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Resumo
Abstract
This paper analyzes the Ethics of Jesus in Gospel of Matthew and inthe Two Ways
tradition from Didache and compares it to the values and to the behavior of christian
brazilian society, revealing the contrast between the teaching of Jesus and christian
praxis.
1. Introdução
1
Palestra a ser proferida na Noite Teológica de 11 de julho de 2019 na Paróquia São Simão, em
Simonésia, MG.
2
Bacharel e licenciado em Filosofia, especialista em Docência do Ensino Básico, em Docênciado Ensino
Superior e mestre em Ciências das Religiões. Professor de Teoria do Conhecimento no Seminário
Diocesano Nossa Senhora do Rosário, Caratinga, MG. E-mail: joaristides@gmail.com.
uma locução prepositiva. Ela encerra uma ideia de contraste, de oposição. Com isso
queremos falar de um tipo de fé que pode ser expressa nestes termos “apesar de Cristo
ensinar isso, eu faço aquilo”. Além de ser um modo de viver a fé cristã em nível
comportamental, muitas vezes alguns crentes procuram até fazer alguns ajustes
interpretativos para conformar Cristo às suas ideias. Há em vigor um cristianismo
adaptativo.
Embora, a proposta deste artigo pareça um pouco acusativa ou moralizante, mas
o nosso objetivo é confrontar criticamente o panorama dos valores da sociedade cristã
no Brasil e a ética de Jesus que pode depreendida dos Evangelhos. Partindo da
identificação de uma sociedade cristã no país, queremos verificar se ela corresponde aos
valores defendidos por Jesus nos evangelhos.
3
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Disponível em:
https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/pdf/Pag_203_Religi%C3%A3o_Evang_miss%C3%A3o_Evang_
pentecostal_Evang_nao%20determinada_Diversidade%20cultural.pdf. Acesso em 24 jun. 2019.
4
CICHOSKI; RUIVO, 2017, p. 508-539.
5
HARTNELL, Caroline; MILNER, Andrew.Andrew Filantropia no Brasil: Síntese do Relatório Filantropia para
a Justiça Social e Paz, 2018, p.. 7.
6
OXFAM. Nós e as Desigualdades.
Desigualdades Brasil: Oxfam Brasil, 2019, p. 12.
7
POWELL, Mark Allan. God with us: a Pastoral Theology of Matthew’s Gospel. Minneapolis:
Fortress,1995, p. 116.
O texto de Mateus 25, 31-46 apresenta um critério de salvação e ele todo está
condicionado às relações interpessoais. Há algumas categorias de pessoas que estão no
foco da atenção de Jesus e são eles: a) os famintos e os sedentos; b) o forasteiro; c) o nu;
d) o doente; e) o preso (Mt 25, 35-36). Só terão direito à herança do Reino aqueles que
acolheram estas pessoas. Jesus se dá como a garantia de acolhida dos mais necessitados:
“todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o
deixastes de fazer” (Mt 25,45).
Jesus está preocupado com o cumprimento da justiça. Ela acontece em duas
direções: a) o cumprimento das práticas rituais; b) o cumprimento da caridade com os
mais pequeninos (nepíoi). Porém, em ambos os casos Jesus quer que seus discípulos
superem a “justiça dos fariseus”. É um tipo de justiça que não se prende à mera
obrigação, ela é sustentada pela vontade, pelo envolvimento do interior humano. A ética
de Jesus envolve o sentido pleno do ato. A nossa prática não pode visar outro interesse
senão aquele que é atingir o bem nas nossas ações. Se não envolvemos a nossa
interioridade no ato, estamos alienando a ação ética.
8
COUTO, Vinicius M. B. N. A Ética de Jesus: uma ética dialógica. INTEGRATIO, v. 2, n. 1, jan. - jun.
2016, p. 5-13.
9
COUTO, 2016, p. 5-13.
motivação vem da interioridade. Não se deve agir com uma motivação secundária, com
o intuito de uma compensação como o elogio, a recompensa ou a reciprocidade.
