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Instituto de Matemática - IM
Programa de Pós-Graduação em Matemática
Dissertação de Mestrado
Salvador-Bahia
Julho de 2019
Dinâmica das Transformações de Intercâmbio de
Intervalos
Salvador-Bahia
Julho de 2019
Sistema de Bibliotecas da UFBA
Banca examinadora:
v
vi
(Charles Chaplin)
Resumo
Palavras-chave:
vii
viii
Abstract
Keywords:
ix
x
Sumário
Introdução 1
1 Preliminares 3
1.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Indução de Rauzy-Veech . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Operador Θ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 Condição de Keane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 Minimalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 Dinâmica da Aplicação de Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.7 Classes de Rauzy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.8 Renormalização de Rauzy-Veech . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.9 Transformações de Zorich . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.9.1 Frações Continuadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.10 Forma Simplética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Referências 35
xi
xii Sumário
Introdução
1
2 Sumário
Capı́tulo 1
Preliminares
1.1 Definições
Considere o intervalo I = [0, 1) e {Iα : α ∈ A} uma partição de I em subinterva-
los, cujos ı́ndices compõem o conjunto A que chamamos de alfabeto.
ii) o dado de comprimento é um vetor, denotado por λ = (λα )α∈A , que descreve o
comprimento de I, assim para cada α ∈ A temos λα = kIα k, isto é, representa o
P
comprimento do subintervalo α de I. Como estamos considerando kIk = α∈A λα =
1, temos que λ = kIk pertende ao simplexo ∆d−1 .
3
4 Capı́tulo 1. Preliminares
p(1, 2, 3, 4) = (π1 ◦ π0−1 (1), π1 ◦ π0−1 (2), π1 ◦ π0−1 (3), π1 ◦ π0−1 (4)) = (4, 3, 2, 1)
Definição 1.4. Dizemos que um par π = (π0 , π1 ) é redutı́vel se existe k ∈ {1, ..., d − 1}
tal que p = π1 ◦ π0−1 ({1, ..., k}) = {1, ..., k}, caso contrário, dizemos que π = (π0 , π1 ) é
irredutı́vel.
Uma representação gráfica é dada pela figura XX. Notemos que identificando I com o
cı́rculo unitário S 1 e considerando f : S 1 → S 1 onde
f (x) = x + λB mod1
e interando obtemos
f n (x) = x + nλB .
f n (x) − x x + nλB − x
= −→ λB quando n −→ ∞.
n n
f (x) = x + ωα , com x ∈ Iα
(ωA , ωB , ωC , ωD ) = (λB + λC + λD , λC + λD − λA , λD − λA − λB , λC − λB − λA )
6 Capı́tulo 1. Preliminares
Iremos assumir que λα(0) 6= λα(1) . Quando λα(0) > λα(1) dizemos que (π, λ) tem tipo 0 e, se
λα(0) < λα(1) dizemos que (π, λ) tem tipo 1. Em ambos os casos, o maior dos subintervalos
é chamado ganhador e o menor é chamado perdedor.
(
I \ f (Iα(1) ), se (π, λ) tem tipo 0,
I1 =
I \ Iα(0) , se (π, λ) tem tipo 1.
(
f (x), se x ∈ Iα1 , α 6= α(1 − ),
R(f ) =
f 2 (x), se x ∈ Iα()
1
.
Assim, podemos obter para R(f ) uma nova partição {Iα1 : α ∈ A} onde os
subintervalos Iα1 ⊂ I 1 são definidos a seguir:
(
Iα , se α 6= α(0),
Iα1 = (1.3)
Iα(0) \ f (Iα(1) ), nos outros casos.
se f for do tipo 0, e
−1
f (Iα(0) ), se α = α(0),
Iα1 = Iα(1) \ 1
Iα(0) , se α = α(1), (1.4)
I , nos outros casos.
α
se f for tipo 1.
anexar figura de indução de Rauzy tipo 0 e tipo 1
Além disso, ao aplicarmos a indução de Rauzy-Veech obtemos outros dados com-
binatório e de comprimento, de modo que
1.3. Operador Θ 7
(
λα() − λα(1−) , se α = α(),
λ1α = (1.5)
λα , se α 6= α().
e,
π(1−) (α),
se π(1−) (α) ≤ π(1−) (α()),
1
π(1−) (α) = π(1−) (α) + 1, se π(1−) (α()) < π(1−) (α) < d,
(1−) (α()) + 1, se π(1−) (α(1 − )) = d.
π
Exemplo 1.9. Se !
A B C D
π= .
D C B A
e λA < λD (caso tipo 0), então
!
