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PORTO ALEGRE
2009
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PORTO ALEGRE
2009
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RESUMO
Como vivemos em um mundo tecnológico, este trabalho engloba duas áreas muito
importantes a das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a da Educação. Procura
trazer à discussão os conceitos de hipertexto e faz ponderações sobre suas características,
vantagens e desvantagens bem como de habilidades necessárias para desenvolvê-lo e fazer
sua leitura. Apresenta aspectos que ligam o hipertexto à educação apoiando-se no pensamento
de autores como Moran, Gadotti, Coscarelli, Castells, Cavalcante, Marcuschi, Morgado e
outros. Propõe ainda uma reflexão sobre o papel da escola e dos educadores hoje e aponta
para uma prática pedagógica onde as TIC estejam presentes no dia-a-dia escolar, através do
uso do hipertexto como uma ferramenta de apoio didático para a disciplina de Geografia no
Ensino Médio Tem como base metodológica um estudo de caso que nos revelou as opiniões
dos cento e trinta e quatro alunos das quatro segundas séries do ensino médio e das duas
professoras coordenadoras do laboratório de informática, referentes aos projetos de montagem
de hipertextos desenvolvidos.
ABSTRACT
Because we live in a technological world, this work includes two very important areas of ICT
and Education. Search stimulate discussion of the concepts of hypertext and do weights on
their characteristics, advantages and disadvantages as well as skills needed to develop it and
do your reading. Presents aspects linking the hypertext education drawing on the thinking of
writers such as Moran, Gadotti, Coscarelli, Castells, Cavalcante, Marcuschi, Morgado et al. It
also proposes a reflection on the role of schools and educators today, and points to a
pedagogical practice where ICT are present in day-to-school day, through the use of hypertext
as a support tool for teaching the discipline of Geography in Higher Middle Its
methodological basis a case study that revealed the opinions of one hundred thirty-four
students from the four second-grade school teachers and two coordinators of the computer
lab, referring to bills mount hypertexts developed.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
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1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 08
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. O HIPERTEXTO................................................................................... 11
3. METODOLOGIA....................................................................................... 27
4. DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO......................................................... 29
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 46
REFERÊNCIAS................................................................................................. 49
ANEXOS............................................................................................................ 55
1. INTRODUÇÃO
melhor visão dos impactos das tecnologias na sociedade atual devemos olhar para a educação
como um processo complexo, inacabado e em permanente evolução.
para a utilização dos mesmos em sala de aulas ou no laboratório de informática, para o estudo
de um conteúdo específico da disciplina de Geografia de maneira mais prazerosa e criativa.
Este estudo de caso se insere no âmbito do Projeto “Trabalhando com Hipertexto” cuja
idéia surgiu da vontade, e por que não dizer, da necessidade de realizar um trabalho de
pesquisa diferente com leitura interativa de textos e que misturassem a linguagem audiovisual
e pictória, entre outras e que pudesse contribuir para o conhecimento e domínio dos conteúdos
de Geografia bem como a socialização da informação pesquisada. E foi amadurecida ao longo
da participação do curso de Especialização em Informática na Educação.
O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é verificar o uso do hipertexto como
uma ferramenta de apoio didático para as aulas teórico-práticas no ensino da disciplina de
Geografia no Ensino Médio.
Para atender estes objetivos, organizei este documento da seguinte forma. No capítulo
2 apresento a Fundamentação Teórica, onde lançamos mão de diferentes autores para
conceituar o Hipertexto bem como caracterizá-lo, apresentar as vantagens e as desvantagens
que seu uso implica e aspectos que ligam o Hipertexto à educação. Buscamos ainda
apresentar as possibilidades de relacionamento entre o hipertexto e a Educação, discutir e
refletir sobre as TIC e a disciplina de Geografia assim como focalizar o processo de
construção de um Hipertexto.
objeto de estudo as quatro turmas de segunda série da Escola Estadual de Ensino Médio Ruy
Barbosa, turmas essas onde leciono.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. 1- O HIPERTEXTO
Encontramos diversas publicações que nos apresentam diferentes noções usuais para o
termo hipertexto, entre elas a de Silva (2002), que nos lembra que o mesmo surgiu no campo
da informática, pela necessidade de tornar o computador cada vez mais interativo. Mas o
hipertexto não precisa ser interativo e sim “explorativo”. Ao navegar pela Internet vamos
encontrando endereços de sites, palavras sublinhadas, ícones piscando, e muitos outros
atrativos que nos levam a clicar com o mouse e abrir diversas janelas, pois bem, este é o
chamado efeito hipertextual no ciberespaço. Da mesma forma pode acontecer num documento
de texto (Word, página na Internet), onde se inserem palavras-chaves que levam a outros
textos ou imagens. O hipertexto permite ao leitor decidir o rumo a seguir na sua viagem pela
leitura, tornando o tempo e o espaço, em relação à construção textual, flexível. Ao acessarmos
um ponto determinado de um hipertexto, conseqüentemente, outros que estão interligados
também são acessados, no grau de interatividade que necessitamos.
Lévy (1993) associa o hipertexto à ‘tecnologia intelectual’, uma vez que o sistema
cognitivo humano também é não-linear e hipertextual. Desse modo, para este autor, o
hipertexto é
conectados por ligações que possibilitem uma espécie de livre navegação pelo texto, sem
seguir sua linearidade original.
o que torna um texto “hiper” são os links (nós), que possuem papel relevante na
construção de sentidos nos textos virtuais, pois promovem ligações entre blocos
informacionais (outros textos; fragmentos de informação; palavra; parágrafo;
endereçamento etc). Por exemplo, a homepage de um jornal virtual qualquer, os
links ali presentes apontam para diversos textos, mas finitos, ou melhor,
pertencentes ao domínio discursivo daquele jornal em questão. Já no interior de um
texto qualquer, os links tendem a funcionar como as conhecidas notas de rodapé
dos textos impressos. Porém, todas as conexões possibilitam “novos ingredientes” a
tessitura textual das produções digitais (CAVALCANTE, 2004, p.187).
