Você está na página 1de 9

Em Nós (2019), de Jordan Peele, Lupita Nyong’o dá voz tanto à protagonista,

Adelaide, quanto à antagonista Red, sua sósia sombria. A divisão de identidades


entre Red e Adelaide, entre a pessoa e sua cópia, entre o eu e seu duplo, é o
microcosmo de uma divisão muito maior, a divisão da própria pátria americana – os
Estados Unidos da América se encontram divididos entre os americanos que vivem
acima da superfície, usufruindo da vida pública e gozando livremente da interação
social, e os seus respectivos doppelgangers, cópias biológicas dos americanos, que
vivem abaixo, subterraneamente, privados das mais básicas condições de vida,
condenados a sobreviver alimentando-se de coelhos, apartados completamente da
vida pública, como que excluídos da humanidade em geral.

Por terem sido privados da interação humana em sociedade, os Tethered,


como são conhecidas as cópias, são criaturas privadas até mesmo da habilidade de
falar, condenadas a repetir mecanicamente e sem sentido nenhum, como sombras,
os gestos e comportamentos de seus duplos que vivem acima, no mundo público. A
narrativa sugere que os Tethered são resultado de um avançado experimento
científico, como é revelado por Red a Adelaide na cena típica de perseguição entre
gato e rato; a antagonista acredita que um experimento os produziu, cópias
biológicas idênticas dos americanos, porém sem nenhum tipo de ligação espiritual
entre as “almas” dos corpos, de modo que assim, surge um verdadeiro paradoxo:
ao passo em que os desalmados não teriam surgido sem o mais modernos avanços
da humanidade, eles trazem à tona, ao aparecer na superfície, a barbárie da
exclusão social e, portanto, colocam em xeque a validade dos valores da
democracia e das liberdades individuais, já que revelam seu anverso grotesco – a
face emudecida dos excluídos.

Tal exclusão radical da humanidade ilustra, pelas vias do terror, o horror dos
campos de concentração e do extermínio de povos ao longo da história, genialmente
analisado pela filósofa alemã Hannah Arendt e descrito por ela assim, nas Origens
do Totalitarismo: “O conceito de direitos humanos, baseado na suposta existência de
um ser humano em si, desmoronou no mesmo instante em que aqueles que diziam
acreditavam nele se confrontaram pela primeira vez com seres que haviam
realmente perdido todas as outras qualidades e relações específicas – exceto que
eram humanos. O mundo não viu nada de sagrado na abstrata nudez de ser
unicamente humano (...)”. (ARENDT, 2012, 332).
Ora, justamente porque os desalmados Tethered vivem numa espécie de
quase morte, sem reconhecimento da sociedade que os produziu, eles não têm, de
fato, qualidades sociais que os diferenciem entre si, como por exemplo profissão,
situação civil ou classe social. De fato, os Tethered não são “nada mais que
humanos”, exceto, como nos diz Red em sua primeira aparição, que eles sejam
“americanos”. Tanto na cena em que se confrontam pela primeira vez, como na cena
de perseguição que resultará no último confronto, Red insiste na sua dignidade
humana em seu diálogo com Adelaide. Na primeira, o marido de Adelaide pergunta
a Red: “What are you people?”, ao passo que Red responde com um sorriso
retorcido: “We’re americans”; na segunda cena, a voz de Red sobrevoa sobre a
superfície da tela enquanto ela se esconde e persegue sua cópia, dizendo-nos:
“How it must have been to grow up with the sky, to feel the Sun, the wind, the trees,
that your people took for granted?! We’re humans too, do you know? (…) Exactly like
you. And yet, it was humans that built this place…”

A construção dessa narrativa lembra muito o desenvolvimento mesmo da


teoria de Arendt, como se percebe pelas colocações seguintes: “Se um ser humano
perde o seu status político (...) perde todas as qualidades que possibilitam aos
outros tratá-lo como semelhante. ” (ARENDT, 2012, p. 332). Como reação à essa
exclusão por falta de reconhecimento, “Os sobreviventes dos campos de extermínio,
os internados nos campos de concentração e de refugiados, e até os relativamente
afortunados apátridas, puderam ver (...) que a nudez abstrata de serem unicamente
humanos era o maior risco que corriam. Devido a ela, eram considerados inferiores
e, receosos de que podiam terminar sendo considerados animais, insistiam na sua
nacionalidade, o último vestígio da sua antiga cidadania, como o último laço
remanescente e reconhecido que os ligaria à humanidade. ” (ARENDT, p. 333).

