
semente da trepadeira da devoção do serviço devocional.”
“Essa minha energia divina (maya) é muito difícil de ser superada, mas se
você se rende a Mim, poderá facilmente superá-la.”
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algum livro que estava escrevendo. Alguns devotos que acompanhavam-
no nessa empreitada ficavam atentos para reter todas essas instruções.
Guru Maharaj que sempre estava presente nessas jornadas, escutava
atentamente e depois mais tarde transcrevia o que tinha escutado para as
publicações que ele era responsável. Como naquela época não havia
nenhum aparato eletrônico que fosse capaz de gravar as interlocuções
respectivas, ele tinha que somente usar sua memória para semelhante
tarefa. Depois à noite, ele redigia os artigos que seriam impressos logo em
seguida.
Em muitas ocasiões, Gurudeva também tinha que ministrar
palestras para os convidados que chegavam ao templo, quando Srila
Prabhupada estava ocupado em outros afazeres. Além disso, cumpria o
voto de cantar diariamente 64 voltas de japas (terço usado na meditação
vaisnava)e em muitas ocasiões seu tempo era muito reduzido para a
realização de todas estas tarefas. E ele relatou: “Toda vez que eu propunha
a Srila Prabhupada a possibilidade de reduzir meu canto de alguma
maneira, atento ao meu esquema diário de atividades, Prabhupada
replicava, insistindo que todos deveriam tentar cantar um lakh de nomes
diários (64 voltas de japa). Em tal sentido, seu conselho era firme, de que
todos deveriam encontrar tempo para completar esse canto de um lakh de
santos nomes diários como uma prática rotineira. E acrescentava que
cantar esse lakh de nomes não era o fator principal, senão que o devoto
deveria se esforçar para permanecer atento durante dito canto e deveria
também evitar as ofensas contra o Santo Nome. E continuava agregando
que aqueles que tivessem o mais leve respeito por Sri Mahaprabhu, não
deveriam desconsiderar suas palavras em nenhum sentido.”
O serviço é a vida de um devoto, ele se sacrificará ao máximo para
executar as tarefas que lhe corresponde, entretanto nunca negligenciará o
seu sadhana (praticas espirituais) em prol do serviço. Sempre tentará
harmonizar o serviço com o sadhana, para poder continuar praticando
serviço. O canto do Santo Nome também deve ser considerado como um
serviço, não somente um serviço, mas o serviço mais importante de todos
os tipos de serviços que podem ser executados para Krishna. Sri Rupa
Gosvamipada, um dos principais seguidores de Sri Caitanya Mahaprabhu,
elaborou em seus escritos, que existem mais de mil serviços que poderiam
ser praticados ao Senhor Krishna e que dentre eles, sessenta e quatro são
os mais importantes. Dos quais, nove foram considerados como principais.
Aceitando a instrução dada por Sri Prahlada Maharaj, citado no Srimad
Bhagavatam (7.5.23-24) :
Sri Prahlada Maharaj uvaca
śravaṇaṁ kīrtanaṁ
viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-
sevanam arcanaṁ
vandanaṁ dāsyaṁ
sakhyam ātma-nivedana m
Capítulo 7
A ENTREGA
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“Ao regar a raiz de uma árvore, automaticamente todas as folhas são
nutridas e os galhos também. Da mesma forma, ao proporcionar
alimentos ao estômago, todos os membros do corpo são nutridos. Da
mesma maneira, quando satisfazemos a concepção central do
Supremo Absoluto, automaticamente serão cumpridas todas as nossas
obrigações.”
Entender que Krishna controla tudo, que essa é a posição peculiar
do Absoluto, não vamos perder o nosso tempo examinando nem sequer a
menor partícula da criação material, no mesmo Srimad Bhagavatam
(5.5.5) também podemos ver que: Parabhavas tavad abodha-jato yavan
na jijnasata atma-tattvam “a menos que alguém indague acerca da vida
espiritual, tudo lhe é inútil. Sem a busca espiritual, nosso trabalho ou o
objetivo de nosso trabalho não passam de mera perda de tempo”.
Ao encontrar algo tão grandioso, que está por cima de todos os
demais conceitos que até agora vinhamos cultivando e que de certa
maneira nos afastava muito da realidade deste plano, deveríamos tentar
apreciar a magnanimidade da Suprema Personalidade de Deus e quanto
mais baixarmos a cabeça, mais fácil poderemos conquistá-Lo. E ao obter
essa Realidade, poderemos obter tudo. Disto se trata viver no mundo da fé,
acreditar que tudo é possível devido a misericórdia de Krishna, que todos
as possibilidades descansam no Absoluto, porque Ele será capaz de
harmonizar tudo por Sua doce vontade.
Capítulo 8
O TRABALHO
“Tudo o que você fizer, tudo o que comer, tudo o que oferecer ou der
para os outros, e quaisquer austeridades que você executar, faça isto
como uma oferenda a Mim.”
Se podemos trabalhar para o Supremo, dedicar todas nossas
atividades para Sua satisfação, não haverá nem um pouco de hesitação em
se dedicar exclusivamente ao serviço devocional, talvez seja por isso que
Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta tenha aprovado com um sorriso a
decisão de Srila Guru Maharaj de abandonar o seu emprego para se
dedicar exclusivamente em servir ao Senhor Supremo.
Capítulo 9
FAMÍLIA
Capítulo 10
SASTRA
Srila Guru Maharaj foi sempre aficionado por ler e escrever. Srila
Prabhupada Bhaktisiddhanta difundiu muito que Gurudeva tinha um apego
profundo pelas escrituras. Essa foi uma das razões pela qual o manteve no
departamento editorial. A oura razão era seu domínio em Bengali e
Sânscrito. Srila Prabhupada o encorajou a ter uma excelente compreensão
da escritura vaisnava. Reconhecendo seu talento literário e seu
conhecimento das escrituras, Srila Prabhupada deu-lhe o título de “pratna
vidyalankar” (aquele que é adornado pelo conhecimento das escrituras
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ancestrais).
No dia 26 de Março de 1929, o 35º encontro de Sri Navadwip
Dham Pracharini Sabha (Associação para transmitir as Glórias de Sri-Sri
Navadwip dham) que acontecia em Sri Yogapith, Sridham Mayapur. O
seguinte extrato da fala dada no encontro foi publicado no sétimo volume
( 1929) da Gaudiya Magazine:
“Eu quero dizer a audiência a respeito de uma jóia. Essa joia é chamada
Pratna Vidyalankar Pandit Sripad Pramod Bhusan Chakravarti ( mais tarde
conhecido como Srila Bhakti Promode Puri Gosvami Maharaj): Ele é um
editor altamente qualificado da única revista representativa de Sridham
Navadwip, a mensagem transportada de Vaikuntha, Dainik Nadiya Prakaś
(um jornal local). Aqueles que são experientes nessa matéria, conhecem a
responsabilidade que essa posição demanda, em editar um jornal
diariamente. Mas Pratna Vidyalankar Prabhu tem tomado toda essa
responsabilidade em sua própria cabeça e está demonstrando um exemplo
extraordinário de serviço incansável. Ele não é um editor assalariado. Ele
não é uma pessoa sem sinceridade e inescrupulosa que escreve uma coisa
no papel e faz outra. Sua sabedoria não é aplicada apenas para aconselhar
aos demais. Ele é um sábio, sua consciência é iluminada pelas escrituras,
que pratica o que prega, tendo abandonado o desfrute dos sentidos para
servir a Krishna e sendo assim é um mahapurusa bhagavat (um vaisnava
da mais elevada classe) cuja renúncia é exemplar. O que ele escuta de seu
Gurudeva, transcreve em seus escritos e segue isso em sua vida pessoal em
todos os sentidos.O Caitanya-Caritamrta (Madhya-lila 22.35) diz:
Kama tyaji Krisnha bhaje śastra-ajna
mani deva-rsi-pitradiker kabhu nahe
rni
Nossa ignorância não é acidental, ela foi obtida por nossa própria
ação prévia, como diz Srila Siddhara Maharaj: “o homem é o arquiteto de
sua própria fortuna”. Se agora somos atraídos pela ignorância, isso deve-se
a nossa própria culpa, estamos bem longe de sermos inocentes nessa
história, chamada vida. Onde tudo que é escuro nos atrai, tudo que é
efêmero chama nossa atenção,desviando nossa concentração do ponto
essencial, nos atraímos pelo transitório que nunca nos dará a felicidade
eterna, e nem mitigará a sede do conhecimento que possuímos dentro de
nós.
Se quisermos somente satisfazer os sentidos, nunca estaremos
saciados e sempre buscaremos algo a mais que não podemos encontrar
aqui nesse mundo sensual. Enquanto estivermos aprisionados as correntes
de uma felicidade momentânea, nossa busca por bem-aventurança será
defraudada uma e outra vez, repetidamente nos encontraremos com o
fracasso, por não conhecer o nosso verdadeiro propósito da existência.
Lutando contra inimigos invencíveis, a existência sensualista vaga de um
lado para outro sem conseguir alguma satisfação que possa dar uma paz de
espírito. Somente o caminho da espiritualidade poderá nos colocar no
trilho da devoção onde o conhecimento será utilizado para alcançar a
iluminação e profunda absorção nos assuntos transcendentais.
Srila Guru Maharaj viveu uma vida de completa absorção nos
tópicos relacionados a devoção, se aprofundando cada dia nos segredos
mais confidenciais das escrituras e com muita devoção, soube utilizar toda
essa informação adquirida para realizar serviço a Srila Bhaktisiddhanta
Prabhupada Sarasvati Thakur através da edição e publicação diária de um
jornal que tratava de assuntos transcendentais, além de ser um exemplo
perfeito de como colocar em prática tudo o que escrevia, por isso foi
imensamente glorificado por seu Gurudeva que lhe outorgou o título de
“pratna vidyalankar” ou seja, aquele que é adornado pelas escrituras
ancestrais.
Aparte de escrever seus próprios artigos, Gurudeva costumava
também revisar e editar todos os artigos da Gaudiya Magazine (revista
semanal). Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta foi bastante exigente em
relação ao estilo de apresentação e correção dos textos, então Gurudeva
tinha que ser extremamente cuidadoso a retificação de possíveis erros e
frenquentemente ficava acordado por toda a noite. Srila Prabhupada sabia
disso e sentia grande confiança em seu discípulo.
Srila Gurudeva durante toda a sua vida tinha o costume de dormir
muito pouco. Ainda quando era criança em Ganganandapur, toda tarde
costumava ir para Thakur-bari (casa de Srila Bhatiratna Thakur) para
participar do kirtana (canto el glorificação a Krishna), Hari-Katha
(conversas sobre Krishna) e Arcana (cerimônias de adoração a Krishna) e
somente ao final do programa retornava para sua casa. No dia seguinte,
voltava no Thakur-bai para despertar as Deidades (Srila Gurudeva era o
pujari, o sacerdote, a convite de Srila Bhaktiratna Thakur, que lhe tinha
bastante afeição devido a seu caráter devocional que exibia desde criança).
Quando foi estudar no colégio, gastava muito tempo na viagem de
trem de Calcutá para Jessore, depois caminhava até a casa – por conta
disso ficava acordado à noite para estudar. No momento em que começou
a viver no Math (templo) e estava trabalhando na Comissaria Portuária,
escolheu trabalhar à noite e realizar seu trabalho de serviço editorial de
dia.
Suas ocupações diárias eram Hari-katha (conferenciar sobre
Krishna), também dedicava certo tempo para supervisionar a impressão do
material que era impresso na gráfica da Gaudiya Math (a missão fundada
por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur), pela noite, buscava um tempo
para se concentrar nos seus escritos e edição do material que seriam
impressos no dia çseguinte (quando deixou de trabalhar na Comissária
Portuária). Usava grande parte da noite para ler, escrever e cantar. Sempre
seguiu a rotina de levantar bem cedo, cantar, realizar puja (adoração) e ler,
durante toda a sua vida.
Em algumas ocasiões, Sundarananda Prabhu expressou-se de
maneira muito franca e disse que as atividades de Gurudeva poderiam
enfurecer ou desencorajar o público em geral a praticar bhakti yoga. Srila
Gurudeva considerou esses pontos e levou-os para a examinação de Srila
Prabhupada Bhaktisiddhanta que apreciou e respondeu: “Sim, esses
comportamentos não são apropriados para o público em geral.”
A gráfica da Gaudiya Math estava em atividade dia e noite. Então,
Gurudeva permanecia constantemente próximo no quarto de Srila
Prabhupada Bhaktisiddhanta em todos os momentos do dia por muitos
anos. Ele vivia em um quarto no andar de baixo perto da gráfica, enquanto
Srila Prabhupada vivia no andar de cima.
Enquanto Srila Prabhupada fazia leituras e comentava, Gurudeva
tomava notas extensivamente as quais depois seriam escritas e publicadas.
Srila Prabhupada nem sempre estava disponível para ditar. Um dia, no seu
quarto da Gaudiya Math, Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta estava
expulsando uns pombos para fora do quarto. Gurudeva apareceu ali para
poder utilizar o tempo disponível de seu Gurudeva para os artigos. Srila
Prabhupada Bhaktisiddhanta entendeu isso e disse-lhe: “eu sei que você
está trabalhando muito duro e aceitando uma grande atribulação para você.
Mas o que eu posso fazer? Você não pode dispor de mim quando quiser.
Você tem que escrever enquanto eu puder ditar”. Então, Srila Prabhupada
caminhou de um lugar para outro para espantar os pombos, enquanto
ditava e Srila Gurudeva fazia anotações.
