Você está na página 1de 54

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE

NÚCLEO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

Mariana de Oliveira Gonçalves

DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ARQUITETURA


ATRAVÉS DO DESIGN DE SUPERFÍCIE

Governador Valadares

2020
MARIANA DE OLIVEIRA GONÇALVES

DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ARQUITETURA


ATRAVÉS DO DESIGN DE SUPERFÍCIE

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado à Universidade Vale do Rio
Doce UNIVALE como parte das exigências
do Programa do Curso de Arquitetura e
Urbanismo para obtenção de título de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Professor Orientador: Igor Monte Alto
Rezende

Governador Valadares

2020
MARIANA DE OLIVEIRA GONÇALVES

DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ARQUITETURA ATRAVÉS DO DESIGN DE


SUPERFÍCIE

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado à Universidade Vale do Rio
Doce UNIVALE como parte das exigências
do Programa do Curso de Arquitetura e
Urbanismo para obtenção de título de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Professor Orientador: Igor Monte Alto
Rezende

Governador Valadares, 25 de Junho de 2020

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________________
Prof. Igor Monte Alto Rezende – Orientador
Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________________
Prof. Bárbara Poliana Campos Souza
Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________________
Prof. Geraldo Magela Purri Alves de Sousa
Universidade Vale do Rio Doce
AGRADECIMENTO

À Deus, por seu amor incondicional, por ser meu refúgio e inspiração.
Ao meu orientador, Igor Monte Alto Rezende, por ter apoiado a ideia deste tema
e pela imensa ajuda, por meio de comentários, ideias e observações feitos no período
de desenvolvimento deste estudo. Obrigada pelos socorros nos meus momentos de
desespero!
À minha família, por ser a minha base.
Aos amigos de turma: Carla, Lara, Isa, Kézia, Ruthiellen, João Victor e
Raphaela, pelo apoio de uns com os outros, a alegria que me trazem e amizade de
vocês é muito importante para mim.
Aos amigos de fora da faculdade que a vida me deu presente e que sempre me
apoiam: Marina, Mariana, Rafaela, Lyvia e Lucas. Além dos amigos que sinto tanta
falta e que me deram um super apoio e me ouviram sempre: Wilson e Livia. E ao
Thiago, por toda a ajuda, por sua paciência, apoio e cuidado comigo.
E a todos que contribuíram de algum modo para o desenvolvimento deste
Trabalho de Conclusão de Curso, seja com ideias e sugestões e, principalmente,
apoio moral.
Muito obrigada!
A verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem-estar do mundo

Benjamin Franklin
RESUMO

O presente estudo propõe estudar a relação entre arte e arquitetura através


do design de superfície e fazer uma reflexão sobre as possibilidades de sensibilizar
os espaços arquitetônicos e urbanos através da arte e do design. Para este objetivo,
foi realizado uma revisão bibliográfica em livros, teses, dissertações e artigos sobre o
tema proposto. Diante disso, verifica-se que arte e arquitetura são formas de
expressão simbólica da sociedade e de sua cultura, buscando a partir de provocações
sensoriais induzir os sujeitos que a observam a desenvolver sentimentos, emoções e
questionamentos. Com base nessa pesquisa e análise, na segunda etapa deste
Trabalho de Conclusão de Curso será apresentado um projeto de intervenção em um
espaço subutilizado de Governador Valadares, Minas Gerais. Como proposta de
revitalização do espaço urbano, em busca do resgate de memórias e tornar o
observador consciente da dinâmica espacial através da percepção.

Palavras Chave: Arte. Arquitetura. Design de Superfície. Sensibilizar


ABSTRACT

This study proposes to study the relationship between art and architecture through
surface design and to reflect on the possibilities of sensitization of architectural and
urban spaces through art and design. For this purpose, a bibliographic review was
carried out in books, theses, dissertations and articles on the proposed theme.
Therefore, it is verified that art and architecture are forms of symbolic expression of
society and its culture, seeking from sensory provocations to induce the subjects who
observe it to develop feelings, emotions and questioning. Based on this research and
analysis, in the second stage of this Course Completion Work will be presented an
intervention project in an underutilized space of Governador Valadares, Minas Gerais.
As a proposal to revitalize urban space, in search of the rescue of memories and to
make the observer aware of the spatial dynamics through perception.

Keywords: Art. Architecture. Surface Design. Awareness


LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Parque Nacional Serra da Capivara ....................................................... 17


Imagem 2 - Painel de Azulejos do Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara
dos Deputados, Brasília ............................................................................................ 18
Imagem 3 – Coleção “Cores de Tarsila” da designer Bárbara Penaforte .................. 19
Imagem 4 – Sistemas de Repetição .......................................................................... 20
Imagem 5 - Biblioteca da Escola Técnica Eberswalde, Alemanha ............................ 22
Imagem 6 - Biblioteca da Escola Técnica Eberswalde, Alemanha ............................ 22
Imagem 7 - Biblioteca de Utrecht, Holanda ............................................................... 23
Imagem 8 – Billboard Building, Tóquio ...................................................................... 23
Imagem 9 – Obra Frenazos, Porto Rico .................................................................... 26
Imagem 10 – Obra Splitting ....................................................................................... 27
Imagem 11 - Reichstag Empacotado ....................................................................... 27
Imagem 12 - Obra Aposto ........................................................................................ 28
Imagem 14 –Edifício do Ministério da Educação e Saúde – Rio de Janeiro ............. 31
Imagem 15 – Soldado Atirando Flores ...................................................................... 34
Imagem 16 – Igrejinha Nossa Senhora de Fátima .................................................... 35
Imagem 17 – Largo da Ordem .................................................................................. 36
Imagem 18 – Série Recortes da História ................................................................... 37
Imagem 18 – Voluntário da Pátria – Santa Tereza.................................................... 39
Imagem 19 – Morro dos Prazeres – Santa Tereza.................................................... 39
Imagem 20 – Viaduto – Praia de Botafogo ................................................................ 40
Imagem 21: SantAttack – Santa Tereza .................................................................... 40
Imagem 22 – Paseo Bandera .................................................................................... 41
Imagem 23 – Paseo Bandera .................................................................................... 42
Imagem 24 – Paseo Bandera .................................................................................... 43
Imagem 25 – Paseo Badera ...................................................................................... 43
Imagem 26 – Mapa de localização de Governador Valadares em Minas Gerais ...... 44
Imagem 27 – Espaços pontuais de estudo em Governador Valadares ..................... 45
Imagem 28 – Área de intervenção da Rodoviária ..................................................... 46
Imagem 29 – Área de intervenção canteiro central avenida Brasil............................ 47
Imagem 30 – Área de intervenção barraca do Léo ................................................... 47
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 13
2.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 13
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 13
3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 13
4. METODOLOGIA ................................................................................................... 15
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 16
5.1. DESIGN DE SUPERFÍCIE ................................................................................. 16
5.2. PERCEPÇÃO NO ESPAÇO ARTE E ARQUITETURA ...................................... 24
5.3. DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ARQUITETURA ................................................... 29
6. OBRAS ANÁLOGAS ............................................................................................ 38
6.1. COLETIVO MUDA .............................................................................................. 38
6.2. PASEO BANDERA ............................................................................................. 41
7. ANÁLISE DA CIDADE .......................................................................................... 44
8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS ............................................................................. 48
9. CRONOGRAMA ................................................................................................... 48
10. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 49
1. INTRODUÇÃO

As superfícies dos objetos sempre exerceram a função de suporte para a


necessidade dos humanos de se expressar. Há registros de desenhos encontrados
em diversas cavernas que datam desde o período Paleolítico da Pré-história. Entende-
se que as superfícies estabelecem uma condição de comunicação através da
percepção dos sentidos e por tudo o que representa a comunicação das ações. A
relação entre as superfícies e o público acontece na interação das qualidades
sensoriais. Peirce (1974), aponta que essas superfícies oferecem “texturas, cores,
grafismos entre outras qualidades. ”
De acordo com Rubim (2010):

O design de superfície visa trabalhar a superfície, fazendo desta não apenas


um suporte material de proteção e acabamento, mas conferindo à superfície
uma carga comunicativa com o exterior do objeto e também o interior, capaz
de transmitir informações sígnicas que podem ser percebidas por meio dos
sentidos, tais como cores, texturas e grafismos. (RUBIM, 2010, p. 17)

