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administração pública vimentismo, identificando-se pontos de contato entre a

evolução do ensino e as tentativas de reforma administra-


tiva verificadas ao longo do tempo.

1. Introdução;
2. Administração prlblica como campo de 2. ,ADMINISTRAÇÃO PúBLICA COMO CAMPO DE
conhecimento: disciplina, paradigmas da racionalidade; CONHECIMENTO: DISCIPLINA, PARADIGMAS
3. A formação de administradores públicos, os DA RACIONALIDADE
ideais do desenvolvimento e as dimensões da
racionalidade; Parece truísmo discutir se admínistração pública é cam-
4. À guisa de conclusão. po de conhecimento independente, embora no Brasil seja
vivamente questionada a sua identidade com a adminis-
tração de empresas.
Se as origens fatuais da administração pública per-

Administração púb6ca como dem-se no tempo, o ensaio de Woodrow Wilson publica-


do nos EUA em 1887 é considerado um marco na histó-

área de conhecimento e ensino: ria do ensino desta área. Note-se, porém, que já em,l862
José Soares de Souza, Visconde de Uruguai, publicara o

a trajetória brasileira livro Ensaio sobre o direito administrativo brasileiro,


onde já destacava as condições de centralização e respon-
sabilidade da empresa pública, dando ênfase ao problema
da competência.
Como área de conhecimento e ação, a administração
pública 'tem .evoluído cumulativa e, até certo ponto, de-
Tânia Fischer sordenadamente, ao longo de sua história.
Professora do Curso de Mestrado do Núcleo de Até 1930, como lembra Simpson (1982) a definição
Pós-Graduação em Administração da UFBA dos contornos da administração pública não seria um
problema.
O administrador público era considerado um mero
executor de políticas, dentro de princípios de efícíência,
considerados não apenas o fim do sistema, mas também
a medida de efícãcía do mesmo.

Nestas circunstâncias, a administração pública teve


um enfoque teórico mecanicista, estabelecendo-se rela-
ções estreitas entre organização pública e privada.
A partir dos anos 30 e da I Guerra Mundial, o cres-
cimento do aparato estatal influiu na mudança do con-
ceito de administrador,já então percebido como um for-
1. INTRODUÇÃO mulador de políticas püblícas,
Novos campos teóricos associaram-se à administra-
Um retrospecto do ensino de administraçlo pública em çl'o püblíca como elaboração de políticas, a teoria de
nosso país é uma tarefa árdua, considerando os muitos mudança, a Wlise de custo-benefício.
anos de história, a riqueza documental, e, príncípalmen- Na década de 60, o conceito emergente de "a nova
te, a imbrícação da administraçfo pt1blica como campo administraçlo póblica" coloca em questão a responsabi-
de conhecimento e matéria de ensino na evolução do lidade social das organizações pübhcas no sentido de
Estado desde o Império e, mais proximamente, durante provocar mudanças na sociedade e promover um nível
e após a era de Vargas. mais alto de qualidade de vida e eqüidade social.
A intenção que se tem aqui, reconhecidas estas difi. O conceito de administração pública evoluiu, assim,
culdades e na impossibilidade de se apresentar de forma de uma concepção de administração local para uma con-
mais objetiva o que se pretende, é fazer uma viagem pela cepção de negóciospllblicos, até o estágio de integraçfo/
história deste ensino em nosaopais, onde se pretende in- diferenciação com a área de políticas públicas nas déca-
dicar que configurações elaCoi assUmindo ao 10Jl8(). do das de 60/70, como Iegistra Waldo (1980).
tempo como disciplina ou campo de' conhecimento e Neste período, generalizou-sea convicção nos EUA
matéria de ensino. de que a chave do desenvolvimen to econômico não era
o aperfeiçoamento da admínístração pública, mas a ge-
Assim, serão feitos: rêncía econômica, o desenvolvimento da infra-estrutura,
o crescimento econômico, a promoção de investimentos
a) abordagem da administração pública como área de privados internacionais, a redefíníção de políticas comer-
conhecimento e disciplina, explorando-se os conceitos ciais e outras medidas orientadas para problemas econô-
de paradigma e racionalidade aí envolvidos; micos. Aí talvez tenha sido reforçada a ídentífícação
entre administraçlo pnblíca e administração de empre-
b) breve retrospecto da história do ensino de..administra. sas, como diz Dalland (1969), teimando-se em não re-
ção pública no Brasil, dentro dos princípios do desenvol- c~las como disciplinas independentes.

