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CONCEITOS BÁSICOS

1. Carga elétrica
A existência da carga elétrica é a origem de todos os fenômenos elétricos. A carga elétrica é a quantidade
fundamental da eletricidade e, portanto, a quantidade mais elementar na análise de circuitos elétricos. Os
seus efeitos podem ser experimentados pelas pessoas quando tiram uma blusa de lã, quando caminham sobre
um carpete ou levam um choque. Da física básica sabemos que existem dois tipos de carga: positiva
(correspondente ao próton) e negativa (correspondente ao elétron). No sistema internacional SI, a unidade de
carga é o Coulomb e se representa pela letra C. A carga do próton (carga positiva) é igual a +1,602x10-19C e
a carga do elétron (carga negativa) é igual a -1,602x10-19C. Experimentalmente se demonstra que a carga
elétrica é discretizada ou quantizada, isto é, ela existe somente em múltiplos inteiros positivos ou negativos
do valor da carga do elétron (-1,602x10-19C). A carga é conservativa, portanto ela não pode ser criada nem
destruída, isto é o que estabelece a lei de conservação da carga. No entanto, ela pode ser manipulada de
diversas maneiras e é ali que reside o fundamento da engenharia elétrica. Uma forma de manipulação da
carga é através de um campo elétrico E . Quando a carga é exposta ao campo elétrico E , ela experimenta
uma força que tem a mesma direção de E para cargas positivas e oposta a E para cargas negativas. Uma
quantidade de carga que não muda com o tempo normalmente é representada pela letra Q. A quantidade
instantânea de carga se representa por q(t) ou simplesmente q, onde q(t) ou q é a representação do caso mais
geral sendo possível representar uma carga constante por meio de Q ou q.

2. Potencial elétrico. Diferença de potencial. Tensão


Como conseqüência da força exercida pelo campo elétrico E numa carga, esta acaba adquirindo energia
potencial elétrica. Esta energia potencial, denotada como w, depende da magnitude da carga assim como da
sua posição no espaço. Este efeito é similar ao que acontece a uma massa exposta à gravidade da terra.
Elevando a massa m a uma altitude h acima da algum nível de referencia, como por exemplo, o nível do mar,
se aumenta a sua energia potencial numa quantidade w=mgh, onde g é a aceleração da gravidade. Se
deixarmos a massa solta, esta cairá na direção do decrescimento da energia potencial, adquirindo no processo
energia cinética. O mesmo se pode disser sobre o efeito de um campo elétrico numa carga, veja na figura 1
que ao deixar uma carga positiva +q solta (no ponto A) numa região com campo elétrico constante, esta
carga começa a se deslocar na direção do campo elétrico, a energia potencial elétrica no ponto A será igual a
wA=FxA ou wA=qExA, onde F é a magnitude da força exercida pelo campo elétrico (F=qE) e xA é a distância
da referência ao ponto A. Note que, neste caso, a carga se desloca de um ponto de maior potencial (ponto A)
a um ponto de menor potencial (ponto B) onde a energia potencial elétrica será wB=qExB. As cargas
positivas tendem a cair na mesma direção do campo E , e as cargas negativas na direção oposta ao campo E
ou contra E .

Figura 1 Energia potencial elétrica


Lembre de seus estudos de física que o nível de referência ou de zero da energia potencial podia ser
escolhido arbitrariamente, a razão disto é que somente as diferenças na energia potencial tem significado
prático. No caso gravitacional é muitas vezes conveniente escolher o nível do mar como nível zero de
energia potencial, no caso elétrico se concorda em referir se a um nível zero de energia potencial para as
cargas como terra (ground). Os equipamentos trazem um cabo de alimentação com três pinos, dois para
conexão com a alimentação da concessionária e o terceiro para conexão ao terra. Todos os pontos do
equipamento conectados ao terra se dizem que estão aterrados, e qualquer carga que se encontre nestes
pontos se assume que tenha energia potencial igual a zero. Na falta de uma conexão de terra, como no caso
de equipamentos portáteis, o chassis assume o papel do terra.
A taxa na qual a energia potencial elétrica varia com a carga, considerando uma carga colocada num
determinado ponto, é denotada como v e é chamada de potencial elétrico nesse ponto. Também pode ser
visto como a energia potencial por unidade de carga, de uma carga colocada nesse ponto ou a densidade da
energia potencial. O potencial elétrico é dado pela expressão,
dw
v= (E.1)
dq
No sistema internacional SI, a unidade do potencial elétrico é o volt ou V, a unidade da energia é o Joule ou
J, portanto 1V=1J/1C.
Devemos lembrar que, quando a força elétrica desloca uma carga, ela faz a carga mudar a uma posição onde
terá um valor diferente de energia potencial elétrica, e o valor desta energia não é importante, o que importa
é a diferença da energia entre estas duas posições. Por isso é que se define a diferença de potencial (d.d.p.),
também chamada de tensão, queda de tensão ou voltagem, entre dois pontos A e B, como o trabalho
realizado para deslocar uma carga unitária entre esses dois pontos, isto porque quando se separam cargas
positivas de negativas, uma quantidade de energia é consumida no processo. Por isso, a diferença de
potencial se define como o trabalho realizado para mover uma carga unitária entre dois pontos A e B. Se
chamamos dw ao trabalho, dado em Joules , para mover um diferencial de carga dq entre os pontos A e B
com potenciais vA e vB respectivamente, e se denotamos como uAB a diferença de potencial ou tensão entre
estes dois pontos, que pode também ser escrito em geral como u(t), o valor da tensão será,
dw
u AB = u ( t ) = v A − v B = (E.2)
dq
A tensão vAB entre dois pontos é a energia (ou trabalho) necessário para mover uma carga unitária desde A
até B. Tensão ou diferença de potencial é a energia requerida para mover uma carga unitária através de um
elemento.
Vamos tomar como exemplo o caso da figura 1, nela iremos considerar que o campo elétrico E é constante e
se encontra na mesma direção de x AB . Os potenciais elétricos nos pontos A e B serão, respectivamente,
∆w A ∆w B
vA = vB =
q q
Assim,
F ⋅ xA F ⋅ xB q ⋅ E ⋅ xA q ⋅ E ⋅ xB
u AB = v A − v B = − = − = E ⋅ ( x A − x B ) = E ⋅ x AB
q q q q
O que pode ser verificado pelo leitor aplicando os seus conhecimentos de teoria eletromagnética. No caso de
um campo elétrico que coincide com a direção x, como no exemplo da figura1, tem se a seguinte relação,
dv ∆v
E=− E=−
dx ∆x
Assumindo que xA=0, o potencial vA=V volts, o potencial vB=0 volts e que a direção do campo E coincide
com a direção do decréscimo do potencial elétrico e com a direção de x AB , podemos escrever,
∆v V−0 V V
E=− =− =− = (V/m)
∆x 0 − x AB − x AB x AB
que resulta de uma importante lei da física: E = −gradv .
A unidade para o potencial elétrico v(t) assim como para a tensão u(t), no sistema internacional SI, é o Volt
ou V. O potencial elétrico se representa como v(t) se a magnitude depende do tempo ou como V se esta não
depende do tempo. A mesma representação se utiliza para a tensão, u(t) quando a tensão depende do tempo e
U quando não depende do tempo. Em alguns textos podem se encontrar e(t) e E para representar uma tensão
dependente ou não do tempo respectivamente.
Na figura 2 suponha que um fluxo de cargas esta entrando pelo terminal A e circula através do elemento
geral, saíndo pelo terminal B. Considere que para empurrar as cargas através do elemento se requer um gasto
de energia. Neste caso se diz que, existe uma tensão elétrica (ou uma diferença de potencial) entre os
terminais A e B, ou que há uma tensão entre os terminais do elemento geral. Desse modo, a tensão entre um
par de terminais significa uma medida do trabalho que se requer para mover as cargas através do elemento.

