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palavra cultura geralmente causa muitas polêmicas entre seus pesquis
adores e leigos,  por  isto  vamos  nos  deter  apenas  em  dois  conceitos,  um 
do  dicionário Aurélio,  no  seu conceito  geral, e o  outro  na definição  da  p
rofessora e  pesquisadora  Karin  Strobel sobre o  termo  cultura  surda.
 
Cultura: Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações  in
telectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade. (Dicionário de por
tuguês)
 
Cultura surda: é o jeito do sujeito Surdo entender o mundo e de modifi
cá-  lo  a  fim  de  se  torná-lo  acessível  e  habitável  ajustando-os  com 
as  suas  percepções visuais, que contribuem para definição das identida
des surdas e  das “almas” das comunidades surdas (STROBEL, 2008,
p.24)

O ser humano, em contato com o espaço cultural,
reage e desenvolve sua identidade,
isto  só acontece  no coletivo. É com  o outro  que construirmos  nossa  id
entidade. Assim, a  cultura  se  modifica e surgi com a produção de um 
grupo que passa seus conhecimentos e experiências  para a geração
futura. Na cultura surda não é diferente,
percebemos que ela abrange a língua,
as  ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.

Vejamos a que diz PERLIN,(2004,p.77-78).
 
[…]  As identidades surdas são construídas dentro das 
representações  possíveis  da  cultura  surda,  elas  mo
ldam  de  acordo  com  maior  ou  menor  receptividade 
cultural  assumida  pelo  sujeito.  E  dentro  dessa  rece
ptividade  cultural,  também  surge  aquela  luta  politic
a  ou  consciência  pela  qual  o  indivíduo  representa  a 
si  mesmo,  se  defende  da  homogenização, dos aspect
os que tomam  corpo menos  habitável, da sensação d
e invalidez, de inclusão entre os  deficientes, de meno
s-valia social.
 
Observamos no discurso acima  como são construídas as  Identidades Sur
das.
No  livro  “As imagens do outro sobre a Cultura Surda”, a  professora Stro
bel fala sobre a  relevância do contato da criança Surda com um Surdo ad
ulto, pois como essa criança geralmente  nasce em um
lar de pais ouvintes, que
normalmente não conhecem a língua de sinais, este contato com uma
referência
linguística permitirá a  criança  adquirir  um  sentimento  identificatório  e  c
ultural,   onde  não  terá  um  olhar limitado, e nem futuras angústias ou ans
iedades, sobre quem ela é.
 
Vejamos um relato de experiência de uma criança surda com adul
to surdo pela primeira vez:

 […]  compreendi  imediatamente  que  não  estava  sozinha  no  mundo. Uma revelação impr


evista. Um deslumbramento. Eu,  que  me  acreditava  única  e  destinada  a  morrer  criança,  c
om  costumam  imaginar  que  aconteceria  às  crianças  surdas,  acabava  de  descobrir  que  e
xistia  um  futuro  possível,  já  que  Alfredo era adulto e surdo! LABORIT,(1994,p.49)

Existe esta necessidade por parte da criança surda, quando ela te
m o contato com o Surdo  adulto e se for inserida na comunidade surda, 
ela se sentirá motivada e valorizará sua condição  cultural de  ser Surdo, 
sendo um sujeito  com autoconfiança  e  facilidade  de desenvolver  relac
ionamentos com ouvintes, veem-se com diferente e não como 
deficiente.
Geralmente, este contato citado por Laborit, só acontece na juven
tude ou na idade adulta,  por causa da família que em alguns casos seja 
por medo do desconhecido, seja por preconceito,  impede a criança do 
mesmo.

O  sujeito  Surdo  percebe  o  mundo  de  modo  diferente  dos  ouvint


es,  os  seus  olhos  são  seus ouvidos. Um bom exemplo disto é quando 
observamos o Surdo conversando ao mesmo  tempo que caminha pelas 
ruas, sem tropeçar ou cair nos buracos.

A cultura Surda pode ser compartilhada em vários locais: nas ass
ociações de surdos, nas  igrejas,  nas  escolas,  etc  e  fazem  parte  d esta 
comunidade  o s   surdos  e  ouvintes,  como:  familiares,  amigos, professo
res, intérpretes que, juntos com os surdos, lutam pelos seus direitos.

É importante  citar  que nem todos  os  surdos  fazem  parte  da  cult


ura  surda,  com  nos  diz  Wilcox: “Embora o termo cultura surda seja usa
da frequentemente, isso não significa que todas as  pessoas surdas no m
undo compartilhem a mesma cultura”. (2005,p.78)

Em todo mundo temos associações de surdos onde são compartilh
adas sua cultura.
 
Ao afirmarmos que os surdos brasileiros sã
o membros de uma  cultura  surda  não  sig
nifica  que  todos  os  surdos  no  mundo  co
mpartilham a mesma cultura simplesment
e porque não  ouvem.  Os  surdos  brasileir
os  são  membros  da  cultura  surda  brasilei
ra da mesma forma que os surdos america
nos são  membros da cultura surda norte-
americana. Esses grupos  usam a língua d
e sinais diferente, compartilham experiên
cias  diferentes e possuem diferentes  exp
eriências  de vida.  (KARNOPP,2006,p.99).
 
