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Universidade Federal da Bahia - UFBA

Instituto de Matemática - IM
Programa de Pós-Graduação em Matemática
Dissertação de Mestrado

Dinâmica das Transformações de Intercâmbio de


Intervalos

Leydiane Ribeiro Campos

Salvador-Bahia
Julho de 2019
Dinâmica das Transformações de Intercâmbio de
Intervalos

Leydiane Ribeiro Campos

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Colegiado da Pós-Graduação em Matemática da
Universidade Federal da Bahia como requisito
parcial para obtenção do tı́tulo de Mestre em
Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Kleyber Mota da Cu-


nha.

Salvador-Bahia
Julho de 2019
Sistema de Bibliotecas da UFBA

Campos, Leydiane Ribeiro.


Dinâmica das Transformações de Intercâmbio de Intervalos / Leydiane
Ribeiro Campos. – 2019.
35 f. : il

Orientador: Prof. Dr. Kleyber Mota da Cunha.


Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Instituto de
Matemática, Salvador, 2019.

1. Método de decomposição. 2. Fluxo linear de Poincaré. 3. Poin-


caré, Teorema de. 4. Teoria Ergódica. 5. Sistemas dinâmicos diferenciais. I.
Cunha, Kleyber Mota da . II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de
Matemática. III. Tı́tulo.
CDD - 519.72
CDU - 519.72
4
Dinâmica das Transformações de Intercâmbio de
Intervalos

Leydiane Ribeiro Campos

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Colegiado da Pós-Graduação em Matemática da
Universidade Federal da Bahia como requisito
parcial para obtenção do tı́tulo de Mestre em
Matemática,

Banca examinadora:

Prof. Dr. Kleyber Mota da Cunha


UFBA
iv

Aos meus parentes, amigos e


professores.
Agradecimentos

v
vi

“A persistência é o menor cami-


nho do êxito.(Frase da dissertação
de Edvan - pensar na minha)”

(Charles Chaplin)
Resumo

Palavras-chave:

vii
viii
Abstract

Keywords:

ix
x
Sumário

Introdução 1

1 Preliminares 3
1.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Indução de Rauzy-Veech . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Operador Θ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 Condição de Keane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 Minimalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 Dinâmica da Aplicação de Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.7 Classes de Rauzy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.8 Renormalização de Rauzy-Veech . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.9 Transformações de Zorich . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.9.1 Frações Continuadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.10 Forma Simplética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Referências 35

xi
xii Sumário
Introdução

1
2 Sumário
Capı́tulo 1

Preliminares

Neste capı́tulo, introduziremos a definição de Transformação de Intercâmbio de


Intervalos e resultados relevantes neste contexto. Além disso, apresentaremos também
algumas notações que utilizaremos no decorrer do trabalho. Para tal, nos baseamos em
[1].

1.1 Definições
Considere o intervalo I = [0, 1) e {Iα : α ∈ A} uma partição de I em subinterva-
los, cujos ı́ndices compõem o conjunto A que chamamos de alfabeto.

Definição 1.1. Uma Transformação de Intercâmbio de Intervalos é uma aplicação


bijetiva f : I → I que translada os subintervalos Iα ∈ I.

Deste modo, é necessário que A tenha cardinalidade d ≥ 2. Cada f é determinada


por um dado combinatorial e um de comprimento, tal que:

i) o dado combinatorial é uma permutação π = (π0 , π1 ) de modo que cada π : A →


{1, ..., d}, para  ∈ {0, 1}, descreve a ordem dos subintervalos de I a cada iterada
de f . Representamos π da seguinte forma:
!
α10 α10 ... αd0
π= ,
α11 α21 ... αd1

onde αj = π−1 (j), com j ∈ {1, 2, ..., d}.

ii) o dado de comprimento é um vetor, denotado por λ = (λα )α∈A , que descreve o
comprimento de I, assim para cada α ∈ A temos λα = kIα k, isto é, representa o
P
comprimento do subintervalo α de I. Como estamos considerando kIk = α∈A λα =
1, temos que λ = kIk pertende ao simplexo ∆d−1 .
3
4 Capı́tulo 1. Preliminares

Dessa forma, usaremos o par (π, λ) para representar um transformação de in-


tercâmbio de intervalos.

Definição 1.2. Chamamos monodromia invariante a aplicação p = π1 ◦π0−1 : {1, ..., d} →


{1, ..., d}

Exemplo 1.3. Considere d = 4 e A = {A, B, C, D}. Uma transformação de intercâmbio


de intervalos descrita pela figura XX pode ser dada pelo par
!
A B C D
π= .
D C B A

Pela definição temos

π0−1 (1) = A; π0−1 (2) = B; π0−1 (3) = C; π0−1 (4) = D

π1 (D) = 1; π1 (C) = 2; π1 (B) = 3; π1 (A) = 4

A monodronia invariante neste caso é

p(1, 2, 3, 4) = (π1 ◦ π0−1 (1), π1 ◦ π0−1 (2), π1 ◦ π0−1 (3), π1 ◦ π0−1 (4)) = (4, 3, 2, 1)

Definição 1.4. Dizemos que um par π = (π0 , π1 ) é redutı́vel se existe k ∈ {1, ..., d − 1}
tal que p = π1 ◦ π0−1 ({1, ..., k}) = {1, ..., k}, caso contrário, dizemos que π = (π0 , π1 ) é
irredutı́vel.

Exemplo 1.5. Considere !


A B C D
π= .
B A D C
Note que para k = 2 obtemos p({1, 2}) = {1, 2}. Portanto, π é redutı́vel.

Se π é redutı́vel, independente da escolha do vetor λ, teremos que


S S
Iα = Iα
π0 (α) ≤ k π1 (α) ≤ k

é invariante sob a transformação f . Em outras palavras, podemos dividir a transformação


de intercâmbio de intervalos em duas.
Neste trabalho consideraremos apenas permutações irredutı́veis.
Quando d = 2 existe apenas uma combinação, dada por
!
A B
π= .
B A
1.1. Definições 5

A transformação de intercâmbio de intervalos associada a (π, λ) é dada por


(
x + λB , se x ∈ IA ,
f (x) =
x − λA , se x ∈ IB .

Uma representação gráfica é dada pela figura XX. Notemos que identificando I com o
cı́rculo unitário S 1 e considerando f : S 1 → S 1 onde

f (x) = x + λB mod1

e interando obtemos

f n (x) = x + nλB .

Assim, o número de rotações de f é:

f n (x) − x x + nλB − x
= −→ λB quando n −→ ∞.
n n

Em outras palavras, esta transformação corresponde a rotação de ângulo λB .

Definição 1.6. Dado π = (π0 , π1 ), definamos Ωπ : Rd → Rd por


X X
Ωπ (λ) = ωondeωα = λβ − λβ (1.1)
π1 (β)<π1 (α) π0 (β)<π0 (α)

Assim, a transformação f correspondente é dada por

f (x) = x + ωα , com x ∈ Iα

Chamamos o vetor ω de vetor de translação.

Podemos obter a matriz de Ωπ na base canônica de Rd , de modo que seus ele-


mentos satisfazem a

 +1, se π1 (α) > π1 (β) e π0 (α) < π0 (β),


Ωα,β = −1, se π1 (α) < π1 (β) e π0 (α) > π0 (β), (1.2)


 0, nos outros casos.

Exemplo 1.7. O vetor translação da transformação do Exemplo 1.3 é

(ωA , ωB , ωC , ωD ) = (λB + λC + λD , λC + λD − λA , λD − λA − λB , λC − λB − λA )
6 Capı́tulo 1. Preliminares

1.2 Indução de Rauzy-Veech


Considere uma transformação de intercâmbio de intervalos f = (π, λ). Denote
por α() o último sı́mbolo da linha  da matriz que representa π, isto é,

α() = π−1 (d), tal que  = {0, 1}.

Iremos assumir que λα(0) 6= λα(1) . Quando λα(0) > λα(1) dizemos que (π, λ) tem tipo 0 e, se
λα(0) < λα(1) dizemos que (π, λ) tem tipo 1. Em ambos os casos, o maior dos subintervalos
é chamado ganhador e o menor é chamado perdedor.

Definição 1.8. A Indução de Rauzy-Veech de f é a aplicação de primeiro retorno


R(f ) para o intervalo I 1 , obtido pela remoção do subintervalo perdedor, isto é,

(
I \ f (Iα(1) ), se (π, λ) tem tipo 0,
I1 =
I \ Iα(0) , se (π, λ) tem tipo 1.

Esta nova aplicação também é uma transformação de intercâmbio de intervalos,


dada por:

(
f (x), se x ∈ Iα1 , α 6= α(1 − ),
R(f ) =
f 2 (x), se x ∈ Iα()
1
.

Assim, podemos obter para R(f ) uma nova partição {Iα1 : α ∈ A} onde os
subintervalos Iα1 ⊂ I 1 são definidos a seguir:

(
Iα , se α 6= α(0),
Iα1 = (1.3)
Iα(0) \ f (Iα(1) ), nos outros casos.

se f for do tipo 0, e


−1
 f (Iα(0) ), se α = α(0),


Iα1 = Iα(1) \ 1
Iα(0) , se α = α(1), (1.4)


 I , nos outros casos.
α

se f for tipo 1.
anexar figura de indução de Rauzy tipo 0 e tipo 1
Além disso, ao aplicarmos a indução de Rauzy-Veech obtemos outros dados com-
binatório e de comprimento, de modo que
1.3. Operador Θ 7

(
λα() − λα(1−) , se α = α(),
λ1α = (1.5)
λα , se α 6= α().

e,

π1 (α) = π (α), ∀ α ∈ A,


 π(1−) (α),

 se π(1−) (α) ≤ π(1−) (α()),
1
π(1−) (α) = π(1−) (α) + 1, se π(1−) (α()) < π(1−) (α) < d,

(1−) (α()) + 1, se π(1−) (α(1 − )) = d.

