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MULTI

DIREITOS VII:
CONTEXTO SOCIAL E INTERFACES COM O DIREITO
FÁBIO S. SANTOS
ISAN ALMEIDA LIMA
NADIALICE FRANCISCHINI DE SOUZA
PEDRO CAMILO DE FIGUEIRÊDO NETO
(ORGANIZAÇÃO)

MULTI
DIREITOS VII:
C O N T E X TO S O C I A L E I N T E R FA C E S C O M O D I R E I TO

AUTORES:
José Rômulo de Magalhães Filho
Alan Rodrigues Sampaio Laiane Moraes dos Santos
Ana Paula de Almeida Lima Leal Larissa Oliveira de Santana
Anderson Ribeiro dos Anjos Larissa Pimenta
Andréa Conceição de Oliveira Lúcio Gomes Dantas
Andrea de Souza Gonçalves Margaridie Lêdy Teles Valois
Angelo Boreggio Marina Sá Corrêa
Audrey Macedo de Carvalho Matheus Martins de Oliveira
Caio Cezar Sales Machado Milton Silva de Vasconcellos
Caroline dos Santos Oliveira Nadialice Francischini de Souza
Catarina Galvão Estrela Paula Lima de Carvalho Silva
Christine Mattos Albiani Paulo César Torres Cortes Filho
Dalzimar Fontes de Andrade Rafael Figueredo Ázaro
Danilo Menezes de Santana Raphaela Ferraz Figueiredo
Diogo Gabriel Fernandes Ricardo Maurício Freire Soares
Edgard Borba Fróes Neto Rodrigo Silveira Almeida
Elaina de Azevedo Vieira Rosana Cabeceira Lago
Fábio S. Santos Rubens Sérgio S. Vaz Junior
Fabíola Morais de Figueiredo Grimaldi Sabrine Silva Kauss
Fagner Vasconcelos Fraga Sheila Marta Carregosa Rocha
Francis Augusto Queiroz Lima Tássia Louise de Moraes Oliveira
Gerci Ferreira de Oliveira Thaíse Andrade Guerra
Heber Stevs Câncio Lima Thalita Matos da Silva
Hivana Kelly Costa dos Santos Thayana de Moura Macêdo Lima de Aráujo
Jamile Souza Calheiros dos Santos Thiago Awad Prudente
Jamily Duarte da Silva Thiago Souza de Morais
João Diogenes Ferreira dos Santos Viviane Cardoso Lacerda Pacheco
João Francisco Liberato de Mattos Wanderley Silva Sampaio Júnior
Carvalho Filho Zulene Barbosa Gomes
Coordenação Editorial
Pedro Camilo de Figueirêdo Neto

Conselho Editorial
DOUTORES: MESTRES:
Claudia de Faria Barbosa Bruno Barbosa Heim
Ionã Carqueijo Scarante Clever Jatobá
Jessica Hind Ribeiro Costa Daniela Magalhães Costa de Jesus
João Evangelista do Nascimento Neto Fábio S. Santos
José Gileá Geraldo Calasans Silva Júnior
José Rômulo de Magalhães Filho Isan Almeida Lima
Luciano Sérgio Ventim Bomfim Kátia Maria Mendes da Silva
Maria João Guia (Portugal) Marcelo Politano de Freitas
Nadialice Francischini de Souza Milton Silva de Vasconcellos
Régia Mabel Freitas Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
Ricardo Maurício Freire Soares Rodrigo Luduvice da Silva
Sheila Marta Carregosa Rocha Sueli Bonfim Lago
Urbano Félix Pugliese do Bomfim Tássia Louise de Moraes Oliveira
Thacio Fortunato Moreira
Programação Visual de Capa Diagramação
Fernando Campos Alfredo Barreto
Revisão
Adriano Mota Ferreira, Esdras Jôntam & Joana Cunha

A reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer modo, somente será permitida
com autorização da editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998)

CIP – Brasil. Catalogação na fonte

N469d Figueirêdo Neto, Pedro Camilo de, - 1981-


Multidireitos VII: contexto social e interfaces com o Direito / organiza-
ção Fábio S. Santos, Isan Almeida Lima, Nadialice Francischini de Souza e
Pedro Camilo de Figueirêdo Neto – Salvador, BA: Editora Mente Aberta,
19 de outubro de 2020.

410 p.
ISBN: 978-65-86483-29-1

1. Direito. 2. Contexto social. 3. Justiça. I Figueirêdo Neto, Pedro Camilo


de. II. Lima, Isan Almeida. III Santos, Fábio S. IV. Souza, Nadialice Francis-
chini de. V. Título.
CDD 340