Os  Surdos  querem  compartilhar  seus  costumes,  histórias,  tradiç
ões  em  comuns  e  suas  peculiaridade culturais através dos seus artefat
os.
EXPERIÊNCIA VISUAL

Aqui podemos perceber claramente o modo como o sujeito Surdo perc
ebe o mundo, as  suas  experiências  visuais  os  levam  a  refletirem  sobre 
suas  peculiaridades.  Observe  esta  experiência da professora surda ,
karin Strobel, com seu namorado ouvinte. (2008,pg.38).
 
“Uma  vez  meu  namorado  ouvinte  me  disse  que  faria  uma  surpresa  para  mim  pel
o  meu  aniversario;  falou  que  iria  me  levar  a  um  restaurante  bem  romântico.  Fo
mos  a  um  restaurante  escolhido  por  ele,  era  um  ambiente  escuro  com  velas  e 
flores  no  meio  da  mesa,  fiquei  meio
constrangida  porque  não  conseguia  acompanhar  a  leitura  labial  do  que  ele  me  fal
ava  por  causa  de  falta  de  iluminação,  pela  fumaça  de  vela  que  desfocava  a  i
magem  do  rosto  dele,  que  era  negro;  e  para  piorar,  havia  um  homem  no  canto 
do  restaurante  tocando  música  que,  sem  poder escutar,  me  irritava  e  me  fazia 
perder  a  concentração  por  causa  dos  movimentos  dos  dedos  repetidos  de  vai
e  vem  com  seu  violino.  O  meu  namorado  percebeu  o  equívoco  e  resolvemos  ir  a 
uma pizzaria!”
 
Pela  ausência  da  audição  e  do  som,  tudo  é  percebido  e registrado  atrav
és  da  visão. As expressões faciais e corporais, os movimentos, a alteração 
do ambiente, tudo isto faz sentido para  o sujeito Surdo.
 
Temos aqui outro  relato  de  Stroel (2008,p.39)  para  exemplificar a  imp
ortância  das  expressões faciais e corporais para a comunicação e infor
mação.
 
Eu  estava  sentada  em  sala  de  aula,  em  uma  classe  com  outros  alunos  ouvinte
s,  “olhando”  distraidamente  para  os  movimentos  dos  lábios  da  professora  que 
estava  falando;  de  repente,  a  professora  parou  subitamente  de  movimentar  os  lá
bios  e  virou  o  rosto  assustado  para  a  janela.  Percebi  que  toda  a  turma  fazia  o 
mesmo  e  que  todos  correram  para  olhar  pela  janela.  Eu,  meio  desnorteada e 
curiosa,  fiz  o  mesmo  para  ver  o  que  provocou  toda  a  algazarra  da  turma  e  perce
bi  tardiamente  que  tinha  acontecido  uma batida de carro lá fora.
 
Estes dois relatos confirmam a relevância de
a criança surda ter um contato com o Surdo adulto  para que a mesma t
enha acesso às informações.
 
Além disso este contato assegura a sua
identidade  e cultura, que é transmitida naturalmente.
 
Existe também a necessidade de conscientizar a sociedade
a saber, conhecer, perceber, estar
mais sensível  para  a  comunidade  surda.   A  ausência  de  recursos  visua
is  em  locais  de  grande circulação de pessoas é um grande problema
para um povo que é
visual. Um exemplo é a ausência de um painel eletrônico em
unidades de saúde,  etc. 
Na língua oral ao construímos uma frase usamos a entonação da 
voz, nas línguas de sinais  isto acontece pelo uso das expressões faciais 
acompanhada dos sinais.
 
O artefato visual também é usado pelos Surdos oralizados, pois é 
com o apoio da  percepção visual que eles fazem a leitura dos lábios.

LINGUÍSTICO

Além das línguas de sinais, já citadas nos estudos, temos o sistem
a  de escrita para escrever em qualquer língua motora-
visual:  o SignWriting. Um acontecimento histórico para o povo
Surdo, pois diziam que a língua de sinais era uma língua ágrafa ( língua
sem escrita). Aqui podemos falar mais sobre essa escrita.
O Sign Writing é um sistema usado para  escrever em  qualquer
língua de
sinais, criado em 1974 por Valerie Sutton.  No início,  Sutton  criou  um  s
istema  para  escrever  danças,  para  notar  os  movimentos  de  dança,  o 
que
acabou despertando a curiosidade dos pesquisadores da língua de sinai
s dinamarquesa que estavam  procurando uma forma de escrever os sin
ais. Foi registrada, na Dinamarca, a primeira página de  uma longa histór
ia: a criação de um sistema de escrita da línguas de sinais.

No Brasil, o trabalho de adaptação do SignWriting à LIBRAS teve 
início com o Dr.  Antônio  Carlos  da  Rocha  Costa,  Marianne  Stumpf  (S
urda)  e  a  Professora  Márcia  Borba,  na  Pontifícia Universidade Católic
a (PUC) do Rio Grande do Sul, em 1996. Foi mais uma conquista  da co
munidade surda brasileira, como o apoio destes pesquisadores
(linguistas e profissionais da informática) que
se empreenderam para conseguir uma escrita que  pudesse
dar conta de todas as  necessidades de uma língua.

