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A AGONIA DOS BONDES

Os primeiros anos de administração da Prefeitura foram bastante difíceis.


Em 1956 a Carris passa por grandes problemas financeiros. A abertura do
monopólio do serviço de ônibus em 1940 - com a entrada de novas
empresas que se dedicavam a exploração do transporte coletivo -, a falta
de interesse de americanos e ingleses na fabricação de veículos com
tração elétrica, a injeção de capital estrangeiro para a montagem de
fábricas de automóveis, caminhões e ônibus e o congelamento das
passagens - entre 1947 a 1956 - fazem a Carris mergulhar em profunda
crise. Os bondes passam a ser enxergados como veículos lentos, velhos e
barulhentos.
Além destes problemas, os trilhos impediam que as ruas fossem
pavimentadas com cimento ou asfalto e os paralelepípedos causavam
danos nas suspensões e molas dos modernos carros. Assim, tipo de
calçamento era visto como um problema para o desenvolvimento urbano
da cidade.
No final dos anos 50 a Carris compra dez troleibus - ônibus
tracionados com motor elétrico - destes apenas cinco entrariam em
funcionamento em 1964 nas linhas Gasômetro e Menino Deus. O serviço
do troleibus surpreendentemente fracassa, seja pela insuficiência de força
da rede elétrica, que muitas vezes causava a parada do veículo, ou pela
campanha deflagrada pelo sindicato e sociedade civil - principalmente a
imprensa - que via o transporte de tração elétrica como ineficiente e um
atraso para a cidade, pois os bondes e seus trilhos era um empecilho na
colocação do asfalto na cidade.
Contudo, o fracasso do novo serviço deu uma sobrevida ao transporte
elétrico. Os bondes mais uma vez deram conta do recado. Apesar de
vistos como um atraso para cidade andavam completamente lotados,
tanto que em 1965 a Carris possuía 134 bondes - 85 em funcionamento
pois os demais em aguardavam peças de reposição para reparos - e dez
troleibus - quatro em funcionamento, os demais continuaram
encaixotados aguardando a adaptação das linhas elétricas. Neste ano 47%
dos passageiros da capital dependiam do serviço. A última viagem do
troleibus ocorreu em 1969, quando os veículos foram vendidos para a
Prefeitura da cidade de Araraquara.
Haviam outros problemas estruturais e operacionais que
determinariam o fim do bonde. A concorrência com as empresas de ônibus
particulares e a limitação do fornecimento de energia que causava
interrupções das viagens fez com que a população abandonasse os carros
elétricos em detrimento dos veículos com motor a explosão.
Durante o mês de setembro de 1966 a Carris amplia seu serviço de
ônibus e decide abandonar definitivamente o serviço de bondes. São
comprados 30 veículos modernos com motor a óleo diesel e nesse mesmo
ano os Gaiolas da linha Duque são substituídos.
Ainda em 1969 mais 90 carros a diesel são adquiridos pela Carris e
os carros elétricos das linhas Assis Brasil, Petrópolis, Gasômetro - Escola
e o troleibus do Menino Deus são substituídos pelos novos ônibus. É o
golpe final no serviço de tração elétrica. Continuaram funcionando na
cidade 45 bondes atendendo as linhas Partenon, Glória, Teresópolis e
Menino Deus.
O bonde circula pela última vez em Porto Alegre, depois de 98 anos
de serviços prestados à comunidade, em 8 de março de 1970. O dia foi
um misto de luto, saudosismo e euforia. Trajando suas melhores roupas
pais, filhos, curiosos, ricos, pobres e pessoas das cidades vizinhas se
acotovelavam na frente da sede da Carris na Av. João Pessoa e nas
paradas esperando a última viagem do bonde. Houve solenidade de
despedida, onde compareceram o Prefeito, o secretariado, autoridades
civis, militares e eclesiásticas. O Sindicato dos Metroviários asteou as
bandeiras do pavilhão a meio-pau, em sinal de luto. Circularam pela
cidade neste triste dia as linhas G (Gasômetro),T (Teresópolis) e P
(Partenon). Toda a população pôde usufruir do serviço dos elétricos
gratuitamente. As 20h30min o último elétrico foi recolhido ao depósito de
bondes. Alguns motorneiros e tripulação choravam solitários na frente da
sede da Carris.

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