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Linguagens e tecnologia

A linguagem é o estruturante da vida em sociedade. Na era das altas


tecnologias,ela não é apenas um fator a mais dentro do complexo de
variáveis que recompõem nosso universo da sociabilidade: é um
componente central.

A linguagem, por isso, pode ser acionada para fins totalitários, como
na experiência do nacional-socialismo e a imposição lingüística do
Führer e seus asseclas e em 1984 de George Orwell, mas, da mesma
maneira, por força de suas enormes potencialidades, para fins
democratizantes.

O que observamos hoje, em todo o planeta, está longe do quadro


terrorista testemunhado pelas gerações precedentes na Europa, na
Ásia e em outros locais de expressa violação dos direitos mínimos dos
cidadãos, em que o poder totalitário barbarizou a civilização
ocidental. Tampouco podemos dizer que o quadro atual, com a
chamada "globalização", o enredamento de todo o mundo por
sistemas múltiplos de comunicação informatizada e sistemas de
processamento e transmissão de dados, seja o supra sumo da
democracia. As coisas mudam mas permanecem iguais.

Digamos que o atual sistema informacional planetário instaurou um


novo cógido, um novo regime de comunicações, uma segregação
branca, através da qual o planeta permanece desigual, desumano e
estimulador de conflitos e violência generalizada mas a cena
terrorista desaparece. Como se os decisores, mal-sucedidos com as
formas ostensivamente mal-vistas de opressão, tivessem optado por
um branqueamento, por uma "purificação" das formas de domínio, de
tal sorte que as populações, ignorando a presença visual do terror, o
desacreditassem de vez. Mais uma vez, domínio da imagem,
precedência da linguagem sobre o ato.

Este workshop interessou-se pela questão da linguagem. A que novos


labirintos ou mesmo becos-sem-saída estariam nos conduzindo as
novas formas de reducionismo lingüístico promovido pelo sistemas
eletrônicos? Trata-se da "iconocracia extensiva, excessiva, totalitária
e esvaziada" (E. Trivinho), tipo de info-semiose que enquadra
práticas e ações, atuando como equivalente geral da sociedade, e que
está na fronteira para o capitalismo informatizado. Não obstante,
carrega em si também a "senha de acesso" para o novo mundo,
separando incluídos de excluídos.

O "fechamento do universo da locução", como dizia há 30 anos


Herbert Marcuse, é o traço possivelmente mais atual dessa
informatização da linguagem social provocando os "esvaziamentos"
lingüísticos. Mais ainda: as máquinas operam com linguagens, que,
por sua vez, impõem-se em nosso cotidiano, de certa forma, nos
adaptando a elas. Este efeito bumerangue das tecnologias supõe,
contudo, possibilidades criativas. É aqui que se intala a poiesis, de
que tratou também este workshop. O termo grego evoca a criação,
formação ou produção de algo, de onde derivou a palavra poesia.
Conforme nosso convidado, Eugenio Coseriu disse que a linguagem
funcional é uma redução drástica da grande linguagem, que é a
poética. Poética, assim, como amplitude lingüística, o universo
ilimitado de possibilidades, o grande reduto das escolhas
probabilísticas da língua. Se a linguagem eletrônico-mediática (que
ele chama de "funcional") reduz, caberia aos agentes re-ampliá-la,
fazendo uso da criatividade, da produção "poética", isto é, da poiesis.
Para isso, caberia um "olhar semiótico" ao mundo circundante,
captando no movimento contínuo, na velocidade icônica, no
transcurso acelerado de todos os tipos de sensação, um observar
próprio, uma parada "clínica", um debruçar-se sobre a coisa que
permitiria a emanação do original. Esta seria a "resistência" à
uniformização, recurso à mão de qualquer um que esteja
sensibilizado diante do mundo e não deseja vê-lo passar, sem mais.

Entretanto, como na práxis psiquiátrica, uma relevação pode ser


incômoda. Toda operação lingüística e toda desconstrução semiótica,
diz Izidoro Blickstein, é incômoda e dolorosa. Desmontar e remontar,
ler o que não está expresso, destilar sentidos e informações de
linguagens cotidianas é um ato criativo e capaz de resgatar a
polifonia, o diverso, o inusitado. Esta seria a chance do homem da
era informática, buscando rupturas onde há fusões, o novo onde só
aparecem repetições, o criativo onde o que se vê é apenas o
imitativo. Seria um sinal da sua "desobediência" ao sistema, uma
revolta à imperiosidade maquínica e lingüística com sua tendência
padronizadora sobre seres que, consciente ou inconscientemente,
incorporam a estratégia maliciosa presente em todas as coisas.

AE 23 - LINGUAGEM E TECNOLOGIAS

O Centro de Estudos e Pesquisas em Novas Tecnologias,


Comunicação e Cultura (NTC),dá início ao seu 23º workshop,
discutindo o tema Linguagens e Tecnologia. Trazemos como
convidado especial Izidoro Blikstein, nosso ex-colega da Escola de
Comunicações e Artes, docente da Faculdade de Filosofia da USP e da
Fundação Getúlio Vargas. O NTC dedica-se, já há alguns anos, aos
estudos das tecnologias de comunicação, não do ponto de vista
formal, enquanto técnicas, mas no seu cruzamento com a cultura, de
forma geral, e com a linguagem. Defende-se que as tecnologias
interfiram na maneira como a linguagem é estruturada, visto que
esta, naturalmente, é o estruturante da cultura. O ponto de partida
desse pressuposto é a pesquisa sobre as transformações do universo
cultural a partir da introdução das técnicas, especialmente da década
de 50 para cá.

Ciro - O Centro tem se utilizado, em suas reflexões sobre a cultura,


de alguns críticos da linguagem, não especialmente lingüistas ou
teóricos da linguagem, mas estudiosos da comunicação ou da
sociedade. Retomou-se ultimamente o discurso de Herbert Marcuse,
apesar de um tanto distante da época atual. Este autor foi um dos
primeiros a levantar a hipótese de que os sistemas de comunicação
promovem um fechamento do universo da locução. Através da
introdução de elementos que ele chama de mágicos, autoritários e
rituais, existiria uma perda das mediações que o conceito, digamos
assim, propicia na língua. Transportando esses fatos para o presente,
vê-se que os sistemas eletrônicos, utilizados hoje em grande escala
promovem, através do processo de iconização, de transformação dos
elementos da cultura em ícones, um distanciamento do conceito. A
questão é até que ponto esse campo conceitual se perde, de fato,
quando se trabalha com a linguagem cada vez mais visual e redutora
dos meios de comunicação? Esses ícones reduzem a possibilidade dos
conceitos, ou seja, da mediação e, por derivação, do pensar, da
abstração, como dizia Marcuse? A linguagem, assim, perderia o
componente de tensão ou sua reverberação cultural, política e
histórica, ao se restringir a ícones; a palavra ocuparia o lugar do
conceito. Essa reflexão vai na direção de outros pensadores mais
modernos, como Jean-François Lyotard, que em seu trabalho sobre o
fim das narrativas lembra a análise de Walter Benjamin sobre o fato
de, nos tempos atuais, ter-se perdido a capacidade de narrar. O
mesmo inspirou Paul Virilio a falar que na era tecnológica, o homem
teria perdido a capacidade de ler, instalando-se uma "dislexia" na
cultura, visto que estaria ocorrendo um desinvestimento na leitura
numa sociedade quase totalmente visual. Ou seja, em que medida,
de um ponto de vista mais amplo, o processo descrito ocuparia toda a
sociedade, a ponto de interferir na produção da cultura e no modo
como a linguagem é traduzida para essa mesma cultura? Existe outra
dimensão deste problema, mais eminentemente lingüística, referente
ao fato de alguns pesquisadores afirmarem que na sociedade
tecnológica se fala menos, cada vez menos existe a troca, devido à
limitação do universo lingüístico. Operar-se-ia uma espécie de
empobrecimento cultural, de tal forma que mesmo a experiência
compartilhada entre duas pessoas giraria sempre em torno do
mesmo, ocorrendo uma redundância cultural no processo de
circulação de signos lingüísticos, algo característico da era
tecnológica. São preocupações de várias ordens, mas todas
direcionadas à questão de como a linguagem sofre interferência dos
processos tecnológicos de comunicação. Que tipo de nova linguagem
está se estruturando, se é que isto ocorre? Que perspectiva se abre
ou fecha? Em que medida os sistemas de comunicação, que operam
hoje de uma forma, digamos assim, mais imagética do que
conceitual, instauram um universo diferenciado, totalmente novo,
trazendo outras possibilidades ou reduzindo as existentes, como falou
no século passado Karl Kraus em relação ao campo jornalístico, que,
segundo ele, reduziria drasticamente o universo lingüístico de uma
cultura. Será que este reducionismo estaria se transferindo para a
linguagem visual, das imagens, que também reduzem o espaço da
cultura? E mais, esses signos e os processos usados em linguagem
informática, cada vez com menos palavras, vocábulos, levariam à
chamada infantilização da cultura? Estaríamos diante de uma nova
sintaxe? Há interferência nos padrões da linguagem, chegando a
alterar a maneira de ela se estruturar?

Esses signos e processos usados em linguagem informática, cada vez


com menos palavras, vocábulos, levariam à chamada infantilização
da cultura? Será que isso cria uma nova sintaxe?

