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tendência que ‹§ ,-. o ,.o os um texto dos anos 1160 (a Surnma perusina) amplifica ainda mais, 15. O monastério românico de San Pere de Roda, Catalunha, século xt.
Consagrada em 1022, a abside do edifício abacial de San Pere de Roda comporta um dos primeiros deambula-
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enfatizando-a: 'di á` a tórios e sua nave, terminada na segunda metade do mesmo século, não é menos audaciosa. Do exterior, distin -
guem-se a igreja abacial e seu campanário, a muralha do claustro associada ao refeitório e ao dormitório, duas
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"O papa é o verdadeiro imperador". Esta pretensão a um papado imperial, plena --)
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outras torres e diversos edifícios que serviam às atividades dos monges. O monastério apresenta-se como uma
- , C cidadela fortificada suspensa no flanco da encosta, dominando orgulhosamente a solitude em torno.
realização na terra do poder real de Cristo, nem sempre é apenas teoria. Assim, h z :47,
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quando ele proclama a cruzada, em 1095, Urbano ii usurpa manifestamente uma =CO r" eq
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prerrogativa imperial e põe o papa, de modo duradouro, na posição de guia da cris-l< „co
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Mas, ncla de, em um domínio que deveria ser próprio da competência do
imperador. Mas, no geral, a cristandade medieval não tomou exatamente a forma
SÉCULO XIII: UM CRISTIANISMO
do que se tem o hábito de chamar de uma teocracia, na qual a Igreja deteria o
c COM NOVAS ENTONAÇÕES
efetivamente a soberania nos negócios temporais. As afirmações mais combativas, E
sem dúvida, visavam menos a ser inteiramente postas em prática do que a 8 Entre os séculos xt e xm, o Ocidente transforma-se de modo considerável. Se
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consolidar o essencial: a proeminência da monarquia pontifícia sobre todos os E
co fosse preciso escolher um edifício para simbolizar a Europa do século xi, este
outros poderes do Ocidente e o reconhecimento do papa como guia da cristandade.
• 1.1 seria, sem dúvida, um monastério beneditino, tal como o de San Pere de
Ao término dos processos descritos aqui, o caráter dominante da institui ção
Roda, na Catalunha, com ares de fortaleza suspensa no flanco de uma colina,
eclesial está mais marcado do que nunca. Esta é reformada sob a autorida de
. dominando, a partir de seu soberbo isolamento, os campos circundantes (figu-
absoluta e centralizadora do papado, e a dominação dos clérigos sobre os lai cos é
fortalecida graças a uma separação hierárquica cada vez mais vigorosa entre
R" ra 15, acima).
urna casta sacralizada e o comum dos fiéis. Essa reorganização é acompa nhada por
o Para exprimir as realidades do século XIII, seria necessário pensar, ao con-
numerosas transformações que afastam a cristandade ocidental de suas origens
o trário, em uma catedral gótica, tal como a de Bourges, audacioso edifício no
- c..), coração da cidade (figura 16, na p. 198). De um edifício a outro, passa-se de um
(por exemplo, no que concerne à associação de Constantino entre a Igreja e o cu
.a) c universo rural ainda fracamente povoado para um mundo mais densamente
Império) e que não acontecem no Oriente bizantino. O cisma de 1054, 0 ol
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ocupado, onde a cidade tem um papel notável (ilustração \mi, na p. 199). Ao
consumado precisamente durante o pontificado de Leão ix, acompanha muito cii a>
mesmo tempo, a dominação dos monges cede terreno diante da reafirmação do
logicamente o momento em que a forma ocidental da Igreja cristã se desenha
clero secular.
em toda a sua clareza.
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CATEDRAL DE LEON
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Entre os séculos xi e mil, não é apenas a igreja de pedra que muda, mas também
Igreja como instituição. A criação das ordens mendicantes é um dos aspectos
mais marcantes dessas transformações. Para começar, evocar-se-á a figura de são
Francisco, personagem ao mesmo tempo singular e revelador das tensões de seu
século. Para isso é preciso recorrer às diferentes Vidas redigidas por seus discípulos
conforme as regras do gênero hagiográfico, com a intenção de atestar a san tidade
de Francisco e de fortalecer o seu culto. Trata-se, então, menos de uma "verdade"
biográfica que deve ser procurada nos textos do que a expressão dos modelos e dos
valores ideais de uma época. Francisco nasceu em 1181 ou 1182, em Assis, uma
das cidades da Itália central em que o comércio floresce precocemente. Ele é o
filho de um rico mercador, do qual lhe incumbe continuar os negócios. Mas o
jovem Francisco põe-se em busca de ideais mais elevados, sinal de que o
desenvolvimento das atividades urbanas não significa, necessariamen te, a
formação de urna "burguesia" dotada de valores próprios bem assentados. 1
nteriorizando inconscientemente as hierarquias de seu tempo, ele sonha, de início,
com as proezas cavaleirescas e se prepara para partir para a guerra no Sul da Itália.
Mas uma visão sobrenatural o dissuade disso. Depois, enquanto ele ora na igreja de
San Damiano, diante da imagem de Cristo na cruz, este dirige-se a ele e o
convida a reconstruir a sua igreja. Como bom laico, que as realidades mate riais
ainda impedem de elevar-se até as verdades espirituais, Francisco acredita dever
tornar-se pedreiro para reconstruir o edifício que ameaça cair em ruínas. Mas,
evidentemente, é para uma missão mais alta que Cristo o chama. Francisco,
cuja conduta o põe em conflito com seus pais, pouco a pouco toma consciência
disso e renuncia à herança paterna. Em uni ato definitivo de conver são, ele se
19. São Francisco renunciando aos bens paternos, e. 1290-1304 (afrescos de Giotto na basílica de Assis). desnuda para restituir a seu pai os tecidas com os quais este faz comércio e põe-
Este é o episódio crucial da conversão: em uni ato teatral, Francisco se desnuda e abandona as vestimentas que se, nu, sob a proteção do bispo (figura 19, na p. 206). Em vez da comodidade
obtivera de seu pai para significar sua renúncia à herança familiar. O bispo o cobre pudicamente com o seu
manto, em um gesto carregado de um simbolismo de adoção, transposto aqui para o plano espiritual. Se a con- material que seu nascimento devia lhe proporcionar, ele abraça a exigência de
versão se apresenta como um jogo têxtil (das vestimentas do pai ao manto do bispo), ela é, sobretudo, uma ques - uma pobreza radical e escolhe "seguir nu o Cristo nu".
tão de parentesco: Francisco rompe com seus pais carnais para fazer prevalecer o parentesco espiritual que une
os membros da Igreja, enquanto seu gesto de prece aponta para a mão abençoadora do Pai divino. Um de seus Sua mensagem, que começa então a pregar pela palavra, e sobretudo pelo
biógrafos lhe atribui, de resto, estas palavras, ditas neste preciso momento: "Em toda a liberdade, daqui por exemplo, surpreende por sua simplicidade: viver com o Evangelho por única
diante, eu poderei dizer: Nosso pai que estás no céu! Pedro Bernadone não é mais meu pai". Quanto a Giotto,
ele dá ao sistema de parentesco medieval a forma de urna perfeita geometria (parentesco carnal, parentesco
espiritual, parentesco divino).
regra, fazer penitência. Francisco a põe em prática através de uma devoção que
associa o imediatismo e uma certa alegria, manifestação de uma comunhão com