Referindo-se ao hipertexto, Primo (2003) faz uma distinção nas relações estabelecidas
nos ambientes hipertextuais. Para ele, além do “hipertexto potencial”, situação em que apenas
o leitor modifica seu olhar e o texto permanece intacto, existem duas outras vertentes,
denominadas por ele como “hipertexto cooperativo” e “hipertexto colaborativo”,
desenvolvidos em grupos virtuais:
No hipertexto cooperativo todos os envolvidos compartilham a invenção do texto
comum, à medida que exercem e recebem impacto do grupo, do relacionamento
que constroem e do próprio produto criativo em andamento. Já o hipertexto
colaborativo constitui uma atividade de escrita coletiva, mas demanda mais um
trabalho de administração e reunião das partes criadas em separado do que um
processo de debate (nesses casos, inclusive, uma única pessoa pode assumir as
decisões de publicar) (PRIMO, 2003, p. 39).
Constatamos através das leituras realizadas que podem ser atribuídas diversas
características e possibilidades ao hipertexto sendo que os maiores destaques se encontram no
dinamismo que oferece bem como pela forma de comunicação, não-linearidade da
informação, a interatividade, o caráter intertextual e heterogêneo de sua concepção e formas
de utilização.
14
A não-linearidade é aponta da por vários autores tais como Koch (2002), Xavier
(2002, 2003, 2007), Coscarelli (2006), Ribeiro (2008), Marcuschi (2001) como a
característica mais importante do hipertexto. Uma vez que “o hipertexto estrutura-se
reticularmente, não pressupondo uma leitura seqüenciada” (KOCH, 2002), com “começo e
fim previamente definidos, que permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado
de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real” (NELSON, 1964).
Dessa forma,
o leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de
assuntos tratados no texto sem se prender a uma seqüência fixa ou a tópicos
estabelecidos por um autor. Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz
do leitor simultaneamente co-autor do texto final. O hipertexto se caracteriza, pois,
como um processo de escritura/ leitura eletrônica multilinearizado, multiseqüencial
e indeterminado, realizado em um novo espaço de escrita (MARCUSCHI, 2001,
p.86).
Como muito bem observou Joyce (1998) que, enquanto o texto impresso , uma vez
que é concebido, permanece igual e o hipertexto não, ele substitui-se a si mesmo, a cada novo
clique do mouse sobre determinado link, abre-se uma nova janela, tela na qual estará uma
outra parte do texto virtual. Ainda segundo Joyce,
com o texto eletrônico, sempre estamos pintando, cada tela destrói a anterior e o substitui por
ela mesma. A sombra de cada letra morta proporciona a forma vivente do que o substitui
(JOYCE, 1998, p. 284).
2. 3- HIPERTEXTO - VANTAGENS
Hoje a Internet, faz surgir um novo espaço de interação: o “hipertexto digital”, o qual
permite ao leitor a escolha de diferentes trilhas e, portanto, diferentes leituras, cuidando para
que não haja dispersão ou uso inadequado de links, a fim de garantir a continuidade do fluxo
semântico, dando-lhe a condição para personalizar a sua leitura, de acordo com a sua
intencionalidade passando, portanto, a ser também interator, operador, participante da
mensagem, uma vez que é o hiperleitor quem
[...] folheia o cardápio disponível naqueles sítios digitais, seleciona o que vai querer
e, em seguida, serve-se das “iguarias” dos hiperlinks que mais lhe apetecem, na
porção que desejarem e na mesma velocidade do fluxo do pensamento (XAVIER,
2004, 174).
Também como uma vantagem que o hipertexto apresenta podemos citar o pensamento
de Snyder (2003) ao afirmar que o texto virtual é
16
Por outro lado para Lévy a rápida disseminação do hipertexto decorre das vantagens de
seu suporte informático. Dentre tais vantagens, o autor lista:
- representação figurada, diagramática ou icônica das estruturas de informação e
dos comandos;
- uso do mouse que permite ao usuário agir sobre o que ocorre na tela de forma
intuitiva, sensório-motora;
-os menus que mostram constantemente ao usuário as operações que ele pode
realizar;
- tela gráfica de alta resolução (Lévy, 1990, p.36).
2. 4- HIPERTEXTO - DESVANTAGENS
resultados que a leitura do mesmo texto em formato contínuo (texto “corrido” em que todas as
partes são apresentadas em parágrafos consecutivos).
Percebeu ainda que apenas no caso da localização de informação explícita há uma
pequena vantagem para o formato de apresentação hipertextual. Chegou então à seguinte
conclusão: “quando os sujeitos são leitores maduros e familiarizados com a tecnologia, a
leitura em formato hipertextual não gera uma compreensão do texto qualitativamente
diferente daquela que resulta da leitura do mesmo texto em formato contínuo”.
Quanto às desvantagens do uso do hipertexto na educação, segundo Moran, pode
ocorrer certa confusão entre informação e conhecimento, pois
na informação, os dados estão organizados dentro de uma lógica, dentro de um
código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação ao nosso
referencial, no nosso paradigma, apropriando-a tornando-a significativa para nós. O
conhecimento não se passa, o conhecimento cria-se, constrói-se (MORAN, 2001,
p.22 ).
Moran também apresenta como desvantagem, o fato de que, muitas vezes, diante de
tantas possibilidades de busca, a própria navegação acaba se tornando mais sedutora do que o
necessário trabalho de interpretação. Desse modo
os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços
dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente.
Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos,
anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os
endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. As imagens
animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os
lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o
que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor (MORAN, 2001, p.
27).
Outro aspecto que é elencado por Moran como uma desvantagem no uso do hipertexto
é quanto a facilidade de dispersão. O que se percebe é que alguns alunos
se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que foi
combinado, deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder
tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos,
sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente (MORAN, 2001,
p.32).
torna- se difícil avaliar rapidamente o valor de cada página, pois há uma grande
semelhança estética na sua apresentação; há também muita cópia da forma e do
conteúdo: copiam-se os mesmos sites, os mesmos gráficos, animações, links.