linguagem em mutação

Izidoro - Quero inicialmente apresentar meus agradecimentos pelo


convite, com o qual vocês me honraram, e manifestar a satisfação de
estar de volta à ECA, da qual fui durante algum tempo professor. Fico
muito gratificado pelo convite por essa razão primeira, mas também,
pela fecundidade do tema que me foi proposto. A apresentação de
Ciro é mostra desta abrangência; quantas questões e problemas a
relação entre linguagem e tecnologia envolve? Preparei algumas
notas sobre essa temática e percebo que muitos dos
questionamentos levantados por Ciro encontram referências no texto
que elaborei. Aliás, isso era de esperar, porque quando nos
preocupamos com essa relação entre linguagem e tecnologia, muitas
vezes vêm à tona referências ao empobrecimento da linguagem, à
primazia dos ícones e a toda esta tecnologia, que se revela cada vez
mais insuperável em termos de agilizar o processo comunicativo.
Algumas situações que ocorrem comigo devem ter a ver com todos.
Se alguém me pede um documento, eu posso digitá-lo, passá-lo por
fax e resolver a questão instantaneamente. Há pelo menos duas
décadas, lembro-me de estar preparando minha tese de
doutoramento e utilizava tesoura, cola, máquina de escrever e, a
cada passo, interrompia o texto para apagar com borracha e recolar,
em um complexo trabalho braçal. Fico espantado, hoje, ao poder
elaborar um texto tendo no microcomputador a possibilidade de
alterá-lo, mudar a ordem, apagá-lo, deletá-lo, acessar outro e ainda
salvar aquilo que tenho. Já estou perfeitamente enfronhado no
"informatês" e, de fato, é um salto não só tecnológico mas no tempo
e pode ser de qualidade também, desde que se tenha idéias atrás de
toda essa tecnologia, porque ela é, como toda e qualquer tecnologia,
um meio e não um fim em si, embora freqüentemente seja assim
considerada. À primeira vista, linguagem e tecnologia é um tema que
sugere pelo menos duas reações; existe um lado mais prático,
operacional, que conheço razoavelmente bem, pois atuo como
professor de comunicações na Escola de Administração de Empresas
da Fundação Getúlio Vargas e, nesta condição, tenho a oportunidade
de trocar idéias e ouvir pessoas, percebendo quais são as
expectativas do mercado empresarial. A expectativa é, antes de tudo,
de competência. Há uma idéia geral de competência, eficiência e
eficácia no campo empresarial e, portanto, uma primeira reação é
essa postura que classifico de "um pouco behaviorista", "um pouco
taylorista", segundo a qual, usando uma expressão típica de autores
como Alvin Toffler, há muitas ondas, nas quais o gerente do futuro
precisa dominar, não só as novas tecnologias mas suas linguagens,
de modo a poder efetivamente assumir seu papel. O fax, a Internet,
as infovias, etc., são meios e, ao utilizá-los, o gerente do futuro tem
de ser competente, rápido, dinâmico. Ele tem um caráter
transnacional, não pertence a pátria alguma, tem de dominar
competentemente o inglês e o "informatês". O que se espera deste
gerente do futuro, se é que ele já não é do presente? Não só
conhecimentos técnicos na área empresarial, mas uma capacidade de
liderança que está em relação direta com o domínio da tecnologia da
comunicação e da informação. Essa é uma reação, mas há outra
exatamente contrária e que retoma vários pontos e indagações
apresentado por Ciro. Trata-se da postura política, segundo a qual, a
linguagem das novas tecnologias é fonte de poder e, como tal,
elitista, discriminatória, deixando na sombra quem não tem acesso a
essas tecnologias e linguagens. Retomando a afirmação de Ciro, esta
é uma linguagem eminentemente icônica e apresenta, digamos
assim, como algo do passado, a cultura linear, literária, lingüística. Às
vezes, é preciso compreender como isso se dá na nova geração.
Fernando Gabeira tem uma crônica muito interessante em que diz
que os especialistas em educação devem compreender como é a
mente do jovem atualmente, uma vez que ele não está
necessariamente preso a essa cultura lingüística e linear à qual
estamos habituados, ao menos pessoas da minha geração, na qual
fomos educados. Ele tem outros tipos de reação e nos
surpreendemos ao verificar a agilidade com que joga um videogame,
a rapidez com que manipula todo este aparato tecnológico. Pode-se
lembrar, a respeito dos vícios dessa cultura lingüística e linear, a
observação ou anedota contada por Michel Tardy, em seu livro O
professor e as imagens. Ao mostrar a que ponto nós, de uma geração
mais antiga, estamos presos à cultura lingüística e linear, ele contava
o caso de um professor de educação física que, por medo de ser
criticado pelo fato de os alunos não apresentarem matéria escrita em
cadernos, lecionava natação por ditados e obrigava seus alunos a
fazerem ditados reproduzindo como era o exercício da natação.
Assim, ele atribuía credibilidade à sua disciplina. Na verdade, parece
que, realmente, essas novas linguagens não existem de modo
autônomo. Elas estão presas, envolvidas, implicadas em todo um
aparelho tecnológico, que tampouco existe de forma independente,
mas é conduzido por determinado poder político e econômico que
tem uma ideologia particular. Não se trata apenas da linguagem ou
da tecnologia em si, não se pode fazer essa análise sem perceber um
macrocontexto em que estão inseridas. Elas existem em função de
uma visão ideológica, apoiada em uma política, em uma economia.
Então, é preciso desenvolver esta análise macro, percebendo o
contexto em que elas se encontram, sem passar por cima de uma
questão preliminar, que é de ordem lingüística e, às vezes, pode ficar
obliterada nesse debate. Tenho impressão de que se passa por cima,
ao demonstrar preocupação e temor em relação às novas linguagens,
do inevitável princípio lingüístico e semiótico, que é o da adequação
dos códigos lingüísticos às novas práticas sociais e vice-versa. Como
se percebe essa adequação? Basta recuperar a história das línguas e
a própria etimologia para detectar essa adequação dialética que
começa nas várias figuras de linguagem, que são a metáfora e a
metonímia, em particular, e depois gera signos que, se no início eram
realmente metafóricos e figurados, se estabilizam a partir dessa
adequação entre códigos e práticas sociais e passam a ser signos
normais na língua. O que ocorre agora, com essas novas linguagens,
ocorreu no passado e em todo o processo de mutação lingüística. Por
exemplo, no caso da passagem, embora esse termo seja muito forte,
mas, digamos assim, da evolução do latim vulgar para as línguas
neolatinas, havia uma expressão metafórica usada pelos marinheiros
que era plicare vela, literalmente dobrar as velas, e, por extensão,
chegar ao destino. É assim que se explica como este verbo latino
originou o português "chegar", do ponto de vista fonético e também
semântico. Mas esse mesmo termo originou o francês plier, que
aparece, por exemplo, em saia plissada. No momento da sua criação,
o termo era metafórico, mas depois perdeu esse sentido, como testa,
que indicava um vaso de barro ou moringa onde se punha água e
depois, metaforicamente, foi utilizada para indicar a cabeça, em
latim, porque caput era um termo já muito desgastado, que aparecia
tantas vezes, em tantos contextos, que aos poucos o povo foi
introduzindo testa. Mas existe hoje caco ou moringa também para
indicar cabeça, quando a pessoa diz "estou de caco cheio". Também
por criação metafórica existe um termo latim, tegula, que originou
telha. Ele vem da raiz "tec", a mesma que aparece em protector, que
significa cobrir; tegula era um objeto para cobrir a casa. Curioso que,
quando vou comprar telhas agora, jamais penso que telha tem
relação com protetor, embora ambos sejam da mesma raiz latina. E
assim os exemplos se multiplicam. Quando o camponês conseguia,
com um arado, vertere ou vortere, isto é, revolver a terra, ele abria o
produto desse vertere, que era o versu, o sulco feito pelo arado. Mas
depois, metaforicamente, por comparação, o escriba, como também
abria sulcos nas tábuas de cera, esses se chamaram versos.
Basta recuperar a história das línguas e a própria etimologia para
detectar essa adequação dialética que começa nas várias figuras de
linguagem e depois gera signos que, se no início eram realmente
metafóricos e figurados, se estabilizam e passam a ser signos
normais na língua.

A história dos termos mostra que, quando há necessidade da criação


de um novo conceito, realmente se recorre a possibilidades que a
língua oferece. Mas elas estão aí, também para essa adequação a
novas tecnologias, hábitos ou costumes. Um inglês não gostaria
muito de saber que flirt vem do francês, fleureter, que significa atirar
flores na pessoa cortejada. Fleureter, se pronunciado no inglês é flert,
depois flurt, e hoje nós temos flirt, que passou para o francês como
se fosse uma palavra inglesa. Essa dança de significados e de formas
é impulsionada pela necessidade de adaptação a novos significados e
práticas sociais. Assim, também o vocabulário da informática resulta
de adaptações; salvar, acessar, que pode ter causado estranheza em
um primeiro momento, hoje é um signo, para usar uma expressão de
Ferdinand de Saussurre, absolutamente arbitrário, convencional, que
funciona tão bem como layout, que já está aportuguesado, já se
escreve L-E-I-A-U-T-E, como se encontra no Aurélio; o mesmo ocorre
com copidesque e futebol. Seria até reacionário e conservador quem
quisesse, como aquele famoso purista, Castro Lopes, insistir, por
exemplo, no uso da palavra convescote em vez de piquenique,
ludopédio em vez de futebol, se bem que ele tenha vencido em um
caso, que foi o de cardápio, em lugar de ou junto a menu. Mas aí o
que venceu foi o princípio sausurreano do consenso social, que
acabou adotando cardápio e este tornou-se de uso comum, como
poderia não ter ocorrido. Também colabora para este processo de
adequação toda a pressão da chamada etimologia popular, a partir da
qual determinada percepção enviezada de uma palavra leva, na
verdade, a estabilizá-la mesmo que esteja errada. As pessoas dizem,
por exemplo, "eu vou sair da empresa, estou de aviso breve",
confundindo-se com prévio, mas de fato ela está para sair. Ou, então,
para o francês jour ouvrable, a interpretação foi "dia abrível", dia em
que as lojas abrem, mas na verdade a origem é dia em que se
trabalha, de ouvrer, em vez de ouvrir. Ou, ainda, contradança, que,
na verdade, vem de country dance. Essas adaptações sempre
ocorreram e, o próprio Eugene Naida, grande especialista norte-
americano em tradução, perguntava-se por que nos escandalizarmos
com as metáforas? Tudo é metáfora na língua. As metáforas que
depois se estabilizam; como as criações, estrangeirismos,
barbarismos, fenômenos de etimologia popular. A força do consenso
vai fazendo com que se passe a usar quase que automaticamente os
termos. Exatamente aí está o problema e não na adoção de novos
termos, linguagens ou até mesmo ícones. Posso utilizar muitos ícones
sem com isso perder minha capacidade de articulação lingüística. O
problema está na automatização da linguagem por força desse poder
que a cerca, do mito da competência, da eficácia, etc.

Tudo é metáfora na língua. As metáforas que depois se estabilizam;


como as criações, estrangeirismos, barbarismos, fenômenos de
etimologia popular. A força do consenso vai fazendo com que se
passe a usar quase que automaticamente os termos.

Há uma automatização da linguagem que resulta e ao mesmo tempo


produz uma espécie de miopia, perda de percepção ou sensibilidade
no uso dos termos. Como observou Ciro, por falta de cultura, história,
etimologia, o que vai acontecendo é que com esse, digamos,
totemismo dos novos ícones, parece que todo o resto não tem valor
algum. No entanto, seria preciso recuperar, sempre que possível, a
etimologia, que chamaria de raio X semiótico da linguagem. Ela
permite surpreender a criação do termo e suas vicissitudes ao longo
da história das línguas, de modo que, quando eu o utilize, saiba
porque o estou fazendo e com que significado. Esta questão
etimológica é fundamental porque sabe-se que, desde a filosofia
grega e também na cultura hindu, se discute muito a relação entre
nomes e coisas. É sobretudo com Platão que ela acaba sendo
equacionada. Sabe-se por Crátilo que esta relação resulta de uma
convenção, de um código estabelecido pelas línguas de diversas
comunidades. Assim, é por consenso ou convenção cultural que uma
parte do corpo se chama perna em português, em francês jambe, em
inglês leg, em alemão bein. Mas se houver outro consenso e outro
jogo metafórico, o termo "perna" poderá designar objetos, perna de
mesa, cadeira, entrando também na gíria dos malandros do morro.
Aliás, essa gíria já entrou para a literatura, porque a linguagem do
morro parece que agora é um pouco mais barulhenta, o morro já não
vive mais daquele folclore do malandro, mas, em todo caso, "perna"
designa uma certa quantia em dinheiro, referência que um indivíduo
usava para que não fosse reconhecido como ladrão ou malandro. Os
nomes são convencionais, seu significado não é nem natural nem
mutável e resulta simplesmente do consenso da comunidade. Se ele
não existisse, as palavras teriam significados flutuantes e a
comunicação seria impossível. Ocorre, no entanto, que para além
dessas simples convenções ou consensos, o ser humano sempre
procura uma razão ou motivo para atribuir nomes às pessoas e
coisas. Daí justamente a importância da etimologia, ciência que
explica a origem dos nomes. A Bíblia é um dos exemplos mais
eloqüentes desta situação. Os nomes bíblicos vêm sempre
acompanhados de uma explicação etimológica. Por exemplo, em
Gênesis, quando Jacó muda de nome, depois de vencer a luta com
um anjo, há a seguinte explicação: "Não te chamarás mais Jacó, mas
Israel" - "el" é Deus em hebraico - "...porque foste forte contra Deus
e contra os homens". A etimologia, a explicação lógica da origem de
um nome tem praticamente a função de legitimar a sua escolha. Essa
preocupação deve-se, na verdade, ao fato de as pessoas e as coisas
sem nome praticamente não existirem. É através dele que pessoas,
coisas, idéias e técnicas adquirem existência. É por essa razão que,
por exemplo, organizações, agrupamentos e comunidades humanas
precisam de um batismo, isto é, de um nome legítimo para continuar
a existir e formar uma imagem favorável perante as outras. Nenhum
povo deseja ser designado de modo pejorativo. Se, no início da
colonização do Brasil, o nome brasileiro designava o comerciante,
nem sempre muito escrupuloso, de pau-brasil, esse termo foi
perdendo a negatividade e adquirindo ao longo de nossa história
conotações melhorativas. Hoje, em princípio, todos temos orgulho do
nome brasileiro. Mas a etimologia tem um duplo papel. Ele pode ser
crítico, ao permitir escavar na História um mecanismo de criação de
determinada linguagem, mas, às vezes, adquire uma forma
"ideológica", para forjar determinada origem. O ideal é que
possibilitasse uma função crítica. A falta dessa visão histórica pode
levar pessoas a dizer, como ouvi de um empresário, que o inglês é
muito mais prático que o português, por exemplo, no caso da palavra
mídia. Fui obrigado a dizer a ele que mídia era, na verdade, derivada
do latim neutro, media, que já existia em português e é até um
lugar-comum aqui. Mas ele estava deslumbrado com o termo, que é
da mais pura origem latina.

