Você está na página 1de 54

mailto:andre_neto@uol.com.br mailto:andrenet@petrobras.com.

br
Chave do correio - QN41 Ramal: 837-2612
SUMÁRIO

1. AVALIAÇÃO DAS CORRENTES PERIGOSAS À VIDA HUMANA ............ 5


INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CORRENTES ELÉTRICAS EM UM CORPO HUMANO SADIO ... 5
ACIDENTES DEVIDO A ELETRICIDADE ........................................................................... 7
INFLUÊNCIA DA INTENSIDADE DE CORRENTE................................................................. 8
INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ATUAÇÃO DA CORRENTE .................................................. 11
INFLUÊNCIA DO PERCURSO DA CORRENTE .................................................................. 11
INFLUÊNCIA DA FREQÜÊNCIA DA REDE ....................................................................... 12
LIMITE DE CORRENTE PERMISSÍVEL NO CORPO ............................................................ 12
CIRCUITO DE TERRA ACIDENTAL.................................................................................. 13
2. FIBRILAÇÃO VENTRICULAR DO CORAÇÃO PELO CHOQUE
ELÉTRICO ................................................................................................................... 20
FUNCIONAMENTO MECÂNICO DO CORAÇÃO ............................................................... 20
FUNCIONAMENTO ELÉTRICO DO CORAÇÃO .................................................................. 21
FIBRILAÇÃO VENTRICULAR DO CORAÇÃO PELO CHOQUE ........................................... 22
DESFIBRILADOR ELÉTRICO .......................................................................................... 24
INFLUÊNCIA DO VALOR DA CORRENTE ELÉTRICA ......................................................... 24
CURVA TEMPO X CORRENTE ....................................................................................... 25
LIMITE DE CORRENTE PARA NÃO CAUSAR FIBRILAÇÃO .............................................. 25
POTENCIAIS DE CHOQUE ..................................................................................... 27
Potencial de Toque ................................................................................................. 27
Potencial de Passo ................................................................................................. 28
CORREÇÃO DO POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE MÁXIMO ADMISSÍVEL DEVIDO À
COLOCAÇÃO DE BRITA NA SUPERFÍCIE ......................................................................... 28

3. SISTEMAS DE ATERRAMENTO .................................................................... 30


INTRODUÇAO.......................................................................................................... 30
CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE ATERRAMENTO................................... 30
SISTEMA TN-S ......................................................................................................... 35
SISTEMA TN-C ......................................................................................................... 37
SISTEMA TN-C-S ..................................................................................................... 38
SISTEMA TT............................................................................................................. 39
SISTEMA IT .............................................................................................................. 42
APLICAÇÃO DO CONDUTOR DE PROTEÇÃO.................................................... 43
FERRAGEM ESTRUTURAL COMO CONDUTOR DE ATERRAMENTO........... 44
PRESCRIÇÕES GERAIS DO ATERRAMENTO..................................................... 44
4. APLICAÇÕES PRÁTICAS ................................................................................ 47

5. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 54
ÍNDIÇE DE QUADROS

Quadro 1: Medidas da sensibilidade com corrente alternada de 50Hz. Percurso da


corrente mão-tronco-mão: Intensidade em mA (eficaz)........................................... 9
Quadro 2: Medidas da sensibilidade com corrente contínua. Percurso da corrente mão-
tronco-mão: Intensidade em mA. ............................................................................. 9
Quadro 3: Medidas da sensibilidade com corrente alternada de 50Hz. Percurso da
corrente mão-tronco-mão: Intensidade em mA(eficaz).......................................... 10
Quadro 4: Medidas da sensibilidade com corrente alternada de 50Hz. Percurso da
corrente mão-tronco-mão: Intensidade em mA(eficaz).......................................... 10

ÍNDIÇE DE FIGURAS

Figura 1: Esquema de um eletrocardiograma humano ..................................................... 6


Figura 2: Corrente de fibrilação versus massa do corpo para vários animais baseado
num choque de 3s ................................................................................................... 13
Figura 3: Circuito de tensão de passo............................................................................. 15
Figura 4: Circuito de tensão de toque............................................................................. 16
Figura 5: Coração humano ............................................................................................. 21
Figura 6: Esquema elétrico do coração........................................................................... 21
Figura 7: Circuito elétrico do coração ............................................................................ 22
Figura 8 : Sinal do eletrocardiograma e pressão arterial ................................................ 23
Figura 9: Desfiblilador Elétrico...................................................................................... 24
Figura 10: Corrente da Descarga .................................................................................... 24
Figura 11: Curva tempo x corrente................................................................................. 25
Figura 12: Potencial de Toque ....................................................................................... 27
Figura 13: Tensão de passo ............................................................................................ 28
Figura 14: Percurso da corrente de defeito num sistema TN ......................................... 32
Figura 15: Percurso da corrente monopolar de curto-circuito........................................ 35
Figura 16: Sistema TN-S (sistema a 5 fios).................................................................... 36
Figura 17: Sistema TN-C ................................................................................................ 36
Figura 18: Massa sob potencial de fase .......................................................................... 37
Figura 19: Sistema TN-C................................................................................................ 37
Figura 20: Sistema TN-C (sistema a 4 fios) ................................................................... 38
Figura 21: Sistema TN-C-S ............................................................................................ 38
Figura 22: Sistema TT .................................................................................................... 39
Figura 23: Sistema TT (sistema a 4Fios)........................................................................ 40
Figura 24: Percurso da corrente num sistema TT........................................................... 40
Figura 25: Esquema elétrico simplificado referente à figura 23 .................................... 41
Figura 26: Sistema IT ..................................................................................................... 42
Figura 27: Retorno da corrente de defeito pelas capacitâncias parasitas ...................... 42
Figura 28: Retorno da corrente de defeito: sistema IT de alta impedância .................... 43
Figura 29: Utilização do condutor de proteção .............................................................. 44
Figura 30: Aterramento na barra de ferro de aterramento .............................................. 45
Figura 31: Diagrama elétrico correspondente à figura 32 .............................................. 47
Figura 32: Percurso da corrente de defeito .................................................................... 47
4

ÍNDIÇE DE TABELAS

Tabela 1: Influência da corrente ..................................................................................... 26


Tabela 2: Duração máxima da tensão de contato presumida.......................................... 31
Tabela 3: Resistência e reatância dos condutores de PVC/70ºC(mΩ/m) ....................... 49

ÍNDIÇE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Função F ( X ) versus X e coeficiente de reflexão k .................................... 18


Gráfico 2: Fator de redução C s como função de k e hs ................................................ 19
Gráfico 3: Duração da tensão de contato presumida ...................................................... 33
Gráfico 4: Curva de atuação do disjuntor 3VS84 - Siemens.......................................... 34
5

1. Avaliação das Correntes Perigosas à Vida Humana


Introdução

A utilização cada vez mais ampla da eletricidade, faz com que também um
número crescente de pessoas menos habilitada tenha contato com a mesma. O objetivo é
aqui destacar quais as condições de perigo.

Considerações Sobre as Correntes Elétricas em um Corpo


Humano Sadio

Para melhor compreensão da influência da corrente elétrica e respectivos efeitos


sobre o corpo humano, em casos de acidentes devido à eletricidade, se tornam
necessários esclarecimentos quanto a alguns processos fisiológicos, em especial
processos de ordem elétrica, desenvolvidos no corpo humano.
Em estado de repouso, uma diferença de potencial da ordem de 40 a 80 mV pode
ser detectada entre a superfície e o interior das fibras nervosas. As concentrações de
ions (do líquido dos tecidos envolventes e do líquido interno) das fibras nervosas são
diferentes, sendo esta a causa desta diferença de potencial. A polaridade da membrana
da célula da fibra do nervo é invertida quando o nervo é excitado. Assim, o processo de
excitação dos nervos está simultaneamente ligado a um transporte de ions pelas fibras
nervosas.
Um processo elétrico acompanha cada movimento dos músculos. Normalmente
as vias nervosas são responsáveis pela transmissão dos impulsos elétricos aos
músculos. Em experiências, quando um músculo é posto sob tensão elétrica, de tal
forma que a corrente circule em seu sentido longitudinal, verifica-se que tanto um nivel
mínimo, assim como um acréscimo mínimo brusco de corrente, são necessários para
excitar a contração muscular. Especial importância é dada ao acréscimo brusco da
corrente ( di ) já que experiências mostram que acréscimos lentos de corrente
dt
ocasionam acomodações, trazendo com isto ausência de contrações musculares.
A regra mencionada, válida para todos os músculos em seres vivos, é também
exata para músculos do coração. O coração exerce a função de uma bomba de duplo
circuito. Um circuito está em ligação com o pulmão, através do qual o sangue é
enriquecido com oxigênio, e o segundo circuito está ligado ao sistema vascular do
corpo, por meio do qual este é alimentado de sangue, rico em oxigênio. O coração
possui, em cada um dos circuitos de bombagem, duas câmaras; que são designadas por
auricular e ventricular. As duas câmaras, ligadas em série, trabalham alternadamente,
isto é, quando da contração (sístole) das aurículas, os ventrículos enchem-se através de
órgãos atuando como válvulas (dístole ventricular) e seguidamente o sangue sob
pressão‚ bombeado por contração (sístole ventricular), para os circuitos que estão
ligados ao coração. Simultaneamente, as aurículas dilatam-se (diástole auricular) e
recebem o refluxo do sangue; na pulsação seguinte, impelem-no de novo para dentro
dos ventrículos.
A diferença essencial do coração em relação a todos os outros músculos, está no
fato de que neste a tensão elétrica, necessária para o seu trabalho, ser gerada por ele
próprio, comandada através de centros próprios, designados por nódulos sinusais e
nódulos trioventriculares, e conduzida através de um sistema próprio de propagação de
6

estímulos de modo que, no coração sadio, os movimentos das diferentes zonas do


coração decorrem segundo a seqüência certa. O coração representa um bipolo elétrico,
cuja tensão tem como conseqüência um campo de fluxo elétrico no corpo. Fora das
superfícies equipotenciais, pode, por isso, ser verificada, em dois pontos do corpo
humano, uma diferença de tensão, cuja forma depende da posição dos pontos escolhido,
assim como sua grandeza.
O registro oscilográfico desta diferença de tensão, na maioria dos casos para
fins de diagnósticos, entre a mão direita e o pé esquerdo, em função do tempo, é
idêntico ao conhecido eletrocardiograma. Um exemplo típico de eletrocardiograma
está representado na Figura 1. A grandeza absoluta da tensão registrada no
eletrocardiograma, situa-se aproximadamente de l até 1,6 mV, a sua freqüência entre
cerca de 1,1 e 1,3 Hz.
A tensão cardíaca, que origina o campo de fluxo elétrico no corpo, e cujo vetor
de intensidade de campo se modifica no tempo, tanto seu valor como em sua posição
no espaço, é por natureza muito maior e excede-o em alguns voltes. É portanto
compreensível que as tensões estranhas, que se sobrepõem em caso de acidente, e que
não são de mesma grandeza, ou têm apenas uma parte considerável desta, exerçam
influência sobre o sistema de comando do coração ou o perturbem.
Figura 1: Esquema de um eletrocardiograma humano

⎧TH = Período cardíaco


⎪t = Tempo de ascensão
⎪⎪ 1
onde: ⎨t 2 = Tempo de descida, complexo auricular
⎪t = Período distensor
⎪3
⎪⎩t 4 = Tempo de condução, Pausa e sístoles dos aurículas.