Abaixo podemos ver dois exemplos da escrita, o primeiro Temos uma pe
ssoa escrevendo e  segundo uma frase com tradução.
FAMILIAR
            
Na  maioria  das  famílias  Surdas,  o  nascimento  de  uma  criança  surda  é 
algo  natural  e  aceitável. Porém, na consulta com o pediatra e/ou com
fonoaudiólogo, em alguns casos,  eles são aconselhados a não fazerem
o uso  de sinais com o filho
porque vai causar "atraso na aquisição da língua oral" e que será
necessário a utilização
do  aparelho auditivo ou fazer o implante coclear para que esta criança te
nha a oportunidade e falar.
Diante desta visão os autores Lane, Hoffmeister e Bahan(1996,pg.30) asseg
uram:
 
Se os profissionais oferecem tais estranhos conselhos, enxer
gando a  criança surda não como um presente de Deus, ma
s como um  problema, então os pais surdos que seguros na 
sua identidade  cultural,  reconhecendo  que  eles  têm  mais 
experiência  e  conhecimento em criar a crianças surdas do q
ue os profissionais que  aconselham, ignoram tais informaçõ
es. Ressegurando que nada foi  encontrado de errado com s
ua criança, que ela simplesmente surda,  voltam  para   casa  
e  prosseguem   com  suas   vidas,   cercadas   de recursos do 
“Mundo Surdo”, que oferece suporte, encorajamento, e  os m
eios para existir e contribui como um  membro íntegro da  soc
iedade, no mundo, de forma ampla, bem como no “Mundo  S
urdo”.
 
 
Na família  de  ouvintes  quando  nasce  uma  criança  surda, ao  receb
er  o  diagnóstico  da surdez,  essa
família fica  em  choque,  com  sentimento  de  culpa,  e,  por  fim, após
muitos questionamentos, vem a aceitação. Mas
até chegar  a aceitação o caminho é longo e , ainda assim, a família
passa pelo processo de esperança achando que um dia seu filho vai ser 
“normal”(ouvinte). Como isso não acontece, vem a decepção.
Assim como outras pessoas que têm contato com o sujeito Surdo, 
eu já vistei e trabalhei em  associações  de  S urdos,  participo  de  eventos 
com  eles  e  em  conversas  informais,   e até mesmo em
conversas  formais,  os  Surdos relataram que, na maioria dos casos, os p
roblemas familiares são a ausência de diálogo, a  falta de comunicação d
entro do lar nas horas das refeições, encontros da família, assistir a um 
jornal ou novela. O surdo só observa as conversas
sem participar, mesmo que o assunto seja sobre  ele.

Léo Jacob em sua biografia, nos descreve este sentimento que ac
ontece por causada das  barreiras de comunicação.
 
Você fica fora da conversa à mesa do jantar. É o que se ch
ama de isolamento mental. Enquanto todos os outros falam 
e riem, você se  mantém tão distante quanto um árabe solitá
rio num deserto que se  estende para o horizonte por todos 
os lados. […] Sente-se ansioso  por  um  contato.  Sufoca  por 
dentro,  mas  não  pode  transmitir  esse  sentimento horrível a 
ninguém. Não sabe como fazê-lo.  Tem  a  impressão  de  que 
ninguém  compreende  nem  se  importa.  […]Não  lhe é conce
dida sequer a ilusão de participação[...]  (SACKS,1989,p.136)
.
 
Nas famílias onde se têm uma pessoa surda e ninguém sabe a língu
a de sinais, o
surdo fica sem  informações  ou  qualquer  diálogo  entre  os  seus,  porém, 
em  alguns  casos é possível
que um  dos  membros  da  família se interesse e busque conhecer a língu
a e a cultura surda,  facilitando a comunicação em  família.

Vamos conhecer outro artefato desta cultura.
 
LITERATURA SURDA

A  literatura  Surda  está  presente  em  diferentes  gêneros:  Nas  hi


stórias  de  Surdos,  nas  poesias, nas piadas, nas literaturas infantis, nos 
clássicos, nas fábulas entre outras manifestações  culturais.

A literatura Surda trata das experiências vividas do povo surdo.
Em muitos casos  demostram sua dificuldade e/ou sua vitória sobre as o
pressões dos ouvintes, de como eles se  saem em diferentes situações
e traz também a valorização da sua identidade surda.
Pelo fato da língua de sinais ser uma língua espaço-visual, muitos 
surdos preferem gravar  suas narrativas em Cd, DVD.
Atualmente, com as novas tecnologias, estas gravações
estão presente  nos celulares e compartilhados nas redes socais. Elas ser
vem de pesquisas nas universidades, tanto  para o sujeito Surdo quanto 
para os ouvintes.

Diferentes artefatos culturais são produzidos no sentido de dar suste
ntação a determinados discursos sobre os surdos.
Muitos  escritores  Surdos  optam  por  relatarem  suas  produções  n
a  língua  escrita  do  seu  país, assim a cultura surda passou a ter um espaç
o literário. O Brasil,  como  outros  países,  tem seus  escritores  surdos.
 
A escritora surda  Gládis  Perlin  já  publicou
diversos artigos, como: “As identidades Surdas” (1998);
“O ser e o está sendo Surdo” (2003);
“O  local  da  cultura  Surda”  (2004);
“Surdos:  o  discurso  do  retorno”(2005);
“Surdos:  por  uma  pedagogia da diferença”(2006);
Surdos: cultura e pedagogia”(2006).
 
O povo Surdo tem mudando a visão da história, trazendo o valor 
e o empoderamento do  povo Surdo com sua língua e cultura.
 
Temos outros autores Surdos, entre eles podemos citar o
baiano Maurício Barreto. Suas publicações você encontra no canal do Yo
utube, clicando na imagem abaixo:

 
 
Segue abaixo mais um exemplo de Literatura Surda. 

