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Seis dificuldades
Em 28 de dezembro de 2005 / Artigos
Tags: 2005, canais de comunicação, democracia capitalista, Diário do Comércio
(editorial), socialismo
Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 28 de dezembro de 2005


Para restaurar uma política conservadora no Brasil há seis condições indispensáveis:
1. É inútil esperar que o país progrida na direção de uma democracia capitalista quando se
tem inibição de defender abertamente a superioridade do capitalismo e se permite que o
discurso anticapitalista, explícito ou implícito, monopolize todos os canais de comunicação e
cultura.
2. É inútil proclamar a superioridade do capitalismo quando se tem a inibição de afirmar que
essa superioridade é também de ordem moral e não somente técnica e prática. Se as
pessoas admitem que o capitalismo funciona melhor, mas continuam achando que o
socialismo é o bem, a única conclusão que podem tirar disso é que a eficiência é um pecado.
E então perdoarão toda ineficiência e prejuízo, se for o preço do socialismo.
3. É inútil afirmar a superioridade moral do capitalismo quando não se entende que ela só
veio a existir historicamente porque incorporou e perpetuou os valores da civilização
ocidental, fundados na revelação judaico-cristã, na filosofia de Platão e Aristóteles e na
experiência político-jurídica romana. Quem pretende que a pura força espontânea da
liberdade de mercado possa tornar-se um princípio fundante e substituir esses valores não
entende que a liberdade de mercado é a simples expressão deles na ordem econômica e não
sobrevive à extirpação das raízes civilizacionais que a fundam e a alimentam. O capitalismo
prosperou nos EUA porque protegeu e fortaleceu essas raízes; definhou na França porque
quis colocar no lugar delas o mito da sociedade plenamente laicizada. O liberalismo
materialista é a quinta-coluna do socialismo atuando dentro da cidadela mesma do
capitalismo.
4. É inútil, por fim, tentar defender a democracia capitalista, mesmo com todos os seus
valores associados, quando no plano da política internacional se cede às pressões e
chantagens do bloco anticapitalista, anti-americano, anticristão e antijudaico. Esperar que o
Brasil progrida com a ajuda da China ou da Rússia — para não falar da Líbia ou do Irã — é
querer que estes países nos dêem o que não têm nem para si próprios. A única aliança que
pode nos ajudar é com os EUA e Israel. A União Européia, hesitante e ambígua, deve ser
mantida em banho-maria até que decida de que lado está.
5. Mas a causa fundamental de que essas realidades óbvias fossem esquecidas reside no
acovardamento da própria política exterior americana no continente, que desde a gestão
Clinton se absteve de defender os valores tradicionais do americanismo e os substituiu por
uma estratégia de auto-sabotagem, que desde o início já parecia calculada para produzir
exatamentamente o resultado que produziu: a ascensão geral da esquerda e a maré
montante do anti-americanismo. É inútil, portanto, lutar pela restauração de uma sensata
política conservadora no Brasil sem exigir, ao mesmo tempo, uma mudança radical da
política externa americana para com a América Latina (em artigos vindouros analisarei este
ponto mais detalhadamente).
6. Porém ainda mais inútil que tudo isso é sonhar com essa restauração sem mobilizar em
favor dela a única classe que pode ainda ter alguma consciência de que ela é necessária. O
empresariado nacional cedeu demais ante as exigências “politicamente corretas” impostas
por intelectuais ativistas que sabem lisonjeá-lo mas que no fundo só desejam a sua morte.
Deixou-se seduzir e intoxicar demais pela capciosa “novilíngua” que recobriu de uma
aparência inofensiva, caritativa e benemérita, os velhos engodos estatistas e socialistas de
sempre. Por isso está hoje culturalmente desarmado, confuso, ideologicamente esvaziado,
chegando a lutar mais contra si próprio do que contra seus inimigos notórios. Sem uma
genuína política conservadora não haverá esperança para o Brasil. Mas sem um profundo
revigoramento cultural do empresariado não haverá política conservadora nenhuma.

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