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Esquizofrenia
INTRODUÇÃO
HISTÓRICO
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geral de doenças do metabolismo, junto co~ 0 mixedema e o cretinismo
Foi só em 1899 (sexta edição) que a dementia praecox ganhou autono . ·
para se contrapor à "loucura maníaco-depressiva" que também apan~nta
com autonomia , pela primeira vez, no índi~e do li~ro. Eugen Bleuler (19 1~~•
psiquiatra suíço, introduziu o termo esquizofrenia para substituir dem" '
eia precoce porque considerava que ~s distúrbios e~am de natureza d~~:
rente dos processos clemenciais descntos por Alzheimer ou de outras de-
mências orgânicas. Por outro lado, nem sempre eram precoces. O objetivo
de Bleuler era procurar um distúrbio fundamental em que pudesse basea
o diagnóstico sem fixá-lo no curso ou nos _q ua~ro~ finais . O termo esqui~
zofrenia ("mente cindida") expressava a d1ssoC1açao do pensamento do
afetos e da expressão motora . O novo conceito de Bleuler que o nom:
simbolizava ganhou enorme repercussão. Bleuler descreveu sintomas fun-
damentais que incluíam os distúrbios na associação do pensamento, os
distúrbios afetivos, a ambivalência e o autismo . Estes sintomas ficaram
conhecidos como os quatro "as' de Bleuler. Falava também de sintomas
acessórios como as alucinações e delírios .
Os critérios de Bleuler estão resumidos na Tabela 10.1:
Tabela 10.1
,Eugen
. Bleuler
. .e Karl
. .Jaspers , e s te u, Ituno
· ·
introdutor do método fenome-
0?10gico em ps,iquiatna, influenciaram toda a psiquiatria a partir da segunda
decada
.d deste seculo · O . esforço
_ d os 1eenomenolog1stas• no sentido de procu-
rai
K escrever
s h .d com precisao as exp ·" · · ·
enencias vividas pelos pacientes teve em
urt e_ ne,i ber o redsultado mais bem-sucedido do ponto de vista clínico. Ao
renunciar
. . a usca . o transtorno
. funda menta l , encaminhou-se
· · ·
para d1stm-
gulf sintomas de pnmelfa e d e segunda ordens .. .
diagnóstico d e modo mais sim . . que permltlram organ:zar o
. f' . .d . . P1es e mais preciso. Em outras palavras e bem
mais ac11 1 ent1f1car com acordo entre d :c .
uerentes examinadores • ' · ·
(f1ded1gm-
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dade) o que é um delírio ou uma alucinação (ver Tabela 10.2), do que ocor-
rer acordo diagnóstico quanto a distúrbios do afeto ou retraimento social
(ver Tabela 10.1)
Tabela 10.2
Critérios de Kurt Shneider
1- Perplexidade
2- Idéias delirantes repentinas ou eventuais {ocorrências delirantes)
3- Sentimento de empobrecimento emocional
4- Alterações depressivas e eufóricas do humor
6- Sintomas catatônicos
5- Vários outros
Tabela 10.3
Diretrizes Diagnósticas da CID-1 O para Esquizofrenia
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_,1
c) Vozes alucinatórias comentando o comportamento do paciente ou discutindo entre
elas sobre o paciente ou outros tipos de vozes alucinatórias vindo de alguma parte do
corpo;
d) Delírios persistentes de outros tipos que são culturalmente inapropriados e comple-
tamente impossíveis. tais como identidade política ou religiosa ou poderes e capaci-
dades sobre-humanas (p. ex., ser capaz de controlar o tempo ou de se comunicar
com alienígenas de outro planeta) .
A CID- 1O. no que respe ita ao c urso . propõe que ~e use os seguintes
códigos d e c inco caracte res:
f20 .xO - Cont ínuo
F20 .xl - Episódico com déficit progress i\·o
f 20.x2 - Episódico com d é fic it estáYel
F20.x3 - Episódico re m ite nte
F20.x4 - Re missé1 o incomple ta
F20 .x5 - Re missào comple ta
F20.x
Outro F20 .x9
Períod o d e observação me n o r d o que um a n o
EPIDEMIOLOGIA
A esquizo fre nia ocorre e m todo o mundo . não hJ.,·e ndo dife rem.":ls qu:imo
ao sexo , classes socia is, e ntre países d esen\·o h ·ido s e e m d es~m·o h·imento.
e e ntre á reas urbana e rur;il.