1 A B C D
π = .
D A C B
e λ1 = (λA , λB , λC , λD − λA ).
1.3 Operador Θ
Existe uma correspondência biunı́voca entre os vetores λ e λ1 , pois de 1.5, dado
λ obtemos λ1 e, pelo mesmo sistema vemos que
(
λ1α() + λ1α(1−) , se α = α(),
λα = (1.6)
λ1α , se α 6= α(),
assim, dado λ1 obtemos λ. Com isso, como o vetor translação depende do comprimento
dos subitervalos, temos uma correspondência entre os vetores translação ω e ω 1 , como
segue:
8 Capı́tulo 1. Preliminares
ω 1 = Θ(ω)
onde Θ = Θπ,λ : Rd → Rd é o operador linear Θ cuja matriz (Θα,β )α,β∈A é dada por
1, se α = β,
Θα,β = 1, se α = α(1 − ) e β = α(),
0, caso contrário.
onde Θ∗ denota o operador adjunto de Θ, isto é, o operador cuja matriz é a transposta
de Θ.
Temos que esta condição é invariante sobre a interação entre 1.5 e 1.6. Com
efeito, suponha que (λα )α∈A é racionalmente independente. Assim,
X X
ηα λ1α = ηα λ1α + ηα() λ1α()
α∈A α∈A,α6=α()
X
= ηα λα + ηα() (λα() − λα(1−) )
α∈A,α6=α()
X
= ηα λα − ηα() λα(1−) )
α∈A
X
= ηα λα + (ηα(1−) − η α ())λα(1−)
α∈A,α6=α(1−)
X
= ηbα λα + ηbα(1−) λα(1−)
α∈A,α6=α(1−)
X
= ηbα λα
α∈A
6= 0
onde (
ηα , se α 6= α(1 − ),
ηbα =
ηα(1−) − ηα() , se α = α(1 − )
Portanto, (λ1α )α∈A é racionalmente independente. Com isso, podemos concluir que Rn (f )
estão bem definidas para todo n ≥ 1. De fato, considere (π, λ) com λ = (λα )α∈A racio-
nalmente independente. Pelo visto acima, temos que em Rn f = (π n , λn ) o λn = (λnα )α∈A
é racionalmente independente. Suponha que λnα(0) = |Iα(0)
n n
| = |f (Iα(1) n
)| = λnα(1) , onde Iα(0)
n
e f (Iα(1) ) são as últimas entradas da matriz da permutação. Contudo, considerando
1, se α = α(0),
ηα = −1, se α = α(1)
0, caso contrário
obtemos
X
ηα λnα = ηα(0) λnα(0) + ηα(1) λnα(1) = λnα(0) − λnα(1) = 0,
α∈A
n
isto é, λ não é racionalmente independente, o que é uma contradição.
Seja ∂Iγ o ponto da extremidade esquerda de cada subirtervalo Iγ . Como a
extremidade esquerda de I coincide com a origem, então a extremidade esquerda de cada
10 Capı́tulo 1. Preliminares
Observação 1.12. Note que, se π0 (β) = 1 temos que para m = 1 sempre existe α =
π1−1 (1) tal que f (∂Iα ) = ∂Iβ . Devido a isso, a condição de Keane so está definida quando
π0 (β) 6= 1.
Defina βj , 0 ≤ j ≤ m com
f j (∂Iα ) ∈ Iβj .
1.4. Condição de Keane 11
f 0 (∂Iα ) = ∂Iα
f 1 (∂Iα ) = f (f 0 (∂Iα )) = ∂Iα + ωα
f 2 (∂Iα ) = f (f 2 (∂Iα )) = ∂Iα + ωα + ωβ1
...
f m (∂Iα ) = f (f (m−1) (∂Iα )) = ∂Iα + ωα + ... + ωβm−1
onde ωi , com i ∈ {α, β1 , ..., βm−1 }, são vetores translação. Por ?? e por β0 = α obtemos,
m−1
X
∂Iβ − ∂Iα = ωβj
j=0
ou seja,
X X m−1
X X X
λγ − λγ = ( λγ − λγ )
π0 (γ)<π0 (βm ) π0 (γ)<π0 (β0 ) j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) π0 (γ)<π0 (βj )
m−1
X X m−1
X X X
= λγ − λγ − λγ
j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) j=1 π0 (γ)<π0 (βj ) π0 (γ)<π0 (β0 )
Logo,
m−1
X X m
X X
λγ − λγ = 0
j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) j=1 π0 (γ)<π0 (βj )
Assim,
X
ηγ λγ = 0,
γ∈A
onde
ηγ = ]{0 ≤ j < m; π1 (βj ) > π1 (γ)} − ]{0 < j ≤ m; π0 (βj ) > π0 (γ)}
Note que D ≥ π0 (βm ) = π0 (β) > 1. Como π é irredutı́vel, então existe γ ∈ A tal que
π0 (γ) < D ≤ π1 (γ). Por D ≥ π1 (βj ), segue que π1 (βj ) ≤ π1 (γ) para todo 0 ≤ j < m
e assim, {0 ≤ j < m; π1 (γ) < π1 (βj )} = ∅. Logo, como ηγ = 0, segue que {0 <
j ≤ m; π0 (γ) < π0 (βj )} = ∅ e, portanto, π0 (βj ) < π0 (γ) < 0 para todo 0 < j ≤ m.