 π

Portanto, R(f ) = R(π, λ) = (π 1 , λ1 ). A aplicação R(f ) não está definida quando


o comprimento dos intervalos Iα(0) e Iα(1) é o mesmo. Provaremos isso através da Condição
de Keane.

Exemplo 1.9. Se !
A B C D
π= .
D C B A
e λA < λD (caso tipo 0), então
!
1 A B C D
π = .
D A C B

e λ1 = (λA , λB , λC , λD − λA ).

A seguir definiremos o operador Θ que relaciona os vetores de translação ω e ω 1


de f e R(f ), respectivamente.

1.3 Operador Θ
Existe uma correspondência biunı́voca entre os vetores λ e λ1 , pois de 1.5, dado
λ obtemos λ1 e, pelo mesmo sistema vemos que
(
λ1α() + λ1α(1−) , se α = α(),
λα = (1.6)
λ1α , se α 6= α(),

assim, dado λ1 obtemos λ. Com isso, como o vetor translação depende do comprimento
dos subitervalos, temos uma correspondência entre os vetores translação ω e ω 1 , como
segue:
8 Capı́tulo 1. Preliminares

ωα1 = ωα se α 6= α(1 − ), e 1


ωα(1−) = ωα(1−) + ωα() .

Isto pode ser expresso como

ω 1 = Θ(ω)

onde Θ = Θπ,λ : Rd → Rd é o operador linear Θ cuja matriz (Θα,β )α,β∈A é dada por

 1, se α = β,


Θα,β = 1, se α = α(1 − ) e β = α(),


 0, caso contrário.

Temos as seguintes propriedades do operador Θ:

(P1) Θ depende apenas da permutação π e do tipo ;

(P2) As entradas da matriz Θα,β é positiva;

(P3) O determinante de Θα,β é 1, logo Θα,β ∈ SL(d, Z);

(P4) A matriz Θα,β = Id + Eα(1−)α() , onde Id é a matriz identidade e Eα(1−)α() é a


matriz elementar cujo único coeficiente não nulo é igual a 1 na posição α(1 − )α().

Observe que a matriz Θ é invertı́vel e sua inversa é dada por:



 1, se α = β,


Θ−1
α,β = −1, se α = α(1 − ) e β = α(),


 0, caso contrário.
Além disso, podemos relacionar os vetores comprimento λ e λ1 através das relações
1.5 e 1.6 de modo que:
λ1 − Θ−1∗ (λ) ou λ = Θ∗ (λ1 ) (1.7)

onde Θ∗ denota o operador adjunto de Θ, isto é, o operador cuja matriz é a transposta
de Θ.

1.4 Condição de Keane


A indução de Rauzy-Veech é expressa pela transformação R(f ) = R(π, λ) =
(π 1 , λ1 ). Queremos considerar R com um sistema dinâmico no espaço das transformações
de intercâmbio de intervalos, mas para isso devemos restringir a aplicação a um subcon-
junto invariante de (π, λ) tal que as interadas Rn (π, λ) estão definidas para todo n ≥ 1
quando o comprimento dos dois últimos intervalos do dado combinatório são diferentes.
1.4. Condição de Keane 9

Definição 1.10. Um vetor λ ∈ Rd+ é racionalmente independente se


X
nα λα 6= 0 (1.8)
α∈A

para todo vetor inteiro não nulo (nα )α∈A ∈ Zd .

Temos que esta condição é invariante sobre a interação entre 1.5 e 1.6. Com
efeito, suponha que (λα )α∈A é racionalmente independente. Assim,
X X
ηα λ1α = ηα λ1α + ηα() λ1α()
α∈A α∈A,α6=α()
X
= ηα λα + ηα() (λα() − λα(1−) )
α∈A,α6=α()
X
= ηα λα − ηα() λα(1−) )
α∈A
X
= ηα λα + (ηα(1−) − η α ())λα(1−)
α∈A,α6=α(1−)
X
= ηbα λα + ηbα(1−) λα(1−)
α∈A,α6=α(1−)
X
= ηbα λα
α∈A
6= 0

onde (
ηα , se α 6= α(1 − ),
ηbα =
ηα(1−) − ηα() , se α = α(1 − )
Portanto, (λ1α )α∈A é racionalmente independente. Com isso, podemos concluir que Rn (f )
estão bem definidas para todo n ≥ 1. De fato, considere (π, λ) com λ = (λα )α∈A racio-
nalmente independente. Pelo visto acima, temos que em Rn f = (π n , λn ) o λn = (λnα )α∈A
é racionalmente independente. Suponha que λnα(0) = |Iα(0)
n n
| = |f (Iα(1) n
)| = λnα(1) , onde Iα(0)
n
e f (Iα(1) ) são as últimas entradas da matriz da permutação. Contudo, considerando

 1, se α = α(0),


ηα = −1, se α = α(1)


 0, caso contrário

obtemos
X
ηα λnα = ηα(0) λnα(0) + ηα(1) λnα(1) = λnα(0) − λnα(1) = 0,
α∈A
n
isto é, λ não é racionalmente independente, o que é uma contradição.
Seja ∂Iγ o ponto da extremidade esquerda de cada subirtervalo Iγ . Como a
extremidade esquerda de I coincide com a origem, então a extremidade esquerda de cada
10 Capı́tulo 1. Preliminares

subintervalo Iγ é dada por


X
∂Iγ = λη (1.9)
π0 (η)<π0 (γ)

onde η ∈ {1, ..., γ − 1}.

Definição 1.11. Um par (π, λ) satisfaz a condição de Keane se as óribitas destas


extremidades são tão disjuntas quanto é possı́vel, isto é,

f m (∂Iα ) 6= ∂Iβ , (1.10)

para todo m ≥ 1 e α 6= β pertencentes a A com π0 (β) 6= 1.

Observação 1.12. Note que, se π0 (β) = 1 temos que para m = 1 sempre existe α =
π1−1 (1) tal que f (∂Iα ) = ∂Iβ . Devido a isso, a condição de Keane so está definida quando
π0 (β) 6= 1.

Como consequências, se uma transformação f satisfaz a condição de Keane temos


que a permutação π é irredutı́vel e a aplicação R(f ) está bem definida. De fato, supondo
que π é redutı́vel, então existe k ∈ {1, ..., d − 1} tal que π1 ◦ π0−1 ({1, ..., k}) = {1, ..., k}.
Assim, existe α em A com π0 (α) ∈ {k + 1, ..., d} de modo que f (∂Iα ) = ∂Ik+1 , o que
contradiz a condição de Keane. Além disso, se Iα(0) e f (Iα(1) ) são as últimas entradas
da matriz da permutação e λα(0) = |Iα(0) | = |f (Iα(1) )| = λα(1) , então f (∂Iα(1)) = ∂Iα(0) ,
contradizendo a condição de Keane.

Observação 1.13. A condição de Keane não é afetada se restringirmos ao caso π( α) >!.


Com efeito, suponhamos que f m (∂Iα ) = ∂Iβ > 0 com π1 (α) = 1 e m > 1. Então,
f (∂Iα ) = 0 = ∂Iγ para algum γ ∈ A. Assim, f m−1 (∂Iγ ) = f m (∂Iα ) = ∂Iβ . Além disso,
π1 (γ) > 1 pois π é irredutı́vel e π0 (γ) = 1.

Proposição 1.14. Se λ é racionalmente independente e π é irredutı́vel, então o par (π, λ)


satisfaz a condição de Keane.

Demonstração: Suponha que exista m ≥ 1 e α, β ∈ A com π0 (β) > 1 de modo que f


não satisfaz a condição de Keane, isto é,

f m (∂Iα ) = ∂Iβ . (1.11)

Defina βj , 0 ≤ j ≤ m com

f j (∂Iα ) ∈ Iβj .
1.4. Condição de Keane 11

Note que β0 = α e βm = β. Assim,

f 0 (∂Iα ) = ∂Iα
f 1 (∂Iα ) = f (f 0 (∂Iα )) = ∂Iα + ωα
f 2 (∂Iα ) = f (f 2 (∂Iα )) = ∂Iα + ωα + ωβ1
...
f m (∂Iα ) = f (f (m−1) (∂Iα )) = ∂Iα + ωα + ... + ωβm−1

onde ωi , com i ∈ {α, β1 , ..., βm−1 }, são vetores translação. Por ?? e por β0 = α obtemos,
m−1
X
∂Iβ − ∂Iα = ωβj
j=0

ou seja,
X X m−1
X X X
λγ − λγ = ( λγ − λγ )
π0 (γ)<π0 (βm ) π0 (γ)<π0 (β0 ) j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) π0 (γ)<π0 (βj )
m−1
X X m−1
X X X
= λγ − λγ − λγ
j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) j=1 π0 (γ)<π0 (βj ) π0 (γ)<π0 (β0 )

Logo,
m−1
X X m
X X
λγ − λγ = 0
j=0 π1 (γ)<π1 (βj ) j=1 π0 (γ)<π0 (βj )

Assim,
X
ηγ λγ = 0,
γ∈A

onde

ηγ = ]{0 ≤ j < m; π1 (βj ) > π1 (γ)} − ]{0 < j ≤ m; π0 (βj ) > π0 (γ)}

Contudo, λ é racionalmente independente, logo ηγ = 0 para todo γ em A. Defina

D = max{π0 (βj ) ∀ 0 < j ≤ m; π1 (βj ) ∀ 0 ≤ j < m} (1.12)

Note que D ≥ π0 (βm ) = π0 (β) > 1. Como π é irredutı́vel, então existe γ ∈ A tal que
π0 (γ) < D ≤ π1 (γ). Por D ≥ π1 (βj ), segue que π1 (βj ) ≤ π1 (γ) para todo 0 ≤ j < m
e assim, {0 ≤ j < m; π1 (γ) < π1 (βj )} = ∅. Logo, como ηγ = 0, segue que {0 <
j ≤ m; π0 (γ) < π0 (βj )} = ∅ e, portanto, π0 (βj ) < π0 (γ) < 0 para todo 0 < j ≤ m.
Analogamente, podemos mostrar que π1 (βj ) < 0 para todo 0 ≤ j < m. Entretanto, isto
contradiz a definição de D. Portanto, (π, λ) satisfaz a condição de Keane.