Por meio desse raciocínio se torna nítido como até mesmo o mais “pop”
discurso cinematográfico é capaz de atualizar teorias já há muito trabalhadas no
campo da escrita, inclusive escritas filosóficas. O diálogo de Red com Adelaide
revela aos poucos, como parte do cinema antirracista de Jordan Peele, de forma
ainda insipiente, todavia acessível para qualquer público, alguns dos
questionamentos mais profundos feitos por Arendt e outros estudiosos da
sociedade, como veremos a seguir.
Sobre a trágica situação dos judeus em campos de extermínio, dos refugiados
e outros grupos excluídos, cuja ilustração nesse caso é a projeção cinematográfica
de Red e os Tethered, Arendt nos diz o seguinte: “Só conseguimos perceber a
existência de um direito de ter direitos (e isto significa viver numa estrutura onde se
é julgado pelas ações e opiniões) e de um direito de pertencer a algum tipo de
comunidade organizada, quando surgiram milhões de pessoas que haviam perdido
esses direitos e não podiam recuperá-los devido à nova situação política global. O
problema não é que essa calamidade tenha surgido de alguma falta de civilização,
atraso ou simples tirania, mas sim que ela não pudesse ser reparada, porque já não
há qualquer lugar incivilizado na Terra. (...) Só com uma humanidade
completamente organizada, a perda do lar e da condição política de um homem
pode equivaler à sua expulsão da humanidade. ” (ARENDT, 2012, pg. 333) (Grifo
nosso)

O caso de Red e dos Tethered é simplesmente exemplar nessa situação em


que se necessita de um direito de ter direitos: embora sejam humanos, e a própria
humanidade tenha construído o local nos quais se encontravam, eles não tiveram a
oportunidade de fazer parte da humanidade, de tomar parte em um mundo comum,
partilhado, politicamente organizado e socialmente dinâmico. Essa inviabilidade de
participação social nos lembra, como conceito, a partilha do sensível, apresentado
pelo filósofo francês Jacques Rancière na sua obra homônima.

Assim ele coloca: “Uma partilha do sensível fixa portanto, ao mesmo tempo,
um comum partilhado e partes exclusivas. Essa repartição das partes e dos lugares
se funda numa partilha de espaços, tempos e tipos de atividade que determina
propriamente a maneira como um comum se presta à participação e como uns e
outros tomam parte nessa partilha. O cidadão, diz Aristóteles, é quem toma parte no
fato de governar e ser governado. Mas uma outra forma de partilha precede esse
tomar parte: aquela que determina os que tomam parte. O animal falante, diz
Aristóteles, é um animal político. Mas o escravo, se compreende a linguagem, não a
‘possui’”. (RANCIÈRE, 2005, p. 16)

Se consideramos, ao ler tal introdução de Rancière, a narrativa de Nós (2019)


veremos que os Tethered se encontram numa situação que os inviabiliza tomar
parte em um comum, suprimidos que foram não somente do direito de viver em
sociedade, mas da própria linguagem e habilidade de falar. Isso significa que deles
foram subtraídos não somente seus direitos, mas a condição mesma em que seria
possível acessá-los. Como continua Rancière, “A partilha do sensível faz ver quem
pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em
que essa atividade se exerce. Assim, ter esta ou aquela “ocupação” define
competências ou incompetências para o comum. Define o fato de ser ou não visível
num espaço comum, dotado de uma palavra comum etc.”

Nessa perspectiva, compreende-se que o caso de exclusão dos Tethered e


de todas as pessoas que experimenta a crueldade da nudez humana abstrata
produz uma invisibilidade tal que não se torna mais possível levar em consideração
aquela vida humana, que se tornou descartável, tal qual o “homo sacer” de .

Como assegura Arendt, “Aquilo que hoje devemos chamar de ‘direito humano’
teria sido concebido como característica geral da condição humana que nenhuma
tirania poderia subtrair. Sua perda envolve a perda da relevância da fala (e o
homem, desde Aristóteles, tem sido definido como um ser que comanda o poder da
fala e do pensamento) e a perda de todo relacionamento humano (e o homem,
desde Aristóteles, tem sido concebido como o ‘animal político’, isto é, por definição
vive em comunidade), isto é, a perda, em outras palavras, das mais essenciais
características da vida humana (ARENDT, 2012, p. 330).

Essa situação paradoxal na qual se torna impossível de o indivíduo humano


alçar à condição social necessária para ser reconhecido como tal, revela o lado mais
obscuro dos Direitos do Homem e do Cidadão, direitos supostamente inatos e
inalienáveis que mais tarde vieram a se transfigurar nos Direitos Humanos, com seu
apelo universal. Sobre isso, Arendt nos diz: “Esta nova situação, na qual a
“humanidade” assumiu de fato um papel antes atribuído à história e à natureza,
significaria nesse contexto que o direito de ter direitos, ou o direito de cada indivíduo
de pertencer à humanidade, deveria ser garantido pela própria humanidade. Nada
nos assegura que isso seja possível. Pois, contrariamente às tentativas humanitárias
das organizações internacionais, por melhor intencionadas que sejam ao formular
novas declarações dos direitos humanos, é preciso compreender que essa ideia
transcende a atual esfera da lei internacional, que ainda funciona em termos de
acordos e tratados recíprocos entre Estados soberanos; e, por enquanto, não existe
uma esfera superior às nações. ” (ARENDT, 2012, p. 333)

