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Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 28 de dezembro
No Observatório da Imprensa desta semana, um sr. Jorge M. L. Lima nega a existência do
Foro de São Paulo, chamando-o de “entidade mítica”. Publicada no momento em que o
próprio site oficial do PT anuncia a 13ª. assembléia geral do Foro e em que o presidente de
San Salvador confirma pessoalmente a vinda de Raúl Castro para o encontro
(v. http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=46918 e http://www.diariocolatin
o.com/nacionales/detalles.asp?NewsID=14928), a nota é um exemplo vivo do estelionato
cultural que hoje em dia se pratica impunemente no Brasil com o rótulo de “jornalismo”. Mais
edificante ainda é que esse lixo seja publicado num site que se arroga as funções de fiscal da
idoneidade jornalística alheia.
De passagem, o sr. Lima reclama contra a presença de um artigo meu na Playboy – sem nem
de longe mencionar o assunto ali abordado – e, após assegurar que compra a revista por
causa dos artigos e não das mulheres, resmunga que nenhuma destas jamais lhe deu nem
dará. Tem certeza, sr. Lima? Nem em pensamento? Nem na solidão do banheiro onde o
senhor deposita o melhor da sua produção intelectual?
Como todo bobão tem outro mais bobão que o admira, nos comentários a essa matéria fecal
um cidadão de nome Geraldo Galvão Ferraz protesta, indignado, que a publicação daquele
meu artigo vai contra a liberdade de expressão anteriormente cultivada pela revista. Já nem
digo que isso é cinismo. Acredito na sinceridade do panaca, na sua candura tocante. Ele acha
mesmo que a liberdade de expressão consiste em negar voz e voto aos discordantes. Eu seria
o último a tentar fazê-lo compreender que há algo de errado nessa idéia. Minhas ambições
pedagógicas não voam tão alto.
É digno de nota que, da grande mídia, meus detratores já desapareceram por completo. Os
que ainda cochicham estão espalhados em sites da internet e sobretudo em listas de
discussões, que só por alguma ocasional inconfidência chegam ao meu conhecimento. É todo
um zunzum subterrâneo, quase inaudível, mas persistente e obstinado, todo ele composto de
incongruências bárbaras, invencionices assombrosas, tolices grotescas ditas com infinita
presunção e uma pose de dignidade verdadeiramente patética.
O que mais admiro nessas mensagens é, de fato, a pose. Seus autores sabem que não
suportariam cinco minutos de discussão comigo sem ser reduzidos a um mutismo
humilhante, exatamente como aconteceu com seus gurus e mentores, mil vezes mais
inteligentes e preparados. Que é que fazem então? Escondem-se. Protegidos pela distância,
empinam seus narizinhos e, ante alguma platéia adolescente que ignore tudo de mim e deles,
falam da minha pessoa afetando desprezo olímpico, às vezes num tom de familiaridade
insolente para dar a impressão de que são meus íntimos, e assim auferem os lucros fáceis de
uma vitória simulada, isenta de riscos, com a vantagem extra de parasitar um pouco da
minha reputação já que não podem destruí-la de todo.
O fato de que tantos sujeitos biologicamente adultos busquem reconforto psicológico nesse
tipo de fingimento pueril dá uma medida do abismo de miséria humana em que o país
mergulhou.