- Vamos ler uma piada de Surdo - “Árvore Surda”. Clicando na imagem
você encontrará a mesma piada em  libras.
 
A  Árvore  surda                                                                                                                                                  

                                                          
 
Um  homem  morava  em  uma  floresta  muito  grande.  Ele  trabalhava  de  cortar  m
adeira.  Ele  procurava  árvores  grandes  para  derrubar.
Quando  encontrava  uma  árvore  batia  com  o  machado  para  co
rtar.  Depois  ele  gritava:  -  madeira...  Então  a  árvore  caia  no  ch
ão.
Então  ele  encontrou  outra  árvore.  Viu  que  era  muito  alta  e  começou  a 
cortar.  Ele  gritou  para  a  árvore.  Mas  a  árvore  não  caiu.          
Ele  chamou  um  médico  que  entendia  de  árvores.  O  médico  examinou  a  árvore  e  descobriu 
que  ela  era  surda.
O  lenhador  chamou  um  intérprete  que  falou  em  libras:  -  madeira.  Então  a  árvore  caiu.

 
Nesta piada o que destaca é a questão da comunicação: o lenhador fala
(oralmente) e a árvore não entende. 
Podemos observar que os povos surdos tiveram a necessidade, como qu
alquer outro povo, de registrar  sua atuação no mundo, as suas conquista
s, a sua língua de sinais e como tudo começou. 

IDA SOCIAL E ESPORTE
São acontecimentos culturais como casamento, festas, esportes e etc.
Eventos onde os surdos participam através das estratégias, onde um conta 
para o outro.
 
Uma  pesquisa  realizada  com  surdos  americanos  mostra  que  nove  de  d
ez  membros  da  comunidade surda casam-se com membros do mesmo 
grupo cultural. (LANA, 1992,p.31).
 
A comunidade surda promove desfiles e bailes onde
alguns surdos, que sentem a vibração da música,   gostam  de  dançar e
outros  simplesmente  conversam.
 
Tem  surdo  que  gosta  de  esporte  radical  como  o   Carlos Jorge que é su
rdocego e prática o mergulho. Clique na imagem abaixo e leia uma
matéria sobre ele e outras histórias sobre o tema.
 

 
Temos também a cearense Bruna Barroso que  venceu o título de Miss Su
rda Brasil, em 2012, e sua vice, a mato-grossense Reanny de Oliveira, 
ficou em segundo lugar no Miss Deaf International, realizado em Ancara, 
na Turquia.  
 
 
No Brasil, em 2002, na cidade de Passo Fundo, no Estado do Rio Grande 
do Sul,  aconteceu a 1º Olimpíadas de Surdos do Brasil. Houve desfile de 
times, hasteamento das  bandeiras e o Hino Nacional sinalizado.
 
A cada quatro anos é realizada a Olimpíadas Mundia dos Surdos.  Em 200
7, na Austrália,  a dupla de vólei de praia brasileira
ficou em quinto lugar com Alex Borges e Alexandre Couto.  Com isto, pod
emos observar que a vida social do sujeito Surdo é como a de qualquer o
utro povo.
 
Os Surdos desenvolveram um
estilo próprio para sair bem em certas situações de constrangimento  por  c
ausa  da  comunicação.
 
Por  exemplo:  um  rapaz  Surdo  queria  trabalhar  no  caixa do Supermerca
do, o gerente perguntou como ele
iria perguntar para os clientes a forma  de  pagamento?  Ele  simplesmente 
mostrou  um  cartaz  com  as  imagens  de  cartões  de  créditos,  dinheiro e c
heque. Era só o cliente apontar e entregar, ele registrava. Isto aconteceu 
aqui em Salvador.
 
São várias situações, algo que acontece diariamente com os surdos. Vej
amos esta experiência de um surdo aos 6 anos de idade.
 
Aconteceu  aos  6  anos  de  idade,  quando  mi
nha  mãe  me  mandou  comprar  uma  mamad
eira  para  meu  irmão,  na  época  um  bebê.  El
a  não  se preocupava  com o fato de eu  ser 
surdo.  Foi  a primeira  vez  que  comprei  algu
ma  coisa  sozinho.  Na  loja,  fiquei  olhando,  p
rocurando nas prateleiras a mamadeira para 
apontar, mas não  havia  nenhuma  à  mostra. 
O  lojista  me  pediu  para  escrever  o  que  que
ria, mas aos seis anos, eu ainda não sabia e
screver. Então  desenhei a mamadeira no pap
el, o homem entendeu e eu voltei feliz  da vid
a para casa. (PIMENTAL,1999,p.62).
 

ARTES VISUAIS
  
Uma coisa que a população
surda gosta é de criação artística, onde eles sintetizam suas  emoções, s
uas histórias, subjetividades e, principalmente, sua cultura.
 
O artista Surdo tem o objetivo de mostrar através da arte seu 
de pensar, divulgar  suas crenças e seu jeito de interpretar sua cultura
 
O sociólogo Surdo Anderson relata:
“As pessoas surdas também acham a língua de sinais,  como qualquer ou
tra língua, uma maneira poderosa de expandir sua criatividade e prazer a
rtístico.”
 
Teatros  nacionais  de  surdos  em  vários  países  fizeram  programas 
de  grande  sucesso.
 
Artistas surdos têm conseguido mostrar língua de sinais em suas 
pinturas, ilustrações ou  trabalho esculturais. (1989,p.158).
 
