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Artigo de Revisão Azevedo-Marques PM

DIAGNÓSTICO AUXILIADO POR COMPUTADOR NA RADIOLOGIA*


Paulo Mazzoncini de Azevedo-Marques 1

Resumo Vários desenvolvimentos tecnológicos estão convergindo de forma a aumentar a influência da área de ima-
gens nas pesquisas biomédicas e na medicina clínica. Muitos pesquisadores têm trabalhado no desenvol-
vimento de sistemas computadorizados para detecção automatizada e quantificação de anormalidades em
imagens radiológicas. Estes sistemas são dedicados ao diagnóstico auxiliado por computador. Este artigo
discute os conceitos básicos relacionados ao diagnóstico auxiliado por computador e apresenta uma revi-
são bibliográfica sobre o assunto.
Unitermos: Diagnóstico auxiliado por computador. Radiografia digital. Processamento de imagem. Visão
computacional. Inteligência artificial.

Abstract Computer-aided diagnosis in radiology.


Several technological developments are contributing to increase the use of imaging techniques in biomedical
research and clinical medicine. Many investigators have attempted to develop computerized routines for
automated detection and quantitative analysis of abnormalities in radiological images. These routines have
been referred to as computer-aided diagnosis. In this paper we discuss the basic concepts of computer-aided
diagnosis and review the literature.
Key words: Computer-aided diagnosis. Digital radiography. Image processing. Computer vision. Artificial
intelligence.

INTRODUÇÃO do computador como referência. A res- de técnicas provenientes de duas áreas


posta do computador pode ser útil, uma do conhecimento: visão computacional,
Diagnóstico auxiliado por computa- vez que o diagnóstico do radiologista é que envolve o processamento de imagem
dor (“computer-aided diagnosis” – CAD) baseado em avaliação subjetiva, estando para realce, segmentação e extração de
pode ser definido como um diagnóstico sujeito a variações intra e interpessoais, atributos, e inteligência artificial, que in-
feito por um radiologista que utiliza o bem como perda de informação devido à clui métodos para seleção de atributos e
resultado de análises quantitativas auto- natureza sutil do achado radiológico, bai- reconhecimento de padrões(4).
matizadas de imagens radiográficas co- xa qualidade da imagem, sobreposição Por ter base conceitual genérica e am-
mo uma “segunda opinião” para a toma- de estruturas, fadiga visual ou distração. pla, a idéia do CAD pode ser aplicada a
da de decisões diagnósticas(1,2). É impor- Além disso, foi demonstrado que uma todas as modalidades de obtenção de
tante ressaltar que o computador é utili- dupla leitura (por dois radiologistas) po- imagem, incluindo radiografia conven-
zado somente como uma ferramenta para de aumentar a sensibilidade do diagnós- cional, tomografia computadorizada, res-
obtenção de informação adicional, sen- tico(3). A proposta do CAD é funcionar sonância magnética, ultra-sonografia e
do o diagnóstico final sempre feito pelo como um segundo especialista. medicina nuclear. Pode-se, também, de-
radiologista, o que diferencia claramen- Basicamente, existem dois tipos de senvolver esquemas de CAD para todos
te o conceito básico de diagnóstico au- aplicações de sistemas CAD. Um é o au- os tipos de exame de todas as partes do
xiliado por computador do conceito de xílio à detecção de lesões, a partir da lo- corpo, como crânio, tórax, abdome, osso
“diagnóstico automatizado”, que foi um calização de padrões anormais através e sistema vascular, entre outros. Porém,
conceito proposto e estudado nas déca- da varredura da imagem pelo computa- os principais objetos de pesquisa para o
das de 60 e 70(1). dor (por exemplo, agrupamentos de mi- desenvolvimento de sistemas CAD têm
A finalidade do CAD é melhorar a crocalcificações em imagens mamográ- sido as áreas de mamografia, para a de-
acurácia do diagnóstico, assim como a ficas ou nódulos pulmonares em imagens tecção precoce do câncer de mama; tórax,
consistência da interpretação da imagem de tórax). O outro é o auxílio ao diagnós- para a detecção de nódulos pulmonares,
radiológica, mediante o uso da resposta tico, através da quantificação de caracte- lesões intersticiais e pneumotórax; e an-
rísticas da imagem e sua classificação giografia, para a análise quantitativa de
* Trabalho realizado no Serviço de Radiodiagnóstico do
como correspondendo a padrões normais estenoses e de fluxo sanguíneo(1).
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão ou anormais (por exemplo, a associação
Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão
Preto, SP. Apoio financeiro da Fapesp. da quantidade e forma das microcalcifi- VISÃO COMPUTACIONAL E
1. Engenheiro Eletrônico, Doutor em Física Aplicada, cações presentes em um agrupamento INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Docente do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica
do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP. com a malignidade ou não do tumor, ou
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Paulo M. de a associação da textura dos pulmões com Visão computacional envolve a utili-
Azevedo Marques. Rua Ceará, 3005, apto. 22. Ribeirão Preto,
SP, 14090-300. E-mail: pmarques@fmrp.usp.br lesões intersticiais em imagens de tórax). zação de um computador para extração
Aceito para publicação em 19/6/2001. Em geral, os sistemas CAD utilizam-se de atributos de uma imagem em formato

