Você está na página 1de 13

3263

Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

Composição, riqueza e índices ecológicos do fitoplâncton do lago Bolonha


(Belém, Pará)

Composition, richness and ecological index of phytoplankton of lake Bolonha


(Belém, Pará)

DOI: 10.34188/bjaerv3n4-041

Recebimento dos originais: 20/08/2020


Aceitação para publicação: 20/09/2020

Eliane Brabo de Sousa


Doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva
Instituição: Seção de Meio Ambiente, Instituto Evandro Chagas/Ministério da Saúde
Endereço: Rodovia BR 316, km 7, s/n, Levilândia, Ananindeua- Pará, Brasil. CEP 67030-000
E-mail: elianesousa@iec.gov.br

Samara Letícia dos Santos Pinto


Discente do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará
Instituição: Universidade Federal do Pará.
Endereço: Avenida Augusto Corrêa 01, Guamá, Belém-Pará, Brasil, CEP 66.075-110
E-mail: slsp0605@gmail.com

Aline Lemos Gomes


Mestre em Ecologia Aquática e Pesca pela Universidade Federal do Pará /Núcleo de Ecologia Aquática e
Pesca da Amazônia
Instituição: Seção de Meio Ambiente, Instituto Evandro Chagas/Ministério da Saúde
Endereço: Rodovia BR 316, km 7, s/n, Levilândia, Ananindeua- Pará, Brasil. CEP 67030-000
E-mail: alinelemos@iec.gov.br

Celly Jenniffer da Silva Cunha


Mestre em Ecologia Aquática e Pesca pela Universidade Federal do Pará /Núcleo de Ecologia Aquática e
Pesca da Amazônia
Instituição: Seção de Meio Ambiente, Instituto Evandro Chagas/Ministério da Saúde
Endereço: Rodovia BR 316, km 7, s/n, Levilândia, Ananindeua- Pará, Brasil. CEP 67030-000
E-mail: cellycunha@gmail.com

Vanessa Bandeira da Costa Tavares


Mestre em Biologia Ambiental pela Universidade Federal do Pará
Instituição: Seção de Meio Ambiente, Instituto Evandro Chagas/Ministério da Saúde
Endereço: Rodovia BR 316, km 7, s/n, Levilândia, Ananindeua- Pará, Brasil. CEP 67030-000
E-mail: vanessacosta@iec.gov.br

Samara Cristina Campelo Pinheiro


Doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva.
Instituição: Seção de Meio Ambiente, Instituto Evandro Chagas/Ministério da Saúde
Endereço: Rodovia BR 316, km 7, s/n, Levilândia, Ananindeua- Pará, Brasil. CEP 67030-000
E-mail: samarapinheiro@iec.gov.br

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3264
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

RESUMO
O fitoplâncton varia em função dos fatores ambientais, hidrológicos e autogênicos. Em reservatórios
as mudanças do fitoplâncton conduzem às interpretações ambientais e ao diagnóstico da qualidade da
água. Este estudo avaliou a composição e os índices ecológicos aplicados ao fitoplâncton do
reservatório Bolonha (Belém, Pará) em dois períodos sazonais da região amazônica. As coletas foram
realizadas em novembro/2018 (seco) e maio/2019 (chuvoso) no ponto de entrada da estação de
tratamento de água- ETA. O fitoplâncton qualitativo foi coletado com rede de plâncton (45µm) e o
fitoplâncton quantitativo foi coletado diretamente na sub-superfície da água em frascos de
polipropileno (250 mL) em tréplica, sendo o material fixado com formol a 4%. O fitoplâncton foi
analisado em microscopia ótica e foram aplicados os valores de riqueza de espécies e dominância (D)
e os índices de diversidade de Shannon (H’) e Equabilidade de Pielou (E). O mês chuvoso apresentou
a maior riqueza de espécies (80 espécies), maior densidade (231,0 ind.L-1), maior diversidade (H=
2,6 bits.ind-1), maior equitabilidade (E=0,8) e menor dominância (D= 0,1). As classes de maior
representatividade de espécies para o mês seco foram Bacillariophyceae (33%), Cyanophyceae
(21%), Chlorophyceae (17%), enquanto no mês chuvoso foram Chlorophyceae (27%), Cyanophyceae
(19%) e Bacillariophyceae (15%). Porém, as cianobactérias (Cyanophyceae) foram mais densas em
ambos os períodos com média de 167,0 ind.L-1 e 97,0 ind.L-1, nos meses de novembro/2018 e
maio/2019, respectivamente. A espécie Pseudanabaena sp.1 foi dominante em novembro (seco) e as
espécies Phormidium lividum, Pseudanabaena limnetica, Urosolenia longiseta, Cryptomonas sp. e
Trachelomonas sp.1 foram abundantes no mês chuvoso. As cianobactérias encontradas em maior
densidade e abundância são tipicamente bentônicas e emergem para o plâncton devido à interação
sedimento-água, evidenciando que o reservatório é raso e sofre movimentos de revolvimento devido
a um canal de escoamento localizado no leito do reservatório Bolonha. O monitoramento do
fitoplâncton deve se intensificar nos meses menos chuvosos com ênfase nas cianobactérias.