Figura 2 Elemento geral de dois terminais


Em termos energéticos, se há uma diminuição de potencial entre os terminais A e B, isto é o terminal A tem
um potencial maior que o terminal B, uma carga irá desenvolver um trabalho para se deslocar de A para B.
No caso contrário, quando a carga se desloca do terminal B para o terminal A, quando vai de um potencial
menor para um potencial maior, será necessário um trabalho externo para mover esta carga. Assim, se a
diferença de potencial entre os terminais A e B da figura 2 é de 2 volts, podemos afirmar que há uma queda
ou diminuição do potencial de A para B igual a 2 volts (ou vBA=2V) ou que há uma elevação ou aumento do
potencial entre B e A igual a 2V.
Para reforçar o entendimento destes conceitos, vejamos o caso da figura 3, onde se mostra uma carga elétrica
de 1 Coulomb, que no ponto A está a um potencial vA=7 volts (em relação a uma referencia chamada de terra
no ponto O onde vo=0V) e no ponto B se encontra a um potencial vB=5 volts. Portanto, existe entre A e B
uma diminuição ou queda de potencial uAB=2V, ou dito de outra forma, há uma elevação ou incremento de
potencial entre B e A de 2V. Se a carga de 1C é deixada no ponto A, esta será atraída pelo campo elétrico E
se deslocando ao ponto B, neste processo de deslocamento desenvolve um trabalho e sofre uma queda de
potencial elétrico. Se pelo contrário consideramos que a carga é deixada inicialmente no ponto B, então para
ela ir até o ponto A, que está a um potencial maior, será necessário que um agente externo comunique uma
energia à carga para mover esta do ponto A até o ponto B em contra das forças do campo elétrico. O agente
externo, neste caso, pode ser um gerador elétrico que deve elevar o potencial das cargas elétricas. No
primeiro caso vemos que existe uma diminuição da energia potencial elétrica, isto é, uma parte da energia é
perdida no processo de deslocamento da carga de A para B, isto caracteriza a um tipo de elemento chamado
de passivo. No segundo caso a carga precisa de uma fonte externa de energia para se deslocar de B para A,
isto é, ela ganha energia para conseguir atingir o ponto de maior potencial, portanto ela não perde energia,
pelo contrário ela ganha energia, isto caracteriza o tipo de elemento conhecido como ativo.

Figura 3 Potencial elétrico


Pode existir uma tensão ou diferença de potencial entre um par de terminais independente de se há um fluxo
de carga ou não, isto é, havendo ou não um fluxo de carga pode existir uma tensão entre dois terminais. Esta
diferença de potencial é facilmente criada por meio de uma bateria. O terminal que tem o maior potencial dos
dois é identificado pelo sinal + e é chamado de positivo. O outro terminal é chamado de negativo e
identificado com o sinal -. Denotando os potenciais dos terminais de forma individual em relação ao terra
(referencia) como vP (terminal positivo ou de maior potencial) e vN (terminal negativo), a bateria produz,
vP-vN=VS (E.3)
onde VS é o valor da tensão da bateria,

(a) (b) (c)


Figura 4 (a) bateria de 9V; (b) pilha de 1,5V; (c) bateria de 12V
Vamos tomar como exemplo a bateria de 9V da figura 4a, ela produz vP-vN=9V, isto é, mantém vP a um
potencial mais elevado que vN num valor de 9V, independente dos valores individuais dos potenciais em vP e
vN. Se levarmos a terra (referencia) o terminal negativo da bateria de modo que vN=0V, a bateria irá a
produzir vP-vN=9V e portanto vP=9V. Reciprocamente, se aterramos o terminal positivo de modo que vP=0V,
a bateria produz vP-vN=9V e vN=-9V. Da mesma maneira, se vN=6V a bateria produz um vP-vN=9V sendo que
vP=15V, se vN=-6V então a bateria terá vP=3V, se vP=-5V a bateria produz um vN=-14V. O mesmo acontece
na pilha da figura 4b, onde vP-vN=1,5V, sendo que o potencial vP é maior que o potencial de vN num valor
igual a 1,5V. Outro exemplo é a bateria de 12V dos automóveis, neste caso o terminal negativo é projetado
para ser conectado ao chassis do veículo e, portanto, estar a potencial zero por definição.
Observemos que os termos positivo e negativo não tem relação com as polaridades individuais de vP e vN,
eles só refletem os sinais que precedem vP e vN na equação E.3. É muito claro que, os termos maior e menor
são os mais adequados de serem utilizados do que os termos positivo e negativo.
Na figura 5 aparece a tensão entre os terminais A e B de um elemento. Os sinais + e - se utilizam para definir
a polaridade da tensão de referência. A tensão vAB pode ser interpretada de duas maneiras: (1) O terminal A
está a um potencial de vAB volts maior do que o terminal B, ou (2) O potencial em A respecto do terminal B é
vAB.

Figura 5 Polaridade da tensão vAB


Desta maneira podemos escrever que vAB=vA-vB, multiplicando por -1 obtemos -vAB=-vA+vB, reescrevendo a
expressão obtida resulta em -vAB= vB-vA, mas como vBA= vB-vA por definição, então vBA =- vAB, por isso
podemos concluir que,
vAB=- vBA (E.4)
Vejamos outro exemplo. Na figura 6a a variável que representa a tensão ou diferença de potencial entre os
terminais A e B é definida como v1, e como podemos observar se assume que o terminal A se encontra a um
potencial maior que o terminal B, o que é indicado pelos sinais + e - na própria figura. Na figura 6a é
evidente que a diferencia no potencial entre os terminais A e B é de 2V e que o terminal A é de maior
potencial. Se uma carga unitária se desloca do terminal A através do elemento ou circuito até o terminal B,
ela irá a ceder uma parte da energia ao circuito e terá 2J de energia a menos ao atingir o terminal B. Agora,
se a carga se desloca de B para A, o circuito deve fornecer uma energia extra para esta carga, assim, a carga
vai acabar com 2J a mais de energia ao atingir o terminal A, do que tinha ao início no terminal B.