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Diagnóstico auxiliado por computador na radiologia

digital. De modo geral, os conceitos de


visão computacional utilizados em siste-
mas CAD podem ser divididos em duas
etapas principais.
A primeira é o processamento da ima-
gem para realce e segmentação das le-
sões. A segmentação é o processo que
subdivide a imagem em suas partes ou
objetos constituintes e utiliza as proprie-
dades básicas de descontinuidade dos ní-
veis de cinza para segmentação através
de bordas, fronteiras e linhas, ou de simi-
laridade destes para separação de regiões
que apresentem determinada caracterís-
tica em comum(4). Como resultado da
segmentação, obtém-se um conjunto de
objetos que permitirá uma descrição da
imagem digitalizada por meio da quan-
tificação de determinadas propriedades.
Várias técnicas de processamento de
imagens têm sido utilizadas para dife-
rentes tipos de lesões. Algumas das téc- Figura 1. Realce de microcalcificações através da aplicação da transformada “wavelet”.
nicas mais empregadas incluem filtra-
gem baseada na análise de Fourier, trans-
formada “wavelet”, filtragem morfológi-
ca e técnicas de imagem-diferença, entre
outras. A Figura 1 apresenta um exemplo
de realce de microcalcificações mamo-
gráficas utilizando a transformada “wave-
let”(5), e a Figura 2 mostra a segmentação
de uma região de interesse de uma ma- (A) (B) (C) (D)
mografia digitalizada contendo um agru- Figura 2. Exemplo de segmentação de imagem. A: Região de interesse contendo um agrupamento
pamento de microcalcificações suspei- suspeito de microcalcificações. B: Imagem após “stretch”. C: Imagem-diferença. D: Imagem seg-
mentada.
tas(6). O método de segmentação exem-
plificado é composto pela combinação
de um método de “stretching”, uma téc- com as microcalcificações realçadas e do que o valor calculado. No exemplo da
nica de imagem-diferença e um método outra com as microcalcificações supri- Figura 2 o tamanho da região foi fixado
de “thresholding” local adaptativo. O midas. Nesta última permanecem apenas em 7 × 7 pixels após um ensaio com
método de “stretching”, ou linearização as estruturas de fundo do mamograma, diferentes tamanhos de máscaras. Após a
do histograma, é um método simples mas uma vez que os sinais são suprimidos. binarização, a imagem é varrida para a
muito utilizado em processamento de Subtraindo as duas imagens, tem-se uma separação das microcalcificações, que
imagens e tem por objetivo aumentar o terceira imagem em que as altas varia- são os objetos constituintes da imagem.
contraste da imagem. Este método pode ções de densidade de fundo são removi- Após o realce e a segmentação, a eta-
ser aplicado à imagem antes da etapa de das. A técnica de “thresholding” local pa seguinte do processamento envolve a
segmentação e extração de atributos, adaptativo é baseada em estatísticas lo- quantificação de atributos da imagem,
para aumentar o contraste e normalizar os cais (média e desvio padrão) dos valores como tamanho, contraste e forma dos
níveis de cinza entre os limites máximo de cinza dos pixels contidos em uma seus objetos constituintes. Dependendo
e mínimo da escala de tons de cinza. A região quadrada de m × m pixels, tendo da sua natureza, estes atributos podem
técnica imagem-diferença é geralmente por finalidade a binarização da imagem. ou não ser compatíveis com a visão hu-
utilizada para o realce de microcalcifi- Para cada região da imagem é calculado mana. É possível a definição de um gran-
cações e nódulos mediante supressão o valor do limiar (“threshold”), sendo o de número de atributos baseados em fór-
das estruturas de fundo da imagem, cau- valor do seu pixel central ajustado para mulas matemáticas que podem não ser
sadas pela anatomia normal da mama. o nível de cinza máximo (255) ou míni- facilmente compreendidos por um obser-
Este procedimento é realizado por dois mo (0), dependendo se o seu valor ini- vador humano. Porém, geralmente é mais
filtros espaciais gerando uma imagem cial é, respectivamente, maior ou menor útil definir, particularmente nos estádios