Impresso no Brasil
PREFÁCIO

Adentra-se, no contexto das letras jurídicas, o livro Multidireitos VII, da


Editora Mente Aberta. Já consolidada na agenda da pesquisa jurídica brasileira,
a coletânea em epígrafe apresenta resultados de estudos e investigações de pes-
quisadores preocupados com o contexto social contemporâneo e as respectivas
interfaces com o Direito. A obra reflete um dos grandes desafios globais para
o Direito: correlacionar o contexto social e as interfaces com a ciência jurídica
hodierna, visando a compatibilização do Direito e do desenvolvimento.
Ainda que a Constituição da República Federativa do Brasil delineie uma
compilação de direitos e garantias fundamentais que traduzem, em uma escala
transcendental, a liberdade e a igualdade, declamando os valores sociais e, aci-
ma de tudo, humanos que são projetados gradativamente na evolução humana,
tendo por base o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, ain-
da se faz necessária mais efetividade e acesso à justiça. Eis o grande desafio: a
emergência na concretude dos direitos sociais.
Presume-se, então, que a real efetivação dos direitos e garantias funda-
mentais seja a peça necessária para que aconteça a proteção dos indivíduos e
também do direito ao mínimo existencial que, para grande parte da população
brasileira, enaltece a qualidade de vida como sobrevivência humana, incumbin-
do aos governantes o papel de garantir, de forma homogênea, através de seus
preceitos legais, a proteção desses direitos fundamentais. Essa questão por si só
traz várias inquietudes quanto à plenitude e concretização desses direitos, pela
distância das promessas trazidas pela Carta Constitucional e a realidade vivida
em todos os cantos do país, que comprovam a necessidade da efetivação dos
direitos e garantias fundamentais.
Nessa perspectiva, a organização dos capítulos perpassa por uma divisão
de dez seções que refletem uma preocupação com temas clássicos e também atu-
ais, até mesmo no contexto pandêmico, que ressignificou novos conceitos, com-
portamentos e atitudes sociais, contexto social este que impulsionou um novo
cenário de interfaces jurídicas em construção. Afinal, como preleciona Larry
Laudan, filósofo estadunidense, a ciência deve buscar a solução de problemas.

5
Assim, apresentamos a presente obra como leitura obrigatória e bastante
necessária para a atualização da ciência jurídica, principalmente para os estu-
diosos do Direito Constitucional, Direito Ambiental, Direitos de Minorias e
Grupos Vulneráveis, Direito do Consumidor, Direito Administrativo, Direito
Tributário, Direito Penal e Criminologia, Direito Processual, Direito Empre-
sarial e Compliance. Tem-se, como premissa básica, a comprovação de que o de-
senvolvimento social é o desenvolvimento humano, correspondente a uma vida
em que estejam presentes o gozo e a efetivação de seus direitos fundamentais,
que estão elencados na Constituição e que compõem as premissas dos princípios
constitucionais, diante dos novos contextos sociais e interfaces com o Direito.

Fábio S. Santos
Isan Almeida Lima
Nadialice Francischini de Souza
Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
(Organização)
SUMÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

1 Democracia e Constituição: perspectivas e desafios, 15


José Rômulo de Magalhães Filho

2 A representatividade feminina na Câmara dos Deputados do Brasil, 26


Larissa Oliveira de Santana
Paula Lima de Carvalho Silva
Hivana Kelly Costa dos Santos

3 Violação da privacidade e da intimidade x proteção do Estado, 40


Diogo Gabriel Fernandes
Larissa Pimenta

DIREITO AMBIENTAL

4 Mínimo existencial ambiental: o inerente liame entre os direitos


fundamentais e o saneamento básico, 40
Rubens Sérgio S. Vaz Junior
Thalita Matos da Silva

5 A privação da qualidade do licenciamento ambiental pela legitimidade


da licença por adesão e compromisso – LAC, 65
Thiago Awad Prudente
Audrey Macedo de Carvalho

7
8 | Diversos Autores

DIREITOS DE MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS

6 Efetividade de direitos para pessoas com deficiência: em busca do modelo


da inclusão plena, 79
Milton Silva de Vasconcellos
Rosana Cabeceira Lago
Matheus Martins de Oliveira

7 Os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente: principais desafios


a serem superados, 93
Raphaela Ferraz Figueiredo
João Diogenes Ferreira dos Santos

8 Mobilidade urbana das pessoas idosas: repensando o planejamento


territorial, 105
Anderson Ribeiro dos Anjos
Gerci Ferreira de Oliveira
Sheila Marta Carregosa Rocha

DIREITO DO CONSUMIDOR

9 A principiologia de proteção do consumidor no sistema jurídico brasileiro, 127


Ricardo Maurício Freire Soares
Sabrine Silva Kauss

10 O e-commerce como uma realidade iminente: aspectos legais e


operacionais, 139
Margaridie Lêdy Teles Valois

DIREITO ADMINISTRATIVO

11 Suspensão da Lei de Licitações e Contratos Administrativos em virtude


da pandemia causada pela Covid-19 e seus impactos no sistema jurídico
brasileiro, 149
Fabíola Morais de Figueiredo Grimaldi
Jamile Souza Calheiros dos Santos
Viviane Cardoso Lacerda Pacheco
Multidireitos VII | 9

12 A importância do concurso público para o cargo de controlador interno


municipal como garantia da eficiência na Administração Pública, 159
Fábio S. Santos
Heber Stevs Câncio Lima
Caio Cezar Sales Machado

13 Servidores públicos aposentados: direito adquirido ao exercício da


função e rompimento do vínculo com a Administração Pública após a
reforma previdenciária, 174
Thaíse Andrade Guerra

DIREITO TRIBUTÁRIO

14 A análise da inconstitucionalidade da cobrança do DIFAL para os op-


tantes do Simples Nacional, 189
Fagner Vasconcelos Fraga
Jamily Duarte da Silva

15 Reflexões tributárias sobre a transação federal instituída pela Lei do


Contribuinte Legal, 201
Dalzimar Fontes de Andrade

DIREITO PENAL E CRIMINOLOGIA

16 A expansão do Direito Penal e a Lei de Organização Criminosa: o com-


bate a um novo inimigo à luz da violação da teoria do bem jurídico, 217
Rafael Figueredo Ázaro