Devido as consideráveis diferenças existentes entre os diversos indivíduos, em


caso algum se podem indicar valores numéricos exatos, de validade geral, para a
intensidade de corrente ligada a determinada sensação, mas sim, no melhor dos casos,
valores médios, com a indicação da dispersão aproximada. Com base em medidas de
sensações realizadas, pode indicar-se a extensão considerável dos valores de dispersão.
Um grupo de 50 indivíduos saudáveis do sexo masculino, entre os 19 e 39 anos
de idade, foram examinados um a um quanto às suas sensações com a passagem de
corrente através do corpo.
Nas experiências, segundo os Quadros 1 e 2, serviram de eletrodos dois êmbolos
cilíndricos de latão de 90 cm² de superfície cada, que foram seguros um em cada mão
pelos indivíduos submetidos à experiência. Nas experiências, segundo o Quadro 3, foi
utilizado, como eletrodo de pé , uma placa de cobre, sobre a qual a pessoa se encontrava
7

descalça. No Quadro 1 indicam-se os resultados da medida de sensações com corrente


alternada 50 Hz, no caso de um percurso de corrente mão-tronco-mão.
Os valores dos quadros indicam as intensidades de corrente eficazes, em
miliamperes, que provocam, em 5, 50 e 95% das pessoas sujeitas à experiência.
Pela leitura da coluna 1 do Quadro 1, por exemplo, verifica-se que 5% dos
indivíduos classificam 0,7 mA como apenas perceptível, ao passo que os outros 95%,
ainda não tinham qualquer sensação com um valor 2,5 vezes superior (1,7 mA).
Os valores indicados no Quadro 3 são igualmente válidos para corrente alternada
a 50 Hz, contudo, para o percurso de corrente mão-tronco-pés. Os valores do Quadro 3
são quase todos superiores aos do Quadro 1. Dado o fato da corrente ser escoada através
dos dois pés, a densidade de corrente nessas extremidades é menor que na mão
provocando, por conseguinte, menores sensações.
Poderia aqui levantar-se o reparo, e com razão, de que, tanto nas medidas
segundo o Quadro 1 como também nas referentes ao Quadro 3, a totalidade da corrente
tem que passar através da mão e que, portanto, as sensações têm que ser iguais em
ambos os casos, nas intensidades de corrente diferentes. O fato das diferenças dos
valores, tem explicação pelas dispersões estatísticas. Nas diferentes pessoas, a
sensibilidade em cada extremidade, é, com certeza diferente, assim, uma vez mais
sensível a mão esquerda, outra a direita.
Nas experiências segundo o Quadro 1, a corrente passa através de ambas as
mãos; a mão mais sensível, é a que determina o resultado. Nas experiências segundo o
Quadro 3. a corrente passa apenas por uma das mãos. Naquelas, dentre as pessoas
submetidas à experiências, em que a mão não percorrida pela corrente é a mais sensível,
será elevada a intensidade de corrente que provoca as diversas manifestações.
No Quadro 2 estão indicadas as medidas das sensações com corrente contínua,
no caso de um percurso da corrente mão-tronco-mão. Comparando-se estas medidas
com as do Quadro 1, torna-se evidente a considerável influência do tipo de corrente
sobre as sensações. Ao passo que as medidas das sensações mostram, no caso da
corrente alternada a 50 Hz, um limite inferior a l,0 mA, no qual a corrente perceptível
em 5% do grupo experimental, com ligeiras picadas nas mãos, o mesmo efeito verifica-
se igualmente em 5% dos indivíduos sujeitos à experiência só com uma corrente
contínua de 6,0 mA e portanto, de 6 vezes aquele valor. Os valores limites-superiores,
apresentará nos 2 Quadros, a relação aproximada de 1,3. No caso das mulheres, os
valores são em geral cerca de 30% mais baixos que nos homens.
Estas e muitas outras pesquisas experimentais demonstraram que, no caso do
efeito de correntes elétricas sobre o organismo vivo, são de importância decisiva os
seguintes parâmetros:
• Intensidade de corrente
• Duração do efeito
• Percurso da corrente
• Freqüência e elevação brusca da corrente
Os diferentes parâmetros serão tratados nos seus pormenores, em ligação com os
acidentes devido à eletricidade.

Acidentes Devido a Eletricidade

O exame dos acidentes devido à eletricidade, no respeitante aos seus efeitos,


mostra uma extraordinária variedade de manifestações, desde o "choque elétrico",
passando por ferimentos ligeiros e graves, até à morte. Do ponto de vista da prevenção
8

de acidentes, devem ser especialmente considerados os acidentes com desfecho mortal.


Também aqui há que considerar diversas possibilidades. Em primeiro lugar, no caso de
determinadas intensidades máximas de corrente, e de tempo mínimo de duração do
efeito sobre o coração, àquelas subordinado, o sistema de comando e de transmissão dos
estímulos, pode ser afetado a tal ponto que o funcionamento ordenado do coração seja
interrompido, ocorrendo, em vez da contração vigorosa dos ventrículos, fibrilação
ventricular devido à corrente elétrica. Como conseqüência, o fornecimento regular do
sangue às células do corpo, cessa, e as mais sensíveis dentre elas, começam a morrer no
espaço de alguns minutos.
A fibrilação ventricular na pessoa humana era tida, até ainda há poucos anos
como irreversível. Entretanto, tornaram-se conhecidos processos de tratamento clínico,
como, por exemplo, as massagens diretas no coração com o tórax aberto e o
desfibrilador, com os quais, em alguns casos - mas não em muitos - se pode eliminar a
fibrilação ventricular.
Em segundo lugar, pode ocorrer em, determinadas gamas de intensidade de
corrente e, enquanto perdura a ação desta, uma contração da musculatura do tórax, que
impede os movimentos respiratórios da caixa torácica, o que conduz, em caso de
suficiente duração, à morte por sufocação.
Por último, ainda existe a possibilidade, principalmente nos acidentes com alta
tensão, de que, tanto devido ao calor de arcos voltaicos, como também devido à
passagem de corrente em si, se produzam queimaduras, que tenham como conseqüência
a morte imediata ou posterior.
.

Influência da intensidade de Corrente

Foram examinadas e analisadas nos últimos anos, acima de 1000 acidentes


devidos à eletricidade. Os resultados foram completados por grande número de
experiências em animais, de preferência em cães, depois de pormenorizadas pesquisas
terem demonstrado que os resultados de experiências, obtidos em animais anestesiados,
são aplicáveis aos seres humanos. As reações fisiológicas, que foram observadas com
intensidades da corrente entre alguns miliamperes e vários ampéres, foram divididos em
quatro grupos, classificados em gamas de intensidade de corrente.
No Quadro 4, apresentam-se as gamas de intensidade de corrente, em corrente
alternada a 50 Hz e o percurso mão-tronco-pés, atuando durante o período de
aproximadamente 1 segundo.
É de notar, que a perigosa fibrilação ventricular é limitada na gama de
intensidade III e não pôde ser regularmente observada na gama de intensidade IV.
Tomando como base, numa primeira aproximação, uma resistência do corpo humano de
cerca de l.000 ohms, tem-se, na usual tensão de 220 V, uma corrente no corpo de 220
mA, que se situa na gama de intensidade de corrente III e que provoca o perigo da
mortal fibrilação ventricular. No caso de um acidente com alta tensão, no qual atua-se
uma tensão de 6 KV, resultaria no corpo uma corrente de 6 A, que se situa na gama de
intensidade de corrente IV. Abstraindo de outros danos, as hipóteses de sobrevivência,
podem, neste caso, ser consideradas maiores que no precedente, dada a possibilidade da
parada do coração ser reversível.
9

Quadro 1: Medidas da sensibilidade com corrente alternada de 50Hz. Percurso da


corrente mão-tronco-mão: Intensidade em mA (eficaz)
Porcentagem de
pessoas analisadas
SENSAÇÕES 5% 50% 95%
(mA)
Corrente perceptível apenas nas palmas das mãos 0,7 1,2 1,7
Ligeiro formigamento nas palmas das mãos, como se as 1,0 2,0 3,0
mesmas estivessem dormentes
Formigamento também perceptível nos pulsos 1,5 2,5 3,5
Leve vibração das mãos, pressão nos pulsos 2,0 3,2 4,4
Ligeira cãibra nos antebraços, como se fossem comprimidos 2,5 4,0 5,5
com algemas
Ligeira cãibra nos braços 3,2 5,2 7,2
As mãos tornam-se rígidas e contraídas, o largar ainda é 4,2 6,2 8,2
possível; sensação de dor
Cãibra nos braços, as mãos tornam-se pesadas e insensíveis, 4,3 6,6 8,9
picadas em toda a superfície dos braços
Cãibra geral dos braços, chegando até as axilas, o largar é ainda 7,0 11,0 15,0
possível (let-go-current)

Quadro 2: Medidas da sensibilidade com corrente contínua. Percurso da corrente


mão-tronco-mão: Intensidade em mA.
Porcentagem de pessoas
analisadas
SENSAÇÕES 5% 50% 95%
(mA)
Ligeiro formigamento nas palmas das mãos e nas pontas 6 7 8
dos dedos
Sensação de calor e formigamento mais forte nas palmas 10 12 15
das mãos, ligeira pressão nos pulsos
Forte pressão, até picadas nos pulsos e palmas das mãos 18 21 25
Formigamento nos antebraços sensação mais forte de calor 25 27 30
Dor com pressão mais forte nos pulsos, formigamento 30 32 35
chegando aos cotovelos
Forte dores e pressão nos pulsos e dores agudas nas mãos 30 35 40
10

Quadro 3: Medidas da sensibilidade com corrente alternada de 50Hz. Percurso da


corrente mão-tronco-pés: Intensidade em mA(eficaz)
Porcentagem de pessoas
analisadas
SENSAÇÕES 5% 50% 95%
(mA)
Corrente perceptível apenas na palma da mão 0,9 2,2 3,5
Formigamento em toda a mão, como se estivesse dormente 1,8 3,4 5,0
Ligeira pressão no pulso, formigamento mais intenso 2,0 4,8 6,7
Pressão também sensível no antebraço 4,0 6,0 8,0
Primeira sensação nas solas dos pés (ligeiro formigamento) 5,3 7,6 10,0
pressão no antebraço
Ligeira cãibra no pulso, o movimento de mão torna-se 5,5 8,5 11,5
difícil, pressão no tendão do pulso
Formigamento no braço, forte cãibra no braço, 6,5 9,5 13,0
principalmente no pulso
Forte formigamento, chegando até a axila, antebraço até ao 7,5 11,0 14,5
cotovelo quase rígido, o largar ainda é possível
Pressão em torno dos tornozelos e calcanhares, dedo 8,8 12,3 15,8
polegar da mão contraído
Largar só é possível com maior esforço (let-go-current) 10,0 14,0 18,0