A etimologia tem um duplo papel. Ele pode ser crítico, mas, às vezes,
adquire uma forma "ideológica", para forjar determinada origem.

Assim, por falta de conhecimento, consciência semiótica e por


automatização, a linguagem pode se tornar fascista, no dizer de
Roland Barthes. Na medida em que essa linguagem automatizada e
sem história vem associada a práticas sociais de dominação,
representando o discurso do poder, então, aí, existe uma grande
complicação, quase um círculo vicioso. Essa linguagem serve,
realmente, às práticas de dominação, por seu caráter monolítico e,
como Ciro lembra na introdução, por esse empobrecimento semântico
do significado, sem tensão ou dialética. Pode haver, no próprio
discurso do poder, a fabricação de significados destituídos da
verdadeira história do termo. Quero aludir aqui a algo que
representou todo um trabalho "etimológico e semântico" no período
nazista, que foi o aproveitamento do termo ariano para fundamentar
a teoria racial que está na base desta doutrina. Os presentes devem
ter visto na revista Veja, em suas páginas amarelas, a entrevista com
um conhecido ator de televisão, Victor Fasano, indivíduo de bela
estampa, modelo. Ele falava dos seus hobbies, que gostava muito de
trabalhar, como ele mesmo diz, com a eugenia dos animais, por meio
de acasalamentos puros entre estes e concluia dizendo que algumas
idéias nazistas são excelentes e que Hitler tinha razão ao condenar o
cruzamento de raças. Depois, houve uma série de cartas contra a
entrevista e ele disse algo estranho, que mostra a absoluta falta de
reflexão com a linguagem. Ele se queixou da forma como a entrevista
apareceu e disse que estava chocado, inclusive com ele mesmo.
Achei isso estranho, quase esquizofrênico.

Ciro - O inconsciente falou por ele.

automatização da linguagem

Izidoro - No caso de ariano, todos sabemos que o termo fez, digamos


assim, parte de toda uma construção da doutrina nazista, porque se
opunha a tudo o que não era ariano, raças inferiores, anti-raças, etc.
Na verdade, o termo passou por toda uma intertextualidade através
da qual foi perdendo suas raízes etimológicas. Gobineau o utiliza,
depois um grande admirador do arianismo, que foi Houston Stewart
Chamberlain, genro de Richard Wagner, escreveu um livro chamado
Os fundamentos do século XIX, no qual declara e afirma com muita
convicção que se o ariano desaparecesse da Terra as trevas
sobreviriam e seria o deserto completo, porque ele é o depositário de
toda a criatividade da civilização. Esse termo foi usado tecnicamente
para proibir pessoas de se sentar nos bancos de jardins, quando se
via uma placa, na Alemanha nazista, na qual estava escrito "só para
arianos". Agora, a ironia de tudo isso é que o termo, na verdade, está
relacionado a uma invenção da lingüística - e aí os lingüistas devem
fazer seu mea culpa - que levou às últimas conseqüências, sem a
necessária crítica, a teoria da origem pura das línguas indo-
européias. O termo ariano vem do sânscrito aryas, que indicava uma
tribo que teria descido do norte da Ásia e ocupado a atual Índia, um
povo guerreiro. Depois, na medida em que eles se tornaram
vencedores, o termo passou a designar nobre, cavaleiro, etc. Sabe-se
que alguns termos têm origem muito popular e depois se enobrecem,
como raça, por exemplo, que significa bando de conjurados para
assaltar e roubar, no provençal antigo e, depois, passa a ser usada
com toda a nobreza. Aryas indicava essa tribo que teria as mesmas
características que tem o hindu atualmente, cor achocolatada, baixos,
nada daquele ariano loiro, alto, esbelto, como proclamava a teoria
nazista. A mesma coisa acontece com o termo sv-asti-ka, que é de
origem sânscrita. O termo provém de "su", que significa bom, bem, é
o mesmo prefixo grego e latino, "eu", que aparece em eufonia,
eufemia, etc. e "asti", que é a terceira pessoa do verbo ser; sva-sti-
ka é "esteja bem", é bem-estar, boa sorte, saúde, etc. Mas, depois, o
termo entrou em toda uma família de palavras sânscritas: sv-asti-
karman, que é o fato de trazer felicidade; sv-asti- vacana, o rito
preliminar de uma solenidade para pedir a bênção; sv-asti-ayana,
bênção, homenagem; e sv-astika era o cantor encarregado de
pronunciar o svasti, prece de bem-aventurança, que também poderia
indicar a postura do iogue, que ficava imitando a cruz mística com os
braços cruzados. Ora, qual não foi minha surpresa ao encontrar em
um escritório de uma companhia de navegação hindu um prospecto
de uma companhia de navios, cujo emblema era a suástica. Os
proprietários diziam que não havia nenhuma relação com o símbolo
das atrocidades nazistas. Mas não há como impedir isto. De um lado,
a automatização das linguagens e, de outro, o trabalho que uma
classe dominante pode fazer com a linguagem, no sentido de fixar
seus significados. Isto leva a essa relação entre linguagem e prática
social competente, em um momento propício que é o da globalização.
Tudo isso vem a calhar, porque com esses processos de globalização
uma linguagem competente e unívoca, ligada a certas práticas sociais
e tecnologias, é considerada ideal. Essa linguagem unívoca,
automatizada, sem a consciência semiótica. Isso pode levar a
considerar toda uma cultura anterior como desnecessária. O jornal O
Estado de S.Paulo, em seu editorial de 17 de agosto de 1986, dizia o
seguinte a propósito do enterro da ialorixá baiana Mãe Menininha do
Gantois: "A importância exagerada dada a uma sacerdotisa de cultos
afro-brasileiros é a evidência mais chocante de que não basta o Brasil
ser catalogado como a oitava maior economia do mundo se o país
ainda está preso a hábitos culturais arraigadamente tribais. Na era do
chip, no tempo da desenfreada competição tecnológica, no momento
em que a tecnologia desenvolvida pelo homem torna a competição de
mercados uma guerra sem quartel pelas inteligências mais argutas e
pelas competências mais especializadas, o Brasil infelizmente exibe a
face tosca de limitações inatas muito dificilmente corrigíveis por
processos normais de educação a curto prazo. Enquanto o mundo lá
fora desperta para o futuro, continuamos aqui presos a conceitos
culturais que datam de antes da existência da civilização". Esse texto
foi objeto de um vestibular da Fuvest em que o aluno deveria analisá-
lo sintaticamente e gramaticalmente. Foi também objeto de protesto
do professor Reginaldo Prandi, da cadeira de sociologia da Faculdade
de Filosofia da USP, que publicou um artigo na Folha de S.Paulo
chamado "Vestibular do Preconceito". De qualquer maneira, vê-se
aqui muito clara essa idéia da competência do gerente do futuro que
não pode conviver com uma cultura que se diz datar de antes da
civilização. Essa linguagem competente leva a uma automatização tal
que freqüentemente lembra as peças do teatro do absurdo, de
Eugene Ionesco, pois o indivíduo não tem consciência das coisas que
diz. Tenho aqui um boletim sobre administração do tempo, que é
usado no treinamento de executivos. O autor do boletim dá dicas e
receitas para o gerente eficaz, dizendo: "reconheça a diferença entre
tempo produtivo e não-produtivo". Provavelmente, esse tempo de
Mãe Menininha de Gantois deve ser não-produtivo. "Identifique o
tempo não-produtivo, identifique os desperdiçadores responsáveis
pelo tempo não-produtivo e procure, naturalmente, eliminá-los".
Pode-se imaginar quais seriam esses desperdiçadores.
Provavelmente, não haverá tempo para alguma pesquisa etimológica.
Isso chega a tal ponto que um pesquisador norte-americano, Edvard
Ludvack, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais da
Universidade de Georgetown, publicou um artigo, traduzido e
reproduzido em Novos Estudos/Cebrap, nº 40, que é justamente
sobre a questão da globalização. E diz Ludvack: "a globalização da
economia e as mudanças estruturais em curso no mundo hoje
promovem, sem dúvida, o crescimento econômico, mas produzem ao
mesmo tempo uma situação inédita na história do capitalismo: a
insegurança no emprego de parcelas cada vez maiores dos chamados
colarinhos-brancos." Focalizando o caso dos Estados Unidos, o autor
considera que esse problema não é respondido adequadamente nem
pelos republicanos nem pela esquerda moderada, abrindo-se,
portanto, um espaço que pode vir a ser ocupado por uma espécie de
partido fascista melhorado. "No presente momento, por exemplo,
muito embora a economia dos Estados Unidos esteja em plena
recuperação, reduções de empregos de colarinhos-brancos aos
milhares estão sendo anunciados por uma corporação famosa atrás
da outra. Eles chamam isso de reestruturação ou, de forma mais
imaginativa, de reengenharia da empresa." Aqui também temos
novas linguagens - reengenharia, downsizing - que, segundo
Ludvack, já fora praticada pelo Estado nazista, que também fez uma
reengenharia à sua maneira. "O vasto espaço político deixado pela
descontinuidade republicana" - isso em relação aos Estados Unidos -
"e pelo particularismo e assistencialismo da esquerda moderada, por
outro" - esse espaço foi até ocupado durante um período por Ross
Perrot, que começou a ganhar popularidade com sua proposta, que ia
na direção dessa enorme classe não contemplada pelos processos de
globalização - " permanece completamente aberto para um partido
fascista melhorado, voltado ao fortalecimento da segurança
econômica pessoal das amplas massas de trabalhadores de colarinho-
branco."
Essa linguagem competente leva a uma automatização tal que
freqüentemente lembra as peças do teatro do absurdo, de Eugene
Ionesco, pois o indivíduo não tem consciência das coisas que diz.

É interessante analisar o discurso dos skinheads e neonazistas. Vi,


em um filme sobre um líder neonazista, a declaração de que, onde
houvesse um pedido de socorro, lá ele estaria. Esse pedido deve vir
desses inseguros, dessas massas de trabalhadores que vão sendo
trituradas pelo trator globalizante. Volto à questão fundamental que
me preocupa. Essas linguagens, marcadas até pela iconicidade,
podem servir de meio. Mas na medida em que façam parte desse
processo de globalização, apoiado na pretensa competência e eficácia
dos gerentes do futuro, isso leva, propositadamente, a uma
automatização da linguagem, a uma linguagem sem história e
etimologia. Isto acarreta esses disparates e essa linguagem do
absurdo. O que realmente me angustia é perceber que, cada vez
mais, há menos espaço para a reflexão semiótica e etimológica sobre
a linguagem.
Essas linguagens, marcadas até pela iconicidade, podem servir de
meio. Mas na medida em que façam parte desse processo de
globalização, isso leva, propositadamente, a uma linguagem sem
história e etimologia.