17 Confessar o crime compensa? Um debate sobre o emaranhado


interpretativo da redução da pena na 2ª fase da dosimetria, 231
Paulo César Torres Cortes Filho

18 Louco amor: uma análise acerca do homicídio passional à luz da


literatura machadiana, 245
Caroline dos Santos Oliveira
Lúcio Gomes Dantas
10 | Diversos Autores

19 Criminologia cultural e danças urbanas na cidade de Salvador-BA, 258


Marina Sá Corrêa

DIREITO PROCESSUAL

20 Noções gerais sobre a teoria geral das provas no sistema processual civil, 271
João Francisco Liberato de Mattos Carvalho Filho

21 A atuação do Superior Tribunal de Justiça na validação de sentença


arbitral estrangeira, 284
Laiane Moraes dos Santos
Ana Paula de Almeida Lima Leal

22 Audiências de conciliação não presenciais: a inconstitucionalidade do no-


vel artigo 23 da Lei n. 9.099/1995 introduzido pela Lei n. 13.994/2020, 298
Tássia Louise de Moraes Oliveira
Thiago Souza de Morais

23 Uma análise acerca da (in)aplicabilidade do procedimento de parcela-


mento dos créditos fixados em sede de execução, nos termos do artigo 916
do NCPC ao processo do trabalho, 311
Alan Rodrigues Sampaio

24 A mediação de conflitos como acesso à justiça no ordenamento jurídico


brasileiro, 324
Andréa Conceição de Oliveira
Rodrigo Silveira Almeida

25 Efetividade das decisões arbitrais à luz do dever de cooperação


Danilo Menezes de Santana
Edgard Borba Fróes Neto

DIREITO EMPRESARIAL

26 A pandemia do Covid-19 e os contratos de locação em shopping centers:


estudo sob a ótica da análise econômica do direito, 351
Nadialice Francischini de Souza
Francis Augusto Queiroz Lima
Multidireitos VII | 11

27 O momento da tomada de decisões para empresas em crise sob a ótica


da teoria dos jogos, 360
Angelo Boreggio
Elaina de Azevedo Vieira
Wanderley Silva Sampaio Júnior

28 Repercussão social da inteligência artificial: aplicabilidade da deep


pocket no ordenamento jurídico brasileiro, 370
Catarina Galvão Estrela
Christine Mattos Albiani

COMPLIANCE

29 Compliance como elemento estratégico de mitigação de riscos de


integridade pública no pós-pandemia, 383
Zulene Barbosa Gomes

30 Fake news: diálogos jurídicos e impactos no programa de compliance, 401


Andrea de Souza Gonçalves
Thayana de Moura Macêdo Lima de Aráujo
23
UMA ANÁLISE ACERCA DA (IN)
APLICABILIDADE DO PROCEDIMENTO
DE PARCELAMENTO DOS CRÉDITOS
FIXADOS EM SEDE DE EXECUÇÃO, NOS
TERMOS DO ARTIGO 916 DO NCPC AO
PROCESSO DO TRABALHO
Alan Rodrigues Sampaio79

Com o advento do Novo Código de Processo Civil – NCPC, Lei nº 13.105,


de 16 de março de 2015, é imprescindível realizar um estudo acerca da sua apli-
cação subsidiária e supletiva no Processo do Trabalho, fazendo-se necessário
examinar os institutos processuais com o fito de averiguar a extensão e reper-
cussão do NCPC, sendo este um desafio para todos os operadores do Direito.
Assim sendo, o presente artigo tem como objeto de estudo a aplicabilidade
subsidiária do NCPC, considerando a hipótese prevista no artigo 769 da Con-
solidação das Leis do Trabalho – CLT, e supletiva, em decorrência do quanto
prescrito pelo artigo 15 do NCPC, dispositivos que serão abordados de forma
mais específica no bojo deste trabalho, bem como analisar a ponderação de prin-
cípios aplicados ao objeto de estudo.
Deste modo, o objetivo geral consiste em averiguar como ocorre o proces-
so de integração da norma processual trabalhista por meio do NCPC, especi-
ficamente no que tange à (in)aplicabilidade do artigo 916 NCPC, por conta da
existência de lacunas no sistema processual contido na CLT. Sendo os objetivos
específicos: distinguir o conceito de aplicação subsidiária e supletiva; averiguar
a existência de divergência jurisprudencial; analisar os princípios que versam
sobre execução no Processo do Trabalho à luz do fenômeno da constitucionali-
zação do Direito Processual.

