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Juiz de Fora
2014
William Massayuki Sakaguchi Yamashita
Juiz de Fora
2014
Yamashita, William Massayuki Sakaguchi.
Introdução as Leis de
Conservação e Aplicações / William Yamashita.
2014. 49f. : il.
A meus pais, minha mãe Regina, que sempre acreditou e me apoiou nos meus objeti-
vos, ao meu pai e ao meu avô, que mesmo não estando aqui, sei que me protegem.
É claro, não poderia esquecer aos meus amigos especiais: a Gisele pelos 5 anos de
muito estudo, amizade e paciência, aos meus irmãos Wilker e Pedretti pelas diversões,
festas e muito futebol, à Karen, Ceili e Marina pelas conversas, brincadeiras e abraços,
ao Gladston pelas ajudas e brincadeiras e ao ICEberg F. C. time formado por amigos
do ICE que me proporcionou muita experiência no futebol, além de diversão e amizades.
Obrigado a todos os amigos que fiz nestes 5 anos em Juiz de Fora.
RESUMO
5.4 A região sem características quando o sinal passa da luz vermelha para a
luz verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1 Introdução 10
2 Leis de Conservação 13
2.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3 Choques 27
3.3 Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4 Rarefação 33
6 Conclusão 47
Referências 48
10
1 Introdução
Uma equação diferencial parcial (EDP) é uma equação matemática envolvendo deri-
vadas parciais, ou seja, uma expressão da forma
( )
∂u ∂ 2 u ∂ mu
F x1 , ..., xn , u, , , ..., = 0, (1.1)
∂xi ∂xi ∂xj ∂xi ...∂xim
Definição 1.1. Dizemos que a EDP 1.1 é linear se F é linear em relação a u e a todas
as suas derivadas parciais. Caso contrário, a EDP é não linear.
• Equações semilineares: quando F é não linear somente com relação a u, mas é linear
com relação a todas as suas derivadas parciais.
Muitas das equações diferenciais parciais que aparecem nas ciências naturais são ob-
tidas através de Leis de Conservação.
à taxa com que a substância flui para dentro da região, menos a taxa com que ela flui para
fora da região, mais a taxa com que ela é criada, ou consumida, pelas reações químicas.
Como último exemplo, a taxa de variação de uma dada população de animais em uma
região é igual à taxa de nascimentos, menos a taxa de mortes, mais a taxa de migração
para dentro ou fora da região.
Neste trabalho, nossa atenção está focada nos conceitos sobre Leis de Conservação.
No Capítulo 2, daremos uma introdução sobre Leis de Conservação, com os conceitos
básicos e estudos dos casos lineares e não-lineares. No Capítulo 3, estudaremos as soluções
em forma Ondas de Choques. Apresentaremos condições para que esta solução exista e
um caso particular de choque. No Capítulo 4, passaremos para soluções na forma de
Rarefações. No Capítulo 5, faremos aplicações simples em fluxo de trânsito e escomento
em meios porosos. No Capítulo 6, teremos nossas considerações finais.
13
2 Leis de Conservação
ut + f (u)x = 0, (2.1)
Uma dificuldade que estas equações apresentam é que nem sempre elas admitem
soluções clássicas. As soluções deste tipo de equação são estudadas para o problema de
Riemann, cuja solução é uma sequência de ondas. Introduziremos de forma gradativa os
conceitos de ondas viajantes, de choque, de contato e de rarefação, presentes no estudo
de fenômenos de ondas não-lineares.
2.1 Exemplos
ut + uux = 0. (2.2)
Esta equação foi introduzida originalmente por J. M. Burgers em seus estudos sobre
turbulência em fluidos, aparecendo como um modelo básico em diversos outros fenômenos
onde efeitos de adveccção não-lineares e difusão linear desempenham papel importante
[14].
Em uma dimensão, essa equação pode ser obtida, por exemplo, com um problema
de dinâmica de gás. Um fluido em um tubo, onde as propriedades do gás como densidade
e velocidade são assumidas constantes através de cada seção do tubo. Seja x a distância
ao longo do tubo e seja ρ(x, t) a densidade do gás no ponto x e tempo t.
