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palavra cultura geralmente causa muitas polêmicas entre seus pesquis
adores e leigos, por isto vamos nos deter apenas em dois conceitos, um
do dicionário Aurélio, no seu conceito geral, e o outro na definição da p
rofessora e pesquisadora Karin Strobel sobre o termo cultura surda.
Cultura: Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações in
telectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade. (Dicionário de por
tuguês)
Cultura surda: é o jeito do sujeito Surdo entender o mundo e de modifi
cá- lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com
as suas percepções visuais, que contribuem para definição das identida
des surdas e das “almas” das comunidades surdas (STROBEL, 2008,
p.24)
O ser humano, em contato com o espaço cultural,
reage e desenvolve sua identidade,
isto só acontece no coletivo. É com o outro que construirmos nossa id
entidade. Assim, a cultura se modifica e surgi com a produção de um
grupo que passa seus conhecimentos e experiências para a geração
futura. Na cultura surda não é diferente,
percebemos que ela abrange a língua,
as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.
Vejamos a que diz PERLIN,(2004,p.77-78).
[…] As identidades surdas são construídas dentro das
representações possíveis da cultura surda, elas mo
ldam de acordo com maior ou menor receptividade
cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa rece
ptividade cultural, também surge aquela luta politic
a ou consciência pela qual o indivíduo representa a
si mesmo, se defende da homogenização, dos aspect
os que tomam corpo menos habitável, da sensação d
e invalidez, de inclusão entre os deficientes, de meno
s-valia social.
Observamos no discurso acima como são construídas as Identidades Sur
das.
No livro “As imagens do outro sobre a Cultura Surda”, a professora Stro
bel fala sobre a relevância do contato da criança Surda com um Surdo ad
ulto, pois como essa criança geralmente nasce em um
lar de pais ouvintes, que
normalmente não conhecem a língua de sinais, este contato com uma
referência
linguística permitirá a criança adquirir um sentimento identificatório e c
ultural, onde não terá um olhar limitado, e nem futuras angústias ou ans
iedades, sobre quem ela é.
Vejamos um relato de experiência de uma criança surda com adul
to surdo pela primeira vez:
Existe esta necessidade por parte da criança surda, quando ela te
m o contato com o Surdo adulto e se for inserida na comunidade surda,
ela se sentirá motivada e valorizará sua condição cultural de ser Surdo,
sendo um sujeito com autoconfiança e facilidade de desenvolver relac
ionamentos com ouvintes, veem-se com diferente e não como
deficiente.
Geralmente, este contato citado por Laborit, só acontece na juven
tude ou na idade adulta, por causa da família que em alguns casos seja
por medo do desconhecido, seja por preconceito, impede a criança do
mesmo.
A cultura Surda pode ser compartilhada em vários locais: nas ass
ociações de surdos, nas igrejas, nas escolas, etc e fazem parte d esta
comunidade o s surdos e ouvintes, como: familiares, amigos, professo
res, intérpretes que, juntos com os surdos, lutam pelos seus direitos.
Em todo mundo temos associações de surdos onde são compartilh
adas sua cultura.
Ao afirmarmos que os surdos brasileiros sã
o membros de uma cultura surda não sig
nifica que todos os surdos no mundo co
mpartilham a mesma cultura simplesment
e porque não ouvem. Os surdos brasileir
os são membros da cultura surda brasilei
ra da mesma forma que os surdos america
nos são membros da cultura surda norte-
americana. Esses grupos usam a língua d
e sinais diferente, compartilham experiên
cias diferentes e possuem diferentes exp
eriências de vida. (KARNOPP,2006,p.99).
Os Surdos querem compartilhar seus costumes, histórias, tradiç
ões em comuns e suas peculiaridade culturais através dos seus artefat
os.
EXPERIÊNCIA VISUAL
Aqui podemos perceber claramente o modo como o sujeito Surdo perc
ebe o mundo, as suas experiências visuais os levam a refletirem sobre
suas peculiaridades. Observe esta experiência da professora surda ,
karin Strobel, com seu namorado ouvinte. (2008,pg.38).
“Uma vez meu namorado ouvinte me disse que faria uma surpresa para mim pel
o meu aniversario; falou que iria me levar a um restaurante bem romântico. Fo
mos a um restaurante escolhido por ele, era um ambiente escuro com velas e
flores no meio da mesa, fiquei meio
constrangida porque não conseguia acompanhar a leitura labial do que ele me fal
ava por causa de falta de iluminação, pela fumaça de vela que desfocava a i
magem do rosto dele, que era negro; e para piorar, havia um homem no canto
do restaurante tocando música que, sem poder escutar, me irritava e me fazia
perder a concentração por causa dos movimentos dos dedos repetidos de vai
e vem com seu violino. O meu namorado percebeu o equívoco e resolvemos ir a
uma pizzaria!”
