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O Poder da Escrita

COM PEDRO BIAL

W E B S É R I E E X C L U S I V A

Episódio 2: A função do texto na nossa vida


PEDRO BIAL
Olá, como você está?

O P O D E R D A E S C R I TA
Mais uma vez, agradecemos a sua companhia.

Você, que está acompanhando a série O Poder da Escrita,


chegou a uma conclusão sobre a sua relação com o texto,
como foi proposto no primeiro exercício?
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Vimos que antes de se desenvolver na escrita é preciso
ampliar o seu repertório. E para lhe ajudar a transpor essas
referências para o seu dia a dia como escritor, deve-se, antes
de tudo, compreender a função do texto na nossa vida.

Este é o tema do segundo episódio da série. A seguir,


preparamos um conteúdo com referências e reflexões que lhe
ajudarão a se inspirar na busca por novas ideias. A partir dos
exercícios propostos, você terá as ferramentas necessárias
para organizar os pensamentos, emoções e expressá-los por
meio de palavras, frases e textos completos.

O que move alguém a


escrever?
“Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de
mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a
mim mesmo que isso seja?”

A reflexão acima foi feita pelo semi-heterônimo de


Fernando Pessoa, Bernardo Soares, em seu diário o “Livro
do Desassossego”. Ela mostra a urgência e a necessidade do
autor em transformar pensamentos em palavras.
PEDRO BIAL
O P O D E R D A E S C R I TA
E você, já pensou nisso? De fato, cada um traz consigo suas
próprias motivações. Há quem escreva por que não consegue
guardar para si o que explode no peito. Outros o fazem para
compartilhar sua visão de mundo. Há quem queira fazer rir,
outros emocionar. Impera em alguns a pretensão de inventar
uma outra realidade. Existem também os que não tem
pretensão alguma – escrevem como uma extensão do ato de
respirar.
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Mas uma coisa é certa: independente da aspiração inicial, o
que move um escritor é a necessidade de escrever e o desejo
do outro de ler. O texto representa o elo entre solidões,
uma ponte que faz com que sejamos capazes de trocar
testemunhos. O texto aproxima as pessoas e dá sentido à
vida.

Texto é feito de estrutura,


métodos, gêneros e estilos.
É poesia, mas também é técnica. Segundo o dicionário
Houaiss, estilo é o “modo pelo qual um indivíduo usa
os recursos da língua para expressar, verbalmente ou
por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer
declarações, pronunciamentos”.

Quando falamos em estilo, é aceitável a transposição de


palavras, a substituição da voz ativa pela passiva, o uso
de frases simples e curtas ao invés de períodos longos e
rebuscados. A opção por um caminho ou outro dependerá
dos objetivos do autor e do contexto no qual ele escreve.
PEDRO BIAL
George Orwell, no livro Politics and

O P O D E R D A E S C R I TA
The English Language (Política e a
Língua Inglesa), enumera seis regras
elementares para o escritor:

Regra 1. Nunca use uma metáfora, analogia ou figura de


linguagem que você esteja acostumado a ler. 4

Regra 2. Nunca use uma palavra comprida se puder usar


uma curta.

Regra 3. Se puder cortar uma palavra, sempre corte.

Regra 4. Nunca use a voz passiva se você pode usar a voz


ativa.

Regra 5. Nunca use palavra estrangeira, palavra científica


ou jargão se puder usar uma equivalente do dia a dia.

E, por fim, mas não afinal, a sexta e definitiva regra:

Regra 6. QUEBRE TODAS AS REGRAS ANTES DE FALAR


QUALQUER ABSURDO!

Politics and The English Language

Data da primeira
publicação: 1946
Autor: George Orwell
Gênero: Ensaio
Idioma original: Inglês
PEDRO BIAL
O Poder dos Clássicos

O P O D E R D A E S C R I TA
A literatura é rodeada dos chamados “clássicos”: obras atemporais,
icônicas, cuja universalidade temática e linguística faz com que,
de tempos em tempos, voltem a ser pauta de discussões entre os
apaixonados por leitura.

1984 5

O romance mais citado do século XX foi escrito pelo jornalista,


ensaísta e romancista britânico George Orwell. A obra foi traduzida
em 65 países, virou minissérie, filmes, inspirou quadrinhos, mangás
e até uma ópera.