O grande filósofo hindu, Canakya Pandita dizia que um momento
perdido já não podemos recuperar mais, ainda que possamos dispor de
muito ouro. E Srila Visvanatha Cakravarti Thakur dizia que um dos
sintomas do vaisnava é que ele não gosta de perder tempo. Cada instante
na vida de um devoto é muito valioso, ele se preocupa em se ocupar o dia
todo em alguma atividade do serviço devocional, sem desperdiçar tempo.
No Gita (9.14) Krishna disse
satataṁ kīrtayanto māṁ
yatantaś ca dṛḍha-vratāḥ
namasyantaś ca māṁ
bhaktyā nitya-yuktā upāsate
“Sempre cantando Minhas glórias, se esforçando com grande
determinação, Me oferecendo reverências, estas grandes almas
perpetuamente Me adoram com devoção.”
Capítulo 11
A VIDA NA GAUDIYA Math
Qualquer serviço realizado na Gaudiya Math, por mais duro que
fosse, se tornava suave pela presença de Srila Bhaktisiddhanta
Prabhupada. Ali, sempre havia uma atmosfera de muita alegria. Apesar de
existir um clima de muita austeridade, seriedade e estrita disciplina, Srila
Prabhupada era muito afetuoso com todos os seus discípulos e a afeição
que tinham um pelo outro, fazia a vida no templo um local bastante alegre
e inspirador.
Srila Prabhupada conhecia o talento especial de cada um de seus
discípulos. Sannyasis (renunciantes) como Srila Sridhara Maharaj, Srila
Bhakti Pradip Maharaj, Srila Goswami Maharaj, Srila Bon Maharaj
estavam sempre viajando e pregando. Muitos brahmacarys tinham
residência fixa no templo. Por ordem de Srila Prabhupada, Srila Guru
Maharaj dava Hari-katha (aulas sobre Krishna) regularmente. Muitos
visitantes frequentemente visitavam ao templo e como muitas vezes Srila
Prabhupada estava ocupado em outros afazeres, nessas ocasiões, Gurudeva
se ocupava em falar Hari-katha. E muitas pessoas se tornaram devotas
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depois de escutá-lo. Mesmo quando não estava dando a aula, estava
atendendo muitos visitantes, os quais tinham diversas questões. Esse foi
outro motivo pelo qual tinha que trabalhar em seu serviço de edição até
tarde da noite todos os dias.
Srila Prabhupada estava muito consciente das circunstâncias
pessoais de cada um dos seus discípulos. Se alguém possuía algum tipo de
sofrimento, ele aceitava pessoalmente a responsabilidade de ajudá-lo.
Guru Maharaj sentia que a afeição de Srila Prabhupada era mais profunda
e compassiva do que milhões de mães e pais juntos. Srila Prabhupada
costumava pessoalmente supervisionar a distribuição de prasadam
(alimento espiritual). Srila Gurudeva era um apreciador de doces. Srila
Prabhupada sorrindo, chamava a quem quer estivesse distribuindo
prasadam e dizia em tom de brincadeira "ali está Pranavananda. Ele é de
Jessore, você deve dar a ele um bom pedaço de rapadura!” (Jessore é
famosa por produzir rapadura).
O momento de tomar prasadam sempre era uma ocasião muito
feliz. Os irmãos espirituais costumavam brincar entre si. Em algumas
ocasiões, os devotos arrancavam alguma prasadam do prato de outro, ou
dava alguma prasadam a outro por saber que era sua favorita. Tudo isso
acontecia na frente de Srila Prabhupada, o qual parecia muito satisfeito ao
ver seus discípulos tomando prasadam de forma tão feliz.
A vida em um templo deve estar envolvida por um ambiente de
muita harmonia e felicidade. O processo na consciência de Krishna é para
transformar as pessoas que estão dispostas a vivenciar uma experiência
completamente diferente do vivenciado no mundo comum e corrente.
Todos que vivem dentro do Math são pessoas muito especiais, por que de
uma maneira ou outra, tem se sacrificado muito para entregar tudo para o
Supremo. Essa segurança propicia uma felicidade substanciada em um
ideal elevado.
Ninguém gostaria de viver em um templo, onde não existisse um
clima propício para as suas práticas pessoais e executar um serviço sob a
guia dos vaisnavas. Afinal de contas, em um dado momento, os devotos
internos abandonaram suas atividades, seus familiares e decidiram
completamente seu ponto de vista em relação ao mundo que acabaram de
abandonar. Eles precisam verificar por meio de sua própria experiência
que a vida em comunidade é possível e mais do que isso, ela deve ser
prazerosa e agradável.
Esse ambiente deve proporcionar todos os meios para que a
satisfação seja parte da vida de todos. Claro, é bem-sabido que uma vida
em comunidade requer muita tolerância e perseverança da parte dos
integrantes do Math. Que tudo não será um mar de rosas, e os obstáculos
surgiram de forma natural para testar a sinceridade dos mesmos. Tudo isso
faz parte do processo purificatório de todos que aspiram uma elevação
espiritual em suas vidas. Mas mesmo assim a felicidade e satisfação
devem estar presentes no convívio mútuo de todos os integrantes residem
em um templo. Krishna diz no Bhagavat Gita (2.9):
rāja-vidyā rāja-guhyaṁ
pavitram idam uttamam
pratyakṣāvagamaṁ
dharmyaṁ susukhaṁ
kartum avyayam
Capítulo 12
Kirtana
Srila Prabhupada Bhaktisidhanta Sarasvati Thakur apreciava
basteante um kirtana (musica, canto) devocional. Ele pedia a Guru
Maharaj que cantasse com freqüência. Na realidade, pedia para Gurudeva
cantar kirtan em todos os festivais vaisnavas, grandes encontros e em
ocasiões especiais, por exemplo no festival de Ratha-yatra em Jagannatha
Puri, ou durante o Vraja-mandal-parikrama (peregrinação por Vrindavan,
a cidade de Krishna). Entre outros cantores de kirtana que agradavam a
Srila Prabhupada, estavam Srila Vivek Bharati Maharaj, Sri Svadhikara-
nanda das Brahmacary (Krisnadas Babaji Maharaj) e Sri Radharaman
Brahmacary ( Srila Bhakti Kumud Santa Maharaj).
Por volta de 1930, Srila Prabhupada instruiu aos seus discípulos
para pregarem a mensagem de Mahaprabhu na rádio. Então, todo domingo
Hari-katha e kirtana eram transmitidos pela Indian Broadcasting Service
de Calcutá. Entre aqueles que foram pioneiros em dar Hari-katha na rádio,
estavam Srila Bhakti Hrday Bon Maharaj e Srila Sundarananda
Vidyavinodi Prabhu. Om Visnu pada Srila Bhakti Promode Puri Gosvami
Maharaj cantava a coleção de versos intitulada “Gopinatha-Vijnapati” de
Srila Bhaktivinoda Thakur.
O kirtana é um processo para a emancipação da alma. Deve ser
executado para alcançar o coração, nunca deve ser superficial. Não
podemos aceitar um canto que seja para os nossos ouvidos e sentidos. Não
podemos conceber que ele esteja somente imbuído com uma melodia e que
não passe de um som físico. Isso não seria o verdadeiro kirtana, seria
apenas um kirtana aparente, sem substância, longe de ser algo que vai
mudar nossa concepção mundana e nos lançar nas ondas do sabda
brahman (som espiritual). Srila Guru Maharaj era um cantor de voz
celestial, e além disso, praticava regularmente o canto do Santo Nome e
estava absorto no verdadeiro bhajana (canto introspectivo) interno, que é a
fonte capaz de nutrir espiritualmente nosso ser. O kirtana deve ser
exclusivo, sem nenhum outro desejo de satisfazer nenhum outro objetivo,
a não ser o desejo de agradar a fonte de toda a bem-aventurança, que é Sri
Krishna. Realizar kirtana, entendendo que nossa única esperança repousa
em uma prática sincera. No Brihad Naradiya Purana encontramos:
Harer nama harer nama
harer namaiva kevalam
kalau nasty eva nasty
eva nasty eva gatir
anyatha
“Para o progresso espiritual nessa era de kali, não existe alternativa,
não existe alternativa, não existe alternativa, a não ser o canto do
Santo Nome, o canto do Santo Nome e canto do Santo Nome”.
E mais adiante no Caitanya-caritamrta (Antya 15.24) aparece:
Harse prabhu karena- suna svarupa-rama-
raya nama-sankirtana -kalau parama upaya
Capítulo 13
UM ATAQUE SANGUINÁRIO
A pregação de Prabhupada Bhaktisiddhanta desde sempre estava
incomodando muito os Goswamis (uma classe de sacerdotes) de casta (que
defendiam a manutenção de privilégios baseado no nascimento e não no
mérito com é a tradição Vaisnava), que muito antes mesmo de um conflito
iminente, já haviam demonstrado insatisfação com os conceitos que Srila
Bhaktivinoda Thakura vinha propondo, e que agora Prabhupada já estava
estabelecendo. Mesmo quando vivia em Mayapur e praticava seu bhajana
quase solitário, muito antes de iniciar seu movimento de pregação, Srila
Prabhupada pregava atacando as apa-sampradaya (falsa sucessão
discipular) por enganar as pessoas com Gurus falsos, suas interpretações
erradas das escrituras, práticas desviadas e mal encaminhamento das
pessoas de uma maneira em geral. Ele praticamente tinha agitado os
smarta-brahmanas (classe de sacerdotes mais ortodoxos) e Goswamis de
casta (outra classe de sacerdotes), por insistir que a posição de um
brahmana (sacerdote que está no primeiro plano dentro da sociedade
védica, indiana) e o posto de um Guru não eram profissões hereditárias
(como defendiam os opositores buscando manter prestígio e garantir
conforto).
Semelhantes afirmações se tornavam intoleráveis para os smarta-
brahmanas e os Goswamis de casta, mantendo estrangulado o Hinduísmo
na Bengala (estado da Índia tradicional para os Gaudiya Vaisnavas) por
manter o conceito de que apenas as pessoas nascidas em família de
linhagem brahminica poderiam ser considerados Gurus ou brahmanas
genuínos. Obviamente não estavam muito satisfeitos com essas novas
ideias que iam contra os interesses fortemente instituídos por uma tradição
baseada no engano. Eles sentiam uma ameaça iminente contra seus
próprios interesses e em um manifesto, argumentavam de maneira nada
devocional, tentando refutar a verdade.
Entre os pontos defendidos pelos opositores de Bhaktisiddhanta
podemos citar:
- A menos que alguém nasça em uma família brahminica, os vaisnavas são
incapacitados para adorar Salagrama-sila (Deidade automanifesta de
Krishna na forma de pedras) e conferir iniciação (e se tornar um Guru).
- Por aceitar discípulos, Narottama dasa Thakura e Syamananda Prabhu
(dois grandes e maravilhosos devotos da época posterior a Mahaprabhu)
tinham então contrariado o sastra (escritura);
- Caitanya Mahaprabhu deu de presente uma Govardhana-sila a
Raghunatha Dasa Goswami porque ele de família sudra (da classe mais
baixa da sociedade, inferior aos brahmanas, os sacerdotes) e assim sendo,
incapaz de adorar Salagrama-sila;
- Adorar a Govardhana-sila é apenas sentimentalismo e não é baseado em
argumentos das escrituras;
- Somente as injunções do Hari-bhakti-vilasa que não contradizem aos
smrtis deveriam ser seguidas.
80
Desafiando a hegemonia professada pelos Gosvamis, Srila
Prabhupada Bhaktisiddanta novamente marchou com força para Kuliya
com mais ou menos setecentos seguidores, incluindo muitas mulheres,
acompanhado das pequenas Deidades de Sri Radha-Govinda, que eram
transportadas em cima de um elefante. Num determinado momento Srila
Prabhupada daria uma palestra. E logo depois que os peregrinos chegaram,
uma gangue de malfeitores começaram a ameaçar os peregrinos com
pedras, cascalhos e paus tentando parar o kirtana. Os Goswamis de casta
estavam tentando incentivar a briga entre os grupos, mas os peregrinos
mantiveram a calma e evitaram o conflito.
Considerando que o parikrama (peregrinação) não estava completo
porque não havia tido a oportunidade de escutar os passatempos de
Mahaprabhu conectados com o local, no dia seguinte, mais ou menos
duzentos peregrinos, na maioria homens retornaram ao local onde tinham
sido ameaçado anteriormente. Enquanto Srila Tirtha Maharaj tinha
começado uma aula, uma gangue de malfeitores apareceu inesperadamente
e começou a lançar tijolos nos peregrinos e na tromba do elefante que
carregava a Deidade.
Os peregrinos tentaram convencer os agressores que desistissem
dessa atrocidade e para surpresa de todos, os criminosos foram embora.
Mas minutos depois, eles retornaram armados com longos pedaços de pau,
os quais eles já tinham deixado preparados perto das lojas. Os peregrinos
indefesos desceram rapidamente as Deidades para junto de si, pensando
que com isso pudessem sensibilizar os ânimos dos agressores, devido à
presença de suas senhorias. Então, um homem muito rico de Navadwip,
desceu do carro com seus guarda-costas e gritando ordenou que se
atirassem tijolos de cima do telhado nos devotos que estavam cercados. Os
peregrinos tentavam fugir e se esconder na casa dos grhasthas (chefes de
família), mas estes mantinham as portas de suas casas fechadas.