Pela ausência da audição e do som, tudo é percebido e registrado atrav
és da visão. As expressões faciais e corporais, os movimentos, a alteração
do ambiente, tudo isto faz sentido para o sujeito Surdo.
Temos aqui outro relato de Stroel (2008,p.39) para exemplificar a imp
ortância das expressões faciais e corporais para a comunicação e infor
mação.
Eu estava sentada em sala de aula, em uma classe com outros alunos ouvinte
s, “olhando” distraidamente para os movimentos dos lábios da professora que
estava falando; de repente, a professora parou subitamente de movimentar os lá
bios e virou o rosto assustado para a janela. Percebi que toda a turma fazia o
mesmo e que todos correram para olhar pela janela. Eu, meio desnorteada e
curiosa, fiz o mesmo para ver o que provocou toda a algazarra da turma e perce
bi tardiamente que tinha acontecido uma batida de carro lá fora.
Estes dois relatos confirmam a relevância de
a criança surda ter um contato com o Surdo adulto para que a mesma t
enha acesso às informações.
Além disso este contato assegura a sua
identidade e cultura, que é transmitida naturalmente.
Existe também a necessidade de conscientizar a sociedade
a saber, conhecer, perceber, estar
mais sensível para a comunidade surda. A ausência de recursos visua
is em locais de grande circulação de pessoas é um grande problema
para um povo que é
visual. Um exemplo é a ausência de um painel eletrônico em
unidades de saúde, etc.
Na língua oral ao construímos uma frase usamos a entonação da
voz, nas línguas de sinais isto acontece pelo uso das expressões faciais
acompanhada dos sinais.
O artefato visual também é usado pelos Surdos oralizados, pois é
com o apoio da percepção visual que eles fazem a leitura dos lábios.
LINGUÍSTICO
Além das línguas de sinais, já citadas nos estudos, temos o sistem
a de escrita para escrever em qualquer língua motora-
visual: o SignWriting. Um acontecimento histórico para o povo
Surdo, pois diziam que a língua de sinais era uma língua ágrafa ( língua
sem escrita). Aqui podemos falar mais sobre essa escrita.
O Sign Writing é um sistema usado para escrever em qualquer
língua de
sinais, criado em 1974 por Valerie Sutton. No início, Sutton criou um s
istema para escrever danças, para notar os movimentos de dança, o
que
acabou despertando a curiosidade dos pesquisadores da língua de sinai
s dinamarquesa que estavam procurando uma forma de escrever os sin
ais. Foi registrada, na Dinamarca, a primeira página de uma longa histór
ia: a criação de um sistema de escrita da línguas de sinais.
No Brasil, o trabalho de adaptação do SignWriting à LIBRAS teve
início com o Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa, Marianne Stumpf (S
urda) e a Professora Márcia Borba, na Pontifícia Universidade Católic
a (PUC) do Rio Grande do Sul, em 1996. Foi mais uma conquista da co
munidade surda brasileira, como o apoio destes pesquisadores
(linguistas e profissionais da informática) que
se empreenderam para conseguir uma escrita que pudesse
dar conta de todas as necessidades de uma língua.
Abaixo podemos ver dois exemplos da escrita, o primeiro Temos uma pe
ssoa escrevendo e segundo uma frase com tradução.
FAMILIAR
Na maioria das famílias Surdas, o nascimento de uma criança surda é
algo natural e aceitável. Porém, na consulta com o pediatra e/ou com
fonoaudiólogo, em alguns casos, eles são aconselhados a não fazerem
o uso de sinais com o filho
porque vai causar "atraso na aquisição da língua oral" e que será
necessário a utilização
do aparelho auditivo ou fazer o implante coclear para que esta criança te
nha a oportunidade e falar.
Diante desta visão os autores Lane, Hoffmeister e Bahan(1996,pg.30) asseg
uram:
Se os profissionais oferecem tais estranhos conselhos, enxer
gando a criança surda não como um presente de Deus, ma
s como um problema, então os pais surdos que seguros na
sua identidade cultural, reconhecendo que eles têm mais
experiência e conhecimento em criar a crianças surdas do q
ue os profissionais que aconselham, ignoram tais informaçõ
es. Ressegurando que nada foi encontrado de errado com s
ua criança, que ela simplesmente surda, voltam para casa
e prosseguem com suas vidas, cercadas de recursos do
“Mundo Surdo”, que oferece suporte, encorajamento, e os m
eios para existir e contribui como um membro íntegro da soc
iedade, no mundo, de forma ampla, bem como no “Mundo S
urdo”.