79 Professor de Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Estágio em Prática Traba-


lhista da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Professor do Curso de Pós-Graduação
em Direito do Trabalho e Processo em Instituições de Ensino Superior no Estado da Bahia.
Membro da Associação dos Advogados Trabalhistas da Bahia – ABAT. Advogado.
311
312 | Alan Rodrigues Sampaio

Pelos motivos acima expostos, é indubitável que o tema em comento tem


suma importância para práxis forense de todos os operadores do Direito, devido
ao ingresso do NCPC no ordenamento jurídico brasileiro; notadamente para
os que militam na área trabalhista, sobretudo em decorrência da necessidade
de estudar a (in)aplicabilidade subsidiária e supletiva do NCPC ao Processo do
Trabalho, à luz do artigo 15 do NCPC.
Sendo assim, para que se busque a solução da problemática, far-se-á, no
decorrer deste trabalho, uma análise crítica do tema em questão, com a utiliza-
ção do método dedutivo, a partir das teorias e leis que esclarecem os fenômenos
jurídicos acerca do tema proposto.
A técnica de pesquisa adotada será a revisão da literatura jurídica, visando
a investigar referências relativas à aplicação subsidiária e supletiva do NCPC
como instrumento de integração das lacunas de natureza processual, assim
como a ponderação de princípios que versam sobre o objeto de estudo.

1 AS LACUNAS NORMATIVAS NO PROCESSO DO TRABALHO E O


PROCEDIMENTO DE INTEGRAÇÃO MEDIANTE A APLICAÇÃO
SUBSIDIÁRIA E SUPLETIVA DO NOVO CPC

No ordenamento jurídico brasileiro existem lacunas normativas, em razão


de ser impossível regulamentar todos os fatos jurídicos no sentido lato sensu. No
âmbito do direito processual também não é diferente. Assim, sendo a CLT nor-
ma de natureza mista, por regulamentar norma de direito material e de direito
processual, não se afasta desta realidade.
No entanto, cada ordenamento jurídico possui os seus mecanismos de in-
tegração, que perpassam, necessariamente, por um processo de interpretação
que visa a identificar a lacuna, e, por conseguinte, indicar qual o método a ser
utilizado para suprir o vazio normativo.
Nesse diapasão, o doutrinador Miguel Reale assevera que:

[...] interpretação, integração e aplicação são conceitos correlatos, pois a


aplicação do Direito requer a interpretação e a integração da norma jurídica,
a qual figura como um processo de preenchimento de vazios do sistema jurí-
dico, a fim de que o jurista possa dar sempre uma resposta jurídica aos proble-
mas oriundos da coexistência humana em sociedade. (REALE, 1996, p. 291).

Para o processualista jus laboral Carlos Henrique Bezerra Leite, a integra-


ção “[...] é o fenômeno que mantém a plenitude da ordem jurídica, ainda que
inexistente norma jurídica específica a ser utilizada diante de determinado caso
concreto a ser decidido” (LEITE, 2016, p. 123).
Neste sentido, a questão dos modos de integração, para Tércio Sampaio
Ferraz Júnior (2003, p. 299), diz “respeito aos instrumentos técnicos à dispo-
sição do intérprete para efetuar o preenchimento ou a colmatação da lacuna”.
Multidireitos VII | 313

Ainda para o mesmo autor, “tais instrumentos têm a dupla utilidade, pois não
só servem para o preenchimento, como também para a constatação da lacuna”
(FERRAZ JÚNIOR, 2003, p. 299).
Assim sendo, para sanar as lacunas normativas, há no sistema jurídico pá-
trio mecanismos de integração jurídica, consoante o artigo 4º da Lei de Intro-
dução às Normas de Direito Brasileiro, o qual prescreve que: “Quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os prin-
cípios gerais de direito” (BRASIL, 1942, p. 1). No âmbito processual, o tema foi
tratado no artigo 140 do NCPC, estando prescrito que: “O juiz não se exime
de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”
(BRASIL, 2015, p. 22).
Nesta senda, não poderá o juiz se eximir de julgar, alegando existência de
lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico, tendo em vista os mecanismos
de identificação e preenchimento de lacunas. Sendo assim, vedado o non liquet,
o juiz não pode deixar de julgar a causa que lhe foi submetida em respeito ao
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional nos termos do artigo 5º,
inciso XXXV, da Constituição Federal.
Deste modo, é necessário ressaltar que a CLT, sendo uma norma de nature-
za mista, contempla tanto normas de direito material quanto normas de direito
processual, havendo previsão expressa para o processo de integração normativa
em decorrência de omissão. No que tange ao direito material, a previsão de inte-
gração está consignada no artigo 8º da CLT, que prescreve, in verbis:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurispru-
dência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de
direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos
e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum inte-
resse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. (BRASIL,
1943, p. 2).

Ademais, o dispositivo normativo supracitado, em seu parágrafo primeiro,


prescreve que: “O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho”
(BRASIL, 1943, p. 2).
É importante frisar ainda que, no caso de omissão na esfera processual, na
fase de conhecimento, a hipótese de integração está consignada no artigo 769 da
CLT: “Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do
direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as
normas deste Título” (BRASIL, 1943, p. 160); já na fase de execução, a previsão
de integração está contida no artigo 889 da CLT:

Art. 889 - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis,


naquilo em que não contrariarem ao presente Título, os preceitos que regem
314 | Alan Rodrigues Sampaio

o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da


Fazenda Pública Federal. (BRASIL, 1943, p. 177).