As superfícies devem possuir ferramentas para se relacionar com o seu


ambiente e público de forma a interagir em todos os sentidos. Segundo Flusser (2008,
p.102), deveríamos tentar entender melhor o papel que as superfícies representam
em nossa vida. Ele afirma que “[...] as linhas são discursos de pontos, e que cada
ponto é um símbolo de algo que existe lá fora no mundo (um conceito). As linhas,
portanto, representam o mundo ao projetá-lo em uma série de sucessões.”. No
entanto, as superfícies são o entendimento representado na linha, sem necessidade
de seguir a ordem da escrita para compreendê-lo, é possível absorver a sua
mensagem e depois destrinchá-la.
Portanto, pode-se compreender que o design de superfície, enquanto campo
de prática tende a criar e modificar aspectos palpáveis e visuais utilizando de
diferentes equipamentos, texturas e cores com intuito de valorizar e possibilitar uma
vasta rede de produtos, artísticos ou não.
Embora já conte com disciplinas de cursos de graduação, pós-graduação e
com uma associação de profissionais, é necessário notar que o termo utilizado –
Design de Superfície ou Surface Design Association nos Estados Unidos – é
10
considerado um tema relativamente novo no Brasil, e como tal, ainda pouco tratado
em nível universitário, conforme coloca Rüthschilling (2002, p. 38).
Rubim (2010) aponta a facilidade de visualizar o conceito Design de Superfície
nos Estados Unidos e que em meados de 1980 ela implantou no Brasil por reconhecê-
la com a melhor definição existente. No entanto, pela proposta de revisão da tabela
de áreas do conhecimento promovida pelo Comitê Assessor de Design do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2005, o design de
superfície passa a integrar a área do design como uma especialidade. No Brasil, o
design de superfície está profundamente ligado a diversas áreas de atuação e
desenvolvimento uma vez que cria projetos e os aplica em superfícies a fim de
transformá-la e atribuir maior valor estético.
Para Frampton (2008), o sentido de arquitetura está associado ao de lugar.
Na concepção do autor, o objetivo de um projeto arquitetônico, por exemplo, é ser
voltado para a esfera pública, ou seja, confere uma experiência sociocultural no lugar,
e o lugar envolve a relação entre a localização e os aspectos construídos naquele
local e as interações humanas realizadas e compartilhadas ali.
Historicamente, as relações estéticas com as artes foram delimitadas,
podendo ser reconhecidas apenas em museus, galerias de artes, enfim, locais
definidos para esses fins. Contudo, a organização do espaço passou a ter uma postura
diferente diante das pessoas, da cidade e das coisas. Passou-se a pensar o espaço
urbano de modo que contribuísse com a logística dos empreendimentos, para facilitar
o ir e vir das funções práticas do dia-a-dia.
Para Pell (2010), arquitetura do período moderno tornou-se abstrata ao
eliminar sua relação com os contextos sociais e a natureza. A arquitetura funcionalista
ganhou força no início do século XX e eliminou todos os tipos de ornamentos,
rompendo com anos de tradição, em rejeição a procedimentos que não haviam
objetivassem a necessidade funcional do edifício.

Segundo RIBEIRO (2016):

Ao isolar o objeto arquitetônico das imposições ornamentais de ordem


social, corre-se o risco de um esvaziamento da potencialidade
sensível da arquitetura, justamente por esse isolamento poder
transformá-la em uma abstração, em um universo utópico fechado em
11
si mesmo, descolado das dimensões sensíveis do cotidiano.
(RIBEIRO,2016, p.53)

Desse modo, a obra de arte que vinha gradualmente adquirindo


independência do edifício, torna-se elemento ilegítimo da arquitetura moderna
racionalista (ROWE, 1978). Os arquitetos, sob o lema do funcionalismo e
racionalismo, acreditaram que arte não era mais necessária. A padronização,
dificultou a demonstração de sentimentos. Neste contexto, o papel do espaço da arte
(museus e galerias) o mercado, e o observador foram questionados.
Recentemente é habitual a divisão entre arquitetura e arte e pode não parecer
visível inicialmente a comunicação entre arquitetura e o design de superfície, mas é
de suma importância apreciar a essência artística e os resultados que podem ser
obtidos a partir dessa união (MELO, 2003). No cenário da arquitetura é possível
identificar com uma frequência cada vez maior, a aplicação do design de superfície
que resulta em modificações sensoriais. A intenção é causar certo impacto capaz de
intensificar o sentido emocional de suas formas ou o estímulo dos espaços,
possibilitando a renovação da experiência e interação entre pessoa e o objeto
construído.
A proposta deste texto é, portanto, compreender o que é o design de
superfície, refletir sobre a importância da percepção para experiência sensível entre
arte e arquitetura, além de estudar a relação entre arte e arquitetura, e desenvolver
intervenções na cidade de Governador Valadares na próxima etapa.

A arte explora a dimensão estética da arquitetura como possibilidade


de experiência, cognição e fruição a partir de fatores como a
materialidade arquitetônica – que se impõe aos sujeitos na experiência
de interação com os espaços construídos – e os aspectos intangíveis
dos ambientes, entendidos como dados sensíveis que ocupam os
espaços e formam a carga cultural do lugar. (RIBEIRO, 2016, p.66)

Atualmente é possível pensar a superfície muito além do exterior de um objeto


ou pessoa ou mesmo relacionada a aplicação de revestimentos e padrões, há casos
em que a percepção de superfície se consolide como a do próprio objeto em si, numa

12
construção mais sólida do que vem se tornando o campo do Design de Superfícies no
Brasil.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo geral do presente trabalho estudar a relação entre arte e arquitetura


através do design de superfície e propor uma reflexão sobre as possibilidades de
sensibilização dos espaços arquitetônicos e urbanos através da arte e do design.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Compreender o que é o design de superfície;


 Estudar a importância da percepção na experiência sensível entre arte e
arquitetura;
 Estudar relação entre arte e arquitetura através do design de superfície
 Levantamento de dados e informações sobre intervenções urbanas que
tenham a arte como instrumento principal.
 Desenvolver projeto de intervenções em um espaço urbano subutilizado
de Governador Valadares.

3. JUSTIFICATIVA

Este estudo se justifica por abordar um tema pouco explorado, tanto pela
carência de pesquisas sobre o design de superfície como pela sua relação com a
arquitetura. A pesquisa busca ainda a valorização de algo novo aplicado às obras e
projetos arquitetônicos, podendo resultar em algo inusitado, fundamental para
transformar os espaços através da sensibilização destes.
A interação entre arte e arquitetura surge a partir de um:

Olhar mais livre na sua apreensão significativa do mundo, pois busca


outros ângulos de leitura, não para ver o objeto em sua pré suposta
13
verdade, mas buscando, na relação estética que estabelece com ele,
produzir novos sentidos para a configuração de realidades outras.
(REIS, ZANELLA, FRANÇA E ROS, 2004, p. 54)

A discussão sobre a relação entre espaços e lugares é fundamental para a


compreensão da arte e de sua ligação com a arquitetura. E surge como meio de
confrontar por meio de questionamentos os ideais, normas e formas deste ser
representado. Dito isso, como forma de criticar o movimento racionalista da arquitetura
que passou a buscar uma pureza construtiva excluindo da configuração do edifício
tudo o que não fosse elemento necessário às funções de habitar. A arte moderna, que
pôs a considerar o espaço como função, baniu e desprezou a arte dela mesma
(ARGAN, 2000).
Ou seja, a arte que no período Modernista era apresentada apenas em
museus e galerias surge hoje em novas superfícies. O espaço urbano passa a ser
palco para divulgação em larga escala da produção artística gerando então a esta
nova identidade.
Giedion (1958) afirma, que:

As pessoas desejam edifícios que representem sua vida social,


cerimonial e comunitária. Querem que os edifícios sejam mais que
uma realização funcional. Buscam a expressão das suas aspirações
na monumentalidade, para alegria e excitação. (GIEDION, 1958, p.27)

Diante disto, acredito que essa pesquisa pode ser considerada de suma
importância considerando que a intervenção na superfície da arquitetura, elaborada
por meio de conteúdos simbólicos expressos de forma consciente ou não nos
espaços, é capaz de os transformar em meio de comunicação, carregados de uma
nova função, renovar a experiência entre sujeito e objeto arquitetônico causando bem-
estar visual e inquietação no momento de percepção dos espaços.
Portanto, torna-se necessário, principalmente no mundo atual, os arquitetos
terem conhecimento de outras áreas de modo a ampliar habilidades, entendimento da
sociedade, de como trabalhar essas diferentes áreas juntas e mostrar que arquitetura

14
não é apenas técnica e construção, mas que envolve sentimentos, pensamentos e
filosofias diferentes.
Juntamente dos diversos motivos citados acima, esta pesquisa visa servir
como instrumento de estudo da relação entre arte e arquitetura, que ainda é pouco
explorada, e também tem o objetivo de contribuir para a vida de profissionais que
trabalham de modo direto com essas áreas a desenvolverem novas visões e
possibilidades.