Percebe-se que alunos, `”principalmente os mais jovens, passeiam pelas páginas da
Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação
outras tantas, tão ou mais importantes, de lado.” (MORAN, 2001, p.35).
18
Enfim, como toda tecnologia, existem vantagens e desvantagens na sua utilização, mas
podemos utilizar algumas das vantagens para motivar os alunos no seu processo de aprendizagem.
Pesquisadores como Lanhan (1993), Landow (1992), Tuman (1992) e outros afirmam
que o uso do hipertexto e da Internet na escola afetará o ensino, a aprendizagem e os
programas escolares de forma determinante. Pois, segundo os autores, a utilização dessas
tecnologias como instrumentos pedagógicos desafiam os conceitos e as atividades de
aprendizagem vigentes no que se refere à escrita e à leitura.
Nesse contexto, a educação também pode lançar mão da metáfora do hipertexto, para
expressar o perfil da sala de aula engendrada pela co-autoria do professor e dos alunos na
construção da aprendizagem e da própria comunicação.
A sala de aula não mais centrada na unidirecionalidade do professor é possuidora
permanente de diversos centros conectados, nos quais ocorre a construção da
comunicação e do conhecimento, a renegociação dos atores em jogo. Nela, a
aprendizagem se dá com as conexões de imagens, sons, textos, palavras, diversas
sensações, lógicas, afetividades e com todos os tipos de associações. Na ausência
19
Tendo em vista a questão das vantagens que o hipertexto apresenta para a educação,
segundo Dias (2000), podemos enumerar as seguintes vantagens do uso do hipertexto, quando
cuidadosamente planejado:
• sistemas de hipertexto enquanto ferramentas de ensino e aprendizagem
parecem facilitar um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma
incidental e por descoberta, pois ao tentar localizar uma informação, os
usuários de hipertexto, participam ativamente de um processo de busca e
construção do conhecimento, forma de aprendizagem considerada como mais
duradoura e transferível do que aquela direta e explicita;
• uma sala de aula onde se trabalha com hipertextos se transforma num espaço
transacional apropriado ao ensino e aprendizagem colaborativos, mas também
adequado ao atendimento de diferenças individuais, quanto ao grau de
dificuldades, ritmo de trabalho e interesse;
• para os professores hipertextos se constituem como recursos importantes para
organizar material de diferentes disciplinas ministradas simultaneamente ou em
ocasião anterior e mesmo para recompor colaborações preciosas entre
diferentes turmas de alunos (DIAS, 2000, p.9).
A partir do exposto pelos autores, podemos concluir que o hipertexto é uma excelente
forma de aprender, mas pressupõe diferentes formas de fazê-lo. Não existem resultados sobre
qual a metodologia mais adequada para que o aluno aprenda através de hipertextos. Assim,
conforme Morgado:
a introdução das tecnologias no ensino não se coloca apenas ao nível de uma
mudança tecnológica, antes está associada também a uma mudança nas concepções
dos professores sobre o modo como se aprende, à mudança das formas de interação
entre quem aprende e quem ensina e à mudança do modo como se reflete sobre a
natureza do conhecimento ( MORGADO, 2001, p. 07).
Quanto à formação dos professores para trabalhar com as novas tecnologias, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 em seu artigo 43 parágrafo III destaca:
“incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da
ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive”.
O simples uso das novas tecnologias não pode ser entendido como garantia de
inovação educacional, depende exclusivamente da maneira como esses dispositivos serão
utilizados na construção de um saber significativo e contextualizados.
Dentro desse enfoque, o uso de diferentes recursos das TIC bem como de atividades
de simulação, modelação e experimentação em situações concretas, podem ser realizadas em
diversos conteúdos programáticos de Geografia e contribuir, desta forma, para situações
altamente motivadoras para o ensino/aprendizagem dessa disciplina. Outra sugestão
buscando ajustar-se ao uso das TIC é a apresentação de um problema concreto, onde as novas
tecnologias podem ser utilizadas pelos alunos, em situação real, para que recolham dados
relativos à localização, temperatura, precipitação, vento e umidade, entre outros. Deste modo
criam-se situações de aprendizagem mais motivadoras e envolventes do que se estes dados
fossem simplesmente fornecidos pelo professor (CAVALCANTE, 2008, p.2)
Sabemos que hoje o currículo escolar deve estar voltado à realidade do grupo onde
está sendo trabalhado e seguindo a sociedade da época, onde as novas tecnologias
desempenham um papel cada vez mais importante e primordial e onde tudo parece estar
23
evoluindo sob o prisma das novas tecnologias, de novos conhecimentos. Desse modo, espaços
diversificados de conhecimento como a imprensa, a televisão, o computador, a internet, o
DVD, o celular, o rádio o MP3, MP 4, dentre outros, que despertam cada vez mais o interesse
e a atenção dos nossos alunos devem ser lembrados e utilizados pelo professor no seu fazer
pedagógico diário. Como afirma Gadotti,
Dentro desse enfoque e segundo Corrêa (1996), podemos dizer que “o ensino de
Geografia já não pode funcionar sem se articular com dinâmicas mais amplas, que extrapolam
a sala de aula”. Dizendo isso, queremos refletir sobre a realidade que é a da existência de um
espaço virtual, mediado ou potencializado por novas tecnologias da informação e da
comunicação, e que pode dinamizar o ensino de geografia.
Para compreender melhor as rápidas mudanças que marcam este novo século, o
ensino da Geografia deve buscar utilizar todo o instrumental de ensino disponível, desde o
texto escrito até o hipertexto, a imagem em movimento, bem como os demais suportes
mediáticos, com o objetivo de aumentar a eficiência do aprendizado. Pois, como nos alerta
Callai (1999, p.13), “as formas tradicionais de ensino estão se esgotando em si mesmas. Os
alunos em geral estão muito distanciados daquilo que a escola faz”.
