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(2014)
Autonomia
Unità e pluralità nel sapere giuridico
fra Otto e Novecento
TOMO I
CRISTIANO PAIXÃO
AUTONOMIA, DEMOCRACIA
E PODER CONSTITUINTE: DISPUTAS CONCEITUAIS
NA EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA
(1964-2014)
1. Introdução.
A experiência histórica do constitucionalismo no Brasil é
complexa e plural (1). Para além da centralidade do par conceitual
democracia/autoritarismo — que continua a ser um importante
índice na releitura das constituições brasileiras —, o que importa
notar é a diversidade dos usos do léxico do constitucionalismo
moderno ao longo de quase dois séculos de transformações políticas.
Para o historiador do direito, essa diversidade apresenta enormes
desafios metodológicos: ao longo de 190 anos, o Brasil produziu sete
constituições e mais de uma centena de emendas constitucionais,
(1) O autor manifesta seus agradecimentos aos colegas Airton Seelaender, José
Otávio Nogueira Guimarães, Menelick de Carvalho Netto, José Geraldo de Sousa
Junior, Leonardo Barbosa, Marcelo Cattoni e Douglas Pinheiro pelo diálogo travado ao
longo de muitos anos de pesquisa em história constitucional. Ficam aqui também
registrados os agradecimentos a Claudia Paiva Carvalho, Rafael Cabral, Renato Bigliazzi
e Maria Pia Guerra pela atenta leitura do texto.
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(7) G. STOURZH, Constitution: changing meanings of the term from the early
Seventeenth to the late Eighteenth century, in Conceptual change and the Constitution,
org. by T. Ball and John Pocock, Lawrence, University Press of Kansas, 1988, pp. 35-54;
G. MADDOX, Constitution, in Political innovation and conceptual change, ed. by J. Farr.,
T. Ball, R. Hanson, Cambridge, Cambridge University Press, 1995, pp. 50-67; J. FARR,
Conceptual change and constitutional innovation, in Conceptual change and the Consti-
tution, org. by T. Ball and John Pocock, Lawrence, University Press of Kansas, 1988, pp.
13-34; R. KOSELLECK, Patriottismo, in ID., Il Vocabolario della Modernità. Progresso, crisi,
utopia, e altre storie di concetti, trad. it. Carlo Sandrelli, Bologna, il Mulino, 2009,
pp. 111-132.
(8) H. DIPPEL, Modern constitutionalism: an introduction to a history in need of
writing, in « The Legal History Review », LXXIII (2005), 1, pp. 1-37; M. FIORAVANTI,
Costituzionalismo. Percorsi della storia e tendenze attuali, Roma-Bari, Laterza, 2009,
pp. 53-69.
(9) N. LUHMANN, Law as a Social System, trad. ing. Klaus A. Ziegert, Oxford,
Oxford University Press, 2008.
(10) Cristiano PAIXÃO, Paulo Sávio Peixoto MAIA, História da Constituição como
história conceitual: Marbury v. Madison e o surgimento da supremacia constitucional, in
« Revista Acadêmica. Faculdade de Direito do Recife », LXXXI (2009), pp. 156-175.
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(11) C. PAIXÃO, Modernidade, tempo e direito, Belo Horizonte, Del Rey, 2002,
pp. 239-296.
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(12) Uma adequada abordagem desse tema, com pressupostos bastante próxi-
mos daqueles desenvolvidos no presente texto, é trazida por: M. CATTONI, Democracia
sem espera e processo de constitucionalização: uma crítica aos discursos oficiais sobre a
chamada “transição política brasileira”, in ID., Constitucionalismo e História do Direito,
Belo Horizonte, Pergamum, 2011, pp. 207-247. Ver também: M. DEBRUN, A “Conci-
liação” e outras estratégias, São Paulo, Brasiliense, 1983, pp. 130-148.
(13) S. TAVOLARO, A cidadania da “Era Vargas” revisitada: Uma modernidade
singular?, in « Teoria & Pesquisa », XIX (2010).
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(20) Ver, para uma abrangente reconstrução histórica desses debates, o texto de
J. FERREIRA, Brizola em panfleto: as idéias de Leonel Brizola nos últimos dias do Governo
de João Goulart, in « Projeto História », n. 36 (2008), pp. 103-122.
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(38) Uma amostra significativa desse ponto de vista está presente na obra
organizada por E. SADER, Constituinte e democracia no Brasil hoje, São Paulo, Brasiliense,
19852. Cf. especialmente os textos de Raymundo Faoro, Ruy Marini e Dalmo Dallari.
(39) BRASIL, Constituições do Brasil, cit., pp. 513-514.
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(48) Sem grifo no original. A íntegra do discurso pode ser consultada na página
da Fundação Mario Covas: http://www.fundacaomariocovas.org.br/mariocovas/
pronunciamentos/votacao-constituinte/, acesso em 5 de junho de 2014.
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(49) S. RAMOS, Assembléia constituinte: o que pode e o que não pode. Natureza,
extensão e limitação de seus poderes, Rio de Janeiro, Alhambra, 1987, p. 11. Original
grifado.
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(69) BRASIL. Câmara dos Deputados, Notas taquigráficas, cit., pp. 41-42.
(70) BRASIL. Supremo Tribunal Federal, ADPF 153, cit., p. 242 (sem grifo no
original).
(71) Cf. a abordagem proposta em M. NOBRE, Imobilismo em movimento: da
redemocratização ao governo Dilma, São Paulo, Companhia das Letras, 2013, pp.
142-158.
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8. Conclusão.
A análise dos discursos de atores da cena política e do judi-
ciário nos últimos cinquenta anos mostra a centralidade do poder
constituinte. Nesse período, o Brasil experimentou alternância entre
regimes autoritários e democráticos e viveu uma longa transição
política. Em todas essas circunstâncias, o debate em torno do poder
constituinte esteve presente, acompanhado de pares conceituais
como autoritarismo/democracia, revolução/golpe e, após 1988,
nacional/estrangeiro. Sempre que se estabeleceu uma disputa sobre
o regime político, retornou a discussão sobre o poder constituinte.
Fica evidenciado, nesse contexto, o papel articulador do par
conceitual poder constituinte originário/poder constituinte deriva-
do. Considerando que as lutas por direitos fundamentais e cidadania
se fazem presentes na história do Brasil desde o movimento pela
independência, revela-se possível adotar esse par conceitual como
guia na observação dos discursos, práticas e demandas por inclusão
que marcam a relação entre política e direito na história brasileira.