Quadro 4: As quatro gamas de intensidade de corrente das reações fisiológicas


Gama de Reações fisiológicas Intensidade da
intensidade corrente eficaz
de corrente (mA)
Início da perceptibilidade da corrente até ao estado
em que já não é possível largar sozinho o contato.
I Ausência de influência sobre os batimentos Até 25
cardíacos e o sistema de condutores de estímulos
Intensidade da corrente ainda suportável. Elevação
da pressão sangüínea, irregularidade dos batimentos
II cardíacos, parada reversível do coração, acima de 25 a 80
cerca de 50mA, perda de sentidos.
III Perda de sentidos e fibrilação 80 a 3000
Elevação da pressão sangüínea, parada reversível do
IV coração, arritmias, flatulência pulmonar, em regra > 3000
perda de sentidos
11

Influência do Tempo de Atuação da Corrente

As investigações mostram que o tempo que a corrente elétrica atua sobre o corpo
humano, é de importância fundamental. Com base em trabalhos realizados, podem ser
traçadas curvas características, a qual delimita a gama de intensidade de corrente II da
gama de intensidade de corrente mortal III. Estas curvas características decorrem,
primeiro, em conformidade com um valor no tempo de corrente de:
Q = I × t = 100mA × s .
As curvas características podem ser obtidas com base em mais de l00ms, com
uma quebra na altura de um valor máximo de 85 mA, correspondente a um valor eficaz
de 60mA, paralelamente ao eixo dos tempos. A fronteira entre as gamas de intensidade
de corrente I e II, pode ser assinalada por uma curva característica corresponde a
Q = I × t = 30mA × s que representa igualmente na gama de l000ms, uma quebra e
decorre durante mais tempo a um valor eficaz de 21 mA, paralelamente ao eixo dos
tempos.

Influência do Percurso da Corrente

O percurso da corrente no corpo humano, em caso de acidente, é importante na


medida em que o coração possa ser afetado pela corrente. Na maioria dos casos, os
pontos de entrada e saída da corrente encontram-se, pelo menos, numa das mãos ou nos
2 pés. Considerando circunstâncias especiais, como por exemplo, a manipulação de
aparelhos elétricos em salas exíguas, também o peito e as costas são pontos de
passagem para a corrente elétrica.
Um dos mais perigosos percursos da corrente parece ser o da mão esquerda para
o peito, porque neste caso, o coração se encontra diretamente no caminho da corrente.
Além disso, o percurso da corrente tem importância decisiva, porque influência a
resistência elétrica de maneira determinante, tornando-se assim ele próprio um
parâmetro para a intensidade de corrente, que se origina.
A resistência elétrica compõe-se da resistência interna do corpo. A estas, se
juntam resistência de isolamento, constituídas por peças de vestuário ou sapatos.
Foram efetuadas extensas pesquisas sobre a grandeza e a eficiência destas
diferentes resistências parciais. Para consideração das circunstâncias sob o ponto de
vista de prevenção de acidentes, as possíveis resistências suplementares, são, no
entanto, de importância secundária, porque os dispositivos de proteção têm que ser
preparados e eficazes, de maneira a representarem ainda uma proteção eficiente, mesmo
nas mais desfavoráveis circunstâncias.
No ponto de passagem da corrente, a pele é afetada muito rapidamente, na
maioria dos casos. É segregada a transpiração, caso já não exista, a pele sofre
perfuração elétrica. Nesse momento a resistência de passagem baixa para um valor
desprezível. Também as peças do vestuário, que possuem em si um elevado valor de
resistência, perdem quase completamente, quando tenham absorvido bastante umidade,
devido, por exemplo à transpiração. Nestas circunstâncias, parece conveniente, por
razões de segurança, considerar apenas a resistência interna do corpo. Esta se situa na
ordem de grandeza de aproximadamente 1200 ohms, no percurso da corrente mão-
tronco-mão.
12

Influência da Freqüência da Rede

A maioria das investigações foram até agora efetuadas com corrente contínua e
com corrente alternada industrial a 50 ou 60 Hz. Como se verifica por uma comparação
entre os Quadros 1 e 2, o limite da sensibilidade situa-se, para a corrente industrial,
consideravelmente abaixo da corrente contínua.
A resistência elétrica do indivíduo diminui com o aumento da freqüência. O
valor da resistência do ser humano, já mencionado de 1200 ohms, válido para corrente
alternada a 50 Hz, desce continuamente até aproximadamente 550 ohms a 100kHz. Daí,
os valores aqui tabelados serem completamente aceitáveis para freqüência mais
amplamente difundida em nosso país, ou seja, 60Hz.

Limite de corrente permissível no corpo

Como mostrado por Dalziel e outros, a intensidade de corrente não fibrilante I k


dentro da faixa de duração de 0,03 a 3 s é relacionado com a energia absorvida pelo
corpo conforme descrito pela equação seguinte: I k2 × t s = S k
⎧ I k = Valor RMS da intensidade da corrente que atravessa o corpo (A)
⎪ t = Tempo de exposição à corrente em (s)

onde: ⎨ s
⎪ S k = Constante empírica relacionando a energia tolerável de choque elétrico
⎪⎩ para uma certa percentagem de uma dada população.
A intensidade e duração da corrente circulando através do corpo humano a 50 ou
60hz seria menor que aquelas que causam fibrilação ventricular.
O intervalo de tempo em que uma corrente de 50 ou 60Hz pode ser tolerada por
muitas pessoas é baseado, nos resultados dos estudos de Dalziels. Ele assumiu que
99,5% de todas as pessoas podem resistir com segurança, sem a ocorrência da fibrilação
ventricular, à passagem de uma corrente de intensidade e duração determinada pela
seguinte equação: I k = k × t s .Onde, em adição aos termos previamente definido
temos: k = S k .
Dalziel encontrou que a energia de choque que pode ser suportada por 99,5%
das pessoas pesando aproximadamente 50kg (110 lbr) resulta em valores de
S k = 0,0135 . Assim k 50 = 0,116 e a fórmula para a corrente permissível para o corpo
0,116
torna-se I k = para um corpo de massa de 50kg .
ts
Nota-se que a equação acima resulta em valores de 116mA para 1s e 367mA
para 0,1s, visto que a equação é baseada nos limites de testes para faixas de 0,03 - 3,0s,
obviamente não é válida para um curto de longa duração, e alguns valores de corrente
podem ser tolerados indefinidamente.
Em 1936 Ferrus e outros sugeriram 100mA como o inicio de fibrilação se a
duração do choque não está especificado. Este valor de 100mA foi derivado de uma
extensiva experiência na Universidade da Colômbia, em animais tendo corpo e coração
de pesos comparável ao do homem, com uma duração máxima de choque de 3s. Alguns
das mais recentes experiências sugerem a existência de dois limiares distintos. Um onde
o tempo de exposição é menor do que um período de batida do coração e outra para
13

exposição de corrente mais longo do que uma batida do coração. Para um adulto de
50kg (110 lb), Biegelmeir propôs valores limiares para 500 e 50mA, respectivamente.
A corrente de fibrilação é de fato uma função da massa individual do corpo
conforme ilustrado na figura 2. Esta, mostra a relação entre a corrente crítica e a massa
do corpo para várias espécies de animais (bezerros, cães, ovelhas, carneiros, porcos) e
um limiar comum de 0,5% na região mamífera.
Figura 2: Corrente de fibrilação versus massa do corpo para vários
animais baseado num choque de 3s

As constantes S k e k nas equações são dadas como k = 0,157 e S k = 0,0246


respectivamente, tendo sido assumido validos para 99,5% de todos homens pesando
aproximadamente 70,3kg (155 lbr), segundo os mais recentes estudos de Dalziel (em
0,157
1968). Deste modo, I k70 = para corpo de massa de 70kg.
ts
A máxima corrente em 3s não fibrilante é de 91mA para um indivíduo com
70kg, estando ainda abaixo do limite de fibrilação de 107mA a 50kg(110 lbs), como
mostrado na figura 2. O valor de k 70 = 0,157 pode ser assumido devido a expectativa da
média de massa da população de ter ao menos 70kg segundo o IEEE.
Essa equação indica que correntes mais altas podem ser permitidas quando
proteções para operação rápidas são projetada

Circuito de terra acidental

Resistência do corpo humano. Para Dc e Ac em freqüências de força normal, o


corpo humano pode ser representado por uma resistência não indutiva. A resistência
está entre as extremidades, isto é, de uma mão para ambos os pés, ou de um pé para o
outro pé. Em um ou outro caso, o valor desta resistência é difícil de estabelecer. A
resistência do tecido interno do corpo, não incluindo a pele, é aproximadamente 300 Ω ,
considerando que valores de resistência do corpo incluindo a pele, de 500 - 3.000 Ω ,
tem sido sugerido na literatura.
Assim como já mencionado anteriormente, Dalziel conduziu testes extensivos
para determinar como deixar passar corrente segura, com mãos e pés molhados, em
14