Porém para tanto, segundo observa e nos lembra Nogueira, citado por Popp (2002),
não há necessidade de que o indivíduo esteja literalmente diante de um computador
para ser usuário das novas tecnologias. Ao assistir a um programa de televisão,
ouvir um programa de rádio, falar ao telefone convencional ou celular, ler um livro,
andar de automóvel, ele já usufrui as mais avançadas tecnologias. Isto sem falar de
uma cópia Xerox, do fax ou da impressora e digitalizadora, do uso do seu cartão de
crédito ou de uma transação bancária feita em sua residência no banco on line
(POPP, 2002, p.1)
Se “todo texto impresso pode ser um hipertexto”, segundo Xavier (2004, p. 175,
2004), veremos como poderíamos construir um hipertexto, tendo em vista os objetivos
específicos e os conteúdos das disciplinas escolares. Embora fosse ideal, não encontramos
uma regra, um caminho que possa conduzir o processo de desconstrução de textos escritos na
forma clássica, linear, de argumentação, e sua reconstrução na forma de hipertextos.
O que devemos ter bem claro é que, sem a leitura prévia do texto original, guiada
segundo uma abordagem definida, não é possível iniciar o processo de construção de um
hipertexto. Na elaboração do hipertexto, o autor sempre irá destacar os pontos de referência
que considera serem oportunos e relevantes ao seu leitor, propondo articulações possíveis
entre textos (CAVALCANTE, 2004, p.96).
Não há na literatura resultados efetivos sobre qual metodologia é mais adequada para
que o aluno aprenda através de hipertextos. Há sim indicadores (Barreto, L.S. et. all, 1996) da
estrutura que deve ser considerada na elaboração de hipertextos: sendo o hipertexto um texto
não linear, deve estar ligado às informações de um banco de dados; deve ser um facilitador e
transferir conhecimentos complexos para novas situações; deve desenvolver estruturas de
conhecimento integradas e flexíveis através de ligações (links) por temas conceituais; deve
aplicar o mesmo conceito para várias situações; deve dar liberdade para o usuário tomar
decisões sobre quais informações deseja e a seqüência destas.
É necessário ter um método (do grego caminho), a ser percorrido e clareza de para onde
queremos ir, ou seja, necessitamos formular um projeto de construção de um discurso
hipertextual, ao qual precisamos:
• Escolher com antecedência o discurso textual que irá passar pela transformação, e sua
disponibilidade em meio digital,
• Dimensionar o contexto a ser convertido em contexto virtual do discurso hipertextual,
ea
• Configuração dos recursos a serem utilizados nesta transformação (CALDAS, 2005, p.
03).
O hipertexto não elimina a idéia da autoria, pois o leitor é livre, e quando busca
informações é incitado a buscar novas fontes de informações e através de cortes e mudanças
na ordem dos textos constroem novos textos. Assim, tanto o autor quanto o leitor são
protagonistas, o que é impossível na mídia impressa.
Para Coscarelli (2009) pode ser que em pouco tempo os alunos estejam tão
familiarizados com os ambientes digitais que seja melhor começar por eles para chegarmos ao
impresso. Essa é uma possibilidade que não podemos deixar de considerar e para a qual
precisamos nos preparar. Daí a importância de o professor se enfronhar neste mundo digital,
conhecendo seus recursos, seus gêneros, suas linguagens e seu potencial, a fim de que possa
usá-los ou explorá-los em suas atividades profissionais.
Continuando com suas colocações sobre o hipertexto, Coscarelli (2009) adverte ainda
para o fato de que,
se antes o aluno precisava encontrar uma informação no texto que o professor
escolheu para ele ler, agora ele precisa entrar na Internet e encontrar textos. Isso
não seria novidade se os alunos estivessem acostumados a entrar em bibliotecas e a
encontrar textos sobre os assuntos que gostariam de aprender. Sabemos, no entanto,
que essa não é uma prática comum em nossas escolas por motivos variados
(COSCARELLI, 2009, p. 05).
Os textos contam hoje também com outras linguagens que podem e devem ser
incorporadas a eles. Sendo assim, segundo Coscarelli (2009),
o aprendiz precisa saber lidar com a multimodalidade, isto é, textos que lidam com
diversas linguagens, tanto como leitor quanto como autor. Precisa também dominar
uma série de habilidades de leitura e produção de textos verbais. A essas
habilidades devem somar-se em práticas cada vez mais cotidianas, do não verbal.
Precisamos lembrar que a multimodalidade é, há muitos anos, parte de nossos
textos, como no cinema, nas revisas, jornais, cartazes, convites, cartões, livros
ilustrados, entre outros. Talvez a diferença seja a de serem mais fáceis às pessoas
também produzirem esses textos multimodais, que podem ser impressos ou
disponibilizados na Internet (sites, Orkut, Youtube, blogs, entre outros)
(COSCARELLI, 2009, p. 05).
27
3- METODOLOGIA
A Escola está localizada cito à Rua Mato Grosso, número 623, na cidade de Ijuí,
noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Como escola pública estadual integra o rol das
escolas da 36° Coordenadoria de Ensino, localizada na mesma cidade. O que a diferencia das
demais escolas é o fato de oferecer somente Ensino Médio nas seguintes modalidades: Ensino
Médio, modalidade seriado nos turnos Diurno e Noturno, sendo que no turno matutino as
segundas e terceiras séries e no turno vespertino as primeiras séries; Modalidade Matricula
por Disciplina Semestral, no turno Noturno e a modalidade EJA no turno Noturno. No ano de
2009 teve cerca de 900 alunos matriculados e cursando as respectivas séries.