4. METODOLOGIA

Para obter os resultados e respostas acerca da problematização apresentada


nesse trabalho, foi utilizada como processo metodológico a abordagem de caráter
qualitativo associado a pesquisa bibliográfica tendo em vista recolher, selecionar
analisar e interpretar contribuições teóricas e artísticas já existentes através de
artigos, teses, dissertações, livros, monografias e outros. Além disso, também se fez
necessário a análise de obras de referência sobre o tema proposto.
As pesquisas foram realizadas por meio digital no google acadêmico,
plataforma scielo e google web. Os critérios de seleção de títulos foram, por
conseguinte, referente aos temas relacionados a relações entre arte e arquitetura,
sobre o conceito de design de superfície e à importância da percepção para arte e
arquitetura.
Para isso, a pesquisa foi baseada em estudos de autores como por exemplo
Giulio Carlo Argan, Renata Rubim, Juliana Pontes Ribeiro, Evelise Anicet
Ruthschilling, Ben Pell, Julia Schulz-Dornburg, entre outros pensadores e artistas que
elaboraram trabalhos pertinentes aos assuntos abordados.
É relevante apontar que muito se utilizou de teses e dissertações acadêmicas
devido à escassez de material bibliográfico referente ao tema. Após a leitura do
material selecionado realizou-se o fichamento de dados para análise e em seguida,
elaboração desta primeira etapa do trabalho de conclusão de curso.
Com base na pesquisa bibliográfica aqui apresentada, será feito na próxima
etapa do trabalho o projeto de intervenções em lugares subutilizados da cidade de
Governador Valadares através do design de superfície em painéis de azulejos, com o

15
intuito de trazer mais vida aos espaços urbanos e gerar maior interação entre os
espaços e a população da cidade.

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesta pesquisa contemplou-se a ligação das pessoas com os espaços


arquitetônicos e novas formas de experimentações destes espaços por meio da arte
e do design.

5.1. DESIGN DE SUPERFÍCIE

De acordo com RUBIM (2005), as superfícies sempre sustentaram a


necessidade do homem de se expressar simbolicamente. Concebida pela Surface
Design Association (SDA) nos Estados Unidos a expressão Design de Superfície diz
respeito a área que desenvolve intervenções visuais nas superfícies de todo tipo de
objeto, peça ou estrutura. Importado para o Brasil na década de 80 pela designer e
consultora de cores, Renata Rubim, contudo foram necessários 20 anos para a
especialidade ser adicionada a Tabelas de Áreas de Conhecimento sobe a Ótica do
Design pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
Atualmente no Brasil existe o Núcleo de Design de Superfície na UFRGS, no
Rio Grande do Sul. O grupo realiza pesquisas e parcerias nacionais e internacionais.
Tem o objetivo de construir, disseminar e estabelecer a área do design de superfície
no meio acadêmico, científico e profissional.
Rinaldi e Menezes (2010) definem o design de superfície, como uma área
pouco conhecida e difundida no mundo acadêmico, e que precisa ser conceituada
para direcionar os profissionais em sua prática processual e ainda promover métodos
de projetos para sua aplicação em trabalhos acadêmicos, em escala industrial e em
outros locais em que essa prática se fizer necessária e puder ser executada.
Schwartz (2008) amplia o conceito de Design de Superfície:

Design de Superfície é uma atividade projetual que atribui


características perceptivas expressivas à superfície dos objetos,
concretas ou virtuais, pela configuração de sua aparência,
principalmente por meio de texturas visuais, táteis e relevos, com o
objetivo de reforçar ou minimizar as interações sensório-cognitivas

16
entre o objeto e o sujeito. Tais características devem estar
relacionadas às estéticas, simbólicas e práticas (funcionais e
estruturais) dos artefatos das quais fazem parte, podendo ser
resultantes tanto da configuração de objetos pré-existentes em sua
camada superficial quanto do desenvolvimento de novos objetos a
partir da estruturação de sua superfície. (SCHWARTZ, 2008, p. 146)

Considerando os fatos, é interessante observar que, com a expansão dessa


área, a superfície deixou de ser apenas um revestimento ou adorno e passou também
a ser um objeto, de igual importância, ou até superior ao local em que está inserida,
uma vez que aborda não somente as suas funções, mas também a relação sujeito-
objeto, evidenciando ainda o caráter representativo da superfície e a preocupação
com a estrutura.
O ato de se expressar por meio da superfície não é uma tarefa recente. Vilém
Flusser (2007, p.102), filósofo contemporâneo, indica que as “fotografias, pinturas,
tapetes, vitrais e inscrições rupestres” serviam de suporte para a expressão humana.
Mas, trabalhar superfícies através de conceitos e práticas relacionadas ao Design é
considerado como algo novo.

Imagem 1 - Parque Nacional Serra da Capivara

Fonte: Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade,2012

17
Rutshilling (2008) importante precursora deste movimento, define o design de
superfícies como uma atividade prática e criativa que visa criar e desenvolver
qualidades funcionais, estéticas e simbólicas por meio de texturas visuais e táteis, a
superfície, adequando ao contexto sociocultural e aos diferentes materiais e técnicas
de fabricação.
A questão da origem do design de superfície auxilia muitas vezes para explicar
semelhanças entre as áreas do design. Perante tantas discordâncias, segundo Evelise
Rüthschilling¹ esclareceu que o design de superfície, provavelmente, deve ter surgido
no âmbito da área têxtil ou de estamparia de tecidos, onde as especulações e
experiências sobre o assunto foram mais abundantes. Mas de acordo com pesquisas
de Rinaldi (2013) e Schwartz (2008), estas relações vem se diversificando, dando
novas capacidades de execução ao design de superfície, como em áreas que
trabalham cerâmica e revestimentos (ladrilhos hidráulicos, laminados, azulejos),
incursões de papelaria (papéis de parede, adesivos) e tapeçaria.

Imagem 2 - Painel de Azulejos do Centro de Formação e Aperfeiçoamento da


Câmara dos Deputados, Brasília

Fonte: Fundação Athos Bulcão, 2003

18
Imagem 3 – Coleção “Cores de Tarsila” da designer Bárbara Penaforte

Fonte: Estudio Garagem, 2020

O Design de Superfícies não é apenas estético. Trabalhar a superfície


significa apropriar-se das metodologias projetuais do Design, das
habilidades da representação gráfica e do ornamento comuns às Artes
Visuais e ao Design Gráfico, das intervenções no ambiente construído
pelo Design de Interiores, e também pelos estilos de identidade e
individualidade dispostos no Design de Moda. Essa
interdisciplinaridade tem um crescimento exponencial a cada vez que
os estudos indicam caminhos mais amplos a se trilhar, como é o caso
de novas tecnologias de impressão. (SILVA, 2017, p. 28)

Essa visão de ornamentação e decoração perdurou por muito tempo e à


medida que a tecnologia vinha se desenvolvendo tornou-se mais visível a aplicação
em diversos materiais. No entanto, é incorreto afirmar que o design de superfície está
apenas ligado ao desenvolvimento têxtil, assim como limitá-lo como expressão gráfica
bidimensional, ou seja, compreendendo - o como produto apenas do design gráfico
(FREITAS, 2011).
Existem certas técnicas que auxiliam no processo de projetar a superfície. No
momento atual os princípios básicos costumeiros do design de superfície, como o
método de repetição e as construções de módulos herdados do design têxtil e
cerâmico deixaram de ser uma condição indispensável no desenvolvimento dos

19
projetos devido os avanços das tecnologias híbridas e digitais, contudo, permanecem
como fundamentos da área (RUTSHILLING, 2008).

Imagem 4 – Sistemas de Repetição

Fonte: Cores e tons,2017.

Conforme afirma Freitas (2011), a aplicação do design de superfície pode


resultar também em modificações sensoriais, conferindo à superfície uma identidade
única com carga comunicativa com o interior e o exterior, capaz de remodelar e definir
espaços e transmitir informações através dos sentidos, possibilitando a renovação da
experiência de interação entre pessoa, objeto, ou outro meio em que está inserido. “A
configuração da superfície tornou-se, portanto, muito relevante, já que a aparência é
percebida por meio das características diretamente observáveis pelos sentidos e
interpretáveis a nível pessoal” (FACHINI,2015, p. 36).
É possível observar no cenário da arquitetura contemporânea o uso mais
constante de projetos de design de superfície para sensibilizar estruturas,
empregando recursos artísticos e gráficos. Essas intervenções visam aumentar a
capacidade de relacionamento dos objetos arquitetônicos, e sugerir diversificadas
espacialidades.