ϕ = ρV. (2.3)
Como o fluxo é para fora da região, o sinal é negativo. O lado direito (ii) é dado por
d ∫ ∫
ρ(x, t)dV , pois a massa é m(t) = ρ(x, t)dV .
dt Ω Ω
Aplicando em (2.5) ∫
∂ρ
⇒ [ + div(ρV )] = 0. (2.7)
∂t
Ω
Como isto é válido para qualquer volume de controle Ω arbitrário, obtemos a Equação
de Continuidade
∂ρ
+ div(ρV ) = 0. (2.8)
∂t
∂ρ ∑ ∂ρ
n
(x, t) + ci (x, t) = 0, (2.11)
∂t i=1
∂x
Figura 2.1: Um fluido que atravessa um tubo com velocidade constante c em uma di-
mensão.
ut + cux = 0, em R × R (2.13)
ut = f ′ (x − ct).(−c) e ux = f ′ (x − ct)
⇒ ut = f ′ (x − ct).(−c) = ux .(−c) ⇒ ut + cux = 0.
Reciprocamente, seja u(x, t) solução para a equação de transporte. Definimos uma função
z : R → R por z(s) = u(x0 + cs, t0 + s), (x0 , t0 ) ∈ R × R fixo. Então,
∂u ∂u
z ′ (s) = (c) + = cux + ut = 0.
∂x ∂t
Portanto, z na variável s é uma função constante.
Este tipo de solução, é o que chamamos de Solução em Forma de uma Onda Viajante.
Ondas viajantes são ondas que se movem à uma velocidade constante. Soluções na
forma de uma onda viajante são um tipo especial de soluções de EDPs, que aparecem em
diversos problemas da matemática aplicada [3, 4, 8].
A Equação do Sistema (2.14) é uma equação diferencial parcial escalar, linear com coefi-
cientes constantes.
Definição 2.4. Uma solução clássica do problema de Cauchy é uma função u : R×R+ −→
Ω ⊂ Rn tal que
onde c = (c1 , ..., cn ) ∈ Rn é um vetor fixado. Uma solução para esta equação é uma função
diferenciável u : Rn × R −→ R. O tratamento da equação do transporte n-dimensional
com coeficientes constantes é completamente análogo ao caso unidimensional.
ut (x, t) + c · ∇u(x, t) = 0, x ∈ Rn , t ∈ R,
pode ser resolvido de modo análogo ao usado para resolver o caso homogêneo, [6].
Definimos uma função diferenciável v : R −→ Rn × R tal que v(s) = u(x0 + sc, t0 + s).
Derivando v(s), temos
Logo,
A única solução x(t) é uma curva característica da Equação de (2.22). Ao longo desta
curva temos que
d dx
u(x(t), t) = ut + ux = ut + f ′ (u)ux = 0.
dt dt
dx
Então u é constante ao longo das características. Logo, (t) = f ′ (u(x0 , t0 )) para t > 0
dt
também é constante. Note-se que características são linhas retas no plano xt. Como
existem pontos (x1 , t1 ), (x2 , t1 ), onde x2 > x1 , tal que
Lembrando que
u = u0 (x − f ′ (u)t), (x, t) ∈ Q,
f ′ (u)u′0
ut = u′0 [−f ′′ (u)ut t − f ′ (u)] ⇒ ut = − , (2.24)
1 + f ′′ (u)u′0 t
u′0
ux = u′0 [1 − f ′′ (u)ux t] ⇒ ux = .
1 + f ′′ (u)u′0 t
Esta solução pode ser representada no plano xt, como ilustra a Figura 2.5.
24
Por qualquer ponto x0 no eixo x passa uma reta característica. Como c é constante
essas retas serão todas paralelas umas as outras. Para o problema de Riemann, a ca-
racterística que passa por x = 0 é significante, pois é a única através da qual a solução
muda.
Observemos que a Solução (2.26) não pode ser uma solução clássica de (2.25) em todo
o plano xt, por não ser diferenciável ao longo da reta x = ct. Para função da forma de
(2.26) que satisfaz a equação diferencial em parte do domínio chamamos de solução fraca
de (2.25). Para função que satisfaz (2.25) em todo domínio chamamos de solução clássica.