Para a construção dos hipertextos pelos grupos de alunos, foi utilizado o LIE da
Escola, a saber, Laboratório de Informática Educativa, que conta com 12 computadores
conectados à Internet banda larga. Durante este período, para a realização das atividades, os
alunos contaram com a ajuda de uma das duas professoras responsáveis pelo mesmo, que nós
chamamos de coordenadoras do laboratório, principalmente nas questões relativas à
informática. Foram utilizadas 4 horas aula da disciplina de geografia e os alunos que não
conseguiram concluir os hipertextos neste período marcaram horário para uso dos
computadores no turno da tarde ou ainda na biblioteca e até mesmo reunindo-se em suas
residências.
O instrumento utilizado para o registro das informações foi a observação direta Como
metodologia foi utilizado o estudo de caso, tendo como objeto de estudo as quatro turmas de
segunda série da escola já mencionada, turmas essas onde leciono.
4- DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO
O experimento a ser descrito fez parte do planejamento das aulas de Geografia para o
primeiro trimestre letivo de 2009.
- Orientações de como fazer para marcar as palavras que devem remeter para definições ou
outros sites;
- Procurar as definições em diferentes fontes de referências (acessando sites de busca como o
Google para encontrar páginas que tenham mais conceitos e conteúdos para a elaboração do
texto e formação dos links);
- Digitar as definições e salvar em diferentes arquivos na pasta Hipertexto, tendo o cuidado de
numerá-los ou identificá-los por ordem; ex; 1, 2, 3 ...
- Orienta-se pelo livro texto e caderno da disciplina de Geografia,
- Se desejar inserir um link ou que uma palavra qualquer no texto se transforme em um
hiperlink, selecionar a palavra, clicar no ícone Inserir hiperlink e, na tela que se abre,
digitamos o endereço desejado.
O programa disponibilizado atualmente no LIE é o sistema operacional Linux. Como
muitos alunos desconhecem o seu funcionamento, e em suas residências possuem o sistema
operacional Windows, foi realizada a apresentação de algumas noções rápidas desse
programa, pela professora responsável, como, por exemplo, as nomenclaturas dos softwares e
as correspondentes no Windows, como salvar os documentos que seriam abertos em casa, etc
Depois de todos os avisos, lembretes, explicações e dos alunos já estarem
familiarizados com os programas necessários para a elaboração do trabalho, passamos para a
pesquisa e elaboração dos hipertextos.
Diante dos conhecimentos explanados para construção do hipertexto, os alunos
puderam pesquisar na rede (ou em outras fontes), lendo textos relevantes e complementares
para fazer o link, o que contribuiu para o desenvolvimento do olhar crítico dos alunos, para a
autoria, a cooperação e a busca. Passaram também a selecionar as informações, imagens,
sons, vídeos que achavam ser mais pertinentes ao assunto.
Foi acordado entre nós, professora e alunos, que, através de email, iríamos nos manter
informados sobre o andamento dos trabalhos, dificuldades encontradas, sugestões, bem como
sobre a correção prévia e entrega final dos mesmos. Neste momento do desenvolvimento dos
trabalhos fomos surpreendidos pelo fato de que muitos dos alunos não possuíam email ou não
lembravam sua senha devido ao pouco uso dos mesmos (segundo eles, preferem o Orkut ou
MSN), ou não sabiam anexar os documentos construídos para enviá-los.
De comum acordo com a professora responsável pelo laboratório, passamos à
demonstração de como se realiza este processo de anexar documentos em emails e até mesmo
a abrir novas contas. Recebia então, via email, os hipertextos já realizados para correção e
observações, reenviava os mesmos para complementações, perguntas relativas a importância
31
de um determinado conteúdo, imagem, vídeo, etc. Dessa forma ficamos por um bom período
em constante comunicação, com a caixa de emails cheia e vários pedidos de “socorro profe”...
Cabe ainda destacar algumas percepções que tivemos quanto ao empenho na
construção do hipertexto pelas diferentes turmas e o desenrolar das atividades no LIE.
Devido ao horário das aulas de Geografia, a primeira turma a se dirigir ao laboratório e iniciar
o trabalho foi a 203. A turma com maior número de alunos, trinta e seis no total, logo
mostrou-se motivada a construir o hipertexto, com os temas sugeridos e com a novidade que
foi fazer uma pesquisa e elaborar um texto de maneira diferente. Ficamos (a professora
coordenadora do laboratório e eu) entusiasmadas e ao mesmo tempo espantadas ao ver a
reação da turma. Foram dois períodos ou horas aula em que toda a turma “mergulhou de
cabeça” na pesquisa, não sendo necessário intervir quanto a MSN ou Orkut aberto, conversas
paralelas ou outro problema até comum em atividades neste espaço da escola. Éramos
chamadas a ajudar, explicar, sugerir, enfim, a colaborar.
A segunda turma foi a 205, com trinta e dois alunos matriculados, mas que faltam
muito as aulas. O trabalho transcorreu normalmente, sem a demonstração de grande
entusiasmo. Apresentaram dificuldades em entender como construir o hipertexto, a usar os
links, o que realmente pesquisar, o que realmente linkar, também quanto ao “copiar e colar”.
Esta turma exigiu maior controle e acompanhamento de nós professoras, bem como uma
motivação constante para a elaboração do hipertexto. Nesse sentido Lévy lembra muito bem
que
a principal função do professor não pode ser mais uma difusão de conhecimentos
(...), sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o
pensamento. O professor torna-se um animador da inteligência, e por tudo isto se
estabelece também uma nova relação aluno-professor (LÉVY, 1999, p.171).
No próximo dia de aula de Geografia, foi a vez das turmas 202 e 204. Nos dois
primeiros períodos as aulas foram com a turma 202 e a receptividade e motivação foi muito
boa. Os grupos se organizaram e se distribuíram pelos doze computadores existentes no
laboratório. Para surpresa de todos, neste dia, quatro computadores não conectavam a
Internet, restando somente oito computadores para realizar a pesquisa, além de a conexão
estar muito lenta, dificultando principalmente assistirem e escolherem vídeos para linkar no
hipertexto. Dessa forma os alunos tiveram que ficar “amontoados” nos computadores
disponíveis e os trabalhos não transcorreram como gostaríamos.