água salgada. Valores obtidos usando 60Hz para homens são como segue: a corrente era
9,0 mA; eram voltagens correspondendo mão com mão, 21 V, e mão com pé de 10,2 V.
Consequentemente a resistência Ac para um contato mão a mão é igual a
21,0 10,2
= 2.330Ω e a resistência igual a = 1.130Ω , baseado nesta experiência.
0,009 0,009
Para altas voltagens (acima 1kv) e correntes (acima 5A), a resistência humana
diminui; decresce pelo dano e perfuração da pele no ponto de contato. Por essa razão,
com a mão molhada, a resistência de contato pode ser muito baixa em qualquer
voltagem. A resistência de calcados, é indeterminada, embora possa ser muito baixa
para objetos de couro úmido. Deste modo, para os propósitos de normalização são
considerados:
(1) A resistência de contato de mão e pés como iguais a zero.
(2) O valor R B = 1.000Ω é selecionado pelos cálculos que seguem como
representando a resistência do corpo humano de mão para pé e também de mão para
mão ou de um pé para outro pé.
Circulação de corrente através do corpo: É bom relembrar que a escolha de
uma resistência de valor de 1.000Ω diz respeito ao caminho assim como aqueles entre a
mão e um pé ou ambos os pés, onde uma maior parte da corrente passe através das
partes do corpo contendo órgãos vitais, incluindo o coração. É geralmente aceito que a
corrente circulando de um pé para o outro quando estão próximos é menos perigoso.
Referindo-se a testes feito na Germania, Loucks mencionou que correntes mais elevadas
entre pé-pé e mão-mão tem sido usadas para produzir a mesma corrente na região do
coração, afirmando que a razão é tão grande quanto 25:1.
Baseado nestas conclusões, valores de resistências mais altas do que 1.000Ω
podem ser utilizados, para o percurso de um pé para outro pé. Contudo, os fatores
seguintes seriam considerados.
(1) Uma voltagem entre dois pés, dolorosa mais não fatal, poderia resultar numa
queda no fluxo de corrente através da área do peito. O grau deste perigo dependeria da
duração da falta e da possibilidade de outra sucessiva.
(2) Uma pessoa poderia estar trabalhando numa posição inclinada quando
ocorresse uma falha.
É evidente que os perigos contido de pé para pé são, de longe menores do que
outro tipo. Entretanto desde que mortes tenham ocorridos, é um perigo que não deve ser
ignorado.
Circuito Acidental Equivalente: Usando o valor da corrente tolerável do corpo
0,157 0,116
estabelecida pela equação I k70 = ou I k50 = e as constantes apropriadas dos
ts ts
circuitos é possível determinar a voltagem tolerável entre quaisquer dois pontos críticos
de contato.
Ao circuito acidental equivalente aplicam-se as seguintes notações:
I A = Corrente através do circuito acidental
R A = Resistência total efetiva do circuito acidental
I k = Corrente permissível do corpo
Obviamente I A < I k é sempre exigido para segurança.
Desde que a resistência do corpo é considerada constante, exigir que I A < I k é
equivalente dizer que a fibrilação pode ser prevenida mantendo o total de Watts x
segundos(Ws) da energia absorvida, durante um choque, abaixo de um certo valor. Este
15

valor é 0,0135Ws para k 50 = 0,116 A e 0,0246Ws para k 70 = 0,157 A ,. respectivamente.


Desta maneira, pode ser visto que a fórmula de Dalziels representa, verdadeiramente, a
relação entre a intensidade da corrente de choque e a duração para uma energia de
choque constante.
A resistência do circuito acidental R A é uma função da resistência do corpo R B
e a resistência do pé R F (resistência da terra bem abaixo do pé). A resistência do pé
pode afetar consideravelmente o valor de R A , um valor que pode ser maior em algumas
situações difíceis.
Para os propósitos de análises de circuito, o pé humano é usualmente
representado como um disco de condução metálico e a resistência de contatato dos
sapatos e meias são desprezadas. Como mostrado por Sunde, as resistências mútuas e
próprias para dois discos metálicos de raio b , separados por uma distância d F na
ρ
superfície de um solo homogêneo de resistividade ρ , são: Rpé = e
4b
ρ
RMpé = .
2 × π × d pé
⎧ Rpé = Resistência, própria de cada pé para um ponto remoto na terra em Ω

⎪ RMpé = Resistência mútua entre pés em Ω
Onde: ⎨
⎪ b = Raio equivalente de um pé em m
⎪ d pé = Distância de separação dos pés em m

As resistências da terra abaixo dos dois pés em série e em paralelo são:
R2 FS = 2 × ( Rpé − RMpé )
1
R2 FP = × ( Rpé + RMpé )
2
Onde em adição aos símbolos descritos acima;
R2 FS = Resistência de dois pés em série Ω
R2 FP = Resistência de dois pés em paralelo Ω
A figura 3 define o circuito equivalente de contato pé a pé. Aqui o potencial U,
desviado para o corpo, é a diferença do máximo potencial entre dois pontos separados
pela distancia de um passo. A resistência do circuito equivalente para o circuito
potencial de passo é dada pela equação R A = RB + 2 × ( Rpé + RMpé ) .
Depois, o circuito equivalente para um contato de uma mão para os dois pés é
mostrado na figura 4.
Figura 3: Circuito de tensão de passo
16

A resistência equivalente para o circuito de toque é dado pela equação


1
R A = RB + × ( Rpé + RMpé ) .
2
Referências bibliográficas selecionam um raio de 0,08m (3in) para o disco
simbolizando, um pé e elimina o termo de resistência mútua.
Com somente leves aproximações, equações para as resistências em séries e
paralelas de dois pés pode ser obtida em forma numérica e expressa em termos de ρ ,
assim como mostrado abaixo:
R2 FS = 6( ρ )
1
R2 FP = 1 ( ρ )
2
Figura 4: Circuito de tensão de toque

Por essa razão, para todos os propósitos práticos, a resistência de um pé é igual a


3ρ . A equação para R2 FS é usada quando se calcula a corrente do corpo resultando da
tensão de passo e a equação para R2 FP aplica-se quando para cálculo da corrente do
corpo produzido por uma malha ou potencial de toque com ambos os pés a
profundidade zero da superfície.
Por exemplo, se ρ = 2.000Ω • m , as equações para R2 FS e R2 FP produzem
12.000 e 3.000Ω para as resistências em serie e paralelo respectivamente.
Um cálculo mais exato de resistência própria e mutua usando 1m de separação
R2 FS = 11.863Ω e R2FP = 3.284Ω . O uso de um valor de separação entre pés de 1m é
conservativo no cálculo de R2 FS . Embora possa produzir um valor levemente maior de
resistência do que uma separação menor entre os pés, a tensão de passo resultante é
muito mais alta com uma separação maior do que seria com uma menor, o que teria o
efeito dominante na corrente do corpo.
A larga separação é também conservativo no cálculo de R2 FS porque produz
uma resistência mais baixa do que uma pequena separação produziria.
Efeito de uma camada de brita: As equações são baseadas na hipótese de
resistividade uniforme do solo. Entretanto, uma camada de 0,08 a 0,15m (3 a 6 pés) de
brita é muitas vezes espalhada numa superfície de terra acima da malha de aterramento
para aumento da resistência constante entre o solo e os pés, de pessoas na subestação. A
17

brita também melhora a superfície para o movimento de equipamentos e veículos na


subestação. A área coberta pela camada de brita é geralmente de tamanho suficiente
para validar a hipótese, a dos pés estando em contato com um material de resistividade
uniforme na direção lateral. De qualquer modo a pequena espessura da camada de brita
quando comparado com o raio equivalente do pé exclui a hipótese da resistividade
uniforme na direção vertical quando se calcula as resistências próprias e mutuas dos pés.
Se o solo adjacente tem uma resistividade mais baixa do que a camada de brita,
somente alguma corrente de malha irá para cima da fina camada da brita, e a tensão de
superfície estará muito mais próximo do mesmo valor tal qual sem a camada de brita. A
corrente através do corpo será reduzida consideravelmente com a adição da camada de
brita devido, a adição da alta resistência de contato entre a terra e os pés. Entretanto, a
resistência pode ser consideravelmente menor do que da camada de brita de grande
espessura, (isto é, espessa o suficiente para assumir resistividades uniformes em todas as
direções). Quanto menor depende de valores relativos e resistividades de brita e na
densidade da camada de brita. Um caso típico descrito na literatura nos mostra que a
resistência efetiva de uma camada de 0,25m de calcário tem um limite de 5.000Ω
(molhado, a resistividade úmida é aproximadamente equivalente a 75% de seu valor
nominal se a resistividade do solo da terra está a 250Ω • m .
A equação seguinte para Rpé e RMpé são :
ρ1
Rpé = F (X 1 )
4b
ρ1
RMpé = F (X 2 )
2πd pé
Onde F ( X ) é uma função baseada na distância, espaçamento dos pés e dos
valores relativos da terra e resistividades da camada de brita.

Kn
F ( X ) = 1 + 2∑
n =1 1 + (2nX )
2

ρ − ρs
K=
ρ + ρs
Onde:
ρ s = Resistividade da brita em Ω × m
ρ = Resistividade do solo em Ω × m
h
X = X 1 = s para R pé
b
hs
X = X2 = para RMpé
d pé
hs = espessura da camada de brita na superfície em m.
Estas equações poderiam também ser derivadas pela aplicação do método das
imagens pelas equações de Sunde. No entanto, desde que a quantidade F ( X ) é bastante
monótono calcular sem um computador ou calculadora programável, estes valores tem
sido previamente calculado e é feito gráfico para uma larga escala de valores X e fator
K , como mostrado no gráfico 1.
Para simplificar o procedimento acima tendo em visto facilitar a utilização,
podemos negligenciar o termo de resistência mutua e considerar b = 0,08 metros
sempre. Diante disso, podem ser expressadas as equações para a resistências série e
18

paralela de dois pés alternativamente de uma forma que é análoga a expressão dada pela
seguinte equação, usada para solo uniforme:
R2 FS = 6,0C s (hs , k )ρ s e R2 FP = 1,5C s (hs , k )ρ s
Onde:
C s = fator de redução para o valor nominal da resistividade da brita na
superfície determinado como segue:
C s = 1 para resistividade da brita igual a resistividade do solo
Caso contrário,
1 ⎡⎢ ⎤
∞ n

CS = 0,96 ⎢1 + 2∑ K 2

⎣ n =1 1 + (2n hS / 0,08 ) ⎥⎦

Para o caso posterior de C s < 1 no qual C s , é uma função de (hs , k ) e o qual


distingue os valores de C s é mostrado no gráfico 2.
Alternativa simples aproxima, baseado no conceito de hemisfério equivalente,
⎡ ρ ⎤
⎢ 1− ρ ⎥
como C s ≅ 1 − a ⎢ s
⎥ ; a = 0,106 metros que evitam a série de adição infinita
2
⎢ s a⎥
h +
⎢⎣ ⎥⎦
também são possíveis.
Gráfico 1: Função F ( X ) versus X e coeficiente de reflexão k
19

Gráfico 2: Fator de redução C s como função de k e hs


20

2. FIBRILAÇÃO VENTRICULAR DO CORAÇÃO PELO CHOQUE


ELÉTRICO

O choque elétrico é a perturbação de natureza e efeitos diversos que se manifesta


no organismo humano quando este é percorrido por uma corrente elétrica. Os efeitos das
perturbações variam e dependem de vários fatores como:

• Percurso da corrente elétrica pelo corpo;


• Intensidade da corrente elétrica;
• Tempo de duração do choque elétrico;
• Espécie da corrente elétrica;
• Freqüência da corrente elétrica;
• Tensão elétrica;
• Estado de umidade da pele;
• Condições orgânicas do indivíduo.

As perturbações no indivíduo, manifestam-se por:

• Inibição dos centros nervosos, inclusive dos que comandam a respiração


produzindo PARADA RESPIRATÓRIA;
• Alteração no ritmo cardíaco, podendo produzir FIBRILAÇÃO VENTRICULAR
e uma conseqüente PARADA CARDÍACA;
• Queimaduras profundas, produzindo NECROSE do tecido;
• Alterações no sangue provocadas por efeitos térmicos e eletrolíticos da corrente
elétrica.
Se o choque elétrico for devido ao contato direto com a tensão da rede, todas as
manifestações podem ocorrer. Para os choques elétricos devidos à tensão de toque e
passo impostas pelo sistema de aterramento durante o defeito na rede elétrica, a
manifestação mais importante a ser considerada é a FIBRILACÃO VENTRICULAR
DO CORAÇÃO.