Alguns poucos valentes chefes de família deram refúgio aos
devotos, e suas portas foram golpeadas e chutadas. Alguns devotos
conseguiram escapar por algumas vielas e becos da cidade. Aqueles que
suplicavam para os cocheiros que os levassem embora do ataque, eram
desprezados e se tornavam mais assustados observando as carroças
puxadas pelos cavalos carregadas com pedras que serviam como munição
para o massacre que parecia iminente.
Os poucos devotos que tentavam lutar, estavam cercados e eram
em minoria. Bhakti Saranga Prabhu foi capturado e permaneceu sem medo
algum - depois ele declarou, que até pensou que poderia ser oferecido em
um sacrifício humano em algum local. Poucos devotos sofreram
ferimentos e fraturas , um devoto ficou caído inconsciente, mrdangas
(tambores) foram quebradas e banners destruídos. Srila Guru Maharaj foi
ferido na cabeça e sangrou profusamente. Apesar das ruas de Navadvipa
terem ficado manchadas com o sangue dos vaisnavas, pela misericórdia do
Senhor Nrsimhadeva ninguém saiu mortalmente ferido.
Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta Sarasvati conseguiu escapar
devido a astúcia de Vinoda Bihari Brahmacary, o qual implorou para um
chefe de família para que pudesse dar abrigo a Srila Prabhupada. Vinoda
Bihari, tendo uma aparência similar e também possuindo quase o mesmo
porte de Srila Prabhupada, trocou de roupas com seu gurudeva, vestindo as
suas roupas vermelhas e correndo um grande risco por escoltar a Srila
Prabhupada de volta a Mayapur.
Depois desse episódio, alguns moradores do local, o qual eram
simpatizantes da causa, revelaram que o ataque foi previamente
arquitetado pelos Goswamis de casta que haviam preparado previamente
todos esses atos de terror contra os pacíficos peregrinos que estavam
ocupados em cantar harinama na terra sagrada. O público ficou chocado
com todos esses acontecimentos e todos se tornaram muito favoráveis a
Gaudiya Math e a peregrinação continuou sobre forte proteção policial.
As notícias do ataque se espalharam através da Bengala, e os
círculos acadêmicos protestaram em revistas e jornais e demais meios de
comunicação. Quando sugeriram a Srila Prabhupada que tomasse as
providências legais contra os agressores, o mesmo declinou a esse pedido,
opinando que os malfeitores tinham feito um grande serviço. Porque, de
uma ou outra forma, como poderia a Gaudiya Math ter tirado tanto
proveito desse acontecimento sendo notícia na primeira página de todos os
jornais.
Capítulo 14
UMA ASSOCIAÇÃO MUITO ÍNTIMA
Por muito tempo, Srila Guru Maharaj esteve no Templo Bagbazar
Gaudiya Math, em Calcutá, dando Hari-katha, editando e escrevendo para
a Gaudiya e para vários livros além de supervisionar a impressão do
material para pregação. Mas, sempre que Srila Prabhupada Bhatisiddhanta
Sarasvati Thakur pedia, Srila Gurudeva o acompanhava em suas viagens.
Nesses momentos, Srila Prabhupada expressava seus sentimentos a
respeito de como estava se desenvolvendo a missão em diferentes locais e
também os seus desejos para o futuro. Muitos aspectos dos seus conceitos
internos, eram revelados a cada momento.
Como de costume, Srila Gurudeva tomava notas dessas palavras e
escrevia a respeito delas. Na Gaudiya Math, em um dado momento, Srila
Prabhupada começou a manifestar seus passatempos de doença. Muitos
doutores vieram cuidar dele e instruíam que deveria falar o menos
possível. Quando perguntavam como estava, Srila Prabhupada costumava
dizer que seu único problema era que não estavam permitindo a ele
realizar Hari kirtan.
Srila Prabhupada disse aos devotos que estavam ali reunidos “que
uma pessoa não deveria fazer muitos discípulos. Eu não tenho feito
nenhum discípulo. Ele são todos meus gurus. Eu tenho aprendido muita
coisa de todos eles. Que eu possa ter a oportunidade de seguir o exemplo
de sua devoção pura. Essa é minha oração.” Logo depois disso, Srila
Prabhupada deu sua instrução final a todos os devotos ali reunidos.
Novamente Srila Guru Maharaj tomava notas de tudo o que Prabhupada
dizia. Dias depois, Srila Prabhupada continuava mostrando seus
passatempos de enfermidade. Nesse momento, ele estava continuamente
cantando e meditando.
Um dia ele estava sentado sozinho em seu quarto, quando
Gurudeva entrou ali. Ele ofereceu suas reverências a Srila Prabhupada.
Então ele abraçou os pés de lótus de Srila Prabhupada contra o seu peito.
Com lágrimas em seus olhos, ele implorou a Srila Prabhupda, “
Prabhupada, eu não tenho boas qualidades. Eu tenho cometido muitas
ofensas a seus pés de lótus. Por favor, perdoa-me, e derrama sobre mim
sua misericórdia. Por favor, dê-me o refúgio de seus pés de lótus. Sem sua
misericórdia, eu não tenho esperança. Então, sua voz estava sufocada com
emoção”.
Escutando isso, Srila Prabhupada também começou a chorar.Sri
Kunjavihari Prabhu fez uma lista de devotos que poderiam estar ali
presentes estar com Srila Prabhupada a cada hora do dia e noite. Entre
aqueles que estavam incumbidos de realizar esse serviço, estavam Srila
Bhakti Raksak Srila Sridhara Maharaj, Guru Maharaj (na época
Pranavananda Brahmacary), Sri Krisnananda Brahmacary e Sri Teoyari
Mohan Brahmacary. Srila Gurudeva depois escreveu em seu diário: “Eu
estarei eternamente endividado com Sripad Kunjavihari Prabhu por dar-me
a oportunidade de servir a Srila Prabhupada quando ele estava
manifestando seus passatempos de enfermidade.”
Na manhã do dia 31 de Dezembro, de 1936, Srila Prabhupada
pediu a Srila Sridhara Maharaj que cantasse a canção sri rupa-manjari-
pada sei mora sampada de Srila Narottama Das Thakura. Srila Gurudeva
sempre relembrava esse incidente, “Srila Sridhara Maharaj hesitou, então
Kunjavihari Prabhu pediu-me para cantar essa canção, mas Srila
Prabhupada não desejava que eu cantasse a canção. Ele desejava que Srila
Sridhara Maharaj cantasse. Por pedir a Srila Sridhara Maharaj para cantar
sri-rupa-manjari-pada, ele nos deu a clara indicação da alta posição de
Srila Sridhara Maharaj”. Ele repetiu essa história muitas vezes. Então
Srila Prabhupada expressou sua apreciação para alguns discípulos pelos
seus serviços e deu algumas instruções para o futuro.
Logo depois ele disse a todos que estavam reunidos: “todos aqui
presentes, e bem como todos os ausentes, por favor aceitem minhas
bênçãos. Por favor relembrem que nosso único dever e religião é propagar
o serviço do Senhor e Seus devotos.” Por volta das 5:20am, Srila Guru
Maharaj estava ao lado da cama de Srila Prabhupada. Repentinamente
Srila Prabhupada entrou em profunda meditação e disse, “quem está
aqui?” Srila Gurudeva disse: “sou eu, Pranavananda, Prabhupada.” Srila
Prabhpada disse, “ Ó Pranavananda Prabhu?” Srila Gurudeva perguntou a
ele, “como o senhor está se sentindo, Prabhupada?” Prabhupada disse, “o
que eu posso dizer? Hare Krishna, Hare Krishna!” Essas foram suas
últimas palavras. O próximo devoto que estava com a responsabilidade de
cuidar de Srila Prabhupada, era Krsnananda Prabhu. Srila Gurudeva foi de
volta para o seu quarto. Ele sentou ali pensativo, “Será que Srila
Prabhupada estará nos deixando agora?
O que podemos esperar se ele nos deixar agora? O que eu vou
fazer?” Seus pensamentos foram interrompidos pelo som de passos de
Sripad Krsnananda Prabhu. Ele disse, “venha rapidamente, eu penso que o
grande desastre já aconteceu”. Então, se escutava um som de choro e
lamentação por toda a Gaudiya Matha, e espantosamente todos os relógios
da Matha pararam imediatamente. Às 5:30am em uma quinta-feira,
primeiro de Janeiro, de 1937, Srila Prabhupada deixou este mundo
material para entrar nos seus passatempos eternos de Sri Sri Radha-
Govinda nisanta-lila. Todos os devotos estavam se lamentando muito,
caindo no solo e gritando “Jay Prabhupada”.
Os devotos começaram a praticar os ritos védicos com muito
cuidado e o levaram para a estação de trem no meio de um sankirtan com
milhares de pessoas. Um trem especial foi arranjado para que Srila
Prabhupada fosse levado a Mayapur. Eles decidiram fazer o samadhi de
Srila Prabhupada entre a Sri Caitanya Matha e Sri Bhakti Vijay Bhavan.
Srila Prabhupada foi banhado com água do Ganges, vestido com roupas
novas e decorado com pasta de sândalo. Srila Bhakti Pradipa Tirtha
Maharaj escreveu o samadhi com polpa de sândalo.
Os devotos estavam cantando sua canções favoritas, Sri Rupa
Manjari Pada, Svananda-sukhada-kunja manohara, e Yasomati
Nandana. Srila Sridhara Maharaj e Srila Guru Maharaj fizeram o
sacrifício de fogo. Srila Bharati Maharaj leu o desaparecimento de Srila
Haridasa Thakur do Sri Caitanya Caritamrta e os devotos circumbalaram o
samadhi cantando Je Anilo Prema Dhana.. e Gurudev, krpa bindu diya...
Então eles cantaram o pranama mantra de Srila Prabhupada.
Seria impossível pensar em Srila Puri Maharaj sem pensar em Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur. Os dois estão tão intimamente
conectados que pensar em um, significa automaticamente se conectar com
o outro. Por isso em muitas ocasiões Srila Gurudeva quando queria se
referir a Srila Prabhupada, o fazia em tom muito confidencial, ele dizia:
“Vocês não conhecem meu Srila Prabhupada”. E essa expressão indica que
temos muito a conhecer sobre essa grande personalidade do vaisnavismo.
Porque tudo o que temos hoje no vaisnavismo foi projetado por Srila
Bhaktivinoda Thakur e aplicado por Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta.
Srila Bhaktivinoda Thakura orou muito para que o Senhor Krsna lhe
enviasse um filho que fosse capaz de ajudá-lo a difundir os preceitos do
vaisnavismo de forma pura.
Depois de alguns anos do desaparecimento de Sri Caitanya
Mahaprabhu, o vaisnavismo caiu em um ostracismo e poucas pessoas
tinham acesso aos preceitos Gaudiya Vaisnavas amplamente. Em um
sonho, o Senhor Jagannatha revelou a Srila Bhaktivinoda Thakura que lhe
enviaria ajuda para que pudesse colocar em prática todos os seus planos de
difundir o vaisnavismo, como ele havia arquitetado.
Srila Prabhupada teve um nascimento muito auspicioso, tanto foi
assim, que o cordão umbilical ficou enredado em seu pescoço, assim como
o cordão brahminico está colocado em um sacerdote védico. Sua carta
astrológica mostrava todos os sintomas de uma grande personalidade que
se tornaria famoso no mundo todo como um grande professor do objetivo
último da vida.
Quando ele tinha apenas cinco anos de idade, durante o festival
anual do Senhor Jagannatha, que é levado em procissão por um percurso
de mais ou menos cinco horas, deteve-se por três dias em frente a casa de
Srila Bhaktivinoda Thakur , que aproveitando o ensejo, pediu a sua esposa
pra levar o seu filho para frente do carro e o colocou aos pés do Senhor
Jagannatha, imediatamente, o Senhor reciprocou, deixando cair uma
guirlanda de flores de seu pescoço e somente depois disso o carro pode
finalmente seguir o seu trajeto.
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kibā vipra, kibā nyāsī, śūdra kene naya
yei kṛṣṇa-tattva-vettā, sei 'guru' haya
“Nessa era de kali não existe outro princípio religioso do que o canto
do Santo Nome, o qual é a essência de todos os mantras védicos, esse é
o objetivo de todas as escrituras.”
Capítulo 16
UM DARSAN MUITO ESPECIAL
Quando Srila Guru Maharaj estava pregando junto com seu irmão
espiritual Srila Bhakti Hrday Bon Maharaj em Calcutá, uma senhora idosa,
que frequentemente assistia as suas aulas, o convidou para ir a visitar a sua
casa. Srila Gurudeva disse a ela de forma muito humilde: “Mãe, nós somos
sannyasis e brahmacarys, não podemos ir a sua casa, a menos que seja
para dar Hari-katha”. A senhora replicou: “Eu tenho minha Deidade de
Krishna e necessito que vocês venham a minha casa para adorar a Deidade
e dar Hari-katha.”
Sendo assim, com satisfação aceitaram o convite. Quando
chegaram a sua casa, a senhora pediu que Gurudeva adorasse a Deidade.
Guru Maharaj ficou emocionado com a beleza da Deidade. Esta Deidade
não tinha nome então ele a chamou de “Sri Gopinath”. Gurudeva ofereceu
folhas de Tulasi (uma planta sagrada para os Vaisnavas) para a Deidade e
posteriormente a adoração, Gurudeva cantou belamente um kirtana para o
prazer de Sri Gopinath.