Com a turma 204, enfrentamos os mesmos problemas “técnicos” e a turma, embora
insatisfeita, realizou o que propomos.
32
Ao final de todo o processo, foi aplicado um questionário aos alunos de cada turma e
às professoras coordenadoras do Laboratório de Informática, sem identificação do
respondente, para coletar a opinião dos mesmos sobre a contribuição que a atividade de
construção do hipertexto e da hipermídia.
33
Cabe explicar que a numeração das quatro turmas inicia pela Turma 202, pois,
seguindo exigência da 36ª CRE (Coordenadorias Regional de Educação) e da Secretaria de
Educação do Estado, o número total de alunos matriculados para cursarem a segunda série,
não comportava cinco turmas com um mínimo trinta alunos por turma. Desse modo, a turma
201 foi extinta, sendo seus alunos distribuídos pelas demais turmas, completando assim o
número de alunos por turma exigidos pela CRE e SE.
Iniciamos a análise dos resultados, trazendo a computação das respostas obtidas nas
respostas aos questionários, pelos alunos.
Nada
Respostas dos alunos Muito Suficiente + ou - Pouco ou Não
nenhum(a)
T % T. % T % T % T. % T %
1-Gostei de trabalhar
com hipertexto: 10 8 1 1 6 4
9 2 9 1
2-Minha aprendizagem
em Geografia com este 32 2 90 67 4 3 8 6
tipo de trabalho foi: 4
3-Meu interesse e
participação ao 50 3 63 47 1 1 5 4 3 2
construir o hipertexto 7 3 0
foram:
4- Meus conhecimentos
em Informática 26 1 38 28 4 3 1 1 12 10
aumentaram: 9 2 1 6 2
5- Minhas dificuldades
em realizar o hipertexto 23 1 6 4 45 34
foram: 7 6 9
6- Achei o tema
(assunto) do 39 2 3 2 4 3 15 12
hipertexto 9 8 8 2 1
...................interessante:
a) Acha ótimo este tipo de aula e devem continuar 127 alunos - 87,31%
c) Gosto mais das aulas com pesquisa no livro texto 2 alunos - 1,49%
4%
14%
82%
Percebeu-se também que, assim como para Lanhan (1993), Landow (1992), Tuman
(1992) e outros pesquisadores, o hipertexto como uma ferramenta de aprendizagem, transfere
aos estudantes mais responsabilidade e autonomia nas informações acessadas e construídas,
proporcionando a exploração e a autodescoberta de saberes.
Quanto à aprendizagem dos conteúdos da disciplina de Geografia, responderam que
aprenderam muito, 24% dos alunos, aprenderam o suficiente 67 % aprenderam mais ou
menos 3% e apenas 6 % dos alunos afirmam que pouco aprendeu (Gráfico 2). Os dados
levantados nos revelam que a montagem de hipertextos com temas relacionados aos
conteúdos de Geografia favoreceu a utilização e a construção de diferentes habilidades dos
alunos. Segundo Dias (2000) a aprendizagem ocorre mais facilmente com o uso dessa
ferramenta, através da descoberta, da pesquisa, do atendimento às diferenças individuais, da
leitura e escrita, da autoria e, segundo Lévy (1990), pelo suporte informático que apresenta.
Para Santos (2003), o hipertexto facilita o uso didático, torna-se mais agradável, lúdico e
interativo, oportunizando outros caminhos de investigação, comparação, complementação e
trocas de idéias entre os pesquisadores.
6%
Muito 30 alunos
3% 24%
Suficiente 82
alunos
+ ou - 4 alunos
Pouco 8 alunos
67%
bagunceira e agitada dos segundos anos, teve a maior parte de seus alunos, 45,45 % (15
alunos), avaliando- se como suficiente sua participação e interesse, o que me pareceu uma
avaliação sincera, pois teve realmente aqueles quatro ou cinco alunos que demonstraram certo
desinteresse e pouca participação na execução das tarefas no LIE.
A turma 203, considerada “melhor” turma de segundos anos, sempre muito criativa,
participativa e estudiosa, teve 50 % dos alunos avaliando-se como muito boa sua participação
e interesse. Foi uma turma que demonstrou, desde o início, vontade de realizar a pesquisa,
mostrando-se preocupados com a questão da autoria, interessados em buscar sons, vídeos e
imagens que ilustrassem seus textos, houve trabalho colaborativo com os grupos de cinco
alunos trabalhando em conjunto, discutindo e distribuindo as tarefas.
A turma 204, turma mais heterogênea, com alunos oriundos de outras escolas e um
pequeno grupo de alunos nossos, havendo grupos “rivais” dentro da sala, mesmo assim o
trabalho no LIE e com o uso do hipertexto agradou a todos e foram interessados e criativos,
tanto que solicitaram que ao invés de fazer o texto em Word ou no BR.office Writer se
fizesse no Power Point, e foram atendidos em sua solicitação.
E por fim turma 205, formada em maior número por alunos repetentes, desmotivados e
com dificuldades em relação a aprendizagem, mesmo assim o trabalho com hipertexto foi
realizado pelos grupos que demonstraram, em sua maioria, interesse e boa participação.
No Gráfico 3 demonstramos o total das turmas em resposta a questão 3 do
questionário
2%
4% Muito 46 alunos
10%
Suficiente 58
37% alunos
Mais ou menos 12
alunos
Pouco 5 alunos
seus conhecimentos em Informática, verificou-se que, embora muitos já dominem muito bem
esses conhecimentos, houve sim um aumento de seus conhecimentos nesta área uma vez que
trabalharam com uma ferramenta desconhecida com novas nomenclaturas, e com exigências
diferentes daquelas que comumente utilizam.
