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Transtornos Mentais pelo Uso de
Substâncias Psicoativas
INTRODUÇÃO
Tabela 9.1
Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Intoxicação Aguda (F1x.0)
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Tabela 9.2
Diretrizes Diagnósticas da CID-1 O para Uso Nocivo (F1 x.1)
• O diagnóstico requer que um dano real deva ter sido causado à saúde física e mental do
usuário.
• O padrão de uso é freqüentemente criticado por outras pessoas e está, com freqüência
associado a conseqüências sociais diversas. '
• O fato de que um padrão de uso ou uma substância em particular não seja aprovado por
outra pessoa, pela cultura ou que possa ter levado a conseqüências socialmente negativas
tais como prisão ou brigas conjugais , não é por si mesmo evidência de uso nocivo. '
• A intoxicação aguda ou a "ressaca" não é evidência suficiente para codificar o uso nocivo.
• Não deve ser utilizado se outra forma específica de transtorno por uso de substância psico-
ativa estiver presente.
Tabela 9.3
Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Síndrome de Dependência (F1x.2)
O diagnóstico deve ser feito somente se três ou mais dos seguintes requisitos tiverem ocor-
rido em algum momento durante o ano anterior:
a) forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
b) dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quan-
tidade;
c) presença de síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da
mesma;
d) presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para
obter o mesmo efeito anterior;
e) abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em favor do uso da substância;
f) persistência no uso, apesar das diversas conseqüências negativas.
Tabela 9.4
Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Estado de Abstinência (F1x.3)
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-
Tabela 9.5
Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Transtorno Psicótico
pelo Uso de Substância Psicoativa (F1 x.5)
Tabela 9.6
Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Slndrome Amnéstica (F1x.6)
ÁLCOOL
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Em qu:tlquer t\·gi:10, nas mais diversas c:poc:as, <.: enlre quase lo .
- sao
povos - exceçao ~ os mu çu 1manos cJ q101s· e1e Maome- - a pr"s,-•e.1Os Os·
. . ' '-• --nçél d
álcool se foz obrigatória . Seu uso se estend<: dos rituais religiosos, ceri, • ?
as de iniciação, reconciliações, confraterniz:1ções, comemorações pa;?,11 ~-
. , . . , . f-. rrot1-
cas, v1tonas esportivas, nupc1as, en 1111 , a qua 1quer pretexto e mcsn,o .
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pretexto algum ...
Ape~as a partir cl~ séc:il~ xvrn,_o a~cool~smo c~meçou a ser conside.
rad? na area ele atuaçao medica , pois ate entao era tido como fraqueza do
cara ter.
EPIDEMIOLOGIA
DIAGNÓSTICO
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1
d
- es~o~ç~s repetidos de controlar ou reduzir a ingestão alcoólica;
- ep1~od1os ele intoxicação aguda freqüentes ;
_- penados amnésticos para situações que ocorreram durante a intoxi-
caçao aguda (hlackouts);
. , - ing~stào continuada , apesar de haver um transtorno sério que o in-
chvidu~ saiba_ ser exacerbado pela utilização de álcool;
-=- m?es~ao de álcool não apropriado para consumo, como perfumes ou
substancias industriais.
Os ~lcoolistas apresentam um funcionamento social ou ocupacional com-
prometido por fatores como violência enquanto intoxicado, faltas ao traba-
lho, perda de emprego, dificuldades legais, acidentes de trabalho e de trá-
fego, discussões com a família ou amigos por causa do uso excessivo.
Diversas tentativas de classificações têm surgido. Utilizam dados basea-
dos na quantidade ingerida , no grau de perda de controle, nas conseqüên-
cias sociais, em critérios fisiológicos e bioquímicos, e nos fatores psicológi-
cos. Jellinek, em 1960, classificou os alcoolistas conforme o padrão de uso
da bebida. Embora não seja perfeita , é utilizada porque evoca padrões clí-
nicos, culturais e critérios de in- e exclusão. Inclui os tipos:
- alfa: inicialmente, o indivíduo procura o álcool em situações sociais e
o utiliza em excesso. Após um período indeterminado, as situações são apenas
desculpas para o seu uso. O álcool é necessário para manter a pessoa em
estado de bem-estar psíquico. O uso é sintomático; alivia a ansiedade, a ten-
são, mas com o tempo excede a nonna social. A família e os amigos são os
primeiros a notar. É o tipo de melhor prognóstico e muitas vezes reversível;
- beta: é o alcoolismo típico das regiões grandes produtoras de álcool,
como por exemplo, o vinho na Itália, a vodca na Polônia e a cachaça no Brasil.