Analogamente, podemos mostrar que π1 (βj ) < 0 para todo 0 ≤ j < m. Entretanto, isto
contradiz a definição de D. Portanto, (π, λ) satisfaz a condição de Keane.
A seção que segue objetiva mostrar que a condição de Keane implica a minima-
lidade de f .
12 Capı́tulo 1. Preliminares
1.5 Minimalidade
Uma transformação é dita minimal se cada órbita é densa no domı́nio inteiro ou,
equivalentemente, o domı́nio é o único conjunto não vazio fechado invariante definido. De
fato, considere uma transformação g no conjunto X. Suponha que exista um subconjunto
próprio F de X não vazio, fechado e invariante. Assim, X − F é não vazio e aberto. Seja
x um ponto de F . Então, como cada órbita é densa no domı́nio inteiro, em particular, a
órbita de x é densa em X. Disso, existe n0 ∈ N tal que f n0 (x) ∈ X − F , contradizendo
F ser invariante.
O próximo lema nos diz que a aplicação de primeiro retorno a um subintervalo
qualquer J ⊂ Iα é ainda uma transformação de intercâmbio de intervalos.
Lema 1.15. Dado qualquer subintervalo J = [a, b) de algum Iα , então existe uma partição
{Jj ; 1 ≤ j ≤ k} de J e inteiros n1 , ..., nk ≥ 1, onde k ≤ d + 2, tal que
T
1. f (Jj ) J = ∅ para todo 0 < i < nj e 1 ≤ j ≤ k;
B = {z ∈ J; ∃ m ≥ 1 com f i (z) ∈
/J ∀ 0 < i < m e f m (z) ∈ A} (1.13)
h : B −→ A
z 7−→ h(z) = f m (z)
f m1 (z1 ) = f m2 (z2 ) ∈ A
⇔ f m1 −m2 (z1 ) = z2 ∈ J
é, f i (Jj ) são intervalos, ou ainda, que f i (Jj ) ( α∈A ∂Iα ) = ∅, 0 ≤ i < nj . Com efeito,
TS
S
suponha que existe 0 ≤ i0 < nj o menor valor tal que, com γ ∈ α∈A ∂Iα , tenhamos
f io (int(Jj )) 3 ∂Iα . Defina
cj = f −i0 (∂Iγ ) ∈ (int(Jj ))
é absurdo pela construção da partição de J. Além disso, a imagem de f nj |Jj está contida
em J. De fato, se a ∈ f nj (Jj ), então c = f −nj (a) ∈ Jj , implicando que f nj (c) = a ∈ A,
pela definição de B visto que m ≤ nj . Entretanto, por nj ser o menor valor de modo que
f nj (Jj ) J 6= ∅, sendo 0 ≤ i < nj , obtemos f nj (Jj ) J = ∅, ou seja, f i (c) ∈ J. Assim,
T T
f nj (xj ) = y = f ni (xi ).
T
Como Ji Jj = ∅, por construção, temos que xj 6= xi . Disso, e por f ser injetiva,
devemos ter nj 6= ni . Suponha ni > nj . Então,
f ni −nj (xi ) = xj ∈ J.
b ⊂ J.
