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Frans Krajcberg começou a perceber que estava sendo lentamente intoxicado pela teribintina*.
Decidiu assim pesquisar novas maneiras de produzir arte. Leia o que ele mesmo conta sobre essa
mudança: “Tinha parado de pintar... Fugi para trabalhar. E pela primeira vez tive a necessidade de sentir a
matéria, não a pintura. Fiz impressões de terras e de pedras. Logo depois comecei a colar a terra diretamente.
Onde encontrar minhas terras? (...) Queria captar a natureza em seu sofrimento, comecei a fotografar para
ver melhor, mais perto, além do olhar, descobri a cor, as terras de pigmentos puros, cores que são matérias. (...)
Eu recolhia troncos mortos nos campos mineiros e com eles fiz minhas primeiras esculturas, colocando-as com
a terra. Eu queria lhes dar uma nova vida.”
Roupas... Corpos...
• de diferentes cores... tamanhos...formas... • radiografados...
• manchadas... pintadas... amassadas... coladas... • queimados...
sobrepostas... superpostas... • condenados...
• vestidas em corpos: roupas-corpos... corpos-roupas... • destruídos...
presenças-ausências... corpos-coisas... corpos-arte.
Materiais...
• que indicam, pela ausência, a presença de
corpos de pessoas...
• que a mão do artista organiza num
movimento...
de fuga?
de denúncia?
de evocação de um passado?
de registro de uma tragédia?
Frans Krajcberg e Siron Franco revelam a natureza como material e como matéria da arte.
Uma natureza desrespeitada e desfigurada pelo ser humano. Uma natureza a quem esses artistas dão voz
em suas obras.
Na obra de Krajcberg, o artista reconstrói, como obra de arte, o que a queimada destruiu.
Na obra de Siron Franco, o artista denuncia o acidente (contaminação por césio 137, material radioativo)
ocorrido em 1987, em Goiânia.
De olho no artista,
que faz, o corpo que inventa conta histórias no Brasil e no mundo
Veja na fotografia um detalhe de um jardim projetado por Roberto Burle Marx.
Como Krajcberg e Siron, Burle Marx revela um imenso respeito, um profundo amor pela natureza em
suas criações. A matéria que ele utiliza, ao contrário dos outros dois artistas, é a natureza viva e exuberante,
vigorosa e rica.
O olho que
Propomos que você realize duas ambientações. Ambientações são lugares transformados em espaços de arte,
feitos para ser vivenciados no tempo de quem os produz, os vê e com eles interage. A obra só se completa com a
presença do leitor que, ao percorrer esses espaços, sente, pensa, percebe, experimenta, vive a obra, suas
proposições e questionamentos.
Casas-natureza
Esclareça que um paisagista é o profissional-artista que desenha com matéria prima viva. Além de plantas, ele
utiliza pedras, águas, relevos, animais... e se apropria de calçadas, ruas, praças, prédios, casas...
1. Em duplas, seus alunos realizarão uma pesquisa em espaços 2. Proponha uma exposição
da cidade, registrando em fotografia ou desenho jardins desse material em sala,
cultivados. Eles anotarão as características desses espaços: organizando-o de acordo
- verticais/horizontais com as características dos
- formas onduladas/retas jardins pesquisados.
- cor/cores
- movimentado/estático 3. Comparem esses jardins com os de
- se há pássaros e animais, ruídos e Burle Marx.
silêncios, plantas da região
e de outros lugares... 4. Para finalizar, proponha que,
- se são cuidadas ou reunidos em pequenos grupos, eles
abandonadas escrevam poemas sobre os jardins-
casas-natureza, expondo esse material.
a mão que faz, o corpo que inventa
O olho que pensa,
Histórias tecidas no espaço
1. Cada aluno traz de casa um 2. Cada um apresenta à classe o pano 3. Montem uma grande base, que pode
pedaço de pano usado, destinado contando sua história, mostrando suas ser de papel, de tecido ou o próprio
ao trabalho de artes (roupa velha, marcas e falando sobre elas. chão da sala de aula.
peça de uso doméstico - pano de
cozinha, pano de limpeza, toalha
de mesa...)
4. Organizem todo o material, como se os 5. Proponha que todos saiam da sala e deixe que os
panos estivessem numa banca ou alunos, um a um, experimentem retornar e andar muito
vitrina*. lentamente por esse novo “lugar”, vivenciando as
relações do corpo nesse espaço que conta histórias
com panos.
Tecendo o tempo
Relembre como Siron Franco mostrou o acidente com césio 137 em “Salvai nossas almas” (não mostre a obra
novamente, apenas comente-a com eles).
2. Relembre também as
histórias dos panos trazidos.
1. Converse com a
Percebam neles as marcas 4. Percebem também no
classe sobre uma
que foram tecidas de tempo da leitura de vocês, os
situação de
memórias, de lembranças, de espaços construído.
desrespeito à
lugares – tecidas no tempo.
natureza em sua
cidade ou região.
3. Juntos inventem, na sala 5. Comentem as percepções
de aula, uma ambientação e os significados na
que mostre as situações de interação com o espaço
desrespeito associadas às criado.
marcas dos panos.
