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Curso: Direito Turno: Noturno

Disciplina: Direito à Informação Data: 31/08/21


Turma: T1
Professor: Ricardo Perlingeiro
Aluno(a): Júlio Cesar Santos da Silva
As Leis de Acesso à Informação na América Latina

O artigo “Princípios sobre o direito de acesso à informação oficial na América Latina”, através
de um estudo de direito comparado, trata de analisar a “ascensão” do Direito de Acesso à Informação
ao rol de Direitos Fundamentais de terceira geração e como ele se estabelece na América Latina com a
edição dos dez princípios sobre o direito de acesso à informação, declarados, em 2008, pelo Comitê
Jurídico Interamericano (CJI) da Organização dos Estados Americanos (OEA), e a Lei Modelo
Interamericana sobre Acesso à Informação Pública da OEA, de 2010.
Em que se pese o aspecto de novação legislativa, o aspecto à informação é consagrado como
Direito fundamental desde a “Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos” de 1917 –
mantendo a observação da América Latina. O que temos portanto, a partir de 2008, é a regulamentação
do Direito de Acesso a informação diante da necessidade de proteção e desenvolvimento social
coletivo com o fortalecimento das bases democráticas dos governos latino-americanos.
O acesso é informação está vinculado à proteção da dignidade humana, pois abre margem para
concretização de outros direitos fundamentais, sendo fruto da liberdade de pensamento e de expressão.
Além disso,
“o acesso à informação é um princípio básico do controle social,
por meio do qual o povo exerce algum controle sobre a ação da
Admnistração, elaborando, acompanhando ou monitorando as
ações da gestão pública.”1

Há alguns aspectos de historicidade que seriam relevantes para análise das Leis de Acesso à
informação na América Latina. O mais central é a incidência de governos ditatoriais entre as décadas
de 60 e 80, em função do fim da Segunda Guerra. Como grande parte dos países do Cone Sul passou
por um período de repressão de direitos e de negativa de informações por parte das Autoridades
Pública, mesmo com o processo de redemocratização pós-Ditadura, urge a necessidade de reforça a
participação popular com a abertura das “caixas-pretas” de cada governo.
A exigência de uma Administração de Pública transparente e com práticas de governança
corporativa passa a ter palco no meio político, de modo a garantir participação popular “de fato” e

1
OLIVEIRA, Ciro Jônatas de Sousa. Garantia do Direito à informação no Brasil: Contribuições da Lei de Acesso à
Informação. Disponível em <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-administrativo/garantia-do-direito-a-
informacao-no-brasil-contribuicoes-da-lei-de-acesso-a-informacao/> Acesso em: 26/09/2020
repreender arbitrariedades por parte dos agentes públicos e de empresas privadas que tenham ações de
interesse público. Enseja-se, portanto, diminuir a assimetria de informações entre governantes e
população com foco na prestação de contas eficiente, combate à corrupção e ao desvio de recursos
públicos.
Antes mesmo que a CJI tivesse declarado os princípios de acesso à informação, observamos a
recorrência de decisões judiciais na Suprema Corte de cada país latino-americano de origem ibérica,
em reconhecimento ao direito constitucional de acesso à informação e ao dever de “probidade,
publicidade e transparência” do poder público. Como disposto no art. 6º da lei brasileira de Acesso à
Informação:
Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as
normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a:
I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a
ela e sua divulgação;
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade,
autenticidade e integridade; e
III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal,
observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e
eventual restrição de acesso.2

Contudo, embora a princípio todo os atos da Administração sejam públicos e o povo seja titular
da soberania nacional, há necessidade de se estabelecer reservas legais para o acesso à informação. Há
um requisito de proporcionalidade entre os direitos fundamentais, pois um não pode anular o outro e,
em tese, não se pode falar de um direito fundamental superior ou de maior importância. Neste quesito,
o direito de acesso à informação encontra freio no direito à privacidade, à segurança pública e na
preservação da soberania nacional.
Fim equilibrar as medidas de acesso à informação, a mesma lei classifica os graus e prazos de
sigilo para as informações descritas no art. 23 e cria os procedimentos para “classificação,
reclassificação e desclassificação” do Grau de Sigilo das Informações.
Embora apresente uma primorosa análise no âmbito do Direito Comparado, o texto deixa de
analisar um contexto que considero essencial na constituição e aplicação do Direito de Acesso à
informação: As Ditaduras Militares no Cone Sul da América. No caso do Brasil, esta associação é bem
mais direta uma vez que após 11 anos de trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos, o Governo sanciona duas leis sequenciais na mesma data: A Lei de Acesso à Informação
Pública (12.527/2011) e a Lei da Comissão Nacional da Verdade (12.528/2011). Como a abordagem
histórica não é o objetivo do texto, não trabalhá-la conserva a linha da pesquisa sob a Coordenação
Geral do Prof. Dr. Hermann-Josef Blanke.

2
BRASIL. Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Lei que regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII
do art. 5, no inciso II do § 3 do art. 37 e no § 2 do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei 8.112, de 11 de dezembro
de 1990; revoga a Lei 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em:
26/09/2020.

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