Para a segunda afirmação observe que f (J) b De fato, por
∞
[
Jb = f n (J)
n=0
14 Capı́tulo 1. Preliminares
se
x ∈ Jb ⇒ x ∈ f n (J)
⇒ f (x) ∈ f n+1 (J)
⇒ f (x) ∈ J.
b
Pela arbitrariedade de x ∈ J, b ⊂ J.
b temos que f (J) b Agora, note que pelos itens 2 e 3 do
Lema 1.15
k
[ k
X k
X
| f nj (Jj )| = |f nj (Jj )| = |Jj | = |J|.
j=1 j=1 j=1
Portanto,
k
[
J= f nj (Jj ).
j=1
Além disso,
j −1
k n[
[
Jb = (Jj )
j=1 i=0
j −1
k
[ [ n[
= (J (Jj ))
j=1 i=1
k j −1
k n[
[ [ [
= J (Jj )
j=1 j=1 i=1
j −1
k n[
[[
= J (Jj )
j=1 i=1
k
[ [[ i −1
k n[
= f nj (Jj ) f i (Jj )
j=1 j=1 i=1
j −1
k
[ [ n[
nj
= (f (Jj ) f i (Jj ))
j=1 i=1
nj
k [
[
= j i (Jj ).
j=1 i=1
Assim, Jb é uma união cujos ı́ndices são todos não nulos. Agora, considere, arbitrariamente,
b Então, pelo visto acima, existe 1 ≤ j0 ≤ k e 1 ≤ i0 ≤ nj tal que y ∈ f i0 (Jj0 ), ou
y ∈ J.
seja, f −1 (y) ∈ f i0 −1 (Jj0 ). Logo, existe x ∈ f i0 −1 (Jj0 ) onde f −1 (y) = x, isto é, y = f (x).
Pela arbitrariedade de y temos que Jb ⊂ f (J). b Portanto, f (J) b = J. b
Lema 1.17. Se (π, λ) satisfaz a condição de Keane, então f não tem pontos perı́odicos.
1.5. Minimalidade 15
Demonstração: Suponha que exista m ≥ 1 e x ∈ I tal que f m (x) = x, isto é, que x é
um pondo perı́odico. Defina βj , 0 ≤ j ≤ m de modo que f j (x) ∈ Iβj . Seja
Disso, e por f |Iβ0 ser contı́nua e crescente, temos que f (y1 ) < f (y) < f (y2 ) ∈ Iβ1 .
Repetindo o argumento, concluimos que f j0 (y1 ) < f j0 (y) < f j0 (y2 ) e por f j0 (y1 ), f j0 (y1 ) ∈
Iβ0 obtemos que f j0 (y) ∈ Iβ0 , uma contradição. Portando, f j (y1 ), f j (y), f j (y1 ) ∈ Iβj para
todo 0 ≤ j ≤ m, implicando que y ∈ J, isto é, J é um intervalo. Note que ∂Iβj ∈
/ J para
todo 0 < j ≤ m, caso contrário terı́amos f 0 (∂Iβj ) ∈ Iβ0 o que absurdo. Assim, J ⊂ Iβj
para algum 0 ≤ j ≤ m. Além disso, f m |J é uma translação. Isto é, f i |J são intervalos,
com 0 ≤ i ≤ m, pois J intervalo em algum Iβj e f |Iβj contı́nua obtemos o desejado. Logo,
existe um ωy para todo y ∈ J tal que f m (y) = y + ωy . Porém, como f m (x) = x, então
ωy = 0, implicando que f m |J = id. Em particular, f m (∂J) = ∂J. Por J = m−1 −j
T
j=0 f (Iβj ),
existe 1 ≤ k ≤ m e β ∈ A tal que ∂J = f −k (∂Iβ ), ou seja, f k (∂J) = ∂Iβ . Assim,
Se π0 (β) = 1, isto contradiz a condição de Keane. Se π0 (β) = 1, então existe α tal que
f (∂Iα ) = ∂Iβ , com α 6= β, pois π é irredutı́vel. Disso, π0 (α) > 1. Com isso,
Mas, isto contradiz a condição de Keane. Portanto, f não tem pontos perı́odicos.
Demonstração: Suponha que exista x ∈ I tal que sua órbita {f n (x); n ≤ 0} não é denso
em I, isto é,
A = {f n (x); n ≤ 0} =
6 I. (1.15)
J ⊂ I \ A. (1.16)
16 Capı́tulo 1. Preliminares
Seja Jb a união de todos os interados de J. Pelo corolário anterior, esta é uma união
finita de intervalos totalmente invariantes sobre f . Afirmamos que Jb não pode ser da
forma [0, bb). De fato, suponha que Jb seja desta forma e considere B = {α ∈ A; Iα ⊂ J}.
b
Se B = ∅, então Jb ⊂ Iα , onde π0 (α) = 1. Pela invariância de J, b este está contido
em f (Iα ), implicando que π1 (α) = 1. Porém, π é irredutı́vel pela condição de Keane.