Temos muitas  expressões artistas de  pessoas  surdas, como  poesi
as,  esculturas, pinturas,  etc. Por possuir uma língua de caráter espaço-
visual o sujeito Surdo tem facilidade nas expressões corporais e aproveit
am para expressar sua identidade e cultura usando as peças teatrais, co
mo  acontece em todo Brasil.  Aqui em Salvador tivemos a peça “Difere
ntes” que foi encenada com  atores surdos e ouvintes e apresentada e
m vários locais. Além das peças temos as contações de  histórias,  poesi
as,  narrativas.  Podemos  encontrar  estes  materiais  em  DVD,  e  nas  red
es  socais  como YouTube.
Na comunidade surda temos muitos artistas: Marlee Matlin-artiz, 
americana que ganhou o  Oscar de melhor atriz em “Filhos do Silêncio”, 
no ano 1987. A Emanuelle Laborit, atriz francesa  e escritora do livro “O 
Vôo de gaivota”. E no Brasil temos o pesquisador e ator Nelson Pimenta
que  possui uma empresa de vídeos, a LSB – Língua Brasileira de Sinais. 
O Rimar Romana que possui  uma
Companhia de Teatro “Cia. Arte e Silêncio”. O ator Reinaldo Pólo que atu
a
como palhaço há mais  de 50 anos, faz shows em clubes. São várias as 
produções do sujeito surdo, porém quando nos  referimos  a  produção 
musical,  ela  não  faz  parte  da  cultura,  porém  o  surdo  tem  o  direito  d
e  conhecer e ter informações sobre a mesma, é preciso acima de tudo o 
respeito ao direito de gostar  ou não.
POLÍTICA
 
            As associações de surdos, quando foram formadas, tinham o
objetivo de ajudar os surdos na comunicação com os ouvintes, com o
passar dos anos este objetivo mudou para questões  politicas, onde os
surdos reúnem-se para discutir melhores condições e luta pelos seus
direitos judiciais e da cidadania.
            Geralmente têm sede própria e seu estatuto com uma diretoria
composta por membros Surdos. Citamos dois lideres: a Ana Regina e
Sousa Campello e o Antônio Campos, que influenciaram muito o
movimento surdo no Brasil.
 
[…] Ana Regina e Sousa Campello é Surda de nascença,
maranhense formada em Biblioteconomia e
Documentação, Pedagogia, mestrado na área de
linguística e dourado na área de educação na UFSC. A
Ana foi uma militante politica importante no Brasil, ela
desafiou e participou em movimentos na área dos
surdos há mais de 30 anos e juntamente com outros
surdos lideres criou a FENEIS (Federação Nacional de
Educação e Integração e Surdos), uma conceituada
instituição que defende os direitos dos surdos e sua
cidadania. (STROBEL,2007,p.22)

 
           Federação Nacional de Educação e Integração e Surdos/FENEIS é
uma entidade sem fins lucrativos, seu objetivo e a defasa do povo surdo.
Aqui ela está filiada a Federação Mundial dos Surdos/WDF.
 
           Vejamos uma entrevista com Antônio Campos, um dos fundados da
FENEIS no Brasil.
 
 
Minha primeira experiência foi como diretor da
Associação dos Surdos de Minas Gerais, onde atuei por
32 anos. Depois fundei a Federação Mineira Desportiva
de Surdos e a Confederação Brasileira de Desportivo dos
Surdos, trabalhando como voluntário. Mais tarde me uni
a um grupo de surdos para fundar  a Federação Nacional
das Associações de Surdos. Sempre tive o objetivo de
estimular a integração entre surdos e ouvintes, valorizar
a cultura do surdo, o uso da Libras e a prática de
esportes. Tive a oportunidade de fazer um curso de
liderança nos Estados Unidos, na Universidade de
Surdos. E sou membro da Federação Mundial de Surdos.
A vitória por tudo que já conquistamos na Feneis não é
só minha. Eu sou muito agradecido a comunidade dos
surdos. (GISELE,2007)
 
 
           Além das associações, existem outros movimentos e datas
comemorativas onde os surdos têm buscando mostrar, relembrar e
conquistar seu espaço no mundo, entre eles podemos cita, aqui no Brasil,
o “Dia do Surdo”, dia 26 de setembro, pois foi o dia que fundou a primeira
escola de Surdos no Brasil; O setembro azul, mês de comemoração à
surdez em todo território nacional. O "Dia da Libras", 24 de abril, data de
reconhecimento da Libras pela lei 10.436/2002, e a criação do curso de
graduação em Licenciatura Letras/LIBRAS em 2006 ( decreto 5.626 /05), a
presença do intérprete em sala de aula e a disciplina de Libras no
currículo de formação dos cursos de licenciaturas e pedagogia.
 
MATERIAIS
 
 
            Para suprir as especificidades da comunidade surda e facilitar a
convivência com o mundo dos sons, as indústrias têm desenvolvido
recursos tecnológicos adaptados.

Interação no mundo dos sons através das tecnologias:


A cultura Surda é muito rica, vejamos algumas especificidades do dia a
dia.
 
1 – Início da conversa     
 
            Em uma conversar, para chama a atenção do seu interlocutor, a
pessoa Surda normalmente toca no braço ou antebraço do mesmo.
Quando a pessoa está distante faz acenos com as mãos.
            Dependendo do local e situação podem também acender e pagar a
luz ou bater forte os pés no chão, assim o outro ver a luz piscando ou
sente a vibração no chão.
 