Rev. Adm. Empr. Rio de. laileiro; 24 {<H: 278-288 out/dez. 1984
uma área de conteúdo, o que é especialmente dificul-
Contudo, estas formulações coexistem com outras,
tado pelas diferentes contribuições que recebe a admínís-
em que se conciliam as açOes admínístratívas com o
traçlo pt1blica de outras disciplinas. A este propósito,
campo das pelíticas públicas, as teorias comportamentais
Guerreiro Ramos manifestou-se em 1972, destacando a'
e a teoria de sistemas. 'Campos disciplinares mais defini-
confusão de identidade da administração, por se utilizar
dos, como psicologia, sociologia e antropologia, entre
de conceitos "emprestados" de outros campos indevida-
outros, emprestam à administraçlo pública as bases teó-
mente. O autor alerta para o perigo de se transformar a
ricas e os instrumentos.
administração em uma "mera confusão de forças teó-
Em 1970, Guerreiro Ramos questiona "a nova admi-
nistraçlo püblíca", identificando um hiato entre "o que ricas" .
O ponto de equilíbrio entre esta situação e a criação
sabemos e o que precisamos saber para cumprir os deve-
de "bretes disciplinares" é aquele em que a disciplina po-
res específicos de nossa profisslo" , e reclama um conjun-
de ser caracterizada como tal porque apresenta um do-
to de pressupostos básicos comuns à disciplina que se-
mínio próprio, isto é, uma configuração de conceitos,
riam válidos como corpo de conhecimentos.
princípios, generalizações e "rotas" de investigação perti-
Contra este ,desejo, o mesmo autor destaca a falta de
coesão .de teorias administrativas naquele momento. nentes.
Se estas configurações são sujeitas à instabilidade
Após períodos de maior especificidade, representados
provocada pelo avanço dos diferentes ramos do conheci-
pelas mais significativas escolas, as teorias administrativas
mento, devem apresentar um mínimo de consistência e
. sofreram abalos consideráveis, fruto de um aproveita-
estabilidade para que não ocorra o enfraquecimento ou
mento periférico de conceitos de outros campos do co-
até a pulverização da disciplina:
nhecimento e de uma investigação e maturação científica
As configurações que a disciplina vai assumindo ao
insuficientes. longo do tempo podem ser confrontadas com o conceito
Deve-se considerar também que a ímbrícação da
administração püblíca no contexto histórico mais amplo de paradigma.
Conforme Kuhn (1975), "a investigação cuidadosa
justificaria a crise da disciplina, nos dias de hoje. Crise
de uma determinada especialidade, num determinado
decorrente da obediência a modelos disciplinares supera-
momento, revela um conjunto de ilustrações recorrentes
dos, de contextos históricos ultrapassados.
e quase padronizadas, de diferentes teorias nas suas apli-
A instabilidade da área induz uma questão pertinen-
cações eonceítuaís.dnstrumentaís e na observação. Esses
te ao seu ensino: terá a administração/pt1blica a consis-
510 os paradigmas da comunidade, revelados nos seus
tência e estabilidade que caracterizam as disciplinas?
manuais, conferências e exercícios de laboratório".
Os paradigmas comparti1hados são a unidade funda-
2.1 O conceito de disciplina mental para o estudo de um campo por uma comunidade
de estudiosos; são eles que darão a este campo o nível de
Mas, antes de tentar defender admínístração pública co-
disciplina. Contudo, novos conjuntos de idéias podem
mo disciplina, cabe conceituar o que é disciplina. A pala-
provocar cisões e rupturas, até a emergência de novos pa-
vra "disciplina" é derivada da palavra latina âiscere, que
radigmas, o que não significa, necessariamente, um esva-
significa aprender. Já em sua origem etimológica, a pala-
ziamento da disciplina. Ao contrário, Kuhn diz: "A tran-
vra disciplina refere-se a um caminho de organização do
sição de um paradigma em crise para um novo está longe
conhecimento com vistas à aprendizagem.
de ser um processo cumulativo, obtido através de uma
Quando se fala em disciplina, está implícito o concei-
to de pensamento organizado, já que as mesmas decor-
articulação do velho paradigma. e antes uma reconstru-
ção da área de estudos a partir de novos princípios, re-
rem do desenvolvimento do conhecimento humano em
construçio que altera algumas das generalizações teóricas
detenninadas áreas. A rápida expando do saber, portan-
do paradigma, bem como muitos de seus métodos e apli-
to, tanto pode abrir novos campos disciplinares quanto
cações. Durante o período de transição haverá uma gran-
pode ocorrer o esgotamento de possibilidades de cresci-
de coincidência (embora nunca completa, entre os pro-
mento de um determinado campo.
blemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e
Em conseqüência, o conceito de disciplina deve ser
os que podem ser resolvidos pelo novo)."
entendido de forma dinimica. Segundo Bellack (1973),
Há, portanto, uma transitoriedade nas configurações
"as disciplinas não constituem uma coleção ordenada de
que o conhecimento vai assumindo ao longo do tempo,
fonnas de conhecimento fixas e tradicionais. São estru-
como se tentará explicitar neste traba1ho, em qualquer
turas de investigaçio e compreensão que suqem do pro-
disciplina.
cesso contínuo de desenvolvimento científico". Deste
modo, as disciplinas não s~o o conhecimento em estado No entanto, deve-se observar que o corpo de conhe-
puro, mas a experiência acumulada de um campo de co- cimentos acumulados em administração pública provém
nhecimento em particular. de disciplinas com maior tradição e história, com nature-
Há, portanto, na disciplina, uma dimensão substan- za.e estruturas mais defmidas. Psicologia, sociologia, po-
tiva (conteúdo) e uma dimensão sintática (processo) ou lítica, economia oferecem contribuições importantes
matéria de ensino e métodos de investigação que 1he do que não chegam a se consolidar como uma estrutura con-
inerentes. Como a disciplina é um conjunto de conheci- ceptual própria no corpo teórico da administração públi-
mentos, supõe também a existência de uma comunidade ca. Pela sua natureza, a administração pública funde co-
de especialistas interessados em sua organização e desen- nhecimento e ação quando tenta investigar e intervir nos
volvimento. problemas do mundo real. Esta permeabilidade em rela-
Parece ser indiscutível o atendimento a estes crité- çJo ao ambiente e a multidisciplinaridade de contribui-
rios pela administração pública. Contudo, a disciplina ções teõrícas de que 6 alvo dificultam a aceitação da ad-
tem como principal característica a delimitaçlo de ministração como disciplina. Talvez sej, mais apropriado
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AdmlnistraçlJo pdbllCll
conceituá·la conto interdisciplina, ou area de conheci. Por este motivo,a açIo substantivamente racional
mento em inteiseçlO ~ita • instabilidade e crises, já centra-se em fíns e objetivos, enfatiza conteúdos e pres-
que em estágio de constante.(re)orpnizaçloteórica. supõe meios e recursos. Observa-se que o destaque à ra-
Toda disciplina (e, por extenllo, a interdisciplina) cionalidade substantiva vem reforçada em oposição à ra-
-cresce e se expande a partir de uma comunidade. de estu. cionalidade instrumental, no bojo de uma teoria crítica.
diosos que se utilizam de crítéríos racionais em sua coas- A escola de Frankfurt forneceu os elementos para
trução. Será examinado agora o conceito de racionalida. uma crítica da racionalidade desenvolvida no século XX
de, como meio pelo qual se estabelece a relaçlo homem/ pela socíedade industrial. Adorno, Marcuse e Horkheí-
realidade e que tem imediata relação com o estudo da mer e ainda Habermas, mesmo com formulações diferen-
administraçlo em geral e da administraçlo pllblica em tes, convergiram ao destacar a necessidade de criar e de-
particular. senvolver uma consciência crítica, adotando, como diz
Giroux, "um discurso de oposição", como precondição
2.2 As abordogens dIl racionalidade da liberdade, um elo entre pensamento.e ação no interes-
se da libertaçllo do indivíduo em particular e da socieda-
A questão da racionalidade tomou-se ponto de referên- de como um todo, adquirindo, assim, uma orientação
cia para o exame de paradigmas em administraçio'públi- crítica ou valorativa. 1
ca. Mais precisamente, explora-se a dicotomia entre a ra-
cionalidade substantiva ou valorativa, em oposiçio à cha. Já o ato funcionalmente racional é caracterizado por
mada racionalidade funcional ou instrumental. Manheim (1962) a partir dos seguintes critérios:
Diz Guerreiro Ramos (1966) que a distinçlo entre a) é organizada com referência a um objetivo defínído;
racionalidade funcional e racionalidade substantiva é um
primeiro passo na defíníção de açio social, dotada de ra- b) pressupõe concatenação de, uma série de ações para
cionalidade funcional e que supõe ''estejam os seus agen- que o ato em questão atinja o rendimento máximo.
tes, enquanto a exercem, sob a vigéncia predominante da
ótica da responsabilidade".
Por natureza, a açio funcionalmente racional cen-
tra-se nos meios mais adequados, dá ênfase ao processo
Como se observa, há um duplo aspecto na concei- e o subordina aos objetivos que se pretende atingir, do
tuação de ação administrativa: a racionalidade funcional modo mais eâcíente e efícas. Em conseqüência, este tipo
referida à conjugação de meios tendo em vista o alcance de racionalidade conduz. ao predomínio da técnica e a
de objetivos e a ética da responsabilidade, supondo cons- chamada reífícação" do mundo social. É em função do
ciência da situação,jUízo de valor sobre a mesma e toma- objetivo estabelecido que se afere o grau de racionali-
da de posição. dade funcional de uma determinada ação. "Na rscíonalí-
Se a ação administrativa implica o equilíbrio entre o dade funcional não se aprecia propriamente a qualidade
que é necessário fazer para atingir e no sentido moral de intrínseca das ações,mas seu maior ou menor concurso,
tal ação, toma-se claro que a racionalidade funcional não numa série de outras, para atingir um fim preestabeleci-
exclui a racionalidade substantiva, sendo ambas duas di- do independente do conteúdo que possam ter as ações",
mensões didaticamente limitadas de racionalidade é o que diz Guerreiro Ramos.
humana ..
Manheim destacou muitos dos problemas que ocor-
A dicotomia que está sendo colocada por diversos rem em nível societário quando predomina a racionali-
autores tem um efeito de contraste, para o estabeleci- dade funcional nas ações humanas. O predomínio da
mento de uma crítica. açlo administrativa empreendida racionalidade funcional pede explicar, embora parcial-
neste século. mente, a crise verífícada no campo de admínístração
Guerreiro Ramos lembra que "a racionalidade subs- pública e de sua coirmã, a administração do desenvol-
tantiva' é estreitamente relacionada com a preocupaçlo vimento,
de resguardar a liberdade". Quando Manheim (1962) es-
clarece os diversos sentidos da palavra racionalidade, as- A seguir, apresenta-se um retrospecto do ensino
socia a mesma aos pensamentos que se traduzam em per.' de administração pública no Brasil, onde se evidencia
cepção inteligente das inter-relações dos acontecimentos a evoluçã'o da disciplina e dos seus paradigmas, com as
de uma determinada situaçio". Neste sentido, a pessoa
conseqüentes aplicações d08 conceitos de racionalidade
estará apta a tomar decisões com base em seus próprios que os presidem.
"constructos", isto é, identifIcando os elementos perti-
nentes a uma dada situaçio e estabelecendo relaçlo entre
os mesmos de modo a emitir um juízo de valor sobre a
3. A FORMAÇÃO DE ADMINISTRADORES
realidade e tomar uma decido consciente. A racionalida-
PúBLICOS, OS IDEAIS DO DESENVOLVIMENTO
de substantiva, portanto, envolve não apenas a considera-
E DIMENSÕES DA RACIONALIDADE
ção do conteúdo da açlo, como sua finalidade e ceaee-
qüências .. '
3.1 Primórdios
Marcuse (1964) referiu-se à natureza de tal racionali-
dade desta forma: "Diz-se que é substancialmente racio- Segundo Benedicto Silva (1950), a idéia de se implantar
nal todo ato intrinsecamente inteligente que se baseia o ensino de administração pública no Brasil sur~ no
num conhecimento lúcido e autônomo de relações entre Império, através de pronunciamento de parlamentares
os fatos. ~ um ato que atesta a transcendência do ser hu- como o Barlo de Uruguaiana e o Barlo de Bom Retiro,
mano, sUa qualidade de criatura dotada de rado." registrados em 1854.
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Re"úta de AdmbtlltrtIÇ/b de Empmtl8
Poucas medidas concretas foram tomadas neste sen- EUA. Se desde o descobrimento o Brasil copiou modelos
tido até as décadas de 40/50, As reformas de ensino de administrativos, a influência americana foi (e é), sem
1857, 1865 e 1879 propunham alterações curriculares dúvida, a mais duradoura.
nos cursos de direito, de modo a favorecer a formação Segundo Símões Lopes, Wahrlich e Villa-Alvarez,
de administradores públicos, o que é reforçado por um entre outros, a influência americana foi decisiva e dire-
parecer de Rui Barbosa em 1882, Estas propostas, pre- cionou ideológica e metodologicamente o ensino de
vendo dieotomízação do curso de direito, não foram administraçlo pública no Brasil, sendo o cerne da refor-
concretizadas, em grande parte, embora os currículos ma administrativa em seus diversos estágios. As princi-
tenham muitos pontos de contato até hoje, Outros pais ações do Dasp incorporaram conceitos de racionali-
cursos absorveriam conteúdos de administração, como dade e eficiência,· por meio do estímulo ao emprego de
engenharia (como reflexo das idéias de Taylor e Fayol) técnicas administrativas.
e, mais. tarde, o curso de economia, O caráter modemizante do aparelho estatal foi sen-
Possivelmente, por ter áreas de Interseção quanto a do moldado pelos técnicos do Dasp, com esforços dig-
campos de atuaçfo com o direito, a economia, as ciên- nos de realce para a época. Beatriz Wahrlich (1983) des-
cias contábeis e as engenharias, o curso de administração taca os estudos do que consistia a ciência de administra-
s6 veio a ganhar identidade na década de 50. Os cursos ção e indica as fontes mais importantes e as aplicações
de. admínístração pública nasceram já no enquadramento realizadas na estrutura e funcionamento do serviço
dos princípios desenvolvimentista da época, veiculados público. De Willowghby destaca a contribuição decisiva
através da transposição de paradigmas de países mais para a reforma administrativa dos anos 30 e 40. Registra
desenvolvidos, como fora, de resto, desde a Colônia. também as contríbuíções de Fayol, Taylor e Gullick,
todos orientados por princípios de eficiência. De uma
3.2 A racionalizaçãO administrativa forma ou de outra, o paradigma dominante oferece um
conjunto de idéias que se identificaram com o desenvol-
Na Segunda República ou no período compreendido en- vimento, que estava pleno do que se poderia chamar
tre 1930 e 1945, que se pode estender até 1952, monta- racionalidade instrumental.
se um cenário de alto teor reformista, em que o ensino
de administração pública se implanta e consolida em Como bem observou Beatriz Wahrlich, o ensino de
nível de capacitação e formeção de pessoal, assumindo admínístração pública no Brasil nasceu "sob o signo do
caráter estratégico e instrumental. desenvolvimento" .