Portanto, B = 6 ∅. Então, π0 (B) = {1, ..., k} para algum k. Como Jb é invariante, temos
π1 (B) = {1, ..., k}. Assim,
Assim, se f n (b
a) 6= ∂Iβ para todo n ≥ 0 e β ∈ A, então não existem pontos de des-
continuidade em [b a, bb). Daı́, f n |[ba,bb) é contı́nua. Além disso, f é crescente, logo f n (b
a) é
extremidade de algum das componentes conexas de J. Contudo, J é uma união finita de
b b
componentes conexas, logo f possue pontos perı́odicos, o que contradiz o Lema anterior.
Analogamente, devido a continuidade de f implicar a continuidade de f−1 , se
n
a) 6= f (∂Iα ) para todo n ≤ 0 e α ∈ A então, toda f n (b
f (b a), n ≤ 0 será extremi-
dade esquerda de alguma das componentes conexas de A. Novamente, existiriam pontos
perı́odicos, o que é uma contradição.
Isto prova que existem n1 ≤ 0 ≤ n2 e α, β ∈ A tal que
f n1 (b
a) = f (∂Iα ) e f n2 (b
a) = ∂Iβ (1.18)
Se ∂Iβ ,
f n2 −n1 +1 (∂Iα ) = f n2 (f 1−n2 (∂Iα )) = f n2 (b
a) = ∂Iβ
contradizendo a condição de Keane. Se ∂Iβ = 0, então n2 > 0, pois b
a > 0. Além disso,
∂Iβ = f (∂Iγ ), onde π1 (γ) = 1. Isto mostra que 1.18 permanece válida se substituirmos β
por γ e n2 por n2 − 1. Como γ 6= β, por irredutibilidade temos ∂Iα > 0, o que contradiz
a condição de Keane, pois
inserir figura
0 −1 n+n0 −1
λn+n0
αn+n0
= λαn+n
n+n0 −1 − λβ n+n0 −1
0 −2 n+n0 −2 n+n0 −1
= λαn+n
n+n0 −2 − λβ n+n0 −2 − λβ n+n0 −1
...
n0X
+n−1
= λnα0n0 − λjβ j
j=n0
≤ λnα0n0 − nc,
18 Capı́tulo 1. Preliminares
Demonstração: Tento em vista que a sequência(αn )n não pode ser constante, considere
algum α ∈ A e algum intervalo de tempo maximal [p, q) tal que αn = α para todo
n ∈ [p, q), em outras palavras, em [p, q) o intervalo ganhador é o mesmo. Ao fim deste
intervalo a transformação muda de tipo, isto é,
q
q = 1 − q−1 e π1−q (α) = d,
λnαi+1
0
= λnαi0+1 = λnαi0 − λβ ⇒ λαni+k
0
= λnαi0 − kλβ .
então a transformação seria do tipo 1 e β seria o intervalo perdedor, o que é uma con-
tradição. Analogamente, se existir β ∈ B e n1 ≥ 0 tal que
então a transformação seria do tipo 0 e β seria o intervalo perdedor, o que é uma con-
tradição.
Substituindo (π, λ) por algum iterado podemos supor que estas sequências são
constantes.
Afirmamos que
Então, como β não perde na substituição da iterada, temos que, para todo n ≥ 0,
Demonstração: Suponha que existam β ∈ A e c > 0 tais que λnβ ≥ c para todo n ≥ 0.
Pela proposição anterior, existe n de modo que β n = β. Assim,
λn+1 n n n n n
αn = λαn − λβ n = λαn − λβ ≤ λαn − c.
20 Capı́tulo 1. Preliminares
Pela proposição anterior, isto ocorre infinitas vezes. Como o alfabeto A é finito, deve
existir α ∈ A tal que αn = α. Assim,
λn+1
α ≤ λnα − c ⇒ λn+k
αn+k
≤ λnα − kc
Θ∗n ∗ ∗ ∗
π m ,λm = Θ (m, n) = Θπ m ,λn ...Θπ m+n−1 ,λm+n−1 .
Θ∗n
π m ,λm > 0,
m3 −1
π1−m3 (γ3 ), implicando que γ3 = β
m3
e γ3 = αm3 −1 .Pela irredutibilidade, γ3 é diferente
de γ1 e de γ2 . Além disso,
Θ∗ (αm3 , β m3 , m3 , 1) = 1.