Instrumental X poético

Mayra - As reflexões sobre o acoplamento entre linguagem e


tecnologia têm se centrado basicamente em dois enfoques. Um deles
considera que a base, o fundamento operacional dessa máquina - o
computador e seu processador de texto - é a matemática tomada
como linguagem. Esta consideração é interessante, visto que o
computador é o lugar em que se vê a linguagem somente como
instrumentalidade. Quando se fala que essa matemática é a base
para o computador operar, ela é pensada como instrumento e se
esquece totalmente de outra dimensão, que também deveria estar
presente, que é a linguagem como poiesis. A matemática reorganiza,
redimensiona, antes mesmo de se entrar nos ícones, em outras
exterioridades desta questão. Esta implicação é vasta, pois, dentro
deste âmbito, perde-se qualquer poder de atuação. Não existe mais
uma vinculação a poder ou ideologia dominante, trata-se de uma
estrutura dada, sobre a qual foi construída determinada operatividade
e que redimensiona um mundo de trabalho.

Quando se fala que a matemática é a base para o computador


operar, ela é pensada como instrumento e se esquece totalmente de
outra dimensão, que é a linguagem como poiesis.

O segundo aspecto vai ao encontro da iconicidade. Tem-se, neste


caso, a linguagem, da qual temos nos utilizado para poder usufruir,
ou seja, ser um usuário desta medium. Chega-se, neste ponto, à
questão do texto icônico verbal, que permite algo magnífico, nunca
feito antes, que é unir a imagem e a palavra. Isto é extremamente
positivo, indicando a possibilidade de um mundo novo, que não se
pode prever como será. A positividade está aí, nesta novidade. É
claro que isso implica um detrimento do mundo literário. Mas como
diz Izidoro, o fato de ser literário outorga, autoriza, dá status para
coisas que antes não valiam nada. Existe uma perda deste verbal,
mas, no final das contas, há muita coisa dentro dele, não só a
palavra fechada. Defendo que este trajeto comece muito antes do
computador, assim que se pode ter a possibilidade de reduplicação,
de reprodução de imagens automatizadas, com a fotografia,
ampliando-se com os gibis, por exemplo. Mesmo antes dos jornais ou
capas de revistas fazerem uso maciço de um texto icônico verbal, os
gibis já trabalhavam com isso. Vejo a imposição e essa
predominância do texto icônico verbal como algo que tem um
passado, que antecede os media eletrônicos ou, para dizer mais, a
rede de computador, e vai crescendo e se expandindo conforme a
tecnologia o permite. Assim que há uma chance para que algo de
novo surja, propiciando essa expansão, as coisas caminham. Então,
seria um processo em parte à nossa revelia e a cada novidade que
surge seria mais uma chance de icônico e verbal se acoplarem. Por
outro lado, na questão do computador, aquilo que pode ser feito com
infografia e recursos do gênero, não é estanque, estéril ou uma
destruição da linguagem. Tem-se a concepção de que a imagem
feche a palavra e que, a partir do momento em que coloco uma
imagem para aquilo que estou dizendo verbalmente, fecho a
significação para sempre. Isto não é verdade. Existe uma dinâmica
entre os dois que cria uma situação diversa. Fiz minha dissertação de
mestrado sobre capas, especificamente da Veja, e constatei
determinados fatos que não são inéditos, pois encontramos esse tipo
de reflexão até em Umberto Eco. Não se pode ler, na maior parte das
capas, o verbal sem o visual e vice-versa. Há uma capa de Veja
muito interessante, do início da revista, do ano de 1969, em que a
chamada diz "Chegaremos a Isto?", com esse dêictico. Não posso ler
isso sem a imagem que está lá. Trata-se de uma fotografia do
Congresso com um vidro estilhaçado sobreposto. Esta dinâmica entre
os dois não está automatizando nada. Este exemplo tenta transmitir
a idéia de que a concatenação do icônico e do verbal dá chances de
seguir novos caminhos sem cair na esterilidade ou automatização.
Izidoro, você vê o icônico verbal em um processo de geração, de
semiose, mas não, como muitos dizem, de fechamento da
significação.

Cada novidade que surge é mais uma chance de icônico e verbal se


acoplarem Tem-se a concepção de que a imagem fecha a palavra.
Isto não é verdade.

Eugênio - Vou acrescentar mais lenha à fogueira! Ficarei na dimensão


da macroanálise, que foi aquela na qual Izidoro permaneceu na maior
parte de sua intervenção, fazendo, com muito bom humor, uma
explanação etimológica ou epistemológica no sentido histórico.
Importa saber, no tema de hoje, o que representa a linguagem
informática na sociedade, para nossas práticas, na vida dos
indivíduos, e como ela se relaciona com as transformações de final de
século das quais participamos. Historicamente, vê-se que as
linguagens no sentido estrito, com as quais temos nos defrontado e
que transmitimos, têm sido a oral (ou verbal), a escrita, a imagem e
a mista. No sentido figurado, pode-se encarar a linguagem como
equivalente a formas culturais. Ter-se-ia uma linguagem enquanto
lógica de expressão: o filme, a novela, as peças de teatro, os
programas de rádio, a TV como um todo, reportagens. A linguagem
informática tomada no seu conjunto, tanto quanto aquelas linguagens
que a formam, com base na matemática, nos códigos numéricos, a
linguagem imagética, icônica, que faz interface com o usuário e
também a linguagem no sentido figurado, que a informática enquanto
produto representa, agregam-se, acumulam-se a estas que,
historicamente, sempre foram o "lugar" da nossa própria vivência.
Uso o conceito de linguagem enquanto estrutura, código estruturado
e estruturante de signos, portanto, que pode ser tomado em um
sentido bastante amplo como tecnologia cultural. É preciso dominá-la
para poder agir, empreendendo alguma finalidade à vida social.
Tecnologia cultural lembra as longas exposições de Pierre Lévy. Essa
linguagem informática pode ser considerada tecnolinguagem, uma
tecno-semiose específica. É uma linguagem com tecno-signos, info-
signos, caracterizando-a como linguagem histórica específica. Ela
estava, no início, presa ao filão da linguagem escrita. Hoje, com os
diversos desenvolvimentos havidos na área, se coloca, em compasso
com os multimedia, como linguagem mista. Fazendo um reparo no
que havia dito, o que se vê é que ela não se agrega, acopla ou se
acumula às outras. Ela, na verdade, se infiltra, se sobrepõe, trazendo
como germe algo que, no momento atual, caracterizo como uma
iconocracia extensiva, excessiva, totalitária e esvaziada. O que
importa dizer é que ela, sendo totalitária, toma todas as esferas da
vida social - trata-se de uma expansão para os países ou regiões
onde não foi incorporada. Essa info-semiose vigora como uma
espécie de modelo, matriz de enquadramento das práticas e ações
em todas as áreas, um equivalente geral da sociedade, da vivência,
seja no sentido lingüístico ou não, numa espécie de uma moeda
padrão circulante do mercado e das trocas na atual fase das relações
de produção no capitalismo. Com essa abrangência, totalização,
infiltração e predominância, ela já se colocou como linguagem de
segunda natureza. De um lado, temos a linguagem ordinária, de
outro, a linguagem informática, a info-semiose genérica. Só o
computador e a informática apresentam essa duplicidade de
linguagens que os homens devem dominar.

A linguagem informática pode ser considerada tecnolinguagem, uma


tecno-simiose específica. Ela traz como germe uma iconocracia
extensiva, excessiva, totalitária e esvaziada.

A assimilação da linguagem ordinária, que se dá na infância, é uma


aculturação, uma exercitação para a acomodação psicológica e
comportamental na sociedade existente. Assim também a assimilação
desta info-semiose, que se dá em qualquer parte da vida, inclusive,
como se tem visto, na infância, ela, na verdade, significa uma
tecnoaculturação na atual fase da civilização eletrônica, que é
propriamente informática. Neste sentido, coloca-se como
epistemologia ou código terminológico de segundo grau, uma
sobrelinguagem e, uma vez que é predominante, pode apresentar-se
como pano de fundo totalitário da vivência no final do século. Na
verdade, essa linguagem predominante, como segunda natureza,
coloca-se como vórtice das transformações. Não só no sentido de que
participa das transformações colocadas pela informática, mas
também funciona como magneto, no sentido de Derrick de
Kerckhove, autor que temos acompanhado. Falo em magneto como
vórtice de atração, de agenciamento histórico de elementos e
processos que estão na base de formação da sociedade do século
XXI. É um pólo atrator que projeta seu próprio mundo, com a
especificidade de sua natureza, dessa info-semiose. Trata-se de uma
linguagem de passagem, que marca um período de transição. Pode-
se dizer que essa linguagem, essa info-semiose ligada às tecnologias
informáticas, separa ou divide o que é considerado capitalismo
industrial, terceirizado, daquele pós-industrial avançado,
informatizado. Portanto, esta linguagem é um código lingüístico
sistêmico fronteiriço, uma espécie de alfândega tecnocultural da nova
fase da era eletrônica. É também uma linguagem de acesso. Em um
workshop passado, sobre os novos excluídos da sociedade, cunhei o
conceito de "tecnologias de acesso" para essas tecnologias da
informatização, que permitem acesso ao mercado de trabalho, à vida,
na medida em que precisam ser dominadas para que se viva e tenha
acesso a bens culturais, econômicos, etc. À semelhança dessas
tecnologias, a info-semiose é também linguagem de acesso, senha de
permissão ao acesso à máquina, à tecnologia, à rede, à
interatividade, ao mercado de trabalho e, portanto, à própria vida no
capitalismo informatizado.

A info-semiose é também linguagem de acesso, senha de permissão


ao acesso à máquina, à tecnologia, à rede, à interatividade, ao
mercado de trabalho e, portanto, à própria vida no capitalismo
informatizado.

Essa info-semiose, em uma definição mais humorística que


acadêmica - tomando como mote uma caracterização de Teixeira
Coelho em um congresso internacional, em que ele falou sobre a
publicidade é um leão-de-chácara da cultura da era informatizada,
testa de ferro semiótica do novo mundo emergente, fiscal de
alfândega da vida social interativa, dispositivo tecnocultural deferidor
para lançar-se da esfera do atrasado para o avançado. Na verdade, o
domínio dessa semiose homologa a sintonia com a época no tocante
ao conhecimento técnico e cultural. Quero abordar o que isso tem a
ver com a religião e a interatividade, o que farei em uma próxima
intervenção.

Essa info-semiose é um dispositivo tecnocultural deferidor para


lançar-se da esfera do atrasado para o avançado.

Vani - A linguagem informática e eletrônica, que é digital, está cada


vez mais predominando. Inclusive, os últimos eventos, como a Feira
de Genebra, apresentam toda a evolução da tecnologia para o uso
irrestrito da linguagem digital e, praticamente, qualquer outro tipo,
como a analógica, estaria sendo esquecido. Existe ainda, na
linguagem ligada à eletrônica, a questão do inglês. Pergunto que
inglês é esse ao qual estamos nos referindo quando se fala da
linguagem utilizada dentro da tecnologia. Um deles seria o inglês
usual, ou seja, aquele do usuário dos mecanismos e tecnologias
eletrônicas, principalmente o computador. As linguagens de acesso
usam o inglês técnico, que difere muito do usual, de linguagem, da
fala e da comunicação. Ele é também totalmente diferenciado como
língua e expressão do pensamento de diferentes povos, todos pós-
colonizados, por assim dizer, a partir da pátria-mãe Inglaterra;
inclusive há a predominância de um pós-colonizado americano que
passa a ter uma influência maior do que o inglês original neste
paralelo feito por Izidoro com o latim. O inglês praticado na
atualidade pelos jovens é diferente, com gírias e expressões
peculiares, aparecendo principalmente nas letras de música. O rock é
um inglês incompreensível para quem não participa de determinados
grupos ou pelo menos fala a linguagem dos jovens que aceitam ou
têm uma ligação maior com esta forma de se manifestar. De certa
maneira, esse inglês é diferente daquele do hardware, da linguagem
de acesso. A comunicação virtual que se faz através do inglês, dos
meios de comunicação, da Internet e das redes, é um outro tipo de
expressão, os textos virtuais apresentam também outra sintaxe que
não é mais a da linguagem que se aprende dentro de uma formação
tradicional. Ou seja, freqüentar um curso de inglês, nós que não
somos falantes primitivos da língua, não garante o acesso à
compreensão desta totalidade. E, ao mesmo tempo, há uma
contradição, pois dentro do pensamento pós-moderno o que se
apresenta e reflete nos discursos é uma quantidade inumerável de
mundos que têm suas particularidades. Grupos e mundos não
especificamente ligados a situações políticas, mas que se alternam,
se mesclam, se misturam. Nesta pulverização total, vê-se o
predomínio de um idioma quase no sentido falado, um idioma
globalizador. Nós, que estamos fora desse idioma, temos de aceitá-
lo, temos de entrar nesse processo de aculturação ou assimilação,
como Eugênio fala, porque senão estaremos excluídos da rede de
contato. Ele passa a ser uma determinação geral para que se possa
realmente entrar nesse universo tecnológico. Vejo aí o duas reações:
os pós-colonizados, que aceitam e usam essa linguagem; e aqueles
que, não aceitando, nada podem fazer; é o caso da França, por
exemplo. Não adianta ela não querer aceitar a predominância de um
idioma, porque na verdade ele se insere de diferentes formas,
principalmente pelo meio tecnológico, como a linguagem oficial. Esta
pouco tem a ver com a linguagem e cultura de um grupo, a língua
falada, mas é uma linguagem técnica que vai sendo construída em
outro nível, em um plano mais virtual e não tão concreto.