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iniciais de desenvolvimento de sistemas plano imagem, ou seja, é uma proprie- cia e energia, correlacionam-se muito
CAD, atributos de imagem que já tenham dade que não será modificada por defor- bem com as estruturas da imagem e têm
sido anteriormente reconhecidos e des- mações do tipo alongamento ou contra- sido largamente utilizadas na literatura
critos subjetivamente pelos radiologis- ção do plano imagem. São propriedades para a análise de características como
tas, uma vez que estes são baseados na que não envolvem noções de distância e homogeneidade, contraste, presença de
observação de um número muito grande nem propriedades que dependam dessas estruturas organizadas, transição de nível
de casos e possibilitam diagnósticos noções. As propriedades topológicas ge- de cinza e complexidade da imagem(8).
com alta acurácia e confiabilidade(1). De ralmente utilizadas são o número de ele- Após a extração de informação, os
modo geral, os atributos são quantifica- mentos conectados e o número de “bura- atributos quantificados são utilizados no
dos a partir de propriedades métricas, cos” existentes na figura. Pode-se utilizar processo de classificação das estruturas
topológicas e de textura dos objetos. também combinações dessas proprieda- presentes na imagem. Inteligência artifi-
Conceitualmente, propriedades métri- des, como, por exemplo, o número de Eu- cial envolve o uso do computador para o
cas utilizam generalizações da noção de ler (definido como o número de elemen- processamento de dados, visando à dis-
distância euclidiana, sendo pois sensí- tos conectados menos o número de bura- tinção entre padrões normais e anormais,
veis a qualquer distorção “elástica” do cos). De modo geral, as propriedades to- a partir dos atributos extraídos das ima-
plano imagem(4). As propriedades métri- pológicas são utilizadas como auxílio gens. As técnicas relacionadas a essa área
cas mais diretas que podem ser utilizadas para outras formas de descrição. Normal- do conhecimento incluem métodos para
na descrição de formas são a área, o perí- mente, um problema para o qual uma des- a seleção de atributos, como os baseados
metro, a razão de “delgadeza” e a razão crição topológica sozinha seja suficien- na separabilidade entre as distribuições
de aspecto. A razão de delgadeza é uma te é bastante raro(4). de probabilidades das classes e algorit-
relação entre a área da figura e o períme- Uma definição genérica de textura mos genéticos, e classificadores, como
tro ao quadrado e fornece uma noção de poderia ser “a disposição ou característi- os baseados em técnicas de análise dis-
quanto a figura é arredondada (gorda) ou cas dos elementos constituintes de algu- criminante, sistemas especialistas basea-
alongada (magra). Figuras mais arredon- ma coisa, especialmente no que se refere dos em regras específicas, métodos esta-
dadas terão razão de delgadeza próxima à aparência superficial ou à qualidade tísticos e redes neurais artificiais(2,4,9). A
de 1 (1 é o valor máximo e será obtido táctil”. Porém, no caso de imagens, uma Figura 3 apresenta um esquema de uma
quando a figura for um círculo), e figu- definição mais adequada poderia ser rede neural artificial multicamadas do
ras com formas próximas a linhas terão “uma característica representativa da tipo “feedforward”.
razão de delgadeza próxima de zero. distribuição espacial dos níveis de cinza
Além disso, a razão de delgadeza é adi- dos pixels de uma região”(7). Ou seja, um AUXÍLIO À DETECÇÃO
mensional, dependendo somente da for- atributo de textura é um valor, calculado
ma da figura e não da escala. A razão de a partir da imagem de um objeto, que A detecção automatizada de lesões
aspecto é também uma medida do alon- quantifica algumas características da envolve a localização pelo computador
gamento de uma figura. A razão de aspec- variação dos níveis de cinza desse obje- de regiões contendo padrões radiológi-
to de um retângulo é a razão do seu com- to. Normalmente, um atributo de textura cos suspeitos, porém com a classificação
primento por sua largura, de modo que é independente da posição, orientação, da lesão sendo feita exclusivamente pelo
uma razão de aspecto próxima de 1 indi- tamanho, forma e brilho do objeto. radiologista. Sistemas para auxílio à de-
ca um retângulo “gordo”. Para estender Estatisticamente, os atributos de tex- tecção têm sido desenvolvidos principal-
este conceito a figuras arbitrárias, deve- tura de uma imagem podem ser obtidos a mente para imagens de tórax e de mama.
se envolver a figura em um retângulo e partir de cálculos efetuados sobre os va- Segundo a literatura especializada, de
considerar que a razão de aspecto da figu- lores do seu histograma de segunda or- 30% a 50% dos casos de câncer de mama
ra será a mesma que a do retângulo que a dem. O histograma de segunda ordem detectados por meio de mamografia apre-
envolve. Pode-se notar que muitos resul- p(i,j), também chamado de matriz de de- sentam agrupamentos de microcalcifica-
tados são possíveis, dependendo das vá- pendência espacial de nível de cinza ou ções associados(2). Além disso, estudos
rias maneiras que se coloca o retângulo matriz de co-ocorrência, é uma represen- demonstraram que 26% dos casos de
ao redor da figura. A definição mais sim- tação da distribuição de probabilidade câncer não-palpável de mama apresen-
ples especifica que os lados do retângu- de ocorrência de um par de valores seme- tam nódulos associados na mamografia e
lo devem ser paralelos aos eixos coorde- lhantes de nível de cinza, separados por 18% apresentam nódulos e microcalcifi-
nados do plano da imagem. uma distância “d”, na orientação “θ”. Em cações(10). Por isso, a maioria dos sistemas
Outra maneira possível de se caracte- outras palavras, p(i,j) indica a freqüência de auxílio ao diagnóstico em mamogra-
rizar um subconjunto de uma imagem é de ocorrência de um particular par de fia é voltada para a detecção de nódulos
especificar algumas de suas proprieda- nível de cinza i e j, medido a partir de uma e microcalcificações(2).
des topológicas. Uma propriedade topo- distância “d” e de um ângulo “θ”. As Desde 1987, pesquisadores da Uni-
lógica é uma propriedade invariante (in- estatísticas do histograma de segunda versidade de Chicago, EUA, têm apresen-
sensível) às distorções “elásticas” do ordem, como, por exemplo, entropia, inér- tado uma metodologia para a detecção