(a) (b) (c)


Figura 6 Representação da tensão
Para o circuito da figura 6b, v2=-5V, assim vA-vB=-5V, portanto vAB=-5V, mas na figura 6c temos que vB-
vA=5V, que é o mesmo que escrever vBA=5V, assim chegamos em que vAB=-vBA, que é o que a equação E.4
representa. Isto significa que a diferença de potencial entre os terminais A e B é de 5V e que o terminal B é o
de maior potencial. A tensão na figura 6b pode ser expressa como a mostrada na figura 6c, com o sinal + no
terminal de maior potencial.
Note que é importante definir uma variável com uma direção de referencia de modo que a resposta possa ser
interpretada desde um ponto de vista físico no circuito. Nós vamos ver depois que em muitos casos não é
possível definir uma variável de maneira que a resposta seja positiva, mas também veremos que a escolha de
uma variável não necessariamente nos fornece um valor positivo, e mais ainda, não será necessário que isso
aconteça.
Observando as figuras 6b e 6c, podemos ver que o número negativo de v2 na figura 6b traz exatamente a
mesma informação do número positivo de v2 na figura 6c, a única diferença entre elas é que são opostas na
direção (ou polaridade) de referencia, isto é na posição dos sinais + e -. Isto nos leva a pensar que, para
definir uma tensão é necessário que sejam definidos a magnitude e a direção (ou polaridade) desta tensão,
sendo incompleto indicar somente a tensão ou somente a direção.

2.1 Tensão de referência


A atribuição da polaridade (direção) de referência para a tensão é arbitrária, mas, uma vez adotada a
referência, todas as equações resultantes da análise do circuito devem ser escritas em concordância com a
referencia escolhida. A indicação da polaridade de referencia da tensão entre dois terminais A e B pode ser
feita de diversas maneiras, como se mostra na figura 7. Estas formas podem ser encontradas na literatura.

(a) (b) (c) (d)


Figura 7 Polaridade (direção) de referência da tensão
A notação da figura 7a é feita utilizando um duplo subíndice, no sentido indicado pela equação E.2. O
símbolo literal uAB é colocado ao lado de uma linha reta ou curva desenhada entre os terminais (neste caso
entre A e B) e uAB indica a tensão entre estes terminais. Na figura 7b se utiliza também a linha reta ou curva,
mas no lugar do duplo subíndice no símbolo literal, se utiliza simplesmente u, indicando com o sinal + o
primeiro terminal identificado no subíndice (no caso da figura 6 seria o terminal A), e com sinal - o outro
terminal da linha (terminal B). Neste caso o símbolo u indica o valor da tensão ou a diferença de potencial
entre os terminais A e B. A linha pode ser omitida, como no caso da figura 7c, quando a identificação dos
terminais é clara e não gera ambigüidade, neste caso u indica a tensão entre A e B. Quando se utiliza uma
seta ela deve ser orientada a partir do terminal indicado como primeiro subíndice (terminal A) para o
terminal indicado no segundo subíndice (terminal B), colocando o símbolo literal da tensão ao lado da seta.
Na maioria dos textos se utiliza a notação da figura 7c e em menor número a notação da figura 7b. Outra
forma de indicar a tensão entre A e B é em termos de quedas de tensão ou elevações de tensão. Vejamos
alguns exemplos para esta notação.

Exemplo 1. Sejam as representações da tensão para o mesmo elemento dado na figura8.

(a) (b)
Figura 8 Representação da tensão para um elemento
Na figura 8a o terminal a tem +9V a mais que o terminal b, portanto há uma queda de tensão de 9V do
terminal a ao terminal b ou, de forma equivalente, há um aumento ou incremento de tensão de 9V do
terminal b ao terminal a. Assim, va-vb=9V. Na figura 8b o terminal b tem -9V a mais que o terminal a,
podemos escrever essa relação através da expressão vb-va=-9V, ou escrever de forma equivalente que
va-vb=9V. Como se pode observado os esquemas das figuras 8a e 8b representam a mesma tensão, portanto
são representações equivalentes. Nos dois casos há uma queda de tensão de a para b que é equivalente ao
incremento da tensão de b para a. Podemos também supor que vb=0V, neste caso o potencial no terminal a,
para a figura 7a, será va=9V, já para o figura 8b o potencial pode ser determinado de -va=-9V, que resulta em
va=9V, o que indica que o terminal a tem 9V a mais que terminal b. O leitor pode supor um valor de vb
diferente de zero e determinar va para este caso, de qualquer maneira a diferença de potencial será sempre
9V.

Exemplo 2. Considere os elementos ou circuitos e as tensões indicadas na figura 9.

(a) (b) (c) (d)


Figura 9 Representação da tensão
Na figura 9a, o sinal + no terminal a indica que este é v volts superior em relação ao terminal b. Como este
valor de v é de -5V então indica que o terminal a é -5V positivo em relação ao terminal b, sabemos que
va-vb=-5V e se consideramos que vb=0V então va-0=-5V resulta em va=-5V; se vb=5V então va-5v=-5V
resulta em va=0V, como poder ver estamos incrementando uma tensão de -5V ao potencial vb para obtermos
o valor de va, isto é, va esta a -5V positivo em relação ao vb. Também, como va-vb=-5V, podemos reescrever
a expressão como vb-va=5V, o que indica que o terminal b é 5V positivo respeito do terminal a. Neste caso
podemos redesenhar a figura 9a, levando em conta a relação vb-va=5V, que resulta na representação mostrada
na figura 9b. Outros casos se apresentam nas figura 9b, 9c e 9d, que deixamos para análise do leitor.

Exemplo 3. Se, na figura 10, a tensão uAC=E volts e uBC=-k volts, determine o valor de uAB.
Figura 10 Circuito elétrico de três terminais
Segundo os sinais apresentados na figura 10, o terminal C se encontra a um potencial uBC volts menor que o
terminal B, além disso o próprio terminal B se encontra a um potencial uAB volts menor que o potencial no
terminal A. Também podemos dizer que, o terminal A esta com potencial uAB volts superior ao terminal B,
que por sua vez esta com potencial uBC acima do terminal C. Relacionando os potenciais nos terminais
obtemos duas relações, uAB=uA-uB e uBC=uB-uC que pode também ser escrita como uB=uBC+uC. Logo,
uAB=uA-(uBC+uC), que resulta em uAB=uA-uBC-uC, ou o que é o mesmo uA-uC=uAB+uBC, onde uA-uC=uAC.
Portanto, a diferencia de potencial entre os terminais A e C deve cumprir a seguinte relação: uAC=uAB+uBC.
Substituindo os valores temos que E=uAB+(-k). O valor procurado será uAB=E+k.
Outra forma de encontrar a tensão uAB no circuito da figura 10 também é possível. Vejamos, uBC=-k volts e
da equação E.4 podemos escrever uBC=- uCB o que nos leva a afirmar que - uCB=-k volts ou uCB=k volts. O
sinal negativo no valor da tensão uBC indica que a polaridade desta tensão esta invertida, o que acabamos de
demonstrar ao encontrar que uCB= k volts, que mostra que o terminal C tem um potencial elétrico maior em
relação ao terminal B equivalente a k volts. Redesenhando o circuito da figura 10 para mostrar como fica
após a mudança na polaridade na tensão uBC e inserindo a tensão uCB=k volts ficaria como na figura 11,

Figura 11 Circuito modificado para apresentar as mudanças propostas


Agora é fácil visualizar no circuito da figura 11 que a relação das tensões é uAB=uAC+uCB e que uAB=E+k
volts.
Ainda outra forma de fazer é a partir do ponto de vista energético. Assim, para levar uma suposta carga do
terminal A ao terminal C, esta deve se deslocar do terminal A ao terminal B e depois do terminal B ao
terminal C. Seguindo este percurso, a carga passa de um terminal de maior potencial (terminal A) a outro de
potencial menor (terminal B), com isso há uma diminuição de tensão no valor de uAB volts, a seguir esta
carga vai do terminal B de um potencial maior ao terminal C com potencial menor ao de B, novamente
temos um decréscimo da tensão num valor de uAB volts. Como pode ser visto, para a carga chegar ao
terminal C, saindo do terminal A, ela passa por duas etapas de diminuição de potencial com valores de uAB e
uBC volts, potanto, entre os terminais A e C há uma queda de tensão que será a soma de uAB+uBC volts, assim
podemos escrver que uAC=uAB+uBC, de onde uAB=uAC-uBC, resultado em uAB=E+k volts.