Um dia Srila Guru Maharaj estava escrevendo um artigo em seu
quarto, quando a mesma senhora idosa veio vê-lo. Ela disse que um sonho
a sua Deidade (Sri Gopinath) havia lhe dito que gostaria de ser adorada por
ele. Gurudeva ficou muito surpreso ao escutar aquilo. Ele perguntou a
senhora se era verdade o que ela estava dizendo. Ela respondeu que sim,
que era verdade, que jurava por sua própria vida que tudo era verdade.
Gurudeva ficou muito ansioso para adorar a Deidade, mas a senhora disse
que a Deidade deveria ser adorada em uma casa de família.
No entanto por um arranjo, a mãe de Gurudeva, Srimati
Ramrangini Devi, era muito devocional e apegada a adoração à Deidade.
Ela e seu irmão Nani Gopal estavam muito felizes em receber a Deidade
de Gopinath. Depois de adorar a Sri Gopinath com todo o seu coração por
poucos dias, Srila Gurudeva decidiu voltar para o Bagbazar da Gaudiya
Math (o principal templo de Bhaktisiddhanta, localizado em Calcutá). Sua
piedosa família, com muita devoção mantinha a adoração a Sri Gopinath
todos os dias. Todos do vilarejo eram convidados para a adoração e
sentiam-se muito atraídos pela Deidade de Gopinath.
A casa passou a ficar famosa pelo nome de “a casa de Gopinath.”
Nesse momento, Srila Guru Maharaj continuou a fazer o seu serviço no
Bagbazar Gaudiya Math novamente. Mas por causa de alguma umas
situações que eles via como corretas e que demonstravam a pureza de seu
Gurudeva, ele decidiu sair do templo outra vez.
A adoração à Deidade sempre esteve presente em sua vida, desde
sua infância, realizou passatempos maravilhosos relacionado a Deidades e
por toda sua existência o gosto por arcana (adoração) o seguia a cada
instante. Como nesse incidente supracitado, em que a Deidade através de
um sonho quis ser adorada por Gururdeva e acabou se instalando na casa
de sua piedosa família. No Srimad Bhagavatam (12.3.52) :
kṛte yad dhyāyato
viṣṇuṁ tretāyāṁ
yajato makhaiḥ dvāpare
paricaryāyāṁ kalau
tad dhari-kīrtanāt
“O método de adorar a Deus em Satya-yuga (primeira era) era através
da meditação, em Treta-yuga (segunda era) através de sacrifícios, em
Dvapara-yuga (terceira era) pela adoração à Deidade e em Kali-yuga
(quarta era, a atual) pelo canto do Santo Nome”.
Levando-se em conta que as escrituras nos recomendam em Kali-
yuga o processo para alcançar a perfeição como sendo o canto do Santo
Nome e que a adoração a Deidade seja um processo praticado em outra
era, sabe-se que a adoração á Deidade é de suma importância para o
sadhaka (praticante). Uma vez que em Kali-yuga, todos os habitantes da
era possuem mente perturbada e sentidos descontrolados, a adoração da
murti (Deidade) torna-se uma prática poderosa para os adeptos da bhakti
yoga, principalmente nos estágios preliminares da devoção. Sabemos que
o canto é tudo em Kali-yuga: Nama vinu kali kale nahi ara dharma (Não
existe outro dever em Kali-yuga a não ser cantar o Santo Nome).
E também está dito que nava vidha bhakti purna nama haite haya
(Por praticar o canto do Santo Nome, todos os nove processos principais
da pratica do bhakti são automaticamente satisfeitos). Ou seja, por cantar o
Santo Nome é como se já estivéssemos adorando a Deidade. E também no
famoso verso do Caytania-caritamrta (Adi-lila,7.76):
harer nāma eva kevalam
kalau nāsty eva nāsty
eva nāsty eva gatir
anyathā
“Aquele que aceita em sua mente a vara do castigo para sua fala, é
conhecido como tridandi; aquele que aceitou os três tipos de vara do
castigo.”
100
“porque ele está falando em engano? Onde está o engano aí? Todos foram
convidados, todos vieram ao templo e agora estavam indo embora, sendo
assim, porque haveriam de enganá-lo?”
Nesse momento, Srila Prabhupada disse: “todos vocês vem ao
templo com o entendimento de que iam se ocupar no serviço ao Supremo e
então eu me dediquei a criar uma relação com vocês. E agora apenas como
uma moda vocês assistiram a cerimônia e estão indo para suas casas se
ocuparem em afazeres mundanos. Vocês poderiam dizer que
primeiramente tem que terminar seus próprios afazeres, e depois poderiam
vir ao templo para se ocuparem nas práticas devocionais. Mas não! Não
deve ser assim. Se vocês me dizem que é necessário apagar um pequeno
incêndio primeiramente e depois virão aqui para se ocupar, eu digo que
isso não é necessário. Eu afirmo que se fogo queimar o mundo todo, você
não perderá nada. Mas ao contrário, vocês estariam salvos se puderem se
desconectar de tudo isso que estão queimando. Todos os engajamentos
positivos, suas buscas e desejos serão correspondidos na busca de Sri
Krsna. Todas as suas buscas e necessidades serão satisfeitas no serviço aos
pés de lótus de Sri Krsna e nada mais.”
Srila Sridhara Maharaj estava completamente atônito com tudo o
que havia escutado, ele conta que nunca havia visto ninguém nesse mundo
que fosse tão apegado a Hari bhajana, e assim, decidiu que seria seu
discípulo.Tão logo Srila Sridhara Maharaj foi viver na Matha, se
envolveu com os programas de pregação e depois de três anos foi indicado
para tomar sannyasa. Foi um experto pregador e considerado logo depois
como o general dos sannyasis. De uma forma ou outra todos viam tomar
seu refúgio, devido a seu amplo conhecimento das escrituras e suas
profundas realizações espirituais.
Já mencionamos o passatempo em que Srila Prabhupada
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur estava manifestando os seus
passatempos de enfermidade, mandou Srila Sridhara Maharaj cantar Sri
Rupa Manjari Pada de Srila Rupa Gosvami, mas como ele não estava
acostumado a liderar os kirtanas, ficou um pouco ansioso e então outro
devoto pediu a um brahmacary que cantasse, mas logo Srila Prabhupada
protestou dizendo que não queria escutar a melodia - isso pode ser
entendido que ele estava dando ingresso a sessão Radha Seva (o mais
elevado dentro do Vaisnavismo, o serviço a Sri Radharani, a querida de
Krishna).
Um ano antes, ele havia composto um poema em sânscrito que
glorificava a Srila Bhaktivinoda Thakura e Srila Prabhupada ficou muito
feliz com isso. E disse que o poema era de um estilo muito fino, e
acrescentou a dizendo a Sripad Srauti Maharaj que “esse poema é tão
apurado que eu não acredito que tenha sido escrito por ele, e sim pelo
próprio Bhaktivinoda Thakur”. E também disse a Sriyukta Aprakrta
Prabhu que “estou tão satisfeito com esse poema, que posso dizer que
permanecerei presente através do siddhanta (conclusão filosófica)
apresentado nele.” (indicando que seu discípulo manteria a chama de seu
Guru acesa mesmo após sua partida).
Srila Sridhara Maharaj foi nomeado por Srila Bhaktisiddhanta
como shastra nipuna, ou seja, aquele que é perito em entender os
significados profundos das escrituras.Desafortunadamente, depois da
partida de Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta, muitos conflitos surgiram e
Srila Sridhara Maharaj resolveu deixar a missão e tentou se esconder em
um bhajana kutir (cabana simples) e viver anonimamente. Isso não foi tão
fácil, porque muitos dos seus irmãos espirituais o buscavam para tomar
refúgio. Dessa maneira, muitas pessoas foram chegando e naturalmente
sua influência foi naturalmente estabelecida entre os Gaudiya Vaisnavas.
Sua própria missão foi estabelecida sem que ele precisasse se
mover. As pessoas foram chegando de todos os lados e Srila Sridhara
Maharaj se tornou um dos mais famosos expoentes do Gaudiya
vaisnavismo. A relação entre Srila Sridhara Maharaj e Srila Guru
Maharaja, foi sempre marcada por uma profunda comunhão e intercâmbio
de experiências devocionais. Sempre que se celebrava o Vyasapuja
(aniversário do Guru) de Srila Sridhara Maharaj, Srila Gurudeva se
deslocava para o templo de Srila Sridhara Maharaj para prestar seus
respeitos a essa grande personalidade.
E foi assim também que Gurudeva foi aos poucos se tornando
conhecido por alguns discípulos de Swami Bhaktivedanta Maharaj
Prabhupada, os quais seguindo suas instruções, haviam tomado refúgio em
Srila Sridhara Maharaj, porque uma vez Srila A.C. Bhaktivedanta Swami
Maharaj Prabhupada havia dito que para assuntos filosóficos, os seus
discípulos deveriam buscar refúgio em Srila Sridhara Maharaj, o qual ele
mesmo considerava como seu siksa guru ( guru instrutor). Alguns dias
antes da partida de Srila Sridhara Maharaj do planeta, Srila Guru Maharaj
chegou ao seu ashram e depois realizou os ritos funerários que eram
apropriados a semelhante personalidade de tamanha amplitude espiritual.
A relação existente entre esses dois Acaryas emanava entre eles um
profundo respeito e admiração mútua. Quando os dois se encontravam,
compartilhavam experiências transcendentais de um plano completamente
diferente ao nosso. A viagem interna que guiava as suas consciências o
levavam sempre a interiorizar todos os assuntos que lhe chegavam
automaticamente. Profundamente inspirados no ideal do amor divino, estas
duas grandes personalidades foram grandes baluartes da devoção que
inspiraram a todos aqueles que se aproximaram com o intuito de receber
instrução espiritual. A inveja nunca pode se aproximar dessa linda relação,
que sempre foi estabelecida de coração para coração, sem nenhuma
duplicidade ou hipocrisia. Essa grande manifestação de amizade entre
esses dois grandes Acaryas consolidou para sempre em nossas
consciências o ideal de vaisnavismo puro.
Capítulo 18
O TRABALHO DE PREGAÇÃO
Entre o período de 1941 a 1947, Om Visnupada Srila Bhakti
Promode Puri Gosvami Maharaj viajou pela Bengala e por muitos outros
locais em toda a Índia. Isso pode ser confirmado pelas memórias escritas
por seus irmãos espirituais, seus discípulos e também em seu próprio
diário. Sem nenhum pensamento de formar discípulos ou de estabelecer a
sua própria missão, ou mesmo obter algo de nome, fama ou
reconhecimento, ele e seus muitos irmãos espirituais pregaram a
mensagem de Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta incessantemente e de
forma muito intensa.
Srila Guru Maharaj foi a muitos locais com seus irmãos espirituais,
sem ficarem em um local específico por muito tempo. Estava sempre
viajando por várias Gaudiya Mathas por toda a Bengala, continuando com
suas leituras, escritos e pregações onde quer que fosse. Esteve no Triveni
(a confluência do Ganges, Yamuna e Sarasvati, que são rios muito
sagrados), por um ano. Também visitou em Uddharan Gaudiya Matha em
Chuchura.
Dali novamente saiu para pregar extensivamente para a rica
comunidade local que era conhecida como os ourives de Chuchura.
Impressionados pelo seu Hari-katha, muitos deles vieram a abraçar o
vaisnavismo. O resultado dessa constante peregrinação e absorção na
pregação rendeu muitos frutos que podem ser sentidos inclusive nos dias
atuais pelo engajamento de gerações que se conectaram com o serviço
devocional de uma forma ou outra.
A missão de Sri Caitanya Mahaprabhu, representada por Srila
Bhaktivinoda Thakura e Srila Prabhupada Sarasvati Thakura estava sendo
reformulada e uma aplicação prática era estabelecida - com isso vários
campos de oposição também surgiam como uma resposta natural a forte
onda que a Gaudiya Matha vinha propondo.
Srila Prabhupada havia declarado formalmente uma guerra contra
maya e automaticamente isso incluía a adesão voluntária dos seus
discípulos mais íntimos. Depois de sua partida, os mesmos estavam
assumido a responsabilidade de levar a cabo as instruções do seu divino
mestre. Esse apego ao aspecto vani (instruções) do guru sempre demonstra
um grau elevado de maturidade espiritual do discípulo.
Apesar do aspecto vapu (forma pessoal) do guru não ser predominante no
vaisnavismo, os discípulos sempre sentirão o apoio na presença física do
guru que remarca com muito vigor a aplicação prática das suas instruções.
Nesse contexto, Srila Guru Maharaj junto com seus irmãos espirituais
estavam demonstrando na prática, sendo fiéis seguidores na missão de
propagação da consciência de Krishna. No verso supremamente famoso
do Caitanya-Bhagavata (Antya-khanda 4.126) encontramos:
Capítulo 19
ACEITANDO SANNYASA
Capítulo 20
OUTROS ACONTECIMENTOS
Logo depois que Srila Guru Maharaja aceitou sannyasi, seu irmão
espiritual Srila Bhakti Vilas Tirtha Maharaj convidou-o a se unir ao Math
do Yogapith (Sri Caitanya Math, onde nasceu Sriman Mahaprabhu,
Bengala/Índia) para que se encarregasse da adoração ali. Regularmente
também dava aulas. Nesse momento, Srila Tirtha Maharaj estava
publicando uma revista mensal e fez de Gurudeva o editor.