Diz Kleber Nascimento (1967) que a Revolução de Caiden e Caravantes (1982), ao reexaminarem o
30 assentou as bases do Estado Administrativo no Brasil. conceito de desenvolvimento, dizem que "a administra-
Wahrlich (1974) encontra origens mais remotas na pla- ção do desenvolvimento teve sua origem neste desejo
taforma da Aliança Liberal, que já destacava a dignifi- dos países ricos de auxiliar as nações pobres em seu
cação e profissionalização da função pública pela "garan- desenvolvimento e, mais especialmente, nas evidentes
tia de aptidão do funcionário, sua estabilidade, dedica- necessidades dos novos Estados de transformar suas
ção integral e remuneração condigna" . burocracias do tipo colonial em instrumentos de mudan-
Em 1936, promulga-se a Lei n9 284, que estabelece ça social".
normas de admínístração de pessoal e sistema de classi-
ficação de cargos. Em 1938, cria-se o Dasp, que desem- O Relatório Pearson,3 de 1969, ao rever a história
penha papel central em todos os esforços de reforma da cooperação internacional, observa que está baseada
administrativa e que teve, segundo Simões Lopes, a for- em "relações de desenvolvimento, que constituem a alma
mação do servidor como área de ênfase, o que é confír- da política de ajuda eficiente". Mais adiante, continua o
mado por Wahrlich, ao considerar a administraçfo de relatório: "Os países pobres do mundo optaram pelo
pessoal e o sistema de mérito -como "a pedra angular" desenvolvimento, não importa o que se faça ou o que se
da reforma administrativa. Contudo, como diversos au- deixe de fazer no plano internacional. Eles estão resol-
tores registram, o autoritarismo,a centralização do vidos a perseguir uma vida melhor para si mesmos e os
controle e a dificuldade de percepção das falhas do mo- seus descendentes."
delo conduziriam ao fechamento do sistema. Em 1945, A ajuda dos países pioneiros aos países pobres para
faltou ao processo .reformista o respaldo do poder. acelerar o desenvolvimento e modernização partiu de
Vargas foi deposto em outubro de 1945, e em 9 de órgãos govemamentaís dos primeiros, concretizando-se
dezembro do mesmo ano o Dasp foi reorganizado com em programas de ajuda mútua e acordos bilaterais. Os
corte nas atividades de pessoal. recursos seriam empregados em áreas como educação,
No entanto, deve-se tributar ao Dasp o mérito da saúde, agricultura, comunícação e capacitação técnica
introdução do ensino de admínístração pública no Bra- em geral.
sil em caráter de treinamento. Os cursos de formação O Brasil foi um dos países que receberam consíde-
e aperfeiçoamento do servidor público em menos de 'rá~l ajuda no período, calcada nos princípios desenvol-
um ano tinham mais de 8 mil ínscríções. Neste período, vimentistas difundidos no final da década de 40 e na
prestava serviços ao Dasp um grupo de técnicos que Pau- década de 50.
lo Vieira da Silva (1983) chama de "s6rie ouro": Bene- A assistência técnica norte-americana' foi regida
dicto Silva, Guerreiro Ramos, Sebastião Santana e Silva pelos princípias do desenvolvímentísmo desde as suas
e Roberto Campos, entre outros. Por meio deste grupo, origens, veiculadas primeiro por missões militares e, pos-
foram veiculados conceitos, princípios e práticas admi- 'terionnente, concretizada pelos programas de coopera-
nistrativas oriundas de outros países, especialmente dos çãO Ucnica bilateraD.