Assim sendo, a Lei de Execução Fiscal nº 6.830/80 será utilizada de forma


subsidiária, e, se ainda persistir a omissão, será utilizado subsidiariamente o
Código de Processo Civil.
Nesse sentido, faz-se necessário estudar o conceito de subsidiariedade, que,
nas palavras de Mauro Schiavi “[...] significa a possibilidade de as normas do
Direito Processual comum serem aplicadas ao Processo do Trabalho, como
forma de suprir as lacunas do sistema processual trabalhista [...]” (SCHIAVI,
2015. p. 56).
Compete aqui destacar que a forma de aplicação subsidiária consiste em
verificar, inicialmente, a existência de omissão no Processo do Trabalho e, pos-
teriormente, se há a compatibilidade da norma com o sistema processual jus
laboral, conforme comando prescrito no artigo 769 da CLT.
Assim, pode-se citar, a título de exemplo de aplicação subsidiária em decor-
rência da ausência de previsão na CLT e de sua compatibilidade, os seguintes
institutos: a ação rescisória, a ação de consignação em pagamento, e a ação de
prestação de contas, como também artigos específicos, a exemplo do art. 835 do
NCPC, que versa sobre a ordem preferencial da penhora.
É imprescindível salientar que a aplicação subsidiária não pode se dá apenas
no âmbito da omissão normativa, sendo importante verificar a perspectiva do
professor Bruno Klippel sobre a interpretação do artigo 769 da CLT:

[...] não deve ser puramente normativa, ou seja, não se deve buscar a exis-
tência ou não de lacunas normativas, mas, sobretudo de lacuna ontológica e
axiológica, sob pena da interpretação torna-se um grande entrave ao Proces-
so do Trabalho, que envelhecerá em a possibilidade de serem aplicadas novas
e melhores normas processuais. (KLIPPEL, 2015, p. 410).

Para compreender a aplicação do dispositivo acima indicado de forma mais


efetiva, faz-se necessário conhecer como estão classificadas as lacunas, que no
conceber de Maria Helena Diniz dividem-se em: a) normativas, quando a lei não
prevê a regulamentação para o caso concreto; b) ontológicas, quando a norma
está dissonante com os fatos sociais, estando assim, desatualizada; c) axiológi-
cas, quando as normas processuais conduzem a uma resolução injusta do litígio,
ou seja, incompatível com os valores de justiça e equidade (DINIZ, 1999, p. 57).
Nesse contexto, a aplicação do artigo 769 da CLT, como instrumento de
integração da norma processual, deve suprir não só a lacuna normativa, mas
também as lacunas ontológicas e axiológicas, objetivando a atualização da nor-
ma, bem como o julgamento com equidade.
Sob essa ótica, existem duas perspectivas de interpretação acerca do alcan-
ce do artigo 769 da CLT, sendo estas: a) restritiva, segundo a qual somente é
Multidireitos VII | 315

permitida a aplicação subsidiária do CPC ou da Lei de Execução Fiscal, nas res-


pectivas hipóteses já mencionadas, quando inexistir norma que regulamente,
ou seja, apenas quando ocorrer a lacuna normativa; e b) ampliativa, que admite
a aplicação subsidiária não só na ocorrência de lacuna normativa, mas também
nas hipóteses de lacunas ontológicas e axiológicas.
Nesses termos, superada a conceituação e aplicação de forma subsidiária,
passamos a analisar o conceito e aplicação da forma supletiva prevista no artigo
15, o qual dispõe que: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,
trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplica-
das supletiva e subsidiariamente” (BRASIL, 2015, p. 3), tendo em vista que o
referido dispositivo regula, de forma expressa, a aplicação supletiva do NCPC
ao Processo do Trabalho.
Desse modo, pode-se inferir que na aplicação supletiva não há omissão nor-
mativa, posto que o Processo do Trabalho prevê, em regra, o tema, contudo, no
caso concreto, faz-se necessária a aplicação do processo comum com o fito de
complementar a norma já existente aperfeiçoando e propiciando maior efetivi-
dade e justiça ao Processo do Trabalho.
Ademais, com o advento do artigo 15 do NCPC e a expressa previsão da
aplicação supletiva e subsidiária do NCPC, surge uma indagação: o artigo 15 do
NCPC revogou o artigo 769 da CLT? A recente arguição traz divergência por
parte de doutrinadores.
O doutrinador Edilton Meireles sustenta que “é preciso deixar claro que o
art. 15 do NCPC não é uma regra de processo civil”, alegando ainda que, “em
verdade, é regra de direito processual do trabalho, de processual judicial eleito-
ral e de processo administrativo” (MEIRELES, 2015. p. 44).
Outrossim, o autor supramencionado defende que a regra posterior revo-
ga a anterior, citando para tanto o teor do § 1º do art. 2º da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro, qual seja: “quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de
que tratava a lei anterior” (BRASIL, 1942, p. 1). Nessa senda, como o texto do
artigo 15 do NCPC trata expressamente da matéria, regulando-a, porquanto
utilizando a expressão supletiva e subsidiária, em consequência disso teria re-
vogado o artigo 769 da CLT, após o vacatio legis do NCPC.
Por outro lado, leciona o doutrinador Mauro Schiavi que o artigo 15 do
NCPC “não revogou a CLT, uma vez que os artigos 769 e 889, da CLT são nor-
mas especiais do Processo do Trabalho, e o CPC apenas norma geral. Pelo prin-
cípio da especialidade, as normas gerais não derrogam as especiais” (SCHIAVI,
2015, p. 56).
Na mesma esteira de pensamento de Mauro Schiavi, filiamo-nos no sentido
de entender pela não revogação do artigo 769 da CLT pelo artigo 15 do NCPC,
em atenção ao princípio da especialidade. Vale aduzir ainda que o referido artigo
769 da CLT, como dito por Carlos Henrique Bezerra Leite, “possui natureza de
316 | Alan Rodrigues Sampaio