A ética da gratuidade exclui o dever da reciprocidade. Jesus a resume do
seguinte modo: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o
vós a eles” (Mt 7, 12). Esta máxima vem a significar que não agimos segundo aquilo
que as pessoas nos fazem, mas segundo tudo aquilo que a gente gostaria que elas nos
fizessem. Mas somos nós que fazemos primeiro sem nenhuma garantia de que o outro
fará. Não esperamos ser cumprimentados para cumprimentar os outros, não esperamos
que os outros nos amem para amá-los (Mt 5, 46-47). Amar o inimigo é a exemplificação
máxima deste princípio ético.
A ética da gratuidade exclui a expectativa da recompensa. Se alguém
nos tomam a túnica, nós damos também o manto. Se nos obrigam a caminhar com eles
uma milha, caminhamos duas (Mt 5, 40-41). Não buscamos recompensa nos
empréstimos e o que faz a nossa mão direita não precisa a esquerda saber (Mt 6, 3).
Evidentemente, que Jesus fala da recompensa de Deus. Não é uma recompensa
imediata, terrena.
A ética da gratuidade exclui o mal pela causa. A interioridade humana é um
centro de decisões. E boas decisões somente ocorrem se houver domínio das emoções.
A partir das emoções que causam os homicídios, adultérios e falsos testemunhos. A ira
causa o assassinato, o desejo libidinoso gera o adultério. É emblemática a frase de
Jesus: “não resistais ao mau” (Mt 5, 38). O mal se vence atacando em suas raízes, não
deixando que ele multiplique e nos ganhe. Assim o controle das emoções é o princípio
das boas escolhas.
A ética de Jesus prevê uma profunda mudança nas relações interpessoais. O
próximo é o alvo da ação moral. Esta relação é motivada pelo amor gratuito. É um amor
que inclui o inimigo. O amor ao próximo contém também algumas obrigações. As
principais são aquelas elencadas em Mateus 25. As obras de justiça de Mt 6 têm um
objetivo ritual. São elas a esmola, o jejum e a oração. São obrigações que o discípulo
possui para com Deus, com o próximo e consigo. As obras de misericórdia envolvem
exclusivamente o dever com o próximo (a) os famintos e os sedentos; b) o forasteiro; c)
o nu; d) o doente; e) o preso (Mt 25, 35-36).
Poderíamos distinguir estas duas dimensões da ética de Jesus dentro da aplicação
do conceito de justiça. As obras de justiça de Mt 6 são a dimensão da justiça divina e as
obras de misericórdia de Mt 25 são a dimensão da justiça humana, portanto, justiça
social. Não tem como refletir sobre a ética de Jesus como se fosse uma caridade
privada, facultativa. É uma ética que resulta na justiça social. Do ponto de vista da
justiça divina, Jesus tem um grande embate com os fariseus e com o Templo. Eram
legalistas, hipócritas e cumpriam a Lei somente pela exterioridade. Do ponto de vista
justiça humana, ele cria um embate com os ricos.
A classe do pobre e do pequenino tem a atenção de Jesus. Ele critica o acúmulo
de riquezas (Mt 6, 19-21). Ele aconselha ao jovem rico a vender seus bens e os
distribuir aos pobres (Mt 19, 21). Se a riqueza impede o homem de viver os valores do
Reino, é melhor desfazer-se dela. Por isso, Jesus diz que dificilmente um rico será salvo
(Mt 19, 23). Os valores proclamados por Jesus exigem um desapego de si e dos bens
materiais. Este desapego é empregado também no sentido de não se preocupar com o
amanhã (Mt 6, 25).
As obras de misericórdias de Mt 25 são o ponto culminante deste olhar de
responsabilidade sobre o pobre. Aquele que quiser entrar no Reino dos Céus deve
praticar a misericórdia e a justiça. As classes dos famintos e dos sedentos, do forasteiro;
do nu; do doente e do preso continuam a tradição de justiça social do Antigo
Testamento que exigia um cuidado especial com o órfão, a viúva e o estrangeiro. O
amor da ética de Jesus não teórico é prático. Não basta só não ser violentos fisicamente
com os outros. A fome, o desabrigo e a xenofobia são também formas de violência.
Considerações finais
diante das mudanças políticas e sociais do nosso tempo tende a evidenciar este
“cristianismo apesar de Cristo”.
Referências
POWELL, Mark Allan. God with us: a Pastoral Theology of Matthew’s Gospel.
Minneapolis: Fortress, 1995.