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Na regulamentação de assistência técnica feita pelo Como não podia deixar de ser, o Dasp e a EBAP
Foreign Assistance Act, em 1961, constavam como tinham relações estreitas com o Governo americano, que
objetivos da mesma os seguintes: a) aperfeiçoamento do implantava, em plenitude, a cooperação técnica para o
nível educacional, tecnológico e profissional; b) aperfei- desenvolvimento.
çoamento e expansão das estruturas e práticas institu- Em 9 de março de 1959, foi assinado um convênio
cionais; c) avaliação de recursos materiais e humanos; muito importante para a área de administração pública,
d) formulação de planos para o desenvolvimento; t) cria- de conformidade com o Acordo sobre Serviços Técnicos
ção de infra-estrutura para o desenvolvímento. Especiais, entre o Brasil e os EUA, firmado em 1953,
Lembra Florindo Villa-Alvarez (1982) que o Brasil designado por PBA-l. o projeto daí decorrente foi desig-
abrira um caminho após a 11Guerra Mundial, no sentido nado como Programa de Ensino de Administração Pú-
de siderurgia e do petróleo. "O embrião da industriali- blica e de Empresas. Os conveniantes foram o Ministério
zação do nacional-desenvolvimentismo aí estava. O instru- da Educação e Cultura, o Departamento Administrativo
mental do Estado, que é improvisado e atrai pessoas pela do Serviço Público, a. Fundação Getulio Vargas, a Uni-
amizade ao poder, é instituir o sistema do mérito e qua- versidade Federal da Bahia e a Universidade Federal do
lificar as pessoas para, no exercício do poder, serem Rio Grande do Sul, pelo lado brasileiro. O Governo ame-
instrumentos do poder." ricano foi representado pelo Instituto de Assuntos Inte-
Caíden e Caravantes dizem que a administração do ramericanos e pela Missão Norte-Americana de Coopera-
desenvolvimento envolveu nlo apenas a ajuda estrangeira çãO Técnica do Brasil (USOM).
da assistência técnica, mas a organização de novos órgãos O PBA-l foi a solução estratégica para os problemas
públicos e a reorientação dos existentes e a criaç40 de de capacitação gerencial no Brasil, cabendo destacar que,
um corpo de administradores capazes de exercer lideran- entre as premissas que norteavam a organização do pla-
ça em programas de estímulo e apoio ao aperfeiçoamen- no, a primeira dizia: ''( ...) O método mais eficiente e prá-
to social e econômico. (O grifo não é do original.) Villa- tico de atender às necessidades crescentes de pessoal qua-
Alvarez interpreta o então sentimento norte-americano lificado nas repartições públicas e empresas privadas nu-
sobre a capacitação dos recursos humanos no Brasil co- ma economia industrial e processo de acelerado desen-
mo um pré-requisito para a realização de investimentos. volvimento e expansão reside na intensificação e gradual
"Se o país é mal administrado, o ensino é um instruo ampliação de recursos educacionais de que o Brasil dis-
menta que vai evitar corrupção do financiamento, den- põe em matéria de administração pública e de empresas."
tro dos ideais de racionalidade e liberalismo."
Para a consecução do pretendido desenvolvimento,
A idéia de um centro de estudos em admínístraçâo o plano enfatiza a necessidade de formar professores
pública consolidou-se em 1943, quando foi solicitado ao de administração pública .e de empresas com vistas a
governo dos EUA uma ajuda técnica ao Dasp. Nesta "prover sufíeíente número de técnicos competentes às
circunstância, emergiu a idéia de uma escola de adminis- repartições públicas e privadas".
tração pública independente das universidades e do
Dasp. Por intermédio de Benedicto Silva e Cleanto de Se forem comparados os investimentos feitos em
Paiva Leite, integrantes do quadro do Dasp, fez-se uma diferentes áreas, apoiadas por acordos de cooperação
aliança com a Organização das Nações Unidas com vistas técnica, verifica-se que a administração foi a segunda
à promoção de treinamento na área de administração pú- área em recursos, só precedida pelo ensino agrícola. Do
blica. Em continuidade, em 1944 instala-se a Fundação total de recursos empregados de 1952 até 1963,39,9% o
Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. foram em administração, sendo 22% em admínístração
Observe-se que há relação entre a desativação do de empresas e 17,7% em administração pública.
Dasp, que a partir de 1945 mantém trabalho residual, e a Os bolsistas em admínístração pública foram enca-
criação da FGV, em 1944, sob a presidência de Luiz mínhadosâ Universidade do Sul da Califórnia, que foi
Simões Lopes, antigo diretor do Dasp. o principal érgão formador na área. Contudo, as influ-
ências no ensino de administração pública na época não
3.3 A formação de administradores como estratégia se limitaram ao envio de bolsistas, já que professores
de desenvolvimento americanos acompanharam a EBAP, a UFRS e a UFBA
durante o tempo suficiente para a montagem dos pro-
Em janeiro de 1948, Roberto Campos propõe à Orga- gramas. Por outro lado, o treinamento daspiano já se
nização das Nações Unidas um projeto criando uma tinha consolidado dentro do paradigma dominante nos
Escola Nacional de Administraçfo nos moldes da Escola EUA. Nlo se pode desconhecer que a EBÀP nasceu do
Nacional de Administração (ENA) francesa," Dasp, na medida em que absorveu os seus técnicos, sua
Em 15 de abril de 1952 foi instalado a Escola Bra- ideologia e os próprios conteúdos de ensino dos cursos
sileira de Administração Pública (EBAP), como resulta- de treinamento.
do de duas reuniões, realizadas em Lake Success, nos Evidentemente, estes paradigmas foram veiculados
EUA, e no Rio de :Janeiro, de que participaram técnícos através dos centros de treinamento do PBA-l, no Bra-
brasileiros da FGV e do Governo federal, representante sil e na Universidade do Sul da Califórnia, que foi a
da ONU e professores americanos. instituição treinadora nos EUA. Com o passar dos anos
A EBAP se foi estruturando como órgão de ensino, e o desenvolvimento do comportamentalismo, a busca
pesquisa e assistência técnica, COm cobertura financeira da eficiência foi sendo feita através de técnicas grupais
da ONU até 1959, que subsidiou a vinda de professores e de competência no relacíonamento interpessoal.
americanos e o treinamento em nível avançado em admí- As três instituições de ensino beneftciadas pelo
nistração pública de professores recrutados pela FGV. acordo - EBAP, UFRS e UEBA - empreenderam,