Funcionamento Mecânico do Coração

Para compreender como ocorre a fibrilação ventricular no coração pelo choque


elétrico, há necessidade de conhecer o funcionamento normal do coração. Do ponto de
vista mecânico, o coração é uma bomba hemo-hidráulica que faz o sangue circular
continuamente pelo corpo humano. Ver figura 5.
O sangue venoso, isto é, pobre em O2 e rico em CO2, entra no coração pela veia
cava inferior e superior, ocupando o átrio direito. Do átrio é bombeado para o ventrículo
direito e deste para os pulmões, onde é feita a troca do CO2 pelo O2, formando o sangue
arterial. Este sangue retorna ao átrio esquerdo onde é bombeado ao ventrículo esquerdo.
Este último ao se contrair, impulsiona o sangue arterial para todo o corpo. A contração
dos dois átrios dá-se no mesmo instante, o mesmo ocorrendo com os dois ventrículos.
As paredes do coração são formadas por fibras musculares especializadas em
efetuar as contrações cardíacas de maneira permanente e ritmada. As paredes
musculares do ventrículo são as mais solicitadas, porque a sua contração deve ser forte e
eficiente para prover o bombeamento do sangue com pressão adequada a todo o corpo.
Portanto, é nesta região que ocorrem os problemas cardíacos de enfarte e fibrilação
ventricular.
21

Figura 5: Coração humano

Funcionamento elétrico do coração

O funcionamento mecânico do coração é controlado e comandado eletricamente


por dois nódulos existentes no átrio direito do coração, pontos 1 e 2 da figura 6.
Figura 6: Esquema elétrico do coração

Os dois pontos são chamados de Nódulo Sino Atrial (NSA) e Nódulo Átrio
22

Ventricular NAV. O NSA é um gerador elétrico que, quimicamente, processa a


alternação dos íons Na+ e K+, emitindo o sinal (pulso) elétrico. Este sinal, passando
pela parede muscular do átrio, promove a sua contração e o sangue passa para o
ventrículo. O sinal elétrico é então captado pelo feixe de His (ponto 3) e distribuido pela
rede de Purkinhje (ponto 4) a todas as fibras musculares (ponto 5) do ventrículo,
provocando a contração deste.
Nesta contração, o sangue contido na cavidade direita é impulsionado para os
pulmões e o do lado esquerdo para todo o corpo. O NSA comanda eletricamente o
batimento do coração. O NAV é o reservatório que opera em flutuação, acompanhando
em sincronismo o sinal do NSA. Se o NSA tiver problemas e falhar, o NAV assume a
responsabilidade.
Figura 7: Circuito elétrico do coração

A figura 7 apresenta um circuito elétrico análogo ao circuito elétrico do coração.


O sinal elétrico do gerador é captado pela barra (feixe de His) e distribuído pela
rede de transmissão (rede de Purkinje) às cargas (fibras musculares). As fibras
musculares do ventrículo estão polarizadas. Ao receberem o sinal proveniente do NSA,
elas se contraem, despolarizando-se.
Em seguida, deve ocorrer o processo de repolarização das fibras. Esta etapa de
repolarização das fibras é conhecida como o período mais vulnerável e é o momento
mais perigoso para ocorrência da fibrilação ventricular do coração devido ao choque
elétrico. Se a corrente elétrica do choque passar pelas paredes do ventrículo no instante
da repolarização das fibras, a probablidade de fibrilação ventricular é grande.

Fibrilação Ventricular do Coração Pelo Choque

A fibrilação ventricular é o estado de tremulação (vibração) irregular e


desritmada das paredes dos ventrículos, com perda total da eficiência do bombeamento
do sangue. O sinal detectado no eletrocardiograma e a pressão arterial são mostrados na
figura 8.
23

Figura 8 : Sinal do eletrocardiograma e pressão arterial

A pressão arterial cai a zero, isto é, o sangue está parado no corpo. Este estado é
conhecido por MORTE APARENTE. Pensava-se, há pouco tempo atrás, que a corrente
elétrica do choque ao passar pelo coração, mais precisamente pelo NSA e NAV, fazia
com que estes se desregulassem, passando a emitir sinais caóticos e desritmados,
produzindo a fibrilação ventricular. Verificou-se, posteriormente, que os NSA e NAV
não são os responsáveis pela fibrilação ventricular devido ao choque elétrico. Isto
porque:
• Os NSA e NAV são muito pequenos. Em conseqüência, da corrente que passa
pelo corpo, apenas uma densidade menor afeta o coração e desta, somente uma
ínfima parcela passa pelos nódulos.
• Os nódulos têm uma rápida recuperação.

Na realidade, o que acontece é que o coração humano é um órgão muito


complexo. As paredes do ventrículo são formadas por tecidos diferentes superpostos de
maneira estratificada. Esta heterogeneidade confere à cada camada, densidade e
espessura diferentes. Além disso, cada camada tem sua própria freqüência mecânica
natural de ressonância.
A corrente elétrica do choque, ao passar por estas camadas, produz vibrações
distintas, quebrando a eficiência da repolarizaçâo. Isto gera uma despolarizaçâo caótica
nas fibras musculares que compõem as paredes do ventrículo. Consequentemente, as
fibras não mais obedecem e não respondem sincronicamente aos sinais emitidos pelo
NSA. As paredes ficam então, tremulando, caracterizando o estado de fibrilação.
Como o sangue não mais circula pelo corpo, sâo as células cerebrais as primeiras
a serem prejudicadas. A fibrilação ventricular é irreversível espontaneamente. Se
nenhuma providênca for tomada dentro de 4min, os danos cerebrais são
comprometedores. Dentro de 8 a 12 minutos a fibrilação vai diminuindo sua
intensidade, passando para o regime de parada cardíaca.
24

Desfibrilador Elétrico

O desfibrilador elétrico (figura 9) é um aparelho usado para reverter a fibrilação


ventricular.
Figura 9: Desfiblilador Elétrico

Figura 10: Corrente da Descarga

Seu funcionamento é
simples. A descarga de um
capacitor C é feita de modo
que sua corrente elétrica tenha
a forma da figura 10 e passe
através do coração, no sentido
do átrio ao ventrículo.
A área hachureada é a
região efetiva da corrente, e
corresponde ao tempo de
10ms. A descarga produz uma avalanche de corrente unidirecional forçando as fibras a
ficarem polarizadas. Obtendo-se a polarização, as fibras voltam a obedecer ao sinal
emitido pelo NSA e o coração restabelece o seu ritmo de batimento.
1 2
A energia da carga no capacitor é dada pela fórmula E c = CV0
2
Onde:
E c Î Energia do capacitor (J)
C Î Capacitância (C)
V0 Î Tensão do capacitor (V)
A escala do aparelho vai até 500J, a tensão no capacitor varia de 2 a 9kV, e a
corrente de descarga pelo tórax do paciente na ordem de 1 a 30mA.

Influência do valor da corrente elétrica

A tabela 1 apresenta os efeitos das correntes elétricas alternadas de 50 a 60Hz no


corpo humano, sem levar em conta o tempo de duração do choque. Essa tabela
apresenta apenas uma estimativa do efeito da corrente no corpo humano. O valor da
corrente elétrica para causar determinado efeito no corpo humano é muito variado.
Portanto, é difícil fazer uma correlação dos efeitos através de equações matemáticas.
25

Curva Tempo x Corrente

Muitas pesquisas foram feitas no sentido de obter-se um equacionamento que


espelhasse a realidade do efeito da corrente elétrica no corpo humano. No entanto,
devido às diferentes condições de choque e do próprio corpo humano, ainda não se
obteve muito sucesso.
Figura 11: Curva tempo x corrente

Curva de segurança com


probabilidade de 0,5%
de fibrilação ventricular.

A curva Tempo x Corrente (figura 11) é uma das tentativas de mostrar a relação
existente entre a corrente elétrica aplicada por certo tempo e seus efeitos no corpo
humano.

Onde:
Zona 2 - Geralmente nenhum efeito patofisiológico perigoso;
Zona 3 - Zona que produz algum efeito perigoso. O efeito mais importante é o
pulmonar. Já pode haver risco de fibrilação;
Zona 4 – Zona perigosa com probabilidade de fibrilação superior em 50% das pessoas;
Zona S - Curva de segurança com probabilidade de 0,5% de ocorrência de fibrilação
ventricular.

Limite de Corrente para Não Causar fibrilação


Charles Dalziel concluiu, após pesquisa, que 99,5% das pessoas com peso de
50kg ou mais, podem suportar sem a ocorrência de fibrilação ventricular, a corrente
0,116
elétrica determinada pela expressão I k = para 0,035 ≤ t ≤ 3s .
t
26

I k Î Corrente pelo corpo humano, limite para não causar fibrilação em A


t ÎTempo da duração do choque em s
Essa fórmula é usada para obtenção do limite permissível e aceitável de
corrente, para que não ocorra fibrilação, durante o tempo em que a pessoa fica
submetida à tensão de toque ou passo. O tempo de choque é limitado pela atuação da
proteção, de acordo com a curva do relé. Assim, para a maior corrente de defeito no
sistema que passa pelo aterramento, a curva do relé fornece o tempo de atuação da
proteção. Este tempo, definido pela curva de atuação da proteção, levado à equação já
definida, permite a obtenção da corrente limite através do corpo humano, até a qual não
ocorre fibrilação.