Esses projetos têm em comum alguns aspectos, como a aplicação de


elementos iconográficos nas superfícies das edificações; a pesquisa
de inovação em tecnologias tanto para a impressão das imagens
20
quanto para a incorporação do desenho da superfície nos processos
construtivos e nos revestimentos; a sensibilização dos ambientes com
diferentes materiais e texturas, além da reformulação da experiência
de percepção dos espaços pelos seus efeitos de cores e composições
visuais. (RIBEIRO, 2016, p 53)

Na concepção de Ribeiro (2016) o design de superfície quando atua em


projetos arquitetônicos, opera lógicas com relação à função e cultura da construção,
além de analisar conceito e partido, assim como beleza e decoração. Essas
superfícies projetadas para a arquitetura são camadas adaptáveis que se articulam,
comunicando e modificando as estruturas em que são trabalhadas.
Pell (2010) mostra que no fim do século XX, já havia uma discussão que
implicava a superfície arquitetônica como espaço de expressão popular apto a
reabilitar ou estabelecer suas ‘capacidades simbólicas’.

Entende-se hoje que o Design de Superfície carrega consigo um novo modo


de se perceber o objeto e confere aos produtos valores distintos. Um trabalho
cuidadoso, que prioriza a teoria e a prática do Design, alcança novas
diretrizes para a obtenção de tecnologia, sustentabilidade e estética
funcional. (RINALDI, 2013, p. 2)

A designer Regina Silveira também comenta:

O que mais tenho feito é revestir superfícies e volumes com desenhos e


padrões que nunca chegam a sair do plano onde estão aderidos, mas que,
com diferentes estratégias, podem sugerir outra espacialidade – volumétrica,
vertiginosa, ou labiríntica – tanto em objetos quanto em intervenções sobre
arquiteturas diversas. (SILVEIRA In: NAVAS, 2011, apud RIBEIRO, 2016,
p.28)

São diversas as maneiras de aproximar a edificação da superfície através do


design de superfície, arquitetos como Jacques Herzog e Pierre de Meuron (Imagens
5 e 6) utilizam imagens em seus projetos que confundem a percepção de
materialidade real da estrutura. Os arquitetos criaram em 1999 a biblioteca da escola

21
técnica de Eberwalde na Alemanha e utilizaram aplicações de imagens do acervo da
própria biblioteca. Outros casos são apresentados nas imagens 7 e 8.

Imagem 5 - Biblioteca da Escola Técnica Eberswalde, Alemanha.

Fonte: Josh Mings Studio, 2010.

Imagem 6 - Biblioteca da Escola Técnica Eberswalde, Alemanha.

Fonte: Josh Mings Studio, 2010.

22
Imagem 7 - Biblioteca de Utrecht, Holanda

Fonte: Archdaily, 2011.

Imagem 8 – Billboard Building, Tóquio

Fonte: Klein Dytham, 2010

23
Na perspectiva interdisciplinar do design de superfície aplicado à
arquitetura, por exemplo, o que se produz são interfaces de
negociação simbólica entre as imposições estruturais das
edificações e as apropriações socioculturais dos espaços
recortados pelo desenho da arquitetura. O questionamento acerca
das formas e estruturas projetadas, na verdade, transforma-se em
uma especulação sobre as possíveis interações físicas e simbólicas
que podem ser promovidas no lugar, imprimindo uma apropriação
dinâmica e imaginativa dos espaços. (RIBEIRO, 2016, p. 250)

“A superfície é o ponto de contato entre o corpo do sujeito e o corpo da


arquitetura” (RIBEIRO, 2016, p. 65). O design de superfície ao utilizar de novas
tecnologias pode resultar em alterações sensoriais, causando impacto ou perturbação
na percepção de espaços aumentando sua potência e produzindo assim novas
experiências entre objeto arquitetônico e pessoa.

5.2. PERCEPÇÃO NO ESPAÇO ARTE E ARQUITETURA

O conceito de percepção está relacionado à interação do usuário com o


espaço, através de estímulos dos sentidos básicos (audição, visão, olfato, paladar e
tato), associando-os a nossa memória e cognição, de modo a formar conceitos e
valores sobre o ambiente e sobre nós mesmos e orientar nossa conduta (MARTINS,
2011).
Nos estudos de fenomenologia de Marleau-Ponty, o encontro com a realidade
acontece através da habilidade sensível: “O sentir é essa comunicação vital com o
mundo que o torna presente para nós como lugar familiar de nossa vida. É a ele que
o objeto percebido e o sujeito que percebe devem a sua espessura” (MERLEAU-PON-
TY, 1999, p. 84).
O design de superfície deixa claro para os sentidos as características dos
espaços assim como constrói novos modos de experiência e percepção nestes
ambientes. Essa característica de acordo com Ribeiro (2010) fortalece a concepção
de arquitetura como espaço a promover experiências ligadas à percepção.

24
A percepção é uma capacidade sensorial, em consequência,
corporal, portanto, as superfícies que possuem discursos ativos são
aquelas que despertam o corpo através dos sentidos em direção a
um processo intelectivo realizado na prática (RIBEIRO, 2010,
p.129).

Para Ribeiro (2010, p. 27) “a noção de experiência na arte carrega em si a


condição relacional entre o objeto e o espaço”. As intervenções são elementos
detonadores de impulsos para uma experiência de exploração corpórea da
arquitetura. Ou seja, o corpo combina o intelecto e o sensorial para ser tocado pela
obra em sua percepção através dos sentidos. “As formas mais desenvolvidas de
percepção são a visual e auditiva, fundamentais à sobrevivência do homem”
(FERREIRA, 2012, p. 12).

75% da percepção humana, no estágio atual de evolução, é visual,


isto é, a orientação do ser humano no espaço, gradativamente
responsável por seu poder de defesa e sobrevivência no ambiente
em que vive, depende majoritariamente da visão; os outros 20%
são relativos à percepção sonora, e os 5% de todos os outros
sentidos, ou seja, a tato, olfato e paladar. (SANTAELA, 1998, p. 11).

Através do design de superfície podem ser criadas intervenções que


produzem ilusões subjetivas nos espaços arquitetônicos que envolvem fisicamente os
sujeitos na obra. Tais intervenções na condição espacial existente são operadas por
meio de ficções visuais, virtuais. Intervenções visuais que mudam a percepção do que
é real ou imaginário, do que é chão ou teto, do que é dentro ou fora, nos colocam à
frente de mudanças sensoriais que contrariam a noção de realidade e são percebidos
como informações atípicas, que produzem um estranhamento com relação à
expectativa comum. Em vista disso surge a importância dos sentidos e principalmente
o da visão.

25
O campo das experiências sensíveis é o ponto de partida para diversos
artistas e arquitetos. Em 2004 para a Trienal Poligráfica de San Juan, em Porto Rico,
a artista Regina Silveira criou o trabalho Frenazos (Imagem 9). Nota-se que os relevos,
volumes, níveis e camadas da fachada do edifício passam a ser componente das
ilusões visuais criadas.
O uso das marcas de pneus na superfície arquitetônica cria uma imagem,
estabelecendo o conflito entre elementos, funções, sentidos e formas, o espaço deixa
de ser abrigo e passa a ser via de passagem, gerando uma ruptura em sua função,
além de causar um choque de experiência acerca do que é o lado de fora e o que é o
lado de dentro.

Imagem 9 – Obra Frenazos, Porto Rico.

Fonte: Regina Silveira,2004.

O arquiteto Gordon Matta Clark, em sua obra Splitting (Imagem 10) através
de instrumentos manuais cortou uma casa abandonada no meio e com uma cunha fez
metade tombar ligeiramente para o lado. Clark utiliza cortes com a intenção de propor
uma situação impossível a realidade física da arquitetura. “Essa superfície em
arquitetura se transforma em um espaço invadido, tomado por esses movimentos
estranhos à sua natureza estável e segura”, afirma Ribeiro (2010, p. 216).

26
Imagem 10 – Obra Splitting.

Fonte: Bigmat international architecture agenda, 2017.

Já o casal de artistas plásticos Christo e Jeanne-Claude trabalharam a


percepção visual em suas intervenções de maneira que elementos da arquitetura e
paisagens fossem revelados ou escondidos como é o caso da obra Reichstag
Empacotado (Imagem 11), edifício histórico em Berlim, Alemanha, sede do
parlamento alemão. Ao cobrir o parlamento os artistas conseguiram voltar os olhos
das pessoas que passavam ali todos os dias, mas que já não percebiam o edifício
pelo fato de ter se tornado parte da paisagem do dia a dia.

Imagem 11 - Reichstag Empacotado.

Fonte: Archdaily, 2012.