282 Revista de AdmJniltraçiio de EmpreSllS


daí para a frente, esforços em criar, no caso das duas só nos estados em que eram sediados, mas com ações
últimas, e em intensificar, no caso da EBAP, o ensino que tinham abrans8ncia regional e nacional, constituin-
de administração pnblíca, quer em iniciativas de caráter do-se em p6los de difusão dos princípios da reforma.
acadêmico (cursos de graduação e pôs-graduação de Cabe destacar um amplo convênio de cooperação
sentido estrito), quer promovendo cursos de aperfeiçoa- técnica estabelecido entre o Escritório da Reforma Ad-
mento para o serviço público, executando projetos de ministrativa (ERA) do Ministério de Planejamento e
assistência técnica e, com muito menor expressfo, Coordenação Geral e a Fundação Getulio Vargas, em
realizando pesquisa na área de administração pública. 1971.6 Criou-se a Coordenação de Assistência Técnica
de Reformas Administrativa (Catra) na EBAP, que iria
3.4 Apogeu e declínio do ensino de atuar por três anos. Registra Wahrlich que a Catra rece-
beu solicitações de assistência técnica vindas de quase
administração pública
todos os ministérios. Foram celebrados 16 acordos de
assistência técnica com órgãos de administração direta
A ampliação das três instituições continuou, não só nos
(ministérios) e de admínístração indireta (universidades,
anos seguintes, a obedecer a aspectos conjunturais. O
pessoal treinado nos EUA, principalmente pela Univer- por exemplo), realizando-se diversos trabalhos de porte.
sidade do Sul Califórnia, envolveu-se com o setor pú-
blico, ora exercendo funções gerenciais em ôrgãos do Embora tenha gerado um gigantesco esforço de
Governo, ora colaborando com a admínístração públi- ímplantação, a reforma administrativa preconizada pelo
ca através de formação de pessoal e assistência técnica. Decreto-lei n<? 200 incorreu em falhas que reduziram
Devem ser destacadas duas instituições que foram cria- significativamente o seu escopo.
das (ou podem ser consideradas desdobramentos) das
escolas apoiadas pelo Ponto IV, como o Instituto de Entre as críticas recebidas quanto ao processo, des-
Serviço Público (ISP), hoje Centro de Estudos Inter- taquem-se as relativas ao mecanismo de treinamento en-
disciplinares para o Setor Público, cujo regimento foi tão utilizado, qual seja, o uso dos "agentes de reforma"
aprovado em 1964 pelo Conselho Universitário da como difusores. Além de se terem treinado principal-
UFBA. No Rio Grande do. Sul, a Fundação para o mente os escalões inferiores, o treinamento recebido foi
Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH) , marcadamente comportamental, com poder restrito de
criada em 1972, foi idealizada e dirigida, inicialmente, decido, além de atingir, notadamente, aqueles com pou-
por egressos da USC, professores da UFRS. co poder e açA"onas organízações públicas. Por outro
lado, o uso extensivo de empresas consultoras para pres-
Observe-se o entrelaçamento entre o Dasp, a EBAP/ tação de assistência técnica à reforma trouxe contribui-
FGV e as demais instituições mencionadas e a reforma ções muitas vezes não identificadas com os valores
administrativa, pelo menos até 1973. quando houve uma reformistas.
cisão e a EBAP perdeu uma relativa liderança técnica que Seria simplista atribuir-se as falhas da reforma ape-
tinha sobre os processos de reforma administrativa, que nas ao tratamento das questões de pessoal, ao treina-
era, de certa forma, a do antigo pessoal daspiano a ela mento de agentes e à ação das consultoras. De fato,
incorporado. mais uma vez se atrelava a reforma ao desenvolvimento
O processo de reforma a partir do segundo Governo do país, agora em uma ótica de sistemas abertos. Nova-
Vargas é demorado e pleno de barreiras políticas, coloca- mente a racionalidade funcional faz parte da ideologia
das principalmente pelo legislativo. Diversas comissões -reformista, agora vinculada através de técnicas compor-
são constituídas, integradas e/ou coordenadas pela tamentalistas.
EBAP/FGV.s É de se destacar a marginalizaçlo das universidades
Como analisa Mitraud (1977), o produto do traba- (com exceção do ISP/UFBA) do processo reformista.
lho dessas comissões não foi substantívamente aproveita- Não só os cursos regulares de administração pública
do na maior parte, registrando-se apenas a implantação não foram utilizados como agentes - utilizando-se em-
de medidas modemizantes. No entanto, Mitraud consíde- - presas de consultoria sob o controle direto da Semor -
rava "notável o avanço conseguido em termos de conçep- como não se beneficiaram das inovações quanto a con-
ção, pois os diversos estudos para reorganízação geral teúdo ou método então difundidos, pois estavam fora
da administração tomaram possíveis as modífícações do processo.
introduzidas em 1967". Outro fator a considerar seria o destaque dado por
Wahrlich (1974) às dificuldades de aplicação dos crité-
Na década de 60, a reforma adniinistrativa impulsio- rios de gradualismoe seletivismo, o que desmotivou os
nou decisivamente a EBAP, o ISP e a FDRH. À seme- funcionários, bem como a defasagem entre as escalas
lhança de outros países latino-americanos, como o Méxi· salariais do serviço público na época e as existentes no
co, a Venezuela e a Colômbia, o Brasil retoma um ciclo mercado de trabalho, e até, se poderia complementar,
reformista na admínístração pública e insere a modemí- nos próprios órgA"os de administraçlfo indireta do Go-
zação administrativa no Plano Nacional de Desenvolvi- verno.
mento. Em 25 de fevereiro de 1967, o Decreto-lei nç. Este período - o da década de 70 - caracteriza-se
200, lei básica de reforma administrativa, entra em vi- pelo declínio do papel do administrador póblico e pelo
gor. A responsabilidade central pela execução da reforma apogeu do tecnocrata, exacerbação máxima da racio-
cabe à Secretaria de Modernização e Reforma Adminis- nalidade funcional e dos princípios desenvolvímentístas,
trativa (Semor) que atua através do Escritório da Refor- Publicaçlo recente enfatiza que a administraç!o
ma Administrativa (ERA). A EBAP, o ISP e a FDRH das empresas estatais no Brasll passou a ser dirigida
participaram ativamente da reforma administrativa nlo pelo lema dá competancia e racionalidade técnica,

A.dmlnistraç/lO prJblica 283


especialmente no petíodo de 1967 a 1978, que foi o de fechados. Como exceção, deve-se destacar o Cipad da
sua maior expansão, o que se traduziu em: EBAP, uma das raras propostas inovadoras no ensino
de administração pública desde sua implantação no
a) consideração da conveniência técnica como único Brasil, que, embora calcado em experiência americana,
critério da decisão ou formulação de alternativas; atendeu de modo especial aos requisitos da clientela
do serviço público. Deve-se observar, também, que o
b) concentração das empresas nos objetivos e objetos curso de mestrado da EBAP reorientou-se na década
diretos de sua ação; de 70, dando grande ênfase ao ensino de políticas
públicas. De certa forma, porém, a EBAP ficou fora
c) valorização acentuada de modemízação da tecnologia dos consideráveis investimentos feitos no ensino. de
para solucionar problemas e desafios empresariais; pôs-graduação desta década. O Plano Nacional de
Treinamento de Executivo, que apoiou a instalação
d) entendimento de que a competência técnica dispen- da Coppead/UFRJ (de nítida sríentação empresarial),
sava ou substituía com vantagem as mediações e tran- excluiu a EBAP de seu escopo.
sações políticas associadas às estatais. Após o apogeu da reforma administrativa, já na
década de 70, o ensino de administração pública entra
Estes princípios, aliados à ampla autonomia admi- em declínio.
nistrativa de que gozavam as empresas, a frouxídão de Uma nova conjuntura determina investimentos
controles internos, a ênfase à expansão, dentro de dis- prioritários na formação do administrador de empresas.
ponibilidade e pleno emprego de recursos, conduziram En~rra-se um ciclo em que se considerava que a forma-
à montagem e ao funcionamento de grandes estruturas çã'o do administrador público era um requisito para o
e sistemas dedicados principalmente ao crescimento. desenvolvimento do país. Como se verá a seguir, muito'
estreita era a relação entre desenvolvimento e formação
Em 1981, Cavalcanti' responde às questões sobre de recursos humanos.
que estruturas institucionais atenderiam às necessidades
de educação do administrador público da seguinte forma: 3.5 Emergência de um novo paradigma