A comunicação virtual que se faz através do inglês, dos meios de


comunicação, da Internet é um outro tipo de expressão, os textos
virtuais apresentam também outra sintaxe que não é mais a da
linguagem que se aprende dentro de uma formação tradicional.
imagem e palavra

Ciro - Izidoro citou o caso do fascismo. Este, na verdade, é um tema


sempre recorrente. Há todo um trabalho sobre a linguagem durante o
fascismo, sobre como eles, de alguma forma, forçaram toda a cultura
a uma uniformização que eles chamavam de Gleichhaltung, todos
pensando da mesma maneira, sintonizados; não era possível fuga
dessa uniformização. O fascismo, pelo que tinha de mais totalitário,
era uma espécie de esvaziamento do sentido, como, por exemplo,
Orwell citava em 1984: guerra é igual à paz, os opostos se anulando.
Tem-se signos ou significantes que se intercambiam entre si sem
qualquer vinculação com o referente. Isto não ocorria no exemplo da
palavra Arier, para os alemães. Aqui havia uma invocação da história,
do passado e, aliás, da maneira como eles imaginaram, o
reconstruíram de forma tendenciosa, ele estava lá novamente
presente. Havia um empobrecimento, talvez até um reducionismo
extremo da linguagem fascista, especificamente nos meios de
comunicação, na grande imprensa controlada pelo Estado. Tem-se,
oficialmente, um Estado que incide sobre a linguagem falada,
forçando a população e os meios de comunicação à utilização de
certos termos e não de outros que estavam, digamos assim,
condenados pelo Estado constituído. Quando Izidoro cita Barthes,
dizendo que a linguagem pode ser fascista, na verdade, ela poderia
ser discutida no sentido de o Estado funcionar como hoje, quando se
vê o sistema de comunicação como redutor da linguagem aos termos
mínimos e esvaziados; o que é preocupante é o fato de esses termos
perderem toda sua dimensão histórica, cultural e política. Aí está a
contradição. O que ocorria na Alemanha de Hitler não era essa perda
de dimensão. Havia, na verdade, um falseamento dessa própria
historicidade do termo, com um apelo recorrente às populações
originárias daquele território. Quer dizer, havia um recurso, um apelo
à consciência histórica do povo, tanto que o regime foi armado em
torno dessa história por eles fabricada. Essa história estava sendo
forjada, facilitando a construção de outro tipo de interpretação ou
utilização dos signos. É possível fazer esse tipo de redução política de
um uso da linguagem, mesmo utilizando-se da história. Mayra
levanta a questão do icônico verbal e da infografia, dizendo que
imagem, mais palavra, formam um terceiro, um produto dessa
combinação. Não sei se é o mesmo sentido de minha intervenção
inicial, em relação ao conflito entre imagem e palavra. Na verdade,
não uso o termo imagem no começo; mas ícone. Ícone, no caso,
significa as imagens rápidas e passageiras, não só dos computadores
mas da própria televisão, que hoje ocupam, de alguma forma, o lugar
da palavra. Coloco, de fato, em termos de oposição: o texto permite
certo tipo de desdobramento, o pensar sobre algo, nos termos em
que falava Herbert Marcuse, enquanto a imagem, pela maneira como
é transmitida pelos sistemas de comunicação, é algo fugidio, um
processo intercalado e sucessivo que nos distancia do fato. Existe
uma oposição entre os dois modos: a linguagem escrita remete a um
"entrar no texto"; a linguagem visual, da qual falamos aqui, a
linguagem ligeira, dos meios de comunicação, ao contrário, nos
coloca um pouco de fora.

O texto permite certo tipo de desdobramento, enquanto a imagem,


pela maneira como é transmitida pelos sistemas de comunicação, é
algo fugidio, um processo intercalado e sucessivo que nos distancia
do fato.

Mayra - Você acabou de fazer uma distinção que eu gostaria de ter


feito, só que não nestes termos.

Ciro - Quero fazer uma aproximação mútua, pois seu exemplo de


linguagem e palavra conduzindo a um terceiro é muito interessante e
rico.

Mayra - Elas não conduzem a um terceiro. Temos de distinguir dois


tipos de imagem, a partir de como elas nos chegam. A imagem em
tempo real, que está plantada no presente e vinculada a uma rapidez
incrível, não permite a "parada" que a palavra, que o verbal
possibilita. Está-se lidando com categorias de imagens. Se não existe
a parada do tempo, realmente, não se pode fazer esse mergulho do
qual você fala. O texto icônico verbal, a terminologia não é minha,
são os semioticistas clássicos que a criaram, remete àquele exemplo
sobre a capa de Veja. É uma parada, algo em que procuro o sentido e
que possibilita o mergulho, não existe a imposição da velocidade.
Toda a argumentação de Ciro se sustenta tremendamente se se
considerar a televisão e meios deste tipo. Mas se considerar
infografia, não. Pois nesta tenho a parada. Concordo com Ciro, mas é
preciso distinguir dois modos de se chegar a essa análise.

O texto icônico verbal é uma parada, algo em que procuro o sentido e


que possibilita o mergulho, não existe a imposição da velocidade.

Ciro - O parâmetro divisor é a questão do tempo, da durabilidade.


Esses dois processos...

Mayra - Sim. É isso...

Ciro - Chamo a atenção para o fato de essa questão do tempo, da


alta velocidade da imagem, se dar, hoje, em prejuízo da textualidade,
de um trabalho do texto, do conceito. Falo do desaparecimento do
conceito quando a palavra está acoplada a uma imagem e atua nesta
alta velocidade. Além disso, quero falar sobre a questão de as
máquinas não serem apenas meios. A tônica das discussões sobre as
novas tecnologias, especialmente as mais recentes, nas últimas
décadas, leva à consideração de que as máquinas não só não são
apenas meios, como são estruturantes. Hoje, talvez a pergunta não
deva ser "a quem serve?", "a quem, na verdade, interessa ou quem
usa esses meios?", tirando a questão das próprias máquinas e
levando-a para os agentes, classes sociais, grupos dominantes, etc.
Deve-se, ao contrário, voltar a questão para o interior da própria
técnica, analisando até que ponto os homens, por exemplo, têm a
possibilidade de interferir nesse desenvolvimento. Até que ponto esse
desenvolvimento técnico molda, de tal maneira, os homens nessa
sociedade, que os torna incapazes de assumir o controle ou ter uma
posição mais ativa? Será que não estaria ocorrendo uma inversão,
com essa expansão da técnica, de forma a inviabilizar, por parte dos
agentes do equipamento técnico, uma posição mais determinante,
como operar e decidir?

Izidoro - Gostaria de ter aqui um microcomputador para ir anotando


e organizando as respostas. Devo dizer, antes de tudo, que as
intervenções são extremamente instigantes e exigem uma parada,
que foi apontada por vocês, para pensar um pouco. Posso ir
respondendo pela ordem ou trocando idéias sobre temas levantados
com tanta propriedade; isso não impede que, de vez em quando,
passe de um para o outro, pois há muitos pontos convergentes.
Começo por Mayra. Sua primeira questão envolve a
instrumentalidade de uma linguagem que tem por base a
matemática. Mayra fala dessa instrumentalidade certamente como
uma nova linguagem, mas se pergunta a respeito da linguagem como
poiesis. Lembro-me de uma observação, que me parece pertinente,
feita por um lingüista romeno, vivendo atualmente na Alemanha,
Eugenio Coseriu. Em uma série de artigos, encontrados no livro O
homem e sua linguagem, Coseriu formulou algumas teorias a
respeito de linguagem, mas o que mais conhecemos são esses
pequenos trabalhos sobre diferentes temas da lingüística; o autor
comenta a respeito de algo que Vani menciona quando fala dos vários
registros do inglês. Comentando esse aspecto multiforme da
linguagem, o autor faz uma advertência dizendo que não se deve
pensar a função poética como um caso excepcional em relação aos
outros tipos de linguagem, como a linguagem funcional, referencial,
etc. A marca da linguagem é exatamente a poeisis - Coseriu trata a
função poética e os outros tipos de linguagem praticamente como
excrescências. Ou seja, a linguagem chamada funcional ou referencial
é, na verdade, uma redução drástica da grande linguagem que é a
poética. Por aí é possível pensar na idéia da linguagem globalizante,
equalizadora, que vai exatamente nessa direção, procurando suprimir
as contradições e tensões, a polissemia que é própria da função
poética.

A marca da linguagem é exatamente a poeisis. Ou seja, a linguagem


chamada funcional ou referencial é, na verdade, uma redução
drástica da grande linguagem que é a poética.
Expus essas idéias em diferentes auditórios e, em um deles, ligado à
cultura da Fundação Getúlio Vargas - portanto, com a idéia do eficaz,
do imediato, do prático e do pragmático -, muita gente achava que se
tratava aí de fazer poesias, poemas. Mas considero a linguagem como
poiesis no sentido de sua criatividade, da geração de novos
significados, novas formas, etc. Poiesis da qual naturalmente o poeta
é um grande executor, mas qualquer pessoa, em qualquer momento,
pode ser capaz de uma bela metáfora ou metonímia. Lembro-me, por
exemplo, de ter cruzado no elevador do prédio em que moro com
uma vizinha, uma senhora já de certa idade, que tem filhos, netos,
bisnetos, e notei que ela portava uma maleta, índice de que
provavelmente iria viajar. Como era antes dos feriados, comentei se
ela iria passear. Ela deu um longo suspiro e disse: "Não, eu só vou
mudar de fogão". Eu pensei: está aí uma bela criação poética.

olhar semiótico

Ela conseguiu resumir a sua vida inteira, que se ocupava disto. É


realmente uma função poética. Por aí, quero dizer o seguinte: os
conflitos, se se pode pensar nestes termos, não se dão só em relação
a essa linguagem digital, fundada na matemática, mas em relação a
toda linguagem que caminha para a automatização. Por outro lado,
existe toda uma criação poética, dos chamados poetas de
computador, que são capazes de produzir belas imagens, etc. O que
há por detrás disso? O indivíduo, na medida em que consegue ativar
esta poiesis, minha esperança é a de que talvez seja capaz de fazer
isso com a chamada linguagem matemática. Retomo o problema do
uso das máquinas, a última observação de Ciro. Pode ser utópico,
mas nem tanto assim, pois já tivemos exemplos com outras
linguagens. Há aquela célebre observação de George Duhamel em
relação ao cinema, dizendo que é um divertimento para tolos, idiotas
e que, depois, isso poderia passar para a televisão, que seria uma
linguagem efêmera, de imediatismo, etc. Mas, hoje, o olhar televisivo
também pode ser criativo. O que está em questão é a capacidade de
ativar a poiesis, qualquer que seja a linguagem com a qual nos
defrontemos. Mesmo porque, quando foi evocada a questão da
imagem, e foi dito que é freqüente a observação de que ela fecha a
palavra, discutiu-se o contrário, o fato de poder haver um
compromisso entre texto e imagem que leve a um terceiro patamar
de fruição. Neste caso, vale a pena lembrar de Vidas Secas; há um
trabalho feito por uma colega de vocês, Ana Maria Balogh, do
Departamento de Cinema, sobre o romance e o filme. Digo o
seguinte: para quem lê o romance, mas viu o filme, hoje é quase
impossível desligar filme de romance, pois passamos a um terceiro
momento de fruição. Refiro-me especificamente à morte da cachorra
Baleia, sobre a qual, hoje, é muito difícil falar do texto sem evocar o
filme. A iconicidade da morte da cachorra Baleia acaba tornando
obrigatório assistir ao filme. Nós acrescentamos algo...
O que está em questão é a capacidade de ativar a poiesis, qualquer
que seja a linguagem com a qual nos defrontemos, poder haver um
compromisso entre texto e imagem que leve a um terceiro patamar
de fruição.