Srila Gurudeva tinha o costume de ir a Ganganandapur visitar as
Deidades de Sri Gopinatha e Sri Radha Vallabh, que estavam sendo
adoradas por sua família. E frenquentemente tinha costume de adorar as
Deidades pessoalmente. Podemos ver a extrema devoção que Srila
Gurudeva tinha pela adoração à Deidade, por estar sempre engajado em
escrever tópicos relacionados com Krishna e por dar Hari-katha. Estas
atividades foram por ele mantidas até o final de sua vida.
Mesmo quando tinha por volta dos cem anos, foi cogitado por ele
realizar uma cirurgia para tratar uma catarata que possuía, porque era seu
desejo veemente continuar escrevendo. Alguns devotos relatam que
quando Srila Gurudeva estava enfermo e com idade bastante avançada,
muitos vaisnavas se aproximaram de para tomar refúgio nele. Podia
acontecer que, em algum momento, quando algum devoto fazia uma
pergunta, ele começava a falar Hari-katha e não conseguia mais parar.
Essa era a sua disposição, se exaltava e não conseguia mais parar
de falar sobre Krishna. Sendo assim, os seus servos pessoais pediam para
os devotos saírem do quarto para que Gurudeva pudesse descansar. Sua
vida inteira foi uma profunda absorção em adorar e cantar, servir a causa
suprema com toda a sua energia e disponibilizando sua vida para esse
único propósito.
Sua incomparável humildade sempre o levou a colaborar com seus
irmãos espirituais em seus projetos de pregação. Ele estava expressando
em seu comportamento as principais atividades do serviço em devoção.
Inteiramente comprometido com um alto nível de prática, Gurudeva foi a
expressão viva do sadhana (disciplina pessoal) aliado a pregação. O
Caitanya Caritamrta ( Madhya-lila,22.128 ) nos ensina sobre as atividades
essenciais e o humor da pregação ( Adi-Lila,4.41) respectivamente :
sādhu-saṅga, nāma-kīrtana, bhāgavata-śravaṇa
Mathurā-vāsa, śrī-mūrtira śraddhāya sevana
120
Deidade chamava-se “Sri-Sri Ananta-Vasudeva, também conhecida como
Vaikunthanath.” Não havia menção de Goloknath ali. E Srila Gurudeva
alegrou-se muito com esse nome pois lhe recordava o famoso verso do Sri
Brahma-samhita (5.37):
ānanda-cinmaya-rasa-pratibhāvitābhis
tābhir ya eva nija-rūpatayā kalābhiḥ
goloka eva nivasaty akhilātma-bhūto
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ
bhajāmi
Somente um devoto desse calibre pode ter uma relação tão íntima
com a Deidade, ao ponto da mesma se manifestar em sua vida, trocando
sentimentos internos relacionados com a devoção. Sentindo a presença
divina em todas as partes e percebendo que a vida deve ser uma completa
entrega à vontade do Supremo, Gurudeva podia sentir nos mínimos
detalhes a transcendência tomando conta de sua relação com a Sri Murti
(Deidade), sabendo que cada ação envolve uma troca profunda de
sentimentos sobrecarregados de muita emoção.
Aos olhos das pessoas comuns, a Deidade é estática, não pode
realizar nenhum movimento, mas para as grandes almas, que não
conseguem deixar de sentir a presença do Infinito em todas as partes, o
que dirá na própria Murti - para eles as Deidades estão comendo mesmo,
Ela tem que ir dormir , ou seja, a Deidade está viva, não conseguem
perceber nada diferente disso.
Podemos ver vários exemplos disso em diversas escrituras. Como
foi o caso de Raghunandana Thakura. Ele nasceu em uma família kaviraja,
uma linhagem de doutores ayurvédicos, e foi tio de Mukunda, aquele que
até os reis o chamavam para se tratarem com ele. Raghunandana
permaneceu solteiro por toda a sua vida. Sua figura era
extraordinariamente bela e era muito aficionado à dança. A família de
Mukunda Thakura adorava uma Deidade ancestral em sua casa. Uma vez,
quando Raghunandana era jovem, recentemente tinha recebido o cordão
sagrado e havia ganhado permissão para adorar a Deidade, seu pai lhe
pediu: “Tenho que sair e não regressarei a tempo da cerimonia. Por favor
adora a Deidade e lhe dê algo de comer”. Sua expressão foi: “por favor,
trate de alimentar a Deidade”.
Quando o pai se foi, a mãe de Raghunandana cozinhou muitas
preparações, as levou ao templo e pediu que Raghunandana oferecesse
para a Deidade. Geralmente as portas se mantém fechadas durante a
adoração, e assim Raghunandana ofereceu o alimento e orou ao Senhor:
“por favor, coma estas preparações que eu estou Lhe oferecendo”. Porém a
Sri Murti não respondeu nada e nem veio comer. Raghunandana começou
a chorar: “meu pai vai me repreender! Ele me pediu que a alimentasse e
Você não está comendo. Serei castigado. Você tem que comer esta
comida!”
O rapaz sincero começou a gritar de tal maneira que Krishna teve
que comer. Raghunandana ficou muito satisfeito e saiu do quarto da
Deidade. Sua mãe veio buscar a bandeja e exclamou: “o que aconteceu?
Todos os pratos estão vazios!” Você me pediu que alimentasse a Deidade
e ela comeu” respondeu Raghunandana. “Olha aqui rapaz! Foi você que
comeu. A Deidade não come. Nós oferecemos, tudo permanece e depois
nós tomamos prasadam (alimento espiritualizado). Seu menino travesso,
você se tornou um ladrão, você comeu tudo!” disse sua mãe brava.
- Não, não, eu não comi nada, a Deidade comeu tudo – Disse o filho.
-Isto é impossível! Não seja tolo! – Retrucou a mãe.
- Não, estou dizendo a verdade - E começou a chorar Raghunandana.
- Está bem, deixe que se pai venha e eu lhe contarei tudo.
Capítulo 18
INTERCÂMBIOS AMOROSOS
Srila Guru Maharaj continuou o seu excelente serviço de adorar a
Deidade, dando aulas e pregando, realizando vaisnava-seva, escrevendo
artigos e vivendo de acordo com as suas possibilidades, que eram um
pouco escassas. Muitas pessoas vinham de Kalna e de outras localidades
mais distantes para escutar suas leituras. De acordo com seus meios,
costumava celebrar todos os festivais vaisnavas de forma meticulosa.
Apesar da falta de espaço e dinheiro, pela vontade do Supremo, muitas
pessoas que o amavam, e tinham grande reverência por ele, de forma
espontânea traziam todos os tipos de provisões para ajudar a celebrar esses
festivais.
Em outras ocasiões, seus irmãos espirituais e muitos outros
vaisnavas costumavam visitá-lo. E todos ficavam muito satisfeitos com
seu Hari-katha, Kirtan, e distribuição de prasadam. Também costumavam
visitá-lo quando residia em Kalna: Srila Bhakti Raksak Sridhara Dev
Gosvami Maharaj, Srila Bhakti Dayita Madhava Maharaj, Srila Yayavar
Maharaj, Srila Kesava Maharaj, Srila Krsnadas Babaji Maharaj, Srila Bon
Maharaj, Srila Bhakti Vijnan Bharati Maharaj e Srila Bhakti Ballabh
Tirtha Maharaj.
Enquanto residia em Kalna, Srila Guru Maharaj tinha o costume
de visitar outras Gaudiya Mathas. Ele também pregava em outros lugares
da Índia, como Madras. Entre todos os seus irmãos espirituais, Gurudeva
especificamente mencionava a relação que tinha com Srila Bhakti Raksak
Sridhara Dev Gosvami Maharaj, Srila Bhakti Dayita Madhava Maharaj e
Srila Krsnadas Babaji Maharaj. Em relação a sua afeição por Gurudeva,
Srila Sridhara Maharaj costumava a dizer: “Maharaj, espero que você
nunca saia de Kalna (já que o templo de Srila B. R. Sridhar Maharaj fica
em Nabadwip, não muito distante de Kalna, isso significava que poderiam
se ver com freqüência)”.
Guru Maharaj também visitava a Srila Sridhara Maharaj
frenquentemente em sua Matha em Navadwip. Srila Sridhara Maharaj
ficava muito feliz de ver a Srila Gurudeva em seu Math. Eles podiam levar
muitas horas discutindo Hari-katha. Srila Sridhara Maharaj costumava
dizer em relação a Gurudeva: “eu era júnior na Gaudiya Math porque eu
me uni muito depois.”
Mas Gurudeva sempre dizia: “mas Maharaj, você era sênior para
mim em todos os outros aspectos.” Todos os discípulos de Srila Sridhara
Maharaj eram também muito respeitosos com Srila Gurudeva. E
frequentemente dizia a eles: “Baba (uma forma carinhosa e respeitosa de
se dirigir aos demais na Índia), o que eu posso dizer? Vocês possuem um
grande Guru, eu não consigo imaginar sua boa fortuna!”
Relembrando a respeito de sua associação com Srila Sridhara
Maharaj, ele disse muitas vezes: “Eu sinto grande felicidade e conforto
estando na companhia de Srila Sridhara Maharaj. Quando eu escutei suas
conclusões e realizações a respeito das escrituras, sentia como se estivesse
com Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta.”
Seu Guru glorificou seu conhecimento e realização das escrituras, e
Srila Bhaktisiddhanta sempre se sentiu inspirado na companhia de Srila
Sridhara Maharaj. Depois de sua partida (de Srila Sridhar Maharaj, em
1988), nunca passou nenhum dia em que Srila Gurudeva não deixasse de
glorificá-lo e lamentar a sua ausência desse planeta. Ele falava: “Eu sinto
sua ausência em todos os momentos e nunca vai existir alguém como Srila
Sridhara Maharaj.”
Às vezes Gurudeva falava para alguns discípulos de Srila Sridhara
Maharaj “Eu tenho essa pergunta na mente, mas agora não posso mais
perguntar para Srila Sridhara Maharaj, se ele aparecer para você em um
sonho, por favor faça-lhe a pergunta e pode ser que ele a responda”. E
acrescentava: “Eu não tenho devoção e boas qualidades. Mas Srila
Prabhupada Bhaktisiddhanta me deu sua misericórdia. E aqueles que estão
perto dele, como Srila Sridhara Maharaj, Srila Madhava Maharaj, e outros
tem muita afeição por mim, eles conhecem tudo”.
Srila Krsnadas Babaji Maharaj sempre se associava intimamente
com Srila Guru Maharaj. Quando não estavam juntos, frequentemente
trocavam correspondência. Algumas vezes Gurudeva enviava alguma
quantia de dinheiro pelo correio para Srila Krsnadas Babaji Maharaj junto
com as cartas. Srila Krisnadas Babaji Maharaj vivia como um mendicante
geralmente em Vrindavana. Era conhecido por sua simplicidade e o canto
incessante do Santo Nome.
Uma vez quando foi visitar a Gurudeva em Kalna, havia apenas um
mosquiteiro e os dois tiveram que dormir sob a mesma tela. Guru Maharaj
se recorda que Srila Krsnadas Babaji Maharaj cantava o Harinama a noite
inteira. E acrescentou que tinha um apego muito profundo por Nama-
bhajana e uma incrível memória. Podia recitar de memória muitos versos
e canções também. Ele apreciava muito todos os versos escritos por Srila
Sridhara Maharaj, especialmente muitos versos do Sri-Sri Premadhama
Deva Stotram que glorifica a Sri Caitanya.
Babaji Maharaj tinha uma bela e excelente pronúncia do sânscrito,
tinha também uma voz muito melodiosa e também era um experto tocador
de mrdanga (tambor vaisnava). Sua conduta foi de um devoto puro e seu
caráter sem nenhuma mácula. Não se encontra nenhum traço de ira. Se
alguém, por algum motivo, ficava zangado com ele, então, apenas sorria e
dizia “Hare Krsna”! e não tentava argumentar. Quando alguém se
aproximava dele para pedir iniciação, ele somente sorria e dizia: “Hare
Krishna”. Babaji Maharaj nunca quis ter um templo próprio, preferia
visitar as Mathas de seus irmãos espirituais, participando dos festivais,
cantando e pregando as glórias do Santo Nome através da distribuição de
pequenos livros e quando alguns cavalheiros lhe davam alguma doação
por isso, ele não mantinha nada para si mesmo, mas empregava os
fundos
arrecadados para o serviço à Krishna e Seus devotos.
Costumava vestir-se com um pequeno pano que ficava um pouco
abaixo dos seus joelhos. Quase não tinha qualquer posse, cama ou roupas e
no meio do inverno, não buscava meios de se abrigar, e mesmo assim,
permanecia sempre feliz e satisfeito. Ele foi a corporificação do verso três
do Siksastakam escrito por Mahaprabhu:
tṛṇād api sunīcena
taror api sahiṣṇunā
amāninā mānadena
kīrtanīyaḥ sadā
hariḥ
“Eu, a alma de todos os seres, não fico tão satisfeito pela execução dos
deveres prescritos dos quatro asramas (ou seja, sacrifícios, serviço à
família, austeridades e renúncia), como fico com o serviço ao Guru”.
“Aquele que medita nos objetos dos sentidos torna-se isso. Aquele que
lembra-se de Mim, entretanto, torna-se absorto em Mim”.
Outro associado bem íntimo de Srila Guru Maharaj foi Srila Bon
Maharaj. Depois do desaparecimento de Srila Prabhupada
Bhaktisiddhanta, os dois viajaram juntos muitas vezes para pregar por
diferentes locais. Eles se correspondiam frenquentemente. Gurudeva disse
a respeito de Bon Maharaj: “Ele sempre foi conhecido por suas aulas
eloquentes . Foi muito proficiente em Inglês e escreveu alguns livros. Em
diferentes locais, pessoas educadas viam escutar as suas palestras, porque
tinham ouvido falar sobre ele. Esteve ajudando-me de muitas maneiras.