O consumo é determinado por fatores culturais; é regular, diário, mas não ex-
cessivo. Em geral, os indivíduos com este tipo de alcoolismo procuram ajuda
médica devido a complicações clínicas, como cirrose, pancreatite e neuropatia;
-gama: caracteriza-se pelo uso patológico e sem controle. A tole rância
e a abstinência estão presentes. Freqüentemente é um agravamento das for-
mas anteriores (alfa ou beta). O indivíduo só pára de beber quando perde
a consciência. Literalmente, é o "beber até cair". Não e controle de quando
começar ou parar de beber. O prognóstico social e familiar é ruim;
- delta: é um tipo d e agravamento da forma be ta. Diferentemente da
forma gama, o indivíduo não perde o controle da quantidade, mas, se inter-
rompe o consumo, apresenta síndrome de abstinência. Como exemplo, o
indivíduo que be be regularme nte meia garrafa de vinho às refeições durante
vários anos, um dia é hospitalizado para cirurgia de hérnia e após três dias
sem b e ber apresenta síndrome d e abstinê ncia;
- épsilon: é a dipsomania ou alcoolismo periódico. O indivíduo é abs-
tê mio grande parte do tempo, mas em determinados períodos (depressã o ,
e pile psia, an sie dade e tc.) bebe exageradamente, sem qualquer controle. Es-
ses períodos são limitados e, assim como começam, terminam.
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◄
. . · ·caç-1o sintomas físicos ou obr1· d
forçados devido a sintomas e1e mtoxi .• ' ga os
peb lei. I I' . , , h·. , ·
O modo correto para se diagnosticar O ~1 coo ismo e uma _15 rona com-
.
p ieta e d 1gna d e conf'1ança (nem sempre poss1vel de obter. . do paciente)
, , aliacta
, .
ao exame f1s1Co, ps1qu1
, ·coe a alguns exames laboratona1s. ·
Um metodo gros
1 -
1O
seiro de avaliar o uso excessivo de álcool é pe aparecimet:to e e complica-
- c1,m1c:1s.
çoes • Esse me'todo , entretanto
, , só detecta
.. o alcoolismo em fase i·a,
tardia grave mas difícil de deter, e não identif1Ca uma vaS ta gama de alco-
olista; que ~unca desenvolvem complicaçõe~ clínicas. .
Poderemos observar o alcoolismo em diferentes fases de desenvolvi-
mento da dependência:
1. Fase pré-alcoólica: o indivíduo começa a se_ afaS tar dos ?adrões soci-
ais. O uso ainda é sintomático, para diminuir a ansiedade, tensao ou depres-
são. Essa fase pode durar de seis a 12 anos. .
2. Fase prodrômica: caracteriza-se por um compro;n_e timento orgânico
maior. Podem aparecer os episódios de hlackout (amnes1a lacunar para pe-
ríodos de intoxicação). É fase importante para o diagnóstico e tratamento.
Pode dur:ir ele seis meses a cinco anos.
3. Fase crucial: ocorre a perda do controle. Aparecem também a síndro-
me de abstinência e diversos sintomas físicos . Os problemas sociais e fami-
liares são graves.
4. Fase crônica: o indivíduo permanece embriagado durante todo o dia.
As complicações psicóticas e mnêrnicas estão presentes. Não há qualquer
controle ela quantidade. Pode ocorrer síndrome demencial.
Intoxicação Alcoólica
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Intoxicação Alcoólica Idiossincrásica
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Alucinose Alcoólica
Ciún1e Patológico
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HIPÓTESES ETIOLÓGICAS
Fatores Genéticos
Cinqüenta por cento dos alcoolistas têm pais com o mesmo problema.
Gêmeos monozigóticos têm duas vezes a taxa de concordância, em contras-
te aos gêmeos dizigóticos. Estudos com filhos de alcoolistas adotados por
famílias abstêmias reforçam o caráter genético.
Doenças Mentais
Personalidade
Fatores Metabólicos
Fatores Culturais-Comportamentais
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mas fanu1i3 s t:1ml~m r~m no :ilc00l J ~p...,, u p.trJ J Ít.":,..'TÜ :- ~.- pni,,,~\'lt,i .
Todas ess..1:- siru:1Ç'ÓQ podem ie,-.H imfü·id uü , .h" Jht~~"'\ ,, 1..\..)1):-'-'•qüt>mt' 1.:~
pendênci:1 .
OPIÓIDES
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r-
O tratamento da dose supraclínica é situação de emergência médica.
Além da manutenção dos sinais vitais, utiliza-se um antagonista opióide, a
naloxona (o,4mg/endovenosa/ quatro a cinco vezes por hora).
O tratamento da abstinência pode ser realizado com a metadona - um
opíóide sintético - na dose de 20 a 80mg/dia para estabilizar o paciente. A
retirada diária e gradual de metadona é mais fácil do que com os outros
opióides e seu uso médico é legal. O uso oral em vez do endovenoso, fa-
cilita a liberação da dependência. entretanto, o indivíduo contínua um usu-
ário de narcótico, necessitando de ajuda médica para livrar-se do problema
e com grave risco de recaída.
O tratamento multidisciplinar, em comunidade terapêutica, com equipe
especializada no tratamento de episódios de superdosagem, abstinência, pro-
blemas sociais e familiares, pode proporcionar nos melhores resultados.