Exemplo 5. Para o circuito da figura 12, determine a tensão uCD em função das outras tensões (ou diferenças
de potencial).

Figura 12 Circuito elétrico de quatro terminais


Neste exemplo devemos encontrar o valor de uCD em termos de uAB, uBD e uAC. Vamos começar pela tensão
uCD=uC-uD. Nesta expressão falta determinar os potenciais uC e uD que devem ser determinados das
diferenças de potencial entre os outros terminais, assim, uAB=uA-uB; uBD=uB-uD e uAC=uA-uC. Destas
expressões obtemos as seguintes relações: uC=uA-uAC e uD=uB-uBD, que ao substituir na expressão uCD=uC-uD
obtemos uCD= uA-uAC–( uB-uBD), que reescrevendo será uCD= uA-uB -uAC+uBD ou ainda uCD= uAB-uAC+uBD
volts que é a tensão procurada.
Também poderíamos ver da seguinte maneira, uma carga hipotética que sai do terminal C e passa pelos
terminais B e D até chegar ao terminal D, sofre incrementos e quedas de tensão no seu percurso. Quando a
carga vai de C para A há uma fonte externa de energia que permite à carga ir de um terminal de menor
potencial a outro terminal com maior potencia, por isso uCA=-uAC. Para os outros terminais haverá sempre o
deslocamento de um terminal de maior potencial a um terminal de menor potencial. Portanto, a diferença de
potencial entre C e D deve ser igual à soma das tensões C e A, A e B, B e D, mas entre C e A há uma queda
de tensão de –uAC volts, que na verdade é um incremento de potencial, por isso uCD= uCA+uAB+uBD que é o
mesmo que escrever uCD= -uAC+uAB+uBD (uCD=quedas de tensão-incrementos de tensão).

2.2 Exercícios propostos


Exercício 1. Veja o circuito da figura 13 com cinco terminais e com as polaridades indicadas. Determine v23
se v12=a volts, v34=b volts, v45=-d volts e v15=5a-2b volts.

Figura 13 Circuito elétrico com cinco terminais

Exercício 2. Na figura 14 se mostra um circuito composto por resistores, capacitores e indutores, formando
um circuito chamado de RLC. Se vAB=VS volts; vAC=a volts e vCD=b volts. Determine vCB e vDB.

Figura 14 Circuito RLC


Exercício 3. A figura 15b mostra um circuito eletrônico que funciona em base a um dispositivo de três
terminais chamado de transistor (figura 15a). Os terminais deste dispositivo são chamados de base (B),
emissor (E) e coletor (C). O transistor é utilizado como amplificador de sinais e como interruptor em
sistemas de acionamento. Para o circuito da figura 15b, se vPS=vBB volts; vQS=vCC volts; vES=vEE volts;
vBE=0,7 volts e vCE=0,3 volts, determine vPB e vQC.

(a) (b)
Figura 15 Circuito eletrônico com transistor
Exercício 4. Seja o circuito eletrônico da figura 16, onde vBE=0,7 volts, vPE=vCC volts, vCE=0,3 volts.
Determine vCB em termos de vBE, vCC e vCE.

Figura 16 Circuito de alimentação do transistor

Exercício 5. Na figura 17a se ilustra de forma simplificada um sistema de geração, transmissão e distribuição
de energia elétrica, no qual etapas de elevação e redução de tensão não foram consideradas. As resistências
RLT1 e RLT2 representam a resistência oferecida pelos condutores que transportam a corrente desde fonte de
geração até o consumidor final, neste caso o consumidor residencial. As cargas elétricas existentes no
consumidor final (chuveiro, lâmpadas, TV, som, e outros aparelhos) são representadas por uma única
resistência de carga denotada como RLOAD (load é do inglês e significa carga). Na figura 17b há uma
representação em diagrama de blocos do sistema de geração da figura 17a. Determine a tensão ou diferença
de potencial no consumidor residencial.

(a)

(b)
Figura 17 Sistema de geração de energia elétrica

Exercício 6. O equalizador é um dispositivo que permite ajustar de forma independente sons graves, médios
e agudos, a partir da freqüência. A figura 18 mostra um circuito simplificado para ajustes de graves num
equalizador. Ele é composto por um dispositivo de três terminais (+,- e O) conhecido como amplificador
operacional ou OpAmp, onde as entradas são os terminais (+) e (-) e a saída é o terminal O. R3 é uma
resistência de valor variável (também chamado de potenciômetro). Se consideramos que o som é aplicado
nos terminais P e Q então temos uma tensão vPQ volts que representa o som na entrada do equalizador.
Determine a tensão vOQ em função de vPQ e das tensões nos outros elementos do circuito.

Figura 18 Circuito de ajuste de graves num equalizador


Exercício 7. Uma lanterna é composta, basicamente, por pilhas, lâmpada, interruptor e invólucro, como se
observa na figura 19a. O interruptor tem duas posições, quando está fechado ele conecta as pilhas à lâmpada
ligando a lanterna e quando está aberta desconecta as pilhas da lâmpada e a lanterna é desligada. O modelo
elétrico da lanterna está na figura 19b. Nela, RC representa a não idealidade dos contatos do sistema
mecânico indicando, por exemplo, que a mola não exerce suficiente pressão para ter um adequado contacto
entre as pilhas, RP representa o consumo ou dissipação interna de energia na pilha que pode produzir calor e
outros efeitos parasitas, RLamp representa a lâmpada em funcionamento pois o calor produzido pela lâmpada
gera a luz, que é o resultado esperado. Se o interruptor estiver fechado, determine a tensão ou diferença de
potencial vAF na lâmpada.