fontes e explicitação ou integração” (LEITE, 2016, p. 64), assim sendo, tem por
objetivo possibilitar o processo de integração.
Destarte, através do processo hermenêutico de interpretação, uma vez ob-
servada a existência da lacuna normativa, aplica-se o NCPC de forma subsidiá-
ria; como também havendo lacuna ontológica e axiológica, deverá ser utilizado
o CPC de forma supletiva ou ainda, de forma subsidiária, considerando-se um
interpretação ampliativa, como mecanismo de integração, objetivando o respei-
to ao princípio da dignidade da pessoa humana, do acesso à justiça e da razoável
duração do processo, desde que observada a compatibilidade com a principiolo-
gia do Direito Processual do Trabalho, sob pena da sua não aplicação.

2 DA (IN)APLICABILIDADE DO PROCEDIMENTO DE PARCELAMENTO


DO CRÉDITO FIXADO EM SEDE DE EXECUÇÃO, NOS TERMOS DO
ARTIGO 916 DO NCPC, AO PROCESSO DO TRABALHO

Após a análise sobre as lacunas no Processo do Trabalho e o procedimento


de integração mediante a aplicação subsidiária e supletiva do NCPC, passa-
remos a examinar o objetivo geral, especificamente no que tange à (in)aplica-
bilidade do artigo 916 do NCPC, o qual versa sobre o parcelamento do valor
devido ao exequente em sede de execução. Vide o citado dispositivo.

Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e


comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido
de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe
seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de um por cento ao mês.

§ 1º O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento


dos pressupostos do caput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias.

§ 2º Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar


as parcelas vincendas, facultado ao exequente seu levantamento.

§ 3º Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e serão


suspensos os atos executivos.

§ 4º Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o


depósito, que será convertido em penhora.

§ 5º O não pagamento de qualquer das prestações acarretará cumulativamente:

I - o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do proces-


so, com o imediato reinício dos atos executivos.

II - a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das
prestações não pagas.
Multidireitos VII | 317

§ 6º A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao
direito de opor embargos.

§ 7º O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença.


(BRASIL, 2015, p. 137, grifos nossos).

Inicialmente, faz-se necessário apontar as razões das divergências acer-


ca de (in)aplicabilidade do dispositivo normativo em estudo. Para aqueles que
defendem a inaplicabilidade, a fundamentação se lastreia na alegação de ine-
xistência de lacuna normativa. Por tal razão, não se utilizaria do mecanismo
da aplicação subsidiária. Arguem, ainda, a aplicação princípio da primazia do
credor trabalhista no processo de execução trabalhista. Vide jurisprudência no
sentido da inaplicabilidade do artigo 916 do NCPC:

PARCELAMENTO DA EXECUÇÃO. REGRAS DO ART. 916 DO


CPC/2015. INAPLICABILIDADE. EXISTÊNCIA DE NORMAS ESPE-
CÍFICAS NA CLT. Uma vez que os artigos 880 e seguintes da CLT discipli-
nam, de forma expressa, os procedimentos da execução do débito trabalhis-
ta, sem previsão de parcelamento da dívida, são inaplicáveis ao Processo do
Trabalho as disposições do art. 916 do NCPC, porquanto o art. 769 da CLT
dispõe que as regras do direito processual comum se aplicam ao Processo
do Trabalho, de forma supletiva, apenas em caso de lacuna na CLT. Agra-
vo de Petição provido. (TRT-13 - AP: 0006300-74.2011.5.13.0011, Data
de Julgamento: 26/06/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: 29/06/2018).
(PARAÍBA, 2018, grifos nossos).

Não obstante o entendimento supramencionado, há jurisprudência no sen-


tido da aplicabilidade do artigo 916 do NCPC no processo de execução traba-
lhista. Vejamos:

PARCELAMENTO DO DÉBITO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 916 DO


NCPC. Aplicável ao Processo do Trabalho o disposto no artigo 916 do
NCPC, relativamente ao parcelamento da dívida, visando maior satisfativi-
dade da tutela e condizendo com princípio constitucional da razoável dura-
ção do processo. Inteligência da Orientação Jurisprudencial nº 43 da SEEx
deste Tribunal. (TRT-4 - AP: 00009538520145040373, Data de Julgamen-
to: 22/11/2016, Seção Especializada Em Execução). (RIO GRANDE DO
SUL, 2016, grifos nossos).

PARCELAMENTO DO DÉBITO. APLICAÇÃO NA EXECUÇÃO TRA-


BALHISTA. O instituto do parcelamento do débito, previsto no art. 916, do
Código de Processo Civil, é aplicável ao Processo do Trabalho, consoante o
disposto na Instrução Normativa n. 39/2016, do Tribunal Superior do Tra-
balho, sobretudo quando a medida possibilita, no caso concreto, uma maior
efetividade da tutela jurisdicional e consista em um meio menos gravoso
à parte executada (art. 805, do Código de Processo Civil). (TRT-11 - AP:
00016152720155110015, Relator: SOLANGE MARIA SANTIAGO MO-
318 | Alan Rodrigues Sampaio

RAIS, Data de Julgamento: 28/05/2019, 1ª Turma, Data de Publicação:


29/05/2019) (MANAUS, 2019, grifos nossos).