Tabela 1: Influência da corrente


I (m A) RESULTADO
C.A. C.C. REAÇÃO CONSEQUÊNCIA SALVAMENTO FINAL
FISIOLÓGICA MAIS PROVAVEL
1 mA (C.A) - limiar da Se a corrente for Respiração Restabelecimento
sensação/sensação de próxima de 25mA Artificial
formigamento pode haver asfixia e
5-15mA (C.A) consequente morte
Até 25 Até 80 contração muscular aparente
15-25 mA (C.A)
contração violenta;
impossibilidade de
soltar o objeto e
problemas
respiratórios
Sensação insuportável Morte aparente Respiração Restabelecimento
25-80 80-300 Contrações violentas Artificial
Asfixia
Asfixia imediata Morte aparente • Respiração Caso levado ao
>80 >300 Fibrilação ventricular Artificial hospital e feito a
Alterações musculares • Massagem desfibrilação -
Queimaduras Cardiaca restabelecimento
Queimaduras (efeito Morte aparente • Respiração Hospital
térmico) Dependendo da Artificial Desfibrilação
Corrente da Necrose dos tecidos extensão das • Massagem Recuperação difícil
ordem de Fibrilação ventricular queimaduras, sequelas Cardiaca Atrofia muscular
amperes Asfixia imediata e morte • Tratamento Outros danos
Danos posteriores Hospitalar
resultado do produto
da eletrólise
27

POTENCIAIS DE CHOQUE

Potencial de Toque

É a diferença de potencial entre um ponto da estrutura metálica, situado ao


alcance da mão de uma pessoa, e um ponto no chão situado a 1m da base da estrutura. O
potencial máximo gerado por um aterramento durante o período de defeito, não deve
produzir uma corrente de choque superior à limitada por Dalziel.
Pela figura 12, obtémos a expressão do potencial de toque em relação à corrente
elétrica de choque.
Figura 12: Potencial de Toque

⎛ R ⎞
Vtoque = ⎜ Rch + c ⎟ × I k
⎝ 2⎠

Rch Î Resistência do corpo humano considerada 1.000Ω


Rc Î Resistência de contato que pode ser considerada igual a 3ρ s (resistividade
superficial do solo), de acordo com a recomendação da IEEE-80 em Ω
I k Î Corrente de choque pelo corpo humano em Ω
R1 e R2 Î Resistências dos trechos de terra considerados em Ω

A expressão do potencial de toque pode ser escrita da seguinte maneira:


Vtoque = (1.000 + 1,5 ρ s ) × I k

Potencial de Toque Máximo

O potencial de toque máximo permissível entre a mão e o pé, para não causar
fibrilação ventricular, é o produzido pela corrente limite de Dalziel. Assim, obtém-se:
0,116 116 + 0,174 ρ s
Vtoque máximo = (1.000 + 1,5 ρ s ) =
t t
28

Potencial de Passo

Potencial de passo é a diferença de potencial existente entre os dois pés. As


tensões de passo ocorrem quando entre os membros de apoio (pés), aparecem diferenças
de potencial. Isto pode acontecer quando os membros se encontrarem sobre linhas
equipotenciais diferentes. Estas linhas equipotenciais se formam na superfície do solo
quando do escoamento da corrente de curto-circuito. É claro que, se naquele breve
espaço de tempo os dois pés estiverem sobre a mesma linha equipotencial ou, se um
único pé estiver sendo usado como apoio, não haverá a tensão de passo.

Figura 13: Tensão de passo


A definição
clássica do potencial
de passo para análise
de segurança é a
diferença de
potencial que aparece
entre dois pontos
situados no chão e
distanciados de 1m
(para pessoas),
devido à passagem
de corrente de curto-
circuito pela terra.
Onde:

R1 , R2 , R3 Îsão as
resistências dos
trechos de terra considerados

A expressão do potencial de passo é: V passo = (Rch + 2 Rc ) × I k

Fazendo Rc = 3ρ s , tem-se V passo = (1.000 + 6 ρ s ) × I k

Potencial de passo máximo

O potencial de passo máximo tolerável é limitado pela máxima corrente


permissível pelo corpo humano que não causa fibrilação. Assim, tem-se que:
0,116 116 + 0,7 ρ s
Vpasso máximo = (1.000 + 6 ρ s ) =
t t

Correção do potencial de passo e de toque máximo admissível


devido à colocação de brita na superfície

Como a área da subestação é a mais perigosa, o solo é revestido por uma camada
de brita. Esta confere maior qualidade no nível de isolamento dos contatos dos pés com
o solo. Esta camada representa uma estratificação adicional com a camada superficial
29

do solo. Portanto, deve-se fazer uma correção no parâmetro que contém ρ s .


Deve-se fazer uma correção C s (hs , K ) no ρ s = ρ brita = 3.000Ω ∗ m (brita
molhada).
O fator de correção C s (hs , K ) é dado por:
⎡ ⎤
⎢ ⎥
1 ⎢ ∞
Kn ⎥ ρa − ρs
C s (hs , K ) = ⎢1 + 2 ∑ ⎥e K =
0,96 ⎢ n =1 ⎛ hs ⎞
2
⎥ ρa + ρs
⎢ 1 + ⎜ 2n ⎟ ⎥
⎣ ⎝ 0,08 ⎠ ⎦
Onde:
hs ÎProfundidade (espessura) da brita [m]
ρ a Î Resistividade aparente da malha, sem considerar a brita em Ω.m
ρ s = ρ brita Î Resistividade da brita em Ω.m
C s = 1 Î Se a resistividade da brita for igual à resistividade do solo.
Assim, as expressões para o toque e passo máximo, com o fator de correção,
ficam:
0,116
Vtoque máximo = (1.000 + 1,5 ρ s × C s (hs , K ))
t
0,116
Vtoque máximo = (1.000 + 6 ρ s × C s (hs , K ))
t
30

3. SISTEMAS DE ATERRAMENTO

INTRODUÇAO

A NBR 5410/90, para classificar os sistemas de aterramento das instalações, utiliza


a seguinte simbologia:

a) Primeira letra: situação da alimentação em relação à terra:

T - um ponto diretamente aterrado;


I - isolação de todas as partes vivas em relação à terra ou aterramento de um
ponto através de uma impedância;

b) Segunda letra: situação das massas em relação à terra:

T - massas diretamente aterradas, independentemente do aterramento eventual de


um ponto de alimentação;
N - massas ligadas diretamente ao ponto de alimentação aterrado (em corrente
alternada, o ponto aterrado normalmente é o ponto neutro);

c) Outras letras (eventuais): disposição do condutor neutro e do condutor de


proteção:

S - funções de neutro e de proteção asseguradas por condutores distintos;


C - funções de neutro e de proteção combinadas em um único condutor (condutor
PEN);

CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE ATERRAMENTO

As instalações, segundo a mesma norma, devem ser executadas de acordo com um


dos seguintes sistemas:

Sistema TN

Os sistemas TN têm um ponto diretamente aterrado, sendo as massas ligadas a este


ponto através de condutores de proteção. De acordo com a aplicação do condutor
neutro e do condutor de proteção, consideram-se três tipos de sistemas TN, a saber: TN-
S, TN-C e TN-C-S. Recomenda-se observar as Figuras 17, 19 e 20 que caracterizam
estes sistemas e que, em seguida, serão estudados separadamente.
É fundamental obedecer às prescrições da NBR 5410, ou seja: todas as massas
devem ser ligadas por condutores de proteção ao ponto de alimentação. O condutor de
proteção deve ser aterrado nas proximidades de cada transformador de potência ou de
cada gerador da instalação. Se existirem outras possibilidades de aterramento eficazes,
recomenda-se ligar o condutor de proteção em tantos pontos quanto for possível. O
aterramento múltiplo do condutor de proteção, em pontos regularmente distribuídos,
pode ser necessário para garantir que, em caso de falta para massas ou para a terra, o
potencial do condutor de proteção e das massas que lhe são ligadas permaneça tão
próximo quanto possível do potencial da terra.
31

A norma recomenda ligar o condutor de proteção à terra no ponto de entrada de


cada edificação. Nas instalações fixas, um só condutor pode ser utilizado ao mesmo
tempo como condutor de proteção e como condutor neutro (condutor PEN).

Tabela 2: Duração máxima da tensão de contato presumida


Tensão de Tempo máximo de atuação do
contato dispositivo de proteção em s
presumida Situação 1 Situação 2
(V)
25 infinito 5,000
50 5,000 0,470
75 0,600 0,300
90 0,450 0,250
110 0,360 0,180
150 0,270 0,100
220 0,170 0,035
280 0,120 0,020
350 0,080
500 0,040

PROTEÇÃO CONTRA CONTATOS INDIRETOS

Quando um sistema elétrico está em operação, é fundamental que as pessoas que o


operam ou o utilizam estejam seguras quanto a eventuais faltas monopolares. A NBR
5410 estabelece que os dispositivos de proteção e as seções dos condutores devem ser
escolhidos de forma que, ocorrendo em qualquer ponto uma falta de impedância
desprezível, entre um condutor de fase e o condutor de proteção ou uma massa, o
seccionamento automático ocorra em um tempo no máximo igual ao especificado. Essa
prescrição é atendida se a seguinte condição for cumprida:

Z s × I at ≤ V fn Equação 1

Z s - impedância do percurso da corrente de defeito;


I at - corrente que assegura o disparo da proteção, num tempo máximo igual ao da
Tabela 2 ;
V fn - tensão nominal entre fase e neutro.

A impedância Z s , pode ser determinada a partir de:

Z s = Rt + Rc + R p + j (X t + X c + X p )(Ω ) Equação 2

Rt - resistência do secundário do transformador da subestação, em Ω;


Rc - resistência dos condutores fase que se estendem desde o secundário do
transformador até o ponto de falta, em Ω;
32

R p - resistência do condutor de proteção, em Ω;


X t - reatância do secundário do transformador da subestação, em Ω;
X c - reatância dos condutores fase que se estendem desde o secundário do
transformador até o ponto de falta, em Ω;
X p - reatância do condutor de proteção, em Ω.
Figura 14: Percurso da corrente de defeito num sistema TN

Essas variáveis podem ser melhor explicitadas na Figura 14.

A tensão presumida de contato a que pode ficar submetida uma pessoa que está
tocando uma carcaça energizada acidentalmente pode ser dada pela .
V fn × R p
Vc = Equação 3
Zs

Observando a Figura 14, a corrente de choque pode ser determinada pela Equação
(4).
Vc
I ch = Equação 4
Rch + Rco
Rch - resistência do corpo humano, normalmente igual a 1.000Ω;
Rco - resistência de contato com o solo, em Ω.

Para averiguar se os elementos, disjuntor ou fusível, são capazes de assegurar a


proteção de um indivíduo que toque uma massa energizada, deve-se proceder da
seguinte forma, considerando conhecidos os valores característicos do circuito elétrico,
ou seja:
• Conhecido o valor da tensão de contato presumida Vc , considerada, para fins
práticos, igual à tensão de defeito, encontrar na curva de segurança dada no gráfico
3 o valor máximo do tempo de duração de disparo da proteção T(s).
33

• Com o valor de T(s) determinado, encontrar na curva de disparo do disjuntor ou


fusível, ou qualquer elemento de proteção, como exemplificado na Gráfico 4 (curva
do disjuntor 3VS84 - Siemens), o valor da sua corrente de atuação, I at .
• A partir do valor de I at , aplicar a Equação correspondente. O produto Z s × I at deve
ser igual ou inferior à tensão entre fase e neutro do sistema.
Gráfico 3: Duração da tensão de contato presumida

Outra condição prevista pela NBR 5410 refere-se a uma falta direta entre um
condutor de fase e a terra, tal como ocorre nas redes aéreas, ou com os condutores
isolados que eventualmente tenham a sua isolação danificado no interior de uma
canaleta condutora, ou instalados diretamente enterrados. Para que o condutor de
proteção e as massas que lhe são ligadas não atinjam um potencial em relação à terra
superior à tensão de contato limite, deve-se ter a seguinte relação:

Rte Vl
≤ Equação 5
Rco V fn − Vl

Rte = Rm + Rat Equação 6

Para facilitar o entendimento desta expressão, observar a Figura 15.