(a) (b)
Figura 19 (a) A lanterna; (b) Modelo elétrico da lanterna

Exercício 8. Um sistema muito comum nos automóveis é o vidro térmico traseiro ou desembaçador do vidro
traseiro utilizado para eliminar o acumulo de umidade. Para isso “tiras resistivas” instaladas na face interna
do vidro são conectadas ao sistema elétrico do veículo, como se mostra na figura 20a, de modo que se possa
transformar energia elétrica em energia térmica. A disposição das tiras resistivas pode ser feita de várias
maneiras. É possível construir um modelo elétrico para este sistema. O mais simples é o da figura 20b onde
cada tira é representada por um resistor, neste caso todos os resistores (ou tiras resistivas) têm a mesma
tensão ou diferença de potencial vAB=vbat. O segundo modelo (figura 20c) considera dividir cada tira em três
partes, não necessariamente iguais, e representar cada uma de estas partes como um resistor. Como o valor
da resistência depende do comprimento, cada parte da tira dividida terá um valor de resistência (R1, R2 e R3).
Como pode ser notado, o modelo da figura 20c sugere que todas as tiras resistivas têm o mesmo
comprimento. O modelo da figura 20d é uma variação do modelo da figura 20b, a diferença está na forma em
que as tiras estão ligadas à bateria, separadas em grupos de três neste caso, assim temos três resistores com
uma tensão vAC e outros três com tensão vCB. A disposição mostrada na figura 20e indica que o modelo
considera, além das tiras resistivas horizontais (R1, R2, R3, R4 e R5), as ligações verticais entre as tiras (Ra,
Rb, Rc e Rd). Determine a tensão entre C e D no circuito da figura 20c e na figura 20e, e entre B e D na
figura 20e. A modo de exercícios determine a tensão entre outros pontos dos diferentes circuitos.

(a) (b) (c) (d) (e)


Figura 20 (a) Sistema do vidro térmico traseiro (desembaçador traseiro); (b),(c),(d),(e) Modelos do vidro
térmico traseiro através de uma rede resistiva

Exercício 9. Muitos computadores são montados de acordo com as especificações do próprio usuário, e o
técnico responsável pela montagem pode errar na hora de ligar os conectores da placa à porta USB do
gabinete. Para isso, na figura 21a se apresenta um dispositivo que permite testar se a porta USB está
funcionando corretamente ou se foi montada corretamente. Ele é composto por três indicadores luminosos
que nos diz qual é o estado da porta USB em teste. Os indicadores luminosos são construídos em base a
diodos que emitem luz chamados de LED (Light-Emitting Diode). A emissão de luz nestes diodos acontece
somente quando uma quantidade de carga elétrica circula entre o anodo A (+) e o cátodo K (-), isto é quando
o terminal (+) se encontra a um potencial elétrico maior que a do terminal (-), ou vAK>0. Na figura 21b e 21c
se ilustra o diodo LED e a sua forma de identificação dos seus terminais, note que o terminal (+) é mais
longo e o terminal (-) se encontra do lado do corte no invólucro do dispositivo. A figura 21d mostra a visão
desde a parte inferior do diodo e a sua simbologia utilizada em diagramas de circuitos, identificando o anodo
A na base do triangulo e o cátodo K no vértice. O circuito que realiza o teste na porta USB é o da figura 21e.
A tensão V14 entre os terminais 1 e 4 do conector é de 5 volts fixos (nível TTL), os terminais 2 e 3 são
utilizados para a comunicação de dados. Vejamos o funcionamento do testado quando ligaro a uma porta
USB.
Ao conectar o dispositivo testador USB ao porto USB do computador, e se todas as ligações na porta
estiverem corretas (isto é V14=5V), o LED verde deve acender (pois VAK>0 ou VYS>0 para este LED), o LED
vermelho deve ficar desligado (pois VAK<0 ou VSQ<0 ou ainda VQS>0 para este LED), o LED amarelo deve
piscar três vezes de forma rápida (durante os instantes onde VPT>0 ou VAK>0 para este LED) devido ao
processo de reconhecimento do dispositivo USB, como ele não é reconhecido pois não obtém resposta do
dispositivo testador o computador indicará um erro de funcionamento.
Se ao conectar o testador USB na porta USB e o LED vermelho ficar acesso, isto indica que as ligações nos
terminais 1 e 4 na porta USB foram trocadas, portanto V14=-5V ou V41=5V, assim VSQ>0 ou VAK>0 para o
LED vermelho, que o força a ficar acesso, já no LED verde VYS<0 ou VAK<0 deixando este LED desligado,
o mesmo acontece com o LED amarelo pois sendo o potencial elétrico em P nulo (VP=0V) a tensão VPT<0
ou igual a zero, assim este LED também permanece desligado.
Se o LED amarelo ficar acesso indica que houve uma ligação errada dos terminais na porta USB do
computador deixando VPT>0 permanentemente.
Se todos os LEDs ficam desligados indica que não há alimentação na porta USB ou houve erros na ligação
dos conectores da placa mãe na porta USB. Nos dois últimos casos deve se ter cuidado antes de ligar
qualquer equipamento.
Para o circuito da figura 21e determine a tensão em cada diodo LED.

(a) (b) (c) (d)

(e)
Figura 21 (a) Testador de porta USB; (b) e (c) Diodo LED; (d) Símbolo do diodo LED; (e) Circuito do
testador de porta USB

Exercício 10. Às vezes acontece de deixar as luzes do automóvel ligadas durante um longo período, e quando
vai ligar o carro, ela não liga, pois a bateria ficou descarregada, isto é sem carga elétrica suficiente para
colocar o sistema de ignição em funcionamento. Isto obriga o motorista a recorrer a carregadores de baterias
ou a uma ligação direta com uma bateria auxiliar carregada, como a mostrada na figura 22a. Este tipo de
ligação entre duas baterias deve ser realizado com bastante cuidado, pois oferece grandes riscos ao operador,
um deles é a possível explosão da bateria. Para minimizar estes riscos alguns cuidados devem ser tomados,
como se observa na figura 22a, (1) conecte o cabo auxiliar positivo ao terminal positivo da bateria
descarregada; (2) conecte a outra extremidade do mesmo cabo ao terminal positivo da bateria auxiliar
(bateria carregada); (3) conecte o cabo auxiliar negativo ao terminal negativo da bateria auxiliar; (4) faça a
conexão final no bloco do motor do veiculo que está com a bateria descarregada, esta conexão deve ser feita
em um ponto não muito próximo da bateria. Depois de feitas as conexões, dê a partida no carro que tem a
bateria carregada e deixe funcionando por 5 minutos antes de dar a partida no veículo com a bateria
descarregada, com isso a bateria descarregada receberá uma pequena carga antes da partida. Quando o
veículo com a bateria descarregada iniciar a funcionar, desligue os cabos na seqüência inversa à da conexão
realizada, evitando de este modo que qualquer diferença de potencial entre os alternadores dos carros venha a
danificar algum componente dos mesmos. A figura 22b mostra um diagrama do circuito que representa a
ligação direta da figura 22a, onde RB1 e RB2 são consideradas para indicar as não idealidades das baterias e
RC a não idealidade do cabo auxiliar. Indique qual será o sentido do fluxo de cargas no circuito da figura 22a,
justificando sua resposta. Determine a tensão para cada resistor.