Na família de ouvintes quando nasce uma criança surda, ao receb
er o diagnóstico da surdez, essa
família fica em choque, com sentimento de culpa, e, por fim, após
muitos questionamentos, vem a aceitação. Mas
até chegar a aceitação o caminho é longo e , ainda assim, a família
passa pelo processo de esperança achando que um dia seu filho vai ser
“normal”(ouvinte). Como isso não acontece, vem a decepção.
Assim como outras pessoas que têm contato com o sujeito Surdo,
eu já vistei e trabalhei em associações de S urdos, participo de eventos
com eles e em conversas informais, e até mesmo em
conversas formais, os Surdos relataram que, na maioria dos casos, os p
roblemas familiares são a ausência de diálogo, a falta de comunicação d
entro do lar nas horas das refeições, encontros da família, assistir a um
jornal ou novela. O surdo só observa as conversas
sem participar, mesmo que o assunto seja sobre ele.
Léo Jacob em sua biografia, nos descreve este sentimento que ac
ontece por causada das barreiras de comunicação.
Você fica fora da conversa à mesa do jantar. É o que se ch
ama de isolamento mental. Enquanto todos os outros falam
e riem, você se mantém tão distante quanto um árabe solitá
rio num deserto que se estende para o horizonte por todos
os lados. […] Sente-se ansioso por um contato. Sufoca por
dentro, mas não pode transmitir esse sentimento horrível a
ninguém. Não sabe como fazê-lo. Tem a impressão de que
ninguém compreende nem se importa. […]Não lhe é conce
dida sequer a ilusão de participação[...] (SACKS,1989,p.136)
.
Nas famílias onde se têm uma pessoa surda e ninguém sabe a língu
a de sinais, o
surdo fica sem informações ou qualquer diálogo entre os seus, porém,
em alguns casos é possível
que um dos membros da família se interesse e busque conhecer a língu
a e a cultura surda, facilitando a comunicação em família.
Vamos conhecer outro artefato desta cultura.
LITERATURA SURDA
A literatura Surda trata das experiências vividas do povo surdo.
Em muitos casos demostram sua dificuldade e/ou sua vitória sobre as o
pressões dos ouvintes, de como eles se saem em diferentes situações
e traz também a valorização da sua identidade surda.
Pelo fato da língua de sinais ser uma língua espaço-visual, muitos
surdos preferem gravar suas narrativas em Cd, DVD.
Atualmente, com as novas tecnologias, estas gravações
estão presente nos celulares e compartilhados nas redes socais. Elas ser
vem de pesquisas nas universidades, tanto para o sujeito Surdo quanto
para os ouvintes.
Diferentes artefatos culturais são produzidos no sentido de dar suste
ntação a determinados discursos sobre os surdos.
Muitos escritores Surdos optam por relatarem suas produções n
a língua escrita do seu país, assim a cultura surda passou a ter um espaç
o literário. O Brasil, como outros países, tem seus escritores surdos.
A escritora surda Gládis Perlin já publicou
diversos artigos, como: “As identidades Surdas” (1998);
“O ser e o está sendo Surdo” (2003);
“O local da cultura Surda” (2004);
“Surdos: o discurso do retorno”(2005);
“Surdos: por uma pedagogia da diferença”(2006);
Surdos: cultura e pedagogia”(2006).
O povo Surdo tem mudando a visão da história, trazendo o valor
e o empoderamento do povo Surdo com sua língua e cultura.
Temos outros autores Surdos, entre eles podemos citar o
baiano Maurício Barreto. Suas publicações você encontra no canal do Yo
utube, clicando na imagem abaixo:
Segue abaixo mais um exemplo de Literatura Surda.
- Vamos ler uma piada de Surdo - “Árvore Surda”. Clicando na imagem
você encontrará a mesma piada em libras.
A Árvore surda
Um homem morava em uma floresta muito grande. Ele trabalhava de cortar m
adeira. Ele procurava árvores grandes para derrubar.
Quando encontrava uma árvore batia com o machado para co
rtar. Depois ele gritava: - madeira... Então a árvore caia no ch
ão.