a) escolas independentes ou do sistema universitário fe- Um novo conceito de desenvolvimento emerge. Tendo
deral e estadual que oferecem cursos específicos de gra- este novo conceito como referencial, um paradigma se
duação em administração pública (o autor dá destaque esboça. A seguir, apresentam-se algumas idéias que se
àEBAP); delineiam como conteúdo e que, se supõe, irão trans-
formar-se, gradativamente, em matéria de ensino de
b) escolas especializadas, federais e estaduais, subordina- administração pública, trazendo, como decorrência,
das ou vinculadas a Ministérios e Secretarias de Estado, novas formas de ensinar e aprender.
tais como o Centro de Treinamento para o Desenvolvi- Se tomarmos como cenário de administração públi-
mento Econômico (Cendec), Escola de Administração ca uma sociedade civil com crescente nível de contesta-
Postal, Escola de Admínístração Fazendária (ESAF) , ção e organizaçlo, onde as pressões se exercem mais clara
Escola de Polícia e outras; e afumativamente, onde tende a haver multiplicação
e diversificação dos canais de comunicação entre o
c) organizações ou órgãos de treinamento de serviços Estado e a sociedade, onde há demanda cada vez mais
públicos, vinculados ou subordinados à administraçlo ampla da sociedade no sentido de ampliação de seu
direta estadual, tais. como a Fundação Escola de Servi- controle sobre o setor público e onde as negociações
ço Püblíco (FESP/RJ), a Fundaçlo de Desenvolvi- e os pactos políticos predominam sobre as decisões
mento de Recursos Humanos (FDRH/RS); a Superin- técnicas e, principalmente, se há uma crise de legiti-
tendência de Treinamento de Pessoal (SetepIPE) e a midade das instítuíçôes públicas e de seu poder, tor-
Fundação de Desenvolvimento Administrativo (Fundap/ na-se óbvia uma reconceituação do que seja o desen-
SP); volvimento. E o que se observa confrontando a litera-
tura é que desenvolvimento é, agora, um conceito valo-
d) empresas privadas de consultoria e desenvolvimento rativo em outro sentido. Não mais o passaporte para a
gerencial; prosperidade do mundo ocidental, não mais a busca do
estágio alcançado por uma sociedade-paradigma. 'Con-
e) órgãos de recursos humanos e centros de treinamento tudo, se parece fácil dizer o que não é desenvolvimento,
federais e das empresas governamentais, promotores de talvez seja temerário dizer o que é.
treinamentos diversos, via contratos com escoias de
Administraçfo, com empresas de consultoria e treina- Guerreiro Ramos (1981) registra que "numero 80S
mento e mesmo com pessoas físicas: professores univer- escritores estio tentando reconceituar desenvolvimento,
sitários, técnicos em geral, profíssíonaís híbridos (técni- aio como signiicando o IIlmento inestrito do PNB,
cos/professores e professores/consultores). mais e essencialmente como uma indicação da melhoria
Os programas desenvolvidos por estas organizações, qualitativa do .nbiente humano e, sobretudo, como
com algumas exceções, foram caudatários da trilha processo de equallzaçiosocial e econômica". Contudo,
empreendida pelo ensino de administraçlo pública, mesmo reconhec:endo o valor subJtantivo. dessas opi-
renovando-se aJguns aspectos processuais. de ensino niões, o autor contesta as bases das mesmas. ou seja, o
(ênfase ao comportamentaI, uso de estra~ de de.n- ".rialismo" aí embutido e o apoio na teoria social
volvimento organizacional) ainda na ótica de sistemas formal.'

284 Rtvilta de Adminiltrrzçiiío de Empre8t18


A este propósito, transcreve-se uma citaçlo do Como metodologia, evidencia o valor da pesquisa-
relatório da Brandt Comission ao Secretário-Geral da açlo, que seria o caminho para criar modelos baseados
ONU, em 1980: em organização ressocializante e orientados para a clien-
tela de contextos pobres. Na década de 80, Guerreiro
"O desenvolvimento nunca será, nem pode ser, Ramos, egresso da use, teve a oportunidade de iniciar
definido de modo a agradar a todos. Refere-se ele, um prosrama de estudos e pesquisas em admínístração
falando em termos gerais, ao desejável progresso social pública na Universidade Federal de Santa Catarina,
e econômico e as pessoas terão opiniões diferentes após ter escrito A nova ciência das organizações. O de-
sobre aquilo que é desejável. :e certo que desenvolvj- senho curricular então elaborado baseia-se no paradigma
mento tem que significar a melhoria das condições paraeconômico e nas suas implicações no conceito de
de vida, para a qual do essenciais o crescimento eco- vida humana associada. Vamos encontrar, nesta proposta
nômico e a modernização. de currículo, as idéias que, embrionariamente, apareciam
Se não se der, porém, atenção ã qualidade do no artigo de 1970.
crescimento e 11 mudança social, não se poderá falar
em desenvolvimento. Desenvolvimento é mais do que Como se observa, o autodesenvolvimento depende
a passagem da condição de pobre para a de rico, de de processos de aprendizagem de comunicação e socíalíza-
uma economia rural tradicional para uma sofisticada, ção. O indivíduo, para se desenvolver, .movimenta-se
carrega ele consigo não apenas a idéia de melhor con- dentro de esferas de agir comunícatívo e adquire auto-
dição econômica mas também a de maior dignidade nomia e capacidade de interação, Neste processo, desen-
humana, mais segurança, justiça e eqüidade." volvem-se formas racionais de agir. A racionalidade se
Se é difícil reconceituar desenvolvimento, talvez afirma e, como diz Habermas, "a razão se aprende no
se possa inferir o seu sentido através de fragmentos de momento em que ela, enquanto tal, se executa como
novas idéias e experiências. auto-reflexão" .
Volta-se às propostas de Guerreiro Ramos, no senti- Não é demais ressalvar, contudo, que O! autodesen-
do de "libertar as noções de modernização e desenvolvi- volvimento depende da conscíentízação. Conscíentíza-
mento lle seu engaste histórico". Propondo uma ruptu- ção que, segundo Paulo Freire, é impossível fora da
ra ideológica com a ideologia social do Ocidente, diz o teoria/prática, de reflexão/ação. Contudo, nas palavras
autor que este processo é imperativo, ao que se preten- de Paulo Freire, "a conscientização não pode escapar
der encontrar uma saída. Destacá, entretanto, que os aos limites que a realidade histórica lhe impõe. Quer
termos desta ruptura não podem ser encontrados atra- dizer, o esforço de conscíentização só apresenta resul-
vés de nenhuma remodelação da ideologia serialista do tados quando se leva 'em conta sua viabilidade hístó-
Ocidente. E esse rompimento provavelmente não ocor- rica" .9
rerá, a menos que os povos sejam ativados para cons- De forma direta, do os processos educacionais
truir imediatamente, partindo daquilo que já têm, uma formais ou não-formais que a sociedade oferece aos
sociedade racional, entendida em termos substantivos responsáveis pelo autodesenvolvimento e, conseqüente-
e despojada das atuais conotações serialistas e futuristas. mente, pela consolidação do senso de comunidade do
O começo e o fim da história não se constituem de cate- indivíduo e pelo desenvolvimento social.
gorias serialistas.Em vez disso, seu significado é apreen- Portanto, a formação de admínístradores públicos
dido através de compactas experiências de tempo. é requisito essencial à ínstítucíonalízação de uma socie-
O ponto de referência para a ordenação de vida dade multicêntrica e com padrões próprios de desen-
humana associado a um conceito de desenvolvimento volvimento.
não linear e alternativo, que admita e pressuponha e A partir deste "mote", pode-se colocar a questão:
existência de múltiplos enclaves sociais articulados, é o que deve ser, então, ensinado em administração Pú-
o próprio homem em processo de autodesenvolvimento. blica, e como, se temos um novo conceito de desenvol-
Shaffer e Shaller (1982), teóricos da chamada didá- vimento no ar e se este conceito tem sido inspirador
tica comunicativa, destacam o valor das experiências desta área de ensino no Brasil?
interativas que possibilitam o autodesenvolvimento.
Qualquer interação, dizem eles, pressupõe que os ho- Guerreiro Ramos nfo encorajava muito a respon-
mens se reconheçam como sujeitos potenciais e auto- der a esta pergunta, em 1970. Achava ele muito cedo
realizadores. para se encontrar o "cosmos conceptual" que a matéria
Autodesenvolvimento, então, envolve a consciência reclama, acreditando que se deveria defini-la menos por
de si e a consciência do outro, dentro de contextos sentenças conclusivas do que pela ignorância consciente.
imjerativos de ação. A racionalidade orienta-se, portan- Contudo, no curso do artigo anteríormente citado, que
to, em dois sentidos: o primeiro, baseado nas necessi- é quase um marco no estudo do assunto, ele faz algumas
dades de uma prática técnica, fundamentada no conhe- colocações que hoje parecem válidas. Diz ele ser a nova
cimento das leis da natureza; o segundo, determinado administração pública não prescrítíva antiescolástica e
pela necessidade de uma prática social moralmente re- orientada para a pesquisa-açfo. Em outro momento do
levante. Não parece difícil atribuir-se ao primeiro senti- texto, diz o autor que o que "importa é viver de forma
do o significado de racionalidade instrumental e, ao coerente com as premissas de valor de nossa disciplina"
segundo, o de racionalidade substantiva. Neste caso, e aí situa os problemas correspondentes à otimização de
são duas dimensões do mesmo fenômeno: o pensar/ modelos administrativos no contexto Iatíno-amerícano.
agir humano. Autodesenvolvimento dependerá, portan- Estes problemas merecem um destaque, pois esboçam
to, não de uma opção por outra direção mas do tendêncías quanto ã matéria (conteúdos) e métodos de
(des )envolver harmônico de ambas. ensino.' .