No mesmo diapasão da jurisprudência favorável a aplicação do artigo 916


do NCPC ao Processo do Trabalho, consolidou entendimento do Tribunal Su-
perior do Trabalho na Instrução Normativa nº 39 do TST, na qual resta con-
signada ser perfeitamente aplicável:

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016.

Art. 3° - Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face


de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que
regulam os seguintes temas: [...]

XXI - art. 916 e parágrafos (parcelamento do crédito exequendo). (BRASIL,


2016, p. 4, grifos nossos).

Vale chamar a atenção para o fato de que ocorreram críticas à edição da


Instrução Normativa nº 39/2026, o que ensejou o ajuizamento de uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5.516), pela Associação Nacional dos Ma-
gistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), sob a alegação de incompetência
material e formal para a edição da referida instrução normativa. Entretanto,
independentemente da forma como se deu a edição da instrução, esta revela o
entendimento majoritário do Tribunal Superior do Trabalho acerca da aplica-
bilidade do artigo 916 da NCPC.
A doutrina elenca alguns princípios basilares da fase de execução, e no
presente trabalho abordaremos o princípio da menor onerosidade, no qual se
verifica, nas palavras de Francisco Antonio de Oliveira, que:

[...] a execução não é lugar para caprichos. Se de um lado a execução forçará


o devedor renitente a cumprir a obrigação até mesmo lançando mão dos seus
bens com a venda em hasta pública, por outro lado não se fará a execução por
meio mais gravoso se existir meio outro pelo qual o credor se pagará do seu
crédito. A execução não busca sacrificar ninguém, apenas busca fazer que se
cumpra o que é devido. Se existem duas hipóteses que possam satisfazer o
crédito, escolher-se-á a menos gravosa para o devedor. (OLIVEIRA, 2013,
p. 88).

Ademais, no processo de execução, a análise da norma deve ocorrer à luz


do mencionado princípio, o qual, inclusive, possui previsão expressa no artigo
805 do NCPC, aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho. Vide o teor
do citado artigo:

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução,
o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.
Multidireitos VII | 319

Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gra-
vosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena
de manutenção dos atos executivos já determinados. (BRASIL, 2015, p. 119,
grifos nossos).

Como dito, o artigo 916 do NCPC possibilita que o executado, no prazo de


embargos à execução, concorde com o valor da execução e requeira o parcela-
mento do pagamento do quantum debeatur definido na sentença de homologação
de cálculos.
Observe-se que poderia o executado opor embargos à execução, ou, inclu-
sive, outros meios de defesa nessa fase processual; por exemplo, opor a exceção
de pré-executividade, ou ainda embargos aos autos de penhora, o que por si
só gera um incidente em sede de execução. Além disso, após a resolução do
incidente por sentença, em tese, este pode passar a uma fase recursal, na qual
o executado poderá opor embargos de declaração e/ou interpor agravo de pe-
tição, entre outras modalidades de impugnação de decisão judicial. Ou seja, o
processo levaria muito mais tempo para concluir a prestação da tutela executiva
jurisdicional.
Deste modo, a aplicação do artigo 916 do NCPC implica renúncia por parte
do executado das matérias de defesa, nos termos do § 6º, ocorrendo a pacifica-
ção da lide executiva, e, assim sendo, atendendo aos princípios da conciliação,
princípio da efetividade e o princípio da duração razoável do processo.
Mesmo que se alegue ser a verba trabalhista de natureza alimentar, o par-
celamento do valor da execução não traz prejuízo à parte exequente, porquanto,
além da entrada no percentual de 30% (trinta por cento), as demais parcelas
são acrescidas de juros e correção monetária. Assim, não há nenhuma perda
econômica para a parte exequente, que inclusive receberá no final do parcela-
mento um valor maior do que o confessado na ocasião da renúncia em opor os
embargos à execução, tendo em vista a aplicação de juros e correção monetária
que incidirão nas parcelas.
Além disso, caso ocorra inadimplemento, incorre o executado nas penali-
dades consignadas no § 5º, incisos I e II, implicando o “vencimento das presta-
ções subsequentes e o prosseguimento do processo, com o imediato reinício dos
atos executivos” e a “imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o
valor das prestações não pagas” (BRASIL, 2015, p. 137).
Ademais, vale lembrar que a prestação da tutela jurisdicional deve obser-
var o princípio da celeridade, o qual, inclusive, foi consignado de forma expressa
em seu artigo 4º do NCPC, nos seguintes termos: “As partes têm o direito de
obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satis-
fativa” (BRASIL, 2015, p. 1).
Para superar a antiga metodologia do CPC de 1973 e compreender a ótica
do NCPC é necessário abordar a atual metodologia jurídica da ciência do pro-
320 | Alan Rodrigues Sampaio

cesso, sobre a qual versa Fredie Didier Jr.: “a constitucionalização do Direito


Processual é uma das características do Direito contemporâneo” (DIDIER Jr.,
2015, p. 46), alegando ainda a existência de duas dimensões, sendo a primeira:

[...] a incorporação aos textos constitucionais de normas processuais, inclu-


sive como direitos fundamentais. Praticamente todas as constituições ociden-
tais posteriores à Segunda Grande Guerra consagraram expressamente direi-
tos fundamentais processuais. Os tratados internacionais de direitos também
o fazem (Convenção Europeia de Direitos do Homem e o Pacto de São José
da Costa Rica são dos exemplos paradigmáticos). Os principais exemplos são
o direito fundamental ao processo devido e todos os seus corolários (contra-
ditório, juiz natural, proibição de prova ilícita etc.). (DIDIER Jr., 2015, p. 46).

