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1. Carga elétrica
A existência da carga elétrica é a origem de todos os fenômenos elétricos. A carga elétrica é a quantidade
fundamental da eletricidade e, portanto, a quantidade mais elementar na análise de circuitos elétricos. Os
seus efeitos podem ser experimentados pelas pessoas quando tiram uma blusa de lã, quando caminham sobre
um carpete ou levam um choque. Da física básica sabemos que existem dois tipos de carga: positiva
(correspondente ao próton) e negativa (correspondente ao elétron). No sistema internacional SI, a unidade de
carga é o Coulomb e se representa pela letra C. A carga do próton (carga positiva) é igual a +1,602x10-19C e
a carga do elétron (carga negativa) é igual a -1,602x10-19C. Experimentalmente se demonstra que a carga
elétrica é discretizada ou quantizada, isto é, ela existe somente em múltiplos inteiros positivos ou negativos
do valor da carga do elétron (-1,602x10-19C). A carga é conservativa, portanto ela não pode ser criada nem
destruída, isto é o que estabelece a lei de conservação da carga. No entanto, ela pode ser manipulada de
diversas maneiras e é ali que reside o fundamento da engenharia elétrica. Uma forma de manipulação da
carga é através de um campo elétrico E . Quando a carga é exposta ao campo elétrico E , ela experimenta
uma força que tem a mesma direção de E para cargas positivas e oposta a E para cargas negativas. Uma
quantidade de carga que não muda com o tempo normalmente é representada pela letra Q. A quantidade
instantânea de carga se representa por q(t) ou simplesmente q, onde q(t) ou q é a representação do caso mais
geral sendo possível representar uma carga constante por meio de Q ou q.
(a) (b)
Figura 8 Representação da tensão para um elemento
Na figura 8a o terminal a tem +9V a mais que o terminal b, portanto há uma queda de tensão de 9V do
terminal a ao terminal b ou, de forma equivalente, há um aumento ou incremento de tensão de 9V do
terminal b ao terminal a. Assim, va-vb=9V. Na figura 8b o terminal b tem -9V a mais que o terminal a,
podemos escrever essa relação através da expressão vb-va=-9V, ou escrever de forma equivalente que
va-vb=9V. Como se pode observado os esquemas das figuras 8a e 8b representam a mesma tensão, portanto
são representações equivalentes. Nos dois casos há uma queda de tensão de a para b que é equivalente ao
incremento da tensão de b para a. Podemos também supor que vb=0V, neste caso o potencial no terminal a,
para a figura 7a, será va=9V, já para o figura 8b o potencial pode ser determinado de -va=-9V, que resulta em
va=9V, o que indica que o terminal a tem 9V a mais que terminal b. O leitor pode supor um valor de vb
diferente de zero e determinar va para este caso, de qualquer maneira a diferença de potencial será sempre
9V.
Exemplo 3. Se, na figura 10, a tensão uAC=E volts e uBC=-k volts, determine o valor de uAB.
Figura 10 Circuito elétrico de três terminais
Segundo os sinais apresentados na figura 10, o terminal C se encontra a um potencial uBC volts menor que o
terminal B, além disso o próprio terminal B se encontra a um potencial uAB volts menor que o potencial no
terminal A. Também podemos dizer que, o terminal A esta com potencial uAB volts superior ao terminal B,
que por sua vez esta com potencial uBC acima do terminal C. Relacionando os potenciais nos terminais
obtemos duas relações, uAB=uA-uB e uBC=uB-uC que pode também ser escrita como uB=uBC+uC. Logo,
uAB=uA-(uBC+uC), que resulta em uAB=uA-uBC-uC, ou o que é o mesmo uA-uC=uAB+uBC, onde uA-uC=uAC.
Portanto, a diferencia de potencial entre os terminais A e C deve cumprir a seguinte relação: uAC=uAB+uBC.
Substituindo os valores temos que E=uAB+(-k). O valor procurado será uAB=E+k.