Ele tinha o costume de ir ao Math de Srila Madhava Maharaj e dar
palestras ali também”.
Srila Bhakti Kumud Santa Maharaj sempre manteve uma conexão
muito próxima e franca com Om Visnupada Srila Bhakti Pramode Puri
Govami Maharaj. Em relação a ele, Gurudeva disse: “Foi muito querido
para Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta, tinha apenas onze anos de idade
quando veio morar no Math, depois se tornou um famoso pregador. Srila
Prabhupada e todos os demais se deleitavam muito ao escutar os seus
kirtanas. Ele tinha muita afeição por mim”.
Srila Guru Maharaj muitas vezes era convidado por Srila Madhva
Maharaj para dar palestras em seus templos. Começou a pregar em
diferentes partes da Índia e quando Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj
Prabhupada estava vivendo no Radha Damodara em Vrindavana, muitas
vezes se correspondia com Guru Maharaj. Quando ia à Vrindavana,
costumava visitá-lo ali. Muitos anos antes, Quando Swami Maharaj
Prabhupada foi chefe de família em Calcutá, Srila Sridhara Maharaj , por
algum tempo vivia no piso inferior de sua casa. Durante esse período, Srila
Gurudeva foi ali muitas vezes para estar com eles. Conta-se que quando
haviam programas de pregação ali, Srila Bhaktivedanta Maharaj
Prabhupada tocava a mrdanga, Gurudeva cantava e Srila Sridhara Maharaj
pregava.
Em Novembro do ano 1977, Srila Swami Maharaj Prabhupada
manifestou seus passatempos de desaparecimento deste mundo. Pouco
antes, quando Srila Guru Maharaj foi à Vrindavana, ele escutou que
Swami Maharaj Prabhupada estava gravemente doente. Sendo assim, ele
foi para o templo da ISKCON (Sociedade Internacioal para a Consciência
de Krishna) de Krsna-Balarama para vê-lo. Srila Swami Maharaj
perguntou onde Gurudeva estava se hospedando e ele respondeu que no
Math de Madhava Maharaja. Gurudeva perguntou como a Swami Maharaj
como se sentia. E Srila Swami Maharaj Prabhupada respondeu que estava
muito doente. Ele respondeu à Gurudeva “eu tenho corrido atrás de
dinheiro e fama e é por isso que estou experimento muito sofrimento
agora”. Srila Gurudeva respondeu “Maharaj, você não tem corrido atrás de
fama e dinheiro – o dinheiro e fama é que correm atrás de você”. Swami
Maharaj Prabhupada disse que tinha ofendido muitos dos seus irmãos
espirituais enquanto se esforçava por pregar no Ocidente. Ele estava
pedindo perdão para todos. Mas Gurudeva disse “você não ofendeu
ninguém, nós que não soubemos compreendê-lo bem.”
Então Swami Maharaj disse: “Maharaj, você tinha o costume de
cantar para Srila Bhaktisiddhanta. Você poderia cantar para mim? Nesse
momento, Srila Gurudeva cantou “Jay Radhe, jay Krsna, Jay Vrindavan”.
Swami Maharaj Prabhupada disse: “poderia cantar ‘Sri Rupa Manjari
Pada’ para mim? Era uma canção que nosso Gurudeva gostava tanto,
pediu no momento em que estava para abandonar o corpo”. Então,
Gurudeva começou a cantar e quando terminou, Swami Maharaj disse:
“Maharaj, eu sei que você é um devoto puro e viveu uma vida pura dentro
do vaisnavismo. Será que posso lhe dar um presente?” E logo depois,
Swami Maharaj pediu para seus discípulos trazerem prasadam (alimento
espiritual) para Gurudeva.
Os anos se passaram, e Guru Maharaj lembrava-se sempre desse
acontecimento com uma certa curiosidade. Ele queria saber qual era o
presente que Srila Swami Maharaj queria lhe dar. Porque depois ele
mandou servir prasadam e não havia dado nenhum presente. Uma vez que
prasadam, sempre é oferecido, não significaria dar um presente mesmo.
Gurudeva esperava algo que Swami Maharaj quisesse dar-lhe.
Então, um dia Gurudeva teve uma revelação, refletiu que o
presente que Swami Maharaj tinha para lhe entregar eram seus discípulos
ocidentais, esse era o presente! Uma vez que tinham sido os discípulos
ocidentais de Swami Maharaj que haviam cozinhado naquele dia quando
lhe pediu para aceitar um presente dele.
Mas para que possamos entender esse fato, é necessário voltar a
um tempo remoto, quando Srila Swami Maharaj Prabhupada foi ao
ocidente pregar aos ocidentais e havia aceitado muitos discípulos. Quando
eles foram para à Índia pela primeira vez com Swami Maharaj, em algum
momento, seus irmãos espirituais foram visitá-los. E nesse dia, os
discípulos ocidentais cozinharam prasadam e Srila Swami Maharaj
Prabhupada pediu que eles aceitassem prasadam, mas eles se recusaram a
aceitar prasadam. E entre eles, estava Srila Guru Maharaj, que também
recusou aceitar o alimento cozinhado pelos discípulos ocidentais.
Isso deixou muito triste a Swami Maharaj Prabhupada. Ele havia
feito muito esforço para começar a pregação no ocidente, querendo
cumprir a instrução de Prabhupada Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur. Mas
por outro lado, estavam os seus irmãos espirituais que eram bem ortodoxos
em suas práticas e de certa forma ficaram receosos de aceitar prasadam
que não havia sido elaborada dentro dos parâmetros mais estritos
referentes à etiqueta vaisnava.
Om Visnupada Srila Bhakti Aloka Paramadvaiti Maharaj
(discípulo e sannyasi de Srila Bhaktivedanta Swami) conta que algumas
vezes, Om Visnupada Srila Bhakti Pramode Puri Goswami Maharaj o
segurava forte pelo uttaria (o top que usam os sannyasis, ou seja, um
tecido que colocam na frente do corpo), o sacudia e dizia: “Babu (forma
carinhosa de se direcionar a outro), somos todos iguais.” Om Visnupada
Bhakialoka Paramadvait Maharaj pensava consigo: “como eu posso ser
igual a ele?”
E Srila Guru Maharaj disse várias vezes a ele. Até que um dia lhe
contou toda essa história que havia acontecido com Srila Swami Maharaj
Prabhupada e de como ele havia resolvido aceitar discípulos ocidentais
depois de ter entendido qual era o verdadeiro presente que o mesmo queria
dar-lhe.
Srila Rupa Goswami escreve no seu Upadesamrta (versos 4 e 5)
sobre os intercâmbios e relacionamentos entre devotos:
dadāti pratigṛhṇāti
guhyam ākhyāti pṛcchati
bhuṅkte bhojayate caiva
ṣaḍ-vidhaṁ prīti-laka
ṣ ṇam
“Oferecer aos devotos puros os objetos que estão de acordo com suas
necessidades, aceitar a prasadam, ou sobras dadas pelos devotos
puros, revelar aos devotos sua própria realização no bhajana, indagar
dos devotos sobre suas realizações confidenciais, comer com grande
amor as sobras da prasadam dada pelos devotos e servir prasadam
aos devotos com amor. Esses são os seis sintomas da associação
amorosa com os devotos.”
kṛṣṇeti yasya giri taṁ manasādriyeta
dīkṣāsti cet praṇatibhiś ca bhajantam
īśam śuśrūṣayā bhajana-vijñam ananyam
anya- nindādi-śūnya-hṛdam īpsita-
saṅga-labdhyā
140
ajudar a Srila Guru Maharaja a subir no trem com muitas malas, porque
não queria gastar de forma desnecessária o laksmi de Krsna. Conta-se que
Srila Sridhara Maharaj também era assim.
Srila Guru Maharaj era um mahatma (grande alma), e isso é algum
muito difícil de se encontrar nesse mundo material. Ele estava ensinando a
todos pelo seu comportamento impecável, não podemos vê-lo através do
prisma mundano, somente conseguiremos apreciar seus atos quando
formos capazes de ungir nossos olhos com o conhecimento divino, não de
outra forma. Srila Gurudeva estava preocupado com todos os detalhes,
nada podia escapar a sua visão, por isso, todos aqueles que tiveram a boa
fortuna de conseguir a sua santa associação, puderam aprender muito em
todos os sentidos.
No Srimad Bhagavatam (5.5.2) está escrito:
mahat-sevāṁ dvāram āhur
vimuktes tamo-dvāraṁ yoṣitāṁ
saṅgi-saṅgam mahāntas te sama-
cittāḥ praśāntā vimanyavaḥ
suhṛdaḥ sādhavo ye
Capítulo 22
UMA NOVA MISSAO
150
conseguir respirar direito. Todos devotos desesperados por sua saúde,
correndo de um lado para o outro para tentar solucionar aquela situação. E
quando melhorou, e conseguiu falar algumas poucas palavras com certa
dificuldade, não ficou lamentando pelo seu estado de saúde, não reclamou,
porque o trouxeram de um lugar distante e talvez esse fosse o motivo de
seu sofrimento. Não, nada disso, ele se desculpou porque não foi capaz de
realizar nenhum serviço, porque não havia conseguido dar Hari-katha,
porque se sentia inútil, pensando que não conseguia corresponder as
expectativas. Isso era algo incrível de se ver. Todos estavam assombrados.
Na realidade essa era a verdadeira aula de Srimad Bhagavatam que Srila
Guru Maharaj deu para todos. Com seu próprio comportamento, sem
nenhuma lamentação em relação ao corpo, sem alguma exigência ou
reclamação, estava dando um exemplo para todos de extrema humildade e
tolerância.
Logo depois que Srila Guru Maharaj melhorou um pouco o seu
estado de saúde, os devotos queriam que Gurudeva descanasse, mas na
primeira oportunidade que tinha, começava a falar de Krishna. E mesmo
hospitalizado devido a uma severa congestão pulmonar e extrema
dificuldade em respirar, passava o tempo cantando o Hare Krishna Maha
Mantra e às vezes pronunciava bem alto “Jay Prabhupada! Jay
Nrisimhadeva! Jay Jagannatha!” E Qualquer momento podia começar a
falar Hari-katha, e era difícil pará-lo. Sempre pedia-se, para lhe cuidar a
saúde, que não falasse muito. Então ele respondia: “eu tenho que ficar
aqui, sentado o dia todo... Como posso não falar Hari-katha?”
Uma vez, Srila Bhakti Aloka Paramadvaiti Maharaj estava com seu
irmão espiritual Srila Bhaktivedanta Tripurari Maharaj no templo, quando
chegou Srila Guru Maharaj que nesse momento deveria ter quase cem anos
de idade acompanhado de seu servo. Então, Srila Gurudeva (Srila Bhakti
Pramode Puri Goswami) começou a circum-ambular envolta do templo
prestando dandavats (cair prostrado no chão com o corpo completamente
estirado como uma vara). Ele fez isto, dando reverências em cada esquina
do templo, completando quatro voltas ao redor do templo. Para uma
pessoa nesta idade fazer isso, deve-se entender que é uma proeza
indescritível. Quando Srila Guru Maharaj terminou de realizar seu
parikrama, Srila Tripurari Maharaj disse: “agora acabamos de presenciar
uma genuína aula do Srimad Bhagavatam”.
Srila Gurudeva estava sempre ensinando com seu comportamento,
inspirando a todos a se renderem cada vez mais, a se entregarem
completamente na trilha da devoção. Bastava contemplá-lo para obter a
inspiração no serviço devocional. Esse é o verdadeiro valor de sadhu-
sanga, um breve momento se torna suficiente para adquirir muito
entusiasmo para continuar praticando e buscando a perfeição da vida. No
Caytania-caritamrta (Madhya-lila, 22.54) podemos encontrar:
'sādhu-saṅga', 'sādhu-saṅga'- sarva-śāstre kaya
lava-mātra sādhu-saṅge sarva-siddhi haya
Capítulo 23
LIVROS
É impossível para os discípulos de Srila Guru Maharaj pensar em
Gurudeva sem seus livros. Mesmo quando não estava escrevendo ou lendo
um livro, estava acompanhado de uma montanha de livros em sua cama,
esse volume chegava a ocupar um terço do espaço de todo o quarto. Srila
Guru Maharaj estava completamente envolvido com a publicação de
livros, isso foi sua vida, seja escrevendo, editando ou publicando. Ele
sempre encorajou todos seus discípulos a ler e discutir as escrituras
básicas. Dizia: “quando vocês tiverem algum tempo livre, leiam as
escrituras. Se vocês pelo menos lerem os livros básicos, poderão obter um
conceito geral. Vocês sempre sentirão entusiasmo e inspiração por ler
esses livros, eles darão força e esperança”.
Por muitos anos seguidos, Srila Guru Maharaj foi a mão direita de
Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura para edição e
publicação da literatura vaisnava. Por isso, ele estava sempre encorajando
seus discípulos a publicar e imprimirem livros. Mesmo em uma idade
avançada,Gurudeva estava pensando em editar e publicar novos livros. Sua
face se tornava radiante, seu humor estático e sua voz ficava potente e
poderosa quando falava a respeito da publicação de livros.