Então ele encontrou outra árvore. Viu que era muito alta e começou a
cortar. Ele gritou para a árvore. Mas a árvore não caiu.
Ele chamou um médico que entendia de árvores. O médico examinou a árvore e descobriu
que ela era surda.
O lenhador chamou um intérprete que falou em libras: - madeira. Então a árvore caiu.
Nesta piada o que destaca é a questão da comunicação: o lenhador fala
(oralmente) e a árvore não entende.
Podemos observar que os povos surdos tiveram a necessidade, como qu
alquer outro povo, de registrar sua atuação no mundo, as suas conquista
s, a sua língua de sinais e como tudo começou.
IDA SOCIAL E ESPORTE
São acontecimentos culturais como casamento, festas, esportes e etc.
Eventos onde os surdos participam através das estratégias, onde um conta
para o outro.
Uma pesquisa realizada com surdos americanos mostra que nove de d
ez membros da comunidade surda casam-se com membros do mesmo
grupo cultural. (LANA, 1992,p.31).
A comunidade surda promove desfiles e bailes onde
alguns surdos, que sentem a vibração da música, gostam de dançar e
outros simplesmente conversam.
Tem surdo que gosta de esporte radical como o Carlos Jorge que é su
rdocego e prática o mergulho. Clique na imagem abaixo e leia uma
matéria sobre ele e outras histórias sobre o tema.
Temos também a cearense Bruna Barroso que venceu o título de Miss Su
rda Brasil, em 2012, e sua vice, a mato-grossense Reanny de Oliveira,
ficou em segundo lugar no Miss Deaf International, realizado em Ancara,
na Turquia.
No Brasil, em 2002, na cidade de Passo Fundo, no Estado do Rio Grande
do Sul, aconteceu a 1º Olimpíadas de Surdos do Brasil. Houve desfile de
times, hasteamento das bandeiras e o Hino Nacional sinalizado.
A cada quatro anos é realizada a Olimpíadas Mundia dos Surdos. Em 200
7, na Austrália, a dupla de vólei de praia brasileira
ficou em quinto lugar com Alex Borges e Alexandre Couto. Com isto, pod
emos observar que a vida social do sujeito Surdo é como a de qualquer o
utro povo.
Os Surdos desenvolveram um
estilo próprio para sair bem em certas situações de constrangimento por c
ausa da comunicação.
Por exemplo: um rapaz Surdo queria trabalhar no caixa do Supermerca
do, o gerente perguntou como ele
iria perguntar para os clientes a forma de pagamento? Ele simplesmente
mostrou um cartaz com as imagens de cartões de créditos, dinheiro e c
heque. Era só o cliente apontar e entregar, ele registrava. Isto aconteceu
aqui em Salvador.
São várias situações, algo que acontece diariamente com os surdos. Vej
amos esta experiência de um surdo aos 6 anos de idade.
Aconteceu aos 6 anos de idade, quando mi
nha mãe me mandou comprar uma mamad
eira para meu irmão, na época um bebê. El
a não se preocupava com o fato de eu ser
surdo. Foi a primeira vez que comprei algu
ma coisa sozinho. Na loja, fiquei olhando, p
rocurando nas prateleiras a mamadeira para
apontar, mas não havia nenhuma à mostra.
O lojista me pediu para escrever o que que
ria, mas aos seis anos, eu ainda não sabia e
screver. Então desenhei a mamadeira no pap
el, o homem entendeu e eu voltei feliz da vid
a para casa. (PIMENTAL,1999,p.62).
ARTES VISUAIS
Uma coisa que a população
surda gosta é de criação artística, onde eles sintetizam suas emoções, s
uas histórias, subjetividades e, principalmente, sua cultura.
O artista Surdo tem o objetivo de mostrar através da arte seu
de pensar, divulgar suas crenças e seu jeito de interpretar sua cultura
O sociólogo Surdo Anderson relata:
“As pessoas surdas também acham a língua de sinais, como qualquer ou
tra língua, uma maneira poderosa de expandir sua criatividade e prazer a
rtístico.”
Teatros nacionais de surdos em vários países fizeram programas
de grande sucesso.
Artistas surdos têm conseguido mostrar língua de sinais em suas
pinturas, ilustrações ou trabalho esculturais. (1989,p.158).