Outra forma de encontrar a tensão uAB no circuito da figura 10 também é possível. Vejamos, uBC=-k volts e
da equação E.4 podemos escrever uBC=- uCB o que nos leva a afirmar que - uCB=-k volts ou uCB=k volts. O
sinal negativo no valor da tensão uBC indica que a polaridade desta tensão esta invertida, o que acabamos de
demonstrar ao encontrar que uCB= k volts, que mostra que o terminal C tem um potencial elétrico maior em
relação ao terminal B equivalente a k volts. Redesenhando o circuito da figura 10 para mostrar como fica
após a mudança na polaridade na tensão uBC e inserindo a tensão uCB=k volts ficaria como na figura 11,
Exemplo 5. Para o circuito da figura 12, determine a tensão uCD em função das outras tensões (ou diferenças
de potencial).
Exercício 2. Na figura 14 se mostra um circuito composto por resistores, capacitores e indutores, formando
um circuito chamado de RLC. Se vAB=VS volts; vAC=a volts e vCD=b volts. Determine vCB e vDB.
(a) (b)
Figura 15 Circuito eletrônico com transistor
Exercício 4. Seja o circuito eletrônico da figura 16, onde vBE=0,7 volts, vPE=vCC volts, vCE=0,3 volts.
Determine vCB em termos de vBE, vCC e vCE.
Exercício 5. Na figura 17a se ilustra de forma simplificada um sistema de geração, transmissão e distribuição
de energia elétrica, no qual etapas de elevação e redução de tensão não foram consideradas. As resistências
RLT1 e RLT2 representam a resistência oferecida pelos condutores que transportam a corrente desde fonte de
geração até o consumidor final, neste caso o consumidor residencial. As cargas elétricas existentes no
consumidor final (chuveiro, lâmpadas, TV, som, e outros aparelhos) são representadas por uma única
resistência de carga denotada como RLOAD (load é do inglês e significa carga). Na figura 17b há uma
representação em diagrama de blocos do sistema de geração da figura 17a. Determine a tensão ou diferença
de potencial no consumidor residencial.
(a)
(b)
Figura 17 Sistema de geração de energia elétrica
Exercício 6. O equalizador é um dispositivo que permite ajustar de forma independente sons graves, médios
e agudos, a partir da freqüência. A figura 18 mostra um circuito simplificado para ajustes de graves num
equalizador. Ele é composto por um dispositivo de três terminais (+,- e O) conhecido como amplificador
operacional ou OpAmp, onde as entradas são os terminais (+) e (-) e a saída é o terminal O. R3 é uma
resistência de valor variável (também chamado de potenciômetro). Se consideramos que o som é aplicado
nos terminais P e Q então temos uma tensão vPQ volts que representa o som na entrada do equalizador.
Determine a tensão vOQ em função de vPQ e das tensões nos outros elementos do circuito.
(a) (b)
Figura 19 (a) A lanterna; (b) Modelo elétrico da lanterna
Exercício 8. Um sistema muito comum nos automóveis é o vidro térmico traseiro ou desembaçador do vidro
traseiro utilizado para eliminar o acumulo de umidade. Para isso “tiras resistivas” instaladas na face interna
do vidro são conectadas ao sistema elétrico do veículo, como se mostra na figura 20a, de modo que se possa
transformar energia elétrica em energia térmica. A disposição das tiras resistivas pode ser feita de várias
maneiras. É possível construir um modelo elétrico para este sistema. O mais simples é o da figura 20b onde
cada tira é representada por um resistor, neste caso todos os resistores (ou tiras resistivas) têm a mesma
tensão ou diferença de potencial vAB=vbat. O segundo modelo (figura 20c) considera dividir cada tira em três
partes, não necessariamente iguais, e representar cada uma de estas partes como um resistor. Como o valor
da resistência depende do comprimento, cada parte da tira dividida terá um valor de resistência (R1, R2 e R3).
Como pode ser notado, o modelo da figura 20c sugere que todas as tiras resistivas têm o mesmo
comprimento. O modelo da figura 20d é uma variação do modelo da figura 20b, a diferença está na forma em
que as tiras estão ligadas à bateria, separadas em grupos de três neste caso, assim temos três resistores com
uma tensão vAC e outros três com tensão vCB. A disposição mostrada na figura 20e indica que o modelo
considera, além das tiras resistivas horizontais (R1, R2, R3, R4 e R5), as ligações verticais entre as tiras (Ra,
Rb, Rc e Rd). Determine a tensão entre C e D no circuito da figura 20c e na figura 20e, e entre B e D na
figura 20e. A modo de exercícios determine a tensão entre outros pontos dos diferentes circuitos.