Palavras-chave: reservatório, abastecimento, monitoramento.

ABSTRACT
Phytoplankton vary depending on environmental, hydrological and autogenic factors. In reservoirs
such as changes in phytoplankton, they lead to environmental interpretations and the diagnosis of
water quality. This study evaluated the composition and ecological indexes related to the
phytoplankton of the Bolonha reservoir (Belém, Pará) in two seasonal periods in the Amazon region.
The collections were collected in November/2018 (dry) and May/2019 (rainy) at the entry point of
the water treatment station - ETA. The qualitative phytoplankton was collected with a plankton net
(45µm) and the quantitative phytoplankton was collected directly from the water sub-surface in
polypropylene flasks (250 mL) in rejoinder, the material being fixed with 4% formaldehyde.
Phytoplankton were analyzed using optical microscopy and the values of species richness and
dominance (D) and the Shannon diversity index (H') and Pielou Equability (E) were calculated. The
rainy month showed the highest species richness (80 species), highest density (231.0 ind.L -1), greatest
diversity (H= 2.6 bits.ind -1), greatest equitability (E= 0.8 ) and less dominance (D= 0.1). The most
representative classes of species for the dry month were Bacillariophyceae (33%), Cyanophyceae
(21%), Chlorophyceae (17%), while no rainy months were Chlorophyceae (27%), Cyanophyceae
(19%) and Bacillariophyceae (15%). However, cyanobacteria (Cyanophyceae) were more dense in
both periods with an average of 167.0 ind.L -1 and 97.0 ind.L-1, in the months of November/2018 and
May/2019, respectively. The species Pseudanabaena sp.1 was dominant in November (dry) and as
species Phormidium lividum, Pseudanabaena limnetica, Urosolenia longiseta, Cryptomonas sp. and
Trachelomonas sp.1 were abundant in the rainy month. Cyanobacteria found in greater density and
abundance are benthic and emerge into plankton due to the sediment-water interaction, showing that
the reservoir is shallow and undergoes upturning movements due to an outflow channel located in the

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3265
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

Bolonha reservoir bed. Phytoplankton monitoring should be intensified in the less rainy months, with
an emphasis on cyanobacteria.

Keywords: reservoir, supply, monitoring.

1 INTRODUÇÃO
O fitoplâncton é a base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos e tem sido utilizado
como indicador de alterações ambientais e da qualidade da água nestes sistemas, pois possui curto
tempo de geração e rápida resposta às mudanças ambientais (REYNOLDS et al., 2002; TIAN et al.,
2018). Diferentes abordagens de bioindicação são utilizadas com o fitoplâncton, sendo a abundância,
a riqueza, a diversidade e a composição as abordagens mais comuns (BIRK et al., 2012).
Na região amazônica são as abordagens presentes na maioria dos estudos, quer seja para os
ambientes limnéticos (COSTA et al., 2010; MONTEIRO, 2009; NETO et al., 2016) ou estuarinos
(SOUSA et al, 2009; COSTA et al., 2011; MATOS et al., 2012). De forma generalista, estas
abordagens são acompanhadas pela avaliação do ciclo sazonal da região caracterizado,
principalmente, pela distribuição espaço-temporal das chuvas, e pelas características físico-químicas
da água (SOUSA et al., 2013).
A abundância relativa é um atributo populacional, o qual se considera a razão de cada
população sobre toda a comunidade registrada em determinada região ou local de amostragens,
expressos em percentual. Vários autores trabalham com a abundância relativa em estudos de
fitoplâncton, mas comumente utilizam a categorização da abundância numa tentativa de identificar a
população que tem maior representatividade (LOBO; LEIGHTON, 1986; GAMMAL et al., 2017).
A riqueza é representada pelo número de espécies presentes em cada estação ou período de
estudo. Nabout et al. (2007) sugere que a riqueza de espécies permite expressar a complexidade de
uma área. Portanto, a riqueza é uma ferramenta que busca, sobretudo, identificar os elementos e/ou
fatores ambientais que proporcionam a manutenção destas espécies em determinado hábitat.
A diversidade varia no tempo e no espaço e se trata da distribuição das espécies a partir das
grandezas riqueza e abundância relativa. É uma medida da estrutura da comunidade que permite
inferir o funcionamento do ecossistema, tais como a produtividade primária (DUARTE et al., 2006).
O índice mais utilizado para o fitoplâncton é o Shannon o qual dá maior peso para as espécies raras
(SHANNON; WEAVER, 1948). Diferente do índice de dominância de Simpson que mede a
probabilidade de dois indivíduos, selecionados ao acaso na amostra, pertencer à mesma espécie
(URAMOTO et al., 2005). Quanto maior o valor da dominância, menor a sua diversidade. O índice
de equitabilidade de Pielou (eveness) é derivado do índice de diversidade de Shannon e permite