O enredo nos apresenta um futuro distópico onde tudo gira em


torno do Grande Irmão. Descrito como “Quarenta e cinco anos,
de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother
é o líder máximo. Ele assumiu o poder depois de uma guerra de
escala global, que eliminou as nações e criou três grandes estados
transcontinentais totalitários.

Privacidade x Superexposição

Em um mundo sombrio e opressivo, “o Grande Irmão está de olho


em você”, como anunciam os cartazes espalhados pelas ruas. Ele
vigia a rotina e as relações interpessoais da sociedade através das
“teletelas”, placas metálicas semelhantes a um espelho, espalhadas
em lugares públicos e na intimidade dos lares.

Além disso, há microfones escondidos nas ruas e pequenos drones


que filmam dentro das residências. Diante do cenário apresentado,
a história central do livro gira em torno do protagonista Winston
Smith, que se revela contra o Grande Irmão e seus princípios.

A temática da superexposição e da tecnologia que acompanha cada


passo está presente no livro de 1949. Hoje, mais de 70 anos depois,
essa questão permanece mais atual do que nunca.
PEDRO BIAL
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Novilingua – o poder da linguagem

Na obra somos apresentados à “Novilingua”, uma língua


criada pelo partido totalitário para vigiar e controlar os
cidadãos – principalmente membros do partido – para que
não conseguissem articular os pensamentos dissonantes à
ideologia política dominante.

O objetivo da Novilingua não era somente fornecer um meio 6


de expressão compatível com a visão de mundo e os hábitos
mentais dos adeptos da ideologia do partido, mas inviabilizar
todas as outras formas de pensamento.

O fato dessa ser uma das principais preocupações/estratégias


do partido revela o poder da linguagem – que compreende
tanto a escrita quanto a leitura – de manipular a realidade de
uma sociedade.

Fake News e fatos alternativos

Outra questão abordada no livro é a perda de relevância


dos fatos. O partido controla todas as notícias – inclusive as
antigas –, moldando o presente e até o passado a seu favor.
O Ministério da Verdade era a organização responsável pela
difusão de notícias, entretenimento, pela educação e pelas
belas-artes.

Se o país estava em guerra com uma outra nação e, de


repente, assinava uma trégua, o partido alterava todas as
notícias para que dessem a entender que as nações sempre
estiveram em paz e que o inimigo sempre foi outro. Dessa
forma, não existem fatos. Os fatos eram aquilo que o partido
determinava.

Winston Smith, o protagonista do livro, chega a ponderar:


o poder do Ministério era tão grande que, se um dia fosse
decretado que dois mais dois é igual a cinco, talvez a
população fosse capaz de aceitar aquilo como um fato.
PEDRO BIAL
1984
Data da primeira

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publicação: 1949
Autor: George Orwell
Gênero: Ficção distópica
Idioma original: Inglês

Chegou a sua vez!


1984 é um exemplo de obra literária distópica que se insere
em uma moldura real da sociedade. Uma obra moderna
pertencente a um futuro demasiadamente distante em
relação ao ano em que foi escrito. Ainda assim, é possível
relacionar diversas temáticas do livro com a realidade atual.

O mesmo ocorre com outras obras distópicas. Normalmente


imperam, nesses enredos, uma realidade futurística e
catastrófica, fruto de ações do passado. Em comum, as obras
têm um indivíduo – ou um grupo de indivíduos – que percebe
algo de estranho com a realidade na qual estão inseridos.

Grandes clássicos são distopias. A exemplo, filmes como


Clube da Luta, Blade Runner e Mad Max. Na literatura,
encontramos Laranja Mecânica e obras mais recentes como
O Conto da Aia.

