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P ROJETO DE P ESQUISA
J OÃO P ESSOA
– 2018 –
1 Formulação do Problema
O astrócito consiste em uma célula da glia responsável por uma ampla gama de fun-
ções complexas e importantes, relacionadas à manutenção da saúde do sistema nervoso central.
Essas funções incluem as funções primárias na transmissão sináptica e o processamento de
informações por circuitos neurais [4].
Os astrócitos são conhecidos por desempenhar papéis relevantes em numerosos proces-
sos de desenvolvimento e fisiologia do sistema nervoso central, como suporte trófico e metabó-
lico para neurônios, sobrevivência, diferenciação neuronal e orientação neuronal. Eles também
são elementos-chave na homeostase cerebral, regulando as concentrações locais de íons e neu-
rotransmissores [14, 11, 15, 19].
A interação de células biológicas pode ser modelada como um sistema de comunica-
ções, favorecendo, dessa forma, novas aplicações em nanotecnologia e nanomedicina [9]. A
comunicação molecular, inclusive, tem sido recentemente estudada de forma intensa na área de
biologia sintética para projetar e desenvolver aplicações de Bio-TIC (tecnologias de informação
e comunicação) [21, 6, 20].
Os astrócitos são acoplados, uns aos outros, por meio das junções comunicantes. Po-
rém, diferentemente do que se considerava há alguns anos, os astrócitos não são acoplados com
apenas uma organização espacial rudimentar. Existe uma crescente evidência experimental de
que os astrócitos se organizam como uma rede com diferentes topologias de acoplamento das
junções comunicantes com propriedades mais dependentes da região. Por esse motivo existem
alguns estudos que sugerem que a variabilidade da topologia de acoplamento das junção comu-
nicantes podem desempenhar um papel importante na variabilidade na propagação das ondas
de cálcio intracelular [12].
Como a função neuronal se baseia, principalmente, nos sinais elétricos e os astrócitos
não são células eletricamente excitáveis, eles foram largamente negligenciados como células de
sinalização ao considerar a função da rede neuronal. No entanto, o uso de corantes fluorescentes
sensíveis ao Na+ , que monitora os níveis intracelulares de íons em células vivas, demonstrou
que os astrócitos podem funcionar como uma rede para acoplamento neurometabólico combi-
nado através de gerações de ondas intercelular de Na+ e ondas metabólicas [7].
2 Justificativa
Com o estudo da comunicação molecular, tem sido desenvolvido um novo paradigma
para a engenharia de comunicação e a engenharia de redes, a Internet das Bio-Nano Coisas
(do inglês, Internet of Bio-NanoThings, IoBNT), que faz uma analogia entre as operações e os
elementos de uma célula biológica (execução de instruções baseadas em DNA, o processamento
bioquímico de dados, a energia química provida pelas proteínas e a troca de informações através
da transmissão e recepção de moléculas) e um dispositivo de Internet das Coisas (execução de
instruções feitas pelo processador, o processamento dos dados feito pelo software, a fonte de
alimentação dos circuitos eletrônicos e os transceptores, que permitem o envio ou recepção de
informação) [1].
Sendo assim, a compreensão e análise completa do comportamento da sinalização Na+
como um sistema de comunicação sendo avaliado pela topologia de acoplamento de junções
comunicantes regular em rede de astrócitos, é um passo essencial para permitir uma variedade
de aplicações, tais como, comunicação de nanomáquinas, modelagem de doenças e desenvolvi-
mento de sistemas inteligentes de administração de medicamentos. Com esse conceito, espera-
se um considerável impacto na nanomedicina e assistência médica, uma vez que possibilitaria
o monitoramento e a atuação em nível molecular, tornando-se mais eficiente que os sistemas
atuais da nanomedicina [5].
As deficiências na sinalização dinâmica espaço-temporal de Na+ podem ser um indica-
tivo de numerosas doenças, o que inclui o câncer, a Alzheimer, a doença de Parkinson, dentre
outras. Portanto, a compreensão das características da comunicação entre astrócitos pode levar
a novas metodologias para a detecção precoce de doenças;
Outro exemplo na qual a comunicação molecular pode contribui é com as novas aborda-
gens de administração de medicamentos, que podem ser otimizadas através da compreensão do
desempenho da sinalização de Na+ e das propriedades das junções comunicantes, de modo que
quantidades ótimas de moléculas de medicamentos, para difundir em locais específicos (células
doentes), possam ser determinadas para o tratamento de doenças.
3 Fundamentação Teórica
Os conceitos utilizados para a elaboração desse trabalho serão apresentados como uma
síntese sobre o Astrócito, Conceito biológico da Sinalização de Na+ em astrócito, Topologia de
acoplamento de junções comunicantes em Redes de Astrócitos.
3.1 Astrócito
O cérebro é uma montagem de células organizadas em uma estrutura altamente refinada.
Sua função no organismo animal é processar a informação recebida do meio ambiente através
dos órgãos sensoriais, bem como de sua própria atividade, e elaborar diferentes respostas bio-
lógicas que são executadas pelos órgãos efetores (músculos e células da glândula). O sistema
nervoso é formado por dois grandes tipos celulares, os neurônios e as células gliais – ou células
da glia [2].