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3266
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

representar a uniformidade da distribuição dos indivíduos entre as populações existentes (PIELOU,


1966).
Os índices e os atributos populacionais aplicados ao fitoplâncton constituem uma abordagem
importante para interpretar às condições ambientais. Desta forma, este estudo avaliou a composição
e os índices ecológicos aplicados ao fitoplâncton do reservatório de abastecimento Bolonha (Belém,
Pará) em dois períodos sazonais da região amazônica.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo e ponto de amostragem
O sistema integrado Bolonha-Utinga é responsável pelo abastecimento de água de mais de 70
% da população da Região Metropolitana de Belém (RMB), sendo formado pelos reservatórios
Bolonha e Água Preta, alimentados pelo Rio Guamá (ANA, 2010).
O reservatório Bolonha possui 2.100 m3 de água acumulada, 512.540 m2 de lâmina d’água,
profundidade máxima em torno de 5 m e uma área total de 1.790.000 m2 apresentando uma forma
alongada. É classificado como hipertrófico representado pela proliferação intensa de macrófitas
aquáticas (GONÇALVES et al., 2015).
A vegetação típica do entorno do reservatório é caracterizada por árvores de grande e médio
porte característica da região amazônica (SOUSA, 2017). O clima da RMB é equatorial quente e
úmido, mais próximo do Af1 de Köppen, com baixas amplitudes térmicas e distintas variações
mensais dos seguintes fatores climáticos (FIGUEROA; NOBRE, 1990).
As coletas ocorreram na porção sul-sudoeste do reservatório no ponto protegido por uma
barreira de contenção de macrófitas, na entrada da estação de tratamento de água – ETA, nos meses
de novembro/2018 (seco) e maio/2019 (chuvoso) (Figura 1). Neste ponto foram coletadas águas para
análise qualitativa e quantitativa do fitoplâncton.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3267
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

Figura 1. Área de estudo, reservatório Bolonha (Belém, Pará).

ponto de coleta

Fonte: Sousa et al. (2020)

Coleta e análise das amostras


O fitoplâncton qualitativo foi coletado com rede de plâncton (45 µm) em arrasto horizontal
durante 3 minutos. O material foi fixado com formol a 4% e analisado em microscopia ótica de luz
Axio Lab. A1, acoplado a câmera Zeiss AxioCam ERc 5s, usando lâmina-lamínula.
O fitoplâncton quantitativo foi coletado diretamente na subsuperfície da água em frascos de
polipropileno (250 mL) em tréplica, em seguida o material foi fixado com formol a 4%. O fitoplâncton
foi analisado em microscópio invertido AxioVert. A1, acoplado a câmera Zeiss AxioCam ICc 5 com
software de captura e medição de imagens. A contagem foi realizada segundo a metodologia 10200
F. (Standard Methods for the examination of water and wastewater, 2017), utilizando câmara de
sedimentação com volumes de 5 a 10 mL (UTHERMÖHL, 1958) e os resultados foram expressos em
indivíduo por litro (ind.L-1).
A identificação e a classificação dos táxons foram baseadas em Bicudo e Menezes (2017),
Komárek e Anagnostidis (2005; 2008) e Round et al. (1990).