A seção que segue objetiva mostrar que a condição de Keane implica a minima-
lidade de f .
12 Capı́tulo 1. Preliminares

1.5 Minimalidade
Uma transformação é dita minimal se cada órbita é densa no domı́nio inteiro ou,
equivalentemente, o domı́nio é o único conjunto não vazio fechado invariante definido. De
fato, considere uma transformação g no conjunto X. Suponha que exista um subconjunto
próprio F de X não vazio, fechado e invariante. Assim, X − F é não vazio e aberto. Seja
x um ponto de F . Então, como cada órbita é densa no domı́nio inteiro, em particular, a
órbita de x é densa em X. Disso, existe n0 ∈ N tal que f n0 (x) ∈ X − F , contradizendo
F ser invariante.
O próximo lema nos diz que a aplicação de primeiro retorno a um subintervalo
qualquer J ⊂ Iα é ainda uma transformação de intercâmbio de intervalos.

Lema 1.15. Dado qualquer subintervalo J = [a, b) de algum Iα , então existe uma partição
{Jj ; 1 ≤ j ≤ k} de J e inteiros n1 , ..., nk ≥ 1, onde k ≤ d + 2, tal que
T
1. f (Jj ) J = ∅ para todo 0 < i < nj e 1 ≤ j ≤ k;

2. Cada f nj |Jj é uma translação de Jj para algum subinteralo de J;

3. Os subintervalos f nj (Jj ), 1 ≤ j ≤ k são dois a dois disjuntos.


S
Demonstração: Seja A = {a, b} {∂Iαi : i > 1, αi ∈ A}. Note que ]A ≤ d + 1. Seja
B ⊂ J, tal que

B = {z ∈ J; ∃ m ≥ 1 com f i (z) ∈
/J ∀ 0 < i < m e f m (z) ∈ A} (1.13)

Temos que B 6= ∅. Se acontecesse B = ∅, então para todo x ∈ J e m ≥ 1 existiria


0 < i < m tal que f i (x) ∈ J ou f m (x) ∈
/ A. Do primeiro, terı́amos f i (J) = J e, pela
arbitrariedade de J, f i (Iα ) = Iα . Em particular, f i (∂Iα ) = ∂Iα , o que absurdo, pois f
satisfaz a condição de Keane. Do segundo, terı́amos f m (J) ∈ / A, isto é, f m (J) J = ∅.
T

Logo, f m (J) ( Iα ,ou seja, J ( f −m (Iα ). Entretanto, considerando am ∈ f m (J) temos


que f −m (am ) = bm ∈ J ??????? Considere agora a aplicação

h : B −→ A
z 7−→ h(z) = f m (z)

Sejam z1 , z2 ∈ J e m1 , m2 ≥ 1, com m2 < m1 , tal que

f m1 (z1 ) = f m2 (z2 ) ∈ A
⇔ f m1 −m2 (z1 ) = z2 ∈ J

Como 0 ≤ m1 − m2 < m1 , temos uma contradição à definição de B. Logo, m1 = m2 e h é


injetiva. Portanto, ]B ≤ ]A ≤ d + 1. Considere a partição de J determinada pelos pontos
1.5. Minimalidade 13

de B. Esta partição tem no máximo d + 1 elementos. Pelo Teorema de Recorrência


de Poincarré para cada elemento Jj = [aj , bj ) desta partição existem nj ≥ 1 tal que
Fnj (Jj ) J 6= ∅. Tome nj o menor valor deles. Temos que f nj |Jj é uma translação, isto
T

é, f i (Jj ) são intervalos, ou ainda, que f i (Jj ) ( α∈A ∂Iα ) = ∅, 0 ≤ i < nj . Com efeito,
TS
S
suponha que existe 0 ≤ i0 < nj o menor valor tal que, com γ ∈ α∈A ∂Iα , tenhamos
f io (int(Jj )) 3 ∂Iα . Defina
cj = f −i0 (∂Iγ ) ∈ (int(Jj ))

isto é, f ij ∈ A. Logo, sendo aj , bj ∈ B, temos aj < cj < bj . Pela minimalidade de nj ,


temos que para todo 0 < s < i0 < nj , f s (cj ) ∈
/ J, pois f nj (Jj ) J 6= ∅. Daı́, cj ∈ B, o que
T

é absurdo pela construção da partição de J. Além disso, a imagem de f nj |Jj está contida
em J. De fato, se a ∈ f nj (Jj ), então c = f −nj (a) ∈ Jj , implicando que f nj (c) = a ∈ A,
pela definição de B visto que m ≤ nj . Entretanto, por nj ser o menor valor de modo que
f nj (Jj ) J 6= ∅, sendo 0 ≤ i < nj , obtemos f nj (Jj ) J = ∅, ou seja, f i (c) ∈ J. Assim,
T T

c ∈ B, o que é absurdo pela construção da partição de J. Por fim, os f nj (Jj ), 1 ≤ j ≤ k


são disjuntos dois a dois. De fato, se existirem Ji , Jj tais que
\
y ∈ (f nj (Jj ) f ni (Ji )),

então, existem xj ∈ Jj , xi ∈ Ji tais que

f nj (xj ) = y = f ni (xi ).
T
Como Ji Jj = ∅, por construção, temos que xj 6= xi . Disso, e por f ser injetiva,
devemos ter nj 6= ni . Suponha ni > nj . Então,

f ni −nj (xi ) = xj ∈ J.

Porém, 0 < ni − nj < ni e ni é o menor valor tal que f ni (Ji )


T
J 6= ∅. Portanto, segue o
resultado.

Corolário 1.16. Sob as hipóteses do Lema 1.15 a união Jb de todos os interados de J é


uma união finita de intervalos e um conjunto totalmente invariante, ou seja, f (J)
b = J.
b

Demonstração: A primeira afirmação segue do item 1 do Lema 1.15:


∞ j −1
k n[
[ [
n
Jb = f (J) = (Jj ) (1.14)
n=0 j=1 i=0

b ⊂ J.
Para a segunda afirmação observe que f (J) b De fato, por

[
Jb = f n (J)
n=0
14 Capı́tulo 1. Preliminares

se

x ∈ Jb ⇒ x ∈ f n (J)
⇒ f (x) ∈ f n+1 (J)
⇒ f (x) ∈ J.
b

Pela arbitrariedade de x ∈ J, b ⊂ J.
b temos que f (J) b Agora, note que pelos itens 2 e 3 do
Lema 1.15
k
[ k
X k
X
| f nj (Jj )| = |f nj (Jj )| = |Jj | = |J|.
j=1 j=1 j=1

Portanto,
k
[
J= f nj (Jj ).
j=1

Além disso,

j −1
k n[
[
Jb = (Jj )
j=1 i=0
j −1
k
[ [ n[
= (J (Jj ))
j=1 i=1
k j −1
k n[
[ [ [
= J (Jj )
j=1 j=1 i=1
j −1
k n[
[[
= J (Jj )
j=1 i=1
k
[ [[ i −1
k n[
= f nj (Jj ) f i (Jj )
j=1 j=1 i=1
j −1
k
[ [ n[
nj
= (f (Jj ) f i (Jj ))
j=1 i=1
nj
k [
[
= j i (Jj ).
j=1 i=1

Assim, Jb é uma união cujos ı́ndices são todos não nulos. Agora, considere, arbitrariamente,
b Então, pelo visto acima, existe 1 ≤ j0 ≤ k e 1 ≤ i0 ≤ nj tal que y ∈ f i0 (Jj0 ), ou
y ∈ J.
seja, f −1 (y) ∈ f i0 −1 (Jj0 ). Logo, existe x ∈ f i0 −1 (Jj0 ) onde f −1 (y) = x, isto é, y = f (x).
Pela arbitrariedade de y temos que Jb ⊂ f (J). b Portanto, f (J) b = J. b

Lema 1.17. Se (π, λ) satisfaz a condição de Keane, então f não tem pontos perı́odicos.
1.5. Minimalidade 15

Demonstração: Suponha que exista m ≥ 1 e x ∈ I tal que f m (x) = x, isto é, que x é
um pondo perı́odico. Defina βj , 0 ≤ j ≤ m de modo que f j (x) ∈ Iβj . Seja

J = {y ∈ I|f j (y) ∈ Iβj , ∀ 0 ≤ j < m}

Afirmamos que J é um intervalo. Com efeito, sejam y1 , y2 ∈ J e y ∈ I com y1 < y < y2 .