A seguir damos uma breve interpretação do significado de uma solução fraca [1].
Definição 2.10. Definimos o conjunto das Funções Testes de (2.27), C01 , como
plano xt.
ut + f (u)x = 0.
Proposição 2.12. Se u é uma solução clássica para o PVI (2.27), então u satisfaz (2.30)
26
Devemos estar cientes de que podem existir soluções na forma (2.30) que não são
soluções clássicas para o PVI (2.27), por exemplo, funções que satisfazem a Equação
(2.30) podem não ser diferenciáveis. Por essa razão fazemos a seguinte definição.
Definição 2.14. Se u satisfaz a Equação (2.30) para todo ϕ ∈ C01 , u é dito ser uma
Solução Fraca para o Problema de Valor Inicial (2.27).
27
3 Choques
Neste capítulo, abordaremos um tipo de solução para EDP’s, solução por Onda de
Choque. Apresentaremos condições pra que tal solução ocorra, Condição de Entropia, e
uma forma particular da solução chamada de soluções por Onda de Contatos.
Sejam u uma densidade e f um fluxo de massa. Além disso, seja f = f (u) uma
determinada relação [16]. Seja a Equação (2.1)
ut + f (u)x = 0.
∫b
d
u(x, t)dx = f (a, t) − f (b, t). (3.1)
dt
a
Suponha que u é descontínua através de uma curva suave x(t). Nesse caso, a Equação
(3.1) é escrita como
−
∫b ∫
x(t) ∫b
d d{ }
u(x, t)dx = u(x, t)dx + u(x, t)dx
dt dt
a a x(t)+
−
∫
x(t) ∫b
dx dx
= ut dx + u(x(t)− , t) + ut dx − u(x(t)+ , t)
dt dt
a x(t)+
x(t)−
∫ ∫b
dx
= ut dx + ut dx + (x(t)− − x(t)+ ) = f (a, t) − f (b, t)
dt
a x(t)+
28
Definição 3.2. Uma solução contínua por partes u(x, t) de (2.22) com salto ao longo de
uma curva x(t) satisfazendo a condição de salto de Rankine-Hugoniot é denominada uma
Solução Onda de Choque da Lei de Conservação.
As características para o problema são dadas por x(t) = f ′ (u0 (x0 ))t+x0 , onde f ′ (u) =
u2 , o que dá
{
4t + x0 , se x0 ≤ 0,
x(t) = (3.5)
t + x0 , se x0 > 0.
u3
Para esta equação, f (u) = e x(0) = 0, e a condição R-H (3.3) é
3
dx fr − fl 1
3
− 83
= = ,
dt ur − ul 1−2
dx 7 7
= ⇒ x(t) = t. (3.6)
dt 3 3
A solução do PVI é dada por
{
2, se x < 73 t,
u(x, t) = (3.7)
1, se x > 73 t.
Soluções fracas para problemas de valor inicial podem não ser únicas, elas podem
conter descontinuidades que são propagadas da descontinuidade da condição inicial ou
obtidas da interseção das características.
Uma maneira de escolher a solução fisicamente correta é decidir pela solução viscosa.
Esta solução é definida como o limite quando ϵ → 0 das funções uϵ (x, t) onde uϵ (x, t) é
solução da EDP
uϵt + f (uϵ )x = ϵuϵxx , (3.8)
com condição inicial uϵ (x, 0) = uϵ0 (x) [16]. Uma das características mais importante da
solução viscosa é o seguinte resultado.
Proposição 3.3. Toda solução viscosa do Problema 3.8, é uma solução fraca.