Por sua instrução, Bhaktisiddhanta Vani Trust foi fundada com o
propósito de publicar livros. Apesar de seus discípulos sugerirem o nome
de Bhakti Promode Vani Trust, ele preferiu colocar o nome de Srila
Prabhupada Vani. À partir de 1992 alguns livros clássicos foram
publicados pela Gopinatha Gaudiya Math e amplamente distribuídos.
Entre eles estão: Sadhu-sanga, Vaisnava-aparadha, Sachichidananda-
vigraha, Sri-Nama-Ganga-Tulasi-Mahatmya, Sri Mathura-Mahatmya,
Mantrarta-chayam-dipika, Srimad-Bhagavad-gita-Upanisad, Prabhupada
Sri-Srila Saraswati Thakur, Sri Sanatana-siksa, Sri Kirtatananjali, Sri
Amiya-ratnavali, Sri Sat-sandharbha, Sri Tattva-sandarbha, Sri Bhagavat-
sandarba, etc.
Alguns dos seus escritos em Bengali (que somam mais de 20
livros) foram traduzidos para o Inglês e outros idiomas: O coração de
Krishna ; Arte do Sadhana; Essência da Devoção Pura; Princípio do Guru
e método de Bhajan; Sobre amor e Separação, Meditações de meu Divino
Mestre; Bhakti Sara; A arte da Adoração; Sri Krishna Bhajanamrtam
(baseado no original de Sri Narahari Sarkar).
Capítulo 24
UM COMPORTAMETO IMPECÁVEL
Srila Guru Maharaj jamais ansiou ter muitos discípulos, sempre
desejou ter uma Math (nesse caso missão) pequena. Mas devido a sua
fama como param bhagavat (devoto excelso) muitas pessoas viam vê-lo
de todos os lados da Índia e do mundo. Srila Gurudeva era sempre
afetuoso, respeitoso e hospitaleiro, percebia-se que estava muito feliz em
poder recebê-los.
Em alguns momentos, sentiu que não possuia nada a oferecer.
Sempre dizia: “Todas essas pessoas estão atraídas por Srimam
Mahaprabhu e Gurudeva. Mas o que eu posso dar à elas? Eu não consigo
falar um bom Inglês. Se algum dos residentes da Math sabe um pouco de
Inglês, então eu posso falar para os visitantes que podem escutar a
tradução – ficarão felizes com isso.”
Sua humildade era espontânea, não necessitava fazer nenhum
esforço. Como pode alguém estar orgulhoso, se ele vê os outros como seus
superiores? Em sua visão, ele via a todos como seus superiores. O fato é
que ele tinha um bom Inglês, mas devido a sua humildade, pensava que
seu conhecimento não era suficiente. Muitas vezes falava em Inglês e as
pessoas ficavam surpreendidas.
Mas muitos que viam visitá-lo, estavam felizes simplesmente por
vê-lo, não precisavam escutar nada. Eram felizes de prestar suas
dandavats (reverências) e receber sua misericórdia e bençãos. Apenas por
ter obtido seu darsana (visão, por ver a Srila Bhakti Pramode Puri
Maharaj), eram imediatamente atraídos por sua humildade, sua
simplicidade e natureza afetuosa. Muitos dos discípulos de seus irmãos
espirituais viam à ele para oferecer seus dandavats e escutar dele sua
pregação. Outros viam a ele para inquirir a respeito de tópicos espirituais.
Srila Bhakti Aloka Paramadvaiti Maharaj, que muitas vezes esteve
com Srila Gurudeva em seu quarto no tempo que residiu na Índia, comenta
a respeito da humildade de Srila Guru Maharaj: “Srila Sridhara Maharaj
dizia que gostava de sempre permanecer no fundo, sempre atrás. Mas Srila
Puri Maharaj não falava nada e já ficava atrás”. Outro fato que ilustra essa
situação, era quando por algum motivo iam tirar fotos na Gaudiya Math,
dizem que Gurudeva sempre gostava de ficar no fundo das fotos, onde não
aparecesse.
Durante toda a sua vida, Srila Guru Maharaj escreveu muitos
artigos para a Gaudiya (Revista) sem colocar seu nome neles. Muitos
artigos escritos por outros estavam também baseados nas notas que fazia
quando Srila Prabhupada Bhaktisiddhanta dava suas leituras.
O Caytania-caritamrta (Madhya 4.146-147) nos diz:
pratiṣṭhāra svabhāva ei jagate vidita ye
nā vāñche, tāra haya vidhātā-nirmita
pratiṣṭhāra bhaye purī gelā palāñā
kṛṣṇa-preme pratiṣṭhā cale saṅge
gaḍāñā
“Dessa forma, uma pessoa inteligente irá Me adorar com bhakti yoga e
entendendo que gradualmente todos os desejos materiais em seu
coração irão desaparecer, na medida em que Me situo em seu
coração”.
Srila Gurudeva dizia que um devoto não poderia ter algo dentro do
seu coração e dizer algo diferente. Ele não deve usar de malícia,
deturpando suas palavras com diplomacia e falando diferentes em distintos
lugares somente por diplomacia. Ele sempre falou contra kuti-nati
(comportamento enganoso, diplomacia e duplicidade), isso destrói a
trepadeira da devoção. Srila Jagadananda Pandit, em seu Prema-Vivarta
diz:
“Se quer adorar ao Senhor Gauranga, torne seu coração simples e franco.
Adore aos pés de lótus do Senhor Gauranga, abandone o engano e a
duplicidade. Simplesmente dizer, ‘Eu pertenço a Gauranga, eu pertenço a
Gauranga’ - somente pronunciar isso com os lábios, não é suficiente. Os
frutos virão seguindo o exemplo de suas ações e sentimentos apropriados.”
“Aqueles que estão intoxicados pelo falso ego, devido a seu bom
nascimento, fortuna, erudição, conhecimento e beleza não podem
chorar e gritar Seu nome com um sentimento sincero. Apenas aqueles
que são materialmente desprovidos podem cantar os Seus nomes com
pureza.”
“Os tolos que blasfemam os vaisnavas irão para o pior tipo de inferno
junto com suas gerações de ancestrais. Aquele que mata um devoto,
assim como aquele que blasfema aos devotos ou aquele que é invejoso
dos devotos, ou aquele que deixa de oferecer reverências aos vaisnavas
depois de vê-los, ou aquele que se torna irado com os vaisnavas, ou
aquele que não se torna feliz ao ver um vaisnava - essas seis classes de
homens são todos candidatos a caírem no inferno”.
Capítulo 25
ASSOCIAÇÃO MUNDIAL VAISNAVA
170
da Gaudiya Matha, mas também com devotos simpatizantes e tendo como
presidente a Srila Sarasvati Thakura Prabhupada.
O nome “Sri Gaudiya Math”, dado em 1920 por Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada para o centro de Ultadingi
Road, foi mantido quando houve a mudança para o Bag-Bazar em Calcutá.
Aproximadamente em 1922 com a expansão do movimento tornou-se mais
conhecido como Gaudiya Math, com cada nova assembleia também sendo
denominada como Gaudiya Math, ainda que para os assuntos legais
oficialmente o nome fosse Visva-vaisnava Raj-sabha (Associação Mundial
Vaisnava). Papéis formais e legais, boletins, endereços por exemplo eram
emitidos pela Associação Mundial Vaisnavas. Mas em publicações e
encontros públicos foi denominado como Gaudiya Math, um nome
consideravelmente mais fácil e curto para ser relembrado e pronunciado do
que Visva-vaisnava Raja-sabha.
Depois da partida de Srila Bhaktisidhanta Sarsvati Thakura
Prabhupada, muitos dos seus discípulos estabeleceram novas missões e
proeminentes Acaryas surgiram para derramar o prema dharma (dever do
amor divino) às almas condicionadas.
Mas foi através de Srila A.C. Bhaktivedanta Swami Maharaj
Prabhupada que o vaisnavismo ganhou proporções gigantescas em todo
mundo. Depois que ele fundou a ISKCON, muitas outras missões surgiram
dentro dessa missão. O propósito de unir os vaisnavas pairava no ar, então,
alguns vaisnavas se encontram em Vrindavana (Índia) com Srila Bhakti
Aloka Paramadvaiti Maharaj, Srila BV. Tripurari Maharaj e Srila Bhakti
Gourava Narasimha Maharaj para discutir a ideia de formar uma
associação mundial vaisnava. A ideia foi aceita com muito entusiasmo por
todos, mas devido a falta de tempo e clareza de propósitos, essa tentativa
de reviver a assembléia dos vaisnavas foi postergada.
Em 1993, Srila Bhakti Aloka Paramadvaiti Maharaj se aproximou
do vaisnava sênior mais exaltado do momento, Sua Divina Graça Srila
Bhakti Pramode Puri Goswami Maharaj pedindo que aceitasse ser
presidente da Visva-vaisnava Raja-sabha (Associação Mundial Vaisnava).
Guru Maharaja respondeu que era muito idoso para assumir um cargo de
tanta responsabilidade, e que com 97 anos de idade seria incapaz de
conciliar o seu serviço de Acarya da Gopinatha Gaudiya Math, sendo
assim, ele declinou o convite.
Mas Srila Bhakti Aloka Paramadveiti insistiu e dizendo-lhe que ele
não teria que fazer absolutamente nada, somente tinha que aceitar o cargo
(já que por sua santidade tudo se resolveria facilmente). E passou-lhe
todos os regulamentos previamente elaborados por ele ( Srila Bhakti Aloka
Paramadveiti ).
O mesmo relembra: “Pensei que Srila Puri Maharaj somente daria
uma olhada de forma superficial e depois me entregaria o documento, mas
não foi isso o que aconteceu. Ele examinou detalhadamente página por
página e depois de muito tempo, disse que iria pensar no assunto. Então,
depois de alguns dias eu voltei a sua Math e perguntei-lhe o que havia
decidido. Ele respondeu: 'Swami Maharaj (refereindo-se a Srila A. C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupad) construiu uma ponte entre a Índia e
Ocidente, levando a consciência de Krsna para lá, Sridhara Maharaj
pregou para os mundos sutis e eu ainda não fiz nada. Por isso vou aceitar o
que você me propõe.”
Foi através dessa conexão que Srila Bhakti Aloka Paramadveiti
Maharaj conseguiu estabelecer uma ligação íntima com Guru Maharaj. Ele
mesmo conta que através desse serviço que tinha como secretário da
Associação Mundial Vaisnava podia entrar a qualquer momento no quarto
de Srila Guru Maharaj, podia conversar sem nenhum impedimento,
conseguindo oportunidades para estreitar os vínculos que os uniram pela
eternidade, o considerando como seu siksa-guru(guru instrutor) - estando
intimamente ligado com ele até o final dos seus passatempos aqui neste
mundo fenomênico.
Nos momentos finais dos passatempos manifestos de Srila Guru
Maharaj, Srila Bhakti Aloka Paramadveiti Maharaj estava visitando a Srila
Guru Maharaj com alguns dos de seus discípulos da missão Vrinda. Em
um momento, um devoto perguntou-lhe “Quando seu Guru partiu, você se
refugiou em Srila Sridhara Maharaj. Quando Srila Sridhara Maharaj foi
embora, você se refugiou em Srila Puri Maharaj. E agora quando Puri
Maharaj partir, em quem você irá se refugiar?” A resposta foi curta e
categórica: “Irei me refugiar em Sri Caitanya Mahaprabhu”.
No dia 14 de Novembro de I994 foi celebrado um encontro em
Vrindavana no Modi Bhavan - compareceram 120 pessoas e 28 Acaryas e
muitos sannyasis qualificados como membros fundadores da Associação
Mundial Vaisnava.
Nos três dias seguintes, um comitê de voluntários analisou todas as
propostas, as quais foram apresentadas pelo secretário (Srila Bhakti Aloka
Paramadveiti Maharaj) e aceitas com unanimidade.
No dia 18 de Novembro de 1994 o resultado foi apresentado em
uma assembléia geral junto com os estatutos da Associação Mundial
Vaisnava. O comitê assinou a respectiva autorização legal e o registro em
Agra foi consumado.
Capítulo 26
CONSELHOS AOS DEVOTOS CASADOS
“As relações com esposa, filhos, parentes e amigos são como as relações
entre peregrinos - os quais se encontram por acaso, descansando em um
local por algumas horas antes de irem embora. Quando alguém deixa o
corpo, para aceitar outro corpo, os amigos e parentes são esquecidos,
assim como se esquece tudo o que passou em sonho quando se desperta.”
O Srimad Bhagavatam (11.17.53) tambem diz
itthaṁ parimṛśan mukto
gṛheṣv atithi-vad vasan
na gṛhair
anubadhyeta
nirmamo
nirahaṅkṛtaḥ
“Tendo realizado a verdade de semelhantes relações transitórias, o
grhastha vive em sua casa assim como um peregrino, visitante, ou um
estrangeiro em terra estrangeira. Dedicando-se inteiramente para
Krishna e abandonando o apego ao seu corpo, parentes, casa, ele está
liberado ainda nessa vida.”
“Ó filho de Kunti, todo o que você fizer, todo o que você comer, todo
que você der, assim como todas as austeridades que você praticar,
faça como uma oferenda à Mim.”
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experimentam extrema frustração, desamparo e desânimo em suas vidas.
Nesse momento é que eles deveriam orar sinceramente diante de Krishna.
E Srila Gurudeva finalizava: “cada momento em que eu chorei na frente
de Krishna, o Senhor sempre me respondeu.”