/ Iβ0 . Observe que f j0 (y1 ), f j0 (y1 ) ∈
Suponha que não existe 0 ≤ j0 < m tal que f j0 (y) ∈
Iβ0 . Como
y1 < y < y2 ⇔ f 0 (y1 ) < f 0 (y) < f 0 (y2 )

podemos concluir que


y1 < y < y2 ∈ Iβ0 .

Disso, e por f |Iβ0 ser contı́nua e crescente, temos que f (y1 ) < f (y) < f (y2 ) ∈ Iβ1 .
Repetindo o argumento, concluimos que f j0 (y1 ) < f j0 (y) < f j0 (y2 ) e por f j0 (y1 ), f j0 (y1 ) ∈
Iβ0 obtemos que f j0 (y) ∈ Iβ0 , uma contradição. Portando, f j (y1 ), f j (y), f j (y1 ) ∈ Iβj para
todo 0 ≤ j ≤ m, implicando que y ∈ J, isto é, J é um intervalo. Note que ∂Iβj ∈
/ J para
todo 0 < j ≤ m, caso contrário terı́amos f 0 (∂Iβj ) ∈ Iβ0 o que absurdo. Assim, J ⊂ Iβj
para algum 0 ≤ j ≤ m. Além disso, f m |J é uma translação. Isto é, f i |J são intervalos,
com 0 ≤ i ≤ m, pois J intervalo em algum Iβj e f |Iβj contı́nua obtemos o desejado. Logo,
existe um ωy para todo y ∈ J tal que f m (y) = y + ωy . Porém, como f m (x) = x, então
ωy = 0, implicando que f m |J = id. Em particular, f m (∂J) = ∂J. Por J = m−1 −j
T
j=0 f (Iβj ),
existe 1 ≤ k ≤ m e β ∈ A tal que ∂J = f −k (∂Iβ ), ou seja, f k (∂J) = ∂Iβ . Assim,

f m (∂Iβ ) = f m (f k (∂J)) = f k (f m (∂J)) = f k (∂J) = ∂Iβ

Se π0 (β) = 1, isto contradiz a condição de Keane. Se π0 (β) = 1, então existe α tal que
f (∂Iα ) = ∂Iβ , com α 6= β, pois π é irredutı́vel. Disso, π0 (α) > 1. Com isso,

f m (∂Iα ) = f m−1 (f (∂Iα )) = f m−1 (∂Iβ ) = f −1 (f m (∂Iβ ) = f −1 (∂Iβ ) = ∂Iα .

Mas, isto contradiz a condição de Keane. Portanto, f não tem pontos perı́odicos.

Proposição 1.18. Se (π, λ) satisfaz a condição de Keane, então f é minimal.

Demonstração: Suponha que exista x ∈ I tal que sua órbita {f n (x); n ≤ 0} não é denso
em I, isto é,
A = {f n (x); n ≤ 0} =
6 I. (1.15)

Então, podemos tomar um subintervalo J = [a, b) de algum Iα , com α ∈ A, de modo que

J ⊂ I \ A. (1.16)
16 Capı́tulo 1. Preliminares

Seja Jb a união de todos os interados de J. Pelo corolário anterior, esta é uma união
finita de intervalos totalmente invariantes sobre f . Afirmamos que Jb não pode ser da
forma [0, bb). De fato, suponha que Jb seja desta forma e considere B = {α ∈ A; Iα ⊂ J}.
b
Se B = ∅, então Jb ⊂ Iα , onde π0 (α) = 1. Pela invariância de J, b este está contido
em f (Iα ), implicando que π1 (α) = 1. Porém, π é irredutı́vel pela condição de Keane.
Portanto, B = 6 ∅. Então, π0 (B) = {1, ..., k} para algum k. Como Jb é invariante, temos
π1 (B) = {1, ..., k}. Assim,

π1 ◦ π0−1 ({1, ..., k}) = {1, ..., k} (1.17)

Note que k < d, caso contrário, terı́amos Jb = I e, de ?? J ⊂ Jb \ A, implicando que


A = ∅, um absurdo. Com isso, terı́amos que π é redutı́vel, mas pela condição de Keane,
podemos afirmar que π é irredutı́vel. Portando Jb 6= [0, bb).
Como consequência, existe uma componente conexa [b
a, bb) de J,
b com b
a > 0.
Agora, note que Df n , conjunto dos pontos de descontı́nuidade das iteradas de f ,
está contido em um conjunto maior como segue:
[ n−1
[
Df n ⊆ f i (∂Iα ).
α∈A i=0

Assim, se f n (b
a) 6= ∂Iβ para todo n ≥ 0 e β ∈ A, então não existem pontos de des-
continuidade em [b a, bb). Daı́, f n |[ba,bb) é contı́nua. Além disso, f é crescente, logo f n (b
a) é
extremidade de algum das componentes conexas de J. Contudo, J é uma união finita de
b b
componentes conexas, logo f possue pontos perı́odicos, o que contradiz o Lema anterior.
Analogamente, devido a continuidade de f implicar a continuidade de f−1 , se
n
a) 6= f (∂Iα ) para todo n ≤ 0 e α ∈ A então, toda f n (b
f (b a), n ≤ 0 será extremi-
dade esquerda de alguma das componentes conexas de A. Novamente, existiriam pontos
perı́odicos, o que é uma contradição.
Isto prova que existem n1 ≤ 0 ≤ n2 e α, β ∈ A tal que

f n1 (b
a) = f (∂Iα ) e f n2 (b
a) = ∂Iβ (1.18)

Se ∂Iβ ,
f n2 −n1 +1 (∂Iα ) = f n2 (f 1−n2 (∂Iα )) = f n2 (b
a) = ∂Iβ
contradizendo a condição de Keane. Se ∂Iβ = 0, então n2 > 0, pois b
a > 0. Além disso,
∂Iβ = f (∂Iγ ), onde π1 (γ) = 1. Isto mostra que 1.18 permanece válida se substituirmos β
por γ e n2 por n2 − 1. Como γ 6= β, por irredutibilidade temos ∂Iα > 0, o que contradiz
a condição de Keane, pois

f n2 −n1 (∂Iα ) = f n2 −1 (f 1−n1 (∂Iα )) = f n2 −1 (b


a) = ∂Iγ ,

com π0 (γ) > 1. Portanto, f é minimal.


1.6. Dinâmica da Aplicação de Indução 17

Observação 1.19. A recı́proca da proposição anterior não é verdadeira. Considere a


transformação de intercâmbio de intervalos

inserir figura

onde λA = λC , λB = λD e λA /λB = λC /λD é irracional. Note que f (∂B) = ∂C, logo


não satisfaz a condição de Keane. Contudo, é minimal. Com efeito, esta transformação
pode ser vista como duas transformações onde uma é dada por f 2n e a outra por f 2n−1 .
Cada uma destas transformações podem ser definidas como rotações no cı́rculo S 1 . Em
[referência katok] pode ser visto que quando o número de rotações é irracional, a
aplicação ”rotação”é minimal. Daı́, como λA /λB = λC /λD é irracional, podemos concluir
que a transformação dada é minimal.

1.6 Dinâmica da Aplicação de Indução


Esta seção reúne resultados importantes da indução algorı́tmica no espaço das
transformações de intercâmbio de intervalos.
Seja (π, λ) tal que Rn (π, λ) = (π n , λn ) é definida para todo n ≥ 0. Pelo visto
anteriormente, isto é válido quando (π, λ) satisfaz a condição de Keane.
Para cada n ≥ 0, seja n ∈ {0, 1} o tipo e αn , β n ∈ A os ı́ndices dos intervalos
ganhador e perdedor de (π n , λn ), respectivamente. Assim, λαn > λβ n e πn (αn ) = d =
π(1−n ) (β n ). Suponha que λnβ ≥ c, com c > 0, para todo n ≥ 0.
Afirmamos que a sequência (n )n≥0 assume os valores 0 e 1 infinitas vezes. De
fato, suponha que apartir de um certo instante a sequência se torne constante. Isto é, o
tipo da transformação se mantenha o mesmo. Então, o intervalo ganhador se mantém o
mesmo, isto é, a sequência (αn )n≥0 se manteria constante. Observe que
(
λnαn , se α 6= αn ,
λn+1
α = (1.19)
λnαn − λnβn , se α = αn .
Considere que para todo n ≥ n0 ≥ 0, αn = αn0 . Assim,

0 −1 n+n0 −1
λn+n0
αn+n0
= λαn+n
n+n0 −1 − λβ n+n0 −1

0 −2 n+n0 −2 n+n0 −1
= λαn+n
n+n0 −2 − λβ n+n0 −2 − λβ n+n0 −1

...
n0X
+n−1
= λnα0n0 − λjβ j
j=n0
≤ λnα0n0 − nc,
18 Capı́tulo 1. Preliminares

onde c = minβ j ∈A;β j 6=α {λjβ j } com j = {n0 , ..., n0 + n − 1}.


Fazendo n −→ ∞ obtemos que lim λn+n 0
αn+n0
≤ 0, mas por 1.19, isto implica que
λn+1
α pode ser eventualmente negativo, o que é um absurdo.

Proposição 1.20. As sequências (αn )n e (β n )n assumem todos os valores α ∈ A infinitas


vezes.

Demonstração: Tento em vista que a sequência(αn )n não pode ser constante, considere
algum α ∈ A e algum intervalo de tempo maximal [p, q) tal que αn = α para todo
n ∈ [p, q), em outras palavras, em [p, q) o intervalo ganhador é o mesmo. Ao fim deste
intervalo a transformação muda de tipo, isto é,
q
q = 1 − q−1 e π1−q (α) = d,

ou ainda, α = β q . Assim, basta provarmos a afirmação para a sequência (αn )n .