Prova. Consideramos a Equação Viscosa (3.8), multiplicando-a por uma função teste
pertencente a C02 (onde ϕ e ϕx são nulas fora de algum retângulo fechado [a, b] × [0, T ])
e realizando a integração como em (2.30) (mais duas integrações por partes no termo
30
viscoso), obtemos
∫ ∞∫ ∞ ∫ ∞ ∫ ∞ ∫ ∞
− [u ϕt + f (u )ϕx ]dxdt −
ϵ ϵ
uϵ0 ϕ0 dx =ϵ uϵ ϕxx dxdt. (3.9)
0 −∞ −∞ 0 −∞
Fazendo ϵ → 0, então como por hipótese uϵ → u e f (uϵ ) → f (u), vemos que a solução
viscosa u é uma solução fraca para a Equação (2.1) ut + f (u)x = 0.
Observação 3.1. De uma maneira geral, para qualquer função de fluxo f (u) convexa, ou
seja, f ′′ (u) ≥ 0 ou f ′ (u) crescente, para todo u, qualquer salto de ul para ur com ul > ur
que satisfaz a condição R-H, satisfaz a Condição de Entropia I, e qualquer salto de ul
para ur com ul < ur que satisfaz a condição R-H, não satisfaz a Condição de Entropia I.
Como no caso em que f (u) é convexa, no caso não convexo, a solução u é única, sendo
uma solução viscosa se u satisfaz a condição de entropia definida pela Equação (3.11)
sobre todos os saltos.
Definição 3.6. Condição de Entropia III (Oleinik): u(x, t) é a solução entrópica se existe
uma contante E > 0 tal que para todo a > 0, t > 0 e x ∈ R,
u(x + a, t) − u(x, t) E
< . (3.12)
a t
Mais tarde, vamos mostrar a unicidade para o PVI (2.22) dentro da classe de so-
luções fracas que satisfazem a Condição de Entropia III (3.12). Chamamos a solução
correspondente de solução de entropia fraca [16].
u′0
ux = ,
1 + f ′′ (u)u′0 t
já calculado em (2.24).
Ao lidar com soluções descontínuas, temos que ter cuidado com a aplicação de trans-
formações.
3.3 Contato
As curvas características são paralelas, pois f ′ (ul ) = f ′ (ur ), podemos ver isso na Figura
3.2.
Definição 3.7. Soluções do Problema (3.14) são chamados Soluções por Ondas de Con-
tato.
33
4 Rarefação
Além da interseção das características, uma outra particularidade das equações não-
lineares, é a possibilidade de existir regiões do plano xt onde essas curvas não estão defi-
nidas. Modificaremos o método das características nessas regiões de modo que possamos
obter soluções do problema em todo o plano xt. Essa modificação gera o que chamamos
de ondas de rarefação [16].
são também soluções de (4.1) satisfazendo a Condição de Entropia III (3.12). Então, a
unicidade dá u(x, t) = uk (x, t) = u(kx, kt) para todo k > 0 e para todo (x, t) ∈ Q.
1
Portanto, u(x, ) = u(kx, 1) para todo k > 0 e para todo x ∈ Q.
k
Consequentemente, u precisa ser da forma
x
u(x, t) = r(η) com η = . (4.3)
t
Formalmente, de ut + f (u)x = 0, isto dá para r a equação
dr d dr
−η + f (r) = {−η + f ′ (r)} = 0 em R (4.4)
dη dη dη
34
e as condições de contorno
Definição 4.1. A solução do problema de valor contorno (4.4 e 4.5) é chamado de Solução
por Onda de Rarefação.
Queremos obter uma forma fraca apropriada para o problema do valor contorno (4.4)
e (4.5). Esta forma fraca nos permite considerar a Equação (4.4) para uma classe maior
de não-linearidades de f . O ponto de partida é a formulação fraca para (4.1).
Suponha que esse problema tem uma única solução de entropia fraca u, que satisfaz
u ∈ C(Q\O) e u(x, 0) = ul para x < 0 e u(x, 0) = ur para x > 0. Novamente por um
argumento de translação simples verifica-se que
é também uma solução de entropia fraca para qualquer k > 0. Como antes, isso implica
que o solução fraca deve ser da forma
x
u(x, t) = r(η) com η = ,
t
onde r ∈ L∞ (R) ∩ C(R). A condição inicial e a continuidade implicam que r satisfaz as
Condições de Contorno (4.5). Na identidade da integral, nós agora escolhemos as funções
teste.