Rm - resistência da malha de terra;


34

Rat - resistor de aterramento do neutro do transformador, utilizado em situações


especiais de elevadas correntes de defeito monopolar;
Rco - resistência mínima de contato com a terra dos elementos condutores não
ligados ao condutor de proteção, através dos quais se possa produzir uma
falta entre fase e terra;
V - tensão de contato limite dada na Tabela 2.
V f - tensão nominal entre fase e neutro.

Gráfico 4: Curva de atuação do disjuntor 3VS84 - Siemens

Essa prescrição não é aplicável quando a proteção é assegurada por dispositivo à


corrente diferencial-residual.
35

Entende-se que um indivíduo esteja submetido à situação 1, prevista pela NBR


5410, se este se encontrar em local não condutor e com o corpo úmido. Ou ainda, se o
indivíduo estiver com o corpo úmido em contato com elementos condutores, ou se
postando sobre superfícies condutores. Entende-se por situação 2, a condição de o
indivíduo estar com o corpo úmido em contato com paredes metálicas e cuja
possibilidade de interromper o contato é limitada.
Figura 15: Percurso da corrente monopolar de curto-circuito

SISTEMA TN-S

É aquele no qual o condutor neutro e o condutor de proteção são distintos. É


comumente conhecido como sistema a cinco condutores. Neste caso, o condutor de
proteção conectado à malha de terra na origem do sistema, que é a subestação, interliga
todas as massas da instalação que são compostas principalmente pela carcaça dos
motores, dos transformadores, por quadros metálicos, suporte de isoladores etc. O
condutor de proteção é responsável pela condução das correntes de defeito entre fase e
massa e está representado esquematicamente pela Figura 16. As massas solidárias ao
condutor de proteção PE (protection earth) podem sofrer sobretensões, devido à
elevação de potencial no ponto de ligação com o neutro do sistema.

Figura 16 : Sistema TN-S


36

Todas as massas de uma instalação devem ser ligadas ao condutor de proteção, no


entanto, a norma dispensa o uso do condutor de proteção nos circuitos de iluminação e
tomadas em unidades residenciais.
A Figura 17 mostra o diagrama trifilar de um sistema TN-S. Observar que letras A-
B-C correspondem às barras das fases A, B e C. As barras de neutro (N) e de terra (PE -
condutor de proteção) estão separadas. O condutor neutro está isolado, portanto a queda
de tensão do neutro devido à corrente de desequilíbrio do sistema não será transferido
para a carcaça dos painéis e do motor. A barra de terra (PE) está ligada à carcaça ou,
simplesmente, às massas (carcaça dos quadros de comando, carcaça do motor etc.).

Figura 16: Sistema TN-S (sistema a 5 fios)

Figura 17: Sistema TN-C


37

SISTEMA TN-C

É aquele no qual as funções de neutro e de proteção são combinadas em um único


condutor ao longo de todo o sistema. É comumente conhecido como sistema a quatro
condutores. Neste caso, o condutor neutro, conectado à malha de terra na origem do
sistema, que é a subestação, interliga todas as massas da instalação. O neutro, além de
conduzir a corrente de desequilíbrio do sistema, é responsável também pela condução
da corrente de defeito.
Figura 18: Massa sob potencial de fase

O sistema TN-C é um dos mais utilizados em instalações de pequeno e médio


portes, devido, principalmente, à redução de custo com a supressão do quinto condutor.
A Figura 19 mostra esquematicamente o sistema TN-C.
É importante observar que o rompimento do condutor neutro (PEN) no sistema TN-
C coloca as massas dos equipamentos no potencial de fase, conforme se pode observar
na Figura 20.
Figura 19: Sistema TN-C

Devido aos riscos inerentes ao sistema TN-C, somente é permitido o uso deste
sistema nas instalações cujos condutores tenham seções iguais ou superiores a 10 mm²
38

em cobre. Este fato se deve à robustez mecânica que naturalmente apresentam os


condutores de maior seção.
A Figura 21 mostra um esquema trifilar do sistema TN-C. Observar que a barra do
condutor neutro está conectada à carcaça dos painéis de comando. Se no neutro circular
uma corrente de desequilíbrio de carga, será potencializado ( V = ZI ), ocasionando
tensões de toque nas pessoas que entrarem em contato com as estruturas metálicas a ele
conectadas.

Figura 20: Sistema TN-C (sistema a 4 fios)

SISTEMA TN-C-S

É aquele no qual as funções de neutro e de proteção são combinadas num único


condutor em uma parte do sistema, conforme ilustrado na Figura 22. É bom esclarecer
que os potenciais de neutro serão transferidos para a carcaça dos equipamentos.

Figura 21: Sistema TN-C-S


39

SISTEMA TT

É aquele que tem o ponto de alimentação da instalação diretamente aterrado, sendo


as massas ligadas a eletrodos de aterramento independentes do eletrodo da alimentação.
A Figura 23 mostra o esquema TT.
No sistema TT, segundo a NBR 5410, todas as massas protegidas por um mesmo
dispositivo de proteção devem ser interligadas e ligadas por um condutor de proteção a
um mesmo eletrodo de aterramento.
No sistema TT, contrariamente aos sistemas TN, as massas não estão sujeitas às
sobretensões devido às quedas de tensão no neutro, tanto para a corrente normal, quanto
para a corrente de falta entre fase e neutro. A Figura 23 mostra o diagrama trifilar de
um sistema TT.
Figura 22: Sistema TT
40

PROTEÇÃO CONTRA CONTATOS INDIRETOS

Para assegurar que, na ocorrência de um defeito monopolar de impedância


desprezível entre fase e massa, o dispositivo de proteção seccione o circuito de
alimentação, a tensão de contato presumida não deve ser superior à tensão de contato
limite. Para isto, deve-se estabelecer a seguinte condição:
Ram × I f ≤ Vl Equação 7
Ram - resistência de aterramento das massas, em Ω;
Vl - tensão de contato limite em V
I at - Corrente que assegura a atuação do dispositivo de proteção em A
Figura 23: Sistema TT (sistema a 4Fios)

Figura 24: Percurso da corrente num sistema TT

A tensão de contato a que pode ficar submetida uma pessoa que está tocando uma
carcaça energizada acidentalmente num sistema TT pode ser dada pela equação
V fn R
= 1 + te .
Vc Ram
Já a figura 24 esclarece a situação de contato do indivíduo com o sistema.
41

O esquema da figura 24 pode ser representado pela figura 25.


Figura 25: Esquema elétrico simplificado referente à figura 23

I f - corrente de falta no caso de uma primeira falta direta entre um condutor de


fase e uma massa. O valor de I f leva em conta as correntes de fuga naturais e a
impedância global de aterramento da instalação;
42

SISTEMA IT

É aquele em que o ponto de alimentação não está diretamente aterrado. No


esquema IT, as instalações são isoladas da terra ou aterradas por uma impedância de
valor suficientemente elevado, sendo esta ligação feita ao ponto neutro da fonte, se ela
estiver ligada em estrela, ou a um ponto neutro artificial. Para se obter um ponto neutro
artificial, quando o sistema for ligado na configuração triângulo, é necessário utilizar
um transformador de aterramento. A Figura 27 mostra o esquema básico de uma
configuração IT.

Figura 26: Sistema IT

Figura 27: Retorno da corrente de defeito pelas capacitâncias parasitas


43

Figura 28: Retorno da corrente de defeito: sistema IT de alta impedância

A corrente de defeito, na configuração estrela, apresentada na Figura 28, e


considerando uma única falta à terra, é de pequena intensidade, não sendo obrigatório o
seccionamento da alimentação. No caso da ocorrência de uma segunda falta à massa ou
à terra, simultaneamente à primeira, as correntes de defeito tomam-se extremamente
elevadas, pois isto implica um curto-circuito entre duas fases. O sistema IT é
caracterizado quando a corrente resultante de uma única falta entre fase e massa não
possui intensidade suficiente para provocar o surgimento de tensões perigosas.
Nos esquemas IT sem aterramento do ponto de alimentação, na ocorrência de uma
primeira falta, a corrente monopolar se fecha através das capacitâncias parasitas do
sistema, conforme pode ser visualizado na Figura 28. No caso em que o neutro do
transformador é aterrado por uma impedância extremamente elevada, a circulação da
corrente de falta pode ser mostrada na Figura 29.

PROTEÇÃO CONTRA CONTATOS INDIRETOS

Para assegurar que, na ocorrência de um defeito monopolar de impedância


desprezível entre fase e massa, a sobretensão de contato presumida seja igual ou inferior
à tensão de contato limite, deve-se estabelecer a seguinte condição:
Ram × I f ≤ Vl
Ram - resistência de aterramento das massas, em Ω;
Vl - tensão de contato limite em V
I f - corrente de falta no caso de uma primeira falta direta entre um condutor de
fase e uma massa. O valor de I f leva em conta as correntes de fuga naturais e a
impedância global de aterramento da instalação;

O sistema IT toma-se perigoso quanto às tensões de toque das massas


energizadas, quando da ocorrência da segunda falta.

APLICAÇÃO DO CONDUTOR DE PROTEÇÃO


44

Para melhor definir a utilização do condutor de proteção, do condutor de


aterramento e da malha de terra deve-se observar a figura 29. através desta figura pode-
se observar o caminhamento dos condutores de proteção e sua aplicação no aterramento
das massas. Também é fácil verificar a função do contutor de aterramento que interliga
o barramento (PE) do QGF à malha de terra.
Figura 29: Utilização do condutor de proteção

FERRAGEM ESTRUTURAL COMO CONDUTOR DE


ATERRAMENTO
Há uma forte discussão entre técnicos sobre a utilização das ferragens das
edificações como condutor de aterramento. Algumas normas são flexíveis quanto ao uso
das ferragens para tal finalidade, enquanto outras admitem seu uso com restrição, e, por
último, outras normas vetam totalmente essa aplicação. Além disso, abre-se outra
discussão entre construtores de instalações elétricas quanto à garantia da continuidade
do circuito ao longo das estruturas. Porém, considera-se consensual que durante a
construção seja utilizada uma barra de ferro dedicada ao aterramento, descendo ao
longo das colunas da edificação e conectadas em cada laje a outras barras horizontais,
formando uma malha de terra em cada andar. Isso pode se visto na figura 30. A conexão
entre as seções das barras deve ser feita com conectores aparafusados ou através de
solda.
A NBR 5410 estabelece que os eletrodos de terra embutidos nas fundações dos
prédios devem, preferencialmente, ser constituidos por um anel no fundo da escavação,
e executado durante a construção das fundações. As armações de concreto devem ser
interligadas ao anel, na medida do possível, assegurando equipotencialidade do
conjunto.
Em cada andar deve existir uma barra de equalização dos potenciais,
normalmente instalada no interior do quadro de distribuição (QD). No caso de concreto
protendido, não é permitido o uso da ferragem como condutor de aterramento.