Pela observação 1.22 Θ∗ (m, n) = Θ∗ (m, mk+1 −m)Θ∗ (mk+1 , n+m−mk+1 ). Então,
X
Θ∗ (α, γk+1 , m, n) = Θ∗ (γ1 , s, m, mk+1 − m)Θ∗ (s, γk+1 , mk+1 , n + m − mk+1 )
s
≥ Θ (γ1 , γj , m, mk+1 − m)Θ∗ (γj , γk+1 , mk+1 , n + m − mk+1 )
∗
para todo n > mk+1 − m. Assim, para i = k + 1, tomemos nk+1 = mk+1 − m. Isto
completa a prova da indução, e assim temos o desejado.
com ∂Iβ > 0. Note que, como f é contı́nua e crescente nos subintervalos de I, entãi
f (∂Iα ) = ∂f (Iα ).
Tome m o mı́nimo. Em particular, pela observação 1.13, temos que ∂f (Iα ) > 0.
Denote fn = Rn (f ). Da definição de fn ,
Por 1.23,
onde a última igualdade é proveniente de 1.22 com k ≤ m − 1. Como α nem perde nem
ganha, fN (x) = f (x) para todo x ∈ IαN . Logo,
como querı́amos.
Por ∂Iβ , ∂f (Iα ) ∈ I N e 1.23, N é o máximo tal que ∂fN (IαN ), ∂IβN ∈ I N . Logo,
∂IβN ou ∂fN (IαN ) (ou ambos) são intervalos da extremidade direita da partição de IN .
Se ∂f (Iα ) = ∂Iβ (m = 1), então, por 1.23, ∂fN (IαN ) = ∂IβN . Daı́, fN +1 = RN +1 (f )
não estaria definida, contradizendo a hipótese. Assim, ou ∂Iβ < ∂f (Iα ) ou ∂Iβ > ∂f (Iα ).
Suponha que ∂Iβ < ∂f (Iα ), ou seja, fN tenha tipo 0.
Por definição, fN +1 (IαN +1 ) = fN2 (IαN +1 ). Então,
∂fN +1 (IαN +1 ) = fN +1 (∂(IαN +1 ) = fN2 (∂IαN +1 ) = fN (fN (∂(IαN +1 )) = fN (∂fN (IαN )) = fN (∂f (Iα ))
e
∂IβN +1 = ∂IβN = ∂Iβ .
fNk−1 (∂fN +1 (IαN +1 )) = fNk−1 (fN (∂f (Iα ))) = fNk (∂f (Iα )) = ∂Iβ = ∂IβN +1 . (1.25)
Lema 1.25. Se π e π 0 são da mesma classe de Rauzy, então existe um caminho orientado
em G iniciando em π e terminando em π 0 .
Demonstração: Seja A(π) o conjunto dos pares π 0 que podem ser atingidos por um
caminho orientado começando em π. Pelo observado acima, cada vértice do grafo G tem
exatamente duas flechas saindo e duas chegando. Por definição, toda flecha iniciando em
algum vértice de A(π) deve terminar em algum vértice de A(π). Além disso, cada flecha
terminando em um vértice de A(π) deve iniciar em algum vértice de A(π).
Isto significa que A(π) é uma componente conexa de G, logo uma classe de Rauzy
C(π).
Elas estão separadas por duas classes de Rauzy, uma com sete vértices (figura ??), que
são as primeiras sete monodromia invariantes acima, e outra com seis vértices (figura??),
que são as seis monodromias que restaram.
Note que esta última componente conexa tem o dobro de vértices comparando
com a quantidade de monodromias que utilizamos para construı́-la. Isto devido a toda
classe ser simétrica com relação ao eixo vertical. Esta simetria está relacionada a mu-
dança de papéis de π0 e π1 . Como o último grafo tem dois vértices centrais, então pares
1.7. Classes de Rauzy 25
que são opostos relativos ao centro têm a mesma monodromia invariante, e então eles
correspondem a mesma transformação de intercâmbio de intervalos. Identificando tais
pares, obtemos a classe de Rauzy reduzida, como segue:
inserir grafo
Definição 1.26. Um par π = (π0 , π1 ) é dito standard se o último sı́mbolo em cada linha
coincide com o primeiro sı́mbolo da outra linha. Em outras palavras
Observe que as classes de Rauzy exemplificadas acima contêm algum par stan-
dard. Veremos mais adiante que este resultado vale para toda classe de Rauzy.
Além disso, note que a aplicação Rauzy-Veech mantém os primeiros sı́mbolos
α1 = π−1 (1), onde ∈ {0, 1} inalterados em toda classe de Rauzy C(π).
Lema 1.27. Dado qualquer ∈ {0, 1} e qualquer β ∈ A tal que π (β) 6= 1, existe um par
π 0 na classe de Rauzy C(π) tal que π0 (β) = d, isto é, β é o último sı́mbolo na linha de
π.