Seja
B = {β ∈ A|]β < +∞}
onde ]β = {n ∈ N|αn = β}. Considerando β ∈ B, existe N = maxβ∈B {]β }. Substituindo
(π, λ) por (π, λ) = (π N , λN ), temos que β 6= αn para todo n > N . Disso, λnβ = λβ para
todo β ∈ B e todo n > N . Queremos mostrar que este conjunto é vazio.
Como
λn+1 n n
αn = λαn − λβ n

obtemos que todo β ∈ B ocorre finitas vezes na sequência (β n )n . De fato, se β ni = β para


todo i ≥ 0, então
λnαin+1
i = λnαini − λnβ ini = λnαini − λnβ i .
Como αni ∈ A, que é um conjunto finito, a menos de subsequência, podemos
considerar que αni = α0 , para todo i ≥ 0, ou seja, (αni )i é constante pra todo i ≥ 0.
Logo,
λαni0+1 = λnαi0 − λβ .
Note que, como ni < ni + 1 ≤ ni+1 , então αp 6= α0 para todo p ∈ (ni , ni+1 ).
Assim, λpα0 para todo p ∈ (ni , ni+1 ). Disso, como ni + 1 ∈ (ni , ni+1 ), obtemos

λnαi+1
0
= λnαi0+1 = λnαi0 − λβ ⇒ λαni+k
0
= λnαi0 − kλβ .

Fazendo k −→ ∞ obtemos que lim λαni0+k ≤ 0, implicando que λαnin+1


i pode ser
eventualmente negativo, o que é um absurdo.
Substituindo (π, λ) por uma iterada, temos que β 6= β n para todo n > N 0 e
0
β ∈ B, com N 0 = maxn0 ≥0 {n0 } tal que β = β n . Logo, β nem perde nem ganha. Com
isso, as sequências
(π0n (β))n≥0 e (π1n (β))n≥0
1.6. Dinâmica da Aplicação de Indução 19

é não-decrescente. Caso contrário, se existirem β ∈ B e n0 ≥ 0 tal que

π0n0 +1 (β) ≤ π0n0 (β),

então a transformação seria do tipo 1 e β seria o intervalo perdedor, o que é uma con-
tradição. Analogamente, se existir β ∈ B e n1 ≥ 0 tal que

π1n1 +1 (β) ≤ π1n1 (β),

então a transformação seria do tipo 0 e β seria o intervalo perdedor, o que é uma con-
tradição.
Substituindo (π, λ) por algum iterado podemos supor que estas sequências são
constantes.
Afirmamos que

π (β) < π (α) paratodo α ∈ A \ B, β∈B e  = {0, 1}.

De fato, suponha que existam α, β e  tal que

π (β) > π (α)

Então, como β não perde na substituição da iterada, temos que, para todo n ≥ 0,

πn (β) > πn (α).

Em particular, πn (α) < d, para todo n ≥ 0. Agora, como α ∈


/ B, então α pode
n
perder ou ganhar, ou seja, π1− (α) = d e n = 1 − , para algum n. Logo, πn+1 (β) =
πn (β) + 1, contradizendo a prévia conclusão de πn (β) ser constante. Assim, concluimos a
prova da afirmação.
Como consequência da afirmação, temos que

π0 (B) = {1, ..., t} = π1 (B),

para algum t < d. Entretanto, em todo o trabalho, assumimos π irredutı́vel. Logo, B = ∅.


Portanto, o resultado segue para (αn )n e, pela observação do inı́cio da demons-
tração completamos a prova da proposição.

Corolário 1.21. O comprimento do domı́nio I n da transformação Rn (f ) tende a zero


quando n tende a ∞.

Demonstração: Suponha que existam β ∈ A e c > 0 tais que λnβ ≥ c para todo n ≥ 0.
Pela proposição anterior, existe n de modo que β n = β. Assim,

λn+1 n n n n n
αn = λαn − λβ n = λαn − λβ ≤ λαn − c.
20 Capı́tulo 1. Preliminares

Pela proposição anterior, isto ocorre infinitas vezes. Como o alfabeto A é finito, deve
existir α ∈ A tal que αn = α. Assim,

λn+1
α ≤ λnα − c ⇒ λn+k
αn+k
≤ λnα − kc

Fazendo k −→ ∞, temos que limk−→∞ λn+k


αn+k
≤ 0. Portanto, λn+1
α < 0, o que é
absurdo.

Para o corolário que segue, denote

Θ∗n ∗ ∗ ∗
π m ,λm = Θ (m, n) = Θπ m ,λn ...Θπ m+n−1 ,λm+n−1 .

Observação 1.22. Note que

Θ∗ (m, n) = Θ∗πm ,λn ...Θ∗πm+k−1 ,λn+k−1 Θ∗πm+k ,λn+k ...Θ∗πm+k+n−k−1 ,λm+k+n−k−1


= Θ∗ (m, k)Θ∗ (m + k, n − k)

Corolário 1.23. Para cada m ≥ 0 existe n ≥ 1 tal que

Θ∗n
π m ,λm > 0,

em outras palavras, todas as entradas da matriz são positivas.

Demonstração: Dados α, β ∈ A, m ≥ 0, ≥ 1, representamos por Θ∗ (α, β, m, n) a


entrada de linha α e coluna β da matriz Θ∗n
π m ,λm . Pela definição da matriz do operador Θ,
obtemos 
 1, se α = β,


Θ∗ (α, β, m, 1) = 1, se (α, β) = (αm , β m ), (1.20)


 0, caso contrário.

Note que Θ∗ (α, β, m, n) é não-decrescente em n ≥ 1. De fato, pela observação 1.22,


Θ∗ (α, β, m, n + 1) = Θ∗ (α, β, m, n)Θ∗ (α, β, m + n, 1). Disso,
X
Θ∗ (α, β, m, n + 1) = Θ∗ (α, γ, m, n)Θ∗ (γ, β, m + n, 1)
γ
≥ Θ∗ (α, β, m, n)Θ∗ (β, β, m + n, 1)
= Θ∗ (α, β, m, n).

Seja α fixo. Vamos construir uma enumeração γ1 , ..., γd de A e inteiros n1 , ..., nd


tais que
Θ∗ (α, γi , m, n) > 0, ∀ n ≥ ni e i = 1, ..., d. (1.21)

Assim, com β = γi para algum i, provamos o corolário.


1.6. Dinâmica da Aplicação de Indução 21

Para i = 1, tome γ1 = α e n1 = 0. Logo,

Θ∗ (α, γ1 , m, n) = Θ∗ (α, α, m, n) ≥ Θ∗ (α, γi , m, 1) = 1,

onde na desigualdade usamos o fato de Θ∗ (α, β, m, n) ser decrescente.


Pela Proposição anterior, existe m2 > m tal que γ1 = αm2 . Defina γ2 = β m2 .
Como a permutação é irredutı́vel, γ1 6= γ2 . Além disso, por 1.20 Θ∗ (γ1 , γ2 , m2 , 1) = 1.
Pela observação 1.22 Θ∗ (m, n) = Θ∗ (m, m2 − m)Θ∗ (m2 , n + m − m2 ). Disso,
X
Θ∗ (α, γ2 , m, n) = Θ∗ (γ1 , s, m, m2 − m)Θ∗ (s, γ2 , m2 , n + m − m2 )
s
≥ Θ (γ1 , γ1 , m, m2 − m)Θ∗ (γ1 , γ2 , m2 , n + m − m2 )

≥ Θ∗ (γ1 , γ1 , m, m2 − m)Θ∗ (γ1 , γ2 , m2 , 1)


= Θ∗ (γ1 , γ1 , m, m2 − m) > 0,

para todo n > m2 − m. Assim, para i = 2, tomemos n2 = m2 − m.


Se d = 2 não temos mais o que provar. Então, suponhamos d > 2. Pela Pro-
posição anterior, existe p2 > m2 tal que αp2 é diferente de γ1 e γ2 , e m3 > p2 tal que
αm3 = γj , com j ∈ {1, 2}. Consideremos o menor m3 . Note que m3 6= m3 −1 , caso
contrário, αm3 −1 = γj , contradizendo a minimalidade de m3 . Disso, 1 − m3 = m3 −1 .
m3 m3 −1 m3
Assim, π1− m3 (η) = π1−m3 (η), para todo η ∈ A. Em particular, se d = π1−m3 (γ3 ) =

m3 −1
π1−m3 (γ3 ), implicando que γ3 = β
m3
e γ3 = αm3 −1 .Pela irredutibilidade, γ3 é diferente
de γ1 e de γ2 . Além disso,
Θ∗ (αm3 , β m3 , m3 , 1) = 1.

Pela observação 1.22 Θ∗ (m, n) = Θ∗ (m, m3 − m)Θ∗ (m3 , n + m − m3 ). Assim,


X
Θ∗ (α, γ3 , m, n) = Θ∗ (γ1 , s, m, m3 − m)Θ∗ (s, γ3 , m3 , n + m − m3 )
s
≥ Θ∗ (γ1 , γj , m, m3 − m)Θ∗ (γj , γ3 , m3 , n + m − m3 )
≥ Θ∗ (γ1 , γj , m, m3 − m)Θ∗ (γj , γ3 , m3 , 1)
= Θ∗ (γ1 , γj , m, m3 − m) > 0,

para todo n > m3 − m. Assim, para i = 3, tomemos n3 = m3 − m.