Mayra - É interessante, porque você toma um exemplo que, no caso,


considero excepcional para provar meu ponto de vista. No filme, há
pouquíssimos diálogos e, dada a impossibilidade de estruturar
verbalmente a descrição, é a imagem, ali, falando. E não fecha a
significação. A morte da cachorra Baleia, mesmo eu estando em um
tempo que corre, não posso parar para mergulhar como poderia com
um texto verbal, ainda assim posso ver ali milhões de coisas, pois a
imagem não fecha a significação.

Izidoro - Foi ótimo você ter acrescentado esse comentário. Nélson


Pereira dos Santos, como idealizador do filme, não é que ele não
tenha podido, digamos assim, transcrever o romance. Ele conseguiu,
de maneira genial, viver em imagens o que Graciliano diz através de
palavras. Há algo em nosso processo de educação que não é
contemplado, que é a questão do pensamento visual. Temos um
pensamento visual, estou aqui dizendo o óbvio, mas o óbvio
freqüentemente esquecido. Stanley Kubrick disse que 2001: uma
odisséia no espaço é um filme para ser visto, não adianta falar a
respeito dele. Quer dizer, as imagens estão ali como uma outra
dimensão da nossa maneira de nos apropriarmos do mundo. Agora,
essa dimensão tem de ser estimulada por aquilo que chamaria de um
"olhar semiótico". Esse olhar semiótico, como na frase da senhora do
prédio, deve comparecer não só em relação à língua, ao discurso, à
expressão lingüística, mas à realidade que nos cerca. Quer dizer, não
é preciso estar com uma câmera, se bem que acho que devamos ter
uma pequena câmera embutida para desenvolver esse olhar
semiótico e essa parada. Ela é uma questão de crença na poiesis,
sermos despertados para ela e sermos capazes de fazer essa parada.
Quero mencionar duas situações que vivi no dia-a-dia, em que
lamentei não ter uma câmera, mas fiz essa parada semiótica. Estava
retirando dinheiro de um caixa automático, tarde da noite, de
repente, percebo deitado do lado de fora um mendigo. Fiquei,
naturalmente, dentro das nossas fantasias, preocupado, pensando
que era provável que ele me assaltasse e tirasse meu dinheiro ou
algo do gênero. Ele não fez nada disso. Quando saiu o dinheiro, ele,
do lado de fora, fez um sinal de positivo. Achei uma cena
cinematográfica, digna de uma fotografia, porque ele louvava o fato
de eu ter conseguido tirar o dinheiro. Outra situação se deu quando
observava, no alto de um dos arranha-céus de São Paulo, dois
operários colando um outdoor de uma companhia de seguros. Eles
estavam apoiados em cordas, podendo despencar a qualquer
momento. As pessoas passavam, automaticamente, e não olhavam. É
preciso desenvolver esse olhar semiótico, pois nem sempre dá para
captar tudo. Essa consciência semiótica seria o melhor antídoto
contra os automatismos, que podem se dar não só em relação à
linguagem dos computadores mas em relação a qualquer tipo de
linguagem, à nossa própria linguagem do dia-a-dia.

Ciro - Mas nem sempre está na pessoa que assiste a possibilidade de


usar esse olhar semiótico. Por exemplo, o caso da cachorra Baleia
supõe que haja uma polissemia tal que permita múltiplas elaborações
em torno da cena. Não é o que acontece geralmente no cinema, em
que existe um fechamento de universo, a domesticação de suas
fantasias para aquela imagem, de maneira que iniba qualquer tipo de
elaboração. O que a indústria faz é reduzir sua capacidade de
imaginar. Neste sentido, é oposto à literatura escrita, que, ao
contrário, é absolutamente aberta.

Izidoro - Ciro, você não acha que isso depende do filme?

Ciro - Claro, mas Nélson Pereira dos Santos é autor de um cinema de


arte - o que não é a regra -, é exatamente um cinema raro, que
permite a polissemia ou o olhar semiótico do espectador.

Izidoro - Nos encontramos, aí, diante do velho conflito entre uma


suposta arte, um tipo de comunicação praticado pelos media,
baseada no efêmero, no nivelado, no unívoco e que as pessoas
captam sem ter essa visão metalingüística percebendo, por exemplo,
como a cena foi montada, como está sendo filmada, quais as
intenções. Normalmente, a pessoa descodifica o texto visual e verbal
ao pé da letra e toda a operação metalingüística acaba sendo um
pouco dolorosa, tirando aquele encanto do mito criado pela imagem
efêmera. Isso não se dá só com os meios visuais, mas em um outro
tipo de cultura. Há alguns dias eu estava desenvolvendo uma reflexão
sobre determinados mitos e um deles era o de Judas, presente em
um quadro de Lucas Cranack. Era uma cena da Santa Ceia em que
todos os apóstolos aparecem com a indumentária da época da
reforma e apenas Judas vestido à maneira, digamos assim, semita,
com um saco de dinheiro, etc. Fiz um comentário sobre essa
estereotipação de Judas para um público constituído de alguns
professores e teólogos, que ficaram profundamente ofendidos e
irritados, porque perguntaram se eu estava pretendendo negar a
existência de Judas e, por conseqüência, a de Jesus. Não se mexe no
texto bíblico, ele é a expressão da verdade e da realidade. Não se
pode fazer uma metalinguagem em relação ao texto bíblico; eles a
consideraram escandalosa.Toda operação metalingüística e toda a
desconstrução semiótica incomoda e é dolorosa.

Normalmente, a pessoa descodifica o texto visual e verbal ao pé da


letra e toda a operação metalingüística acaba sendo um pouco
dolorosa, tirando aquele encanto do mito criado pela imagem
efêmera.
Lembro-me de um trabalho que desenvolvi, dentro de uma temática
na qual estou trabalhando na pós-graduação na Faculdade de
Filosofia, sobre questões ligadas a racismo e preconceito. Analisava o
discurso de alguns sobreviventes do holocausto, pessoas que eram
adolescentes na época, que vieram para o Brasil e, hoje, têm 70, 80
anos de idade. Analisava esse discurso perante um grupo de
especialistas em Segunda Guerra Mundial e houve também esse mal-
estar, pois o que fui procurar neste discurso de sobreviventes não foi
a expressão da realidade, foram os lapsos e confusões que, para
mim, eram muito mais sintomáticos do que a tentativa de mostrar a
realidade. Um dos sobreviventes diz que muito cedo foi levado para
Auschwitz; depois ele se corrige e diz que não foi levado para lá e sim
para Kleinmangestov; eu não conhecia essa cidade. Na verdade, era
um pequeno campo de trabalho longe de Auschwitz. Ele fez a
confusão e esse lapso foi muito sintomático do imaginário dessa
pessoa. Indo para um pequeno campo de trabalhos forçados, na
verdade, ele estava em Auschwitz, assim funcionava seu imaginário.
Então, a experiência demonstra que é muito complicado trabalhar o
imaginário das pessoas e fazer com que...

Ciro - Você está fazendo uma leitura clínica, quase psicanalítica.

matriz informática

Izidoro - Exatamente. Na medida em que se aponta o lapso, o


automatismo, a pessoa reage mal. Isso me lembra um fato quase
anedótico de um debate do qual participei, sobre o tema racismo, e
alguém se pronunciou contra o racismo dizendo que ele era uma
mancha negra no horizonte da discussão. Então, realmente há esses
automatismos. Fico preocupado com o domínio desta linguagem
instrumental, mas se é preciso falar em antídoto, ele está realmente
em uma atitude educativa que nos ensine a fazer essa parada
semiótica. Eugênio apresenta uma "pequena" teoria sobre a info-
semiose. Acho muito interessante e concordo plenamente com a idéia
de que esta info-semiose representa uma nova matriz de
enquadramento. Ele menciona o professor Teixeira quando fala do
papel alfandegário dessa matriz, o papel leão-de-chácara, etc. Essa é
uma questão básica. A linguagem informática representa outro modo
de perceber o mundo, mas tanto quanto foi o cinema e é a televisão.
Só que essa nova matriz está provida de uma linguagem. A televisão
é um tipo de linguagem, mas depende de uma infra-estrutura
específica; é preciso ter uma câmera, etc. O cinema igualmente, não
são todos que podem ser cineastas. Acontece que, hoje, há uma
tendência de todos, de alguma forma, dependerem da informática.
Até o indivíduo nos grotões do Brasil pode tirar seu saldo pelo caixa
automático, via computador e, se isso não funcionar, ele se encontra
um pouco "aleijado". Nunca é demais lembrar as idéias de Marshall
McLuhan, de que essa nova matriz de enquadramento é, agora, uma
extensão dos nossos sentidos e do modo de atuar perante o mundo
quase que insuperável. Ela lida com linguagem, a substitui. Todo esse
conjunto de ícones representa uma economia de linguagem, como
não havia acontecido antes. Eugênio fala da linguagem de segunda
natureza. Emile Benveniste, em seu estudo sobre linguagem, ao falar
da semiologia da língua, lembra que, de qualquer maneira, a língua é
a matriz semiótica por excelência, queiramos ou não. Retomando
Roland Barthes, tudo está impregnado de linguagem, a tal ponto que
é preciso utilizá-la até mesmo para essa nova matriz que nos
enquadra, a da informática. Por onde quer que se passe, a língua é a
grande matriz semiótica. Está na base até mesmo da linguagem
digital, por mais matemática que ela seja. Quero mostrar minha
preocupação em relação a essa observação de Benveniste, porque ela
não é a única matriz semiótica. Há toda uma dimensão nossa, que se
passa no plano dos sentidos - tato, olfato, audição, visão, etc. - que
em um dado momento não foram mediados pela língua. Podem ter
sido em uma etapa posterior, mas em uma primeira infância, em um
primeiro momento, não houve esta mediação. Há muitos desses
conteúdos não-verbais que ficam depositados em nosso inconsciente,
cabendo ao psicanalista desenterrá-los. Mas há muitos desses
conteúdos não-verbais não mediados pela língua. Nos encontramos
diante de um conflito de diferentes linguagens: a língua propriamente
dita, a linguagem não-verbal - não mediada pela língua - toda essa
linguagem icônica dos vários meios de comunicação e, depois, esta
que vem a ser um refinamento de todo o processo de iconicidade,
que é a linguagem da informática, que Eugênio chama de vórtice de
atração, que marca uma fronteira entre o capitalismo industrial e o
informatizado. Ao falar em capitalismo informatizado e pré-
informatizado, quero trazer à discussão a questão de ordem política,
econômica e ideológica.

Tudo está impregnado de linguagem, a tal ponto que é preciso utilizá-


la até mesmo para essa nova matriz que nos enquadra, a da
informática. Por onde quer que se passe, a língua é a grande matriz
semiótica.