Ele esperava que seus discípulos tivessem filhos em consciência de
Krsna para aumentar o número de devotos em todo o mundo. O Srimad
Bhagavatam (5.5.18) indica:
gurur na sa syāt sva-jano na sa syāt
pitā na sa syāj jananī na sā syāt
daivaṁ na tat syān na patiś ca sa
syānna mocayed yaḥ samupeta-
mṛtyum
“Você deveria saber que a educação produz frutos se uma pessoa pode
oferecer seu coração e propriedade aos pés de lótus de Krishna”.
Capítulo 27
SEGUINDO A ETIQUETA
Srila Guru Maharaj estava sempre pendente das necessidades de
seus discípulos e ciente do bem-estar espiritual, emocional e físico deles.
Ele dizia: “todos os dias pela manhã, tão logo me levanto, oro para o bem-
estar de todos, independente de onde estejam”.
Quando algum devoto ficava doente, Srila Gurudeva orava para ele
e sempre perguntava a respeito de sua recuperação. Quando seus
discípulos ou discípulos dos seus irmãos espirituais vinham até ele para
oferecer dandavats pranams, no final da visita, ele cantava todo Nrsimha-
kavacha mantra para protegê-los.
Pessoalmente, lia todas as cartas que eram escritas para ele, e
pessoalmente respondia a cada uma delas. Jamais esquecia o nome de
alguém ou de algum fato, mesmo que o visse por uma única vez ou que
tivesse acontecido a dois ou três anos antes.
Quando por algum motivo Srila Guru Maharaj tinha que corregir
algum discípulo, logo depois, em outra oportunidade, ele o tratava de
maneira tão doce e suave que ao ouvir isso, o discípulo sentia que suas
palavras poderiam derreter pedras. Ele se dirigia aos seus discípulos de
forma muita carinhosa, aos homens lhe chamava de “baba” (senhor) e as
mulheres chamava de “ma” (mãe). Toda vez que lhe ofereciam alguma
prasada, falava alguma coisa que fazia os devotos sorrirem.
Um dos sintomas da prática do bhakti (devoção) é que o coração se
torna cada vez mais macio e naturalmente sentimentos de afeição
transbordam dentro do sadhaka para com todas as entidades vivas. Srila
Guru Maharaj personificava esses sentimentos e todos que chegaram a
conviver com ele puderam perceber sua doçura e amabilidade. O seu olhar
era tão tenro que era capaz de derreter até mesmo os corações mais
endurecidos.
Srila Guru Maharaj vivia completamente absorto no plano do
êxtase e aprofundando no plano da realidade divina. Ele não se satisfazia
com o aspecto formal, com a superficialidade, ao contrário, buscava a
essência em todas as coisas e somente conseguia ver o aspecto espiritual
da existência. Sua visão era equânime para com todos e transmitia o amor
à todos desde o fundo do seu coração. O Bhagavad-gita (5.18) expressa
essa visão equânime:
vidyā-vinaya-sampanne
brāhmaṇe gavi hastini
śuni caiva śva-pāke ca
paṇḍitāḥ sama-darśinaḥ
Capítulo 28
ACONSELHANDO SEUS DISCÍPULOS
Srila Guru Maharaj teve muitos discípulos, ainda que não quisesse,
isso acabou escapando do seu controle e de todas as partes foram chegando
muitas pessoas que queriam se refugiar nele. Contudo, ainda que tenha
iniciado muitos discípulos, ele não perdia os aspectos mais relevantes na
conexão entre Guru e discípulo. Tanto um quanto outro necessitam estar
qualificados para que seja sacramentado a união divina entre eles. O
discípulo precisa seriamente desejar buscar uma solução verdadeira para
os seus problemas - e enquanto o Guru necessita ter um amplo domínio
sobre as escrituras e ao mesmo tempo realizar tudo aquilo que aprendeu
das mesmas e de seu próprio Mestre. O Srimad Bhagavatam(11.3.21)
apresenta de forma extensa esse tema em diversos versos, entretanto,
especialmente neste:
tasmād guruṁ prapadyeta
jijñāsuḥ śreya uttamam
śābde pare ca niṣṇātaṁ
brahmaṇy
upaśamāśrayam
Srila Guru Maharaj tinha muito cuidado para que seus discípulos
não lessem qualquer tipos de livros. Dizia que Srila Prabhupada
Bhaktisddhanta Sarasvati Thakur não permitia aos devotos neófitos lerem
nem sequer o décimo canto do Srimad Bhagavatam e outros livros que
narrassem os passatempos conjugais de Sri Radha Krishna.
Os livros que eram recomendados por Srila Gurudeva eram:
- Srimad Bhagavad-gita
- Srimad Bhagavatam (especialmente os passatempos
Maharaj Bharati, Maharaj Ambarisa, Dhruva Maharaj e
Prahlad Maharaj - também o décimo primeiro e décimo
segundo canto)
- Sri Caytania-caritamrta de Srila Krishna das Kaviraj
Goswami
- Sri Caitanya Bhagavata de Srila Vrindavan das Thakur
- Bhakti-rasambrta-sindhu, Upadesamrta e outros livros de
Srila Rupa Goswami
- Canções de Srila Narottama Das Thakura (especialmente
Prarthana e Prema-bhakti-candrika)
- Todos os livros de Srila Bhaktivinoda Thakura
(especialmente Saranagati e Jaiva Dharma)
- Livros de Srila Bhakti Raksak Srila Sridhar Maharaj
- Livros de Srila A. C. Bhaktivedanta Swami Maharaj
- Livros de Srila Bhakti Bhallabh Tirtha Goswami Maharaj
(especialmente Goura-parsad-charitavali sobre os associados
de Mahaprabhu);
"Por observar a etiqueta, você satisfez minha mente. Quem mais além
de você mostraria esse exemplo?”
Capítulo 29
EXTREMA HUMILDADE
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pode ser considerado um sadhu.”
Logo em seguida Srila Gurudeva citou muitos versos das escrituras
que glorificam o cantar do Santo Nome como única maneira de salvação
para esta era de Kali-yuga: “Não importa se no Ocidente ou no Oriente, a
alma não é diferente. Todas as almas são iguais. Seu supremo mestre é
Krishna – Aham sarvasya prabhavah, todas as criaturas têm a origem em
Krishna. Então se praticamos o sacrifício de cantar o Santo Nome todos
serão beneficiados.
Não estamos tentando nos tornar uma espécie de grandes mestres.
Meu Srila Prabhupada é o mestre espiritual de todo o universo. Srila
Bhaktivinoda Thakur é meu Guru. Por isso é que digo que eu não sou mais
do que um cachorro. Por favor, lembrem-se disso. Eu não sou nada mais
do que um cachorro do cachorro. Srila Prabhupada, Srila Bhaktivinoda
Thakura, a sucessão discipular inteira são meus mestres. Eu sou
simplesmente seu cachorro, nada mais. Eu apenas oro para todos vocês,
para que eu possa me tornar um cachorro e latir repetidamente: ‘cantem os
Santos Nomes, apenas cantem os Santos Nomes’.
Mahaprabhu nos disse para fazermos uma oblação do nosso
próprio ser no fogo do sacrifício dos Santos Nomes. E nós devemos pregar
enquanto praticamos esse princípio religioso. Sanatana Goswami disse a
Haridas Thakura: ‘Você está fazendo ambas as atividades, praticando e
pregando’. Acara pracara name kara dui karya. Srila Haridasa Thakura
costumava cantar três lakhs (192 voltas da japa) de Nomes todos os dias.
Isso não é possível para nós. Srila Prabhupada aceitou esse voto de cantar
100 bilhões de Nomes ou três lakhs por dia por um período de
aproximadamente dez anos. Nós podemos começar cantando apenas um
granthi,ou seja, quatro voltas por dia, mas gradualmente nós deveríamos
subir para um lakh por dia (64 voltas).
Tanto os homens quanto as mulheres deveriam cantar os Santos
Nomes. Essa é a religião genuína da espécie humana, serviço devocional
com o canto do Santo Nome, como seu principal aspecto. Nós não estamos
dizendo que essa é uma ideia sectária. Vyasadeva foi quem escreveu toda a
literatura védica e ele mesmo deu essas instruções. Devem ser seguidas
por todos, sem exceção. Essa é a instrução essencial de todas as escrituras,
sendo assim, todos deveriam segui-la.
Então, eu tenho falado, latido como um cachorro aqui por alguns
poucos minutos, dizendo qualquer o que veio em minha mente. Não
apenas devemos cantar os Santos Nomes, mas devemos pensar em dar
satisfação para Krishna. Eu sou um homem velho e minha memória está
falhando, então por favor, me perdoem. Tudo o que eu quero salientar é
que deveríamos cantar constantemente e não somente isso, temos que
cantar com muita atenção”.
Capítulo 30
UMA VISÃO TRANSCENDENTAL
No final do Vyasapuja, Srila Guru Maharaj anunciou que iria
aceitar ksetra-sannyasa (renunciante que faz o voto de não sair de um
determinado lugar) em Jagannatha Puri, da mesma forma que Sri
Gadadhara Pandita havia feito para estar junto o tempo todo com Sri
Caitanya Mahaprabhu.
A pessoa que aceita semelhante voto, está disposta a não deixar
mais o dham sagrado por toda a sua vida. Alguns devotos estavam muito
felizes que Srila Gurdeva iria residir em Puri, uma vez que isso seria
muito benéfico para a sua saúde. Mas Srila Gurudeva estava querendo
viver em Puri por causa de sua conexão com o Senhor Jagannath.
Previamente, quando ainda podia dançar e cantar em frente ao carro do
Senhor Jagannath com amor e devoção os sacerdotes da Deidade se
encantavam por seu kirtan (canto), muitas vezes o colocavam em cima da
carruagem.
Srila Gurudeva afirmou que não estava indo para Jagannath Puri
para recuperar sua saúde, e sim por que ali era o local onde ocorreram os
passatempos muito íntimos de Srimad Mahaprabhu nos últimos doze anos
de sua vida. Ele estava em no Gambhira, absorto no humor de Srimati
Radharani, Caytania-caritamrta, (Madhya-lila 2.15-16):
kāhāṅ mora prāṇa-nātha muralī-vadana
kāhāṅ karoṅ kāhāṅ pāṅ vrajendra-
nandana kāhāre kahiba, kebā jāne mora
duḥkha vrajendra-nandana vinu phāṭe
mora buka
E Srila Gurudeva enquando citava este verso, concluiu: "Eu não sei
quando irá acontecer comigo, mas Mahaprabhu sabe". Srila Guru Maharaj
estava sempre absorto nos passatempos de Sriman Mahaprabhu e do
Senhor Jagannath. Quando os devotos o viam, ele perguntava-lhes se
tinham ido ao tempo de Jagannath. Então falava a respeito, como se ele
mesmo estivesse no templo. Ele instruiu a todos que pudessem se ocupar a
serviço do Senhor Jagannh no templo. Se algum discípulo trazia-lhe
Jagannath Prasadam (alimento oferecido a Deidade) ele começava a falar
a respeito do Senhor Jagannath por longo tempo.
Um certo dia, um discípulo estava passando a noite no quarto de
Srila Gurudeva. No meio da noite, Srila Gurudeva falou alguma coisa, e
quando o discípulo indagou a respeito do que ele havia falado, Srila
Gurudeva respondeu "eu não disse nada para você, eu estou falando com o
Senhor Jagannath".
Srila Guru Maharaj viva absorto em bhajana (meditação) interno
vinte quatro horas por dia, não havia um momento em que não estivesse
ocupado em serviço de forma responsável ao Senhor Supremo.
Quando Srila Gurudeva estava em Kalna, tinha uma rotina bem
pesada de serviços. Ele se banhava no Ganges e limpava o templo com
suas próprias mãos. Ele cozinhava para as Deidades e as adorava também.
Dava aulas duas vezes ao dia e escrevia cartas e artigos. Obviamente
cantava um lakh (64 voltas) de japa. Como é possível conceber que uma
pessoa pudesse ter tanta energia e tempo para tudo isso?
Podemos dizer ele era a personificação do oitavo verso do
Upadesamrita (8) de Srila Rupa Goswami:
tan-nāma-rūpa-caritādi-sukīrtanānu-
smṛtyoḥ krameṇa rasanā-manasī
niyojya tiṣṭhan vraje tad-anurāgi
janānugāmī kālaṁ nayed akhilam ity
upadeśa-sāram
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Quando seus discípulos lhe davam alguma roupa, ele a
inspecionava e se percebia que eram roupas de boa qualidade, então
perguntava: "porque vocês estão gastando com semelhantes roupas para
mim?" E mesmo que seus discípulos pudessem responder que haviam
ganhado as roupas, ainda assim, ele retrucava: "mas ainda assim, estas
roupas são muito finas para mim".
Quando alguém lhe oferecia uma coalhada, ele perguntava: "quanto
de leite se necessita para fazer essa coalhada? Quanto custa o leite? Porque
vocês estão gastando tanto dinheiro comigo?" Se algum visitante
perguntasse: "como o senhor está, Maharaj?" Gurudeva responderia: "nem
sequer pergunte sobre mim. Eu tenho me tornado completamente inútil, eu
estou apenas consumindo esses alimentos." Quando os discípulos traziam-
lhe arroz frito, ele se lembrava de como seu Guru gostava dessa
preparação e começava a falar de Srila Prabhupada. Um dia lhe trouxeram
um pouco de postobara (bolas fritas de semente de papoula), então ele
disse: "se você me dá semelhante prasadam opulenta, eu irei parar de
comer".
Capítulo 31
PASSATEMPOS FINAIS