(a) (b)
Figura 22 (a) Ligação direta para carregamento de bateria; (b) Circuito equivalente da ligação direta

Exercício 11. O transporte ferroviário elétrico tem sido utilizado por mais de 100 anos. Na figura 23a se
mostra um trem elétrico. Ele precisa de um sistema elétrico de alimentação que é fornecida através de uma
subestação de energia elétrica. O fluxo das cargas (corrente) é mostrada na figura 23b onde as setas indicam
o sentido deste fluxo. A partes principais do trem são: a linha de transmissão elétrica, que liga a subestação
ao trem; o pantógrafo que é colocado no teto do trem, e tem a tarefa de transferir a energia elétrica da linha
de transmissão aos sistemas elétricos do trem; o circuito de controle que administra o funcionamento do trem
e o acionamento do sistema de tração que é composta pelos motores que movimentam ou param o trem. O
circuito elétrico equivalente do trem é mostrado na figura 23c, onde RLinha representa as resistência dos
condutores, RControle representa todo o sistema de controle e RMotor representa o motor em funcionamento. Este
circuito equivalente é bastante aproximado e efeitos como o indutivo não foram considerados. Se VAB=U
volts, determine a tensão no motor.

(a)

(b) (c)
Figura 23 (a) Trem elétrico; (b) Sistema elétrico de um trem elétrico; (c) Circuito equivalente simplificado
do trem elétrico
Exercício 12. Considere o sistema de som automotivo apresentado na figura 24a, composto por um sistema
de reprodução de áudio, um amplificador que aumenta o nível do som vindo do reprodutor e um alto falante,
que é a saída de áudio do sistema de som. Este sistema de som pode ser modelado por um circuito elétrico
aproximado, como aquele mostrado na figura 24b. Neste circuito vamos supor que a leitura do sistema de
áudio produz um nível de tensão igual a 200mV, Rsa representa as não idealidades do sistema de som. O
amplificador é representado por duas resistências, uma de entrada (Ramp) e uma de saída (Rout), sendo que o
sinal vindo do sistema de áudio (a tensão Vab) é amplificado em 120 vezes, isto é 120Vab. O sinal de saída do
amplificador (a tensão Vcd) é aplicado a um alto falante, representado pelo resistor Rp, que produz o som
desejado no nível desejado. Se Vcd=20V, determine a tensão no resistor Rout.

(a) (b)
Figura 24 (a) Sistema de som automotivo; (b) Modelo em circuito elétrico do sistema de som automotivo

Exercício 13. É comum a necessidade de ligar dois equipamentos eletrônicos de modo que a saída de um
deles seja a entrada do outro equipamento. Esta situação é mostrada na figura 25a, onde um computador esta
ligado a uma impressora. O computador gera uma quantidade de dados a ser impresso (saída do computador)
que será a informação de entrada da impressora. A ligação destes dois equipamentos é feita através de um
cabo que permite a transmissão de dados de forma adequada. Dessa forma, o computador (transmissor)
envia sinais elétricos através do cabo para a impressora (Receptor), segundo mostra a figura 25b onde Vab é o
sinal de saída do computador e Vcd é o sinal de entrada no receptor depois de passar pelo cabo. O modelo
elétrico se ilustra na figura 25c onde o transmissor é modelado como um elemento com uma tensão Vab
(também chamado de fonte de tensão), o cabo é modelado como um circuito composto de um resistor R dado
em Ω/m e um capacitor C dado em F/m, isto é, os valores dos dois elementos que representam o cabo
dependem do comprimento do cabo. Por exemplo, para um cabo RG58 os valores típicos são 0,54Ω/m e 88
pF/m. O receptor é modelado como um circuito aberto. Considerando o seu conhecimento do
comportamento de um capacitor, explique como será o fluxo de cargas no circuito e determine a tensão nos
terminais do capacitor.

(a) (b) (c)


Figura 25 (a) Impressora ligada a uma laptop; b) Os dois dispositivos estão ligados por um cabo; (c) Modelo
do circuito equivalente da ligação da impressora com a laptop

3. Corrente elétrica
Considere o modelo atômico de um átomo de cobre da figura 26, um dos materiais condutores mais
utilizados. O cobre possui 29 prótons no seu núcleo e um número igual de elétrons nas orbitas ao redor deste
núcleo. Estes elétrons se encontram a diferentes distancias do núcleo e os mais próximos ao núcleo sofrem
uma força de atração maior ao centro do que aqueles elétrons que se encontram mais afastados do centro, isto
é nas orbitas mais distantes do núcleo. Os elétrons de valência, aqueles que se encontram na orbita mais
externas do átomo, sofrem uma força de atração ao centro muito menor, assim para estes elétrons
abandonarem seus átomos se requer de uma força menor.
Figura 26 Modelo atômico do cobre

Quando um elétron é energizado, ele começa a vibrar aumentando o seu movimento, isto produz uma
necessidade de espaço maior para o elétron que o obriga a se deslocar para fora de sua órbita habitual,
enfraquecendo a sua interação natural com o átomo. Se a energia é de tal valor que o elétron efetivamente
abandone o seu átomo original, ele se transforma num elétron livre e irá se deslocar para outro átomo onde
possivelmente coincida com outro elétron, também com carga negativa, ocorrendo um choque de campos
eletromagnéticos. O elétron livre, que esta chegando, por estar com maior energia, transfere energia cinética
ao elétron menos energizado, e o elétron livre perde parte de sua energia cinética, mas ocupa o lugar do
elétron que, ao ganhar energia cedida pelo elétron livre, aumentara seu movimento e a sua necessidade de
espaço deixando finalmente o seu espaço ao elétron livre que esta chegando, e este novo elétron livre se
deslocará a outro átomo. Este processo acontece de maneira sucessiva gerando uma reação em cadeia de um
átomo para outro. Os elétrons conservam a sua energia e a transferência de energia entre elétrons e a
eletricidade. O movimento dos elétrons na mesma direção gera um fluxo de elétrons, esse fluxo é chamado
de corrente, como mostra a figura 27.

Figura 27 Os elétrons que se deslocam na mesma direção produzem corrente elétrica

Vamos supor que carregamos eletricamente, por atrito, uma bola de vidro e uma de ebonite e as dispormos
de acordo com a figura 28a. Como podemos apreciar, entre elas aparece uma diferença de carga elétrica, pela
própria natureza dos materiais. Se juntarmos estes dois corpos através de um condutor, como na figura 28b,
os elétrons em excesso da bola de ebonite, que está carregada negativamente, serão atraídos pela bola de
vidro, carregada positivamente, produzindo um deslocamento de elétrons devido à diferença de potencial
existente entra os dois corpos (figura 28a). Este movimento de elétrons irá persistir até que a diferença de
potencial entre os corpos deixe de existir, isto é até que as cargas se igualem na bola de vidro e a de ebonite
produzindo uma diferença de potencial nula (figura 28c). A este movimento de elétrons que aparece no
condutor chamamos de corrente elétrica e o sentido é estabelecido pelos elétrons.

