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Miséria humana

Em 28 de dezembro de 2006 / Artigos


Tags: 2006, Foro de São Paulo, grande mídia, Jornal do Brasil, jornalismo, Raúl Castro

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 28 de dezembro
No Observatório da Imprensa desta semana, um sr. Jorge M. L. Lima nega a existência do
Foro de São Paulo, chamando-o de “entidade mítica”. Publicada no momento em que o
próprio site oficial do PT anuncia a 13ª. assembléia geral do Foro e em que o presidente de
San Salvador confirma pessoalmente a vinda de Raúl Castro para o encontro
(v. http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=46918 e http://www.diariocolatin
o.com/nacionales/detalles.asp?NewsID=14928), a nota é um exemplo vivo do estelionato
cultural que hoje em dia se pratica impunemente no Brasil com o rótulo de “jornalismo”. Mais
edificante ainda é que esse lixo seja publicado num site que se arroga as funções de fiscal da
idoneidade jornalística alheia.
De passagem, o sr. Lima reclama contra a presença de um artigo meu na Playboy – sem nem
de longe mencionar o assunto ali abordado – e, após assegurar que compra a revista por
causa dos artigos e não das mulheres, resmunga que nenhuma destas jamais lhe deu nem
dará. Tem certeza, sr. Lima? Nem em pensamento? Nem na solidão do banheiro onde o
senhor deposita o melhor da sua produção intelectual?
Como todo bobão tem outro mais bobão que o admira, nos comentários a essa matéria fecal
um cidadão de nome Geraldo Galvão Ferraz protesta, indignado, que a publicação daquele
meu artigo vai contra a liberdade de expressão anteriormente cultivada pela revista. Já nem
digo que isso é cinismo. Acredito na sinceridade do panaca, na sua candura tocante. Ele acha
mesmo que a liberdade de expressão consiste em negar voz e voto aos discordantes. Eu seria
o último a tentar fazê-lo compreender que há algo de errado nessa idéia. Minhas ambições
pedagógicas não voam tão alto.
É digno de nota que, da grande mídia, meus detratores já desapareceram por completo. Os
que ainda cochicham estão espalhados em sites da internet e sobretudo em listas de
discussões, que só por alguma ocasional inconfidência chegam ao meu conhecimento. É todo
um zunzum subterrâneo, quase inaudível, mas persistente e obstinado, todo ele composto de
incongruências bárbaras, invencionices assombrosas, tolices grotescas ditas com infinita
presunção e uma pose de dignidade verdadeiramente patética.
O que mais admiro nessas mensagens é, de fato, a pose. Seus autores sabem que não
suportariam cinco minutos de discussão comigo sem ser reduzidos a um mutismo
humilhante, exatamente como aconteceu com seus gurus e mentores, mil vezes mais
inteligentes e preparados. Que é que fazem então? Escondem-se. Protegidos pela distância,
empinam seus narizinhos e, ante alguma platéia adolescente que ignore tudo de mim e deles,
falam da minha pessoa afetando desprezo olímpico, às vezes num tom de familiaridade
insolente para dar a impressão de que são meus íntimos, e assim auferem os lucros fáceis de
uma vitória simulada, isenta de riscos, com a vantagem extra de parasitar um pouco da
minha reputação já que não podem destruí-la de todo.
O fato de que tantos sujeitos biologicamente adultos busquem reconforto psicológico nesse
tipo de fingimento pueril dá uma medida do abismo de miséria humana em que o país
mergulhou.

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