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CULTURAIS E
ANTROPOLÓGICOS
Introdução
Neste capítulo, você vai ver como se deu o surgimento dos estudos
culturais e qual é o seu conceito. Assim, vai estudar a construção desse
conceito e também as ideias principais que podem ser usadas como
ferramentas de estudo nessa área. Para isso, você vai se debruçar sobre
três ideias. A primeira delas é a noção de cultura como um modo de en-
xergar outras sociedades. A segunda delas é o conceito de etnocentrismo,
que se refere ao modo como as pessoas percebem o outro. A última é a
noção de diversidade cultural, que tem a ver com a riqueza das formas
de existência no mundo.
Ao fim do capítulo, você vai ver a importância dos estudos culturais e
entender como eles podem ser aplicados a questões contemporâneas.
parecerão familiares e outros, muitos exóticos. Por isso, você deve ter cuidado
para respeitar aquilo que não conhece. Assim como você tem o direito de ser
quem é, as pessoas de outras culturas também o tem. Nesse sentido, é preciso
pensar em termos de direitos humanos e da pluralidade de formas de vida.
A existência de um indivíduo se dá em conjunto com outros membros da
sociedade em que ele vive. Tudo o que é produzido por eles expressa o que
pensam, o que fazem e o que deixam como legado. Portanto, a produção cultural
é um reflexo das manifestações sociais que as diferentes culturas constroem.
Nesse sentido, essas manifestações sociais se explicitam por meio das práticas
sociais. Como sintetiza Hall (1997, p. 33): “[...] toda prática social tem condições
culturais ou discursivas de existência. As práticas sociais, na medida em que
dependem do significado para funcionarem e produzirem efeitos, se situam
‘dentro do discurso’, são ‘discursivas’ [...]”. Assim, acessando essas práticas
sociais juntamente aos discursos que elas constroem sobre o mundo, você
pode apreender o que é relevante para outras sociedades e comparar isso com
o que é relevante para a sua realidade.
Mas como surge a preocupação de estudar outras culturas? E como é
possível estudar essas culturas de modo relevante? Está correto dizer que
os estudos culturais se constituíram como disciplina? E como suas ideias se
espalharam por outros domínios das ciências humanas e sociais? Como você
pode imaginar, não há uma única resposta para essas questões. Contudo,
existem algumas pistas para responder a essas e outras perguntas relevantes:
Hall (1980, p. 7), quando diz que “Os estudos culturais não configuram uma
‘disciplina’ mas uma área onde diferentes disciplinas interatuam, visando ao
estudo de aspectos culturais da sociedade [...]”. Por isso, você está convidado a
estudar mais a fundo os estudos culturais a fim de compreender a importância
de conhecer outras culturas diferentes da sua.
Hennigen e Guareschi (2006) evidenciam que a proposição de Wittgenstein
para os estudos de linguagem foi determinante para se pensar a respeito dos
significados da convivência social. O que era considerado como natural nos
modos de vida começou a ser percebido como construído por uma discursi-
vidade. Assim, compreender os meandros discursivos permite acompanhar
as diversidades de expressões e manifestações humanas no mundo. Nesse
sentido, os discursos apresentariam o contexto cultural da sociedade em
questão e também a sua complexidade:
[...] uma cultura em comum seria aquela continuamente redefinida pela prá-
tica de todos os seus membros, e não uma na qual o que tem valor cultural é
produzido por poucos e vivido passivamente pela maioria. Trata-se de uma
visão de cultura inseparável de uma visão de mudança social radical e que
exige uma ética de responsabilidade comum, participação democrática de
todos em todos os níveis da vida social e acesso igualitário às formas e meios
de criação cultural.
Por isso, ao conviver com membros de outra cultura, você aprende quais
práticas sociais são relevantes em seu meio social, quais motivações são perti-
nentes para aquelas pessoas, como elas resolvem os seus problemas cotidianos,
como se comunicam e se expressam diante do mundo, entre outros aspectos.
Estudos culturais 5
https://goo.gl/vCTsAe
6 Estudos culturais
[...] o conjunto cultural tem uma tendência para a coerência e uma certa
autonomia simbólica que lhe confere seu caráter original singular; e [...] não
se pode analisar um traço cultural independentemente do sistema cultural ao
qual ele pertence e que lhe dá sentido. Isto quer dizer estudar todas as culturas,
quaisquer que sejam a priori, sem compará-las e/ou "medi-las” prematuramente
em relação às outras culturas (CUCHE, 2002, p. 241).
Por último, você deve considerar como uma das principais ideias dos es-
tudos culturais o conceito de diversidade cultural. Esse conceito deveria ser
difundido nas instituições de educação para que desde a escola os membros da
sociedade refletissem sobre outras culturas, exercitando o respeito às diferenças
culturais. Essa ideia é reforçada por Gadotti (1992, p. 23):
https://goo.gl/cCV4Tq
Para aprofundar a discussão sobre cultura, você pode ler A invenção da cultura, de
Roy Wagner (2012). Esse autor mostra como o próprio conceito de cultura foi criado
e pode ser pensado. Essa é uma discussão atual e que contempla a nova forma de
refletir sobre as diferentes sociedades.
Mas você sabe qual é a importância de estudar essas questões no âmbito dos
estudos culturais? A seguir, você pode ver alguns apontamentos de Meneses
(1999). A partir deles, você vai ver como aplicar os conceitos que estudou até
aqui e como refletir sobre questões relevantes para o relacionamento com
o outro no mundo contemporâneo. Considere, então, os elementos a seguir.
[...] qualquer coisa que possa ser lida como um texto cultural e que contenha
em si mesma um significado simbólico sócio-histórico capaz de acionar for-
mações discursivas pode se converter em um legítimo objeto de estudo: desde
a arte e a literatura, as leis e os manuais de conduta, os esportes, a música e
a televisão, até as atuações sociais e as estruturas do sentir.
Para refletir ainda mais sobre a diversidade das formas de vida e sobre a subjetividade
do outro, assista ao filme Moin, un noir (1958), do antropólogo Jean Rouch. O material
pode ser encontrado online com legendas em português. A proposta do filme é
mostrar o cotidiano de pessoas que migraram para a Costa do Marfim nos anos 1950
e que passaram por um choque cultural ao deixar a África tradicional, que conheciam,
e adentrar o mundo moderno, que acabavam de acessar.
RÍOS, A. Los estudios culturales y el estúdio de la cultura em América Latina. In: MATO,
D. (Coord.). Estudios y otras prácticas intelectuales latinoamericanas en cultura y poder.
Caracas: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2002. p. 247-254.
VEIGA-NETO, A. Michel Foucault e os estudos culturais. In: COSTA, M. V. (Org.). Estudos
culturais em educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema. Porto
Alegre, UFRGS, 2000.
WILLIAMS, R. Cultura e sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.
Leituras recomendadas
ADORO, T.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das
massas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
EAGLETON, T. A ideia de cultura. São Paulo: UNESP, 2011.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA.
Declaração universal sobre a diversidade cultural. 2002. Disponível em: <http://unesdoc.
unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em: 14 out. 2018.
THOMPSON, J. Ideologia e cultura moderna. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
WAGNER, R. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
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