Análise dos dados


A abundancia relativa foi calculada a partir da densidade média da triplicata, sendo
estabelecidas as seguintes categorias: dominantes: para valores acima de 50% do número total de
indivíduos das espécies em uma amostra e abundantes: para os valores superiores à média do número
total de indivíduos em um amostra (LOBO; LEIGHTON,1986).

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3268
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

Foram calculados os valores de riqueza de espécies e dominância (D) e os índices de


diversidade de Shannon (H’) (SHANNON; WEAVER, 1948), Equabilidade de Pielou- E (PIELOU,
1966), calculados no software estatístico Past versão 2.17c (HAMMER et al., 2001).

3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Foram identificadas 80 espécies de fitoplâncton distribuídas em 11 classes. A classe mais
representativa foi Chlorophyceae com 22 espécies. As classes de maior representatividade de espécies
para o mês de novembro/2018 foram Bacillariophyceae (33%), Cyanophyceae (21%), Chlorophyceae
(17%) (Figura 2A), enquanto para o mês de maio/2019 foram Chlorophyceae (27%), Cyanophyceae
(19%) e Bacillariophyceae (15%) (Figura 2B). A riqueza de espécie variou de 42 espécies (seco) a
80 espécies (chuvoso).

Figura 2. Composição percentual das classes do fitoplâncton do reservatório Bolonha (Belém, Pará): A- novembro/2018
(seco); B- maio/2019 (chuvoso).
A
Cyanophyceae
21%
Bacillariophyceae
33%

Chlorophyceae
17%
Coscinodiscophyceae
5%
Prymnesiophyceae Trebouxiophyceae
5% 7%
Euglenophyceae Zygnematophyceae
10% 2%

Bacillariophyceae B Cyanophyceae
15% 19%

Coscinodiscophyceae
5%
Prymnesiophyceae
1%
Chrysophyceae
3%
Xanthophyceae
3%
Cryptophyceae
4%
Chlorophyceae
Euglenophyceae 27%
6%

Zygnematophyceae
7%
Trebouxiophyceae
10%
Fonte: Sousa et al. (2020)

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3269
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

A composição e a riqueza das espécies foram muito semelhantes às registradas por Costa et
al. (2010) para o reservatório Água Preta, interconectado com o reservatório Bolonha, na qual às algas
verdes são as mais representativas durante o período chuvoso. Por outro lado, as Bacillariophyceae
são mais representativas do período seco (PIRES et al., 2019), devido a contribuição do Rio Guamá,
estuário que alimenta as águas do sistema integrado Bolonha-Utinga, do qual o reservatório Bolonha
faz parte. Ressalta-se que as diatomáceas compõem mais de mais de 75% do fitoplâncton do Rio
Guamá (MONTEIRO et al., 2009).
Segundo Sousa (2017), o Rio Guamá exerce maior influência nos reservatórios de
abastecimento durante os meses mais secos, devido diminuir, sobre os reservatórios, a contribuição
das chuvas e aumentar a demanda de água pelos consumidores.
A sazonalidade do fitoplâncton é bem referenciada nos trabalhos realizados na região
amazônica, porém o período de maior ou menor densidade é controverso. No presente estudo a
densidade foi mais elevada no mês chuvoso (234,0 ind.L-1) do que no mês seco (179,0 ind.L-1) (Figura
3).
Diferente de Sousa (2017) que observou no reservatório Bolonha elevada densidade do
fitoplâncton no mês seco, devido a contribuição de espécies estuarinas, sobretudo diatomáceas. Neto
et al. (2016) também encontraram maiores densidades do fitoplâncton nos meses menos chuvosos em
um ponto de amostragem no Rio Guamá, defronte a entrada de água para o sistema de abastecimento
Bolonha-Utinga.
Sousa et al. (2013) observaram elevada densidade do fitoplâncton no período seco em rios de
águas brancas devido a contribuição das águas provenientes da foz do Rio Amazonas que alcança em
menor ou maior proporção os diversos rios do estado do Pará. Semelhante observação foi realizada
por Paiva et al (2006), quando estudou as águas brancas do Rio Guamá e da baía do Guajará que
abastecem esse sistema. Entretanto, estes autores atribuem ao aporte fluvial gerado pela elevada
precipitação pluviométrica a diminuição nos índices quantitativos do fitoplâncton, devido ao binômio
chuvas-material em suspensão, estando a biomassa primária condicionada a esta interação de
parâmetros. Desta forma, a reduzida penetração da luz solar no ambiente pode inibir o
desenvolvimento do fitoplâncton, constituindo-se em fator limitante na época de estiagem.
Pamplona et al. (2017) verificaram maior densidade do fitoplâncton do reservatório da
hidrelétrica de Tucuruí (Pará) no período chuvoso. Desta forma, ao que parece, o reservatório por ser
um ambiente transitório e intermediário, foge ao padrão do rio adjacente. Ademais o ponto de coleta
do presente estudo situava-se após um “jardim” de macrófitas o que pode exercer influência sobre a
densidade do fitoplâncton.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3270
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