Essa problemática, de quem vai garantir o direito de acessar os direitos no


geral (assegurados por outras instituições, como o Estado), foi também questionada
por Rancière, leitor assíduo de Arendt, na sua obra “Who Is The Subject of The
Rights of Man? ”. Assim ele introduz a obra: “The territory of ‘posthistorical’ and
peaceful humanity proved to be the territory of new figures of the Inhuman. And the
Rights of Man turned out to be the rights of the rightless, of the populations hunted
out of their homes and land and threatened by ethnic slaughter. They appeared more
and more as the rights of the victims, the rights of those who were unable to enact
any rights or even any claim in their name, so that eventually their right had to be
upheld by others, at the cost of shattering the edifice of International Rights, in the
name of a new right to ‘humanitarian interference’ – which ultimately boiled down to
the right to invasion.” (RANCIÈRE, 2004, p. 1)

Tanto a avaliação negative de Rancière sobre esse novo “direito à invasão”,


como as suspeitas de Arendt que seria possível assegurar os direitos universais com
uma instância superior às atuais relações entre Estados-soberanos nos levam de
volta ao caso exemplar dos Thetered. Sobre a condição terrível em que se
encontram, análoga à das vítimas consideradas pelo filósofo, Rancière faz a
seguinte ligação com o estudo de Arendt da abstrata nudez humana: “Abstract life
meant ‘deprived life’. It meant ‘private life’, a life entrapped in its ‘idiocy’, as opposed
to the life of public action, speech and appearance. This critique of ‘abstract’ rights
actually was a critique of democracy. (…) They were the paradoxical rights of private,
poor, unpoliticized individual.” (RANCIÈRE, 2004, p. 2).

Na completa ausência de um garantidor último tanto das suas identidades


pessoais, como dos próprios direitos humanos de ambas; diante da nítida falência
das instituições sociais, da ausência de justiça e completamente invisível para o
olhar público, a personagem Red desenvolve por si só uma resposta para sua
tragédia: a fantasia de estar sendo testada por Deus.

Como objeto e instrumento divino na Terra, Red decide produzir um


‘statement’, que de acordo com o dicionário de Cambridge seria “uma afirmação,
asserção ou pronunciamento”, mas que na trama se revela algo muito maior: uma
enorme corrente humana através dos Estados Unidos, resultado da aparição pública
dos Tethered de mãos dadas.

Tal aparição pública se dá concomitantamente ao fim trágico de Red, de


modo que a sensação para o público espectador é de desilusão: sem a sua líder, o
movimento deve se tornar novamente sem sentido, visto que os Thetered não têm
como expressar por si seus anseios nem formular suas próprias demandas. De
alguma forma, Red atualizou as demandas deles que eles mesmos não sabiam que
tinham. Entretanto, essa é uma visão apenas superficial.

Visto pela ótica da performatividade, de mãos dadas por toda América, a


demanda política dos Thetered não precisa de fato ser formulada. Isso porque não
vai além do desejo de aparição pública, de reconhecimento do olhar público.
Considerando que foram apartados da humanidade em geral, de qualquer interação
social, ou seja, do direito mesmo de aparecer em público, assume-se que a
demanda dos Tethered, não vocalizada, se houver uma,resume-se ao desejo
primeiro e superficial da claridade de uma vida visível.

Nessa perspectiva, essa realidade melancólica aponta para o “direito de


aparecer”, como colocado pela filósofa americana Judith Butler em “Notes Toward a
Performative Theory of Assembly”: “For when bodies gather as they do to express
their indignation and to enact their plural existence in public space, they are also
making broader demands: they are demanding to be recognized, to be valued, they
are exercising a right to appear, to exercise freedom, and they are demanding livable
life”. (BUTLER, 2015, p. 26). (Grifo nosso)

Nenhuma surpresa, portanto, que o instrumento pessoal de Red, a líder


totalitária dos Tethered, que os representa diretamente, seja uma tesoura: não
somente porque se trata do símbolo por excelência da castração freudiana,
ameaçando podar, castrar o gozo infinito dos americanos que vivem acima da
superfície em detrimento daqueles que vivem às sombras, mas também porque é o
símbolo por excelência da montagem, que se opera a partir do corte – ambas,
castração e montagem, relacionam-se na imagem de Red. Não há dúvidas de que a
montagem, no sentido tanto da identidade simbólica de Red e Adelaide, como a
própria organização do edifício social se relaciona com a “tesoura” de Red.
Sobre a montagem (assembly), comenta Butler: “(…) when bodies assemble
on the street, in the square, or in other forms of public space (including virtual ones)
they are exercising a plural and performative right to appear, one that asserts and
instates the body in the midst of the political field, and which, in its expressive and
signifying function, delivers a bodily demand for a more livable set of economic,
social and political conditions no longer afflicted by induced forms of precarity.”.
(BUTLER, 2015, p. 11).