Temos muitas expressões artistas de pessoas surdas, como poesi
as, esculturas, pinturas, etc. Por possuir uma língua de caráter espaço-
visual o sujeito Surdo tem facilidade nas expressões corporais e aproveit
am para expressar sua identidade e cultura usando as peças teatrais, co
mo acontece em todo Brasil. Aqui em Salvador tivemos a peça “Difere
ntes” que foi encenada com atores surdos e ouvintes e apresentada e
m vários locais. Além das peças temos as contações de histórias, poesi
as, narrativas. Podemos encontrar estes materiais em DVD, e nas red
es socais como YouTube.
Na comunidade surda temos muitos artistas: Marlee Matlin-artiz,
americana que ganhou o Oscar de melhor atriz em “Filhos do Silêncio”,
no ano 1987. A Emanuelle Laborit, atriz francesa e escritora do livro “O
Vôo de gaivota”. E no Brasil temos o pesquisador e ator Nelson Pimenta
que possui uma empresa de vídeos, a LSB – Língua Brasileira de Sinais.
O Rimar Romana que possui uma
Companhia de Teatro “Cia. Arte e Silêncio”. O ator Reinaldo Pólo que atu
a
como palhaço há mais de 50 anos, faz shows em clubes. São várias as
produções do sujeito surdo, porém quando nos referimos a produção
musical, ela não faz parte da cultura, porém o surdo tem o direito d
e conhecer e ter informações sobre a mesma, é preciso acima de tudo o
respeito ao direito de gostar ou não.
POLÍTICA
As associações de surdos, quando foram formadas, tinham o
objetivo de ajudar os surdos na comunicação com os ouvintes, com o
passar dos anos este objetivo mudou para questões politicas, onde os
surdos reúnem-se para discutir melhores condições e luta pelos seus
direitos judiciais e da cidadania.
Geralmente têm sede própria e seu estatuto com uma diretoria
composta por membros Surdos. Citamos dois lideres: a Ana Regina e
Sousa Campello e o Antônio Campos, que influenciaram muito o
movimento surdo no Brasil.
[…] Ana Regina e Sousa Campello é Surda de nascença,
maranhense formada em Biblioteconomia e
Documentação, Pedagogia, mestrado na área de
linguística e dourado na área de educação na UFSC. A
Ana foi uma militante politica importante no Brasil, ela
desafiou e participou em movimentos na área dos
surdos há mais de 30 anos e juntamente com outros
surdos lideres criou a FENEIS (Federação Nacional de
Educação e Integração e Surdos), uma conceituada
instituição que defende os direitos dos surdos e sua
cidadania. (STROBEL,2007,p.22)
Federação Nacional de Educação e Integração e Surdos/FENEIS é
uma entidade sem fins lucrativos, seu objetivo e a defasa do povo surdo.
Aqui ela está filiada a Federação Mundial dos Surdos/WDF.
Vejamos uma entrevista com Antônio Campos, um dos fundados da
FENEIS no Brasil.
Minha primeira experiência foi como diretor da
Associação dos Surdos de Minas Gerais, onde atuei por
32 anos. Depois fundei a Federação Mineira Desportiva
de Surdos e a Confederação Brasileira de Desportivo dos
Surdos, trabalhando como voluntário. Mais tarde me uni
a um grupo de surdos para fundar a Federação Nacional
das Associações de Surdos. Sempre tive o objetivo de
estimular a integração entre surdos e ouvintes, valorizar
a cultura do surdo, o uso da Libras e a prática de
esportes. Tive a oportunidade de fazer um curso de
liderança nos Estados Unidos, na Universidade de
Surdos. E sou membro da Federação Mundial de Surdos.
A vitória por tudo que já conquistamos na Feneis não é
só minha. Eu sou muito agradecido a comunidade dos
surdos. (GISELE,2007)
Além das associações, existem outros movimentos e datas
comemorativas onde os surdos têm buscando mostrar, relembrar e
conquistar seu espaço no mundo, entre eles podemos cita, aqui no Brasil,
o “Dia do Surdo”, dia 26 de setembro, pois foi o dia que fundou a primeira
escola de Surdos no Brasil; O setembro azul, mês de comemoração à
surdez em todo território nacional. O "Dia da Libras", 24 de abril, data de
reconhecimento da Libras pela lei 10.436/2002, e a criação do curso de
graduação em Licenciatura Letras/LIBRAS em 2006 ( decreto 5.626 /05), a
presença do intérprete em sala de aula e a disciplina de Libras no
currículo de formação dos cursos de licenciaturas e pedagogia.
MATERIAIS
Para suprir as especificidades da comunidade surda e facilitar a
convivência com o mundo dos sons, as indústrias têm desenvolvido
recursos tecnológicos adaptados.