Muito 24 alunos
10%
19%
12% Suficiente 35
alunos
Mais ou Menos 37
alunos
Pouco 15 alunos
28%
31%
Nada ou nenhum
13 alunos
17%
Pouco 61 alunos
Nada ou nenhum
42 alunos
49%
Pode-se inferir através das respostas dos alunos, com relação aos temas propostos
para pesquisa e construção do hipertexto o seguinte: para as Turmas 203 e 204 agradou muito,
respectivamente 50% e 48,5%, porém na Turma 202, cerca de 42,4% , 14 de 33 alunos
gostaram mais ou menos dos assuntos a serem ventilados, enquanto que, na Turma 205
tivemos 12 dos 32 alunos, 37,5% que gostaram muito dos temas e 13 alunos, 40,6%
40
gostaram mais ou menos. No Gráfico 6 apresentamos o total das turmas com relação ao tema
proposto para o trabalho.
12%
Muito 36 alunos
29%
Mais ou Menos 35
alunos
31% Pouco 38 alunos
Nada ou nenhum
15 alunos
28%
Para Lanhan (1993), Landow (1992) e Tuman (1992), o uso do computador como
ferramenta da era digital e através do hipertexto, possibilita que os alunos se comuniquem
entre si e entre as informações de suas pesquisas, transfere aos estudantes mais
responsabilidade e autonomia das informações acessadas e construídas, pois proporciona-lhes
um ambiente adequado para a exploração e para a autodescoberta de saberes. Também
permite acesso simultâneo do leitor a textos, imagens e sons de modo interativo e não-linear,
possibilitando visitar outras páginas e assim controlar até certo ponto sua leitura-navegação na
grande rede de computadores. Desse modo os dados mostraram que os alunos se
identificaram mais, gostaram mais de realizar a pesquisa de sons, imagens, vídeos e mapas
para ilustrarem melhor os conceitos sobre os temas bem como utilizar os hiperlinks ou links.
Dias (2000) considera que o hipertexto tem uma importância inquestionável pois o
aluno tem ao seu dispor elementos que estimulam outras formas de interação o que por sua
vez contribuem diretamente no processo de aprendizagem. O hipertexto vem com a proposta
de se tornar um recurso para o desenvolvimento de estratégias e atividades que potencializem
a construção do conhecimento como afirma Jacobs (1992) uma vez que o aluno aprenderá,
também de modo acidental enquanto explora navega e explora os espaços, aprendendo pela
descoberta e experiência pessoal.
A presença das Tecnologias de Informação e Comunicação na vivência do aluno, fora
do contexto escolar, reforça a necessidade de integração entre esse universo e o escolar, que
41
PESQUISAR
SONS,VÍDEOS,
19% IMAGENS
PESQUISAR OS
CONCEITOS
47%
17% ELABORAR O
HIPERTEXTO
17% TRABALHAR
COM LINKS
Em suma, o que se pode depreender da realidade pesquisada é que quanto ao uso das
TIC nas aulas de Geografia, a maior parte dos alunos, cerca de 87,31%, acharam que são
ótimas as aulas com as tecnologias e portanto, devem continuar. As aulas de Geografia este
ano tiveram um diferencial, a cada trimestre, os temas propostos vinham acompanhados de
uma proposta de trabalho diferente, sempre utilizando as TIC, o LIE e procurando produzir
42
Aulas com
pesquisa nos
livros
87%
Não devem
continuar assim
Segundo Ferreira (2002), sendo a Geografia uma disciplina escolar que busca
decodificar as imagens presentes no cotidiano, impressas e expressas nas paisagens e em suas
representações numa reflexão direta e imediata sobre o espaço geográfico, é preciso sair do
áudio e texto para inovar através das imagens, fotos, vídeos presentes no dia a dia dos alunos
que estão inseridos em um mundo com uma elevadíssima quantidade de informações,
proporcionada pelas TIC.
Pela análise das respostas da questão 1, constatou-se que, quando questionadas sobre
quais os desafios que essa nova forma de ler e escrever apresenta para os professores e para os
alunos, demonstraram intimidade com o assunto e conhecimento da realidade escolar. A
professora A salienta a necessidade de professores e alunos se desacomodarem, quando o
professor deve conhecer muito bem a ferramenta para depois aplicá-la e o aluno precisa
aprender a ler e ser autor e a professora B acredita que o professor precisa desvincular-se um
pouco mais do texto tradicional, compactado e restrito. Assim com se refere Santos (2003), ao
afirmar que o hipertexto facilita o uso didático, torna-se mais agradável, lúdico e interativo,
oportunizando outros caminhos de investigação, comparação, complementação e trocas de
idéias entre os pesquisadores.
A questão 2 questionava até que ponto podemos afirmar que o hipertexto/hipermedia
favorece a aprendizagem. Enquanto para Dias (2000) o hipertexto tem uma importância
inquestionável, em suas formas as mais variadas: oralidade, escrita, expressão verbal ou não-
verbal, para ambas as professoras entrevistadas, o hipertexto favorece a aprendizagem, pois o
se torna uma colcha tecida e, passando por suas “tramas”, a aprendizagem acontece de
maneira natural, é favorecida pela produção dos alunos e interesse em descobrir o
conhecimento.
O hipertexto ou a multimídia interativa adaptam-se particularmente a usos
educativos. É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do
aluno no processo de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa
participar da aquisição de um conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo
que quer aprender. Ora, a multimídia interativa, graças a sua dimensão reticular
ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao
material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma
pedagogia ativa (LÉVY, 1993, p. 40).
6- CONCLUSÃO
email com o uso de anexos, com o que haviam produzido, salvar documentos em Linux para
abrir em Windows XP, lazer os links no Linux e outros.