Exercício 9. Muitos computadores são montados de acordo com as especificações do próprio usuário, e o
técnico responsável pela montagem pode errar na hora de ligar os conectores da placa à porta USB do
gabinete. Para isso, na figura 21a se apresenta um dispositivo que permite testar se a porta USB está
funcionando corretamente ou se foi montada corretamente. Ele é composto por três indicadores luminosos
que nos diz qual é o estado da porta USB em teste. Os indicadores luminosos são construídos em base a
diodos que emitem luz chamados de LED (Light-Emitting Diode). A emissão de luz nestes diodos acontece
somente quando uma quantidade de carga elétrica circula entre o anodo A (+) e o cátodo K (-), isto é quando
o terminal (+) se encontra a um potencial elétrico maior que a do terminal (-), ou vAK>0. Na figura 21b e 21c
se ilustra o diodo LED e a sua forma de identificação dos seus terminais, note que o terminal (+) é mais
longo e o terminal (-) se encontra do lado do corte no invólucro do dispositivo. A figura 21d mostra a visão
desde a parte inferior do diodo e a sua simbologia utilizada em diagramas de circuitos, identificando o anodo
A na base do triangulo e o cátodo K no vértice. O circuito que realiza o teste na porta USB é o da figura 21e.
A tensão V14 entre os terminais 1 e 4 do conector é de 5 volts fixos (nível TTL), os terminais 2 e 3 são
utilizados para a comunicação de dados. Vejamos o funcionamento do testado quando ligaro a uma porta
USB.
Ao conectar o dispositivo testador USB ao porto USB do computador, e se todas as ligações na porta
estiverem corretas (isto é V14=5V), o LED verde deve acender (pois VAK>0 ou VYS>0 para este LED), o LED
vermelho deve ficar desligado (pois VAK<0 ou VSQ<0 ou ainda VQS>0 para este LED), o LED amarelo deve
piscar três vezes de forma rápida (durante os instantes onde VPT>0 ou VAK>0 para este LED) devido ao
processo de reconhecimento do dispositivo USB, como ele não é reconhecido pois não obtém resposta do
dispositivo testador o computador indicará um erro de funcionamento.
Se ao conectar o testador USB na porta USB e o LED vermelho ficar acesso, isto indica que as ligações nos
terminais 1 e 4 na porta USB foram trocadas, portanto V14=-5V ou V41=5V, assim VSQ>0 ou VAK>0 para o
LED vermelho, que o força a ficar acesso, já no LED verde VYS<0 ou VAK<0 deixando este LED desligado,
o mesmo acontece com o LED amarelo pois sendo o potencial elétrico em P nulo (VP=0V) a tensão VPT<0
ou igual a zero, assim este LED também permanece desligado.
Se o LED amarelo ficar acesso indica que houve uma ligação errada dos terminais na porta USB do
computador deixando VPT>0 permanentemente.
Se todos os LEDs ficam desligados indica que não há alimentação na porta USB ou houve erros na ligação
dos conectores da placa mãe na porta USB. Nos dois últimos casos deve se ter cuidado antes de ligar
qualquer equipamento.
Para o circuito da figura 21e determine a tensão em cada diodo LED.