AdminiltraçÍÍO pdbUCiI 285


A primeira colocação feita é a necessidade de habi- estalecido um ambiente intelectualmente estimulante e
litar os estudantes a se adequarem à realidade. Segundo criativo em sala de. aula. Cada estudante deve ser uma
Guerreiros Ramos, os estudantes e~am em processo fonte de conhecimento e informações para o grupo. O
de dissonância cognitiva quando se vêem obrigados a instrutor fará preleções e apresentará seus pontos de
encontrar soluções viáveis para problemas reais, já que vistas sobre os temas em discussão,"
os países latínc-amerícanos não oferecem condições A eleição da técnica do seminário, em cuja origem
contextuais à aplicaçlo de "estilos de administração está a idéia de semente, parece bastante congruente
eficazes". Já que o contexto não é de abastança, mudam com o conteúdo. Como se acredita hoje nas ciências
as prioridades de ensino. de educação, a metodologia decorre da natureza do
conhecimento. As questões do método não são formais,
Chama a atenção para a necessidade de mudar a mas essenciais. Portanto, uma metodologia deve favo-
atitude dos administradores sobre a alocação de recursos, recer a comunicação, antes de tudo, que é a essência da
dizendo que "uma atitude bem orientada permite ao aprendizagem. Como a comunicação é um processo de
administrador, mesmo em contextos pobres, descobrir interação, IlPla "se transmite não apenas o que havia
estratégias otimizantes". Põe ênfase na necessidade de antes, mas produz-se ai80 que antes não havia."
preparar administradores sensíveis a requisitos teóricos
e operacionais que permitam formular políticas para 1! de se. supor, portanto, quese tenha favorecido' o
a regíão e destaca a natureza interdisciplinar de adminis- autodesenvolvimento destas pessoas que aí participaram
tração pública. como alunos, de modo que este autodesenvolvimento
os tenha preparado para o desenvolvimento mais amplo.
Delímitação é um conceito-chave neste currículo,
aparecendo, explicitamente, em cinco de sete disciplinas
e implicitamente nas outras duas. 4. A GUISA DE CONCLUSÃO
Tomou-se, quase ao acaso, alguns dos tópicos das Apresentando este exemplo de uma experiência de ensi-
ementas do currículo, a seguír parcialmente transcritos: no em admínístração pública, dentro de um paradigma
que se orienta pela racionalidade substantiva predomi-
"Exame das abordagens formais e substantivas da nantemente, o que concluir? Como se colocou no iní-
vida humana associada." cio, não se chegou ainda ao ponto considerado termi-
nal nesta viagem pelos caminhos do ensino de admínís-
"Estudo do processo decisório organizacional e de tração pública no Brasil. Este é um trabalho em anda-
suas dimensões valorativas e éticas." mento. Temos apenas uma certeza: não é possível acu-
mular conhecimentos ou justapô-los. Os paradigmas que
"Análise dos limites ecológicos da produção, que orientarão o ensino de administração pública estão, de
focaliza as relações entre recursos renováveis enio- fato, em reconstrução. Ao reconstruir o conteúdo,
renováveis. " cabe-nos (re)inventar formas de aprender que lhes fa-
çam justíça.
"Avaliação crítica do estado presente da ciência de
formulação de políticas públicas."

"Estudo do orçamento público como instrumento


político para a alocação ótima de recursos entre uma
diversidade de sistemas sociais."

"Exame do contexto societário da tecnologia, da


variação de tecnologia e da transferência de tecnologia."

A análise destas ementas permite concluir que as 1 Como lembra Giroux, a eSCGlade Frankfurt não se constituiu
disciplinas têm caráter mais substantivo do que sintático, em um grupo que partilhasse do mesmo conjunto doutrinário
isto é, são mais orientados para o conteúdo do que para quanto à teoria crítica. Contudo, estes autores tiveram em co-
o processo ou sintaxe da disciplina. No entanto, todos mum a reconstrução do significado de "emancipação humana",
os tópicos 510 iniciados por palavras como "exame", partilhando da teoria crítica, embora de forma não articulada
ou pacif1camente aceita por todos.
"estudo", "análise", "avaliaçfo", que têm nítida ínten-
çlo valorativa. Se tomarmos como referência a taxíono- 2 Segundo Paulo Freire" "a reificação consiste em considerar que
mia de Bloom, em que avaliaçlo é considerada a mais o homem é capaz de esquecer sua própria condição de autor do
alta categoria de pensamento, chega-se à conclusão que munde que o cerca, e, mais ainda, quea dialética entre o ser
se pretende, através do currículo, desenvolver habilida- produtor e o teU produto não está conscientizada".
des de pensamento superior, com forte ambíção crítica.
3 Dentre os conceitos normativos que Caiden e Caravantes iden-
tificam como norteadores da política do desenvolvimento estão
Quanto à metodologia, encontram-se alguns elemen- os seguintes: a) o desenvolvimento pode ser dirigido, controlado
tos que possibilitam inferência no plano de ensino da e planejado de alguma forma por órgfos públicos; b) a melhoria
disciplina que Guerreiro Ramos ministrou. Há indica- na quantidade e na qualidade de bens e serviços públicos é im-
perativa para que a probreza seja ",perada; c) os obstáculos ao
ções de leituras para cada encontro e á soJicitaçfo de desenvolvimento e os prob1emu de dimensfo macro que dificu~
um ensaio que, se recomenda, seja crítico. "Deve ser tam o processo social podem ser vencidos.