2 – O compartilhar informações
 
            Para povo Surdo a informação é muito valorizada, por isto no
decorrer da conversar, sempre é verificado se todos estão entendendo.
Assim todos podem participar e receber as informações.
 
3 – Vira as costas, o que significa?
 
            Por ter percepção visual eles dão valor a conversar de frente, olho
no olho. Uma distração visual ou auditivamente, por parte do ouvinte, por
não está acostumado a este tipo de interação, pode ser entendido como
desinteresse pela conversa; Virar as costas significa um insulto e se fechar
os olhos quer diz "não estou querendo conversar". Então caso precise
desviar o olhar, informe o que está acontecendo, assim a conversa fluí
sem complicação.
 
4 – Despedidas, como acontecem?
 
            Na cultura Surda ao sair é preciso falar com todos, alguns dizem
para onde vão ou o que vai fazer, justificando sua saída, deixando claro
que a conversa pode continuar pelos aplicativos, onde eles passam horas
de bate papo.   Para eles é muito desagradável deixar o local
discretamente ou rapidamente, isto pode ser mal interpretado, alguém
pode pensar que você não gostou do ambiente.
 
5 – Nome de Batismo na cultura surda.
 
            É da cultura Surda atribuir um sinal pessoal para seus novos
membros surdos ou ouvintes. Isto acontece através da referência:
 
        Aparência física da pessoa: rosto, cabelo, etc
        Uso de objetos: brincos grandes, etc
        Comportamento: viver distraído, comer as unhas, etc
        Algo que a pessoa gosta e fazer: esporte, passear, etc.
 
Este nome deve ser dado por uma pessoa Surda que tenha contato com a
que vai receber o sinal e o sinal não deve ser mudado, mesmo que a
pessoa mude fisicamente ou na sua aparência. O sinal deve permanecer,
igual ao seu nome que não muda.
 
6 – Ponto de encontro.
 
 
            Os surdos estão em toda cidade, eles têm uma forma  de se
encontrar, um ponto de encontro dentro da cidade. Então toda cidade
brasileira tem um ponto de encontro de surdos, é só perguntar onde fica.
São locais de lazer, troca de informações e, principalmente, um espaço
cultural.
            Estes pontos podem ser no Shopping da cidade, nas associações,
nas estações de metrô, dentre outros.
Nestes aplicativos o sujeito Surdo faz uso da sua língua diferente dos
citados acima que eles só interagem. 
Vejamos alguns:
 
a) Software de dicionários de libras
b) O MSN para o surdo
c) Projeto libras – tradutores: Citados abaixo
d) Ouvido biônico – implantes coclear
É importante lembrar que toda esta adaptação tecnológica não deixa a
casa da família de Surdos um ambiente silencioso. Por causa da ausência
da audição eles podem fazer muito barulho, como, por exemplo, ao
assistir a TV com o volume alto, nas conversas emitindo sons para chamar
atenção do outro, arrastar móveis, caminhando, etc.
Lembre-se: para se aprender uma cultura é preciso imergir nela, por isto
fica a dica:
 
 
        Visite e participe de eventos da comunidade Surda: escolas, igrejas,
associações, congressos, esporte, conversas entre amigos, etc.
        Tenha contato com pessoas surdas.
        Busque, estudo e pesquise sobre o Povo Surdo e sua cultura.
        Respeite e valorize as diferenças culturais.
        Respeite o espaço conquistado pelos Surdos.
 
            E por fim, não ignore estas particularidades da pessoa surda a sua
identidade e sua cultura.

Para saber mais sobre as Identidades surdas, faça um passeio no site


abaixo:

 O Déficit Auditivo
 
            Segundo uma pesquisa realizada em 2012, pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil 9,7 milhões com
deficiência auditiva (5,1%).
             A perda da audição é a terceira maior causa de deficiência que
atinge a população brasileira e pode estar relacionada a doenças ou
acidentes. Pode ainda apresentar graus e tipos diversos, que
caracterizarão o modo de tratamento. Ao contrário de que muita gente
pensa, a perda auditiva pode variar entre a dificuldade de ouvir sons, a
dificuldade em entender a fala e/ou a completa ausência de
reconhecimento sonoro. Sendo que o primeiro da perda ocorre em
relação aos sons da fala, ou seja, aos fonemas (CARMOZINE,2012).
            No decreto 5.626/2005, no artigo 2º, considera-se pessoa surda
aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo
por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.
       E no parágrafo único diz: é considerado deficiência auditiva a perda
bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB)[1] ou mais,
aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz,2.000Hz e
3.000Hz.