Suponhamos que tenhamos construı́do γ1 , ..., γk ∈ A todos distintos, e n1 , ..., nk
tal que Θ∗ (γ1 , γk , m, n) > 0, para todo n > ni , i ∈ {1, ..., k}. Assumindo k < d, pela
Proposição anterior, existe pk > mk tal que o ganhador αpk ∈
/ {γ1 , ..., γk } e mk+1 > pk
tal que αmk+1 = γj , para algum j ∈ {1, ..., k}. Consideremos o menor mk+1 . Assim,
γk+1 = β mk+1 e γk+1 = αmk+1 −1 . Pela irredutibilidade, γk+1 não pertence a {γ1 , ..., γk }.
Além disso,
Θ∗ (γj , γk+1 , mk+1 , 1) = 1.
22 Capı́tulo 1. Preliminares

Pela observação 1.22 Θ∗ (m, n) = Θ∗ (m, mk+1 −m)Θ∗ (mk+1 , n+m−mk+1 ). Então,
X
Θ∗ (α, γk+1 , m, n) = Θ∗ (γ1 , s, m, mk+1 − m)Θ∗ (s, γk+1 , mk+1 , n + m − mk+1 )
s
≥ Θ (γ1 , γj , m, mk+1 − m)Θ∗ (γj , γk+1 , mk+1 , n + m − mk+1 )

≥ Θ∗ (γ1 , γj , m, mk+1 − m)Θ∗ (γj , γk+1 , mk+1 , 1)


= Θ∗ (γ1 , γj , m, mk+1 − m) > 0,

para todo n > mk+1 − m. Assim, para i = k + 1, tomemos nk+1 = mk+1 − m. Isto
completa a prova da indução, e assim temos o desejado.

Corolário 1.24. Se (π n , λn ) = Rn (π, λ) está definida para todo n ≥ 1, então (π, λ)


satisfaz a condição de Keane.

Demonstração: Suponha que para algum α, β ∈ A e m ≥ 1

f m (∂Iα ) = ∂Iβ ⇒ f m−1 (∂f (Iα )) = ∂Iβ , (1.22)

com ∂Iβ > 0. Note que, como f é contı́nua e crescente nos subintervalos de I, entãi
f (∂Iα ) = ∂f (Iα ).
Tome m o mı́nimo. Em particular, pela observação 1.13, temos que ∂f (Iα ) > 0.
Denote fn = Rn (f ). Da definição de fn ,

∂f (Iα ) = ∂fn (Iαn ) e ∂Iβ = ∂Iβn , (1.23)

para cada n tal que ∂f (Iα ) e ∂Iβ estejam no domı́nio de I n de fn .


Pelo Corolário 1.21 |I n | → 0 quando n → ∞, logo existe N ∈ N tal que
∂Iβ , ∂f (Iα ) ∈ I N , mas ∂Iβ , ∂f (Iα ) ∈
/ I N +1 .
Como f N é a aplicação de 1º retorno de f para I N , de 1.22

fNk (∂f (Iα )) = ∂Iβ , (1.24)

para algum k ≤ m − 1. De fato, por definição existe k ∈ N tal que

fN (∂fN (IαN )) = f k (∂fN (IαN )).

Por 1.23,

fN (∂f (Iα )) = f k (∂f (Iα )) = ∂Iβ ,

onde a última igualdade é proveniente de 1.22 com k ≤ m − 1. Como α nem perde nem
ganha, fN (x) = f (x) para todo x ∈ IαN . Logo,

fNk (∂f (Iα )) = f k (∂f (Iα )) = ∂Iβ ,


1.6. Dinâmica da Aplicação de Indução 23

como querı́amos.
Por ∂Iβ , ∂f (Iα ) ∈ I N e 1.23, N é o máximo tal que ∂fN (IαN ), ∂IβN ∈ I N . Logo,
∂IβN ou ∂fN (IαN ) (ou ambos) são intervalos da extremidade direita da partição de IN .
Se ∂f (Iα ) = ∂Iβ (m = 1), então, por 1.23, ∂fN (IαN ) = ∂IβN . Daı́, fN +1 = RN +1 (f )
não estaria definida, contradizendo a hipótese. Assim, ou ∂Iβ < ∂f (Iα ) ou ∂Iβ > ∂f (Iα ).
Suponha que ∂Iβ < ∂f (Iα ), ou seja, fN tenha tipo 0.
Por definição, fN +1 (IαN +1 ) = fN2 (IαN +1 ). Então,

∂fN +1 (IαN +1 ) = fN +1 (∂(IαN +1 ) = fN2 (∂IαN +1 ) = fN (fN (∂(IαN +1 )) = fN (∂fN (IαN )) = fN (∂f (Iα ))

e
∂IβN +1 = ∂IβN = ∂Iβ .

Comparando com 1.24

fNk−1 (∂fN +1 (IαN +1 )) = fNk−1 (fN (∂f (Iα ))) = fNk (∂f (Iα )) = ∂Iβ = ∂IβN +1 . (1.25)

Como fN +1 é a aplicação de 1º retorno de fN a I N +1 , com um raciocı́nio análogo


ao feito para 1.24, temos
fNl−1 N +1
+1 (∂fN +1 (Iα )) = ∂IβN +1 , (1.26)

para algum l ≤ k ≤ m − 1. Em outras palavras, quanto maior a iterada da transformação


menor o tempo de retorno.
Se ∂Iβ > ∂f (Iα ), isto é, fN tiver tipo 1, então como fN +1 (IβN +1 ) = fN2 (IβN +1 ),

∂fN +1 (IαN +1 ) = ∂fN (IαN ) = ∂f (Iα ) (1.27)

∂IβN +1 = fN−1 (∂IβN ) = fN−1 (∂Iβ ).

Comparando com 1.24

fNk−1 (∂fN +1 (IαN +1 )) = fNk−1 (∂f (Iα )) = fN−1 (∂Iβ ) = ∂IβN +1 .

Analogamente, como fN +1 é aplicação de 1º retorno de fN para I N +1 e vale 1.27,


obtemos
fNl−1 N +1
+1 (∂fN +1 (Iα )) = ∂IβN +1 , (1.28)

para algum l ∈ N com l ≤ k ≤ m − 1. Em outras palavras, quanto maior a iterada da


transformação menor o tempo de retorno.
Em ambos os casos mostramos que 1.22 implica 1.26 e 1.28, onde f é substituı́da
por fN +1 e m ≥ 2 é substituı́do por um l menor. Iterando o processo, devemos retornar
em algum momento a m = 1, já tratado na primeira parte. Assim, finalizamos a prova.
24 Capı́tulo 1. Preliminares

1.7 Classes de Rauzy


Dados os pares π e π 0 , dizemos que π 0 é um sucessor de π se existem λ, λ0 ∈ Rd+
tal que R(π, λ) = (π 0 , λ0 ). Um par π tem exatamente dois sucessores, correspondentes
ao tipo 0 e 1, respectivamente. Do mesmo modo, cada π 0 é o sucessor de dois pares π.
Note que π é irredutı́vel se, e somente se, π 0 é irredutı́vel. Assim, esta relação define uma
ordem parcial do conjunto dos pares irredutı́veis, a qual representamos por um grafo G.
Chamamos de Classe de Rauzy as componentes conexas deste grafo.

Lema 1.25. Se π e π 0 são da mesma classe de Rauzy, então existe um caminho orientado
em G iniciando em π e terminando em π 0 .

Demonstração: Seja A(π) o conjunto dos pares π 0 que podem ser atingidos por um
caminho orientado começando em π. Pelo observado acima, cada vértice do grafo G tem
exatamente duas flechas saindo e duas chegando. Por definição, toda flecha iniciando em
algum vértice de A(π) deve terminar em algum vértice de A(π). Além disso, cada flecha
terminando em um vértice de A(π) deve iniciar em algum vértice de A(π).
Isto significa que A(π) é uma componente conexa de G, logo uma classe de Rauzy
C(π).

Vejamos alguns exemplos de classe de Rauzy. Para d = 2 existem duas possibili-


dades de permutação, mas apenas uma é irredutı́vel: (2,1). O grafo de Rauzy é
inserir grafo
Para d = 3 existem seis possibilidades de permutações, mas apenas três são
irredutı́veis: (2,3,1), (3,1,2), (3,2,1). Elas estão representadas numa única classe de Rauzy,
como segue:
inserir grafo
Para d = 4 existem 24 possibilidades de permutações, porém apenas 13 são
irredutı́veis:

(4,3,2,1), (4,1,3,2), (3,1,4,2), (4,2,1,3), (2,4,3,1), (3,2,4,1), (2,4,1,3), (4,2,3,1), (4,1,2,3),


(4,3,1,2), (3,4,1,2), (2,3,4,1), (3,4,2,1)

Elas estão separadas por duas classes de Rauzy, uma com sete vértices (figura ??), que
são as primeiras sete monodromia invariantes acima, e outra com seis vértices (figura??),
que são as seis monodromias que restaram.
Note que esta última componente conexa tem o dobro de vértices comparando
com a quantidade de monodromias que utilizamos para construı́-la. Isto devido a toda
classe ser simétrica com relação ao eixo vertical. Esta simetria está relacionada a mu-
dança de papéis de π0 e π1 . Como o último grafo tem dois vértices centrais, então pares
1.7. Classes de Rauzy 25

que são opostos relativos ao centro têm a mesma monodromia invariante, e então eles
correspondem a mesma transformação de intercâmbio de intervalos. Identificando tais
pares, obtemos a classe de Rauzy reduzida, como segue:
inserir grafo

Definição 1.26. Um par π = (π0 , π1 ) é dito standard se o último sı́mbolo em cada linha
coincide com o primeiro sı́mbolo da outra linha. Em outras palavras

(π1 ◦ π0−1 )(1) = d e (π1 ◦ π0−1 )(d) = 1.