As cianobactérias (Cyanophyceae) foram mais densas em ambos os períodos com média de


167,0 ind.L-1 e 97,0 ind.L-1, nos meses de novembro/2018 e maio/2019, respectivamente (Figura 3).

Figura 3. Variação da densidade das classes do fitoplâncton do reservatório Bolonha (Belém, Pará) em novembro/2018
(seco) e maio/2019 (chuvoso).

Prymnesiophyceae Zygnematophyceae Trebouxiophyceae


Xanthophyceae Euglenophyceae Chrysophyceae
Cryptophyceae Chlorophyceae Bacillariophyceae
250 Coscinodiscophyceae Cyanophyceae
225

200
Densidade (ind.L-1)

175

150

125

100

75

50

25

0
Seco Chuvoso
Período

Fonte: Sousa et al. (2020)

As cianobactérias são organismos bem estudados em reservatórios, pois estes apresentam


condições para a sua proliferação, tais como águas mais estáveis e eutróficas (SOUSA, 2017). Sabe-
se que nos reservatórios de abastecimento de Belém, as cianobactérias aumentam suas densidades
durante os meses secos (SOUSA et al., 2017) devido a maior contribuição das espécies filamentosas.
Isso fica evidenciado, no presente estudo, pela espécie dominante Pseudanabaena sp.1, a qual
contribuiu com 76% da densidade para o mês de novembro/2018 (seco) e que possibilitou a menor
diversidade de espécies (H= 0,7 bits.ind-1), menor equitabilidade (E= 0,3) e maior valor de
dominância (D= 0,7).
Por outro lado, a baixa profundidade do reservatório Bolonha e um canal de escoamento
localizado no leito (LIMA et al., 2013) permite, a qualquer tempo, a interação do sedimento do leito
sobre as águas superficiais submergindo espécies bentônicas tais como Phormidium lividum,
Pseudanabaena limnetica, Cryptomonas sp., Trachelomonas sp.1, as quais foram abundantes no mês
chuvoso (Figura 4). Além destas espécies, a diatomácea cêntrica Urosolenia longiseta, típica de
ambientes lacustres, também foi abundante no mês chuvoso. Esta espécie prefere lagos e reservatórios

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3271
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

com água límpida e frequentemente misturado (REYNODS et al., 2006), sendo comum em lagos da
Amazônia (TREMARIN et al., 2015).
A elevada densidade e a presença de algumas espécies abundantes fizeram no mês chuvoso
maior diversidade (H= 2,6 bits.ind -1), maior equitabilidade (J=0,8) e menor dominância (D= 0,1),
sendo considerado, portanto, um mês com maior distribuição do fitoplâncton e com menor risco de
florações de algas.

Figura 4. Abundância relativa das espécies do fitoplâncton do reservatório Bolonha (Belém, Pará) em novembro/2018
(seco) e maio/2019 (chuvoso).

Isochrysis sp. Outros Trachelomonas sp. 1


Cryptomonas sp. Urosolenia longiseta Pseudanabaena sp. 1
Pseudanabaena limnetica Phormidium lividum
100%

90%

80%
Abundância relativa

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Seco Chuvoso
Período
Fonte: Sousa et al. (2020)

4 CONCLUSÃO
Através dos atributos populacionais de abundância relativa, riqueza e composição das
espécies, bem como os índices ecológicos pode-se dizer que o mês de maio (chuvoso) apresentou
maior densidade fitoplanctônica e as espécies estão bem mais distribuídas. Desse modo, o ambiente
apresenta condições hidrológicas propícias à co-existências de várias espécies, diminuindo, portanto,
o risco de proliferações de determinadas espécies de algas que possam interferir na qualidade das
águas destinadas ao abastecimento humano.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3272
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

As cianobactérias encontradas em maior densidade são tipicamente bentônicas e emergem


para o plâncton devido à interação sedimento- água, evidenciando que o reservatório é raso e sofre
movimentos de revolvimento devido a um canal de escoamento localizado no leito do reservatório
Bolonha. O monitoramento do fitoplâncton deve se intensificar nos meses menos chuvosos, com
ênfase nas cianobactérias.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3273
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Atlas do Brasil: abastecimento urbano de água.