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Diagnóstico auxiliado por computador na radiologia

dos, aprovou o ImageChecker M1000 (R2


Technology, Los Altos, Califórnia) como
um sistema de auxílio à detecção, para
ser utilizado por radiologistas na rotina
de leitura de mamografias. Um amplo es-
tudo, envolvendo a análise retrospectiva
de 1.083 casos de câncer e o acompanha-
mento prospectivo de 14.817 casos, foi
realizado como parte dos requisitos para
a sua aprovação pelo FDA. Neste estudo,
a sensibilidade alcançada foi de 98,3%
para a detecção de agrupamentos de mi-
crocalcificações e 72% para a detecção
de nódulos, com uma taxa de falso-posi-
tivo média de um (agrupamento ou nódu-
lo) por imagem(15). Segundo Giger(2), em
um estudo realizado por Hendricks, da
Universidade de Nijimen (Holanda), uti-
lizando o ImageChecker, não foi obser-
vada diferença entre uma dupla leitura
com dois radiologistas e uma dupla lei-
tura utilizando o sistema de CAD.
Ao contrário da análise da mamogra-
fia, na qual existem basicamente duas
respostas possíveis, câncer ou não, a ra-
diografia de tórax pode apresentar uma
Figura 3. Esquema de uma rede neural artificial multicamadas do tipo “feedforward”. variedade de patologias possíveis, cuja
detecção é o objetivo de alguns sistemas
automatizada de microcalcificações em ção de lesões espiculadas, assimetrias, de CAD. Estes sistemas incluem métodos
mamogramas. Esta metodologia, descri- aumento de densidade, lesões circunscri- de processamento para realce de ima-
ta inicialmente por Chan et al.(11), inclui tas e distorções de parênquima. Pesqui- gens, como subtração de dupla energia e
etapas de pré-processamento para realce sadores da Universidade de Chicago têm temporal, e esquemas para detecção au-
das imagens, filtragem para remoção de trabalhado, também, no desenvolvimen- tomatizada de padrões suspeitos, como
estruturas de fundo, segmentação das mi- to de uma metodologia para a detecção nódulos, pneumotórax, cardiomegalia,
crocalcificações para extração de atribu- de nódulos em mamogramas, a qual é ba- assimetrias torácicas e lesões intersti-
tos e o uso de redes neurais artificiais seada nas diferenças de simetria de ar- ciais. A detecção radiográfica de peque-
para redução do número de detecções fal- quitetura entre as mamas esquerda e di- nos nódulos é um aspecto importante no
sas-positivas. reita, com as assimetrias indicando pos- diagnóstico e condução do tratamento
A detecção automatizada de nódulos síveis nódulos(13). Em um estudo prospec- de pacientes com câncer de pulmão. Po-
em mamogramas digitalizados é mais di- tivo de 10.000 mamogramas, realizado rém, a não detecção pode ocorrer devido
fícil do que a detecção de microcalcifica- pelos pesquisadores da Universidade de à sobreposição com costelas, brônquios,
ções, devido à similaridade de muitos nó- Chicago, empregando um sistema CAD vasos sanguíneos e outras estruturas ana-
dulos com o tecido parenquimatoso nor- como segunda opinião, o computador tômicas normais. A taxa média de perda
mal que os envolve. Segundo Giger(2), indicou a presença de câncer cerca de um na detecção radiográfica de nódulos pre-
provavelmente um dos primeiros estudos ano antes de este ser clinicamente diag- coces é estimada em cerca de 30%(16).
sobre a análise computadorizada de ima- nosticado em aproximadamente 15% de Segundo MacMahon(17), um sistema para
gens mamográficas foi apresentado em todos os casos de câncer, e em 56% dos detecção de nódulos pulmonares vem
1967 por Winsberg et al.(12), que descre- casos foi detectado câncer em um estudo sendo desenvolvido pelos Laboratórios
vem um método computadorizado para retrospectivo de mamogramas conside- Rossmann, da Universidade de Chicago,
comparação de padrões de densidade em rados clinicamente negativos. A taxa de há mais de dez anos, tendo recebido nu-
várias áreas de uma mesma mama e entre falsos-positivos foi de aproximadamen- merosos refinamentos neste período. A
as mamas direita e esquerda. O método te 1,3 agrupamento falso por imagem e finalidade básica deste sistema é a distin-
foi aplicado em um número pequeno de 2,1 nódulos falsos por imagem(14). ção de opacidades focais anormais do
casos selecionados. Atualmente existem Em junho de 1998, o Food and Drug fundo anatômico complexo da radiogra-
muitos trabalhos voltados para a detec- Administration (FDA), dos Estados Uni- fia de tórax, tendo por objetivo chamar a