Observe que as classes de Rauzy exemplificadas acima contêm algum par stan-
dard. Veremos mais adiante que este resultado vale para toda classe de Rauzy.
Além disso, note que a aplicação Rauzy-Veech mantém os primeiros sı́mbolos
α1 = π−1 (1), onde  ∈ {0, 1} inalterados em toda classe de Rauzy C(π).

Lema 1.27. Dado qualquer  ∈ {0, 1} e qualquer β ∈ A tal que π (β) 6= 1, existe um par
π 0 na classe de Rauzy C(π) tal que π0 (β) = d, isto é, β é o último sı́mbolo na linha  de
π.

Demonstração: Para cada  ∈ {0, 1}, seja

A = {β ∈ A; π0 (β) < d, ∀π 0 ∈ C(π)}. (1.29)

Pelo observado anteriormente, α1 ∈ A . Seja k() o maior valor de π0 (β) para toda
π 0 ∈ C(π) e β ∈ A . Por definição, k() < d. Queremos mostrar que k() = 1 e assim
A = {α1 } para  ∈ {0, 1}.
Fixemos algum β ∈ A de modo que o valor máximo seja atingido. Assim,
existe π0 ∈ C(π) tal que π0 (β ) = k(). Porém, todo sı́mbolo γ com π (γ) < d se move
apenas para a direita pela aplicação de Rauzy-Veech. Disso, se existir uma π 0 em C(π)
onde π0 (β ) 6= k(), ao iterar obterı́amos uma contradição a maximalidade de k(). Logo,
π0 (β ) = k() para toda π 0 em C(π).
Pelo mesmo argumento, os sı́mbolos à esquerda de β permanecem constantes na
classe de Rauzy, caso contrário confrontaria a definição de k(). Assim,

(π 0  )−1 (i) = π−1 (i), ∀ 1 ≤ i ≤ k().

Em particular, nenhum sı́mbolo a esquerda de β na linha  pode chegar na última


posição na linha 1 − :

0 0
π (α) < k() ⇒ π1− (α) < d ⇒ α ∈ A1− ⇒ π1− (α) ≤ k(1 − ), (1.30)

para algum π 0 em C(π).


26 Capı́tulo 1. Preliminares

Escrevendo
!
α10 ... αk(0)
0
... ... αd0
π0 = , αi = (π0 )−1 (i).
α11 ... ... 1
αk(1) ... αd1

Note que

1−
{α1 , ..., αk()−1

} ⊂ {α11− , ..., αk(1−) } para  ∈ {0, 1}. (1.31)

caso contrário, haveria αi que contradiria 1.30. Como a inclusão 1.31 vale para todo ,
identificando  como 1 −  obtemos

1−
{α11− , ..., αk(1−)−1 
} ⊂ {α1 , ..., αk() } para  ∈ {0, 1}. (1.32)

Logo, por 1.31


k() − 1 ≤ k(1 − )

e, por 1.32
k(1 − ) − 1 ≤ k()

Portanto, k() − 1 ≤ k(1 − ) ≤ k() + 1. Disto, temos quatro possibilidades:

1. k(1) = k(0) − 1: com  = 0, de 1.31 obtemos

{α10 , ..., αk(0)−1


0
} ⊂ {α11 , ..., αk(1)
1
}.

Sendo k(1) = k(0) − 1 temos a inclusão de um conjunto em outro, cujo número de


elementos de ambos é o mesmo. Assim, {α10 , ..., αk(1)
0
} = {α11 , ..., αk(1)
1
}, implicando
que
(π 0 1 ◦ π 0 0 −1 ){1, ..., k(1)} = {1, ..., k(1)}

isto é, contradiz a irredutibilidade da permutação;

2. k(0) = k(1) − 1: este caso é análogo ao anterior considerando  = 1 em 1.31;

3. k(0) = k(1) e {α10 , ..., αk(0)−1


0
} = {α11 , ..., αk(1)−1
1
}: com  = 0, em 1.31

{α10 , ..., αk(0)−1


0
} ⊂ {α11 , ..., αk(1)
1
}.

Pelo suposto, temos uma contradição a irredutibilidade do dado combinatório, ex-


ceto quando k(0) = k(1) = 1;

4. k(0) = k(1) e existi 1 ≤ i ≤ k(0) − 1 tal que αi0 = αk(1)


1
: tomando  = 1 em 1.31,
obtemos
{α11 , ..., αk(1)−1
1
} ⊂ {α10 , ..., αk(0)
0
}
1.7. Classes de Rauzy 27

logo,
{α11 , ..., αk(1)−1
1
} = {α10 , ..., αk(0)
0 1
} \ {αk(1) }

ou seja,
{α11 , ..., αk(1)−1
1 1
, αk(1) } = {α10 , ..., αk(0)
0
}

Novamente, temos uma contradição a irredutibilidade.

Isto completa a prova do lema.

Proposição 1.28. Toda classe de Rauzy contém algum par standard.

Demonstração: Pela observação feita anteriormente, os primeiros sı́mbolos α1 = π−1 (1),
com  ∈ {0, 1} e π = (π0 , π1 ), permanecem inalterados sob a iteração de Rauzy-Veech.
Por irredutibilidade eles são necessariamente distintos, como segue
!
α10 ...
π= , α10 6= α11 .
α11 ...

Então, usando o lema 1.27, como π1 (α10 ) > 1, podemos encontrar um par π 0 =
(π 0 0 , π 0 1 ) em C(π) de modo que π10 (α10 ) = d, ou seja, o último sı́mbolo da primeira linha
coincide com o primeiro da última linha, como segue:
!
α10 ... α11 ... αd0
π0 = .
α11 ... ... ... α10

Se π00 (α11 ) = d, então temos o desejado. Se π00 (α11 ) < d iterando π 0 sob a aplicação
de Rauzy-Veech tipo 1, mantemos a segunda linha, enquanto deslocamos os sı́mbolos a
direita de α11 da primeira linha em uma coluna para a mais. Assim, obtemos um par π 00
que satisfaz π000 (α11 ) = 1 + π00 (α11 ) e π000 (α11 ) = d:
!
α10 αd0 ... α11 ...
π 00 = .
α11 ... ... ... α10

Note que iterando finitas vezes (ainda que alterne entre tipo 0 e tipo 1) existe
π n = (π0n , π1n ) em C(π), com n ∈ N, de modo que π0n (α11 ) = d. Assim,

(π1n ◦ (π0n )−1 )(1) = d e (π1n ◦ (π0n )−1 )(d) = 1.

ou seja, π n é standard.
28 Capı́tulo 1. Preliminares

1.8 Renormalização de Rauzy-Veech


Neste trabalho estamo sespecialmente interessados em transformações de intercâmbio
de intervalos cujos domı́nios têm comprimento 1.
Sejam π e π 0 pares irredutı́veis tais que π 0 é o sucessor tipo  de π, com  ∈ {0, 1}.
Para cada λ ∈ Rd+ satisfazendo
λα() > λα(1−) (1.33)

obtemos
(
λα , se α 6= α()
R(π, λ) = (π 0 , λ0 ) com λ0α = (1.34)
λα() − λα(1−) , se α = α()

A aplicação λ 7→ λ0 assim definida é uma bijeção entre vetores comprimento


satisfazendo 1.27 e sua inversa é dada por
(
λ0α , se α 6= α()
λα = (1.35)
λ0α() + λ0α(1−) , se α = α()
P
Considere I um intervalo unutário, isto é α∈A λα = 1. Note que a indução R(f )
é definida em um intervalo de comprimento 1 − λα(1−) , mas se fizermos um redimensio-
namento adequado obtemos a aplicação R(f
b ) em um intervalo unitário.
Esta aplicação é dita função Renormalização de Rauzy-Veech e definimos por

b λ) 7→ (π 0 , λ00 ), λ0
R(π, onde λ00 = . (1.36)
1 − λα(1−)

Seja
X
ΛA = {λ ∈ Rd+ | λα = 1},
α∈A

que chamamos de simplexo, e

Λπ, = {λ ∈ ΛA |λα() > λα(1−) }  ∈ {0, 1}.

Seja Gd o grupo das permutações onde o alfabeto tem cardinalidade d.


Assim, (π, λ) 7→ (π 0 , λ00 ) aplica {Gd } × Λπ, bijetivamente em {π 0 } × ΛA .
Para cada classe de Rauzy C temos uma aplicação R b : (π, λ) 7→ (π 0 , λ00 ) de
C × ΛA em si mesmo, com a seguinte propriedade: R b leva cada {π} × Λπ, bijetivamente
em {π 0 } × ΛA , onde π 0 é o sucessor tipo  de π. Note que

Θ−1∗
λ00 = , (1.37)
1 − λα(1−)

pela definição de operador Θ (veja 1.7), e este só depende de π e do tipo , ou seja, é
constante em cada {π} × Λπ, .
1.9. Transformações de Zorich 29

Exemplo 1.29. Considerando d = 2 temos apenas uma permutação irredutı́vel, dada por
!
A B
π= .
B A

Denote λA = x. Note que se π for tipo 0 então x ∈ (0, 1/2), enquanto que se π for
tipo 1 então x ∈ (1/2, 1), caso contrário a indução de Rauzy-Veech não estaria definida.
Assim, a renormalização de Rauzy-Veech é dada por:
 x
 , se x ∈ (0, 1/2)
r(x) = 1 − x
 2x − 1 , se x ∈ (1/2, 1)
x
Note que r tem uma tangencia de ordem 1 com a indentificação em x = 0 e
x = 1. inserir figura

1.9 Transformações de Zorich


Seja C uma classe de Rauzy, π = (π0 , π1 ) um vértice de C e λ ∈ Rd+ satisfazendo
a condição de Keane. Seja  ∈ {0, 1} o tipo da (π, λ) e, para cada j ≥ 1, seja j o tipo da
iterada (π j , λj ) = Rj (π, λ). Considere n = n(π, λ) ≥ 1 o menor natural tal que j 6= .
A aplicação indução de Zorich é definida por

Z(π, λ) = (π n , λn ) = rn (π, λ).