(e)
Figura 21 (a) Testador de porta USB; (b) e (c) Diodo LED; (d) Símbolo do diodo LED; (e) Circuito do
testador de porta USB
Exercício 10. Às vezes acontece de deixar as luzes do automóvel ligadas durante um longo período, e quando
vai ligar o carro, ela não liga, pois a bateria ficou descarregada, isto é sem carga elétrica suficiente para
colocar o sistema de ignição em funcionamento. Isto obriga o motorista a recorrer a carregadores de baterias
ou a uma ligação direta com uma bateria auxiliar carregada, como a mostrada na figura 22a. Este tipo de
ligação entre duas baterias deve ser realizado com bastante cuidado, pois oferece grandes riscos ao operador,
um deles é a possível explosão da bateria. Para minimizar estes riscos alguns cuidados devem ser tomados,
como se observa na figura 22a, (1) conecte o cabo auxiliar positivo ao terminal positivo da bateria
descarregada; (2) conecte a outra extremidade do mesmo cabo ao terminal positivo da bateria auxiliar
(bateria carregada); (3) conecte o cabo auxiliar negativo ao terminal negativo da bateria auxiliar; (4) faça a
conexão final no bloco do motor do veiculo que está com a bateria descarregada, esta conexão deve ser feita
em um ponto não muito próximo da bateria. Depois de feitas as conexões, dê a partida no carro que tem a
bateria carregada e deixe funcionando por 5 minutos antes de dar a partida no veículo com a bateria
descarregada, com isso a bateria descarregada receberá uma pequena carga antes da partida. Quando o
veículo com a bateria descarregada iniciar a funcionar, desligue os cabos na seqüência inversa à da conexão
realizada, evitando de este modo que qualquer diferença de potencial entre os alternadores dos carros venha a
danificar algum componente dos mesmos. A figura 22b mostra um diagrama do circuito que representa a
ligação direta da figura 22a, onde RB1 e RB2 são consideradas para indicar as não idealidades das baterias e
RC a não idealidade do cabo auxiliar. Indique qual será o sentido do fluxo de cargas no circuito da figura 22a,
justificando sua resposta. Determine a tensão para cada resistor.
(a) (b)
Figura 22 (a) Ligação direta para carregamento de bateria; (b) Circuito equivalente da ligação direta
Exercício 11. O transporte ferroviário elétrico tem sido utilizado por mais de 100 anos. Na figura 23a se
mostra um trem elétrico. Ele precisa de um sistema elétrico de alimentação que é fornecida através de uma
subestação de energia elétrica. O fluxo das cargas (corrente) é mostrada na figura 23b onde as setas indicam
o sentido deste fluxo. A partes principais do trem são: a linha de transmissão elétrica, que liga a subestação
ao trem; o pantógrafo que é colocado no teto do trem, e tem a tarefa de transferir a energia elétrica da linha
de transmissão aos sistemas elétricos do trem; o circuito de controle que administra o funcionamento do trem
e o acionamento do sistema de tração que é composta pelos motores que movimentam ou param o trem. O
circuito elétrico equivalente do trem é mostrado na figura 23c, onde RLinha representa as resistência dos
condutores, RControle representa todo o sistema de controle e RMotor representa o motor em funcionamento. Este
circuito equivalente é bastante aproximado e efeitos como o indutivo não foram considerados. Se VAB=U
volts, determine a tensão no motor.
(a)
(b) (c)
Figura 23 (a) Trem elétrico; (b) Sistema elétrico de um trem elétrico; (c) Circuito equivalente simplificado
do trem elétrico
Exercício 12. Considere o sistema de som automotivo apresentado na figura 24a, composto por um sistema
de reprodução de áudio, um amplificador que aumenta o nível do som vindo do reprodutor e um alto falante,
que é a saída de áudio do sistema de som. Este sistema de som pode ser modelado por um circuito elétrico
aproximado, como aquele mostrado na figura 24b. Neste circuito vamos supor que a leitura do sistema de
áudio produz um nível de tensão igual a 200mV, Rsa representa as não idealidades do sistema de som. O
amplificador é representado por duas resistências, uma de entrada (Ramp) e uma de saída (Rout), sendo que o
sinal vindo do sistema de áudio (a tensão Vab) é amplificado em 120 vezes, isto é 120Vab. O sinal de saída do
amplificador (a tensão Vcd) é aplicado a um alto falante, representado pelo resistor Rp, que produz o som
desejado no nível desejado. Se Vcd=20V, determine a tensão no resistor Rout.