Pelo observado anteriormente, α1 ∈ A . Seja k() o maior valor de π0 (β) para toda
π 0 ∈ C(π) e β ∈ A . Por definição, k() < d. Queremos mostrar que k() = 1 e assim
A = {α1 } para ∈ {0, 1}.
Fixemos algum β ∈ A de modo que o valor máximo seja atingido. Assim,
existe π0 ∈ C(π) tal que π0 (β ) = k(). Porém, todo sı́mbolo γ com π (γ) < d se move
apenas para a direita pela aplicação de Rauzy-Veech. Disso, se existir uma π 0 em C(π)
onde π0 (β ) 6= k(), ao iterar obterı́amos uma contradição a maximalidade de k(). Logo,
π0 (β ) = k() para toda π 0 em C(π).
Pelo mesmo argumento, os sı́mbolos à esquerda de β permanecem constantes na
classe de Rauzy, caso contrário confrontaria a definição de k(). Assim,
0 0
π (α) < k() ⇒ π1− (α) < d ⇒ α ∈ A1− ⇒ π1− (α) ≤ k(1 − ), (1.30)
Escrevendo
!
α10 ... αk(0)
0
... ... αd0
π0 = , αi = (π0 )−1 (i).
α11 ... ... 1
αk(1) ... αd1
Note que
1−
{α1 , ..., αk()−1
} ⊂ {α11− , ..., αk(1−) } para ∈ {0, 1}. (1.31)
caso contrário, haveria αi que contradiria 1.30. Como a inclusão 1.31 vale para todo ,
identificando como 1 − obtemos
1−
{α11− , ..., αk(1−)−1
} ⊂ {α1 , ..., αk() } para ∈ {0, 1}. (1.32)
e, por 1.32
k(1 − ) − 1 ≤ k()
logo,
{α11 , ..., αk(1)−1
1
} = {α10 , ..., αk(0)
0 1
} \ {αk(1) }
ou seja,
{α11 , ..., αk(1)−1
1 1
, αk(1) } = {α10 , ..., αk(0)
0
}
Demonstração: Pela observação feita anteriormente, os primeiros sı́mbolos α1 = π−1 (1),
com ∈ {0, 1} e π = (π0 , π1 ), permanecem inalterados sob a iteração de Rauzy-Veech.
Por irredutibilidade eles são necessariamente distintos, como segue
!
α10 ...
π= , α10 6= α11 .
α11 ...
Então, usando o lema 1.27, como π1 (α10 ) > 1, podemos encontrar um par π 0 =
(π 0 0 , π 0 1 ) em C(π) de modo que π10 (α10 ) = d, ou seja, o último sı́mbolo da primeira linha
coincide com o primeiro da última linha, como segue:
!
α10 ... α11 ... αd0
π0 = .
α11 ... ... ... α10
Se π00 (α11 ) = d, então temos o desejado. Se π00 (α11 ) < d iterando π 0 sob a aplicação
de Rauzy-Veech tipo 1, mantemos a segunda linha, enquanto deslocamos os sı́mbolos a
direita de α11 da primeira linha em uma coluna para a mais. Assim, obtemos um par π 00
que satisfaz π000 (α11 ) = 1 + π00 (α11 ) e π000 (α11 ) = d:
!
α10 αd0 ... α11 ...
π 00 = .
α11 ... ... ... α10
Note que iterando finitas vezes (ainda que alterne entre tipo 0 e tipo 1) existe
π n = (π0n , π1n ) em C(π), com n ∈ N, de modo que π0n (α11 ) = d. Assim,
ou seja, π n é standard.
28 Capı́tulo 1. Preliminares
obtemos
(
λα , se α 6= α()
R(π, λ) = (π 0 , λ0 ) com λ0α = (1.34)
λα() − λα(1−) , se α = α()
b λ) 7→ (π 0 , λ00 ), λ0
R(π, onde λ00 = . (1.36)
1 − λα(1−)
Seja
X
ΛA = {λ ∈ Rd+ | λα = 1},
α∈A
Θ−1∗
λ00 = , (1.37)
1 − λα(1−)
pela definição de operador Θ (veja 1.7), e este só depende de π e do tipo , ou seja, é
constante em cada {π} × Λπ, .
1.9. Transformações de Zorich 29
Exemplo 1.29. Considerando d = 2 temos apenas uma permutação irredutı́vel, dada por
!
A B
π= .
B A
Denote λA = x. Note que se π for tipo 0 então x ∈ (0, 1/2), enquanto que se π for
tipo 1 então x ∈ (1/2, 1), caso contrário a indução de Rauzy-Veech não estaria definida.