27
Outro exemplo é o projeto de intervenção Aposto (Imagem12) do artista Fábio
Carvalho em Lisboa, Portugal. O projeto consiste na criação de padrões de azulejos
impressos a laser em papel que foram aplicados em espaços vazios das fachadas de
prédios onde azulejos originais desapareceram por vandalismo ou se deterioraram.
Os “azulejos de papel” causam estranhamento ao olhar ao mesmo tempo em que
podem ser confundidos com as peças originais, ou seja, a arte invade o espaço e
ganha e chama atenção ao tensionar o que já estava lá.

Imagem 12 - Obra Aposto.

Fonte: IPN – Museu memorial, 2015.

Contra o automatismo e o comodismo visual, a arte nos fisga com o


embevecimento daquilo que nos estranha e nos captura numa demora
perceptiva em que o tempo não conta. Assim, a percepção se constitui em
zona intersticial, ponte para o tráfego intenso dos fluxos e trocas entre
aquilo que a nós se apresenta do mundo lá fora e o nosso mundo interior.
Vem daí a importância fundamental da percepção em todas as formas de
arte (RIGON, 2012 apud BARROS, 1999).

28
A arte enquanto intervenção busca tornar o observador física e mentalmente
consciente da dinâmica social e espacial e não apenas considera elementos estéticos
do ambiente construído. A intervenção no espaço arquitetônico através do design de
superfície compartilha das mesmas superfícies do objeto construído, demonstrando
uma continuidade concreta ao longo dessa extensão e a dependência da ligação física
à arquitetura para realizar as suas finalidades espaciais. O lugar estabelece e introduz
a obra. Assim, o discurso da arte só se completa em conjunto com o discurso da
arquitetura. Para Ribeiro (2010), “é a arquitetura que permite a exploração
fenomenológica da obra que se instala em sua superfície e permite, também, que o
sujeito ocupe todas as possíveis posições no espaço diante dessas imagens”.
Entre cortes, imagens, perspectivas destorcidas “as intervenções na arqui-
tetura são considerações pessoais acerca do embate entre virtualidade e concretude;
entre a imagem e matéria” Giora (2014). A arte é requisitada nesses espaços como
componente de desestabilização do lugar, de captura de incertezas, de novas visões
e fator de excitação da experiência sensível e da percepção.

5.3. DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ARQUITETURA

O relacionamento entre obra de arte e arquitetura remota desde a antiguidade,


com seus significados mutuamente enlaçados, segundo Melo (2003) arquitetura,
escultura e pintura sempre eram empregadas como elementos somados para a
construção de um único estilo artístico.

No começo não havia nem arquitetura nem escultura, como artes


distintas, mas uma forma completa que de preferência deveríamos
chamá-la de monumento. Ambas, arquitetura e escultura, podem ser
concebidas como evoluídas de uma unidade original, e de forma
alguma é possível descrever esta entidade original como
essencialmente arquitetônica ou essencialmente escultura. (READ
1977, apud MELO,2003, p. 122).

29
Devido ao caráter funcionalista do período modernista na primeira parte do
século XX, tudo que era artístico e que não desempenhava “funções” necessárias do
habitar foi excluído da arquitetura, gerando um rompimento entre as áreas e isolando
cada arte em seu sistema disciplinar. “A arquitetura moderna (...) queria que todo
prazer arquitetônico derivasse do encontro puro com a necessidade” (DREXLER,
1981, apud MELO, 2003, p. 123).
Em consequência a esse evento, e ao desenvolvimento da arte moderna e
seus diferentes movimentos gerou-se uma revolução que afetou a forma de produzir
e expor as artes. As relações estéticas com as artes visuais foram tendo seu espaço
delimitado, passando a ser reconhecidas fundamentalmente em museus e galerias,
locais, então, destinados ao legítimo contato artístico (BENJAMIN, 1996). As primeiras
galerias surgiram, destinadas a uma determinada elite cultural, a partir de exposições
de coleções particulares.
Contudo, no Brasil a expressão se firmou além das concepções ortodoxas de
funcionalismo e realismo, ocorrendo ao intercâmbio entre as ideias e expressões
artísticas e os movimentos construtivos, com o sentido de proporcionar novas
experiências, tradições e emoções as pessoas, além de qualificar as obras, como
afirma Capello (2008). Pode-se afirmar que o projeto do prédio do Ministério da
Educação e Saúde (Imagem 14), no Rio de Janeiro, tornou-se referência para a toda
a criação arquitetônica brasileira modernista, mediante concepção moderna
integração das artes.

30
Imagem 14 –Edifício do Ministério da Educação e Saúde – Rio de Janeiro.

Fonte: Archdaily, 2013

Entre nós, lá pelo ano de 1936, graças à intervenção de Gustavo


Capanema, então ministro da Educação e Saúde, a velha interação
entre arquitetura e arte começou a ser recuperada; isso ocorreu
quando, interessado pelos problemas das artes e da cultura,
Capanema convocou para colaborar na construção do edifício sede do
ministério os mais renomados artistas do país, enriquecendo-o com
grandes murais de Portinari e escultura de Bruno Giorgi, Celso
Antônio, Lipchitz. Esta volta ao passado, tão desejada, passou daí em
diante, a atuar em nossa arquitetura que, em alguns casos, assumiu
sua etapa superior de obra de arte. (NIEMEYER,1994, p. 4).

O papel das artes por meio da profusão dos painéis e murais tornou-se
fundamental na estruturação desta arquitetura. Le Corbusier foi um grande
influenciador na adaptação desta nova arquitetura às características locais, indicando
o azulejo para composição dos painéis. O material foi abordado como um elo ao
passado que serviria de suporte às novas manifestações plásticas, afirma Junior
(2011).

31
O painel conjugado à arquitetura moderna sem dúvida presta
colaboração, seja no dinamitar paredes, como observa Le Corbusier,
ou cativando o olhar do andante, de certa forma anestesiado pela
paisagem cotidianamente vivenciada. Através das soluções bem
harmonizadas entre painel e arquitetura, a sinfonia moderna ganha a
rua e leva seus sonhos para o convívio urbano” (LOURENÇO, 1995,
p.268).

As reflexões acerca da concepção da arte, seus conceitos assim como o seu


lugar – as instituições -, postos em questão na modernidade permitiram que, nas
últimas décadas, vários projetos de artes visuais fossem realizados em algum outro
espaço “incomum” para uma exposição. “A medida que as obras de arte se
emancipam do seu uso ritual, aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas”.
(BENJAMIN, 1987, p. 173)
Em consequência a esse evento, gerou-se uma revolução que afetou a forma
de produzir e expor as artes. Novas gerações de artistas surgem, reavaliando os
espaços e seus conceitos, buscando resgatar uma relação mais aproximada com o
real e promovendo, consequentemente novas expressões artísticas. A arte deixa de
ser exclusiva do museu e passa também a habitar a cidade.
O processo, contudo, foi gradual. Os museus, ou galerias “tradicionais” eram
vistos como espaços protegidos e destinados a determinada elite social. Ou seja, se
as exposições fossem realizadas em espaços diferentes do que os museus ou
galerias propunham, com facilidade de acesso de todos os perfis de público, a arte se
tornaria mais próxima do observador independente de sua classe social.
(DORNBURG, 2002).

Quando a arte deixou o Museu em busca de um público maior,


tornou, consequentemente, e de forma mais incisiva, ‘pública’ a
presença da arte e do artista. O artista ‘público’ contemporâneo
trabalha in situ, ou seja, analisa meticulosamente as condições do
lugar (a escala, o usuário e a complexidade do contexto), visto que
o sucesso da obra depende da recepção do observador. Com isto,

32
o artista ampliou seus meios e passou, também, a construir
incorporando novas fontes de referência como a ciência, a biologia,
a construção, a iluminação, a decoração, o som, a moda, o cinema,
os computadores etc. A transição das instalações efêmeras para as
construções permanentes estabelece aproximação com a
arquitetura, principalmente no que se refere ao modo de conceber
o espaço e a sua psicologia de uso. (CARTAXO, 2006, p. 73)

Essa alteração na forma de expor que incluía além de galerias e museus os


espaços alternativos (a rua ou qualquer espaço não convencional dedicado à
exposição de arte) que tem consequências mais claras a partir dos anos 80, serviu de
estímulo para que vários artistas desenvolvessem novas expressões artísticas de
instalações e intervenções e todas as suas variações como os chamados site specific.
A arte passou a ser considerada devido ao seu contexto.
Nas instalações site specific, o espaço atua como agente transformador da
obra de arte. Surgiu como instrumento para artistas que pretendiam refletir sobre as
relações entre a sociedade e a cidade. Nestas obras, os elementos conversam com o
meio, para o qual são elaborados. O termo site especific é frequentemente relacionado
à arte de instalação, ou arte ambiente que se volta para o espaço transformando-o ou
o englobando à obra. Trata-se de trabalhos planejados de acordo com um ambiente
e espaço específico, A obra passou a fazer parte do espaço e surgiu como potência
transformadora de percepções, mais acessível de forma a gerar proximidade entre
obra e espectador.
Alguns artistas como Bansky, um artista de rua britânico, intervém na
arquitetura da cidade para realizar seus trabalhos. O artista por meio de suas
intervenções urbanas aborda temas sociais, políticos e ambientais de forma satírica
através da técnica de estêncil (em que se aplica o desenho através do corte ou
perfuração do papel) em seus grafites. Um bom exemplo é a obra “ Soldado Atirando
Flores” (2005) (Imagem 15), localizada na Palestina, que mostra um homem vestido
com o que é associado ao equipamento anti-motin tradicional, com a postura de quem
está para atirar uma bomba, mas ao invés disso tem um buquê de flores em sua mão.
O intuito de Banksy é defender a mensagem de paz, por isso o artista optou pela
instalação em uma área de alto conflito.
33
Imagem 15 – Soldado Atirando Flores.