Brasília: ANA, 2010.

BICUDO, C.E.M.; MENEZES, M. Gêneros de algas de águas continentais do Brasil: chave para
identificações e descrições. São Carlos: Editora Rima, 2017. 552p.

BIRK, S. et al. Three hundred ways to assess Europe's surface waters: An almost complete overview
of biological methods to implement the Water Framework Directive. Ecological Indicators, v. 18,
p. 31-41, 2012.

COSTA, V.B. et al. Effects of a high energy coastal environment on the structure and dynamics of
phytoplankton communities (Brazilian Amazon littoral). Journal of Coastal Research, n. 64, p. 354-
358, 2011.

COSTA, V.B. et al. Microfitoplâncton do Lago Água Preta, Parque Ambiental de Belém (Pará,
Brasil). Período mais chuvoso. Uakari, v. 6, n. 1, p. 75-86, 2010.

DUARTE, P.; MACEDO, M.F.; FONSECA, L.C. The relationship between phytoplankton diversity
and community function in a coastal lagoon. Hydrobiologia, v. 555, p. 3–18, 2006.

FIGUEROA, S.N.; NOBRE, C.A. Precipitation distribution over central and western tropical South
America. Climanálise, v. 5, p. 36-45, 1990.

GAMMAL, M.A.M., NAGEEB, M., Al-SABEB, S. Phytoplankton abundance in relation to the


quality of the coastal water – Arabian Gulf, Saudi Arabia. The Egyptian Journal of Aquatic
Research, v. 43, n. 4, p. 275-282, 2017.

GONÇALVES, E.D. et al. APLICAÇÃO do Sistema de Informação Geográfica na Microbacia dos


Lagos Bolonha e Água Preta (PA). Boletim Técnico Científico do Cepnor, v. 15, n. 1, p. 43 - 50,
2015

HAMMER, Ø.; HARPER, D.A.T.; RYAN, P.D. Past: Paleontological statistics software package for
education and data analysis. Palaeontologia Electronica v. 4, n. 1, p. 1-9, 2001.

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Dados da Rede INMET. Dados


Históricos. 2019. Disponível em: < http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep>.
Acesso em: 20 de Jan. 2019.

KOMÁREK, J.; ANAGNOSTIDIS, K. Cyanoprocaryota 1. Teil: Chroococcales. In: MOESTRUP,


Ø.; CALADO, A. Süßwasserflora von Mitteleuropa freshwater flora of central Europa. Berlim:
Spektrum Akademischer Verlag, 2008. 548 p.

KOMÁREK, J.; ANAGNOSTIDIS, K. Cyanoprokaryota 2. teil/ 2nd part: oscillatoriales. In:


BÜDEL, B. et al. (Ed.). Sußwasserflora Von Mitteleuropa 19/2. Heidelberg: Elsevier/Spektrum,
2005. 759p.

LIMA, N. S. et al. Hydrodynamic modeling and morphological analysis of lake Bolonha: a water
source in Belém, Pará State, Brazil. Acta Scientiarum Technology, v. 35, n.1, p. 5967, 2013.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3274
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

LOBO, E.; LEIGHTON, G. Estructuras Comunitarias de las Fitocenosis Planctónicas de los Sistemas
de Desembocaduras de Rios y Esteros de la Zona Central de Chile. Revista Biología Marina, v. 22,
n. 1, p. 1-29, 1986.

MATOS, J.B. et al. Caracterização quali-quantitativa do fitoplâncton da zona de arrebentação de uma


praia amazônica. Acta Botanica Brasílica, v. 26, p. 979-990, 2012.

MONTEIRO, M.D.R. et al. Composição e distribuição do microfitoplâncton do rio Guamá no trecho


entre Belém e São Miguel do Guamá, Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi,
Belém, v. 3, p. 341-351, 2009.

