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Segunda Guerra Mundial como paradigma de luta

anticolonial: a resistência de Stalingrado


DOMENICO LOSURDO E FRANTZ FANON: INTRODUÇÃ O
AO MARXISMO ANTICOLONIAL

MÓDULO 03

Jones Manoel
“Atualmente [maio de 1938], um terço da população mundial está em
guerra. Vejam: a Itália, depois o Japão, a Abissínia, depois a Espanha,
depois a China. A população dos países beligerantes soma agora
aproximadamente 600 milhões, quase um terço da população mundial
[....]. Será a vez de quem agora? Não há dúvidas de que a guerra de
Hitler contra as grandes potências seguirá"

- Mao Tsé-Tung
- Eurocentrismo e II Guerra como repetição da I

- O mito do totalitarismo e a igualação do não igual

- Fascismo colonial

- Por que George Padmore rompeu com a União Soviética?

- Lênin, a teoria do imperialismo e a II Guerra Mundial


Heinrich Himmler, comandante militar da SS e uma das
principais figuras do partido nazista, disse em um
discurso na cidade de Posen, na Polônia : “O que
acontece a um russo, ou a um checo não me interessa o
mínimo. O que as nações podem oferecer na forma de
bom sangue do nosso tipo, nós vamos tomar, se
necessário, raptando os seus filhos e criando-os aqui
conosco . Se as nações vivem em prosperidade ou
morrem de fome, só me interessa enquanto nós
precisarmos deles como escravos para a nossa cultura ;
caso contrário, não me interessa. Se 10.000 mulheres
russas caem de exaustão enquanto cavam uma vala
antitanque, interessa -me apenas na medida em que a
vala antitanque para a Alemanha esteja terminada. Nunca
seremos rudes e sem coração quando isso não for
necessário, isso é claro. Nós alemães, que somos o único
povo no mundo que tem uma atitude decente para com os
animais, também assumimos uma atitude decente para
com estes animais humanos (Menschentieren ).”
“Em 1937, o ideólogo nazi Alfred Rosenberg exaltava os
Estados Unidos como um "maravilhoso país do futuro", que
detinha o mérito de ter formulado a brilhante "ideia de um
Estado racial", uma ideia que devia ser posta em prática, "com
um poder jovem" através da expulsão e deportação de "negros
e amarelos". Basta analisar as leis publicadas imediatamente
após a chegada dos nazis ao poder para comprovar as
semelhanças com a situação que então se vivia no sul dos
Estados Unidos. A posição dos alemães de origem judia na
Alemanha correspondia obviamente à dos afro-norte-
americanos no sul estadunidense. Hitler distinguia claramente,
inclusive no âmbito jurídico, a posição dos arianos
relativamente aos judeus e aos poucos mulatos que viviam na
Alemanha.” – Domenico Losurdo: As raízes norte-
americanas do nazismo
“Além dos negros, o terror atinge também os brancos
que, familiarizando excessivamente com os negros,
se tornam traidores de sua raça. É o que resulta já do
título de um artigo do Galveston Tribune (Texas) de 21
de junho de 1934: "Uma moça branca é posta na
prisão e seu amigo negro é linchado". O fato é que –
se comenta alguns dias depois um editorial do
Chicago Defender – no estado do Texas, uma mulher
branca pode se acassalar-se mais livremente com um
cão do que com um negro" (Ginzburg apud Losurdo,
2008, p. 318).
“Em 27 de janeiro de 1932, dirigindo-se aos industriais de Düsseldorf
(e da Alemanha) e conquistando definitivamente seu apoio para
ascender ao poder, Hitler expressava desta forma sua visão da
história e da política. Durante todo o século XIX, “os povos brancos”
conquistaram uma posição de incontestável domínio, concluindo um
processo iniciado com a conquista da América e que se desenrolou
erguendo o estandarte do “absoluto, inato sentimento senhorial da
raça branca”. Ao pôr em discussão o sistema colonial, o bolchevismo
provocava e agravava a “confusão do pensamento branco europeu”,
fazendo a civilização correr um perigo mortal. Para enfrentar tal
ameaça, era preciso bradar a “convicção da superioridade e, assim,
do direito [superior] da raça branca”, era necessário defender “a
posição de domínio da raça branca em relação ao resto do mundo”,
recorrendo à “mais brutal falta de escrúpulos”: era impositivo “o
exercício de um direito senhorial (Herrenrecht) extremamente brutal”