(a) (b) (c)


Figura 28 (a) Vidro e ebonite carregados; (b) Movimento de elétrons través do condutor, se estabelece uma
corrente elétrica; (c) Cargas iguais no vidro e ebonite, não há movimento de cargas e a corrente desaparece
(diferença de potencial nula)

Se for possível que as cargas se movimentem, ao aplicar um campo elétrico na região onde estas cargas se
encontram, este campo cria uma força sobre as cargas que as obriga a se deslocarem ao longo do campo E
ou no sentido contrário ao campo E , dependendo da polaridade. A figura 29 mostra a ação de um campo
elétrico numa região onde há carga elétrica (elétrons). Sendo a carga do elétron negativa, eles se
movimentaram no sentido oposto ao campo elétrico, ao serem atraídas pelas cargas positivas, posicionadas
do lado esquerdo, que geram o campo elétrico. Este movimento das cargas é chamado de corrente elétrica.
Se a região possuir cargas positivas, elas se deslocaram no mesmo sentido do campo elétrico, sendo atraídas
pelas cargas negativas que geram o campo elétrico, posicionadas do lado direito.

Figura 29 Ação do campo elétrico numa região com carga elétrica

Consideremos o fio condutor de cobre da figura 30. A densidade dos átomos no condutor de cobre é tal que
as órbitas de valência estão muito próximas, facilitando o movimento dos elétrons de um átomo a outro.
Quando se aplica uma diferença de potencial entre os extremos do fio condutor de cobre, os elétrons são
atraídos pelo potencial positivo da polarização e um fluxo de elétrons aparece, este fluxo ou movimento é o
que chamamos corrente elétrica ou simplesmente corrente. A força da diferença de potencial aplicada nos
extremos do condutor determina quanto elétrons serão direcionados no sentido do movimento das cargas.

Figura 30 Movimento das cargas no condutor de cobre

Para gerar a diferença de potencial aplicada nos extremos do condutor de cobre da figura 30 podemos utilizar
uma pilha ou bateria, que fazem exatamente o que é descrito na figura 30. A pilha produz carga positiva no
terminal identificado como (+) e carga negativa no terminal (-). Agora vamos conectar um fio condutor de
cobre entre os terminais da pilha, como se ilustra na figura 31, formando um caminho fechado (circuito
fechado). A pilha irá a aplicar cargas opostas nos extremos do condutor. Os elétrons serão atraídos pelo
terminal positivo da fonte (pilha), e para cada elétron que entra na fonte haverá outro elétron que será
fornecido ao fio condutor pelo terminal negativo da fonte. Assim, se estabelece uma corrente devido ao
movimento dos elétrons no condutor que irá permanecer enquanto a fonte (pilha) continue fornecendo cargas
elétricas ao condutor,

Figura 31A corrente no condutor (o circuito deve ser fechado para existir um fluxo de corrente)
3.1 Corrente convencional
Como podemos observar na figura 31, o sentido da corrente elétrica é determinado pelo sentido do
movimento dos elétrons (carga elétrica negativa) no condutor. Mas, antes do estabelecimento desta teoria
eletrônica, os cientistas acreditavam que a corrente elétrica, num condutor externo ao gerador, circulava do
terminal positivo deste gerador ao terminal negativo do mesmo, produto do movimento de carga positivas.
Este sentido de circulação da corrente foi adotado como convencional (corrente convencional), e foi
escolhido de forma arbitrária e oposto à direção do movimento dos elétrons. Isto porque os elétrons não eram
visíveis e escolheram de forma errada ao estabelecer a convenção. Além disso, todos os efeitos elétricos do
fluxo de elétrons do terminal negativo ao positivo são os mesmos daqueles que seria criado por um fluxo de
cargas positivas no sentido oposto. Portanto, é importante perceber que as duas formas podem ser utilizadas
e são equivalentes com os mesmos efeitos. A maioria dos textos adota o sentido da corrente como sendo o da
corrente convencional (oposta ao fluxo de elétrons). Neste texto será adotada a corrente convencional
segundo a figura 32.

(a) (b)
Figura 32 (a) Sentido real da corrente elétrica; (b) Sentido da corrente convencional adotada no texto

3.2 Corrente instantânea


Com os elétrons livres para se movimentarem, devido à força que é produzida por um campo elétrico no
interior do condutor, produto de uma diferença de potencial aplicada, conforme pode ser visto na figura 32,
se produz um fluxo de cargas que chamamos de corrente. A taxa na qual as cargas atravessam um plano
perpendicular A de referência é denotada como i e é chamada de corrente instantânea, e determinada pela
equação E.5.
dq ( t )
i( t ) = (E.5)
dt
Esta expressão representa a variação instantânea da carga q(t), no tempo t, que flui através de uma superfície
A (figura 33).

Figura 33 Fluxo de corrente através da superfície A

Há vários tipos de corrente. Uma corrente de valor constante ao longo do tempo que flui através de um
elemento é chamada de corrente contínua, corrente CC ou corrente DC (das siglas em inglês de direct
current). Um gráfico desta corrente se apresenta na figura 34.

Figura 34 Corrente contínua (CC ou DC)


Uma corrente que varia no tempo pode ter várias formas. Uma corrente que varia de forma proporcional ao
tempo tem a forma de uma rampa com coeficiente angular m (figura 35a). A forma mais conhecida é a
corrente senoidal (figura 25b) que se encontra nas instalações domiciliares. A corrente senoidal é também
chamada de corrente alternada, corrente CA ou corrente AC (do termo em inglês alternating current).
Também há correntes exponenciais e correntes senoidais amortecidas (figuras 35c e 35d) que se apresentam
em circuitos transitórios.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 35 Tipos de corrente. (a) corrente rampa; (b) corrente senoidal (corrente CA ou AC); (c) Corrente
exponencial; (d) Corrente senoidal amortecida

Para representar a corrente que depende do tempo utilizamos a letra minúscula i, e escrevemos i(t). Para
representar uma corrente de valor constante (isto é, invariante no tempo) utilizamos a letra maiúscula I.
Se a carga q for conhecida, a corrente pode ser determinada a partir da equação E.5, da seguinte maneira,

dq ( t )
i( t ) = (E.6)
dt

4. Leis básicas dos circuitos elétricos

Georg Simon Ohm foi um matemático e físico alemão. No seu primeiro trabalho publicado em 1825, Ohm
examinou a diminuição da força eletromagnética produzida por um condutor a medida que se aumentava o
seu comprimento. Este trabalho deduz relações matemáticas baseadas puramente em evidencia experimental
que Ohm tinha conseguido. Em 1826, em dois importantes trabalhos, Ohm deu uma descrição matemática da
condução em circuitos modelados através de estudos de condução de calor realizados por Fourier. Estes
trabalhos continuam a apresentar as deduções de Ohm a partir de evidência experimental e, particularmente
no segundo trabalho, ele propôs leis que viriam a ser bastante utilizadas por outros pesquisadores que
trabalhavam em eletricidade galvânica. O segundo trabalho foi, certamente, o primeiro passo na teoria que
Ohm daria no seu famoso livro publicado no seguinte ano. O que hoje se conhece como a Lei de Ohm
apareceu no seu livro “Die galvanischeKette, mathematischbearbeitet” (1827) no qual expõe a sua teoria
completa da eletricidade. Este livro inicia com a fundamentação matemática necessária para compreender o
restante do trabalho. Deve se ressaltar que, apesar das tentativas de Ohm nessa introdução, ele não teve
sucesso em convencer os físicos alemães da época que a abordagem matemática era a correta. A teoria da lei
de Ohm incluída neste trabalho mostra que a corrente que passa através da maioria de materiais é
diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada através do material.