A prevalê ncia p o r tod a a , ·icb está e ntre l ºó e 1. .:;~o....\pl:'.sa r d e :tco meter
ig u alme nte os d o is sexos, a id:id e d e início no se xo nuscul in o (e ntre 15 e 25
a nos) é e m mé dia um pouco inferio r :'.l d o sexo fem inino (.~ntre 25 e 35 a n 05).
O início a ntes d os 1O :ino s d e idade o u ap ó s os .:;o :m os de idad e é extreffi3-
m e nce ra ro .
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-
~ ?bservaç~o, i?teressante é que grande número de pacientes esquizo-
fremcos com m1e1o tardio (após os 30 anos de idade) nasceu no inverno
ou no início da primavera. Várias hipóteses foram levantadas com base
nessa observação, como a possível etiologia virai (um vírus de ação retar-
da~a _9ue_seria a~~uirido nesse período), fatores ligados à temperatura ou
def1c1enc1as nutnc1onais.
. O suicídio é uma causa freqüente de morte entre esquizofrênicos. Apro-
ximadamente 50% dos pacientes tentam ao menos uma vez o suicídio, e
entre 10% a 15% se suicidam em 20 anos de acompanhamento. Os fatores
principais que aumentam o risco de suicídio incluem: presença de sin-
tomas depressivos, idade jovem e nível elevado de funcionamento pré-
mórbido.
DIAGNÓSTICO
Formas Clínicas
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Uma preocupação superficial e pseudofüosófic-a com religião e outros ten12s
abstratos aumenta a dificuldade que tem o obserY3dor comum p3ra .1corr.-
panhar o curso do pensamento desses pacientes.
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vem ainda estar presentes, mas não dominam o quadro clínico. Predomi-
nam os sintomas negativos. Raramente os sintomas depressivos são sufi-
cientemente intensos para preencher os critérios de um episódio depres-
sivo grave (F32.2 e F32.3). Esse estado depressivo está associado a um
risco maior de suicídio. Freqüentemente é difícil decidir se os sintomas
são devidos à depressão ou a medicações neurolépticas ou, ainda, ao em-
botamento afetivo da própria esquizofrenia.
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Tabela 10.4
Classificação da Esquizofrenia segundo T.J. Crow (1985)
Resposta
Subtipo Sintomas Principais aos Fármacos Etiologia
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Tabela 10.5
Diagnóstico Diferencial da Esquizofrenia
Transtornos Psiquiátricos:
- episódio depressivo com sintomas psicóticos
- mania com sintomas psicóticos
- outras psicoses : transtorno delirante , psicoses atípicas, transtorno esquizofreni-
forme etc;
- transtorno obsessivo-compulsivo
- transtorno esquizoafetivo
- farmacodependência : alcoolismo, maconha, alucinógenos, cocaína, anorexíge-
nos, etc.
- transtornos de personalidade: paranóide, esquizóide, esquizotípico
Medicamentos: corticóides , 1-dopa, bromocriptina, estimulantes (efedrina, metilfeni-
dato, etc.), anticolinérgicos (biperideno, atropina), .antimaláricos etc.
Condições Clínicas: infecções do SNC (sífilis, Aids, tuberculose etc.), tumores do
SNC, doenças degenerativas (doença de Wilson, coréia de Huntington etc.) , epilepsia
psicomotora, traumatismo crânio-encefálico, doenças desmielinizantes, partirias, doen-
ças auto-imunes (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico) , endocrinopatias, deficiências vita-
mínicas (tiamina, folato etc.) , distúrbios metabólicos, insuficiência renal etc.
1
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EXAMES COMPLEMENTARES
HIPÓTESES ETIOLÓGICAS
Apesar dos grandes avanços que vêm sendo feitos , a etiologia da esqui-
zofrenia continua desconhecida. Não há dúvida sobre a base biológica, que
por si só não explica todos os fatores envolvidos. O modelo freqüentemente
usado da diátese-estresse postula que se pode ter uma vulnerabilidade es-
pecífica (diátese) que , pressionada por fatores ambientais estressantes, per-
mite o desenvolvimento dos sintomas esquizofrênicos. Sem a dimensão bi-
ológica (base), não há esquizofrenia. O componente ambiental pode ser
biológico (por exemplo, infecção, intoxicação) ou psicológico (perda de
pessoa significativa) ou estados estressantes de qualquer natureza.
Aspectos Bioquímicos
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Aspectos A11atomopatológicos
ASPECTOS GENÉTICOS
Tabela 10.6
Prevalência da Esquizofrenia na Família de Esquizofrênicos
100
TRATAMENTO
FARMACOTERAPIA
101
que os efeitos extrapiramidais (parkinsonismo,. distonia
. , . aguda e acatis•ta )
podem ser facilmente tratados; já a cliscines1a tare1ta e irreversível.