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atenção do radiologista para a região sus- tervalo até o próximo exame. Sistemas aumento na acurácia diagnóstica de mé-
peita. Atualmente, o programa de com- de análise computadorizada estão sendo dicos residentes, de 40% para 73%, e de
putador possui sensibilidade de aproxi- desenvolvidos para auxiliar a distinção médicos radiologistas, de 70% para 73%,
madamente 70% para nódulos pulmona- entre lesões malignas e benignas e au- com a utilização de um sistema especia-
res sutis, com uma média de um a dois mentar a sensibilidade e especificidade lista voltado para a diferenciação de 16
falsos-positivos por imagem. Segundo o do diagnóstico. Estes sistemas utilizam tipos de lesões de mama circunscritas, a
autor, embora essa acurácia seja menor atributos extraídos e quantificados de partir da identificação de achados radio-
do que a apresentada pela maioria dos forma automatizada e também por radio- lógicos por inspeção visual. Pesquisado-
radiologistas, os erros cometidos pelo logistas. A vantagem da extração auto- res da Duke University, EUA(26), utiliza-
computador tendem a ser diferentes da- matizada (pelo computador) é a objetivi- ram as categorias do padrão BI-RADS
queles cometidos pelos radiologistas, o dade e reprodutibilidade da medida dos (American College of Radiology Breast
que faz com que o uso do programa pos- atributos escolhidos. Por outro lado, os Imaging Reporting and Data System)(27)
sa auxiliar mesmo radiologistas expe- radiologistas utilizam uma grande quan- como entradas para redes neurais artifi-
rientes na tarefa de detecção de nódulos. tidade de atributos, os quais são extraí- ciais, visando à distinção entre lesões be-
A detecção e quantificação de lesões dos e interpretados simultânea e instan- nignas e malignas e à previsão da poten-
pulmonares intersticiais pelos radiologis- taneamente. É importante ressaltar que cialidade de invasão do câncer de mama.
tas está reconhecidamente sujeita a uma um dos objetivos dos sistemas de auxílio Os resultados mostraram o potencial do
grande variação inter e intrapessoal, sen- à classificação é a redução do número de uso dos padrões do BI-RADS no diag-
do, por isso, uma área particularmente casos benignos encaminhados para bióp- nóstico auxiliado por computador.
interessante para aplicação de análises sia. Porém, como o “custo” da perda de Ashizawa et al.(28) apresentaram os re-
computadorizadas. Katsuragawa et al.(18) uma lesão maligna é muito maior que o sultados da utilização de uma rede neu-
e Monnier-Cholley et al.(19) apresentaram de uma classificação errônea de um caso ral artificial para auxílio ao diagnóstico
esquemas computadorizados para avalia- benigno, os sistemas de auxílio ao diag- diferencial de lesões intersticiais de pul-
ção de lesões intersticiais a partir de atri- nóstico devem ser desenvolvidos com o mão. A rede neural foi projetada para dis-
butos de textura extraídos de imagens propósito de aumentar a especificidade, tinguir entre 11 lesões intersticiais a par-
radiográficas. Inicialmente, regiões de porém sem reduzir a sensibilidade. No tir de dez parâmetros clínicos e 16 acha-
interesse são automaticamente selecio- que se refere ao câncer de mama, méto- dos radiológicos obtidos por radiologis-
nadas em radiografias de tórax e, então, dos de auxílio à classificação estão sen- tas especializados em tórax. Foram utili-
processadas para eliminação de estrutu- do desenvolvidos para a caracterização zados 150 casos reais, 110 casos publica-
ras anatômicas e realce de detalhes finos de lesões a partir de informações extraí- dos e 110 casos hipotéticos. O desempe-
da textura dos pulmões. Um processa- das de imagens de mamografia, ultra-so- nho da rede foi avaliado por meio de
mento da imagem baseado na transfor- nografia e de ressonância magnética. curva ROC (“receiver operating charac-
mada de Fourier é utilizado para a descri- Vários pesquisadores têm utilizado a teristic”), tendo sido obtida uma área sob
ção da magnitude e rugosidade da textu- análise computadorizada de atributos a curva igual a 0,947 para os casos clíni-
ra. Os autores descrevem valores de sen- extraídos por inspeção visual para auxí- cos. Foram obtidos valores de sensibili-
sibilidade e especificidade na ordem de lio à tomada de decisão quanto ao enca- dade e especificidade em torno de 90%,
89% para uma base de dados contendo minhamento do tratamento do pacien- considerando-se a resposta correta conti-
100 casos patológicos. te(2). De modo geral, este tipo de análise da dentro dos dois maiores valores de
Outros programas de CAD têm sido utiliza uma lista de atributos que devem saída para as 11 patologias.
desenvolvidos, dirigidos para a detecção ser avaliados e quantificados pelo radio- O desenvolvimento de métodos de au-
de pneumotórax(20), cardiomegalia(21) e logista em uma escala preestabelecida, xílio à classificação, baseados na extra-
assimetria anormal de tórax(22). Artigos e em conjunto com um método para com- ção e quantificação automatizada de atri-
detalhes podem ser encontrados nos anais posição destes valores utilizando coefi- butos, exige que inicialmente sejam de-
do International Workshop on Computer- cientes otimizados. As respostas obtidas, finidos quais atributos são clinicamente
Aided Diagnosis(23). em geral, apresentam a probabilidade da significativos e depois estabelecidos os
presença de determinada condição (por métodos para sua extração e quantifica-
AUXÍLIO AO DIAGNÓSTICO exemplo, de uma lesão previamente de- ção. Segundo Giger(2), nos últimos cinco
tectada ser maligna). Gale et al.(24) apre- anos houve expressivo aumento no nú-
Uma vez que uma lesão foi detectada, sentam um aumento de especificidade de mero de trabalhos sobre desenvolvimen-
cabe ao radiologista decidir o encami- 67% para 88% entre o diagnóstico de to de métodos de classificação automati-
nhamento do caso, ou seja, se é necessá- câncer de mama feito sem auxílio e com zada de lesões em imagens mamográfi-
ria a realização de algum outro exame ou auxílio de um sistema computadorizado. cas. De modo geral, um método automa-
de uma biópsia, por exemplo. Ou então, Porém, houve redução na sensibilidade tizado para classificação de microcalci-
se um simples acompanhamento é sufi- de 87% para 79% com o sistema compu- ficações agrupadas envolve a extração de
ciente e, neste caso, qual deve ser o in- tadorizado. Cook e Fox(25) relatam um atributos que se correlacionam qualitati-