4.1 A lei de Ohm

A lei de Ohm estabelece que a diferença de potencial V entre os terminais de um condutor e a corrente I
através deste condutor são proporcionais, mantendo a temperatura constante, isto é,

Ohm definiu esta constante de proporcionalidade como a resistência elétrica R entre os dois terminais do
condutor.
Se aplicarmos uma diferença de potencial elétrica ou tensão (V) variável nos extremos de um fio de cobre,
mantendo a temperatura constante, e para cada valor de tensão (V) medimos a corrente (I) que flui pelo fio,
encontraremos que a corrente (I) é proporcional à tensão (V) aplicada.

Quando a corrente I é graficada versus a diferença de potencial V, é obtido uma linha reta. Este resultado é o
que a Lei de Ohm estabelece e os materiais que obedecem a esta lei são chamados de materiais ôhmicos.

Como a tensão é proporcional à corrente (VαI), podemos afirmar também que a variação da tensão é
proporcional à variação da corrente (∆Vα∆I), logo

Do gráfico acima, podemos escrever,


onde é o coeficiente angular. Como é também a constante de proporcionalidade, então, segundo
a definição da lei de Ohm,

R=

O que leva à representação matemática da lei de Ohm dada por,

ou

Nesta expressão podemos ver que a corrente num condutor é proporcional à diferença de potencial entre os
terminais do mesmo, sendo a constante de proporcionalidade o valor da resistência do condutor. A corrente é
dada em Amperes (A), a tensão é dada em Volts (V) e a resistência é dada em Ohms (Ω).

A diminuição do ângulo θ de inclinação da reta acontece quando temos uma tensão elevada e uma corrente
pequena, isto significa que existe uma oposição maior à passagem de corrente pelo material. Também
podemos dizer que a diminuição do ângulo θ se traduz na diminuição do coeficiente angular ,eo
aumento da constante de proporcionalidade R=1/tagθ, isto é, um valor maior da resistência como já tínhamos
concluído anteriormente. No aumento do ângulo de inclinação θ teremos uma tensão pequena mas uma
corrente elevada, indicando que há pouca resistência à passagem da corrente no material. O aumento de θ
leva a um aumento do coeficiente angular e a uma diminuição da constante de proporcionalidade
R=1/tagθ, portanto o valor da resistência diminui.

4.2 Os resistores e a lei de Ohm

A lei de Ohm é estritamente verdadeira para resistores cujo valor de resistência não depende da tensão
aplicada, onde a temperatura é mantida constante, entre outras condições. Resistores, materiais ou
dispositivos onde a lei de Ohm é verdadeira são chamados de resistores ôhmicos, resistores ideais ou
dispositivos ou materiais ôhmicos, enquanto que aqueles que não obedecem a lei de Ohm são chamados de
não ôhmicos. Deve-se lembrar de que nenhum dispositivo real (não ideal) é ôhmico.

Por exemplo, a resistência de um condutor não é constante para todas as temperaturas. À medida que a
temperatura aumenta, mais elétrons deixam as suas orbitas, provocando colisões adicionais dentro do
condutor. Para a maioria de materiais condutores, o aumento de colisões se traduz num incremento
relativamente linear na resistência.
Alguns materiais apresentam pequenas mudanças na resistência, enquanto outros têm mudanças
significativas no valor da resistência quando há mudanças da temperatura. Qualquer material que apresente
aumento da resistência com o aumento da temperatura se diz que apresenta um coeficiente de temperatura
positivo. Em materiais semicondutores (carbono, germânio e silício), o aumento da temperatura permite que
elétrons deixem suas orbitas e se movimentem livremente dentro do material. Mesmo com colisões
adicionais acontecendo dentro do semicondutor, o efeito das colisões é mínimo se comparado com a
contribuição de elétrons extras no fluxo de cargas. Assim, à medida que a temperatura aumenta, o número de
elétrons aumenta, resultando em mais corrente. Portanto, o aumento da temperatura resulta num decréscimo
da resistência. Conseqüentemente é dito que estes materiais têm coeficiente de temperatura negativo.

No caso de resistores fixos, os resistores de carbono são os mais comuns. Eles são compostos de um núcleo
de carbono misturado com um isolante. A relação entre o carbono e o isolante determina o valor da
resistência do dispositivo: quanto maior seja a proporção de carbono menor será a resistência. Os terminais
do resistor são dois contatos metálicos inseridos no núcleo de carbono. Estes resistores têm a vantagem de
serem baratos e fáceis de serem produzidos, mas tem uma tolerância elevada e são susceptíveis a grandes
mudanças na sua resistência devido à variação da temperatura. Na figura abaixo pode se observar que a
resistência muda até um 5% de seu valor com uma mudança de 100oC na temperatura.

Consideremos um resistor com valor de resistência R constante e consideremo-lo como um dispositivo real,
com tensão V entre seus terminais e corrente I circulando através dele. Sendo ele um dispositivo real, ele não
é um dispositivo ôhmico e para algum valor de tensão e corrente ele será destruído devido ao valor excessivo
de tensão ou corrente, abrindo se ao se queimar ou sendo curto circuitado ao se produzir um arco elétrico.
Nestes dispositivos a relação R=V/I ainda é valida mesmo que se trate de resistências não ôhmicas, mas logo
o valor da resistência R fica dependente de V ou I e não é mais constante.

Os resistores são elementos passivos que apresentam oposição à passagem da corrente elétrica num circuito.
A resistência que funciona de acordo com a lei de Ohm é chamada de resistência ôhmica. Quando a corrente
passa através de uma resistência ôhmica, a queda de tensão nos terminais do resistor é proporcional à
magnitude da resistência.

A relação entre a resistência, tensão e corrente pode ser escrita de diferentes maneiras:

Exemplo 1. Determine, no circuito, a corrente que circula pelo resistor.

Solução:
Temos uma fonte de tensão de 15V que alimenta um
resistor de 5Ω, produzindo a circulação de uma corrente I.
Portanto, a incógnita é I. Como se trata de um resistor
aplicamos a lei de Ohm R=V/I, mas na forma I=V/R e
substituímos os valores conhecidos.

Assim, I=3A.

Exemplo 2. Determine o valor da resistência que ao ser ligada a uma fonte de tensão de 32V produz uma
corrente de 4mA no circuito.

Solução:
O circuito seria da seguinte forma A incógnita é o valor da resistência R. Aplicando a lei
de Ohm R=V/I podemos calcular este valor ao
substituir os valores de V e de I.

Assim R=8000Ω=8kΩ.

Exemplo 3. Com que valor de tensão deve ser alimentado um resistor de 4kΩ para produzir a circulação de
uma corrente de 12mA?

Solução:

Temos um resistor de 4kΩ alimentado por uma tensão V desconhecida que produz uma corrente de 12mA.
Aplicando a lei de Ohm (R=V/I) na forma V=RI, determinamos o valor de tensão desconhecido,

Exemplo 4.

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