Fonte: The art story,2005.

No Brasil, alguns artistas modernistas como Athos Bulcão e Potty Lazzaroto


e alguns mais atuais como o artista Kobra, recorreram a arte do muralismo para intervir
na arquitetura e no espaço urbano de modo a evocar a arte para o coletivo,
comunicando ao espectador uma experiência.
As obras de Athos Bulcão são fortemente ligadas ao caráter urbano por meio
do emprego de painéis de azulejaria na composição de elementos arquitetônicos
públicos como é o caso do painel na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima (Imagem 16),
localizada em Brasília, pautada na relação obra e observador. O designer tem obras
marcadas pela abstração geométrica, colorida e leve.

34
Imagem 16 – Igrejinha Nossa Senhora de Fátima.

Fonte: Archdaily, 2014.

Já o artista Potty Lazzarotto escolheu a arte de mural com o propósito de


aproximar a arte da população e enriquece-los culturalmente, representando fatos
históricos, sociais e culturais do Paraná, em especial Curitiba, retratando seus
costumes e alguns símbolos característicos, como o pinhão, o cotidiano dos
trabalhadores além de outros, afirma Rizzi e Silva(2018). O painel de azulejos
intitulado “O Largo da Ordem” (Imagem 17), localiza-se em Curitiba e representa as
feiras antigas que se realizavam no local, os antigos colonos imigrantes além da
igrejinha e outros símbolos.

35
Imagem 17 – Largo da Ordem.

Fonte: Sentidos do viajar, 2019.

O artista Kobra é mundialmente conhecido por desenvolver suas intervenções


na arquitetura de diversas cidades através do uso de cores fortes e coloridas com
intuito resgatar a importância de lugares e momentos e fortalecer a sensação de
pertencimento de seus habitantes, além de tratar de assuntos importantes como
causas ambientais e mensagens de paz e cenas marcantes da história da
humanidade. Assim, cenas do ativista norte-americano Martin Luther King (1929-
1968) proferindo um discurso contra o racismo (Imagem 18), ganham o espaço público
pelos traços do artista brasileiro.

36
Imagem 18 – Série Recortes da História.

Fonte: Facebook, 2018.

Portanto, é possível entender a importância da arte se deslocar para os


espaços tradicionais, que gerou uma reinvenção na relação entre artista, sua
produção, os sujeitos e a arquitetura com que partilha cada vez mais questões comuns
ao cotidiano. Assim, seja por intervenções ou colaborações, a arte cria um vínculo
exclusivo com o ambiente e a arquitetura, revelando aos sujeitos a potência desse
espaço como superfície de experiências sensíveis e campo de tensões humanas.
“Juntas, arte e arquitetura trocaram a criação de objetos para serem olhados, pela
criação de ambientes para serem experimentados e utilizados. ” (DORNBURG, 2002,
p.7)
37
6. OBRAS ANÁLOGAS

6.1. COLETIVO MUDA

O coletivo MUDA é um grupo de arte urbana, com influência do grafite e com


base no Rio de Janeiro, que busca desenvolver a arte através de intervenções
espaciais que vem alterando as paisagens e espaços públicos cariocas (COLETIVO
MUDA, 2018). MUDA vem de mudança, essa é a explicação dada pela equipe sobre
a origem de seu nome.
O grupo surgiu em 2010, composto pelos arquitetos Diego Uribbe, Duke
Capellão e Rodrigo Kalache e os designers Bruna Vieira e João Tolentino. Mas
somente em 2011 começaram a modificar os cenários de diversas cidades. Trabalham
o design de superfície em suas intervenções através da aplicação de padronagens
abstratas e coloridas em painéis de azulejos e ladrilhos hidráulicos (RIZZI E SILVA,
2010)

Desde os tempos mais primórdios nos reunimos no dia 22 de dezembro para


intervir em algum lugar em comemoração ao aniversário do João. As
primeiras vezes fizemos graffiti. A partir de 2011, com a criação do MUDA, as
intervenções passaram a ser feitas em azulejo (COLETIVO MUDA, 2018, p.
única).

Para a pintura de seus azulejos, o coletivo utiliza estêncil e tinta spray. “ O


grupo pinta seus azulejos com tinta spray pelo caráter perecível e pela influência do
grafitti. ” (BRITTO, 2013). O Grupo possui diversas intervenções tanto em território
nacional como em internacional. Contudo, a maior parte de suas obras estão
espalhadas no Rio de Janeiro (Imagem 18,19,20,21), com destaque para os bairros
Arpoador, Praia de Botafogo, Rocinha, Santa Tereza, Jardim Botânico e São
Cristóvão.

38
Imagem 18 – Voluntário da Pátria – Santa Tereza.

Fonte: Coletivo MUDA, 2020.

Imagem 19 – Morro dos Prazeres – Santa Tereza

Fonte: Coletivo MUDA, 2015.

39
Imagem 20 – Viaduto – Praia de Botafogo.

Fonte: Coletivo MUDA, 2018.

Imagem 21: SantAttack – Santa Tereza.

Fonte: Coletivo MUDA, 2012.


40
Seus painéis são pensados para lugares específicos (site specific), ou a
equipe escolhe o lugar de acordo com uma composição específica criada em seu
atelier. O grupo é engajado em conferir uma nova experiência ao usuário da cidade e
valorizar os espaços. “O coletivo procura encontrar locais que estejam esquecidos ou
desvalorizados na cidade, procurando enriquecer a experiência do transeunte e tornar
o espaço mais lúdico e colorido” (BRITTO, 2013), as cores e novas padronagens em
seus painéis conferem novo sentido a esses locais.

6.2. PASEO BANDERA

Desde 2013, a construção de uma linha de metrô de Santiago, através do


centro histórico provocou o fechamento da rua “Bandera” para tráfego de carros.
Desde então a área havia sido convertida em estacionamento para carros. Surgiu
então a ideia de intervir e dinamizar naquele espaço, transformando a rua em um novo
passeio colorido.
Inaugurada em 2017, o Paseo Bandera (Imagem 22), foi desenhado pelo
escritório Estudio Victoria e o arquiteto Juan Carlos López, que criaram formas
geométricas multicoloridas que se estendiam por um trecho de 400 metros. O projeto
levou 3 meses para se materializar, da concepção à inauguração, sendo financiado
por diversas empresas.

Imagem 22 – Paseo Bandera.

Fonte: Trend alert, 2018.


41
O projeto conta com mobiliário urbano, vegetação, instalações, bicicletários,
áreas de descanso, e bicicletas que geram energia para carregar celular. Se estende
por quase quatro quarteirões e com área de 3.300 metros quadrados. As cores, além
de adicionarem nova energia à cidade, também são responsáveis pode delimitar as
três diferentes seções do projeto: “Conexão Social” entre as ruas Moneda e Agustinas,
“Sustentabilidade” entre as ruas Agustinas e Huéfanos e “Patrimônio” entre as ruas
Huérfanos e Compania.
A escolha da paleta de cores se deu justamente por não existirem aquelas
cores na arquitetura da cidade, crítica ao uso de cores monocromáticas e de tons
claros, sem diversificação. Portanto, a sobreposição da paleta de cores do projeto
visou produzir contraste com a cidade de concreto.
Essa tática urbana é inovadora, combina arte, arquitetura e design e permite
que os espaços urbanos desabitados sejam ressignificados e se tornem áreas de
convívio e lazer, de novas experiências, seguras e destinadas ao resgate do
patrimônio histórico da cidade e permanecerá na memória dos transeuntes.