(a) (b)
Figura 24 (a) Sistema de som automotivo; (b) Modelo em circuito elétrico do sistema de som automotivo
Exercício 13. É comum a necessidade de ligar dois equipamentos eletrônicos de modo que a saída de um
deles seja a entrada do outro equipamento. Esta situação é mostrada na figura 25a, onde um computador esta
ligado a uma impressora. O computador gera uma quantidade de dados a ser impresso (saída do computador)
que será a informação de entrada da impressora. A ligação destes dois equipamentos é feita através de um
cabo que permite a transmissão de dados de forma adequada. Dessa forma, o computador (transmissor)
envia sinais elétricos através do cabo para a impressora (Receptor), segundo mostra a figura 25b onde Vab é o
sinal de saída do computador e Vcd é o sinal de entrada no receptor depois de passar pelo cabo. O modelo
elétrico se ilustra na figura 25c onde o transmissor é modelado como um elemento com uma tensão Vab
(também chamado de fonte de tensão), o cabo é modelado como um circuito composto de um resistor R dado
em Ω/m e um capacitor C dado em F/m, isto é, os valores dos dois elementos que representam o cabo
dependem do comprimento do cabo. Por exemplo, para um cabo RG58 os valores típicos são 0,54Ω/m e 88
pF/m. O receptor é modelado como um circuito aberto. Considerando o seu conhecimento do
comportamento de um capacitor, explique como será o fluxo de cargas no circuito e determine a tensão nos
terminais do capacitor.
3. Corrente elétrica
Considere o modelo atômico de um átomo de cobre da figura 26, um dos materiais condutores mais
utilizados. O cobre possui 29 prótons no seu núcleo e um número igual de elétrons nas orbitas ao redor deste
núcleo. Estes elétrons se encontram a diferentes distancias do núcleo e os mais próximos ao núcleo sofrem
uma força de atração maior ao centro do que aqueles elétrons que se encontram mais afastados do centro, isto
é nas orbitas mais distantes do núcleo. Os elétrons de valência, aqueles que se encontram na orbita mais
externas do átomo, sofrem uma força de atração ao centro muito menor, assim para estes elétrons
abandonarem seus átomos se requer de uma força menor.
Figura 26 Modelo atômico do cobre
Quando um elétron é energizado, ele começa a vibrar aumentando o seu movimento, isto produz uma
necessidade de espaço maior para o elétron que o obriga a se deslocar para fora de sua órbita habitual,
enfraquecendo a sua interação natural com o átomo. Se a energia é de tal valor que o elétron efetivamente
abandone o seu átomo original, ele se transforma num elétron livre e irá se deslocar para outro átomo onde
possivelmente coincida com outro elétron, também com carga negativa, ocorrendo um choque de campos
eletromagnéticos. O elétron livre, que esta chegando, por estar com maior energia, transfere energia cinética
ao elétron menos energizado, e o elétron livre perde parte de sua energia cinética, mas ocupa o lugar do
elétron que, ao ganhar energia cedida pelo elétron livre, aumentara seu movimento e a sua necessidade de
espaço deixando finalmente o seu espaço ao elétron livre que esta chegando, e este novo elétron livre se
deslocará a outro átomo. Este processo acontece de maneira sucessiva gerando uma reação em cadeia de um
átomo para outro. Os elétrons conservam a sua energia e a transferência de energia entre elétrons e a
eletricidade. O movimento dos elétrons na mesma direção gera um fluxo de elétrons, esse fluxo é chamado
de corrente, como mostra a figura 27.
Vamos supor que carregamos eletricamente, por atrito, uma bola de vidro e uma de ebonite e as dispormos
de acordo com a figura 28a. Como podemos apreciar, entre elas aparece uma diferença de carga elétrica, pela
própria natureza dos materiais. Se juntarmos estes dois corpos através de um condutor, como na figura 28b,
os elétrons em excesso da bola de ebonite, que está carregada negativamente, serão atraídos pela bola de
vidro, carregada positivamente, produzindo um deslocamento de elétrons devido à diferença de potencial
existente entra os dois corpos (figura 28a). Este movimento de elétrons irá persistir até que a diferença de
potencial entre os corpos deixe de existir, isto é até que as cargas se igualem na bola de vidro e a de ebonite
produzindo uma diferença de potencial nula (figura 28c). A este movimento de elétrons que aparece no
condutor chamamos de corrente elétrica e o sentido é estabelecido pelos elétrons.