Isto é,
φ(x, t) = φ1 (η).φ2 (t),
onde φ1 ∈ C0∞ (R) e φ2 ∈ C0∞ (R+ ). Para estas funções teste, temos
∫
{uφt + f (u)φx }dxdt = 0.
Q
35
Desde que
dφ1 1 dφ2
φt = − η φ2 + φ1
dη t dt
e
dφ1 1
φx = φ2 ,
dη t
obtemos ∫ ∞ {∫ ( [ ] ) }
dφ2 dφ1 dφ1
r(η) t φ1 − η φ2 + f (r) φ2 dη dt = 0
0 R dt dη dη
ou ∫ ∞ (∫ ) ∫ ∞ {∫ }
dφ2 dφ1
t rφ1 dη dt + φ2 (f (r) − ηr) dη dt = 0.
0 dt R 0 R dη
As integrais internas (com respeito a η) não dependem de t. Por isso, podemos integrar
o primeiro termo por partes. Isso leva à seguinte identidade integral para r (descartamos
o índice 1 por conveniência)
∫ { }
dφ
(f (r) − ηr) − rφ dη = 0 para todo φ ∈ C0∞ (R). (4.7)
R dη
Definição 4.2. (Formulação Fraca para uma Onda de Rarefação) Uma função r : R −→ R
é chamada de uma onda de rarefação correspondente as Condições de Contorno (4.5) se
(i) r ∈ C 1 (R),
(ii) Im(r) ∈ [ul , ur ] e r(−∞) = ul , r(+∞) = ur ,
(iii) r satisfaz a identidade (4.7).
Então ∫
dξ
= φ1 (η) φ(y)dy − φ(η)
dη I
e ∫ ∫ { ∫ }
dξ
h = h φ1 φ − φ = 0
I dη I I
∫ { ∫ } ∫
⇒ hφ1 φ = hφ.
I I I
∫
Seja c := I
hφ1 . Então
∫ ∫
cφ = hφ, para todo φ ∈ C0∞ (I),
I I
Proposição 4.4. Seja f ∈ C 2 ((ul , ur )) ∩ C([ul , ur ]) que satisfaz f ′′ > 0. Então existe
uma onda de rarefação r da forma
ul , se η ≤ ηl ,
r(η) = ′ −1 (4.10)
(f ) (η), se ηl < η < ηr ,
ur , se η ≥ ηr ,
Claramente, A = (fr′ (ul ), fl′ (ur )) = (ηl , ηr ). Agora, definimos r : (ηl , ηr ) −→ R por
f ′ (r(η)) = η ou r(η) = (f ′ )−1 (η) para η ∈ (ηl , ηr ).
Nós estendemos essa função de ul para η ≤ ηl (se ηl > −∞) e de ur para η ≥ ηr (se ηr < ∞)
e obtemos (4.10). Para mostrar que (4.10) realmente é uma onda de rarefação, verificamos
as condições da definição anterior (4.8). A partir da construção, nós imediatamente vemos
que (i) e (ii) são satisfeitas. Para verificar (iii), nós mostraremos que r satisfaz (4.8). As
condições de suavidade sobre f implicam
1
r ∈ C 1 (ηl , ηr ) com r′ (η) = , for ηl < η < ηr .
f ′′ (r(η))
Assim, (4.8) é satisfeita em (ηl , ηr ). Suponha que ηl > −∞. Obviamente (4.8) também
está satisfeito em (−∞, ηl ). Em η = ηl , temos
e { }
′ ′ dr dr
(f (r) − ηr) (ηl+ ) = lim f (r(η)) − η − r(η) = −ul .
η↓ηl dη dη
Logo, f (r) − ηr é diferenciável em ηl e satisfaz (4.8). Analogamente, obtemos o resultado
para ηr .
38
5 Aplicações de Leis de
Conservação
Trataremos de problemas de tráfego mais simples como o fluxo de trânsito em uma rua
de mão única com apenas uma faixa, sem entradas e sem saídas laterais. A formulação
matemática desse problema ocorreu por volta da metade dos anos 50. Estudos mais
detalhados desse problema podem ser encontrados em [9, 17].