CANABINÓIDES
BENZODIAZEPÍNICOS
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siedade (transtorno do pânico, fobia social, trans
mento d as e\o enças de an d · h' , · -
. d· de genenlizada) como se ativos , 1pnot1cos, relaxante
tomo d e ans1e a. . ' ntes anestes1cos
' , . e no t ra tamento d e abstin . . s
musculares, anttconvu 1siva , en-
cia alcoólica. , . de que ~
enzodiazepínicos e menos iara se supoe. Talvez
O ab uso de b - d f · ·
_ quem inicialmente sensaçao e eu ona, e muitas vezes cau-
porque nao provo , - f' ·1 Q
- A detecção do abuso não e tao ac1 . uase sempre os indiv'1
sem depressao. , . d' , . -
odiazepimcos apresentam outros iagnosticos psi·
duos que ab usam de benz . . .. _
., . transtorno de personalidade ou quadros ansiosos cronicas
qu1atncos, com0 _ . , . .
Os benzodiazepínicos sao fracos depressores do centro re~riratono, e
os casos de intoxicação aguda grave não resultam em consequencias irre-
versíveis.
Todos os compostos benzodiazepínicos podem prov~car síndrome de
abstinência . A gravidade desta síndrome p,a_rece estar associa?ª ~o tempo de
uso do medicamento, sua potência em miligramas e sua meia-vida. Quanto
maior O tempo de uso, maior a potência em miligramas e menor a meia-
vida, mais grave a síndrome de abstinência. Por exemplo, o alprazolam, que
apresenta meia-vida curta (em tomo de cinco horas) e é muito potente em
miligramas (com 3mg já se obtém efeito para o tratamento do transtorno do
pânico), apresenta um sério risco de síndrome de abstinência. Os pacientes
em uso terapêutico de alprazolam devem utilizá-lo em quatro tomadas diá-
rias, devido à meia-vida curta e o conseqüente risco de síndrome de absti-
nência entre tomadas mais distanciadas. Os sintomas mais freqüentes são
ansiedade, insônia, ataques de pânico, irritabilidade, fadiga , tremores, náu-
sea, diminuição do apetite, sudorese excessiva, tontura , dificuldade de con-
centração, cãibras, dores musculares , parestesias, depressão, despersonali-
zação, desrealização, percepção sensorial aumentada , síndrome paranóide,
crises convulsivas do tipo grande-mal etc.
O tratamento ideal é prevenir a síndrome de abstinência. Os benzodia-
zepínicos, como qualquer outra medicação, só devem ser utilizados em in-
dicações específicas, com prescrição médica, e por tempo limitado. Quando
prescrevemos um benzodiazepínico devemos ter em mente o objetivo tera-
pêutico e o tempo de tratamento. Em geral, após três meses , seu uso deve
ser revisto, avaliando-se riscos e benefícios. A retirada deve ser lenta e gra-
dual, podendo durar de dois a seis meses para os de maior risco de síndro-
me de abstinência. Às vezes , é necessária a substituição do benzodiazepíni-
co de meia-vida curta ou potente em miligramas (alprazolam, lorazepam,
clonazepam etc.) por um de meia-vida mais longa e menos potente em
miligramas (clorazepato, clordiazepóxido) facilitando assim sua retirada.
' ' '
BARBITURATOS
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bição de impulsos sexuais ou agressivos, instabilidade do humor, julga-
mento precário, funcionamento social e laborativo comprometido. A into-
xicação aguda em associação com o álcool é um método frequente de
suicídio. A morte induzida por barbituratos segue a seqüência de coma
profundo, dificuldade respiratória e insuficiência cardiovascular. O trata-
mento da dose supraclínica começa com a indução do vômito (para paci-
entes lúcidos) e lavagem gástrica com a administração de carvão ativado
para retardar a absorção.
A síndrome de abstinência é similar à do alcoolismo, podendo ocorrer
quadro indistinguível do deliríum tremens alcoólico. O tratamento é sin-
tomático, com a manutenção dos sinais vitais e a utilização de um barbi-
turato de meia-vida longa , como o fenobarbital, por via oral ou muscular.
A retirada deste deve ser progressiva , acompanhada de um atendimento
multidisciplinar, com psicoterapia individual, de família e em grupo.
COCAÍNA
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ESTIMULANTES
ALUCINÓGENOS
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ser tratada com antipsicóticos e proteção ao paciente . Não há relato de
uma síndrome de abstinência específica. Como a tolerância se desenvolve
rápidamente , é raro o abuso crônico. Episódios de flash-back, tal como a
maconha, podem ocorrer.
NICOTINA
CAFEÍNA
SOLVENTES VOLÁTEIS
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tia. funcionamento social e ocupacional diminuído, prejuízo no julgamento
at~s impulsivos e agressivos, e amnésia pa~a ~ ?eríodo de i~toxicaçào. A
morte pode ser causada por depressão resp1ratona central, arritmias cardía-
cas asfixia ou acidentes.
'Não é certo que haja síndrome de abstinência típica , embora exista to-
lerância substancial após a inalação repetida.
o tratamento envolve medidas sociais, psicológicas e farmacoterápicas
(conforme os sintomas apresentados) .
BIBLIOGRAFIA
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