Se for possível que as cargas se movimentem, ao aplicar um campo elétrico na região onde estas cargas se
encontram, este campo cria uma força sobre as cargas que as obriga a se deslocarem ao longo do campo E
ou no sentido contrário ao campo E , dependendo da polaridade. A figura 29 mostra a ação de um campo
elétrico numa região onde há carga elétrica (elétrons). Sendo a carga do elétron negativa, eles se
movimentaram no sentido oposto ao campo elétrico, ao serem atraídas pelas cargas positivas, posicionadas
do lado esquerdo, que geram o campo elétrico. Este movimento das cargas é chamado de corrente elétrica.
Se a região possuir cargas positivas, elas se deslocaram no mesmo sentido do campo elétrico, sendo atraídas
pelas cargas negativas que geram o campo elétrico, posicionadas do lado direito.
Consideremos o fio condutor de cobre da figura 30. A densidade dos átomos no condutor de cobre é tal que
as órbitas de valência estão muito próximas, facilitando o movimento dos elétrons de um átomo a outro.
Quando se aplica uma diferença de potencial entre os extremos do fio condutor de cobre, os elétrons são
atraídos pelo potencial positivo da polarização e um fluxo de elétrons aparece, este fluxo ou movimento é o
que chamamos corrente elétrica ou simplesmente corrente. A força da diferença de potencial aplicada nos
extremos do condutor determina quanto elétrons serão direcionados no sentido do movimento das cargas.
Para gerar a diferença de potencial aplicada nos extremos do condutor de cobre da figura 30 podemos utilizar
uma pilha ou bateria, que fazem exatamente o que é descrito na figura 30. A pilha produz carga positiva no
terminal identificado como (+) e carga negativa no terminal (-). Agora vamos conectar um fio condutor de
cobre entre os terminais da pilha, como se ilustra na figura 31, formando um caminho fechado (circuito
fechado). A pilha irá a aplicar cargas opostas nos extremos do condutor. Os elétrons serão atraídos pelo
terminal positivo da fonte (pilha), e para cada elétron que entra na fonte haverá outro elétron que será
fornecido ao fio condutor pelo terminal negativo da fonte. Assim, se estabelece uma corrente devido ao
movimento dos elétrons no condutor que irá permanecer enquanto a fonte (pilha) continue fornecendo cargas
elétricas ao condutor,
Figura 31A corrente no condutor (o circuito deve ser fechado para existir um fluxo de corrente)
3.1 Corrente convencional
Como podemos observar na figura 31, o sentido da corrente elétrica é determinado pelo sentido do
movimento dos elétrons (carga elétrica negativa) no condutor. Mas, antes do estabelecimento desta teoria
eletrônica, os cientistas acreditavam que a corrente elétrica, num condutor externo ao gerador, circulava do
terminal positivo deste gerador ao terminal negativo do mesmo, produto do movimento de carga positivas.
Este sentido de circulação da corrente foi adotado como convencional (corrente convencional), e foi
escolhido de forma arbitrária e oposto à direção do movimento dos elétrons. Isto porque os elétrons não eram
visíveis e escolheram de forma errada ao estabelecer a convenção. Além disso, todos os efeitos elétricos do
fluxo de elétrons do terminal negativo ao positivo são os mesmos daqueles que seria criado por um fluxo de
cargas positivas no sentido oposto. Portanto, é importante perceber que as duas formas podem ser utilizadas
e são equivalentes com os mesmos efeitos. A maioria dos textos adota o sentido da corrente como sendo o da
corrente convencional (oposta ao fluxo de elétrons). Neste texto será adotada a corrente convencional
segundo a figura 32.
(a) (b)
Figura 32 (a) Sentido real da corrente elétrica; (b) Sentido da corrente convencional adotada no texto
Há vários tipos de corrente. Uma corrente de valor constante ao longo do tempo que flui através de um
elemento é chamada de corrente contínua, corrente CC ou corrente DC (das siglas em inglês de direct
current). Um gráfico desta corrente se apresenta na figura 34.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 35 Tipos de corrente. (a) corrente rampa; (b) corrente senoidal (corrente CA ou AC); (c) Corrente
exponencial; (d) Corrente senoidal amortecida
Para representar a corrente que depende do tempo utilizamos a letra minúscula i, e escrevemos i(t). Para
representar uma corrente de valor constante (isto é, invariante no tempo) utilizamos a letra maiúscula I.