Característica da surdez

            Este conhecimento prévio sobre a perda auditiva, propiciará às


pessoas que por qualquer motivo, seja profissional ou não, a compressão
desse sujeito Surdo.
            Em relação ao período da perda auditiva pode ser: congênita ou
adquirida. A congênita é quando a criança nasce surda por qualquer fato.
Nesse caso, a criança é pré-lingual, ou seja, a surdez aconteceu antes da
aquisição da linguagem.
            No caso da surdez adquirida, o sujeito perdeu a audição em algum
momento da sua vida, podendo ser pré ou pós-lingual, ou seja, antes ou
depois da aquisição da linguagem.
            A perda auditiva pode ocorrer por múltiplos fatores, podendo ser
de origem condutivas ou sensorioneural. Citaremos apenas as perdas
sensorioneurais, mais comuns, que são dívidas em pré-natal, perinatais e
pós-natal.
            Pré-natal: Surdez adquirida no ventre da mãe por hereditariedade
ou por causas congênitas. No Brasil, a mais comum é a rubéola que em
alguns casos causa a surdez, mas podendo ser também a toxoplasmose, a
sífilis, fator Rh, desnutrição/subnutrição, alcoolismo materno, e ainda,
temos também as causas desconhecidas.
            Perinatais: A surdez ocorre por um problema no parto, podendo
ser, um parto prematuro, um trauma, anoxia (a falta e oxigenação no
cérebro), eritroblastose fetal (mulher com Rh -, gerando um filho Rh +).
            Pós-natal: são adquiridas após o nascimento. Os casos mais comuns
no Brasil são as sequelas da meningite, sarampo, caxumba,
drogas ototóxicas (alguns antibióticos), traumas físicos ou acústicos.
            Estas são algumas circunstâncias que podem acontecer em
qualquer fase da vida. No entanto, algumas podem ser evitadas, como um
pré-natal adequado ou políticas públicas eficazes.
            O diagnóstico para uma perda auditiva pode ser feito pelo
profissional fonoaudiólogo. Nos bebês são feitos no hospital, após dias do
nascimento, o teste é conhecido como “Teste da orelhinha”, e no segundo
ano em diante é feito a audiometria.
            O grau de severidade da pessoa com perda auditiva pode variar
entre autores, esta pesquisa foi baseada seguindo os critérios de Davis e
Silverman (1966).

Conhecer o período, tipo e o grau que da perda auditiva ajuda-nos a


compreender a pessoa surda e desenvolver um trabalho com melhores
resultados. Por isto a importância de conhecemos o período de aquisição
da língua pela criança Surda.
           Os processos de aquisição da língua de sinal por uma criança surda
com pais surdos são semelhantes para uma criança ouvinte com pais
ouvintes, desde que neste ambiente a criança não encontre barreiras no
seu aprendizado, adquirido, assim, espontaneamente a sua língua
materna. Algo que não acontece em 95% dos lares de surdos quando os
pais são ouvintes. Segundo FERNANDES, (pg.107, 2007). 

...já que 95% das crianças Surdas nascem em famílias


ouvintes que desconhecem a língua de sinais e
interagem exclusivamente pela oralidade com seus
filhos Surdos, é muito pequeno o número de Surdos
que seguem seu desenvolvimento linguístico nos
padrões de normalidade.
 

            Esta
realidade nos conduz a um estudo sobre as formas de
aquisição desta língua por crianças surdas e seus benefícios.
            Citaremos algumas fases ou estágios da aquisição da língua pela
criança Surda comparado com a criança ouvinte. Esta pesquisa foi feita
pelos pesquisadores Petitto e Marantette, onde as crianças estão em
ambientes linguístico sinalizante.

Estágio Pré-linguístico

            Esta fase é caracterizada pela emissão dos ruídos, que estão
relacionados ao estado orgânico da criança, como por exemplo a fome,
frio, etc.
Na medida que a criança  vai desenvolvendo-se os gritos diminuem e surgem os sons
conhecidos ( balbucio) que acontecem por volta dos dois meses de vida, onde ela
começa a brincar com os sons, isto ocorre com qualquer criança seja surda ou
ouvinte, porém nas crianças surdas elas usam além dos sons, o balbucio manual.
Lembre-se que esta criança está inserida no ambiente linguístico próprio dela, ou seja,
seus pais são usuários da língua de sinais.

Estágio de sinal

            Entre os 12 meses de vida até os dois anos, a criança Surda começa
a dar nome as coisas, ou seja, sinalizar as coisas, ela aprende a unir o sinal
ao objeto. Temos por exemplo, os sinais de: pai, mãe, água, entre outros.
Igualmente a criança ouvinte quando começa a falar, a criança Surda
também vai cometer alguns erros nos parâmetros de articulação, como as
trocas na configuração de mãos ou no ponto de articulação, movimento e
localização. 

            Neste estágio, a criança Surda, assim como a ouvinte,


frequentemente apontará para identificar os objetos. Na língua de sinais
temos o sistema pronominal que é constituído no ato de apontar, ao
entrar no estágio do sinal, acontece uma reorganização onde a criança
começa a formar conceito sobre este recurso como sendo elemento
gramatical da língua de sinais.

Estágio das primeiras combinações

            Os pesquisadores observam que aos dois anos surgem as primeiras


combinações de sinais com frases contendo duas palavras. Eles percebem
que as frases contêm a seguinte ordem: sujeito-verbo ou verbo-
objeto, dando início as relações gramaticais.

            Nesse estágio de primeiras combinações, a criança Surda começa a


fazer uso da gramática pronominal assim, como no estágio de sinal, porém
aqui é na tentativa de construção de frases, com erros igualmente da
criança ouvinte que usam a palavra ela ao se referir.

Estágio de múltiplas combinações

            Dos dois anos e meio aos três anos, esta criança Surda explode no
vocabulário. Ela começa a diferenciar os nomes dos verbos, fazendo uso
do sistema pronominal com propriedade. Sem diferença alguma da
criança ouvinte. 

               Aos cinco anos ela começa a adquirir o domínio completo da


língua de sinais, ao mesmo tempo que produz frases maiores e mais
complexas. Este estágio só vem a comprovar que a língua de sinais
preenche as mesmas funções cognitivas que a língua oral. Nos mostra que
para o cérebro não importa a modalidade da língua se visual-espacial ou
oral-auditiva, sua capacidade de representação, então, a simbolização a
formação de conceitos, são os mesmos.