Imagem 23 – Paseo Bandera

Fonte: Archdaily, 2017.


42
Imagem 24 – Paseo Bandera.

Fonte:Archdaily, 2017.

Imagem 25 – Paseo Badera.

Fonte: Trend alert, 2018.


43
7. ANÁLISE DA CIDADE

A cidade brasileira de Governador Valadares (Imagens 25 e 26), está situada


à leste do estado de Minas Gerais, no vale do Rio Doce. É característico dessa cidade,
a influência econômica significativa sobre o leste e o nordeste do estado de Minas
Gerais. A cidade ocupa uma área de 2342,325 km² e é banhada pelo Rio Doce e
conhecida por ter o Pico do Ibituruna como cartão postal e um grande fluxo migratório
de seus cidadãos para o exterior.

Imagem 26 – Mapa de localização de Governador Valadares em Minas Gerais.

Fonte: Google Maps

A configuração urbana da cidade se deu em torno da ferrovia e foi a partir dela


que se desenvolveu. A Microrregião de Governador Valadares é marcada pelos ciclos
extrativistas, falta de investimento na infraestrutura urbana, além de crises que
prejudicaram o desenvolvimento econômico local. Esse cenário enquadrou
Governador Valadares em um processo de migração para o exterior, principalmente
para os Estados Unidos e para outras regiões do país.
A cidade pode ser considerada hoje um território marcado pelo sentimento de
não pertencimento. As relações entre homem e lugar ficaram comprometidas, tendo
44
em vista que a cidade está relacionada a falta de oportunidades não ser local
acolhedor. Esse fato contribui para uma falta de identidade e valorização do lugar,
além da falta de esforços para o desenvolvimento da cidade.
Visto isto, a proposta para a segunda etapa do Trabalho de Conclusão de
Curso será propor um projeto de intervenção em espaço subutilizado de Governador
Valadares como forma de revitalizar esse espaço, fomentar a cultura e o lazer,
enriquecer as experiências dos indivíduos com a cidade e gerar o sentimento de
pertencimento ao lugar, além de valorizá-lo.
A área de abrangência do projeto será dividida em três setores específicos:
área da rodoviária, canteiro da avenida Brasil próximo a Catedral de Santo Antônio e
barraca do Léo, apresentados na imagem 26, com pontos na cor azul destacando sua
localização. A escolha foi feita de maneira a chamar atenção aos espaços públicos,
que de certa forma são centrais e onde há uma dinâmica maior com a população.

Imagem 27 – Espaços pontuais de estudo em Governador Valadares.

Fonte: Google Maps

A área da rodoviária (Imagem 27), está situada no cruzamento das ruas Belo
Horizonte, Marechal Floriano e Avenida Brasil. Seu entorno é caracterizado pela
predominância de imóveis comerciais, contudo, é possível encontrar imóveis
institucionais como a prefeitura da cidade e alguns residenciais. Com relação ao
45
canteiro da Avenida Brasil, pode-se observar pela imagem 28 que há uma
predominância maior de imóveis residenciais e institucionais no seu entorno, como a
Escola Clóvis Salgado, a Catedral de Santo Antônio, Primeira Igreja Presbiteriana,
Receita Federal e Teatro Atiaia, além de alguns imóveis comerciais. A área da barraca
do Léo (Imagem 29), compreende a área de espera de ônibus situado na esquina
entre as ruas Bárbara Heliodora e Arthur Bernardes. Uma área com grande fluxo de
pedestres e possui uma efetiva presença de imóveis residenciais, comerciais e
institucionais, com predominância de bares e clínicas médicas. Quanto ao fluxo de
automóveis, em todas as áreas durante o dia é alto e constante com redução
considerável a noite.

Imagem 28 – Área de intervenção da Rodoviária.

Fonte: Google Maps

46
Imagem 29 – Área de intervenção canteiro central avenida Brasil.

Fonte: Google Maps

Imagem 30 – Área de intervenção barraca do Léo.

Fonte: Google Maps

O objetivo desse projeto de intervenção será revitalizar esses lugares e torna-


los espaços mais dinâmicos, estabelecer melhorias de uso e ocupação, instalação de
mobiliário urbano e iluminação adequada, além do uso da arte de forma a sensibilizar
através dos sentidos.

47
8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Para a elaboração deste trabalho acadêmico foram propostas pesquisas que


permitissem a percepção da relação arte e arquitetura, inclusive como isso pode
ocorrer através do design de superfície, além de trabalhar seu conceito e concepção.
A maioria desses estudos revela que arte e arquitetura sempre estiveram ligadas de
alguma forma.
Portanto, o que se verificou na análise das obras selecionadas é que as
ficções visuais, criadas e aplicadas à superfície construída, atuou como um artifício
para repensar a postura do observador e as alterações sensoriais em meio à
experiência com o espaço e não se limitou a um exercício em função da estética.
Além disso, esta pesquisa mostrou que experimentar o espaço, em lugar de
dar respostas para ele, talvez seja uma das maiores colaborações que a arte pode
trazer para o pensamento projetual na arquitetura. Em lugar de reduzir a intensidade
das experiências espaciais para que o ambiente mantenha a imparcialidade funcional
padrão, os projetos arquitetônicos podem integrar o propósito de afetar os sentidos
por meio dos seus materiais e recursos visuais na superfície, assim como convocar a
experimentação dos espaços pelo corpo e pelos sentidos ao invés destes atuarem
nele forma automatizada.
Que a partir deste trabalho, o campo de pesquisa sobre a ligação entre arte,
arquitetura e design de superfície possa ser ampliado e novas possibilidades serem
descobertas.

9. CRONOGRAMA

48
10. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AMBIENTE. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São


Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo351/ambiente>. Acesso em: 06 de Mai.
2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN:978-85-7979-060-7

ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino. São Paulo. Ática, 2000.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In:


Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras
Escolhidas, volume 1. Brasília: Editora Brasiliense, 1987. p.165-176

Biblioteca de Utrecht / Wiel Arets Architects" 20 de maio de


2011. ArchDaily . Acessado em 25 de junho de
2020 . <https://www.archdaily.com/136377/utrecht-library-wiel-arets-architects/>
ISSN 0719-8884

BRITTO, F. "Coletivo MUDA e seus azulejos pela cidade" 10 Mar 2013. ArchDaily
Brasil. Disponível: <https://www.archdaily.com.br/101981/coletivo-muda-e-seus-
azulejos-pela-cidade>. Acesso 16 mai. 2018 ISSN 0719-8906

CAPPELLO, M. B. C. Revistas em revista: síntese das artes e a moderna


arquitetura brasileira Conjunto Residencial Pedregulho. In: Seixas, J. e Cerasoli, J..
(Org.). Ufu,ano 30 tropeçando universos (artes, humanidades,
ciências).Uberlândia: Edufu, 2008,v. , p. 143-173.

49
CARTAXO, Z. Arte nos espaços públicos: a cidade como realidade. Revista O
Percevejo Online, v. 1, n. 1. 2009. Disponível em:http://www.seer.unirio.br/index.php/
opercevejoonline/article/view/431/381

CARTAXO, Z. Pintura em distensão. Rio de Janeiro: Oi Futuro/Secretaria do


Estado de Cultura do Rio de Janeiro, 2006.

COLETIVO MUDA. Disponível em: < http://coletivomuda.com.br/?portfolio=corte-


riscado>. Acesso em: 12 de mai. 2018.

COSTA, Robson Xavier. Interfaces do espaço na arquitetura e na arte


contemporânea: O Museu em debate. Artigo publicado no 18º Encontro da
Associação Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas - Transversalidades nas
Artes Visuais”. Salvador/ BA, 2009. Disponível em:
http://anpap.org.br/anais/2009/pdf/cc/robson_xavier_da_costa.pdf > acesso em 06
de novembro de 2019.

Equipo Editorial. "Intervenção colorida transforma famosa rua de Santiago em


passeio lúdico" [Colorida intervención busca transformar en paseo peatonal
emblemática calle de Santiago Centro] 28 Dez 2017. ArchDaily Brasil. (Trad.
Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado 25 Jun 2020.
<https://www.archdaily.com.br/br/885944/intervencao-colorida-transforma-famosa-
rua-de-santiago-em-passeio-ludico> ISSN 0719-8906

FACHINI, Rosana Bortoli. Design de superfície: um estudo sobre o uso do desenho


infantil na criação de padrões, para superfícies têxteis destinadas a ambientes
infantis. 2015. Monografia (Graduação em Design) – Universidade do Vale do
Taquari - Univates, Lajeado, jun. 2015. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/10737/865>.