O Déficit Auditivo
Segundo uma pesquisa realizada em 2012, pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil 9,7 milhões com
deficiência auditiva (5,1%).
A perda da audição é a terceira maior causa de deficiência que
atinge a população brasileira e pode estar relacionada a doenças ou
acidentes. Pode ainda apresentar graus e tipos diversos, que
caracterizarão o modo de tratamento. Ao contrário de que muita gente
pensa, a perda auditiva pode variar entre a dificuldade de ouvir sons, a
dificuldade em entender a fala e/ou a completa ausência de
reconhecimento sonoro. Sendo que o primeiro da perda ocorre em
relação aos sons da fala, ou seja, aos fonemas (CARMOZINE,2012).
No decreto 5.626/2005, no artigo 2º, considera-se pessoa surda
aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo
por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.
E no parágrafo único diz: é considerado deficiência auditiva a perda
bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB)[1] ou mais,
aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz,2.000Hz e
3.000Hz.
Característica da surdez
Esta
realidade nos conduz a um estudo sobre as formas de
aquisição desta língua por crianças surdas e seus benefícios.
Citaremos algumas fases ou estágios da aquisição da língua pela
criança Surda comparado com a criança ouvinte. Esta pesquisa foi feita
pelos pesquisadores Petitto e Marantette, onde as crianças estão em
ambientes linguístico sinalizante.
Estágio Pré-linguístico
Esta fase é caracterizada pela emissão dos ruídos, que estão
relacionados ao estado orgânico da criança, como por exemplo a fome,
frio, etc.
Na medida que a criança vai desenvolvendo-se os gritos diminuem e surgem os sons
conhecidos ( balbucio) que acontecem por volta dos dois meses de vida, onde ela
começa a brincar com os sons, isto ocorre com qualquer criança seja surda ou
ouvinte, porém nas crianças surdas elas usam além dos sons, o balbucio manual.
Lembre-se que esta criança está inserida no ambiente linguístico próprio dela, ou seja,
seus pais são usuários da língua de sinais.
Estágio de sinal
Entre os 12 meses de vida até os dois anos, a criança Surda começa
a dar nome as coisas, ou seja, sinalizar as coisas, ela aprende a unir o sinal
ao objeto. Temos por exemplo, os sinais de: pai, mãe, água, entre outros.
Igualmente a criança ouvinte quando começa a falar, a criança Surda
também vai cometer alguns erros nos parâmetros de articulação, como as
trocas na configuração de mãos ou no ponto de articulação, movimento e
localização.
Dos dois anos e meio aos três anos, esta criança Surda explode no
vocabulário. Ela começa a diferenciar os nomes dos verbos, fazendo uso
do sistema pronominal com propriedade. Sem diferença alguma da
criança ouvinte.
São denominadas de educação bilíngue aquelas em
que a LIBRAS e a modalidade escrita da Língua
Português sejam línguas de instrução utilizadas no
desenvolvimento de todo o processo educativo
(BRASIL,2005, pág.8).
Após anos de imposição da educação oral, por parte de pessoas
ouvintes, percebe-se um movimento por parte da comunidade surda em
relação ao direito à educação em sua própria língua, a LIBRAS. Além disso,
permeava o desconhecimento e o não acesso às informações sobre o que
é surdez e a Língua de Sinais pelos profissionais que atuavam nas salas de
aula.
Em seu livro "Educação de Surdos", Quadros (1997, p.27) relata que
as pesquisas demonstram a adequação para o ensino da pessoa surda
levando em consideração a sua língua natural, auxiliando, assim, a
aquisição da língua oral em sua modalidade escrita, desenvolvendo todas
as faculdades linguísticas do letramento.
(…) é um axioma afirmar que a língua materna – língua
natural – constitui a forma ideal para ensino a uma
criança. (…) Obrigar um grupo a utilizar uma língua
diferente da sua, mais do que assegurar a unidade
nacional, contribui para que esse grupo, vítima de uma
proibição, segregue-se cada vez mais da vida nacional
(…) (UNESCO,1994, apud QUADROS, 1997, p.27).
Eu apoio este movimento simplesmente porque eu
descobri, por meio de pesquisa científica, que a causa
que ele defende é a correta. Eu descobri que a escola
bilíngue é uma necessidade fundamental para a criança
surda brasileira. Não estou de nenhum lado da briga.
Estou do lado da criança surda, isso sim, e ouvi o que 8
mil delas têm a dizer e a nos ensinar sobre o que é
melhor para ela (FENEIS, p.23, 2001).