Krajcberg, artista contemporâneo*, afirma que, ao “quebrar o quadrado de Mondrian”, os artistas precisam
reencontrar a árvore, ou seja, a natureza. Ele mesmo a reencontra, em toda a sua materialidade. A arte é
produto do tempo e dos espaços nos quais vivem os artistas, que produzem pinturas, esculturas, objetos,
ambientações... A partir deste e de outros Cadernos, você deve ter percebido as mudanças nas concepções e
produções da arte na contemporaneidade. Este é um assunto que deve ser discutido em sala de aula, para que
seus alunos consigam compreender a complexidade da Arte Contemporânea.
É possível estabelecer diálogos entre as 3 obras e outros saberes. Veja como elas conversam com...
m ana
ímica a Física e Hu
. . . Qu ... Geografi
sua região
ade s vegetais de
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• O meio so o espaço
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• A construçã
... a Música
tro da
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• “Terra Music)
a A zu la da”, 1 999, Universal ... História
Estrel 5, Philips)
Gilberto Gil (197
• “Refazenda”, toria 1”,
• As bomba
s de Hirosh
ag a da Am az ônia” (In.: “Can • Guerra Fri ima e Naga
• “S rias/ saki
ar / G er aldo Azevedo/Vital Fa • Guerras q
a
Elom .) uímicas e a
Produções Ltda rmas biológ
Xangai, Kuarup animais,
• Desastres
ecológicos. icas
C an to s do s pá ssaros, sons de ..
•
as...
sons das florest
Chave de
palavras
uzida
Arte Contemporânea – Arte prod
principalmente após a 2ª Gue rra Mun dial, que Figura – Componente do texto visual.
entos anteriores,
questiona a produção dos mom
jetos
enfatizando novas formas de arte. ça de ob
mete à semelhan ens, formatos
e nos re , paisag
o – O qu pessoas, animais
Figurativ mund o:
no
Arte Moderna – Arte produzida no início do séc. presentes
s...
XX, que questiona os padrões acadêmicos. irregulare
De olho no museu
Museu de Arte Contemporânea do Ceará
Fortaleza
www.secult.ce.gov.br/CDMAC/Cdmac.asp
refaz o percurso
O olho que
“As artes levam-nos à dimensão estética da existência e – conforme o adágio que diz que a natureza
imita a obra de arte – elas nos ensinam a ver o mundo esteticamente.”
Edgar Morin
Neste Caderno estão reunidas três obras sob o tema que vocês acabam de ler. Elas revelam o gesto do
NATUREZA. Essa escolha está repleta de contras- artista, gesto que resiste à destruição e à morte
tes: natureza violentada versus natureza respeita- para afirmar a criação e a vida. Gesto que trans-
da; destruição versus criação; o ser humano como forma o vegetal carbonizado em desenho, pintu-
vítima versus o ser humano como agente; horror ra, escultura... Gesto que dá voz às vítimas
versus esplendor... Torne a olhar as três obras e silenciosas de uma tragédia. Gesto que cria jar-
procure descobrir outros contrastes sugeridos pe- dins onde a natureza e os seres humanos vivem
las relações entre elas. Frans Krajcberg, Siron Fran- em paz. Tais gestos querem, assim, mobilizar ou-
co e Burle Marx, cada qual à sua maneira, reagiram tros gestos – os nossos – para que se tornem cria-
aos desrespeitos à natureza, criando as imagens dores e transformadores.
Procure os Cadernos “De todos um pouco” e “Espelho no espelho” e estabeleça relações entre eles e
este Caderno.
palavras
Chave de
Terebinti
na
mistura co – Resina extraída d
m tinta. e plantas
que se
Material, materiais – Componentes da construção
de uma obra de arte.
Textura – Efeito produz
ido pelos materiais e
se mostram a nós. Por como eles
exemplo: rugosidade,
lisura, brilho, opacidade aspereza,
...
do e
que, apropria
ialid ad e – Material bruto atér ia de arte.
Mater ar tis ta, torna-se m
o pe lo
transformad destinado à
Vitrina – Espaço protegido por vidro
exposição de objetos.
tempo das obras
Linha da vida/
O olhar que descobre
LIVROS VÍDEOS
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semelhanças”. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. na Escola.
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• COUTO, Ronaldo Graça (org.) “Arte e artistas plásticos SÍTIOS
no Brasil 2000”. São Paulo: Metaleiros, 2000.
• FRANCO, Siron e AYALA, Walmir. “O forasteiro”. São • Sobre arte e artistas
Paulo: Berlendis & Vertecchia. (Coleção Arte para jovens) http://www.itaucultural.com.br/enciclopedia
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• ________ e IACOCCA, Liliana. “Eu, você e tudo que fapres.htm
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2000. • Burle Marx
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brasileira do século XX na coleção Gilberto robertoburlemarx.htm
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Cosac & Naify, 2001. (Col. Espaços da Arte http://www.terra.com.br/cgi-bin/index_frame/
Brasileira) noticias/especial/cesio137
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