            Diante desta pesquisa vemos a importância de propor um ambiente


educacional bilíngue para estas crianças Surdas.

            A educação bilíngue para pessoas surdas surgiu no final da década


de 70. Ela considera que o Surdo é um sujeito bilíngue por experimentar
no seu dia-a-dia duas línguas e duas culturas. O objetivo dessa educação é
que a criança surda seja instruída por professores surdos sinalizantes da
língua de sinais, porém não descaracterizando a importância de conhecer
a língua oral em sua modalidade escrita.

            Segundo Quadros (1997, p.37), a proposta da escola bilíngue é dar a


criança surda acesso as duas línguas no contexto escolar. Reconhecendo a
língua de sinais como língua natural e fazendo dela base para o ensino do
português na sua modalidade escrita. Como nos mostra o decreto
56262/05:

 
São denominadas de educação bilíngue aquelas em
que a LIBRAS e a modalidade escrita da Língua
Português sejam línguas de instrução utilizadas no
desenvolvimento de todo o processo educativo
(BRASIL,2005, pág.8).

 
             Após anos de imposição da educação oral, por parte de pessoas
ouvintes, percebe-se um movimento por parte da comunidade surda em
relação ao direito à educação em sua própria língua, a LIBRAS. Além disso,
permeava o desconhecimento e o não acesso às informações sobre o que
é surdez e a Língua de Sinais pelos profissionais que atuavam nas salas de
aula.

            A divulgação dessas informações por meio de estudos e pesquisas,


tanto de surdos como de ouvintes, levaram a uma nova proposta
educacional que é a Educação Bilíngue com o objetivo do uso das duas
línguas no espaço escolar.

            Em seu livro "Educação de Surdos", Quadros (1997, p.27) relata que
as pesquisas demonstram a adequação para o ensino da pessoa surda
levando em consideração a sua língua natural, auxiliando, assim, a
aquisição da língua oral em sua modalidade escrita, desenvolvendo todas
as faculdades linguísticas do letramento.

            Com isso, o que a comunidade surda busca é o respeito e a


autonomia das línguas de sinais, em busca de um plano educacional onde
abordem o processo de aquisição da língua natural e declara suas
necessidades psicolinguísticas. Como declara a UNESCO (1954).

 
(…) é um axioma afirmar que a língua materna – língua
natural – constitui a forma ideal para ensino a uma
criança. (…)  Obrigar um grupo a utilizar uma língua
diferente da sua, mais do que assegurar a unidade
nacional, contribui para que esse grupo, vítima de uma
proibição, segregue-se cada vez mais da vida nacional
(…) (UNESCO,1994, apud QUADROS, 1997, p.27). 

               A criança surda poderá até adquirir a língua oral, porém nunca de


forma espontânea ou natural, como acontece com a LIBRAS. Vejamos o
relato de um aluno sobre a Escola Bilíngue. Carlos[1], aluno de uma Escola
Bilíngue em Porto Alegre diz: "Quando eu era bem pequeno, estudei em
uma escola de ouvintes, mas eles falavam demais e a professora dizia que
tudo o que eu fazia estava errado. Minha mãe sempre era chamada na
escola até que ela resolveu procurar outro lugar para mim e encontrou a
escola bilíngue. Eu adoro essa escola, aprendo o português, brinco, tenho
aula de educação física, de artes". (CHAGAS, 2012).
.              A
criança surda se sentirá aceita no ambiente escolar quando tem a
possibilidade de uma comunicação sem barreiras, além disso o uso de
uma metodologia de ensino adequada às suas necessidades.

            O professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo,


Fernando Capovilla,[2] (2012) realizou uma pesquisa utilizando o
Programa de Avaliação do Desenvolvimento Escolar do Surdo (Pandes). A
mesma foi realizada nos anos de 2001 e 2011. O programa avaliou 8 mil
indivíduos surdos de quinze estados do Brasil, com idades entre 6 a 25
anos, do ensino fundamental ao superior. Cada aluno passou por mais de
20 horas de avaliação, como leitura alfabética, palavras desconhecidas e
novas, compreensão de texto, ortografia, memória, qualidade ortográfica,
conhecimento de sinais, entre outros.

            Concluiu-se que o conhecido é praticado por muitas escolas, o


Atendimento Educacional Especializado não substitui a educação bilíngue
de qualidade ministrada por sinalizadores fluentes (de preferência pessoas
surdas) em meio a uma comunidade linguística sinalizadora. Essa mesma
pesquisa demonstrou que a mente da criança surda tem especificações
psicolinguísticas relevantes que devem ser consideradas. Declara
Capovilla(2001):

 
Eu apoio este movimento simplesmente porque eu
descobri, por meio de pesquisa científica, que a causa
que ele defende é a correta. Eu descobri que a escola
bilíngue é uma necessidade fundamental para a criança
surda brasileira. Não estou de nenhum lado da briga.
Estou do lado da criança surda, isso sim, e ouvi o que 8
mil delas têm a dizer e a nos ensinar sobre o que é
melhor para ela (FENEIS, p.23, 2001). 

            De fato, os estudos do professor Capovilla mostram que o melhor


caminho educacional para o educando surdo é a Escola Bilíngue.
Devolvendo aos surdos a capacidade de adquirir o conhecimento através
de suas faculdades psicolinguísticas sinalizadas e visuais. De igual modo,
tendo acesso à leitura e escrita da Língua Portuguesa de forma
satisfatória. 
 
             

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