O capitalismo, agora, só se compreende com esse processo de


informatização que é o propulsor da globalização. É impossível o
capitalismo prosperar sem a globalização. Mas, por outro lado, ela só
é possível com esta matriz de enquadramento. Ao fazer essa ligação
estou tentando mostrar que a questão, de qualquer maneira, é
política e ideológica. Porque, se eu tiver condições de desenvolver um
olhar semiótico e metalingüístico em relação a essa matriz de
enquadramento, posso resistir a ela. Não resistirei na medida em que
me encontrar nesse círculo vicioso, que é a necessidade de
sobrevivência ligada ao processo de globalização, processo este
ligado à linguagem da informática. A resistência pode se fazer. Falo
em resistência porque Eugênio diz que esta tecnologia de acesso à
realidade de trabalho acaba sendo uma iconocracia totalitária. Por
isso é lícito pensar em resistência. Isso pode ser feito mediante esse
olhar semiótico e, também, por uma tentativa de reforço das
diferentes culturas para resistir ao processo de globalização. Se bem
que esse reforço é uma arma de dois gumes. Na verdade, a proteção
a uma determinada cultura regional pode resvalar em um
nacionalismo fanatizante, como se vê no caso da Europa, agora
fragmentada, depois da Queda do Muro de Berlim. Existem
nacionalismos extremos na Romênia, Hungria, sem falar na antiga
Iugoslávia, que poderiam representar uma forma de resistência à
totalização, mas trazem em seu bojo uma forma de totalitarismo.
Porque, de fato, nesse processo de globalização, encontram-se
situações até meio surrealistas.

É impossível o capitalismo prosperar sem a globalização. Se eu tiver


condições de desenvolver um olhar semiótico e metalingüístico em
relação a essa matriz de enquadramento, posso resistir a ela.

Estive recentemente na Turquia, que está fazendo um esforço para a


modernização, tentando abafar um pouco os movimentos
fundamentalistas. Isso já vem de algum tempo desde que seu
redentor, Ataturk, latinizou a escrita turca, a tal ponto que, hoje,
pode-se encontrar, em um banheiro público, a designação escrita em
letras latinas "tuvalete", uma adaptação de toalete. Já é possível, a
um turista, identificar razoavelmente alguns conteúdos necessários à
sua sobrevivência. Passei pela seguinte situação. Fui ao escritório da
Turkish Airlines, para confirmar minha passagem de volta. Entro em
um ambiente supermoderno, repleto de microcomputadores,
funcionários automaticamente executando suas tarefas e, quando
procurei um deles para verificar minha passagem, ele se desculpou e
abandonou a mesa. Era a hora da reza, e todos foram para a
mesquita, ao lado da agência, deixando os computadores
abandonados. Achei interessante a situação, pois isso seria uma
forma de preservar a cultura religiosa do povo a despeito da
informatização. Só que imaginei que isso, provavelmente, não se
dará em um futuro bem próximo, pois a chamada modernização da
Turquia terá de passar por cima desses hábitos religiosos. Vejo aí
duas formas de resistência. Essa visão crítica e semiótica e a
preservação dessas culturas ou, pelo menos, a necessidade de
resgatar sua história para que elas possam resistir. Mas tenho minhas
dúvidas, pois esse processo de globalização, que começa, aliás, entre
nós, em um processo de privatização das empresas, para depois
entrar nessa linguagem global, parece ser avassalador. De qualquer
maneira, manifesto minha preocupação em relação a essa nova
matriz de enquadramento. Só é possível resistir ou dominá-la na
medida em que se tenha uma consciência metalingüística das suas
possibilidades. Vani fala da linguagem digital. Isso retoma a matriz de
enquadramento, que é essa linguagem digital, a tal ponto de se ver
um conflito entre gerações. Por exemplo, alguém que não consegue
ver as horas em um relógio digital porque sua percepção de tempo é
analógica. É interessante a relação feita sobre a forma através da
qual o inglês se adapta a essa linguagem global. Lembro-me de um
trabalho feito por um estudioso canadense, Richard Handscombe, da
Universidade de Toronto, que me enviou um artigo muito
interessante chamado "What English", ou seja, que inglês ensinar?
Ele fez sua análise a partir de uma visão sociolingüística em que
mostra que, de fato, a língua é um conglomerado, uma aglomeração
dos mais diferentes registros que se entrecruzam e são utilizados
conforme o contexto, as necessidades e os objetivos. Então, de fato,
temos o inglês literário, o inglês coloquial, o inglês popular, como
ocorre também no português. Agora, o que acontece é que há um
inglês que seria "informatês", esse inglês virtual mencionado por
Vani. É explicável a ocorrência deste tipo de adestramento do inglês
da informática, porque essa é a matriz deste processo de globalização
e está ligada a grupos transnacionais para os quais o inglês é,
também, ao lado desta linguagem digital, uma moeda corrente. Mas
isto por razões de ordem política e econômica. Não há nenhuma
justificativa ligada a qualidades intrínsecas do inglês para que ele
seja uma espécie de moeda corrente, essa língua universal. O inglês
se fala na Turquia, Israel, Egito, etc.; em todo lugar nos defendemos
com esta língua. Mas isso é devido realmente a uma razão econômica
e, evidentemente, não por alguma qualidade específica do inglês,
porque, na verdade, qualquer língua poderia ocupar este lugar. Sabe-
se disto porque todas as línguas são sistemas. Aliás, o próprio
Coseriu diz que toda língua tem uma tipologia que permite a ela, se
as condições forem favoráveis, criar os signos que quiser para as
necessidades que surgirem. Tenho um orientando de pós-graduação
que fez uma pesquisa sobre a linguagem do Cafundó, perto de
Sorocaba que, inclusive, já havia sido analisada por um colega nosso
da Unicamp, o professor Carlos Vogt. É um registro, um dialeto muito
interessante, que se chama cupópia, que é o falar desta comunidade
que deve ter aproximadamente cem pessoas. São descendentes de
um grupo de escravos que formou uma comunidade e fala esse
dialeto, que tem estrutura da língua portuguesa, mas as palavras são
todas no dialeto que eles dizem ser de um grupo bantu; há muita
controvérsia a respeito. O que acho extraordinário é a criatividade
lingüística deste grupo, que apesar de estar na condição de extrema
miséria e pobreza, desenvolvendo trabalhos marginais para a cidade
de Sorocaba como forma de subsistência, acaba criando um sistema
de composição extremamente interessante, igualável a qualquer
língua de prestígio, como o alemão ou até o grego. Eles têm um
sistema de informação chamado parassintético e conseguem criar
termos para as situações mais variadas. Por exemplo, o médico é
chamado "aquele branco que usa roupa branca e que traz conforto
para nós". É toda uma composição. Lembra, às vezes, de passagem,
as criações de Guimarães Rosa, que era capaz de parassintéticos
fantásticos, como aquele em que ele fala de um bêbado que estava
caminhando e começou a andar de quatro. Rosa diz: "ele
embriagatinhou-se e depois quadrupedou-se". Vê-se claramente o
que está acontecendo com o personagem. Nesse sentido, posso
retomar algo já levantado por Ciro, sobre o verbal e o icônico. O
verbal também pode ser icônico, quer dizer, um grande escritor,
poeta ou qualquer pessoa que ative a poiesis da linguagem é capaz
de torná-la icônica. Isto é, a partir do verbal, conseguimos visualizar
a cena. Esta é a criatividade poética, ela consegue fazer com que se
transponha o limite da linearidade. Isso sem falar da poesia concreta.
Mas, mesmo na prosa, consegue-se transpor os limites da
linearidade. Insisto na idéia de que o uso desse inglês "informatês",
virtual, é ditado por razões de uma política econômica que
acompanha o processo de globalização. Nenhum registro lingüístico é
imposto de fora para dentro por suas qualidades específicas. Ele é,
antes, fruto de determinada condição social, cultural e econômica.
Por exemplo, Vani fala do inglês do rock, que acaba sendo quase
ininteligível. Mas isso faz parte de uma determinada postura ou
atitude não só do roqueiro, mas de grupos que buscam, não
propriamente nesse inglês, uma forma monolítica de expressão,
quase o grito. É o contrário do inglês literário, algo que também
ocorreu com o alemão falado no período nazista.

O uso desse inglês "informatês", virtual, é ditado por razões de uma


política econômica que acompanha o processo de globalização.
Nenhum registro lingüístico é imposto de fora para dentro por suas
qualidades específicas.

Existe um artigo muito interessante de George Steiner, em um livro


chamado Linguagem e silêncio, em que ele fala da formatação do
alemão no período nazista. Ou seja, era a linguagem monolítica, um
pouco como a linguagem do grito, a tal ponto que quando se ouve
falar alemão freqüentemente a idéia, que surge está muito associada
ao soldado nazista estereotipado pelo cinema. Parece que só se fala
alemão gritando. Isso foi o alemão formatado no período nazista.
Portanto, ele é datado, está ligado a determinadas condições
históricas, culturais e sociais. A França está passando por um
verdadeiro trator da globalização porque, hoje, para minha surpresa,
quando se vai à França, em hotéis as pessoas falam inglês. Aliás, às
vezes, até para grande irritação minha, pois a pessoa fala comigo de
forma diferente, me tomando logo de cara como estrangeiro e,
depois, por achar que não sei falar francês. Mas parece que isso foi
resultado da necessidade de o turismo francês adaptar-se às novas
condições. Também passa por um processo de globalização de forma
tal que até foi publicado um livro, Parlez Vous Franglais?, mostrando
a penetração do inglês. Mas volto a repetir, a razão é de ordem
socioeconômica. Não é o mesmo tipo de dominação que teve o grego
em relação ao latim. Isto aconteceu pela força da cultura grega, pelo
trabalho de síntese que pensadores gregos fizeram em relação à sua
língua. Precisa-se desse vocabulário não devido às qualidades
intrínsecas do grego, mas porque havia gente que pensava bem em
grego. Quer dizer, uma coisa não determina a outra. Não seria, por
exemplo, o raciocínio de Heidegger, segundo o qual as pessoas, para
filosofar, precisam fazê-lo em alemão. É bem ao contrário, é preciso
filosofar bem para que a língua em que filosofamos seja igualmente
criativa, profunda, etc.

hibridismo cultural

Ciro - Vani chama a atenção para um fato real. No caso do francês,


os intelectuais têm, de fato, uma grande resistência em relação aos
próprios termos que usam, como ordinateur e logiciel, que são
afrancesamentos dos termos ingleses. Eles colocam uma certa
resistência. Izidoro fala dos turcos, que deixam os computadores
para rezar. Será que não ocorrerá aí uma imposição, como ocorreu
na cultura grega, de um certo espírito nacional francês, por exemplo,
ou um espírito árabe em relação aos computadores, que vai exigir
que eles façam esse tipo de hibridismo cultural com a linguagem
técnica?

Mayra - Não seria o caso de se lembrar o avanço do Império Romano


e o que o que se sucedeu com o latim?

Ciro - São situações bem diferentes, porque o latim ocorreu no


processo de um avanço puramente militar, um império que, de
alguma forma, se impôs diante dos outros. Enquanto o grego, como
Izidoro fala, é uma cultura que se impõe por outras armas. Desta
forma, se torna bem mais perene. O caso, presente aqui, do francês
e do turco, não supõe um tipo de assimilação e adaptação dessa
linguagem?

Vani - Isto está, inclusive, presente nas redes. A França mantém um


sistema independente, em língua francesa, correndo em paralelo a
todos os outros, que trabalham em inglês.

Izidoro - Estamos diante de uma miríade de problemas. Há uma


questão de ordem econômica. É evidente que, para questões de
negócios e turismo internacional, alguns termos, uma vez
universalizados, facilitam muitas coisas. Hotel, táxi, que é aliás de
origem grega, e os turcos também reproduzem, tacsi, de qualquer
maneira ficou universalizado e ninguém, em sã consciência, pode
negar o benefício desse tipo de universalização, sobretudo quando se
está em terra estranha e precisamos tomar um táxi. Por exemplo,
não sei falar turco e precisava tomar um táxi. É bem verdade que
quando disse ser brazilian, o motorista abriu um largo sorriso, bateu
em meu ombro dizendo "Romário, Romário", e isso facilitou muito as
coisas.