Nesse contexto podemos salientar que durante todo o desenvolvimento dos hipertextos
houve momentos de dificuldades em relação a lentidão da Internet, discussões nos grupos
sobre a inclusão ou não de determinado, imagem ou vídeo, reclamações sobre o Linux nos
computadores da escola e em casa terem Windows, como fazer os links, etc
Percebeu-se assim que, sem sombra de dúvidas, o fato de poder utilizar diversas
ferramentas na construção do hipertexto, como sons, vídeos, imagens, mapas e animações
motivou muito os alunos à pesquisa e à leitura. Mesmo que, na opinião de alguns alunos,
houve certa dificuldade em utilizá-las no contexto do texto a ser construído.
Nesse sentido os dados revelam altos índices de aceitação pelos alunos participantes
em relação aos temas de Geografia propostos para desenvolvimento dos seus hipertextos,
levando em consideração a motivação, o interesse e o conhecimento dos alunos sobre os
temas.
A observação do trabalho sendo elaborado pelos grupos no LIE bem como os dados
coletados revelam também que, para os alunos, a tarefa inicial de montagem do hipertexto
constituiu-se numa etapa importante no desenvolvimento dos mesmos e que exigiu muita
concentração, leitura, pesquisa, interesse, trabalho em equipe e dedicação. É nesta etapa, que
o aluno constrói o seu conhecimento sobre o tema proposto, pois traça o caminho que vai
percorrer, estabelece o modo que irão agir, desenvolve a pesquisa e elabora sínteses, coleta,
escolhe e grava suas imagens, desenhos, sons, fotos, filmes, músicas e efeitos. Por fim,
constrói ou monta o hipertexto juntando e utilizando os textos, os links, as imagens e
animações, os vídeos, mapas os sons pesquisados.
Os depoimentos das professoras do Laboratório de Informática, envolvidas neste
processo vem corroborar o pressuposto de nossa pesquisa. Ao afirmarem que a montagem de
hipertextos gerou, inicialmente, certa resistência por parte de alguns alunos, que logo foi
transformada em satisfação e vontade de fazer. Concluiu-se que a utilização de projetos de
montagem de hipertexto para abordar conteúdos da disciplina de Geografia foi muito positiva
e trouxe resultados satisfatórios.
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50
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51
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2000KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e Ensino Presencial e à Distância. Campinas, SP:
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Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.
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SILVA, Marco. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2001 e 2002 SILVA,
Maurício da. Repensando a leitura na escola: um mosaico. Niterói: EdUFF, 2002
SILVA, Kátia Cilene da e Melo, Diógenes Maclyne Bezerra de. Significado ou Tecnologia:
Qual desses elementos é preponderante na interação entre sujeito-texto ou sujeito-
hipertexto,respectivamente? In: Hipertexto 2008. 2° Simpósio Hipertexto e Tecnologias na
Educaçao: multimodalidade e ensinoRecife: (PPGEdumatec ‐ UFPE), 2006.
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XAVIER, Antônio Carlos (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção
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290.
____. A dança das linguagens na Web: critérios para a definição de hipertexto. In: SILVA,
Maurício da. Repensando a leitura na escola: um mosaico. Niterói: EdUFF, 2002.
55
ANEXO 1
9) Tens algum outro aspecto que gostarias de ressaltar sobre o trabalho realizado com o uso
do hipertexto?
SIM
NÃO
Qual? .............................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
57
ANEXO 2
1-Quais são os desafios que essa nova forma de ler e escrever apresenta para os professores?
E para os alunos?
A professora Rosa entende que, para os professores, essa nova forma de ler e de
escrever é desafiante no sentido que o mesmo tem de se desacomodar do seu velho “jeito” de
dar aula, precisa aprender a conhecer primeiro essa ferramenta.
Para o aluno, o desafio maior não está no aprender a fazer, pois para ele é muito fácil
transitar entre essas novidades. Porém o aluno precisa aprender a ler e ser autor. Entendo que
aí é o momento de desacomodar o nosso aluno.
Portanto considero que ambos, professor e aluno, precisam se desacomodar e esse é o
maior desafio.
Quanto aos alunos, Eduarda afirma que os mesmos têm possibilidades de optar por
vários caminhos para realizar seus estudos, pesquisa. Também o fazer com autonomia para
decidir por onde e o que pesquisar, além de ter texto, som, cor, animação, tornando o
“trabalho árduo de pesquisar” uma tarefa mais atrativa e prazerosa.
4- Que vantagens e desvantagens podem ser apontadas em relação ao uso de hipertexto com
alunos do ensino médio?
A professora Rosa, diz não ter conseguido observar desvantagens, pois percebeu os alunos
“encantados” com o novo jeito de aprender. As duas turmas que ela acompanhou são calmas
e compenetradas, não se desviando do projeto de construir o hipertexto.
Eduarda percebe mais vantagens pela aprendizagem que tem em relação a produção coletiva,
ao aprendizado de não “plagiar”, a autoria na produção. Como professora, percebo a
importância de acompanhar os alunos nesta construção pois muitas vezes os mesmos se
perdem nos emaranhados do hipertexto, acessando tantos links que não conseguem mais
“costurar” o texto e o conhecimento com seu ponto de partida.
6- A aprendizagem mediante o hipertexto oferece mais desafios e exige mais preparo do que
as práticas textuais tradicionais?
Rosa acredita que sim, mas ao mesmo tempo é uma atividade que pode fazer parte do dia a
dia dos professores. O hipertexto usado com criatividade no planejamento do professor e
59
depois na execução pelos alunos requer tempo e preparo maior do que o texto tradicional. As
aulas ficam mais incrementadas quando seguimos uma proposta de trabalho
A professora Eduarda, por sua vez, ressalta a necessidade de ter outro olhar sobre a
aprendizagem, onde o professor não é mais o “sabe tudo” e sim o orientador do processo de
aprender/ensinar. Quando se tem o objetivo pedagógico previamente definido, o hipertexto
pode se tornar uma interessante estratégia no desenvolvimento de atividades de leituras e de
escrita, pois por meio dele, pode-se disponibilizar aos alunos diversos textos de diversas
naturezas, uso de diferentes mídias ( som, imagens, vídeos) e utilizando uma ferramenta
tecnológica presente no universo dos jovens.