Assim, a renormalização de Rauzy-Veech é dada por:
x
, se x ∈ (0, 1/2)
r(x) = 1 − x
2x − 1 , se x ∈ (1/2, 1)
x
Note que r tem uma tangencia de ordem 1 com a indentificação em x = 0 e
x = 1. inserir figura
Zb × ΛA → C × ΛA , bn (π, λ).
Z(π, λ) = R
λ0 = c1 Θ−1∗ (λ) ⇒ λ00 = c2 Θ−1∗ (λ0 ) = c2 Θ−1∗ Θ−1∗ (λ) = c2 Θ−2∗ (λ)
...
⇒ λn = cn Θ−n∗ (λ)
onde cn > 0 e Θ−n∗ depende apenas de π, e n, ou seja, são constantes em {π} × Λ∗π,,n .
30 Capı́tulo 1. Preliminares
Exemplo 1.30. Para d = 2 a transformação de Zorich Zb é dada por z(x) = rn (x) (veja
exemplo 1.29) onde n = n(x) ≥ 1 é o menor inteiro positivo tal que
rn (x) ∈ (1/2, 1), se x ∈ (0, 1/2) ou rn (x) ∈ (0, 1/2), se x ∈ (1/2, 1). (1.38)
1 1 1
x0 = = = = ...
n1 + x1 1 1
n1 + n1 +
n2 + x2 1
n2 +
n3 + x3
G : (0, 1) → [0, 1]
1 1
x 7→ − .
x x
Note que
1 1 1 1
G2 (x0 ) = G( − ) = −
x0 x0 1 h
1
i 1 h
1
i
− x0 − x0
x0 x0
1 1
= −
1 1
− n1 − n1
x0 x0
1 1
= −
x1 x1
1
= − n2
x1
= x2
Mais geralmente,
xk = Gk (x0 ).
λA
φ : (λA , λB ) 7→ y =
λB
1.10. Forma Simplética 31
de ΛA a (0, ∞). Considere também outra bijeção de ΛA dada por P : (λA , λB ) 7→ (λB , λA ).
Note que se (λA , λB ) ∈ Λπ,0 , ou seja, λA < λB , então y = φ(λA , λB ) ∈ (0, 1). Por definição,
λB
onde n é a parte inteira de . Note que desconsideramos a permutação, pois estamos
λA
no d = 2, logo temos apenas uma permutação irredutı́vel.
Em termos da variável y, obtemos
1
φ−1 (y) = (λA , λB ) 7→ φ−1 ( − n) = (λB − nλA , λA )
y
ou seja,
1
y 7→ − n = G(y).
y
Em outras palavras, acabamos de mostrar que φ conjuga Z ◦ P , restrito a Λπ,0 ,
para a aplicação G de Gauss. Consequentemente, φ conjuga (Z ◦ P )n , restrito a Λπ,0 , a
Gn , para cada n ≥ 1. Observe que P 2 = id e Z comuta com P . De fato,
alternada quando g(v1 , ..., vr ) = 0 sempre que a lista (v1 , ..., vr ) tiver repetições;
32 Capı́tulo 1. Preliminares
antissimétrica quando g(v1 , ..., vi , ..., vj , ..., vr ) = −g(v1 , ..., vj , ..., vi , ..., vr ).
É possivel provar que uma forma r-linear é alternada se, e somente se, é antis-
simétrica. Assim,
w̃π : Rd → Rd , w̃π (u, v) = −u · Ωπ (v) (1.41)
Lema 1.31. As relações 1.42 e 1.43 definem formas simpléticas wπ e wπ0 nos espaços
correspondentes.
Hπ = −Ω∗π (Rd ).
para todo v ∈ Rd . Logo, wπ e wπ0 estão bem definidas. Temos que a bilinearidade segue
de Ωπ . Além disso, estas formas são alternadas, pois
−v · Ωπ (u) = h−v, Ωπ (u)i = −hu, Ω∗π (v)i = hu, −Ω∗π (v)i = hu, Ωπ (v)i = u · Ωπ (v).
1.10. Forma Simplética 33
ou seja, para u ∈ Hπ temos −u · Ωπ (v) = 0 apenas se u for nulo. Em geral, isto significa
Rd
que [u] é nulo no espaço quociente ker(Ωπ )
.
Lema 1.32. Se
34 Capı́tulo 1. Preliminares
Referências
[1] Viana M., Dynamics of Interval Exchange Transformations and Teichmuller Flows,
Notas de aula, IMPA, (2008).
35
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Instituto de Matemática / Programa de pós-graduação em Matemática