Eugênio - O ícone agora é Romário.

Mayra - Depende, se o indivíduo tiver menos de 35 anos, não é mais


Pelé, agora é Romário.

Izidoro - Há esse aspecto do benefício econômico. Por outro lado, nós


que prezamos muito a história e a cultura, não deixamos de aplaudir
a teimosia francesa, ao usar a expressão ordinateur. Porque o
executivo, de modo geral, traz o inglês como um outro braço.
McLuhaniamente diria que é sua outra extensão. Quando indico um
livro em francês na Fundação Getúlio Vargas isso é motivo de
estranheza. Nada impede que, hoje, uma escola de expressão
francesa - que é um grupo canadense que vem trabalhando
administração em um prisma diferente das escolas americanas -
comece a ter sucesso na própria GV. É um grupo coordenado por
Jean François Chanlat e, deste grupo, já foram publicados dois livros
que vêm com o título de O indivíduo na organização - dimensões
esquecidas, da Editora Atlas. Essa obra é uma forma de resistência
ao processo de globalização. Eles procuram, o que pode ser notado
até no título, é em vez de estar preocupados com a reengenharia,
downsizing, etc.,o estão, por exemplo, com a inveja nas
organizações. Há um belo capítulo sobre esse assunto e os aspectos
simbólicos da organização. Sem cair no estereótipo, o fato é que todo
estudo um pouco mais preocupado com a condição humana acaba
invariavelmente pertencendo a uma bibliografia de expressão
francesa. É o caso de Christophe Dejours, que tem publicado livros
sobre temas como a loucura no trabalho. Isso é um incômodo, seria
um desperdiçador de tempo, é preciso tomar decisões rápidas. A
França representa uma forma de resistência a isso. Até mesmo no
nome da doença, Sida em vez de Aids. Por outro lado, a questão é
problemática, pois isso pode estimular o chauvinismo, o nacionalismo
infantil, essa dificuldade em aceitar o outro. Sabe-se que há uma
direita crescente na França muito apoiada nas idéias nacionalistas.
Até que ponto a resistência à globalização pode ser tomada como
benefício? Ela certamente o é na medida em que preserve a cultura,
a história, etc. Mas pode ser uma arma utilizada em outro sentido.
Retomando os pensamentos de Ciro, sobretudo em relação ao
fascismo, concordo plenamente com a idéia de que existem dois
procedimentos dentro de um regime totalitário, o falseamento e o
esvaziamento. Este pode estar presente não em um regime
declaradamente totalitário, mas em uma mente e em um clima
totalitário, como é freqüente no clima das empresas, no próprio
comportamento de nossa classe política que, às vezes, ao ostentar
uma aparente democracia, acaba sendo totalitária e, assim, há
também o esvaziamento do sentido. Não deveria citar nomes, mas
não posso deixar de mencionar nosso colega, e presidente da
República, que é um ícone, e infelizmente, cai às vezes nessas
armadilhas do esvaziamento por necessidades retóricas,
evidentemente. Tenho em casa um dossiê de Fernando Henrique, que
chamo de "Dossiê Nhenhenhê", com aproximadamente 70 recortes de
jornal de pessoas que glozam até hoje o uso do "nhenhenhê", saída
que o presidente encontrou para não falar sobre o neoliberalismo. Há
muito deste esvaziamento de sentido. Acho que isso é muito útil para
o controle "totalitário", para fazer com que as pessoas se calem e não
compliquem a coisa.

Até que ponto a resistência à globalização pode ser tomada como


benefício? Ela certamente o é na medida em que preserve a cultura,
a história, etc. Mas pode ser uma arma utilizada em outro sentido.

Em relação ao Arier concordo plenamente com Ciro, se dei outra


impressão posso ter me expressado mal. Mas realmente o nazismo,
não só ele, mas há toda uma intertextualidade no século XIX, em que
se evoca esse passado, essa história do termo Arier. Quero
acrescentar o seguinte: o falseamente aí foi muito longe, porque a
própria idéia de indo-europeu foi falseada. O indo-europeu não é uma
língua, é apenas uma hipótese de trabalho, resultante da comparação
entre as línguas indo-européias. A idéia de acreditar no indo-europeu
significou acreditar na sua origem ligada aos Arier, acreditar na idéia
de que o sânscrito era uma língua arcaica e, portanto, os Arier que
falavam sânscrito representavam esse arcaismo, essa origem pura do
indo-europeu, acreditando que o grupo germânico era muito próximo
deste sânscrito arcaico. Essa construção é absolutamente furada,
usando uma expressão do português coloquial. É um mito essa idéia
de que o sânscrito é arcaico. Ao contrário, ele foi muito mais inovador
do que o grego e o latim. E quem descobriu isso foi um jovem de 18
anos, em 1878, que fez seu mestrado em lingüística européia. Seu
nome era Ferdinand de Saussure e, ao analisar o sistema das vogais
primitivas indo-européias, provou que o sânscrito é que era inovador.
Portanto, essa idéia de sânscrito arcaico, ligado a origens primitivas,
era absolutamente sem fundamento, mas não impediu que isso, que
era apenas uma hipótese, se transformasse em realidade. Esse
falseamento chegou a uma reetimologização, uma remotivação do
signo. Arier e ariano passaram a ser remotivados semanticamente,
indicando a raça insuperável. Este trabalho de linguagem só foi
possível dentro de um visão totalitária, porque isso foi repetido, à
saciedade, através dos diversos meios de comunicação. Aliás, o
nazismo compreendeu muito bem e de maneira absolutamente
pioneira o papel dos ícones para fazer a cabeça das pessoas. Sabe-se
que Hitler acompanhava pessoalmente os filmes de Leni Riefenstahl e
o próprio Goebbels participava diretamente da elaboração de filmes.
Hitler, sabe-se agora por meio de um livro que foi publicado há pouco
tempo, Hitler: o artista desconhecido, de Billy Price, participava da
elaboração de muitos esquetes e pôsteres. Alguns não chegaram a
ser publicados, mas há um rascunho de um pôster feito por Hitler em
que ele fazia a suástica com as botas nazistas, numa visão
aerodinâmica, dando a impressão de que as botas estavam no mundo
todo, como uma hélice. Ele tinha uma concepção icônica muito
avançada, capaz de fazer a cabeça das pessoas. É nesse sentido que
falo do falseamento. Agora, sobre a questão do conflito entre imagem
e palavra, já havia feito um comentário sobre a imagem artística.
Claro que a linguagem ligeira dos media leva a um fechamento. Mas,
desde que a pessoa tenha olhos para ver, esse olhar semiótico, ela
pode ganhar outro significado. Por exemplo, outro dia vi um número
muito interessante de um programa do SBT em que uma moça,
supostamente nadadora, de biquíni, devia apanhar sabonetes em
uma pequena piscina e era impedida por um jovem hercúleo,
também de maiô. Nesse jogo de impedir que ela pegasse o sabonete
havia, evidentemente, todo um trabalho erótico, em que o indivíduo
caía sobre a moça e ficavam os dois debaixo d'água, a moça tentando
se levantar para pegar o sabonete. Pode-se fazer inúmeras
associações. O público aplaude, se diverte, fica entusiasmado e, mas
se se fizer alguma observação desconstrutora, seremos
desagradáveis, desmancharemos o encanto.

A linguagem ligeira dos media leva a um fechamento. Mas, desde que


a pessoa tenha olhos para ver, esse olhar semiótico, ela pode ganhar
outro significado.

Uma última observação, feita por Ciro, sobre as máquinas serem só


meios. Se dei a entender isso, foi um raciocínio simplificador de
minha parte. Elas não são só meios, apenas a minha esperança é de
que elas possam ser encaradas como meios. Mas, na verdade, há um
fenômeno de totemismo tal nesse processo de globalização, que faz
com que as máquinas assumam o papel de fim em si. Possuir a
máquina já é possuir o poder, detê-lo. Isso é feito, às vezes, da
maneira menos criteriosa possível. Tanto que, na USP, quando houve
a distribuição de microcomputadores e foi solicitado um certo número
para a cadeira de lingüística, nos foi perguntado o que iria ser feito
com os aparelhos. Há uma conotação de prestígio, ligada ao meio,
que precisaria ser criticada. Mas acho que, na medida em que esse
meio se totemiza, ele passa a ser estruturante, sem dúvida alguma.
Mas há um aspecto ilusório nesta estruturação. Se o indivíduo puder
também compreender o que é essa linguagem do ponto de vista
semiótico, se ele tiver consciência semiótica, ele pode ser criativo.

Há um fenômeno de totemismo tal nesse processo de globalização,


que faz com que as máquinas assumam o papel de fim em si. Possuir
a máquina já é possuir o poder, detê-lo.

Ciro - No caso, não me refiro à posse do aparelho, à relação


individual sujeito/aparelho, mas a todo o sistema que está aí. Nossa
intervenção em relação a tudo isso é muito pequena, discreta e
modesta, por ele na verdade estruturar nossa vida, nosso trabalho,
como um sistema geral.

Izidoro - Só penso que nossa intervenção também é pequena em


relação à manipulação dos media. Volto à questão primeira; se o
indivíduo conseguir, metalingüisticamente, ver que isso é apenas
uma linguagem, tem condições de dominá-la. Mas não acredito que
isso seja para todos. A própria massificação do conceito de
computador acaba levando a uma entronização. Gostaria de terminar
minha participação com uma piada, que é, na verdade, algo trágico.
Há uma empresa de assessoria e intermediação que agora está
fazendo tudo via computador. Reafirmo que esse automatismo com
que as coisas vão sendo feitas, sobre a égide do computador, pode
levar a situações típicas de Ionesco. A mensagem que a mim foi
dirigida é a seguinte, depois de longa introdução em que a empresa
explica que já está informatizada: "Somos a Souza Lima Assessoria e
Intermediação, empresa especializada no ramo de assessoria
funerária, que foi criada com o objetivo de auxiliar V.Sa. e
dependentes no momento mais difícil de nossas vidas. Com apenas
quatro parcelas de R$ 83,00 V.Sa. estará totalmente coberto pelo
plano...". Entre as ofertas que eles fazem está registro de óbito, taxa
de sepultamento, urna de zinco, paramentos, taxa de velório, urna
em tamanho especial, mesa de condolência, cremação, urna clássica,
assistência jurídica, ornamentos florais, carro para traslado, etc. Para
ver até que ponto de automatização as pessoas chegam, telefonei
para a firma. Atendeu uma senhorita e eu disse que havia recebido o
material e queria maiores informações. Perguntei se haveria uma
urna clássica, mas com ar-condicionado e, se possível, aparelho de
som. A moça disse que não sabia, que precisaria consultar o gerente
para averiguar se era possível...

PARTICIPANTES DO WORKSHOP

Ciro Marcondes Filho, professor titular da ECA/USP. Doutor pela


Universidade de Frankfurt, sociólogo e jornalista.
Eugênio Rondini Trivinho, mestre em Ciências da Comunicação pela
ECA/USP e doutorando em Jornalismo na ECA/USP.
Izidoro Blikstein, professor titular de Semiótica e Lingüística na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e do
Departamento de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas, é autor
de Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade, São Paulo, Cultrix,
1995 (4ª ed.) e Técnicas de comunicação escrita. São Paulo, Ática,
1995 (12ª ed.).
Mayra Rodrigues Gomes, mestre em Ciências da Comunicação pela
ECA/USP e doutoranda em Jornalismo na ECA/USP.
Vani Moreira Kenski, professora doutora da Faculdade de Educação da
Unicamp e da Faculdade de Educação da USP.
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