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Diagnóstico auxiliado por computador na radiologia

vamente com a experiência dos radiolo-


gistas, estimando a probabilidade de ma-
lignidade a partir da aparência das mi-
crocalcificações existentes no agrupa-
mento. O computador extrai automatica-
mente atributos relacionados ao tama-
nho, forma, quantidade e distribuição es-
pacial das microcalcificações, e um clas-
sificador (uma rede neural artificial, por A B
exemplo) é utilizado para combinar estes Figura 4. Exemplo de segmentação de nódulo mamográfico. A: Região de interesse original. B:
atributos e fornecer uma estimativa da Nódulo segmentado.
probabilidade de malignidade. Esta esti-
mativa pode então ser utilizada pelos ra- obtido por radiologistas especializados ça de contraste é utilizado para a diferen-
diologistas como auxílio na decisão se a em mamografia e 21% acima da média de ciação entre lesões e tecidos normais, de-
lesão é maligna ou benigna. Resultados outros radiologistas menos experientes). vido ao aumento de vascularização e per-
de estudos aplicados têm mostrado me- O ultra-som de mama também é utili- meabilidade capilar do tumor. Porém, al-
lhorias estatisticamente significativas de zado como importante auxiliar no diag- gumas lesões benignas também são real-
desempenho quando os radiologistas uti- nóstico mamográfico, sendo tipicamente çadas na ressonância e, por isso, sua es-
lizam sistemas de auxílio computadori- aplicado para avaliar lesões palpáveis e pecificidade é limitada. Pode-se utilizar
zado, em comparação com situações em mamograficamente detectadas quanto à atributos temporais e espaciais das le-
que estes sistemas não são empregados. sua natureza sólida ou cística. A acurácia sões para a sua caracterização. Atributos
São relatados aumentos de sensibilidade, do ultra-som tem sido apontada como temporais incluem taxa máxima de real-
de 73% para 87%, e de especificidade, de sendo de 96% a 100% no diagnóstico de ce da lesão, o tempo em que isto ocorre,
32% para 40%(24). Resultados como estes lesões císticas benignas. Porém, o ultra- a velocidade máxima de realce, e mudan-
indicam que o computador pode poten- som de mama não é utilizado na rotina ça na não-homogeneidade da lesão no
cialmente ser utilizado para auxiliar os para distinguir lesões sólidas malignas de processo de realce. Atributos espaciais in-
radiologistas a decidirem quais mulheres benignas, devido à considerável sobre- cluem relação de contraste entre a lesão
devem ser encaminhadas para biópsia, posição das suas aparências ultra-sono- e o fundo, não-homogeneidade dos valo-
podendo reduzir o número de biópsias gráficas(2). Chen et al.(30) relataram um mé- res dos voxels na lesão, características
desnecessárias. todo baseado em rede neural artificial das margens da lesão, textura, circulari-
No caso de nódulos, uma lesão malig- para auxílio ao diagnóstico diferencial dade e irregularidade da lesão. Gilhuijs et
na pode ser diferenciada de uma lesão de tumores sólidos de mama em imagens al.(31) apresentaram um sistema de classi-
benigna, em virtude da sua aparência de ultra-som. Foram avaliadas 140 ima- ficação automatizada de lesões de mama
mais espiculada na imagem mamográfi- gens de nódulos sólidos de mama, sendo a partir de imagens de ressonância mag-
ca(2) e, de modo geral, para a classificação 52 correspondentes a tumores malignos nética, utilizando atributos temporais e
deste tipo de lesão, o nódulo é primeira- e 88 a tumores benignos, todos confirma- espaciais calculados nas três dimensões.
mente extraído do fundo anatômico do dos por biópsia. Atributos de textura fo- Em um estudo inicial para distinção en-
mamograma utilizando-se alguma técni- ram extraídos, após a seleção manual da tre lesões benignas e malignas, realizado
ca de processamento de imagem (como região de interesse contendo a lesão. A com 27 casos, foi obtida uma área sob a
crescimento de região, por exemplo). En- acurácia da rede neural foi de 95% para curva ROC igual a 0,96. Nunes et al.(32)
tão, atributos de forma, contorno, níveis a classificação das lesões malignas, com concluíram, como resultado de um estu-
de cinza e textura são extraídos e utiliza- sensibilidade de 98%, especificidade de do feito com atributos de arquitetura da
dos por um classificador para o cálculo 93%, valor preditivo positivo de 89% e mama, que a caracterização da margem
da probabilidade de malignidade asso- valor preditivo negativo de 99%. Segun- da lesão é um determinante primário da
ciada. A Figura 4 mostra um exemplo de do esses autores, o sistema foi capaz de sua malignidade.
segmentação de nódulo através do mé- diferenciar os nódulos sólidos de mama Armato III et al.(33) desenvolveram um
todo de crescimento de região(29). com uma acurácia relativamente alta e método automatizado para detecção de
Em trabalho realizado por pesquisa- auxiliou operadores inexperientes a evi- assimetria anormal em radiografias pós-
dores da Universidade de Chicago, com tar diagnósticos errados. tero-anteriores digitais de tórax. O mé-
um sistema desenvolvido para a classifi- A ressonância magnética pode tam- todo é baseado em um “thresholding” de
cação de nódulos mamográficos a partir bém auxiliar no diagnóstico do câncer de nível de cinza para segmentação e extra-
do seu grau de espicularidade(2), foram mama, como técnica complementar à ma- ção de contorno de regiões do pulmão
obtidos, para a base de dados utilizada, mografia, com a vantagem de propiciar a contendo ar. Foram realizados testes em
sensibilidade de 100% e valor preditivo obtenção de informação tridimensional uma base de dados contendo 600 ima-
positivo de 83% (12% acima do valor da mama. O realce decorrente da presen- gens clínicas de tórax, e a habilidade do