Losurdo – Stálin e Hitler: irmãos gêmeos ou inimigos


mortais
“A União Soviética foi o primeiro império mundial fundado sobre a
affirmative action. O novo governo revolucionário da Rússia foi o
primeiro entre os velhos Estados europeus multiétnicos a enfrentar a
onda crescente do nacionalismo a responder promovendo
sistematicamente a consciência nacional das minorias étnicas e
estabelecendo para elas muitas das formas institucionais características
do Estado-nação. A estratégia bolchevique foi assumir a liderança
daquele processo de descolonização que se apresentava como
inevitável e levá-lo a cabo de modo tal que preservasse a integridade
territorial do velho império russo. Para tal fim o Estado soviético criou
não só uma dúzia de repúblicas de amplas dimensões, mas também
dezenas de milhares de territórios nacionais espalhados por toda a
extensão da União Soviética. Novas elites nacionais eram educadas e
promovidas a posição de lideranças no governo, nas escolas, nas
empresas industrias desses territórios recém-formados. Em muitos
casos isso tornou necessário a criação de uma língua escrita lá onde
antes não existia. O Estado soviético financiava a produção em massa
nas línguas não russas de livros, jornais, diários, filmes, óperas, museus,
orquestras de música popular e outros produtos culturais. Nada
comparável existiria antes” (Martin apud Losurdo, 2008, p. 171).
“Uma negra, delegada no Congresso Internacional das mulheres
contra a guerra e o fascismo, que se realiza em Paris em 1934, fica
extraordinariamente impressionada com as relações de igualdade e
fraternidade, apesar das diferenças de línguas e de raça, que se
instauram entre os participantes dessa iniciativa promovida pelos
comunistas: 'Era o paraíso na terra'. Aqueles que chegam a Moscou -
observa um historiador estadunidense contemporâneo -
'experimentam um sentido de liberdade inaudito no sul'. Um negro se
apaixona por uma branca soviética e se casam, mesmo se depois,
ao voltar à Pátria, não pode levá-la consigo, sabendo o destino que o
sul aguarda aos que se mancham com a culpa da miscegenation e
do abastardamento racional” (Losurdo, 2010, p. 280-281)
“A URSS de Stalin influencia poderosamente a luta dos afro-
americanos (e dos povos coloniais) contra o despotismo racial. No
Sul dos EUA se assiste a um fenômeno novo e preocupante do ponto
de vista da casta dominante: é a crescente 'imprudência' dos jovens
negros. Estes, graças aos comunistas, começam, de fato, a receber
o que o poder teimosamente lhes negava, a saber, uma cultura que
vai muito além da instrução elementar tradicionalmente transmitida
aos que estão destinados a fornecer trabalho semiescravo a serviço
da raça dos senhores. Agora, porém, nas escolas organizadas pelo
partido comunista no norte dos Estados Unidos ou nas escolas de
Moscou, na URSS de Stalin, os negros se empenham em estudar
economia, política, história mundial; interrogam essas disciplinas
para compreender também as razões da dura sorte reservada a eles
num país que se comporta como campeão da liberdade. Aqueles que
frequentam tais escolas passam por uma mudança profunda: a
"imprudência' censurada a eles pelo regime de white supremacy é na
realidade a autoestima deles, até aquele momento impedida e
espizinhada” (Losurdo, 2010, p. 280-281)
“Uma negra, delegada no Congresso Internacional das mulheres
contra a guerra e o fascismo, que se realiza em Paris em 1934, fica
extraordinariamente impressionada com as relações de igualdade e
fraternidade, apesar das diferenças de línguas e de raça, que se
instauram entre os participantes dessa iniciativa promovida pelos
comunistas: 'Era o paraíso na terra'. Aqueles que chegam a Moscou -
observa um historiador estadunidense contemporâneo -
'experimentam um sentido de liberdade inaudito no sul'. Um negro se
apaixona por uma branca soviética e se casam, mesmo se depois,
ao voltar à Pátria, não pode levá-la consigo, sabendo o destino que o
sul aguarda aos que se mancham com a culpa da miscegenation e
do abastardamento racional” (Losurdo, 2010, p. 280-281)
“Artigo 123 — Direitos iguais para todos os cidadãos da URSS,
independentemente de sua nacionalidade ou raça, em todas as esferas do
Estado, seja economicamente, na vida cultural, social ou política, constituem
lei irrevogável. Qualquer limitação direta ou indireta desses direitos ou
inversamente, qualquer estabelecimento de privilégios, direta ou
indiretamente por causa de sua raça ou nacionalidade, assim como
qualquer propaganda de exclusividade nacional ou racial, de ódio ou
desprezo serão punidos pela lei.”

- Constituição Soviética de 1936.


“A imprensa parisiense, em seu conjunto, acolheu com reservas a
criação desses grupos armados. Milícias fascistas, dizia-se. Sim.
Mas, na escala do indivíduo e do direito dos povos, o que é o
fascismo senão o colonialismo no seio de países tradicionalmente
colonialistas? Assassinatos sistematicamente legalizados,
recomendados, afirmou-se. Mas a carne argelina não carrega, há
cento e trinta anos, os ferimentos cada vez mais graves, cada vez
mais numerosos, cada vez mais radicais? Cuidado, aconselha o sr.
Kenne-Vignes, parlamentar MRP, não haveria o risco, ao criar essas
milícias, de ver cavar-se rapidamente um abismo entre as duas
comunidades da Argélia? Sim. Mas o status colonial não é a sujeição
organizada de todo um povo? A revolução argelina é precisamente a
contestação enfática dessa sujeição e desse abismo. A revolução
argelina se dirige à nação ocupante e lhe diz: "Tirem as suas garras
da carne argelina atacada e ferida! Deem voz ao povo argelino"

Frantz Fanon - Os condenados da terra, p. 109.


“O exército alemão é invencível? Não.
Não é invencível [...]. Agora a Alemanha
prossegue a guerra em nome da
escravização, da subjugação dos outros
povos, em nome da hegemonia. Esta é
uma grande desvantagem do exército
alemão" - J. Stálin em 5 de maio de
1941
Domenico Losurdo e Frantz Fanon: introdução ao
marxismo anticolonial

PROF. Jones Manoel

www.classeesquerda.com

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