Vamos considerar o trânsito em uma via de mão única com apenas uma faixa em um
trecho que não tem entradas e saídas. Vamos representar por u(x, t) a densidade de carros
39
A função fonte f (x, t) neste caso representa a taxa de carros que entram ou saem do trecho
da via analisado. Como, por hipótese, não existem entradas e saídas no trecho analisado,
temos f (x, t) = 0.
A função de fluxo ϕ(x, t) representa a taxa com que os carros passam na posição x
no tempo t. Para um observador fixo ao longo da via, a taxa com que os carros passam
por ele depende da densidade de tráfego u e da velocidade v. Se v é medido em km/hora
temos que o fluxo ϕ é dado por
ϕ = u(carros/km).v(km/hora) = uv carros/hora.
Vamos supor uma via como considerada no Modelo 5.4, com as seguintes condições:
(i) os carros que já estão parados estão alinhados com densidade máxima u1 carros/km.
(ii) os carros que chegam têm densidade uniforme u0 carros/km. Como u1 é máxima
temos 0 < u0 < u1 .
A lei de conservação para este problema é a lei definida pela Equação 5.4, e o PVI é
( )
2u
ut + v1 1 − u1 ux = 0, x ∈ R, t ∈ R ,
+
{
(5.5)
u0 , se x < 0,
u(x, 0) =
u1 , se x > 0.
( ) ( )
′ 2u ′ 2u0
Calculando ϕ = v1 1− em u0 e u1 , temos que ϕ (u0 ) = v1 1− e ϕ′ (u1 ) = −v1 .
u1 u1
Logo, as características são dadas por
( )
v1 1 − 2u0 t + x0 , se x0 < 0,
x(t) = u1 (5.6)
−v1 t + x0 , se x0 > 0.
R-H (3.3)
dxs ϕ(ur ) − ϕ(ul ) v1 u0
= = v1 − (u1 + u0 ) = −v1 . (5.7)
dt ur − ul u1 u1
Integrando em relação a t, temos que a curva de choque é a reta xs (t) = −v1 uu10 t. A
interpretação física para o caminho de choque obtido é que a velocidade com que a última
fila de carros parados se propaga para trás é v1 uu01 km/hora. A solução para pontos (x, t)
com x < −v1 uu01 t e para pontos (x, t) com x > −v1 uu01 t são obtidas pelo método das
características. Portanto, a solução é
{
u0 , se x < −v1 uu01 t,
u(x, t) = (5.8)
u1 , se x > −v1 uu01 t.
Suponha que num sinal fechado os carros estão alinhados de tal forma que a densidade
máxima de u1 carros/km tenha sido atingida e que não existe tráfego à frente do sinal, ou
seja, a densidade de carros é zero nesta região. Suponha ainda que o sinal está localizado
na posição x = 0 e que abre no tempo t = 0. Usaremos o Modelo 5.4 para resolver o PVI.
Observe que como o tempo começa a ser contado a partir da abertura do sinal, temos
x(0) = 0. Assim as características que atingem a origem são as retas x(t) = −v1 t e
x(t) = v1 t, como mostra a Figura 5.4, a região entre as duas retas não tem características.
Figura 5.4: A região sem características quando o sinal passa da luz vermelha para a
luz verde.
t = x/v1 para atingir o ponto x, portanto, não existe carro no ponto x para t < x/v1 . A
reta x(t) = v1 t pode ser interpretada como sendo a onda que propaga, para a região de
densidade nula, a informação é que o sinal abriu.
Como vimos na Seção 4 (Equação 4.3), seja u(x, t) = r(η), onde η = xt . Logo
−1 ′
ut (x, t) = ηr (η) e
t
1 ′
ux (x, t) = r (η).
t
Substituindo na 1ª Equação de (5.9), obtemos
( )
−1 ′ 2r(η) 1 ′
ηr (η) + v1 1 − r (η) = 0
t u1 t
2v1 r(η)
⇒ r′ (η) = 0 ou − η + v1 − =0
u1
u1
⇒ r′ (η) = 0 ou r(η) = (v1 − η)
2v1( )
1 η
⇒ (i) r′ (η) = 0 ou (ii) r(η) = u1 1 − .