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Azevedo-Marques PM

método em distinguir entre casos nor- doso que varia aleatoriamente sobre um ções se sobrepõem e um limiar de decisão
mais e casos com assimetria anormal foi valor médio. Quando um estímulo está (“threshold”) irá sempre envolver um
avaliada por intermédio da curva ROC. O presente, a atividade que ele cria no sis- compromisso entre os resultados falsos-
desempenho do método alcançou uma tema de obtenção de imagem é adiciona- positivos (não existe anormalidade, mas
área sob a curva de 0,84. Segundo os au- da ao ruído existente naquele momento. o observador indica que existe) e falsos-
tores, a sensibilidade do método torna-o Este ruído pode estar dentro do próprio negativos (existe anormalidade, mas o
potencialmente útil como componente sistema ou fazer parte do padrão de entra- observador indica que não existe). Uma
para integração de um sistema de CAD da. A tarefa do observador (ou sistema au- mundança no limiar irá causar mudanças
para radiografia digital de tórax. Vargas- tomático) é determinar se o nível de ati- na especificidade e sensibilidade do tes-
Voracek et al.(34) apresentaram um estudo vidade no sistema é devido apenas ao te. Os observadores humanos, assim co-
realizado com atributos de textura ex- ruído ou resultado de um estímulo adicio- mo os sistemas de auxílio ao diagnósti-
traídos de radiografias de tórax. O expe- nado ao ruído. Em sua forma mais sim- co, operam em pontos ao longo da curva
rimento foi realizado utilizando-se uma ples, a tarefa de diagnosticar consiste na ROC. Os pontos de operação sobre a cur-
base de dados contendo 200 regiões de apresentação de imagens contendo ou va (sensibilidade vs. especificidade) mu-
interesse (ROIs) extraídas de radiografias não uma anormalidade associada, a um dam de acordo com os valores de custo
digitalizadas de pacientes com lesões in- observador que deve responder se existe atribuídos aos resultados falsos-positi-
tersticiais de pulmão e pacientes com ra- ou não uma anormalidade presente. Para vos ou falsos-negativos.
diografias normais. Nenhum pré-proces- a análise da “performance” em um teste A medida mais comum extraída da
samento foi realizado nas imagens. Os de diagnóstico, a curva ROC plota a fra- curva ROC é a área sob a curva. A área sob
atributos calculados para cada ROI foram ção de verdadeiro-positivo (sensibilida- a curva ROC varia de 0,5 (comportamen-
utilizados como entrada em uma rede de) contra a fração de falso-positivo (1 – to aleatório) a 1,0 (discriminação perfeita),
neural artificial. A “performance” diag- especificidade) para toda a faixa de resul- sendo que quanto mais a curva se apro-
nóstica da rede foi bastante boa, alcan- tados possíveis para o teste. xima do canto esquerdo superior do grá-
çando sensibilidade de 90% e especifici- A análise por curva ROC baseia-se na fico melhor a “performance” do teste. As
dade de 84%, com uma área sob a curva premissa de que o processo de decisão do Figuras 6 e 7 mostram as curvas ROC ob-
ROC igual a 0,85. McNitt-Gray et al.(35) observador pode ser modelado por uma tidas para duas configurações diferentes
desenvolveram uma metodologia para variável randômica que se ajusta a um de um classificador estatístico não-para-
caracterização de nódulos pulmonares modelo bi-normal (Figura 5). As funções métrico, variando-se os limiares de sepa-
solitários, obtidos por exame de tomo- de densidade de probabilidade desta va- ração entre as classes maligna e benigna,
grafia computadorizada de alta resolu- riável para as duas hipóteses (presença utilizado em um sistema de classificação
ção, como sendo benignos ou malignos, de anormalidade e ausência de anorma- automatizada de microcalcificações pre-
por meio da quantificação de atributos lidade) são consideradas normalmente sentes em mamogramas digitalizados(6).
de tamanho, forma, atenuação e textura. distribuídas. A menos que as condições Os parâmetros de aquisição da ima-
Um estudo inicial, realizado com 31 pa- do teste sejam perfeitas, estas distribui- gem digital, as características da base de
cientes com diagnósticos definitivos (14
benignos e 17 malignos) e utilizando
dois atributos de textura considerados os
mais discriminantes (entropia e correla-
ção), resultou em uma taxa de acerto na
classificação de 90,3%.