PRESCRIÇÕES GERAIS DO ATERRAMENTO

A norma NBR 5410 estabelece várias condições quanto ao aterramento, ou seja:


45

a) As massas simultaneamente acessíveis devem ser ligada à mesma rede do


aterramento, individualmente, por grupo ou coletivamente.
b) Em cada edificação, deve existir uma ligação equipotencial principal,
reunindo os seguintes elementos:

• Condutor de proteção principal;


• Condutor de aterramento principal ou terminal de aterramento principal
• Canalizações metálicas de água, gás e outras utilizades
• Colunas ascendentes de sistemas de aquecimento central ou de
condicionamento de ar
• Elementos metálicos da construção e outras estruturas metálicas
• Cabos de telecomunicação, com concordância da empresa operadora
• Eletrodo de aterramento do sistema de proteção contra descargas
atmosféricas da edificação (pára-raios)
• Eletrodo de aterramento da antena externa de televisão

c) Quando os elementos anteriormente mencionados originarem-se do exterior


da edificação, a sua conexão equipontencial principal deve ser efetuada o mais próximo
possível do ponto em que penetrem na edificação.
d) Todo condutor isolado, cabo unipolar, ou veia de cabo multipolar utilizado
como condutor neutro deve ser identificado conforme essa função. No caso de
identificação por cor, deve ser usado a cor azul-claro.
e) Todo condutor isolado, ou cabo unipolar, ou veia de cabo multipolar utilizado
como condutor de proteção (PE) deve ser identificado de acordo com sua função. No
caso de identificação por cor, deve ser usada a dupla coloração verde-amarelo, ou na
falta desta, a cor verde (cores exclusivas da função de proteção)
f) Todo condutor isolado, cabo multipolar utilizado como condutor PEN, deve
ser identificado de acordo com essa função. Em caso de identificação por cor, deve ser
usada a cor azul-claro, com anilha verde-amarelo nos pontos visíveis.
Figura 30: Aterramento na barra de ferro de aterramento
47

4. APLICAÇÕES PRÁTICAS
EXEMPLO DE APLICAÇÃO 1

Determinar a tensão de contato e a corrente de choque a que pode ficar submetida


uma pessoa que, acidentalmente, toque o CCM (Centro de Controle de Motores),
conforme mostrado na Figura 32. Sabe-se que nesse instante está ocorrendo um defeito
monopolar. A potência nominal do transformador da subestação é de 500 kVA-
13.800/380 V e a perda no cobre é de 6.000 W. Os valores das resistências e reatâncias
dos condutores podem ser obtidos na Tabela 3.
Como a resistência do corpo humano Rch , a resistência de contato Rco e a
resistência da malha de terra Rm são muitas vezes superiores às impedâncias dos
condutores fase e de proteção, pode-se considerar o circuito elétrico equivalente àquele
definido na Figura 31.

Figura 31: Diagrama elétrico correspondente à figura 32

Figura 32: Percurso da corrente de defeito

* Perda no cobre por fase do transformador


48

6.000
Pcu = = 2.000W
3
• Corrente nominal do transformador
500
Il = = 20,91A
3 × 13,8
• Resistência equivalente do transformador referida ao seu primário, em Ω
P 2000
Req = cu2 = = 4,57Ω
Il 20,912
• Tensão de curto-circuito
13.800
Vcc = 0,045 × = 358,53V
3
• Impedância equivalente do transformador
Z p = 4,5% = 0,045 pu (impedância nominal do transformador - valor de placa)
Vcc 358,53
Z eq = = = 17,14Ω
Il 20,91
• Reatância equivalente do transformador

X eq = Z eq2 − Req2 = 17,14 2 − 4,57 2 = 16,51Ω

• Resistência e reatância vistas do secundário do transformador


2
⎛ 380 ⎞
Rt = ⎜ ⎟ × 4,57 = 0,00346Ω
⎝ 13.800 ⎠
2
⎛ 380 ⎞
Xt = ⎜ ⎟ × 16,51 = 0,01251Ω
⎝ 13.800 ⎠

• Impedância do secundário do transformador

Z st = Rst + jX st = 0,00346 + j 0,01251Ω

• Impedância dos condutores fases (condutores de 120 e 50mm²)

0,1868 × 20 0,4450 × 40
Rc = Rc1 + Rc 2 = + = 0,02153Ω
1.000 1.000

0,1076 × 20 0,1127 × 40
X c = X c1 + X c 2 = + = 0,00666Ω
1.000 1.000
Z c = 0,2153 + j 0,00666Ω

• Impedância dos condutores de proteção (condutores de 70 e 25mm²)


0,3184 × 20 0,8891 × 40
R p = R p1 + R p 2 = + = 0,04193Ω
1.000 1.000
49

0,1096 × 20 0,1164 × 40
X p = X p1 + X p 2 = + = 0,00684Ω
1.000 1.000
Z p = 0,04193 + j 0,00684Ω

• Impedância do percurso da corrente de defeito

Z s = Z st + Z c + Z p = 0,06692 + j 0,02601Ω ou Z s = 0,07179 89,70º


• Tensão de contato

380 × 0,04193
V fn × R p 3
Vc = = = 128V
Zs 0,07179

Para determinar se a Equação 1 está atendida, deve-se obter no gráfico 3 o tempo


de duração máxima da tensão de contato presumida Vc = 128V , ou seja: T = 0,37 s
(situação 1). Com o valor do tempo T = 0,37 s, obtém-se o valor da corrente de atuação
da proteção igual a 3.200 A, (valor inferior da faixa de ajuste) dada pelo disjuntor
3VS84-800 A, conforme Gráfico 4, que corresponde ao valor de ajuste admitido do relé
eletromagnético, ou seja:
* Múltiplo da corrente ajustada: N = 4.
* Corrente de ajuste da unidade térmica do disjuntor: I a = 800 A (Valor
admitido).
* Corrente de atuação do disjuntor.

I at = N × I a = 4 × 800 = 3.200A
Z s × I at ≤ V fn ∴ 0,07179 × 3.200 = 229 > 220
Nesse caso, o disjuntor não está protegendo o indivíduo contra contatos indiretos.
Há necessidade de reduzir o ajuste da unidade temporizada.

Tabela 3: Resistência e reatância dos condutores de PVC/70ºC(mΩ/m)


Seção Sequência positiva Sequência negativa
mm² Resistência Reatância Resistência Reatância
10 2,2221 0,1207 4,0222 2,7639
16 1,3999 0,1173 3,1890 2,7173
25 0,8891 0,1164 2,6891 2,6692
35 0,6353 0,1128 2,4355 2,6382
50 0,4450 0,1127 2,2450 2,5991
70 0,3184 0,1096 2,1184 2,5681
95 0,2352 0,1090 2,0352 2,5325
120 0,1868 0,1076 1,9868 2,5104
150 0,1502 0,1074 1,9502 2,4843
185 0,1226 0,1073 1,9226 2,4594
50

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 2

Seja uma camada de material de superfície de hs = 0,1 m (4in) de espessura, e


resistividade nominal de 2000Ωm; resistividade do solo adjacente 222Ω, b =0,08 m, e
d pé = 1 m. Destes dados, segue que K = −0,80 , X 1 = 1,25 , e X 1 = 0,1 . Calcular R2 FS e
R2 FP .
Solução:
Usando a Gráfico 1, encontramos F ( X 1 ) = 0,57 e F ( X 2 ) = 0,11 . Substituindo nas
equações respectivas temos:
ρ 2000
Rpé = 1 F ( X 1 ) = × 0,57 = 3562Ω
4b 4 × 0,08
ρ1 2000
RMpé = F (X 2 ) = × 0,11 = 35Ω
2πd pé 2 × π ×1
e finalmente
R2 FS = 2 × ( Rpé − RMpé ) = 2 × (3562 − 35) = 7054Ω
1 3562 + 35
R2 FP = × ( Rpé + RMpé ) = = 1798,5Ω
2 2

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 3

Para os mesmos dados de resistividade usados no exemplo anterior, e assumindo


novamente também hs = 0,1 , e k = −0,8 , o fator C s , pode ser achado do gráfico 2.
Calcular R2 FS e R2 FP .
Solução:
Entrando-se no Gráfico 2 obtemos o fator de redução C s = 0,59 e utilizando-se as
equações seguintes temos:
R2 FS = 6,0C s (hs , k )ρ s = 6,0 × 0,60 × 2000 = 7200Ω
R2 FP = 1,5C s (hs , k )ρ s = 1,5 × 0,60 × 2000 = 1800Ω

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 4

Qual a corrente de choque segura que um individuo de massa 70kg pode suportar
durante um tempo de 2,5s sem a ocorrência da perigosa fibrilação ventricular?

Solução:
0,157
I k70 = = 99,3mA
2,5

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 4

Qual a tensão de toque e passo máxima suportavel por um indivíduo de massa 50kg
durante um tempo de 3s em uma superficie de resistividade de 3.000Ωm?
Solução:
51

116 + 0,174 ρ s 116 + 0,174 × 3000 638


Vtoque máximo = = = = 368,35V
t 3 1,732
116 + 0,7 ρ s 116 + 0,7 × 3000 2216
Vpasso máximo = = = = 1279,4V
t 3 1,732

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 5

Quais os parâmetros da corrente elétrica que devem ser analizados para se estudar os
efeitos da corrente elétrica no corpo humano?
Solução:
• Intensidade
• Duração
• Percurso
• Frequência

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 6

De acordo com o conhecimento atual baseado em experiências, é mais provável haver


fibrilação ventricular com uma corrente de 300mA ou 4A à frequência industrial?
Solução:

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 7

Qual o comportamento da resistência do corpo humano com a frequência?


Solução:

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 8

O ser humano poderá suportar uma corrente de 200mA sem haver o risco de fibrilação?
Porque?
Solução:
52

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 9

De acordo com o conhecimento atual, um corpo com massa de 50kg suporta uma
corrente maior ou menor que um corpo de 70kg?
Solução:

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 10

Qual o valor padronizado para a resistência do corpo humano?


Solução:

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 11

O que é a fibrilação ventricular?


Solução:
53

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 12

Descreva os tipos de esquemas de aterramento?


Solução:

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 13

É permitido o uso da ferragem estrutural como condutor de aterramento? Porque?


Solução:
54

5. BIBLIOGRAFIA
ABNT - NBR - 5410 .Instalações elétricas em baixa tensão. 1997

FILHO, João Mamede .Proteção de equipamentos eletrônicos sensíveis. Érica, 8ª


edição, 2000

IEEE - std 80 - Guide for safety in Ac substation grouding, 1986

KINDERMAN, Geraldo e CAMPAGNOLO, Jorge Mário. Aterramento elétrico. 3ª


edição, Sagra - DC-Luzzatto, Porto Alegre, 1995

QUEIROZ, Antônio Luiz de .Avaliação e controle das correntes perigosas à vida


humana. Mundo Elétrico, julho/1976,,pp. 39-42.

TAVARES, J. de Oliveira. Apostila do curso de proteção e aterramento de sistemas


elétricos de potência. Natal/RN, PPGEE, UFRN,1997

Você também pode gostar