286 Revi,ta de Adminiltraç«J de Empre841


4 A Escola Nacional de Administraçlo (ENA) foi criada em sua fase culminante, a existência humana, em períodos hist6ricos
1848 e funcionou até 1849, quando entrou em recesso, para anteriores, é considerada imperfeita. E, na medida em que nem
reaparecer como projeto de 1937. todas as sociedades contemporâneas tenham atingido simultanea-
mente o mesmo grau de progresso, a existência humana nessas
sociedades menos desenvolvidas, que caminham atrás das mais
5 O primeiro destes grupos foi constituído por Getúlio Vargas
avançadas ou mesmo historicamente em fase terminal, é também,
em 1952 e é integrado por Simões Lopes, Roberto Campos e necessariamente, imperfeita. Por exemplo, a noção de Terceiro
Sebastião Santana e Silva. Getulio Vargas solicita estudos que Mundo reflete a visfo serialista da hist6ria de hoje, já que prelBU-
vão resultar na Lei n9 3.563/53, da Câmara dos Deputados,
põe o segundo e o primeiro" (p. 39).
que propõe a reorganização da administração federal. Não sen-
do aprovada, cria-ae a Comisslo de Estudos e Projetos Admi-
nistrativos (CEPA) em 1956, integrada pelos técnicos do Dasp 9 Paulo Freire reviu o conceito de conscientizaçi"o em entrevista
já mencionados, que trabalhou durante todo o qüinqüênio dada a Carlos Alberto Torres, publicada em Di4Jogo com Paulo
Kubitschek. O produto de trabalho da CEPA foi parcialmente Freire, São Paulo, Loyola, 1979.
aproveitado, mas a parte mais substantiva de suas recomen-
dações não foi utilizada. Em 1956, cria-se a Comissão de Sim-
plificação Burocrática (COSB) junto ao Dasp, a quem cabia
executar alguns estudos especiais sobre delegação de compe-
tências, estruturas e rotinas dos ministérios e assuntos corre-
latos. A criação do Ministério de Reforma Administrativa no
Governo Joio Goulart originou li criaç4"o da Comisslo Amaral
Peixoto, que teve por objeto de trabalho a reforma dos servi-
ços públicos federais. A comiss4"o apresentou quatro projetos,
sendo o principal deles o Anteprojeto de Lei Orgânica do Siste-
ma Administrativo Federal, que não foi também aprovado pelo
Congresso. O Governo Castelo Branco decide implantar a refor-
ma administratiVa por meio de decreto-lei. A Comissão Espe-
cial de Estudos de Reforma Administrativa (Comestra) foi cria-
da em 1946, tendo por finalídade o resultado de projetos já
elaborados e a proposta de outros considerados necessários à
melhoria da administ:raçfo. O Anteprojeto de Lei de Reforma
Administrativa encaminhado ao ministro do planejamento deu
origem ao Decreto-lei n9 200, de 25 de fevereiro de 1967, que,
segundo Mitraud, constitui marco dos mais relevantes da hist6ria REFERBNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
administrativa brasileira.
Bellack, Amo La estructum dei conocimiento y el cum-
6 Com a EBAP, a Secretaria-Geral de Planejamento celebrou, em culum.mimeogr.
1971, o Convênio de Assistência Técnica para a Reforma Admi-
nistrativa, com vistas à reorganização de vários ministérios e Caiden, Gerald & Caravantes, Geraldo. Reconsideração
entidades públicas, totalizando 16 grandes projetos. O programa
de reforma administrativa do estado da Bahia, bem como de ou- do conceito de desenvolvimento. Revista de Administra-
tros estados do Nordeste, foi desenvolvido pela Escola de Admi- ção PúbliCtl, Rio de Janeiro, 16 (1): 4-16,jan./mar. 1982.
nistração da UFBA e pelo ISP. Diz Joio Eurico Mata que, em
17 anos, 4.500 pessoas participaram dos programas e cursos de Caravantes, Geraldo. Tecnologia apropnaaa para o
treinamento para servidores públicos. Cerca de 1.160 pesaoas
entre técnicos, empresários e políticos, participaram de 19 sim-
desenvolvimento de recursos humanos no setor público
p6sios sobre políticas governamen1ais de março a agosto de - uma nova abordagem. mimeogr.
1965. No período 1965-70, o ISP produziu 239 documentos
técnicos, envolvendo-se decisivamente na reforma universitária. Cavalcanti, Bianor Scelza. Formação do administrador
A FDRH foi uma evoluçio do Centro de Delenvolvimento de público: alternativas em debate. Revista de Administra-
Recursos Humanos para a Admilústnçlo Estadual (Cedrae),
vinculado à Junta Coordenadora de Reforma Administrativa. ção Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas,
A FDRH incorpora o patrimônio e a estrutura da Ced!ae, caben- 15 (3): 31-53,jul./set. 1981.
do-lhe, inicialmente, o atendimento da clientela da administra-
ção pública. Dalland, Robert. Administração pública como uma
ctência política no contexto brasileiro. Revista de Admi-
7 O autor nfo menciona· doia 6q4"os que nfo se enquadram nas nistraçiio Pública, Río- de Janeiro, Fundaçfo Getulio
categorias apresentadas: o Centro de Es1Udes e Pesquisai em Ad- Vargas, 3 (2): 73-94,jul./dez. 1969.
ministraçfo da UFRS e o Centro de Estudos Interdisciplinares
para o Setor Público (lSP) da UFBA, que tiYeram suuqens no
Ponto IV e Iio centros de treinamento 1ipd01 • unlvetsidades, Giroux, Henry. PedIIgogia radical. Trad. Dagmar Ribas.
mas com autonomia de ~. No período. porém, • açIo desses São Paulo, Cortez, 1983.
dois 6rgãos foi bastante desativada.
Guerreiro Ramos, Alberto. Administraçiio e estratégia
8 Diz Guerreiro Ramos, em A nova ciência dai Organizações: de desenvolvimento.Rio de Janeiro, Fundação Getulio
••A noção de que a hist6ria revela seu si,sniflCadoatravés de uma
série de estágios empírico-temporais é comum ao acadêmico Vargas, 1966.
liberal de tipo padrão, tanto quanto aos te6ricos ~tas e
neomarxístas, (...) Nos escritos dos epígonos do Iluminismo, o ------""'. A nova ciência das organizações: uma
tempo em que supol1amente a natureza humana se atualiza é reconcertuação (la riqueza das nações. Trad. Mary Carva-
essencialmente serializado. Através de distintos graus qualitativos lho. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1981.
de atualização, que correspondem a diversos degraus existentes
numa espécie ascendente e seriada de tempo, a natureza humana
muda sua estrutura. Além disto, nesta perspectiva iluminista exís-
----o A modernízação em nova perspectiva em bus-
te um momento hist6rico culminante em que a natureza humana ca de um modelo de possibilidades. Revista de Adminis-
alcança seu estágio final e perfeito (...). Quando avaliada em tração Pública, Rio de Janeiro, 17 (1): 5-31, jan./mar.
comparação com.a estrutura que supostamente de" alcançar em 1983.

Adminiltraçiío prlbliCII 287


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