MEDIDAS DE DESEMPENHO
E CARACTERÍSTICAS

Existem vários índices de desempe-


nho que podem ser utilizados na avalia-
ção de sistemas de auxílio ao diagnóstico.
Uma medida possível e muito utilizada é
a análise da característica de resposta do
observador (ROC), introduzida no con-
texto das imagens médicas por Swets(36) e
Metz(37). A análise por curva ROC é funda-
mentada na teoria de detecção de sinal,
tendo como base a idéia de que para qual-
quer sinal sempre existirá um fundo rui- Figura 5. Modelo bi-normal de distribuição de probabilidade para análise por curva ROC.

Radiol Bras 2001;34(5):285–293 291


Diagnóstico auxiliado por computador na radiologia

Figura 6. Curva ROC para um classificador do tipo K-NN. Figura 7. Curva ROC para um classificador do tipo K-NN em configuração
de alta sensibilidade.

dados utilizada para treinamento e teste sistema computadorizado para auxílio grupos de pesquisa a buscarem soluções
dos algoritmos, a comparação entre mé- na detecção de lesões de mama, treinado computacionais para auxiliar os médicos
todos e a determinação da viabilidade de com projeções médio-laterais oblíquas, nesse problema.
aplicação clínica são também caracterís- irá fornecer resultados tendenciosos (te- Em uma visão global dos trabalhos
ticas fundamentais no processo de ava- rá um “bias”) se forem utilizadas proje- apresentados sobre sistemas de CAD, po-
liação de sistemas de CAD. As imagens ções crânio-caudais nos testes. Os resul- de-se constatar que, de modo geral, estes
podem ser obtidas diretamente em for- tados também serão tendenciosos se, com sistemas podem detectar lesões perdidas
mato digital ou a partir da digitalização uma base de dados limitada, os parâme- pelos radiologistas, são suficientemente
de filmes. Para a digitalização de filmes, tros do classificador forem determinados robustos em relação a mudanças na aqui-
a qualidade da imagem original é funda- usando-se os mesmos dados que foram sição e digitalização das imagens, po-
mental, uma vez que imagens de baixa empregados para a seleção dos atributos dem ser integrados com relativa facilida-
qualidade irão afetar tanto a inspeção mais discriminantes. Além disso, diferen- de nas rotinas existentes e podem classi-
visual como a “performance” da análise tes formas de medida irão causar varia- ficar lesões com acurácia comparável à
automatizada. O tamanho do pixel e o ções nos resultados obtidos. Por exem- dos especialistas. Porém, o número de
número de níveis de quantização tam- plo, se a sensibilidade do sistema é dada testes dos sistemas em ambientes clínicos
bém irão afetar a resposta do sistema, em função da porcentagem de lesões ainda é bastante limitado e uma avalia-
uma vez que modificações nos valores detectadas por imagem ou por caso, ou ção cuidadosa é necessária antes de sua
de entrada irão produzir saídas diferentes. então, se a porcentagem de sobreposição inserção na rotina de serviço.
É bastante difícil a comparação entre os entre a lesão real e a lesão detectada pelo Os bons resultados conseguidos em
vários métodos de diagnóstico auxiliado computador é calculada levando-se em testes de desempenho, em conjunto com
por computador que estão sendo desen- consideração sua intersecção ou a inter- a difusão da tecnologia de imagem digi-
volvidos, devido às diferentes bases de secção dividida pela sua união. tal, incentivam a integração de métodos
dados utilizadas e os variados métodos automatizados de detecção e classifica-
de descrição dos resultados. Algumas ba- DISCUSSÃO ção em um número cada vez maior de
ses de dados estão sendo estruturadas pa- protótipos clínicos. Porém, é necessária
ra desenvolvimento e teste de sistemas A dificuldade na realização do diag- uma introdução sistemática e gradual
de CAD(38,39). A forma como a base de da- nóstico visual de lesões em estádio pre- dos sistemas CAD junto aos serviços de
dos é utilizada irá também influenciar o coce, juntamente com o grande volume radiologia, de forma a minimizar a ruptu-
desenvolvimento e a apresentação de re- de dados gerados num sistema de diag- ra dos hábitos atuais de leitura, garantin-
sultados do sistema. Por exemplo, um nóstico hospitalar, têm induzido vários do a sua aceitabilidade e a otimização do

292 Radiol Bras 2001;34(5):285–293


Azevedo-Marques PM

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