RESPOSTAS DO PROFESSOR NO CORPO DO E-MAIL DO ALUNO
Ainda que um tanto (e novamente) atrasada no acompanhamento das aulas,
hoje consegui um espaço de tempo para retomá-las e, ao terminar de assistir à Aula 8, fiquei com algumas dúvidas que gostaria que solucionasse. Ei-las: 1. É muito comum encontrar o uso de "mesmo" no lugar de substantivos em traduções, a fim de evitar sua repetição. Em textos de conteúdo jurídico, vejo que isso é ainda mais comum. Por exemplo, em Este Acordo aplica-se a todas as atualizações do Software, incluindo todo o conteúdo para download do mesmo, utilizou-se "mesmo" para evitar a repetição de "Software", e em Ao aceitar este Contrato, você concorda com os termos do mesmo e em observar a política dos Serviços da Empresa, utilizou-se "mesmo" para substituir "Contrato" (sendo "mesmo" a tradução de its terms). Conforme explicado em sua aula, esse uso não deveria ser evitado? Diferentemente do inglês, que repete normalmente substantivos em suas construções, o português utiliza-se de outros recursos para evitar repeti-los, como os pronomes possessivos. Sendo assim, nesses exemplos, poderíamos substituir "mesmo" pelos pronomes "seu" e "seus", respectivamente, desta forma: Este Acordo aplica-se a todas as atualizações do Software, incluindo todo seu conteúdo para download e Ao aceitar este Contrato, você concorda com seus termos e em observar a política dos Serviços da Empresa?
RESPOSTA. Sem dúvida alguma deve evitar-se. Use-se em seu lugar ou um
demonstrativo ou um pronome reto, ou altere-se a construção. Não está mau como você o fez. Apenas duas observações: a) entre todo e um possessivo, há de vir obrigatoriamente, em português, um artigo: todo o seu conteúdo; b) não devemos fugir da repetição de palavras se tal significar incompreensibilidade ou uma escrita pernóstica: antes o não ouro que o ouropel.
2. O uso do substantivo "coisa" em traduções é uma coisa um tanto
complicada. Em geral, recomenda-se evitá-lo por tratar-se de termo demasiado genérico e coloquial, com exceção certamente das traduções literárias de cunho mais informal (não sempre, porém). Uma substituição possível de "coisa" é pelo pronome indefinido "algo". Sei que ainda não assisti à Aula 9, onde são tratados os pronomes indefinidos, e não sei se esse tema foi comentado, mas se não for pedir muito, gostaria que discorresse um pouquinho sobre ele.
RESPOSTA. Quem o recomenda? A palavra coisa é de uso obrigatório e
técnico, por exemplo, em filosofia, e nesta se opõe a algo. Em muitas áreas, porém, pode substituir-se facilmente coisa pelo indefinido algo. Não o transformemos, porém, em obcecação: assim como com respeito à repetição de palavras, antes o não ouro que o ouropel. – Cuidado, caríssima, com tais recomendações gramaticais. Deve ver-se, antes de tudo, de onde procedem. Um rumor gramatical não é uma regra de gramática.
3. Por último, "todo mundo". Contrariamente a ela, não existe a forma
"todo o mundo" no sentido de "todas as pessoas"? "Todo mundo", então, não significaria "o mundo todo"?
RESPOSTA. Certamente falo disto em alguma aula. Não há senão todo o
mundo, com artigo, assim como se diz em espanhol todo el mundo, em francês, tout le monde, em italiano tutto il mondo, etc. Todo o mundo pode referir-se ou à totalidade do mundo (e então será o mesmo que o mundo todo) ou, hiperbolicamente, à totalidade de dada quantidade de pessoas: Todo o mundo [= O mundo todo] é belo; Todo o mundo [= Toda a gente, Todas as pessoas] saiu da sala; etc.
4. Ah, e um adendo ao comentário sobre o uso de "que tal" em espanhol: há
também o "¿qué tal?" como expressão de interesse sobre o estado de saúde, ânimo, etc. do interlocutor.
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