2 v1
De fato, seja r′ (η) = 0. Isso implica que r(η) = K, K constante. Pelo método das
características, temos que r(η) = u1 , se η ≤ ηl e r(η) = 0, se η ≥ ηr . Se r(η) = K em
44
Ou seja, r(η) é uma função contínua por partes. Como r(η) deve satisfazer a condição
R-H, se considerarmos a condição R-H ao longo da reta η = ηl temos s1 = v1 [(k 2 /u1 ) −
u1 ]/[u1 −K] e se considerarmos a condição R-H ao longo da reta η = ηr temos s2 = −K/u1 ,
o que significa que a função r(η) dada em (i) não satisfaz a condição R-H. Logo, r(η) não
é constante.
Assim, r(η) = u(x, t), se −v1 t < x < v1 t, e obtemos a solução do problema
u1 , se x ≤ −v1 t,
1 ( )
x
u(x, t) = u1 1 − , se − v1 t < x < v1 t, (5.12)
2 v1 t
0, se x ≥ −v1 t.
Após esse tempo o carro anda na região em “leque”, onde sua velocidade cresce con-
tinuamente até atingir a velocidade máxima v1 , pois u(x, t) = 0 quando a velocidade é
máxima.
45
Após este estágio, existe ainda uma quantidade muito grande de óleo no meio poroso.
O método padrão de recuperação secundária é injetar água dentro do reservatório através
de poços de injeção. Esta água tem o objetivo de empurrar o óleo para fora do reservatório
através dos poços de produção.
u2
f (u) = , (5.13)
u2 + a · (1 − u)2
onde a < 1 é uma constante. Aqui, u representa a saturação da água, isto é, 0 < u < 1.
Como o problema a ser modelado é físico, espera-se encontrar uma solução fisicamente
correta.
Pela Condição R-H (3.3), temos que a velocidade do choque é s = dx/dt = [f (ul ) −
f (ur )]/[ul − ur ] = 1 e integrando em relação a t, temos que o caminho de choque é a reta
xs = t. Além disso, s satisfaz a Condição de Entropia I (3.10), pois 2 = f ′ (ul ) > s = 1 >
0 = f ′ (ur ), o que garante que a solução é realmente um choque.
Portanto, a solução é {
1, se x < t,
u(x, t) = (5.17)
0, se x > t.
A interpretação física da solução do perfil com o choque s diz que assim que a água
é bombeada para dentro do reservatório, ela desloca imediatamente uma porção de óleo.
Atrás do choque, existe uma mistura de água e óleo com cada vez menos óleo a medida
que o tempo t evolui, e no poço de produção (digamos x = 1) obtem-se petróleo.
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6 Conclusão
Neste trabalho foram apresentadas as ideias básicas sobre a teoria Leis de Conservação.
Também demos aplicações em áreas distintas, uma no trânsito de carros e outra em
escoamento em meios porosos.
Referências
[2] R. J. Biezuner. Equações diferenciais parciais i/ii. Notas de Aula, UFMG, 2010.
[3] G. Chapiro. Gas-solid combustion in insulated porous media. PhD thesis, Instituto
Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2009.
[10] A. F. da S. Junior. Método dos volumes finitos para equação de convecção e difusão
em uma dimensão espacial. Master’s thesis, Modelagem Computacional em Ciência
e Tecnologia/UFF, 2012.
[11] R. J. LeVeque. Finite volume methods for hyperbolic problems, volume 31. Cambridge
University Press, 2002.
[12] R.J. LeVeque. Numerical methods for conservation laws. Birkhäuse Verlag, 1992.
[15] U. Sodré. Equações diferenciais parciais. Notas de Aula, Sercomtel, Rio de Janeiro,
2003.
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[16] C.J. van Duijn. An introduction to conservation laws: theory and applications to
multi-phase flow. Lecture notes, Delft University of Technology, 2000.
[17] G. B. Whitham. Linear and nonlinear waves. JohnWiley & Sons, 1976.