Nesse sentido, defende-se que o direito de aparecer (right to appear), e o


direito de ter direitos (right to have rights), ambos se entrelaçam pelas vias da
necessidade histórica na figura oprimida dos refugiados, apátridas, povos originários
e outras minorias cujos direitos universais são cotidianamente desrespeitados, e
cuja situação pode ser sentida esteticamente a partir da ilustração dos Tethered,
personagens sem voz, completamente excluídos da humanidade que dão corpo ao
terror do filme Nós (2019), de Jordan Peele.

Trágico como somente esse destino de exclusão total e injustiça infinita


poderia ser, não deixa de apresentar para além da tragédia os elementos de terror
tão significativos para o gênero cinematográfico, mas que foram sublimadas e
atualizados por Peele e através do trabalho de voz de Lupita Nyong’o.

De fato, à primeira vista somos apresentados ao horror psicológico da


protagonista que se depara com sua doppelganger, sua cópia sinistra, mas não
haveria aí um elemento de terror muito mais terrível nessa aparição? Se
considerarmos a contribuição do filósofo esloveno Slavoj Zizek para o estudo do
inumano, com forte fundamentação lacaniana, veremos que ao nos deparar com os
Tethered, estamos diante não somente de cópias sinistras dos cidadãos norte-
americanos, mas, sim, e acima de tudo, de um exército de zumbis.

Em seu livro “The Ticklish Subject”, Zizek nos diz em certa altura, numa nota
de rodapé: “The case of Antigone, of course, is more complex, since she puts her life
at stake and enters the domain 'in between the two deaths' precisely in order to
prevent her brother's second death: to give him a proper funeral rite that will secure
his eternalization in the symbolic order.” Alguma ajuda pode ser necessária para
entender a diferença entre essas “duas mortes”, a morte simbólica (social) e a morte
real (biológica), visto que se trata de um filósofo lacaniano. Na enciclopédia online e
gratuita de termos lacanianos, “No Subject”, encontra-se o seguinte sobre o limbo
entre duas mortes:

“The subject can die not once, but twice. We will suffer a biological death in
which our bodies will fail and eventually disintegrate. This is death in the real, of our
material self. We can also suffer a symbolic death. This is not the death of our actual
bodies. This death entails the collapse of the symbolic order and the destruction of
our subject positions. We can suffer a death in which we are excluded from the
Symbolic and no longer exist for the Other. This can occur in psychosis. We still exist
in the Real but not in the Symbolic.”

E como não há dúvidas de que tanto Red como os Tethered encontram-se


biologicamente vivos, mas mortos para o mundo, pode-se concluir que eles ilustram
perfeitamente essa condição “entre duas mortes”, uma condição monstruosa que na
cultura popular é geralmente performada por mortos-vivos de todas as espécies
(fantasmas, vampiros, zumbis etc). É a fantasia de uma pessoa que, recusando-se a
morrer, retorna de novo e de novo para ameaçar os vivos.

Nenhuma surpresa, portanto, ao descobrir que a passagem bíblica vista no


cartaz de um dos mendigos, logo no começo do filme, seja sobre punição divina:
“Por isso, assim diz o Senhor: ‘Trarei sobre eles uma desgraça da qual não poderão
escapar. Ainda que venham a clamar a mim, eu não os ouvirei’. ” (Jeremias 11:11)

Sim, estamos diante de um filme de terror.


REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Tradução Roberto Raposo. –


São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

BUTLER, JUDITH. Notes Toward a Performative Theory of Assembly.


Harvard University Press, 2015. JSTOR, <www.jstor.org/stable/j.ctvjghvt2>. Acessado
em 21/05/2018.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução:


Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO Experimental / Editora 34, 2005.

RANCIÈRE, Jacques. Who Is the Subject of the Rights of Man?. The South
Atlantic Quarterly, vol. 103 no. 2, 2004, p. 297-310. Disponível em PROJECT MUSE
<muse.jhu.edu/article/169147>. Acessado em 05/03/2021.

SOCIETY. (2006, May 22). No Subject - Encyclopedia of Psychoanalysis.


Acessado em 02 de fevereiro de 2021. Disponível
em:<https://nosubject.com/index.php?title=Society&oldid=5834>.

ZIZEK, Slavoj. The Ticklish Subject: The Absent Centre of Political Ontology
(London: Verso, 1999, 409 pp.).

Você também pode gostar