Se a carga q for conhecida, a corrente pode ser determinada a partir da equação E.5, da seguinte maneira,
dq ( t )
i( t ) = (E.6)
dt
Georg Simon Ohm foi um matemático e físico alemão. No seu primeiro trabalho publicado em 1825, Ohm
examinou a diminuição da força eletromagnética produzida por um condutor a medida que se aumentava o
seu comprimento. Este trabalho deduz relações matemáticas baseadas puramente em evidencia experimental
que Ohm tinha conseguido. Em 1826, em dois importantes trabalhos, Ohm deu uma descrição matemática da
condução em circuitos modelados através de estudos de condução de calor realizados por Fourier. Estes
trabalhos continuam a apresentar as deduções de Ohm a partir de evidência experimental e, particularmente
no segundo trabalho, ele propôs leis que viriam a ser bastante utilizadas por outros pesquisadores que
trabalhavam em eletricidade galvânica. O segundo trabalho foi, certamente, o primeiro passo na teoria que
Ohm daria no seu famoso livro publicado no seguinte ano. O que hoje se conhece como a Lei de Ohm
apareceu no seu livro “Die galvanischeKette, mathematischbearbeitet” (1827) no qual expõe a sua teoria
completa da eletricidade. Este livro inicia com a fundamentação matemática necessária para compreender o
restante do trabalho. Deve se ressaltar que, apesar das tentativas de Ohm nessa introdução, ele não teve
sucesso em convencer os físicos alemães da época que a abordagem matemática era a correta. A teoria da lei
de Ohm incluída neste trabalho mostra que a corrente que passa através da maioria de materiais é
diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada através do material.
A lei de Ohm estabelece que a diferença de potencial V entre os terminais de um condutor e a corrente I
através deste condutor são proporcionais, mantendo a temperatura constante, isto é,
Ohm definiu esta constante de proporcionalidade como a resistência elétrica R entre os dois terminais do
condutor.
Se aplicarmos uma diferença de potencial elétrica ou tensão (V) variável nos extremos de um fio de cobre,
mantendo a temperatura constante, e para cada valor de tensão (V) medimos a corrente (I) que flui pelo fio,
encontraremos que a corrente (I) é proporcional à tensão (V) aplicada.
Quando a corrente I é graficada versus a diferença de potencial V, é obtido uma linha reta. Este resultado é o
que a Lei de Ohm estabelece e os materiais que obedecem a esta lei são chamados de materiais ôhmicos.
Como a tensão é proporcional à corrente (VαI), podemos afirmar também que a variação da tensão é
proporcional à variação da corrente (∆Vα∆I), logo
R=
ou
Nesta expressão podemos ver que a corrente num condutor é proporcional à diferença de potencial entre os
terminais do mesmo, sendo a constante de proporcionalidade o valor da resistência do condutor. A corrente é
dada em Amperes (A), a tensão é dada em Volts (V) e a resistência é dada em Ohms (Ω).
A diminuição do ângulo θ de inclinação da reta acontece quando temos uma tensão elevada e uma corrente
pequena, isto significa que existe uma oposição maior à passagem de corrente pelo material. Também
podemos dizer que a diminuição do ângulo θ se traduz na diminuição do coeficiente angular ,eo
aumento da constante de proporcionalidade R=1/tagθ, isto é, um valor maior da resistência como já tínhamos
concluído anteriormente. No aumento do ângulo de inclinação θ teremos uma tensão pequena mas uma
corrente elevada, indicando que há pouca resistência à passagem da corrente no material. O aumento de θ
leva a um aumento do coeficiente angular e a uma diminuição da constante de proporcionalidade
R=1/tagθ, portanto o valor da resistência diminui.
A lei de Ohm é estritamente verdadeira para resistores cujo valor de resistência não depende da tensão
aplicada, onde a temperatura é mantida constante, entre outras condições. Resistores, materiais ou
dispositivos onde a lei de Ohm é verdadeira são chamados de resistores ôhmicos, resistores ideais ou
dispositivos ou materiais ôhmicos, enquanto que aqueles que não obedecem a lei de Ohm são chamados de
não ôhmicos. Deve-se lembrar de que nenhum dispositivo real (não ideal) é ôhmico.