NABOUT, J.C. et al. Phytoplankton diversity (alpha, beta and gamma) from the Araguaia River
tropical floodplain lakes (central Brazil). Hydrobiologia, v. 575, p. 455-461, 2007.

PAIVA, R. S. et al. Ecological considerations on the phytoplankton from Guajará Bay and from the
Guamá River estuary in Pará, Brazil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências
Naturais, v. 1, n. 2, p. 133-146, 2006.

PAMPLONA, B.T.F. et al. Comunidade fitoplanctônica do Reservatório da hidrelétrica de


Tucuruí (Pará, Brasil). In ALFARO, A. T. S.; TROJAN, D. G. (Org.). Ciências ambientais e o
desenvolvimento sustentável na Amazônia. Curitiba: Atena, 2017. p. 119- 129.

PIELOU, E.C. Mathematical ecology. New York: Wiley, 1977. 385p

PIRES, P.V.B. et al. Variação espaço-temporal das diatomáceas do reservatório de Belém (Lago
Bolonha). In MACHADo, S.; MOURA, A. S. (Org.). Educação, meio ambiente e território 2. Ponta
Grossa (PR): Atena, 2019. p. 195- 206.

REYNOLDS, C.S. et al. Towards classification of the freshwater phytoplankton. Journal of


Plankton Research, v. 24, n. 5, p. 417-428, 2002.

ROCHA NETO, O.D.; SILVA, B.M.; PAIVA, R.S. Variação dos parâmetros físicoquímicos,
composição e biomassa fitoplanctônica em uma estação fixa na Foz do Rio Guamá, Belém, Pará-
Brasil. Boletim Técnico Científico do Cepnor, v. 16, n. 1, p. 19-28, 2016.

ROUND, F.E.; CRAWFORD, R.M.; MANN D.G. Diatoms: Biology and Morphology of the
Genera. 5. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. 760 p.

SHANNON, C.E. A Mathematical Theory of Communication. Bulletin of System Tecnology


Journal, v. 27, p. 379-423, 1948.

SOUSA, E.B. Fatores ambientais reguladores da dinâmica do fitoplâncton e das cianobactérias


dos mananciais de abastecimento da região metropolitana de Belém, Pará, Brasil. 235. Tese
(Doutorado) - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro: UFRJ,
2017.

SOUSA, E.B. et al. Monitoramento de Cianobactérias nos Reservatórios de Abastecimento de


Belém: Entendendo os Riscos. In ALFARO, A. T. S.; TROJAN, D. G. (Org.). Ciências ambientais e
o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Curitiba: Atena, 2017. p.95-105.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X
3275
Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

SOUSA, E.B. et al. Variação temporal do fitoplâncton e dos parâmetros hidrológicos da zona de
arrebentação da Ilha Canela (Bragança, Pará, Brasil). Acta Botânica Brasílica, v. 23, p. 1084-1095,
2009.

SOUSA, E.B. et al. Dinâmica Sazonal do Fitoplâncton do Parque Estadual do Charapucu (Afuá,
Arquipélago do Marajó, Pará, Brasil). Biota Amazônia, v. 5, n. 4, p. 34-41, 2013.

TIAN, C. et al. Phytoplankton Functional Groups Variation and Influencing Factors in a Shallow
Temperate Lake. Water Environment Research, v. 90, p.510-519, 2018.

TREMARIN, P.I. et al. Acanthoceras and Urosolenia species (Diatomeae) in subtropical reservoirs
from South Brazil: Ultrastructure, distribution and autoecology. Biota Neotropica, v. 15, n. 1,
e20140043, 2015.

URAMOTO, K.; WALDER, J.M.M.; ZUCCHI, R.A. Análise Quantitativa e Distribuição de


Populações de Espécies de Anastrepha (Diptera: Tephritidae) no Campus Luiz de Queiroz,
Piracicaba, SP. Neotropical Entomology, v. 34, n. 1, p. 033-039, 2005.

UTERMÖHL, H. Zur vervolkommung der quantitativen phytoplankton-Methodik. Mitteilungen


Internationale Vereiningung fuer Theoretische und Angewandte Limnologie, v. 9, p. 1-38, 1958.

Braz. J. Anim. Environ. Res., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 3263-3275, out./dez. 2020 ISSN 2595-573X

Você também pode gostar