Além desta primeira dimensão, o supramencionado doutrinador aponta a


segunda dimensão, ao afirmar que a “doutrina passa a examinar as normas pro-
cessuais infraconstitucionais como concretizadoras das dimensões constitucio-
nais do repertório teórico desenvolvido pelos constitucionalistas” (DIDIER Jr.,
2015, p. 46).
Deste modo, resta evidente que a constitucionalização do direito proces-
sual foi claramente inserida no NCPC, tendo como pilar a sua adequação com
a Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988, consoante
o seu artigo 1º: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição
da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”
(BRASIL, 2015, p. 1).
Assim, não se pode perder de vista a preocupação com a efetividade do
provimento judicial, seguindo o fenômeno da constitucionalização do processo
assim como aduz Cassio Scarpinella Bueno, ao dizer que a interpretação do “di-
reito é valorativa e que o processo, como método de atuação do Estado, não tem
como deixar de ser, em igual medida, valorativo, até como forma de realizar ade-
quadamente aqueles valores: no processo” (BUENO, 2007, p. 71). Desta forma,
coaduna com a interpretação ampliativa nas hipóteses de lacunas ontológicas e
axiológicas.
Sob o prisma principiológico, entendemos que não se deve prevalecer o
princípio da primazia do credor trabalhista em detrimento do princípio da me-
nor onerosidade, uma vez que este último consiste na possibilidade de, existin-
do dois meios para a efetivação da execução, o executado poder optar pelo que
menos lhe é oneroso.
Segundo Robert Alexy, acerca do meio mais adequado para a ponderação
de princípios, “no sentido de que seria o meio que conseguisse promover o fim
almejado, não infringindo tanto o outro princípio como outros meios poderiam
vir a infringir” (ALEXY, 2001, p. 115). Assim sendo, ocorrendo a incidência de
dois princípios em conflito que versem sobre um determinado objeto jurídico, a
Multidireitos VII | 321

seleção do princípio a ser utilizado no caso concreto deve ser aquele que menos
afeta o outro princípio.
No presente estudo, resta evidente a aplicabilidade do artigo 916 do NCPC
no Processo do Trabalho, por se tratar de meio menos oneroso para parte exe-
cutada, não implicando prejuízos à parte exequente. Deste modo, a mera ale-
gação de inexistência de lacuna normativa não subsiste, podendo o artigo em
comento ser aplicado de forma supletiva, em face da existência de lacuna onto-
lógica e axiológica ou, ainda, de forma subsidiária, considerando-se um inter-
pretação ampliativa como mecanismo de integração.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como finalidade precípua a análise da (in)aplicabili-


dade do artigo 916 Novo Código de Processo Civil (NCPC) no processo traba-
lhista, sob a perspectiva das hipóteses de integração de lacunas na forma subsi-
diária, conforme previsto no artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho,
e supletiva, consoante prescrito no artigo 15 do NCPC, examinando as reper-
cussões do referido diploma processual no âmbito do Processo do Trabalho.
Assim, esta pesquisa demonstrou como ocorre o processo de integração da
norma processual trabalhista por meio do NCPC, constatando, através de um
processo hermenêutico de interpretação que, uma vez observada a existência
da lacuna, seja ela normativa, ontológica ou axiológica, será utilizado o NCPC
de forma subsidiária ou supletiva, desde que compatíveis com os preceitos do
Processo do Trabalho.
Desse modo, nota-se que a ausência de omissão normativa, por si só, não é
suficientes para afastar a aplicabilidade do artigo 916 do NCPC ao Processo do
Trabalho, posto que a sua aplicação pode se dar de forma subsidiária conside-
rando uma interpretação ampliativa do artigo 769 da CLT ou de forma supleti-
va nos termos do artigo 15 do NCPC, o qual contempla a integração de lacunas
ontológica e axiológica. Sendo importante ressaltar ainda que a aplicação do
artigo 916 do NCPC contribui para a finalidade da prestação da tutela execu-
tiva, pacificando-a em decorrência da desistência do executado em apresentar
defesa na modalidade de embargos à execução, contemplando ainda o princípio
da menor onerosidade e o princípio da conciliação, propiciando maior efetivida-
de e justiça ao Processo do Trabalho.
Ademais, a utilização do citado diploma normativo no Processo do Tra-
balho contempla também o fenômeno da constitucionalização do processo, na
medida em que considera a aplicação dos princípios da dignidade da pessoa
humana, do acesso à justiça, da duração razoável do processo, da celeridade, e
da efetividade.
Destarte, esclarecendo que o presente trabalho tem o fito de contribuir
para a análise do tema proposto, mas não pretende exaurir a matéria objeto
322 | Alan Rodrigues Sampaio

de discussão, haja vista tratar-se de tema recente, o qual atingirá maturidade


jurisprudencial através dos debates teóricos e empíricos, fruto de um processo
dialético acerca das inovações trazidas pelo NCPC e pelas outras normas inte-
grantes do ordenamento jurídico brasileiro.

REFERÊNCIAS

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