Destacamos, a seguir, o romance “Admirável Mundo Novo”,


de Aldous Huxley, publicado originalmente em 1932. Veja a
descrição do livro.
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Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios
científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras

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“pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas
programadas em laboratório e adestradas para cumprir seu
papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no
nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema
só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um
universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem,
a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford.
Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico
de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, 8
constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da
tematização de estados autoritários. Se o livro de Orwell criticava
acidamente os governos totalitários de esquerda e de direita, o
terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o
objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a
racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo
ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais
fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire
tons revolucionários. Entretanto, o moderno clássico de Huxley
não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica.
Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das
potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos.
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Admirável Mundo Novo

O P O D E R D A E S C R I TA
Data da primeira
publicação: 1932
Autor: Aldous Huxley
Gênero: Ficção distópica
Idioma original: Inglês

Hora da leitura
Assim como fizemos anteriormente com 1984, identifique
as possíveis relações entre o romance de Aldous Huxley e a
atualidade. Escreva suas conclusões abaixo.
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Crime e Castigo

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Ao falar sobre os clássicos da literatura, podemos destacar
Crime e Castigo, um romance publicado em 1866 pelo
escritor e jornalista russo Fiódor Dostoiévski, maior
representante do realismo russo ao lado de Leon Tolstoi.

O personagem principal do livro é o jovem Rodion 10


Romanovich Raskolnikov, ex-estudante de Direito que vive na
miséria em um minúsculo apartamento em São Petersburgo.
Ele acredita que está designado a grandes ações, mas que a
miséria o impede de atingir todo o seu potencial.

O assassinato de uma pessoa reles seria moralmente errado


se o objetivo fosse nobre? Raskolnikov acredita que todas
as pessoas superiores acabam cometendo assassinatos
para atingir seus objetivos. Trata-se da teoria do “homem
extraordinário”.

O “homem extraordinário” é aquele que, pelo imenso valor


que possui para a humanidade, tem o direito de passar por
cima de leis morais para realizar aquilo que pretende.

Raskolnikov se convence que é uma dessas pessoas. Portanto


acredita que matar uma senhora idosa para atingir todo o seu
potencial não é um ato moralmente condenável, ainda que
contra a lei.

Uma das principais questões do romance é: há crime sem


castigo? Se o criminoso acredita que o delito cometido é
moralmente correto e é hábil para esconder todas as provas,
ele ainda assim será castigado pela culpa?

Mesmo que Raskolnikov não se sinta culpado pelo crime que


cometeu, a sociedade exerce uma pressão moral sobre ele.
A presença de sua irmã e de sua mãe em São Petersburgo
logo na sequência do assassinato é um motivo de extrema
perturbação para o ex-estudante.
PEDRO BIAL
Sua mãe e irmã são muito queridas e apenas a possibilidade

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delas tomarem conhecimento do seu ato é motivo de
constante preocupação. O autor nos mostra que por mais
que a moral seja algo do indivíduo, ela está ligada à sociedade,
aos círculos mais íntimos de convívio.

Apesar de insistir durante toda a história que não se sente


culpado pelo assassinato, Raskolnikov nos mostra o contrário
através de suas ações e de sua perturbação, que só é acalmada
depois da confissão. 11

Crime e Castigo

Data da primeira
publicação: 1866
Autor: Fiódor Dostoiévski
Gênero: Romance
Idioma original: Russo

A influência da sociedade
sob o indivíduo
O livro de Dostoiévski levanta um debate importante: qual
a influência exercida pela sociedade sobre o pensamento
e o comportamento dos indivíduos? Em “Crime e Castigo”,
embora o protagonista não se sinta culpado inicialmente
pelo crime que cometeu, a pressão da sociedade – aqui
representada pela sua mãe e sua irmã, principalmente – o
leva à loucura.
PEDRO BIAL
Outra obra clássica que também aborda a temática dúvida

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versus o julgamento moral - que origina conflitos e dramas
pessoais - é Dom Casmurro, de Machado de Assis. No
romance, os próprios acontecimentos dependem do
julgamento da sociedade. Capitu traiu Bentinho? Não se
sabe. Cabe à sociedade interna do romance julgar e também
à sociedade externa – os leitores – decidir.

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Dom Casmurro

Data da primeira
publicação: 1899
Autor: Machado de Assis
Gênero: Romance
Idioma original: Português

Chegou a sua vez!


Após analisar as obras Crime e Castigo e Dom Casmurro, que
tal criar a sua própria história? Pense em uma história cujo
enredo mostra a influência da sociedade sobre o indivíduo.
Ela pode ter qualquer temática e ser de qualquer gênero –
conto, crônica, romance, entre outros – desde que enfatize o
poder de julgamento da sociedade.
PEDRO BIAL
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