FERREIRA, Samira Marques Lopes. De que maneira obras de arte alteram a


percepção das pessoas dos espaços públicos? 2013.TCC (Graduação) - Curso
de Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro UniversitÁrio
do Leste de Minas Gerais, Timóteo, 2013. Disponível em:
https://pt.slideshare.net/SamiraMarquesLopesFerreira/de-que-maneira-obras-de-
arte-alteram-a-percepo-das-pessoas-dos-espaos-pblicos. Acesso em: 08 maio 2020.

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunica-


ção. CARDOSO, Rafael (Org.). São Paulo: Cosac Naify, 2007.

FRAMPTON, Kenneth. Perspectivas para um regionalismo crítico. In: NESBITT, Kate


(Org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965 - 1995). Tra-
dução Vera Pereira. 2.ed. Revisada. São Paulo: Cosac Naify, 2008, p. 503-519
50
Freitas, Renata Oliveira Teixeira de. As ações comunicacionais táteis no
processo de criação do design de superfície. 2009. 115 f. Dissertação (Mestrado
em Comunicação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
Disponível: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/5261> acessos em 14 out. 2019.

FURTADO, Janaina Rocha; ZANELLA, Andréa Vieira. Artes visuais na cidade:


relações estéticas e constituição dos sujeitos. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo
Horizonte, v. 13, n. 2, p. 309-324, dez. 2007. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
11682007000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 06 nov. 2019.

GIEDION, Siegdion. Architecture you and me. Cambridge: Harvard University,


1958.

GIORA, Tiago. Em construção : intervenções no espaço em um encontro de


procedimentos na arte e na arquitetura. 2015. 344 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Artes Visuais, Programa de Pós-graduação em Artes Visuais., Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Instituto de Artes., Porto Alegre, 2015.

Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Igrejinha Nossa Senhora de Fátima /


Oscar Niemeyer" 07 Mai 2014. ArchDaily Brasil. Acessado 24 Jun 2020.
<https://www.archdaily.com.br/br/601545/classicos-da-arquitetura-igrejinha-nossa-
senhora-de-fatima-slash-oscar-niemeyer> ISSN 0719-8906

Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Ministério de Educação e Saúde / Lucio


Costa e equipe" 16 Ago 2013. ArchDaily Brasil. Acessado 24 Jun 2020.
<https://www.archdaily.com.br/134992/classicos-da-arquitetura-ministerio-de-
educacao-e-saude-slash-lucio-costa-e-equipe> ISSN 0719-8906

JUNIOR, Juscelino Humberto C. M.. A experiência muralística brasileira como


projeto de construção do moderno enquanto cultura. 2011. 10 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Artes, Curso de Mestrado em Artes, Instituto de Artes –
Iarte/universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2011. Disponível em:
https://docomomo.org.br/old/seminarios/9%20seminario/trabalhos.htm. Acesso em:
20 abr. 2020

LAY, Maria Cristina Dias; REIS, Antônio Tarcísio da Luz. Avaliação da qualidade
de projetos: uma abordagem perceptiva e cognitiva. Programa de Pós Graduação
em Planejamento Urbano e Regional, UFRGS. Porto Alegre, 2006.

51
LOURENÇO, Maria Cecília França. Operários da modernidade. São Paulo:
Hucitec; EDUSP, 1995.

MARTINS, Michelle De Sousa Fontes. A sensação, a percepção e as desordens


da percepção. Psicologado,[S.I.]. (2011) Disponível Em:
https://Psicologado.Com.Br/Neuropsicologia/A-Sensação-Apercepcao-E-As-
Desordens-Da-Percepção. Acesso em: 3 De Jun 2020.

MELO, Magda M. A síntese das artes na arquitetura de Ocar Niemeyer. Semina:


Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 24, p.121-130, set. 2003.Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/3841/3085 > acessos
em 06 nov. 2019

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução Carlos Al-


berto Ribeiro de Moura. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

NIEMEYER, Oscar. Uma síntese de Liberdade Plástica. O Povo, Fortaleza, 26


ago. 1994. Variedades, p.4.

PEIRCE, C.S. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.

PELL, Ben. The articulate surface: ornament and technology in contemporary


architecture. Basel: Birkhauser, 2010.

REIS, Alice Casanova dos; ZANELLA, Andréa Vieira; FRANCA, Kelly Bedin and DA
ROS, Sílvia Zanatta. Mediação pedagógica: reflexões sobre o olhar estético em
contexto de escolarização formal. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2004, vol.17, n.1,
pp.51-60. ISSN 1678-7153. https://doi.org/10.1590/S0102-79722004000100008.

_________. Regina Silveira. Disponível em: <http://www.reginasilveira.com>


Acesso em: 2013/2014.

REZENDE, Suzanna Ramalho de. Paulo Werneck: A produção mural e a


arquitetura moderna brasileira. 2018. Dissertação (Mestrado em Estética e
História da Arte) – Estética e História da Arte, Universidade de São Paulo, São
Paulo,2018.

RIBEIRO, Juliana Pontes. A arquitetura como ficção: Superfícies gráficas e


perspectivas paradoxais para o espaço: a obra de Regina Silveira. 2016. (Tese
doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura.
Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/MMMD-AKJH2R> acesso em 06 set. 2019.
52
RINALDI, Ricardo Mendonça. Contribuição da comunicação visual para o design
de superfície. 2009. 141 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, 2009.

Rinaldi, Ricardo Mendonça; Menezes, Marizilda dos Santos. Contribuições do


design gráfico para o design de superfície. Educação Gráfica, v. 14, n. 1, p. 144-
163, 2010. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/134563>.

RIZZI, Daiana Camargo de Oliveira; SILVA, Regiane Moreira. Intervenções


urbanas e coletivos artísticos: dos murais de poty lazzarotto aos painéis do
coletivo muda. 2018. 30 f. Monografia (Especialização) - Curso de Artes Visuais,
Licenciatura em Artes Visuais, Centro Universitário Internacional Uninter.,
Governador Valadares, 2018. Disponível em: http://docplayer.com.br/185204958-
Intervencoes-urbanas-e-coletivos-artisticos-dos-murais-de-poty-lazzarotto-aos-
paineis-do-coletivo-muda.html. Acesso em: 20 maio 2020
ROWE, Colin e KOETTER, Fred. Cidade-Colagem. In: NESBITT, Kate (org.). Uma
nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965 - 1995). Tradução Vera
Pereira. 2.ed. Revisada. São Paulo: Cosac Naify, 2008, p. 294-322.

RUBIM, Renata. Desenhando a Superfície. São Paulo: Edições Rosari, 2010. (2ª
Ed. Revisada e atualizada).

RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de Superfície. Rio Grande do Sul:


UFRGS, 2008.

SANTAELLA, Lúcia. A Percepção, uma teoria semiótica. Ed. Experimento. 1998.

SILVA, Márcia Luiza França da. Design de Superfícies:: por um ensino no brasil.
2017. 337 f. Tese (Doutorado) - Curso de Design, Programa de PÓs-graduaÇÃo em
Design, Universidade Paulista JÚlio de Mesquita Filho Faculdade de Arquitetura,
Artes e ComunicaÇÃo Ppgdesign, Bauru, 2017. Disponível em: .. Acesso em: 20
abr. 2020.

SILVA Filho, João Batista Rodrigues da; SANTOS, Mauro Augusto dos;
ANTONIÊTTO, Destter Álacks. Políticas Públicas de Lazer: Reflexões a partir de
um Estudo de Caso em Governador Valadares-MG.

SCHULZ-DORNBURG, Julia. Arte y Arquitectura: nuevas afinidades. Barcelona:


Editora Gustavo Gili, 2002.

53
SOUZA, Matheus Miguel de; HELD, M. Sílvia B. de. Aplicações e Potencialidades
por meio do Design de Superfície no Brasil. In: World Congress on
Communication and Arts, 2014, Vila Real. Aplicações e Potencialidades por meio do
Design de Superfície no Brasil, 2014. v. Único. p. 25-25. Disponível em:
http://copec.eu/congresses/wcca2014/proc/works/15.pdf > acessos em 09 set 2019.

SCHWARTZ, Ada Raquel Doederlein. Design de superfície: por uma visão


projetual geométrica e tridimensional. 2008. 200 f. Dissertação (mestrado) -
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação,
2008. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/89726 > acessos em 09 set. 2019.

WANDERLEY, Ingrid Moura. Azulejo na Arquitetura Brasileira: Os Painéis De


Athos Bulcão, 2006. Dissertação (Mestrado Em Arquitetura, Urbanismo E
Tecnologia) – Escola De Engenharia De Sã Carlos, Universidade De São Paulo, São
Carlos, 2006.

54

Você também pode gostar