Por exemplo, a resistência de um condutor não é constante para todas as temperaturas. À medida que a
temperatura aumenta, mais elétrons deixam as suas orbitas, provocando colisões adicionais dentro do
condutor. Para a maioria de materiais condutores, o aumento de colisões se traduz num incremento
relativamente linear na resistência.
Alguns materiais apresentam pequenas mudanças na resistência, enquanto outros têm mudanças
significativas no valor da resistência quando há mudanças da temperatura. Qualquer material que apresente
aumento da resistência com o aumento da temperatura se diz que apresenta um coeficiente de temperatura
positivo. Em materiais semicondutores (carbono, germânio e silício), o aumento da temperatura permite que
elétrons deixem suas orbitas e se movimentem livremente dentro do material. Mesmo com colisões
adicionais acontecendo dentro do semicondutor, o efeito das colisões é mínimo se comparado com a
contribuição de elétrons extras no fluxo de cargas. Assim, à medida que a temperatura aumenta, o número de
elétrons aumenta, resultando em mais corrente. Portanto, o aumento da temperatura resulta num decréscimo
da resistência. Conseqüentemente é dito que estes materiais têm coeficiente de temperatura negativo.
No caso de resistores fixos, os resistores de carbono são os mais comuns. Eles são compostos de um núcleo
de carbono misturado com um isolante. A relação entre o carbono e o isolante determina o valor da
resistência do dispositivo: quanto maior seja a proporção de carbono menor será a resistência. Os terminais
do resistor são dois contatos metálicos inseridos no núcleo de carbono. Estes resistores têm a vantagem de
serem baratos e fáceis de serem produzidos, mas tem uma tolerância elevada e são susceptíveis a grandes
mudanças na sua resistência devido à variação da temperatura. Na figura abaixo pode se observar que a
resistência muda até um 5% de seu valor com uma mudança de 100oC na temperatura.
Consideremos um resistor com valor de resistência R constante e consideremo-lo como um dispositivo real,
com tensão V entre seus terminais e corrente I circulando através dele. Sendo ele um dispositivo real, ele não
é um dispositivo ôhmico e para algum valor de tensão e corrente ele será destruído devido ao valor excessivo
de tensão ou corrente, abrindo se ao se queimar ou sendo curto circuitado ao se produzir um arco elétrico.
Nestes dispositivos a relação R=V/I ainda é valida mesmo que se trate de resistências não ôhmicas, mas logo
o valor da resistência R fica dependente de V ou I e não é mais constante.
Os resistores são elementos passivos que apresentam oposição à passagem da corrente elétrica num circuito.
A resistência que funciona de acordo com a lei de Ohm é chamada de resistência ôhmica. Quando a corrente
passa através de uma resistência ôhmica, a queda de tensão nos terminais do resistor é proporcional à
magnitude da resistência.
A relação entre a resistência, tensão e corrente pode ser escrita de diferentes maneiras:
Solução:
Temos uma fonte de tensão de 15V que alimenta um
resistor de 5Ω, produzindo a circulação de uma corrente I.
Portanto, a incógnita é I. Como se trata de um resistor
aplicamos a lei de Ohm R=V/I, mas na forma I=V/R e
substituímos os valores conhecidos.
Assim, I=3A.
Exemplo 2. Determine o valor da resistência que ao ser ligada a uma fonte de tensão de 32V produz uma
corrente de 4mA no circuito.
Solução:
O circuito seria da seguinte forma A incógnita é o valor da resistência R. Aplicando a lei
de Ohm R=V/I podemos calcular este valor ao
substituir os valores de V e de I.
Assim R=8000Ω=8kΩ.
Exemplo 3. Com que valor de tensão deve ser alimentado um resistor de 4kΩ para produzir a circulação de
uma corrente de 12mA?
Solução:
Temos um resistor de 4kΩ alimentado por uma tensão V desconhecida que produz uma corrente de 12mA.
Aplicando a lei de Ohm (R=V/I) na forma V=RI, determinamos o valor de tensão desconhecido,
Exemplo 4.