As principais cont1·a-indicações dos antipsicóticos são graves anormali-
dades cardíacas, alergias, interações com medicamento~ anticolinérgicos ou
sedativos, riscos de convulsões e sensibilidade aos efeitos anticolinérgicos
(retenção urinária, glaucoma etc).
Tabela 10.7
Principais Antipsicóticos
Fenotiazínicos
de cadeia alifática: clorpromazina, levomepromazina
- de cadeia fechada (piperazínicos ou piperidínicos): flufenazina, trifluoperazina, tiori-
dazina, pipotiazina
Butirofenônicos: haloperidol, droperidol, penfluridol, pimozide
Tioxantênicos: tiotixene
Dibenzodiazepínicos: clozapina, olanzapina
Benzoisoxazólicos : risperidona
Benzamídicos: remoxipiride*
102
Tabela 10.8
Neurolépticos de Ação Prolongada
Dois antipsicóticos atípicos merecem uma atenção especial pela sua re-
cente introdução no mercado:
- risperidona: apresenta efeito terapêutico nos sintomas positivos de
forma similar às demais drogas antipsicóticas, entretanto não é sedativa e os
efeitos extrapiramidais ocorrem com doses elevadas. Sua ação serotoninér-
gica sugere influência na sintomatologia negativa, mas ainda é muito cedo
para afirmações conclusivas. Seu uso nas emergências psicóticas é limitado,
já que nessas ocasiões o efeito sedativo é necessário, ficando sua indicação
maior para os pacientes ambulatoriais que não necessitam de efeito sedativo
ou têm sensibilidade aos efeitos extrapiramidais;
- clozapina: antipsicótico com efeitos similares aos demais, aliviando
o paciente de sintomas positivos. Apresenta maior chance de agranulocitose
que os demais, exigindo rigoroso acompanhamento hematológico. É muito
sedativa, hipotensora e diminui o limiar convulsivo. Tem a vantagem de não
apresentar sintomas extrapiramidais. Seu uso deve ficar reservado apenas
para os pacientes com sintomatologia muito exuberante e com ausência de
resposta favorável aos demais antipsicóticos ou sensibilidade extrema a efeitos
extrapiramidais. Não é uma droga para a prática clínica diária.
ESTRATÉGIAS PSICOSSOCWS
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Psicoterapias
Contrariamente ao que muitos psiq~iatr~s ~ psicanalistas supõem, Freud
nunca aconselhou psicanálise de esqu1zofremcos. So~~e sempre dos limi-
tes da psicanálise e tinha a intuição das causas somat1cas da esquizofre-
nia . Em 1917, escreveu : "Como vocês sabem, nossa t~rapêutica psiquiátri-
ca não é até agora capaz de influenciar os delírios. E talvez possível qu
- d
a psicanálise possa fazê-lo , graças à compreensao os mecanismos desses
e
sintomas? Não, senhores, ela não pode." Em suas Novas conferências in-
trodutórias (1932), refletindo sobre os limites da psicanálise, Freud acen-
tuou: "Isso é verdadeiro no que respeita às psicoses. Nós as compreende-
mos suficientemente para saber o ponto em que as alayancas devem ser
aplicadas; mas essas NAO são capazes de remover o peso. E aqui , na verdade
que nossa esperança de futuro repousa: a possibilidade de que o conhe~
cimento da ação dos hormônios (vocês sabem o que são eles) possa dar-
nos os meios mais bem-sucedidos de combater o fator quantitativo da
doença; estamos longe disso ainda hoje' (nossos os grifos) .
A psicoterapia de esquizofrênicos deve sempre fazer-se como tratamen-
to paralelo à medicação. Pretender tratar psicóticos apenas com psicotera-
pia é exercício de onipotência que contraria o ensinamento freudiano . Cin-
qüenta anos após a morte de Freud, a psicoterapia continua incapaz de
modificar a estrutura delirante. Os "hormônios" com que sonhava Freud estão
se tornando realidade. Isso não afasta a necessidade de acompanhar os
pacientes esquizofrênicos com uma psicoterapia que os ajude no caminho
de retorno à realidade que a medicação vem tornando possível.
PROGNÓSTICO
Tabela 10.9
Fatores que melhoram o prognóstico
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Início precoce e insidioso. _
Má adaptação pré-mórbida.
Isolamento social, autismo.
Sintomas negativos.
História familiar de esquizofrenia.
Episódios de reagudização sintomatológica.
BIBLIOGRAFIA
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