As células da glia estão presentes no sistema nervoso em um número de 10 a 50 vezes
maior em relação aos neurônios. No sistema nervoso periférico existem dois tipos de células da
glia, as células de Schwann e as células de satélite; enquanto no sistema nervoso central (SNC)
existem quatro tipos diferentes: oligodendrócitos, microglia, astrócitos e células ependimárias,
como é possível observar na Figura 1 [16].
4 Objetivos
Objetivo Geral
Desenvolver um algoritmo, na linguagem de Python, capaz de simular o processo de
sinalização de Na+ em um tecido celular tridimensional de astrócitos com topologia regular de
acoplamento das junções comunicantes em uma rede de astrócitos.
Objetivos Específicos
X Entender as características da comunicação baseada na sinalização de Na+ para fornecer
orientações na concepção de nanomáquinas que são capazes de controlar e estimular o
processo de sinalização intracelular para a comunicação.
X Avaliar como é a comunicação entres os astrócitos.
X Buscar entender quais causas da falta de comunicação entre os astrócitos e o que pode
acarretar.
5 Metodologia
Inicialmente, são definidos os valores dos parâmetros que serão utilizados na simula-
ção. A próxima etapa consiste em definir a estrutura do tecido de acordo com a topologia de
acoplamento das junções comunicantes que será aplicada na rede (no tecido) de astrócitos. O
tecido é representado como uma matriz e as conexões entre os seus elementos será estabelecida
de acordo com os critérios da topologia da rede. A estrutura do tecido, bem como os esquemas
de conexões para cada uma das topologias analisadas.
A próxima etapa consiste no cálculo da probabilidade de cada reação ocorrer, em um
determinado astrócito do tecido, o qual é realizado por meio de um resolvedor estocástico que
se baseia no algoritmo de Gillespie [17]. A reação escolhida será executada no respectivo
astrócito, podendo ser uma reação intracelular – no interior do próprio astrócito – ou uma reação
intercelular – ocorrendo uma difusão entre o astrócito selecionado e um dos astrócitos com os
quais ele está conectado. O tempo de execução da reação selecionada será incrementado ao
tempo atual da simulação.
Enquanto o tempo atual da simulação não exceder o tempo total de simulação, o algo-
ritmo continuará escolhendo e executando uma nova reação, e incrementando o tempo da reação
ao tempo atual da simulação, conforme pode ser observado no fluxograma da Figura 3.
O tempo total de simulação é definido na inicialização dos parâmetros, podendo ser
alterado ao longo da execução. O algoritmo é encerrado quando o tempo atual da simulação
ultrapassa o tempo total de simulação.
Nesta topologia, define-se um raio para as conexões de um astrócito aos outros, que
estarão no interior do círculo formado pelo raio definido. Tendo em vista que o tecido celular
foi construído em um formato de paralelepípedo, aplicar esse conceito da rede levaria a uma
simulação de alta complexidade, não apenas devido ao número de conexões – que poderia ser
muito elevado – como também, pelo número de cálculos que deveriam ser realizados a fim de
definir os astrócitos que estariam em uma distância inferior ao raio.
A Figura 5 ilustra o esquema de conexões entre os astrócitos. Para simplificar a visuali-
zação, cada astrócito é apresentado em um formato retangular, e os astrócitos destacados na cor
verde são aqueles que estão conectados ao astrócito destacado na cor vermelha. Além disso, o
tecido possui as dimensões 3 × (3 × l) × (9 × l), sendo possível observar os três cortes, de z = 1
a z = 3.
Na Figura 5 é possível verificar que o astrócito central (vermelho) está acoplado apenas
aos seis astrócitos (vizinhos) mais próximos, ou seja, ele se comunica apenas aos astrócitos que
estão no primeiro nível de vizinhança, o que se configura como uma topologia de grau regular.
O mesmo esquema de conexões se repetirá para cada um dos outros astrócitos presentes no
tecido celular.
Os níveis de concentração de Na+ no tecido celular serão analisados por meio de mapas
de calor, visto que são capazes de fornecer informações sobre padrões de propagação molecular,
ao longo do tempo. Dessa forma, a dinâmica de concentração de Na+ foi analisada para cada
uma das topologias de acoplamento das junções comunicantes.
Como o interesse dessa análise é verificar a forma como o Na+ é difundido no tecido ao
longo do tempo, as reações intracelulares foram desconsideradas, deixando apenas as reações
intercelulares (difusões). No início da simulação, o transmissor será estimulado com um nível
de Na+ correspondente a 0,5 µM.
6 Cronograma
X Etapa I: Realizar revisão bibliográfica;
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Planos de Atividades
Coordenador do projeto
Terá a função de orientar o estudante no desenvolvimento do referencial teórico e da
programação e na lógica para o desenvolvimento do sistema. Além disso, revisará o algoritmo
desenvolvido e auxiliará no desenvolvimento do relatório parcial e final.
Discente bolsista
Responsável por desenvolver o algoritmo para simular o sistema de comunicação por
astrócitos e gerar as curvas dos resultados apresentados. Também trabalhará na elaboração do
relatório final.