A aplicação renormalização de Zorich é dada por

Zb × ΛA → C × ΛA , bn (π, λ).
Z(π, λ) = R

Em outras palavras, a transformação de Zorich está voltada para o tempo de


mudança de tipo na indução de Rauzy-Veech.
Esta aplicação admite uma partição Markov (referência), em contáveis domı́nios.
Com efeito, para cada π na classe de Rauzy e  ∈ {0, 1}, seja

Λ∗π,,n = {λ ∈ Λπ, :  = 1 = ... = n−1 6= n },

ou seja, em n a transformação muda de tipo. Do mesmo modo que a renormalização de


Rauzy-Veech, temos que Z mapeia cada {π} × Λ∗π,,n bijetivamente em {π n } × Λπn ,1− .
Além disso, por 1.37, temos que

λ0 = c1 Θ−1∗ (λ) ⇒ λ00 = c2 Θ−1∗ (λ0 ) = c2 Θ−1∗ Θ−1∗ (λ) = c2 Θ−2∗ (λ)
...
⇒ λn = cn Θ−n∗ (λ)

onde cn > 0 e Θ−n∗ depende apenas de π,  e n, ou seja, são constantes em {π} × Λ∗π,,n .
30 Capı́tulo 1. Preliminares

Exemplo 1.30. Para d = 2 a transformação de Zorich Zb é dada por z(x) = rn (x) (veja
exemplo 1.29) onde n = n(x) ≥ 1 é o menor inteiro positivo tal que

rn (x) ∈ (1/2, 1), se x ∈ (0, 1/2) ou rn (x) ∈ (0, 1/2), se x ∈ (1/2, 1). (1.38)

1.9.1 Frações Continuadas


O algorı́tmo da fração continuada associa a cada número irracional x0 ∈ (0, 1) a
sequência de inteiros  
1 1
nk = e xk = − nk ,
xk−1 xk−1
onde [.] denota a parte inteira. Assim,

1 1 1
x0 = = = = ...
n1 + x1 1 1
n1 + n1 +
n2 + x2 1
n2 +
n3 + x3

Considere a aplicação G, dita aplicação de Gauss, como segue:

G : (0, 1) → [0, 1]
 
1 1
x 7→ − .
x x

Note que
 
 
1 1 1 1
G2 (x0 ) = G( − ) = −
 
x0 x0 1 h
1
i 1 h
1
i 
− x0 − x0
x0 x0
 
1 1
= −
 
1 1 
− n1 − n1
x0 x0
 
1 1
= −
x1 x1
1
= − n2
x1
= x2

Mais geralmente,
xk = Gk (x0 ).

Agora, faça A = {A, B} e considere a bijeção

λA
φ : (λA , λB ) 7→ y =
λB
1.10. Forma Simplética 31

de ΛA a (0, ∞). Considere também outra bijeção de ΛA dada por P : (λA , λB ) 7→ (λB , λA ).
Note que se (λA , λB ) ∈ Λπ,0 , ou seja, λA < λB , então y = φ(λA , λB ) ∈ (0, 1). Por definição,

Z ◦ P (λA , λB ) = Z(λB , λA ) = Rn (λB , λA ) = (λB − nλA , λA )

λB
onde n é a parte inteira de . Note que desconsideramos a permutação, pois estamos
λA
no d = 2, logo temos apenas uma permutação irredutı́vel.
Em termos da variável y, obtemos
1
φ−1 (y) = (λA , λB ) 7→ φ−1 ( − n) = (λB − nλA , λA )
y
ou seja,
1
y 7→ − n = G(y).
y
Em outras palavras, acabamos de mostrar que φ conjuga Z ◦ P , restrito a Λπ,0 ,
para a aplicação G de Gauss. Consequentemente, φ conjuga (Z ◦ P )n , restrito a Λπ,0 , a
Gn , para cada n ≥ 1. Observe que P 2 = id e Z comuta com P . De fato,

P ◦ Z(λA , λB ) = P (λA , λB − nλA ) = (λB − nλA , λA ) = Z ◦ P (λA , λB ).

Consequentemente, mostramos que Z 2k |Λπ,0 é conjugado para G2k , visto que


P 2k = id e Z 2k−1 ◦ P |Λπ,0 é conjugado a G2k−1 , para cada k ≥ 1.
Portanto, a aplicação de Gauss é equivalente a trandformação de Zorich para
d = 2. Quando d > 2 da transformação de Zorich podem ser vistos como generalizações
dimensionais da expansão da fração continuada.

1.10 Forma Simplética


Considere o operador Ωπ : Rd → Rd como em 1.1. Por 1.2 temos que a matriz
deste operador é antissimétrica, ou seja,

ΩTα,β = −Ωα,β , (1.39)

onde ΩTα,β é a transposta da matriz Ωα,β . Logo, o operador é antissimétrico, ou seja,

Ω∗π = −Ωπ , (1.40)

onde Ω∗π é o operador adjunto.


Temos que uma forma r-linear g : E × ... × E → R, onde E é espaço vetorial, é
dita:

ˆ alternada quando g(v1 , ..., vr ) = 0 sempre que a lista (v1 , ..., vr ) tiver repetições;
32 Capı́tulo 1. Preliminares

ˆ antissimétrica quando g(v1 , ..., vi , ..., vj , ..., vr ) = −g(v1 , ..., vj , ..., vi , ..., vr ).

É possivel provar que uma forma r-linear é alternada se, e somente se, é antis-
simétrica. Assim,
w̃π : Rd → Rd , w̃π (u, v) = −u · Ωπ (v) (1.41)

define uma forma bilinear alternada em Rd .


Note que v ∈ ker(Ωπ ) se, e somente se, w̃π (u, v) = 0 para todo u ∈ Rd . Com
efeito, v ∈ ker(Ωπ ) equivale a Ωπ (v) = 0 e, variando u ∈ Rd , isso vale se, e somente se
w̃π (u, v) = −u · Ωπ (v) = 0. Assim, w̃π é degenerado se, e somente se, v ∈ ker(Ωπ ) para
todo u ∈ Rd .
Em outras palavras, sempre podemos transformar este operador em uma forma
simplética, ou seja, um a forma bilinear alternada não-degenerada, seguindo duas manei-
ras. Primeiro, consideremos

wπ : Hπ × Hπ → R, wπ (Ωπ (u), Ωπ (u)) := −u · Ωπ (v), (1.42)

onde Hπ = Ωπ (Rd ). Consideremos também


Rd Rd
wπ0 : × → R, wπ0 ([u], [v]) = −u · Ωπ (v), (1.43)
ker(Ωπ ) ker(Ωπ )
Rd
no espaço quociente ker(Ωπ )
, onde [y] = {x ∈ Rd ; y − x ∈ ker(Ωπ )}.

Lema 1.31. As relações 1.42 e 1.43 definem formas simpléticas wπ e wπ0 nos espaços
correspondentes.

Demonstração: De 1.40 temos que

Hπ = −Ω∗π (Rd ).

Disso, o complemento ortogonal Hπ⊥ , ou seja, o conjunto dos vetores ortogonais


a Hπ , coincide com o núcleo de Ωπ . De fato, z em Hπ⊥ equivale a

hΩπ (u), zi = 0 ⇔ hu, Ω∗π (z)i = 0 ⇔ hu, Ωπ (z)i = 0 ⇔ Ωπ (z) = 0,

quando fazemos u variar em todo Rd .


Suponha Ωπ (u) = Ωπ (u0 ), ou seja, u − u0 pertence ao núcleo de Ωπ , o qual
mostramos ser Hπ⊥ . Assim,

u · Ωπ (v) − u0 · Ωπ (v) = hu, Ωπ (v)i − hu0 , Ωπ (v)i = hu − u0 , Ωπ (v)i = 0,

para todo v ∈ Rd . Logo, wπ e wπ0 estão bem definidas. Temos que a bilinearidade segue
de Ωπ . Além disso, estas formas são alternadas, pois

−v · Ωπ (u) = h−v, Ωπ (u)i = −hu, Ω∗π (v)i = hu, −Ω∗π (v)i = hu, Ωπ (v)i = u · Ωπ (v).
1.10. Forma Simplética 33

Por fim, temos formas não-degeneradas, pois variando v ∈ Rd ,

−u · Ωπ (v) = 0 ⇔ u ∈ Hπ⊥ = ker(Ωπ ),

ou seja, para u ∈ Hπ temos −u · Ωπ (v) = 0 apenas se u for nulo. Em geral, isto significa
Rd
que [u] é nulo no espaço quociente ker(Ωπ )
.

Lema 1.32. Se
34 Capı́tulo 1. Preliminares
Referências

[1] Viana M., Dynamics of Interval Exchange Transformations and Teichmuller Flows,
Notas de aula, IMPA, (2008).

35
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Instituto de Matemática / Programa de pós-graduação em Matemática

Av. Adhemar de Barros, s/n, Campus Universitário de Ondina, Salvador - BA


CEP: 40170 -110
<http://www.pgmat.ufba.br>

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